segunda-feira, 27 de julho de 2015

A REFORMA NA UE SÓ TERÁ EFEITOS PRÁTICOS COM UMA REVOLUÇÃO

1 – Há cerca de dois meses, visitei cerca de 20 províncias do Irão, numa viagem de 4.500 quilómetros, que me levou por várias partes do país, passando muito perto das suas principais fronteiras, desde a Arménia, Azerbeijão, Iraque, Afeganistão e Paquistão, nomeadamente. 

Claro que, em certas regiões, as distâncias foram maiores do que outras dessas raias.

A maior aproximação de fronteira que chegamos,  foi com o Iraque.

Quando saímos de Hamadan e seguíamos para sudoeste, estando praticamente no paralelo de Bagdad, a guia indicou-nos que, para o outro lado, das montanhas que percorríamos, do nosso lado direito, logo tendo-as a  oeste,  estaríamos a cerca de 160 quilómetros da capital iraquiana.

No decorrer dessa viagem, lendo a imprensa local em língua inglesa, o regime de Teerão, abertamente, reivindicava que forças *milicianas* daquele país defendiam Bagdad e estavam a avançar para a parte sunita iraquiana, facilmente tomada por um misterioso Exército Islâmico, que era constituído, na sua maior parte, por forças *estrangeiras* e amplamente fornecidas de armamento e logística ocidental.

O curioso é que essas «forças milicianas» iranianas estavam a ser comandadas por oficiais superiores e generais do regime de Teerão, e citavam os jornais e a televisão, sem o esconder,  o nome do seu comandante supremo no terreno.


movimentação militar e diplomática iraniana no Médio-Oriente
Nada mais, nem nada menos, o general Qassem Suleimani, o chefe do Estado-Maior das Forças dos Guardiões da Revolução, a principal estrutura castrense do Irão.

Quando chegamos a Khorramabad, foi-nos referido que a cidade foi, praticamente, arrasada e esteve ocupada, durante meses, pelas tropas iraquianas pró-americanas do assassinado general Hassan Hussein, (guerra Irão-Iraque 1980-1988), que era então *o títere* de serviço do regime de Washington. 

A recuperação da cidade era evidente.

Hoje, ali funciona um complexo enorme do sistema industrial militar (oficialmente, diz-se que é um complexo de mísseis balísticos, mas as informações que obtivemos admitiram que possa também lá estar estar  instalada uma central nuclear).

Um aparte para prosseguirmos no objectivo de explicação geopolítica que pretendemos efectuar num artigo que será, necessariamente, concentrado:

***O Irão, que foi tomado pelos clérigos xiitas, em 1981, após uma revolução, que durante breves meses adquiriu um carácter laico e progressista, foi reconstruído e tornou-se uma potência regional, apesar de toda a prática de destruição, fogo, conspirações, no fundo violência, montada e organizada pelos Estados Unidos da América.

(Depois da queda do Xá Pahlevi, um presidente laico, Bani-Sadr  subiu ao poder em 1980, que cedeu à formação em coligação de um seu governo com os xiitas, tendo Mohammad Ali Rajai, como Primeiro-Ministro. 

No confronto interno, os xiitas venceram e Sadr exilou-se em Paris).

Pela leitura das movimentações actuais no terreno,  verifiquei que as forças Armadas iranianas estão a actuar, de maneira organizada, na Síria, abastecem e, certamente, dão, pelo menos, apoio logístico substancial, principalmente em mísseis balísticos, ao Líbano, fornecem «serventia» aos Huthis iemenitas que derrotaram o regime de Sana, apoiado pela Arábia Saudita, e, me maneira activa, mas mais discreta, estão em acção na Palestina, pelo menos em Gaza. Para não falar no Barhein e, talvez, em Oman.

A sua Armada movimenta-se, em exercícios, inclusive no Mar Mediterrâneo.

Manobras militares navais iranianas

E toda esta reviravolta, que não foi, essencialmente, militar, tem uma base na evolução da sua economia política, e da sua capacidade de resistir às agressões do imperialismo norte-americano.

