segunda-feira, 26 de agosto de 2013

EUA: VÃO TRANSFORMAR-SE *NUMA ESPÉCIE DE FRANÇA GRANDE*?



0 – Numa entrevista, concedida no passado dia 20 ao jornal português i, o antigo embaixador norte-americano em Lisboa Everett Briggs, um advogado ligado a um grande escritório e antigo diplomata, com missões especiais *encobertas*, que teve alguma influência no Partido Republicano do seu país, admite que os Estados Unidos irão perder “o domínio mundial” e se vão transformar “numa espécie de França grande”.

Ou seja “um país influente e grande que não quer dominar o mundo”, numa explicação, meio cínica, meio ingénua, para enganar parvos, de Everett Briggs.

Este “Bom Pastor” da política externa norte-americana tem perfeita noção, pois deve ter lido os informes da sua “casa mãe” apelidada CIA, que os regimes imperiais, como o dos EUA, somente sobrevivem com uma enorme mão-cheia de dinheiro, e que a divisão de poder económico hegemónico no planeta se está a modificar.

Todavia, também tem disso perfeita noção, porque é vassalo do poder dominante nos Estados Unidos, a sua fracção da burguesia que lidera o capital financeiro, que o militarismo é a “arma” que se impôs no seu país, e que não abandonará a cena política, sem que seja empurrado ou derrotado numa guerra de grandes proporções.

1 – O que se refere no parágrafo anterior está verificado pelo que está a suceder, precisamente, nas diferentes partes do mundo nos dias actuais desde o Magrebe, ao Médio-Oriente, onde a ingerência destacada, belicosa e violenta gerida, directa ou indirectamente, por Washington, se faz sentir.

Os factos que vão sendo conhecidos pela divulgação dos crimes imperiais norte-americanos mostram à saciedade que o sucesso aparente da política de saque e conquista dos EUA, está a fracassar e a contribuir para o declínio da sua presença no mundo.

E disso se infere, acima de tudo, que a política de força, de invasões e ocupações de outros Estados e países, tem um custo cada vez mais acrescido, porque o avanço no exterior do “interesse nacional” ianque somente se pode efectuar, com dinheiro, muito dinheiro.

E eles têm-no, é certo, em termos de capital financeiro, mas tal facto não é determinante, nem sequer suficiente para manter a sua “máquina de guerra”, porque o dinheiro nada vale, para um país, se ele se esvaziar da sua produção económica interna.
Foi essa uma das razões principais do seu declínio e da perda real de poder de força.

O colapso da produção económica interna leva, em parte, mas numa parte significativa, à deterioração da capacidade de fomentar os meios de engrandecer e manter uma estrutura castrense, em exigências crescentes, face às concorrências de potências emergentes, que começam a disputar taco-a-taco os terrenos de “expansão” económica externa dos Estados Unidos.

Há cerca de um mês, foi desclassificada *informação secreta* sobre o Médio-Oriente da Administração norte-americana.

Ficamos a saber, pela primeira vez da própria fonte oficial, que a CIA organizou, em 1953, um golpe de Estado no Irão para afastar o primeiro-minstro democraticamente eleito do país Mohamed Mossadegh.

“O envolvimento norte-americano e britânico no derrube de Mossadegh é há muito conhecido do público, mas a publicação de hoje inclui, provavelmente, o primeiro reconhecimento formal da CIA que ela ajudou a planear e realizar o golpe de Estado", refere um comunicado da organização que divulgou a documentação.

A razão do afastamento de Mossadegh, há 60 anos, foi a nacionalização das companhias de petróleo feita pelo governo legítimo, que prejudicou os interesses usurários das grandes companhias dos EUA e do Reino Unido.

Esta divulgação torna irrisória e apatetada a argumentação dos *teóricos* defensores (em Portugal, os Monjardinos, os Rogeiros, os Espadas, os Nogueiras Pinto, no Mundo, os Popper, os neo-conservadores de várias facções e origens) do objectivo de toda a acção norte-americana (e, por tabela, da grande burguesia europeia) é política, visando conquistar a democracia e a liberdade, e que ela é determinante da própria evolução histórica no Mundo, no confronto anteriormente com a antiga URSS, e nos dias de hoje o combate vago e etéreo ao terrorismo.

O alarido em torno da Síria tem uma componente de +disfarce+ objectivo do que se passa na situação sócio-económica interna dos Estados Unidos, da Inglaterra, e, em grau menor, nos países da zona euro, ameaçados de um colapso político-económico, mas igualmente faz vir ao de cima a verdadeira razão de geo-estratégica económica imperial.


3 - A Síria é, no presente, uma zona-tampão, na concorrência económica entre a potência em decadência, Estados Unidos, e os países emergentes, que detém, na realidade, o poder territorial sobre a riqueza energética – logo essencial para o domínio do capital financeiro – do Mar Cáspio:

(Não se pode esquecer que Israel, como colónia de Washington, é a “mão invisível do capital financeiro judeu norte-americano nas manobras militaristas daquele).

Na realidade, são perto de 400 milhares de quilómetros quadrados, contidos num imenso território do Mar Cáspio – grosso modo entre as montanhas do Cáucaso e Ásia Central: admitem os especialistas do sector que existam jazidas de crude de mais de 10 mil milhões de toneladas de petróleo e um volume de gás de natural que poderá exceder os vários (largos) biliões de metros cúbicos.

/Noticiavam as agências internacionais, há cerca de um mês: o Irão descobriu reservas de petróleo, avaliadas a um preço total de 1,8 biliões de dólares.




"Este valor é baseado nos preços mundiais actuais de matéria de hidrocarbonetos", disse o vice-ministro do Petróleo da República iraniana, Ahmad Galebani.


"Este valor – acrescentou - é comparável como valor total da exportação de petróleo do Irão nos últimos 100 ano".


Segundo dados da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), a extracção de "ouro negro" no Irão chegou em Julho deste ano aos 2,68 milhões de barris por dia./

Ora, esta região, além das riquezas já tem o seu planeamento de evacuação, ou seja transporte – onde os EUA, neste momento, não têm grande capacidade de intervenção – com a construção já efectuada ou em fase de o virem a realizar – para a Europa, da Rússia e do Casaquistão para o golfo Pérsico, do Irão para a Índia e a China.

