1
– O que se movimenta por detrás da persistente crise económica-financeira da
lumpem grande burguesia capitalista mundial, as divergências acentuadas de
potências burguesas, conclaves forjados para impor sanções económicas, visando
obter vantagens políticas, o fomento por interpostos Estados menores em guerras
sangrentas locais?
Podemos
analisar, este ou aquele caso concreto, este ou aquele caso de intervenção
política desastrada, principalmente da potência política e económica dominante,
mas a questão que se tem de observar, com rigor e perspicácia, é a evolução
real da burguesia capitalista neste último século.
E
a partir daqui discernir que o que é determinante no estado da situação económica mundial e o
que pode estar a mudar.
UCRÂNIA: uma guerra através de intermediários
2
– Ao analisarmos o que se está a passar nos diferentes Estados europeus, que
enquadram a UE, os conflitos sangrentos em todo o Próximo e Médio Oriente, as
divergências políticas dentro do sistema oligárquico norte-americano, os
movimentos militaristas e pró-nazis quer em certos países do leste europeu e no
Japão, a pescadinha de rabo na boca de um pretenso relançamento financeiro e
cambial nos Estados Unidos, sem haver uma correspondência real no aumento da
competitividade e incremento da economia real do país, temos de escalpelizar
como se efectuou o processo histórico da evolução do capitalismo mundial desde
a primeira crise do petróleo, situada, grosso modo, em 1973.
A
crise petrolífera não nasceu, nem se diversificou, porque estiveram por detrás
somente acções políticas como determinantes em toda a movimentação, muito dela
já hoje histórica.
A
crise petrolífera, aliada à desregulamentação total, propositada, do sistema
monetário internacional capitalista, sob os auspícios de Wall Street, com mais
duas crises sucessivas na área dos petróleos (179 e 1980), veio fazer alastrar
uma crise económica mundial de grandes proporções, cujo beneficiário principal
foi um sector específico dessa burguesia, a grande burguesia financeira
especulativa.
Ela
veio a dominar tudo, estando, todavia, ainda, em permanência, virtualmente, os
acordos de Bretton-Woods, mas ganhou especial incidência após a desagregação da
ex-URSS.
A
moeda norte-americana tornou-se, na sequência da crise petrolífera, a principal
unidade de troca internacional, e com este facto a lumpem grande burguesia
norte-americana ditou, imperialmente, os seus ditames económicos de supremacia.
Ela
dominou a bolsa, a especulação financeira, a produção e distribuição
petrolíferas, os mercados (legais e ilegais) das matérias-primas, os complexos
monumentais agro-pecuários, o enquadramento internacional
dos instrumentos castrenses, através da sua dispersão por ocupações e
lançamento de bases militares em mais de 180 países.
Claro
com a protecção castrense da NATO, um instrumento de monstruosidade de força,
mas que somente subsistiu, até agora, porque ela custou um balúrdio de
dinheiro, não só, mas principalmente, ao povo norte-americano, mas também aos
seus serviçais europeus e canadianos.
(O militarismo
norte-americano, embora pareça que serve de alimento permanente a uma parte da sua indústria, na realidade
está a devorar os EUA – O Orçamento castrense visível do Pentágono para 2015 -
existe um invisível para operações encobertas - é de cerca de 500 mil milhões
de dólares, para manter uma estrutura militar e um corpo de soldados
permanentes que ultrapassa os 520 mil.
Os EUA gastam mais com as
suas Forças Armadas do que os outros 10 países considerados no escalão superior
de despesas).
Wall
Street – que se foi aliando progressiva e sistematicamente com o capitalismo
internacional do Vaticano – enquadrou nos anos 70 todo o sistema político
europeu (em cumplicidade directa e criminosa com os partidos sociais democratas
e, alguns que se apelidavam como comunistas – Itália, França, Espanha,
Portugal, Suécia, entre outros),
mas produziu e forçou, ao mesmo tempo, o fomento de uma evolução mundial da
burguesia capitalista de raiz liberal a, praticamente, todo o planeta, desde a China (com início na
parceria entre Mao Tse Tung e Richard Nixon) até à Rússia, com a ascensão da
clique pró-soviética da troica liberal formada, nos primórdios entre
Gorbatchov, Yeltsin e Romanov, passando, mais tarde pelos países que se
libertaram do colonialismo em África e no Extremo-Oriente, com Angola,
Moçambique, Vietname, Laos, Cambodja, etc.
3
– A crise económica larvar do grande capital financeiro foi-se agravando, pois
ao mesmo tempo que se expandia a industrialização (a chamada deslocalização) a
baixo preço e em quantidades *industriais* nos chamados países emergentes e de
«terceiro mundo» comprimiu-se, melhor dizendo, travou-se, gradualmente, o
crescimento nos grandes países industriais ocidentais, com destaque para os
EUA.
Todavia,
esta ascensão da grande burguesia capitalista e do seu aparente sucesso de
conseguir *fazer medrar* um certo bem-estar ocidental, principalmente, entre os
finais dos anos 60, todo a década seguinte e grande parte da de oitenta do
século XX deu-se, porque na sua peugada estavam
as classes laboriosas em fermentação.