(Verificamos a exploração da indústria mineira de cobre, da indústria automóvel. Estivemos perto de centros e refinarias petrolíferos em extensão, passamos junto de numerosas grandes empresas comerciais.

O Irão tornou-se um país capitalista, com laivos de autoritarismo teocrático medievalista, que está a retardar a transformação do Estado como formação política da burguesia interna, já dominante.

Eventualmente, a possibilidade, já concretizada, de um acordo entre os potentados ocidentais, russos e chineses, em torno do nuclear, irá adquirir influência, mais ou menos rápida, nessa evolução estatal, a qual irá influenciar, decisivamente, toda a relação geopolítica do Médio-Oriente, e, quiçá, da própria reorganização estatal local assente nas repartições coloniais.

2 – Ao meditar, ainda estando de viagem no Irão, sobre o que se estava a passar, não só no Médio-Oriente, mas igualmente na Europa, verifiquei que, por detrás de todo este incêndio violento das duas regiões, que, noutras condições, também, estão a atingir outras partes orientais do globo, reparei que toda a teoria da violência da actualidade, tendo como marco os finais da II Grande Guerra, está intimamente ligada a uma prática real e primordial assente no papel arrogante, totalitário e destruidor de poderio impregnado no sistema dominante do poder de Washington.

Na realidade, até à crise financeira de 2007/2008 (embora já houvesse indícios na crise de 2001, com os obscuros «ataques» às Torres Gêmeas), aquelas teoria e *praxis*pareciam prevalecer e sair, definitivamente, vitoriosa.

Ora, o que vemos, hoje com mais clareza, é que essa *teoria* assente numa ideologia de *conquista violenta tendo como exemplo a democracia pró-americana* está a fracassar.

Mais: o sistema social e político dominante está a soçobrar e a abrir-se, com altos e baixos, hesitações, avanços e recuos, a porta de entrada na actual comunidade mundial de uma nova era da gestão política, económica e social.

De certa maneira e em certo sentido – claro que em dimensões diferentes -, Os Estados Unidos e o Irão são as únicas potências com uma expansão de Exército territorial que extravasam, em muito, os limites dos seus territórios.

E como são antagonistas e concorrentes, tal facto torna-se um desafio efectivo à política expansionista norte-americana, neste caso, numa região potencialmente explosiva e que era considerada, há anos atrás, como área de influência única e dominante de Washington.

3 – Com a destruição da antiga União Soviética e a a ascensão tentacular dos chamados neocons (novos conservadores) ao aparelho económico, político e militar dos Estados Unidos, o capital financeiro de Wall Street tornou-se o centro de poder único e real na cena política mundial.

(Os chamados neocons entranharam-se em todo o tecido social, em especial no financeiro e no complexo industrial militar, emitindo o propósito declarado e arrogante de colocar a supremacia total dos Estados Unidos como objectivo central da sua política externa, utilizando os meios que fossem necessários.

Começaram, lentamente, a partir da governação Eisenhover, ao debitarem apenas propaganda organizada e estimulada em pretensos centros +científicos+, que deveria ser posta em prática no país uma doutrina que servia o capitalismo, como sistema eterno social, enquadrado, ideologicamente, com um programa vago de alargamento dos direitos humanos, sob a batuta de Washington.

Foram fortemente estimulados e financiados – frisamos novamente - por institutos e fundações, onde, entre outros, pontificaram (e pontificam) os Rothschild, os Rockfeller, George Soros, Charles e David Koch, J.P. Morgan, os Goldman Sachs.

Serventuários intelectuais e políticos dos potentados económico-financeiros norte-americanos, tornaram-se nas figuras criminosas da política imperial norte-americana.

Citam-se alguns: Dick Cheney, Donald Rumsfeld, Paul Wolfowitz, Condolezza Rice, Richard Perle, John Bolton, Rahn Imamuel, Willian Kristol, Susan Rice, Leon Panetta, Robert Graves, e as chamadas «sumidades», ligadas às finanças e ao controlo sistema bancário mundial, como Lawrence Summers, Paul Volcker, Robert Rubin, Timothy Geitner.
Por exemplo, Paul Wolfowitz, que foi figura proeminente em vários governos, e, apesar da sua cumplicidade directa nas guerras criminosas do Iraque e Afeganistão, foi elevado, por pressão do lobby judaico de Wall Street, a director-geral do FMI, cargo que, aliás, já abandonou.