(Os países, que bordejam o Cáspio - Rússia, Azerbeijão, Irão, Turcomenistão e Casaquistão – são, pois, zonas de concorrência económica e, os principais, Federação Russa e o regime persa, potências militares, uma mundial, outra emergente, regional, mas, pelo facto, de serem zonas de passagem, e de reservas menores, a Turquia, Geórgia, Ucrânia, Roménia e Bulgária, estão envolvidas em toda a trauma geo-estratégica-económica e castrense).




Naturalmente, a Rússia é superpotência nuclear e estratégica, apesar dos retrocessos territoriais desde os anos 90 do século passado, mas, hoje, regressou em força ao Mediterrâneo, ao Pacífico e ao Atlântico e o Irão, apesar de ser um potência somente local, tem a sua favor o facto de ter a sua “fileira armamentista” completamente nacionalizada e ser portadora de capacidade de afirmação no espaço, com mísseis balísticos intercontinentais, o que pressupõe, na minha opinião, a existência de algumas ogivas nucleares.

A talhe de foice, não é por acaso que está, a empregar, vigorosamente, nas Síria, forças terrestres e, certamente, naquele país colocou mísseis de médio alcance, como forma de os utilizar em treino operacional, se for caso disso…

4 – Claro que a suposta “contenção” imperial norte-americana é negada pelo crescente militarismo demonstrado no terreno pela administração de Washington.

Terá de haver um desgaste real – guerra-falência financeira, desorganização interna –para levar os militaristas de Washington a acuar.


Eles estão a fomentar, de forma desesperada, todos os conflitos surgidos, nos últimos anos, em toda a bacia do Mediterrâneo, desde a antiga Jugoslávia até a todo Magrebe, que a sua enorme equipa de propaganda procurou, durante algum tempo, mascarar com o slogan estafado da conquista da “democracia”.


Esfrangalharam a Líbia e colocaram o país sob um miríade de facções tribais, chegando a dar o poder na principal zona territorial, Tripoli, ao líder líbio Abdelhadim Belhaj, da sua “organização” forjada no Afeganistão, chamada Al Qaeda.

Procuram agora efectuar a mesma tarefa no Egipto. 

Conta para isso com o Exército, por si formado, treinado e pago (cerca de 1,5 mil milhões de dólares por ano).

A fraqueza norte-americana no Médio-Oriente é Israel, um seu posto avançado colonial, alimentado pelo dinheiro de Wall Street.

Para tentar manter-se na região, os EUA têm de alimentar, a todo o custo, um empecilho útil.

Mas, esta orientação de “guerra geral” contra os povos muçulmanos irá acabar.

A evolução mundial está a enquadrar-se com novos centros de poder e com novas alianças.

A Síria resiste, em parte, porque essas alianças estão a funcionar.


Daí, registe-se o aumento de reuniões e exercícios militares realizados por países integrantes da Organização de Cooperação de Xangai, que, mais um vez, se vão encontrar a alto nível, a 13 de Setembro, em Bishkek, Rússia.

E nela vai estar o novo Chefe de Estado iraniamo, Hassan Rohani, embora o seu país seja apenas observador na Organização (efectivos: Rússia, China, Cazaquistão, Quirguistão, Tajiquistão e Uzbequistão).


5 – A crise financeira de 2008 afectou, gravemente, toda a estrutura económica dos Estados Unidos – e paralelamente mundial.

E, passados cinco anos, não há sintomas de recuperação, nos diferentes territórios do planeta. 

Pairam no ar os sintomas de uma catástrofe financeira mundial.

De certo modo e em certo sentido, tal facto entra em rota de colisão com o militarismo.

Mas desta contradição aumenta o imbróglio, porque a concorrência económica e castrense entre a outrora toda poderosa potência norte-americana e os Estados que visam ocupar “espaço vital” àquela está a agudizar as tensões financeiras e monetárias.

São necessários mais gastos monetários para sustentar as Forças Armadas.

Como resolver a contradição? 

A guerra é a continuação da política por outros meios, mas os gastos crescentes também podem fazer estiolar qualquer poder considerado “omnipotente”.

Esperemos, preparemo-nos, pois os tempos estão a mudar.

Somente uma nova sociedade pode, realmente, derrotar este militarismo capitalista glutão, que até pode implodir no seu interior.




domingo, 25 de agosto de 2013

O SONHO AMERICANO DOS NEGROS É SOMBRIO



1 – O evento, que ocorreu na capital dos Estados Unidos em 1963, precisamente no dia 28, que ficou conhecido como “A Marcha sobre Washington por Trabalho e Liberdade”, que reuniu centenas de milhares de pessoas, a sua maioria negras, está, nos dias de hoje, a ser comemorada, oficialmente, nos EUA, como se tivesse tratado de um acontecimento “pacifista” que permitiu a “inserção” daquelas na sociedade capitalista, então dominada pela elite branca.


A personalidade que surgiu como dirigente principal dessa manifestação foi um advogado, que associava à profissão uma faceta religiosa militante, como a de múltiplas seitas mercantilistas da ideologia cristã, desde as católicas a protestantes. 


Era um hierarca, intitulado reverendo, chamado Martin Luther King.


Representava, na realidade, a ala direitista e pró-sistema capitalista daquele país, mas, como surgia “desenquadrado”, então, económica e politicamente das estruturas dirigentes do Estado, era olhado com desconfiança pela fracção pró-fascista do grande capital financeiro, liderado pelo, como hoje, lobby judeu, que controlava, já na altura, a administração norte-americana, que, estava, no rotativismo oligárquico partidário, sob a direcção do Partido Democrata, com um pretenso liberal, vindo das famílias mafiosas ascendentes, neste caso irlandesas, dentro do Capital estabelecido, que se chamava Kennedy.

Apesar de toda garantia que essa ala organizadora da marcha dera a John Kennedy e às chefias militares, e o programa do movimento apelar a vagas e piedosas palavras de ordem de liberdade, trabalho, justiça social e pelo fim da segregação social contra a população negra do país, as Forças Armadas foram mobilizadas e Luther King foi colocado na lista dos políticos negros a abater à primeira oportunidade. 
O que, realmente, veio a suceder, embora lhe tivessem dado à pressa em 1964 um prémio Nobel da Paz.

Os outros dirigentes, tidos como moderados, como Jesse Jackson e John Lewis – o Presidente do sector jovem -, foram integrados, progressivamente, no sistema e são, na actualidade, pacíficos e opulentos senadores democratas.