Ou
seja, esse lumpem de *ricaços* estava acossado – anos 60/70 - com uma ascensão
de movimentos de libertação nacional e colonial, bem como de luta económicas e
políticas das classes trabalhadoras, em particular na Europa (Maio de 1969 em
França, com ramificações mais moderadas na Itália e Inglaterra, quedas dos
regimes fascistas em Portugal, Espanha e Grécia, movimentações sociais nos EUA,
luta anti-ditatoriais na América Latina, desde o Chile, ao Brasil, passando
pelo Uruguai e Argentina).
Contudo,
estes movimentos, embora por vezes radicais ou radicalizados, não pressupunham
um programa revolucionário de ruptura económica e política, e foram sendo
amarfanhados ou derrotados, não porque
a Revolução tivesse desaparecido, mas porque, essencialmente, o que
estava a ser contestado, nos seus programas, eram os resquícios
pré-revolucionários que a Revolução Soviética (formada por uma movimentação
popular maioritariamente camponesa e imbuída de ilusões quanto a uma destruição
rápida do capitalismo a partir de *um só país*) erigiu, tal programa e
+praxis+, como modelo único, sem contestação do que seria uma Revolução
Socialista).
A
expansão do capitalismo industrial a uma grande parte do planeta nestes 30 a 40
anos trouxe, naturalmente, consigo o incremento
das classes laboriosas urbanas.
E tal facto, desenvolveu, ainda que lenta, mas progressivamente, o seu enraizamento social e reivindicativo nas sociedades que se tornaram, abertamente, capitalistas.
Não
existiu, é certo, uma noção entre esses assalariados de que seria necessária uma revolução
para transformar as relações de produção, mas fez aparecer e crescer a
necessidade material de se empreender uma acção diferente, mais corajosa, em
torno da defesa e conquista de bem-estar, e, acima de tudo, de começar a obter
consciência da sua própria capacidade de lutar por si próprios.
No
meio de um largo período, em que a grande burguesia financeira capitalista se
impôs e efectivou, até à exaustão, a sua prática contra-revolucionária,
deram-se dois acontecimentos que puseram em marcha um descontentamento
generalizado que hoje se traduz num impasse na própria existência dessa lúmpen
burguesia:
a crise económica e financeira de 2001
e, principalmente a grande crise mundial financeira, primeiro, depois
económica, de 2007/08.
4
– Com estas crises, os países em industrialização crescente em contra-ponto com
a arrogância, atingida e desarticulada do grande capital financeiro
norte-americano, criaram *focos de resistência* anti-imperialista norte-americana
fazendo frente ao potentado capitalista de Wall Street.
Deu-se,
portanto, uma revolta – primeiro, estribada nas vantagens económicas que esses
grandes países adquiriram no mercado mundial, e, em segundo, a sua capacidade
de acumulação de Capital, que um período florescente anterior, primordialmente
devido aos valores das matérias-primas e aos preços que conseguiram tornar
competitivos no mercado comercial, a apostarem nos encargos e modernizações das
estruturas castrenses.
E
a nova relação de forças, que emergiu na sociedade planetária, está interligada
a uma nova pujança multipolar militar, que, apesar de colocar as
potências em compassos de espera no desenvolvimento industrial e comercial (por
fraquezas várias), de buscas de novas alianças, de perspectivas de relançamento
de novos sistemas de trocas cambiais e até de sistema financeiro, conduziu,
isso sim, a uma entrada colossal de dinheiro nos complexos
industriais-militares.
Mas,
também, está a produzir o seu contrário: o sistema da grande
burguesia capitalista está a ficar *estrangulado* com as dívidas monumentais.
Ora,
a *desmatação* que a crise económica e financeira de 2007/08 causou nos
sistemas de desenvolvimento industrial, agro-industrial e comercial em todo o
mundo está a fazer vir ao de cima a impotência do domínio absoluto do lúmpem
grande capital financeiro.
Na
realidade, a fraqueza da burguesia, como classe, está a despertar uma nova
consciência quer nas reivindicações das classes laboriosas internacionais,
quer, inclusive, no insatisfação com as ultrapassagens anti-democráticas das
culturas e sentimentos nacionais dos explorados.
O
que se deu, real e principalmente, desde a crise de 2007/08 foi –e é – a incapacidade
da burguesia (e o seu sector mais rapace) de reformar um poder político que
aprofunde uma nova base democrática.
Nota-se
que vai haver um tempo ainda em que a burguesia poderá governar tendo nos
calcanhares as reivindicações crescentes das classes trabalhadoras.
Mas,
este tempo terá, todavia, um término, abrupto ou não, com a entrada de um
furacão revolucionário.
O
período actual de adormecimento subversivo poderá acordar. em breve, mas somente
terá consequências se um progresso programático revolucionário começar a
germinar internacionalmente.
E
esta nova realidade não nascerá por geração espontânea, terá de ser
conquistada, não só contra o capitalismo financeiro dominante, mas também
contra as ilusões ultrapassadas de que a democracia revolucionária poderá nascer dentro do próprio regime actual.
Descobri o seu blog há pouco tempo e estou fascinado com a clareza como expõe as matérias. Estou a aprender muito aqui.
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