Donald Rumsfeld foi – e é - o representante directo dos Rothschid no complexo industrial militar norte-americano.

Ambos – criminosos encartados – continuam a influenciar a política imperial norte-americana.

4 – O plano norte-americano de impor a sua perspectiva de domínio mundial, desenvolvido desde os finais dos anos 40, mas com a *rédea solta* desde os tempos de Ronald Reagan teve uma acção catalizadora de acelerar o desenvolvimento económico planetário, mas também o seu projecto político de transformar a economia política centrada no lumpen capitalismo financeiro em modelo social imutável.

A crise de 2001 – com especial evidência em 2007 – trouxe uma evolução económica mundial, que ultrapassou o controlo político imediato norte-americano, mas que os seus mentores, pela violência, como potência dominante, pensavam edificar.

Na realidade, a grande burguesia capitalista norte-americana viu-se confrontada com a evolução do capitalismo em grandes Estados, como a Rússia, China, África do Sul, Índia, Indonésia, Japão, e, principalmente na Europa, que se tornaram entre os finais dos anos 90 do século e a primeira década do século XXI, em poderosas potências comerciais.


Com esta mudança rápida e drástica da geopolítica, os EUA, através dos neocons, consideraram que uma violência feroz e voluntarista iria fazer com que o mundo unipolar se recompusesse, rapidamente, em plena sintonia forçada com Washington.

Ora, a política de ferro e fogo não é um processo de simples acenar de dedos, colocando o centro do fogo nos países mais débeis, é preciso ponderar a realidade económica que está por detrás da violência, incluindo o desenvolvimento da sociedade no seu próprio país.

Avançaram, pensando que toda a logística económica que enquadra a hipótese de lançar a violência lhes era favorável, para todo o sempre.

O emprego da violência em larga escala e profundidade tem de se estribar na força.

Constatamos, assim, que não é o voluntarismo, mais ou menos ideológico, que enquadra essa violência, mas o incremento exponencial dos seus meios castrenses.

E estes, para serem eficazes, têm de comportar um tesouro de biliões de biliões de dólares.




Mas, no actual panorama geoestratégico, esse dinheiro teria de ser empregue, tendo em conta que nos novos centros de poder se fortaleciam e incrementavam eles próprios como uma força, que, tirando as proporções, os equiparava, quer como potências isoladas, mas principalmente, com a estrutura de parceiras estratégicas não só militares, mas principalmente económicas.

Ora, o dinheiro que os EUA lançava à tripa forra para o mercado mundial começava a ser combatido por grupos de potências que já não aceitavam (e agora ainda mais) de mão-beijada a supremacia do dólar.

Atente-se no panorama económico actual, com o surgimentos do Banco dos BRICS, da parceria geo-estratégica russa-chinesa, que abarca a economia, o desenvolvimento tecnológico e a interacção militar. 

Acima de tudo: convém reflectir, com seriedade nesta questão –o dólar já não tinha correspondência na produção económica interna dos Estados Unidos.

Quando irrompe, sem meios termos, a crise capitalista norte-americana de 2007/2008, constata-se que Washington tem o seu sistema cambial  completamente desfazado da sua produção interna.

Os gastos militares não estavam enquadrados – melhor dizendo – alicerçados na capacidade de incremento da produção própria económica norte-americana.

Há, desde 2007, uma ameaça de bancarrota na sua economia, que se manifesta abertamente pelas bancarrotas das grandes metrópoles industriais, como Detroit, mas não é somente esta cidade industrial do Michigan, mas também Benton Harbor, Ecorce,Flint, Pontiac, Allen Parks.