2 – Quando se efectua esta “marcha pacífica”, a sociedade norte-americana estava completamente mergulhada num sistema fascista de “apartheid” humano, onde os descendentes dos antigos escravos negros, por um lado, e os imigrantes – ou seus descendentes já nascidos nos Estados Unidos – de origem latina, e mesmo da Europa não anglo-saxónica, com uma exploração classista desenfreada e um desprezo total pelo mínimo de bem-estar humano.

A fracção da grande burguesia da classe dirigente norte-americana desprezava e aviltava uma parte significativa da sua população.


Começaram a germinar movimentos de contestação e de organização para enfrentar essa arrogância, que assentava, em grande parte na ligação ideológica dos principais capitalistas, governantes, legisladores e membros dirigentes da CIA e do FBI (Allen e John F. Dulles, Edgar J. Hoover, general Donovan, senador McCarthy, Henry Ford, Du Pont), aos programas pró-hitlerianos de grupos (Ku Klux Klan, White Power, Stormfront) e associações religiosas brancas (mórmons,), que tiveram, no passado, mesmo contactos com o Partido nazi alemão, e, anteriormente, os movimentos esclavagistas derrotados com a guerra civil norte-americana.

No interior do Movimento negro, começam a emergir e a conseguir uma adesão significativa dos negros grupos que contestam o próprio sistema capitalista e preconiza, de certa maneira, um novo poder de Estado separado da oligarquia política dominante.

Logo após a Marcha de Washington, um negro norte-americano, que depois adere ao islão, de carácter revolucionário e nacionalista, no sentido de fomentar um estrutura de poder própria das suas origens rácicas, e que vai ser conhecido como Malcom X, é assassinado em 1965 aos 39 anos “por encomenda” da Administração de Washington.

malcolm x and king

Na senda de Malcolm X, mas com um sentido de poder de carácter socialista, defendendo a auto-defesa armada dos seus bairros e inclusive a resistência a acções policiais contra eles, formam-se depois os Black Panters (Panteras Negras), por intelectuais negros da Califórnia, como Huey P. Newton, Bobby Seale, Eldridge Cleaver, Ângela Davies, Bobby Hutton e Fred Hamptom. Foram presos e alguns assassinados pelo FBI.


Igualmente, se estrutura outros grupos, como o Black Power, de Stokely Carmichael, que, em 1966, face à repressão que o poder político-policial exerce sobre os negros, lança a célebre frase, que vai percorrer o mundo: 


"Estamos gritando liberdade há seis anos. O que vamos começar a dizer agora é poder negro”.
A Administração norte-americana, preocupada com o crescendo militante destes grupos e partidos, e verificando a sua implantação real, engendrou um “programa secreto”, colocando sob a superintendência do FBI, para investigar e actuar, duramente, sobre eles.

Foi “crismado” de Cointelpro, no seguimento directo do mccarthismo”.


Os “Panteras Negras”, porque se militarizaram, foram reprimidos ferozmente e uma parte dos seus dirigentes, friamente, assassinados.




A manifestação mais mediática da divulgação do “Black Power” foi saudação dos atletas norte-americanos dos 100 metros Tommie Smith e John Carlos, primeiro e terceiro na sua categoria, nas Olimpíadas que decorreram, em 1968, no México, que fizeram a saudação do movimento enquanto subiam as bandeiras dos EUA e se ouvia o hino: Eles estenderam o braço com o punho enluvado e fechado.

O Comité Olímpico Internacional (COI) baniu-os dos jogos.

4 – Perante, a emergência de um separatismo negro nos anos seguintes, a Administração norte-americana procurou “esvaziar” o enchimento da contestação negra, e canalizando-o para os carris do sistema político dominante.

Assim, a 7 de Agosto de 1965, o então Presidente dos EUA Lyndon Johnson assinou a Lei sobre o Direito de voto, estendendo, deste modo, esse acto político aos negros e outros minorias.

Mais tarde, transformaram a “Marcha de Washington” em dia feriado e “endeusaram” Martin L. King, depois de o assassinarem.


Naturalmente, “democratizaram” uma parte da classe média negra, permitindo que viessem a ocupar cargos políticos, incluindo o de Chefe de Estado, o actual Barack Obama.

Os 50 anos, naturalmente, vão ter este sucessor, representante do sistema político capitalista imperial norte-americano, a discursar para os seus conterrâneos que vivem na “fossa”.

Qual é a situação real actual da maioria dos negros nos EUA?:

No recenseamento populacional dos EUA de 2010, entre os que especificaram a raça, quase 40 milhões de norte-americanos declararam ser negros, afro-americanos ou negros hispânicos.

Todavia, admitem os especialistas que 1/3 do que se dizem brancos tem um grau elevado de ancestralidade negra.

(A população recenseada em 2010 atingia os 315 milhões de pessoas).

Os dados mais fiáveis sobre a situação de bem-estar social e de evolução societária daqueles podem ser dados, justamente, pelo emprego.

Os valores retirados, relativos a 2011, provêem do Bureau of Labor Statistics (Departamento de Estatísticas do Trabalho) do governo de Washington.


Ora, a taxa de desemprego dos trabalhadores pretos é, aproximadamente, o dobro da dos brancos, independentemente do sector económico.

Um negro no desemprego demora, em média, muito mais tempo a conseguir um novo emprego do que o branco.

Registemos em termos de sexo. O taxa de desemprego das mulheres negras, em 2011, foi de 14,1 por cento, enquanto a das brancas se situou nos 7,4 %.

Quantos aos homens, os negros atingiam os 18,3 %, enquanto os brancos foram registados em 8,3 %.

Vejamos agora em termos de escolaridade, os negros com um diploma de ensino médio atingiram uma taxa de desemprego de 26 %, enquanto os brancos sem esse diploma – nas mesmas condições – era de 12 %.

Relativamente ao ensino superior, a taxa de desemprego dos negros atingiu os 6,9 %, enquanto os brancos, com o mesmo diploma, se ficou nos 3,9 %.






terça-feira, 20 de agosto de 2013

GOVERNO/SISTEMA FINANCEIRO: AS RODAGENS E HIPERLIGAÇÕES ENTRE O GRANDE CAPITAL


1 – O militante do PSD, seu antigo deputado e dirigente, José Pacheco Pereira escrevia, na revista Sábado do passado dia 8, numa crónica habitual semanal, intitulada “A lagartixa e o jacaré”: “Há um pequeno grupo de pessoas que circula dos bancos e das consultoras financeiras, dos escritórios de advogados e dos think tanks das universidades mais conservadoras, de instituições europeias congéneres, para os os governos”.

E este antigo militante da UDP, que, certamente, leu Karl Marx, considera, num parágrafo posterior, que “os problemas dos swaps ajuda a revelar uma questão mais importante e decisiva para o nosso futuro democrático: o da captura do Estado pelo sistema de interesses económico-financeiros. Este sistema ultrapassa as separações partidárias e desloca-se de governo, de partido em partido, desde que estes tenham acesso ao poder”.

Claro que Pacheco Pereira, habilidosamente, esquece-se de especificar que esta missão está cometida ao partido, onde se inseriu, tal como o PS e o CDS, como representantes políticos directos do capitalismo financeiro especulativo.

Como antigo seguidor de Marx, Pacheco Pereira tem perfeita noção que, desde a ascensão ao poder da Aliança Democrática, liderada por Sá Carneiro, que o objectivo político daquela, secundada e apoiada, mais tarde, sem reservas, pelo PS, primeiro de Mário Soares, depois Vítor Constâncio, Jorge Sampaio, António Guterres e José Sócrates, mas, essencialmente, com a governação executiva de Cavaco Silva, era trazer para a dominância da sociedade portuguesa um sector específico da grande burguesia, a lumpem grande burguesia da especulação bancária e bolsista.

Neste momento, agora sem pejos de pudor, nem pinças, os banqueiros já não têm veleidades de esconder que colocam nos lugares chave do governo, da administração pública, do sector empresarial do Estado, ou da mera administração hospitalar aos altos cargos das chefias das Forças Armadas, da alta magistratura, dos tribunais influentes, como o Constitucional e os Conselhos Superiores das Magistraturas, o “pequeno grupo de pessoas” que lhe estão subordinados e lhe prestam vassalagem.




2 - Vejamos, pois, no concreto a dependência directa dos principais membros do Governo do capital especulativo (nacional, mas principalmente internacional).

Comecemos, justamente, pelo processo de especulação, que recentemente, esteve e está nas primeiras páginas dos jornais e levou a várias demissões de membros do executivo e de empresas estatais ou para estatais: os chamado swaps, ou seja o empréstimo a juros usurários dos grandes bancos internacionais ao Estado, tornando-o refém propositado dessa grande burguesia financeira.

O Estado português foi, ao longo dos últimos 38 anos, com baliza no golpe de Estado de 25 de Novembro de 1975, levado, paulatinamente à míngua financeira.


Desse período, e de breve passagem, alguns nomes ligados a essa dependência:

José Silva Lopes, que como “submarinista” do grande Capital se manteve, à esquerda e à direita, no leme dos negócios que favoreceram os bancos;


Francisco Sá Carneiro, mesmo antes do 25 de Abril, como deputado do chamado capital liberal, era um apologista ferrenho da especulação bolsista. Foi ele que, obcecadamente, lutou contra a Constituição de 1976, depois de a aprovar e incensar, para atacar, sem dó nem piedade, quando ascendeu ao poder total, com a chamada Aliança Democrática: privatizações bancárias foram a principal medida que preconizou e defendeu.

João Salgueiro, que foi governante de Marcelo Caetano, aderiu de imediato ao PSD, como partido sucessório “democrático” da antiga ANP marcelista, para lidar com o Ministério das Finanças. Tornou-se depois o “homem forte” do sistema bancário especulativo organizado.




Um figura tutelar do comentário económico-político actual é o antigo Ministro das Finanças de Mário Soares, que limpando às mãos à parede, procura fazer esquecer que foi o principal responsável – juntamente com Soares -, da primeira grande submissão do Estado português aos ditames da finança internacional, via FMI e Banco Mundial.


Natural e pour cause foi largamente recompensado, como administrador de empresas estatais, membro – curioso – do Conselho Superior dos Tribunais Administrativos e Fiscais.


Claro que, agora, na reforma dourada, mas no activo mais dourado de uma empresa como a EDP, é favorável a toda a austeridade para pagar “as dívidas” que ele introduziu.


Convém não esquecer Vítor Constâncio, Durão Barroso, António Vitorino, entre outros, em lista infindável.

3 - Centremo-nos no actual governo, porque ele representa a ascensão completa do poderio dos banqueiros a todo o aparelho de Estado.


E, também, porque é ele que alimenta, consciente e com argumentos próprios de vassalos empedernidos da lumpem grande burguesia financeira, o mais ferroz apetite de roubo dos dinheiros públicos por parte daquela depravada “aristocracia” do Capital.

(Um pequeno exemplo: O Ministério das Finanças emitiu em 17 de Junho deste ano, um comunicado a afirmar que pagou mil milhões aos bancos que comercializaram swaps em empresas públicas. Poderia não o fazer e recorrer aos tribunais, mas não ofaz porque tal processo seria um entrave (legal) à mais descarada usura de um bem público, do contribuinte. Mas em causa estava a subordinação a essa burguesia).

Vamos ao organinograma do governo.


Não o citaremos completamente, apenas as peças-chaves.


O início, com “o consultor e gestor” Passos Coelho.


Aos 37 anos, começa a trabalhar com alto quadro no grupo de empresas
“Fomentivest”, cujo testa de ferro é um antigo ministro da Administração Interna chamado Ângelo Correia.



Este grupo de empresas está ligado ao rendoso negócio dos resíduos.


Quem são os accionistas dominantes? Bancos, BES, CGD e BANIF (já perceberam porque existe um apoio descarado a este banco falido?).

Paulo Portas, que ascende a vice-primeiro-ministro e, de repente, superintende o sector económico governamental.

A sua carreira política começa a configurar-se quando se torna “consultor” da empresa Amostra, ligada ao grupo mafioso da Universidade Moderna.


Talvez recordem, mas eu reforço, tinha até direito a uma viatura de alta cilindrada desportiva.

Como ministro da Defesa de Santana Lopes, o rapaz Portas vai dar o assentimento ao negócio dos submarinos.


Quem estava na engrenagem como banco “intermediário”?

Nada mais, nada menos que o Banco Espírito Santos (BES). Além de “luvas”, que saltitaram por muitas mãos, existe um “buraco” de 35 milhões de euros, cujo destino e conhecimento está “na dependência”, naturalmente encoberta, desse “homem de Estado”.

Do lado da Alemanha, já houve condenados, mas os alemães não transmitem o que sabem, porque o homem que lhe proporcionou os negócio ainda está no centro do poder político do lado de cá.

Saltemos para o número três deste executivo.


Dá-se pelo nome de Rui Machete.


É Ministro dos Negócios Estrangeiros. Um homem de “consciência tranquila”. Garante ele. E é verdade.


As vigarices são feitas á socapa.

É um rei nos meios dos negócios “pouco transparentes”. As palavras não são minhas.

Os seus confrades, de manigâncias e ingerências económico-políticas, como o antigos embaixador dos Estados Unidos em Portugal Everett Briggs, tratam-no como um mafioso útil.




Com antigo ministro e actual advogado, ligado a um escritório cuja ligação “profissional” ao sector especulativo financeiro é evidente, faz parte dos vassalos da lumpem “aristocracia de poder”, ou seja, é esta a sua verdadeira actividade na pior acepção da palavra….

Como demonstração segue uma parte significativa do seu curriculum financeiro para que conste:

Sociedade Comercial Orey Antunes SA - Presidente da Assembleia geral (PAG) e da Comissão de Vencimentos;

Nor Risco - Capital de Risco SA, PAG

Caixa Geral de Depósitos - Vice-Presidente da AG;

Caixa Investimentos - Presidente do Conselho Fiscal;

Tagus Park - Presidente do Conselho Fiscal;

PRIMOGEST - Sociedade de Fundos Mobiliários - PAG;

GENER - Sociedae Gestora de Património, PAG;

PortFruit - Exportação de Frutas, sócio-gerente:

Sociedade Portuguesa de leasing, PAG;

Banco de Investimentos Imobiliários, PAG;

Banco Privado Português, vice-Pr do Conselho Consultivo;

Banco Millenium - Presidente do Conselho Consultivo;

BPN - Presidente do Conselho Consultivo;

Pena, Machete e Associados (Advogados) sócio-gerente;



Falemos na equipa do Ministério das Finanças, moldada, inicialmente, por Vitor Gaspar, que incluía a secretária de Estado do Tesouro e do Orçamento Maria Luís Albuquerque (licenciada na chamada Universidade Lusiada”, hoje ministra sucessora do primeiro e Paulo Núncio (sobrinho dos Linces de Faria), secretário de Estado dos Assuntos Fiscais.

Maria Luís Albuquerque, como secretário de Estado, refere o seu “curriculum”, “esteve envolvida na venda do BPN ao BIC e nas privatizações de empresas como EDO e REN”, mas antes era “perita em swaps” (Gaspar dixit), e fê-lo directamente, numa empresa pública deficitária, como a REFER (rede ferroviária nacional), como dirigente actuante a favor da especulação.

Núncio é membro da sociedade de advogados multinacional Garrigues. Ocupa a função naquela – o seu próprio escritório o assinala – de “assessor de grandes grupos nacionais e multinacionais” em áreas – vulgarmente conhecidas na grande burguesia – de «lucro fácil», como privatizações, fusões e quejandos.

Não se pode referir toda a panóplia de servidores directos do Capital presentes no executivo.

Interessam mais dois, um membro directo, o outro indirecto.


O primeiro chama-se Carlos Moedas, o segundo António Borges.


O que os une: controlam as privatizações e são funcionários encartados do lumpem capital financeiro internacional judeu (ambos têm as mãos sujas da sua passagem pela Goldman Sachs e Moedas, completou a sua *formação* na empresa judia Indo-Suez e trabalha com a Lehman Brothers).

Um término de uma linha: o novo Ministro da Economia Pires de Lima: executivo da UNICER, que pertence a multinacional dinamarquesa Carlsberg e ao Banco BIP, este uma sucursal do grupo bancário da OPUS DEI, Caja, sediado na Catalunha.

4 – Esta ascensão da lumpem grande burguesia a todo o aparelho de Estado tem sido percorrida num longo caminho.


As lutas no interior das diversas fracções da burguesia tem arruinado uma parte de pequenos capitalistas e mesmo duma fracção da classe média assalariada.

Provocou, de certo a irrupção das lutas de classes em, praticamente, todo o Mundo. Não é um exclusivo de Portugal.


Trouxe contra-revoluções prolongadas nos principais países e grupos de países capitalistas, mas a actividade social move-se.



Atingiu um estádio que, certamente, terá, mais cedo ou mais tarde, reacções, cujas evidências, ainda que dispersas se começam a verificar.

As políticas capitalistas ditas de austeridade não tem levado a um equilíbrio das contas públicas.


Pelo contrário, aprofundou-se o desequilíbrio.


Não pode haver, com este caminho, qualquer orientação no sentido da justiça distributiva, sem atingir os interesses do grande Capital financeiro.

Este tem procurado, através do executivo, dividir as classes trabalhadoras e mesmo sectores da classe média atingidas pelas mediadas de austeridade, atirando empregados do sector público contra os do privado, criando divergências entre os profissionais do sector da saúde, da segurança social, enfim todos os que estão a viver do salário e das pensões de reforma.

Todavia, há novas convulsões em marcha, ainda marcadas pela aparente acalmia.

São compassos de espera que prenunciam tempestades.

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

DETROIT: O EXEMPLO DA DECADÊNCIA DA PRODUÇÃO INTERNA


1 – O anúncio da falência de uma das cidades mais industriais dos Estados Unidos, Detroit, no Estado do Michigan, trouxe para as primeiras páginas da imprensa a questão do desenvolvimento económico norte-americano, e, em particular, a manipulação que os interesses dominantes naquele país, incluindo a sua comunicação social por eles controlada, estão a efectuar, há longos anos, sob a real situação sócio-económica norte-americana, por obscurecer a desigualdade entre as suas relações sociais e as formas económicas que orientam aquele país.

Na realidade, os EUA estão, financeiramente, na falência.

Segundo dados oficiais, relativos a 30 de Junho findo, a dívida pública norte-americana ultrapassa já os 14,3 biliões de dólares, admitindo-se um valor de 16 biliões de dólares, que o Congresso e Câmara de Representante, aliás, estabeleceram num “consenso”  alcançado em Maio passado.

O Departamento Orçamental do Congresso norte-americano (CBO) sublinhou, há dias, que o défice fiscal de 2013 vai ser superior em 330 mil milhões de dólares, se não houver “um consenso” mais alargado para evitar “um abismo fiscal”, que desde 2008 pende sobre a economia dos Estados Unidos.

E ressaltou aquele departamento: se tal suceder, o défice fiscal federal subirá – tendo como baliza os 16 biliões - em cerca de quatro biliões de dólares numa década.

Como pretendem os legisladores, em sintonia com o governo norte-americano “solucionar” este desequilíbrio orçamental?:

Arranjar uma manigância em “engenharia financeira” e manipulando os valores actuais.

Ou seja, continuar na especulação financeira, à custa de multiplicação de dólares, dando uma imagem de falsa abundância, e, abaixamento progressivo dos rendimentos do trabalho e dos pensionistas.

Gastar, em crescendo, o dinheiro dos contribuintes no sector do complexo industrial-militar, fomentando um militarismo cada vez mais agressivo e desgastante, elevando a condição, única, de sustentáculo do Estado.


2 – Em 2010, fiz uma viagem, de três semanas, em auto-caravana, com um grupo de portugueses, por vários Estados do interior dos EUA, que se iniciou em Las Vegas, no Nevada, com percursos por Utah, Colorado, Wyoming, Idaho, a parte norte do Arizona, e a parte sul de Montana.

Las Vegas, uma cidade recente, contem na sua metrópole cerca de dois milhões de habitantes.

Não possui uma grande indústria de produção nacional na sua área.

Cresceu com o turismo, o jogo, a prostituição e droga.

No sul do Estado, existe alguma indústria de alta tecnologia, que está ligada aos jogos electrónicos e telecomunicações, mas com poucos postos de trabalho, e estes, normalmente, altamente especializados.

Verifica-se uma elevada construção de casas, mas reparei, principalmente, fora do centro, que as entradas das mesmas continham as célebres tábuas de madeira com os dizeres “sold” (vende-se) e enxameavam este e outros territórios.

Os empregados de restaurantes (que evitavam falar sobre a sua situação, particularmente os hispânicos), de hotéis e motéis e mesmo grande parte das bailarinas esculturais, que dançavam nos casinos, eram estrangeiros.

(Informaram-nos, também, que 15% da população residente de Las Vegas vive abaixo do limiar da pobreza).

Numa viagem de autocarro pela zona urbana central, o guia explicou, sem qualquer rebuço, que aqueles grandes hotéis e casinos monumentais pertenciam à Máfia (como Bellagio, Luxor, Trump, Caesers, entre outros), excepto um.

Quando nos movimentámos pelos diferentes Estados, multiplicavam-se as tabuletas com a palavra “sold”, quer em habitações, quer em propriedades rurais.


Como pernoitávamos em parques nacionais, ao longo do percurso, convivíamos com auto-caravanas, em número elevado - e alguns verdadeiras residências andantes -, mas a maioria, eram caravanas vulgares, algumas  adaptadas de autocarros para habitação.

Quando falávamos com essas pessoas, constatávamos que eram as suas reais habitações permanentes.

Fomos a enormes “outlets” temáticos nos arredores de Las Vegas, porque a publicidade afirmava que os produtos de vestuário prático, “as verdadeiras calças americanas”, nos *placardes* publicitários, tais como a Lewis, Lee e Wrangler, eram baratíssimas, bem como o calçado prático, da Nike.

Ou mesmo para computadores e telemóveis e outros se enquadravam em preços comparativos por metade face aos portugueses.

Era verdade. 

Só que, quando consultamos as fitas indicativas do local de fabrico, eram todas, mas todas – desde camisas a cuecas – “made” em China, Tailândia, Malásia, India, Sri Lanka, entre outros países.

Voltamos, pois a Detroit.

O poder de uma comunidade somente se alcança com a existência de dinheiro real, palpável.

Porque o lançamento desse dinheiro "no mercado", crescente e descontrolado, através da moeda, não serve para nada, se não estiver enquadrado, engrandecido e solidificado pela produção económica nacional.

A prazo, a vida social terá de definhar.

E com ela a perda da força, que, em si, é determinada pela situação económica interna, que gere o real desenvolvimento industrial e societário.

Ora, a evolução da sociedade norte-americana está em retrocesso, justamente tal como os países da Europa, pelo decréscimo da sua produção nacional.

E, não haverá recuperação enquanto as economias, quer dos Estados Unidos, quer da União Europeia, estiveram sujeitas ao fluxo monetário e produtivo sediado e provindo do espaço externo aos seus territórios.

Arrecadam-se lucros enormes através dos “arranjos” financeiros dessas produções deslocadas, que vão para accionistas e executivos principais ou da especulação bolsista, mas a realidade é que empobrece a maioria da população desses Estados, em especial dos EUA.

Por muitas maquilhagens que as autoridades norte-americanas façam das estatísticas do trabalho (Bureau of Labor Statistics), onde através das folhas de pagamento mensais e da taxa de emprego real se verifica um declínio, ao contrário do que referem os dados “brutos” apresentados em Julho.

“Esqueceram-se” de contabilizar que um número crescente de desempregados de longa duração que deixou de estar inscrito nos centros de emprego.




Além do mais, verifica-se que existe também um crescimento de emprego de estrangeiros indocumentados, que não representam um acréscimo acentuado de consumo interno, pois os salários são inferiores e fazem descer, forçadamente, a capacidade de compra dos assalariados norte-americanos.

A prazo, sem a inclusão desses trabalhadores, na plena cidadania norte-americana, leva a que os impostos decresçam e a despesa real aumente.

A artimanha utilizada pela Administração norte-americana, em cumplicidade descarada com o sistema financeiro de Wall Street, sediado na Reserva Federal, leva ao lançamento para os consumidores de montanhas de dólares, que são geridos. propagandisticamente, para entrarem na roda dos empréstimos “fáceis”.

E que, mais tarde, se verifica não os poderem pagar face aos juros que comportam, porque os seus salários, sempre em decréscimo nas últimas décadas, não acompanham a subida dos custos.

Assim aconteceu com a habitação, cujos métodos especulativos estão a voltar com refinanciamentos bancários, que já apontam para nova “bolha” imobiliária.

Isto significa, mais ano, menos ano, que o consumo se encolherá mais, e a economia avançará para a recessão incontrolada.

Recessão que já é a da situação económica actual.

O que pode vir a suceder, em breve, - e isto porque a própria economia norte-americana já não tem o poder produtivo de superioridade face as economias concorrentes de países e grupos de países em ascensão, elas também com problemas de consumo e de contracção económica, logo sem poder aquisitivo no exterior – é que o lançamento em catadupa de dinheiro  (dólar) para a actividade societária dos EUA já não tapará os “buracos económicos” norte-americanos.

(Não estamos a escrever, procurando marcar os aspectos negativos da economia norte-americana. São dados da realidade do país).

A administração Obama lançou, a 31 de Julho, com sonoridade, acompanhada pelos comentários de pretensos especialistas e jornalistas económicos enfeudados ao sistema dominante no país, que uma “previsão” da taxa de evolução real do PIB do país para o 2º trimestre deste seria da ordem dos 1,7%.

O que significaria um avanço real do PIB. 

Mas este valor crescente é um rearranjo inserto já numa estimativa errada apresentada para o 1º trimestre de 1,8% e que foi, realmente de 1,1%.


(previsão de segundo trimestre de 2013)

Ora, tudo indica que este valor também será alterado, quando confrontado com o incremento real.

Estas estimativas escondem a verdadeira intenção da política governamental de Obama que é a de evitar a todo o custo que os novos produtos especulativos financeiros sejam atingidos e levem os grandes bancos à falência.

Ou então terá de recorrer à injecção de capitais, tirados dos salários, reformas e serviços sociais dos contribuintes

3 – Ora, a questão é o futuro próximo, quando se discutir novamente o défice das contas públicas no Orçamento do Estado federal, e se verificar que a economia está, na realidade, a contrair e o dólar a ficar mais desprotegido pela falta de confiança, logo não pode ser “ampliado” artificialmente para “estimular” o mercado financeiro.

Então, a administração Obama, para proteger o seu sistema financeiro, a sua Wall Street, que o colocou no topo do poder político como serviçal, irá adoptar uma política muito semelhante à aplicada na União Europeia: cortes brutais nos ordenados dos assalariados, rapina nas pensões, destruição do mínimo de serviço público de saúde e educação, entre outras medidas.

Que terá reflexos imediatos e perniciosos, ainda mais, na própria Europa, se esta não se afastar, radicalmente, da dependência política e económica dos EUA, optando por parceiras estratégicas com os chamados países e blocos emergentes.

Para tal terá de haver uma inversão radical da orientação política que domina a UE, mexendo, em primeiro lugar, no controlo real do seu sistema financeiro.






quinta-feira, 1 de agosto de 2013

EUA: O APRENDIZ DE HITLER TANTO PODE SER BRANCO COMO NEGRO



1 – Um professor catedrático da importante universidade norte-americana de Yale, de nome Amitai Etzioni, escreveu,  nos princípios de Julho, na revista daquela instituição (Yale Journal of International Affairs), um artigo denunciando que o seu governo autorizou um plano para lançar uma guerra nuclear “preventiva” contra a China.

A notícia teve divulgação mundial, mas foi menosprezada, mesmo assim, pelos grandes meios de comunicação dos Estados Unidos, o que a limitou.

Foram políticos e especialistas civis das questões militares que deram relevo à gravidade do passo tomado na vigência da…administração Obama.

Washington não teve sequer a ousadia de desmentir a notícia divulgada.

Para se efectuar este plano teve de existir uma sintonia acordada entre o executivo, as Forças Armadas e, pelo menos, o poderoso complexo industrial militar, ponta de lança de todo o militarismo que enferma o sistema capitalista norte-americano e demonstra que as orientações nazis estão a dominar todo o sistema político do país.

Não é por acaso que um ex-Presidente dos EUA Jimmy Carter, ele próprio no seu tempo apologista – forçado ou não – das intervenções imperialistas norte-americanas em países que lhe não eram subservientes, como o Irão, reconhece agora – e fê-lo curiosamente durante uma recente viagem à Europa  -  que os Estados Unidos “já não funcionam como democracia”.

O aparecimento deste artigo no jornal de Yale surge já depois da Rússia e a China terem realizado, pela primeira vez, grandes manobras aero-navais no Oceano Pacífico, e, particularmente, numa altura em que um importante destacamento castrense russo efectuou um grande exercício no Extremo-Oriente.

 
Foram, aliás, os maiores exercícios militares russos, desde o desaparecimento da URSS.

Vladimir Putin, como Chefe de Estado e comandante-em-chefe das Forças Armadas fez questão de estar presente.

Neles participaram unidades, em número elevado, da Marinha de Guerra, Aviação estratégica (um certo número de aviões transportando armas nucleares foram colocados em estado de prontidão máxima),  tropas do Exército da defesa anti-mísseis,  de cavalaria blindada e de infantaria motorizada.

2 – A fascização em curso nos Estados Unidos da América não é uma frase militante que eu uso. É uma realidade.

Para o efeito, além da declaração de Carter já citada, vou dar-vos a opinião sobre essa evolução política de um antigo governante norte-americano, não muito antigo no tempo, pois pertenceu à Administração Clinton. Logo uma personalidade da própria elite dirigente do país.

Chama-se Paul Craig Roberts e exerceu o cargo de Secretário Adjunto do Tesouro.

Entre outros cargos, foi editor do “Wall Street Journal”, o órgão de comunicação do sistema financeiro norte-americano.

A tradução, minha, provem do castelhano.

Foi retirada da revista “CounterPunch”.

O título do artigo é “Planificação da guerra nuclear?”, com um antetítulo “Duas falsas democracias que ameaçam o mundo”.

”Amitai Etzioni (o catedrático supracitado) colocou uma importante pergunta:  *Quem autorizou os preparativos de uma guerra contra a China?*

Etzioni disse que o plano de guerra não é o tipo de plano de contigência que pode estar disponível para um acontecimento improvável.

Etzioni também informa que o plano de guerra não foi ordenado, nem passou pelo crivo da revisão das autoridades civis norte-americanas.

Vemo-nos confrontados com militares norte-americanos fora de controlo, influenciados pelos neoconservadores que colocam em perigo os norte-americanos e o resto do mundo.

Etzioni tem razão quando diz que é uma decisão crucial de alguns militares influenciados pelos neoconservadores.

É obvio que a China sabe que Washington se está a preparar para uma guerra contra ela.
Se o Yale Journal  sabe, a China também está ciente do processo.

Se o governo chinês é realista, sabe que Washington planifica um ataque nuclear preventivo contra a China.

Nenhum outro tipo de guerra tem sentido do ponto de vista de Washington.

A *superpotência* nunca conseguiu ocupar Bagdad, e, depois de 11 anos de guerra sai derrotada do Afeganistão por uns milhares de talibãs, com armamento ligeiro.

Envolver-se numa guerra convencional com a China seria o fim de Washington.

Quando a China era um primitivo país do Terceiro Mundo, combateu os EUA na Coreia e da refrega chegou-se a um ponto morto.

Hoje, a China é a segunda economia do mundo e supera, rapidamente, a débil economia dos EUA, destruída pela deslocalização de postos de trabalho, fraude nos *bansteres* e a traição corporativa e do Congresso.

O plano de guerra do Pentágono contra a China denomina-se *Batalha Ar-Mar*.

É desenvolvido com a utilização de *forças aéreas e navais inter-operativas que podem executar ataques em profundidade em rede, integrados, para danificar, destruir e desmoronar capacidades inimigas contra o acesso de capacidades de negação de área”.

Sim, *mas o que significa  isso?* Significa muitos milhares de milhões de dólares de benefícios adicionais para o complexo militar/securitário, enquanto que os restantes 99 % sofrem pisados pelas botas castrenses.

Também é óbvio que essa aventura insensata não pode derrotar um grande exército chinês.

Mas, este tipo de ruídos de terçar espadas pode conduzir à guerra, e se os cretinos de Washington iniciam uma guerra, a única maneira em que o poder político norte-americano se poderá impor é com a utilização de armas nucleares.

A radiação, claro, também matará norte-americanos.

A guerra nuclear está, pois, na agenda de Washington.

A ascensão dos nazis neoconservadores levou a que fossem negados os acordos de desarmamento nuclear de Reagan e Gorbachov.

O extraordinário livro publicado em 2012, na sua maior parte verdadeiro, *About the Untold History of the United States*, de Oliver Stone e Peter Kuznick, descreve a orientação post Reagan, segundo a qual o ataque nuclear preventivo é a primeira opção de Washington.

Durante a guerra fria, as armas nucleares tinham um efeito defensivo.

O propósito era impedir a guerra nuclear porque os EUA e a URSS mantinham um suficiente poder de retaliação para garantir a *destruição mútua*.
MAD, como lhe chamavam, significa que as armas nucleares não ofereciam uma vantagem ofensiva a qualquer dos lados.

O colapso soviético e a concentração da China na sua economia, em lugar de fortalecer as suas forças armadas, tiveram como consequência que Washington adquirisse vantagem no armamento nuclear que, segundo duas personagens norte-americanas do  textoDr. Insolito, Keir Lieber e Daryl Press, dá à administração dos Estados Unidos a capacidade do primeiro ataque.

Lieber e Press escrevem que a *precipitada decadência do arsenal da Rússia e o ritmo glacial da modernização das forças nucleares da China* criaram uma situação em que aqueles dois países não poderiam responder a um primeiro ataque de Washington.

O plano *Batalha Ar-Mar* do Pentágono e o artigo de Lieber e Press na revista *Foreign Affairs* tornaram a China e a Rússia cientes que Washington está a considerar a possibilidade de ataques nucleares contra os dois países.

Para assegurar que a Rússia será incapaz de retaliar, Washington está a colocar misséis anti-balísticos nas fronteiras russas, numa violação do acordo EUA-URSS.

Devido ao facto de que a imprensa norte-americana se transformou num corrupto Ministério da Propaganda governamental, o povo dos EUA não tem a menor ideia de que Washington, influenciado pelos neoconservadores, está a planear uma guerra nuclear.

Os Estados Unidos não estão conscientes do que está a suceder, tal como ignoram a recente declaração do ex-Presidente Jimy Carter, que foi produzida na Alemanha, segundo a qual os EUA já não são uma democracia.

A possibilidade de pôr em marcha uma guerra nuclear surgiu, precisamente, há 11 anos quando o Presidente George W. Bush, por intercepção do vice-Presidente Dick Cheney e dos neoconservadores que dominavam a sua administração, aprovou a uma lei que chamou de *Revisão da Orientação Nuclear 2002*.

Este documento neoconservador, aprovado pelo Presidente mais cretino dos EUA, provocou consternação e condenação no resto do Mundo e fez com que se iniciasse uma nova corrida aos armamentos.

O Presidente russo, Vlamidir Putin, anunciou, de imediato, que a Rússia gastaria todo o dinheiro que fosse necessário para manter a sua capacidade de retaliação nuclear.

Os chineses conseguiram em pouco tempo desenvolver tecnologia que lhe permitiu destruir um satélite em órbita com um míssil.

O Presidente da Câmara de Hiroshina, a cidade japonesa vítima de um enorme crime de guerra norte-americano, declarou: *O Tratado de Não Proliferação Nuclear, o acordo internacional central que guia a eliminação das armas nucleares, está à beira do colapso.

A causa principal é a política nuclear dos EUA que, ao sustentar, abertamente, que pode efectuar um primeiro ataque nuclear preventivo e ao relançar um programa de investigação de mini-bombas nucleares e outras, denominadas `armas nucleares utilizáveis`parece adorar tal tipo de armamento como se fosse um Deus*.

As sondagens em todo o mundo mostram, claramente, que Israel e os EUA surgem como as maiores ameaças à paz e à vida no planeta.

Todavia, estes dois governos, que se tornam em tudo ilegais, pavoneiam-se, auto-declarando-se *as maiores democracias do mundo*.

Nenhum deles aceita qualquer responsabilidade perante o direito internacional, os direitos humanos, as Convenções de Genebra ou mesmo perante o seu próprio direito constitucional.

EUA e Israel são governos canalhas, em retrocesso à era de Hitler e Stálin.

As guerras posteriores à II Grande Guerra Mundial tiveram como centro Washington e Israel.

Nenhum outro país apresenta tais ambições imperiais expansionistas.

O governo chinês não ocupou Taiwan, mas poderia fazê-lo se quisesse.

O governo russo não ocupou, até agora, antigos territórios constitutivos da própria Rússia como a Geórgia, a qual sob a pressão de Washington lançou um ataque sobre o país de Putin, que foi, instantaneamente, jugulado pelo Exército russo.

Putin poderia ter afastado o títere georgiano de Washingtom e incorporar a Geórgia na Federação Russa, da qual fez parte durante vários séculos e que muitos consideram com pertença daquele Estado.

Durante os últimos 68 anos, a maioria das agressões militares foram originadas pelos Estados Unidos e Israel.
Contudo, esse dois provocadores de guerra armam-se em vítimas de agressão.
Israel tem um arsenal nuclear ilegal, não reconhecido e sobre o qual não presta contas à comunidade internacional.
Washington já elaborou um plano de guerra baseado no primeiro ataque nuclear.
O resto do Mundo tem razão em considerar que esses dois irresponsáveis governos canalhas são ameaças directas à vida na terra”.