Atinge um centro comercial, como a cidade de Chicago, ou cidades de agro-indústria, como San Bernardino, Stockton e Vallejo, na Califórnia; Jefferosn, no Alabama; polos industriais comio Harrisburg na Pensilvânia e Central Falls em Rhode Island, entre outras cidades.


manifestante nos EUA contra a bancarrota
De referir os custos das chamadas guerras do Iraque e do Afeganistão, desde os seus começos, respectivamente, em 2003 e 2001.

É um estudo interdisciplinar de 2013 da Universidade de Brown, referente ao ano de 2011, que assinala a quantia de 3,7 biliões de dólares gasta naquelas guerras, tendo em conta os relatórios e orçamentos oficiais.

Para que conste, uma parte substancial deste dinheiro submergiu na corrupção dos generais, dos senadores, das lumpen empresas financeiras e das empresas do complexo industrial militar.

Ora, esta despesa crescente não correspondia a uma entrada produtiva de dinheiro na economia dos EUA.

Quer isto dizer que a força não trazia um retorno eficaz e real das despesas feitas.

Ou seja – terra a terra – a situação económica não acompanhava, com produção própria, o esbanjamento sem freio – e em concorrência acrescida de outras potências – do dinheiro público dos cidadãos norte-americanos.

A força sem quartel e sem sentido planeado estava e está a afundar a América do Norte, com o seu potencial industrial e agro-industrial, em retrocesso económico.

Por muito que os economistas do regime ou as empresas jornalísticas do capital financeiro queiram fazer crer o contrário, a realidade é evidente:

Repare-se o que afirma o organismo que os EUA dominam: o FMI.

Cita-se:

O Fundo Monetário Internacional (FMI) reduziu para 2,5%, a previsão de crescimento da economia dos Estados Unidos este ano. Em Abril, o fundo estimava que a maior economia do mundo terminaria 2015 com expansão de 3,1%.

“Para 2016, a expectativa de crescimento também ficou menor, passando de 3,1% para 3%. Em 2014, o Produto Interno Bruto (PIB) do país cresceu 2,4%.
"A economia dos EUA perdeu força no primeiro trimestre (de 2015) por conta do clima desfavorável, uma contracção forte no investimento no sector de energia, a greve dos portos da costa oeste e os efeitos do dólar mais forte", avalia o Fundo.
Segundo o FMI, no entanto, isso deve "segurar", mas não impedir de forma duradoura o crescimento. "Um mercado de trabalho sólido, condições financeiras melhores e petróleo mais barato devem dar apoio a um caminho mais dinâmico para o resto do ano", diz o relatório divulgado nesta quinta-feira. (Junho de 2015)

O FMI sugere ainda que o comité de política monetária dos Estados Unidos adie a sua intenção de elevar a taxa básica de juros do país – hoje no patamar mínimo, entre 0 e 0,25% – para o primeiro semestre de 2016. O Fomc vem indicando, nas actas das suas últimas reuniões, que essa elevação pode acontecer a partir deste mês.

"O Fomc deve manter-se atento aos dados e adiar a sua primeira subida na política monetária até que haja sinais maiores de alta na inflação e nos salários que estão actualmente a serem praticados", diz o fundo.

"Isso colocaria a 'decolagem' na primeira metade de 2016".

Outra citação:

“EUA criam 280 mil empregos em Maio, mas o desemprego sobe para 5,5%.
Uma pesquisa estimou em 8,7 milhões o número de desempregados no país.
Desemprego entre negros é mais do dobro do que existe entre brancos.
A taxa de desemprego dos Estados Unidos registou leve alta em Maio, passando de 5,4% para 5,5%, segundo dados divulgados nesta sexta-feira (5) pelo Departamento do Trabalho do país.
A pesquisa estimou em 8,7 milhões o número de desempregados no país, estável em relação ao mês anterior. Já o número de desempregados "entrantes" – aqueles que nunca trabalharam – cresceu em 103 mil em maio.
No mês, foram criados 280 mil novos postos de trabalho, principalmente em profissionais de serviços, lazer e sectores de saúde. (Logo de variação muito curta). O emprego no sector de mineração continuou a recuar. A alta no desemprego, apesar da criação de temporária de emprego, deve-se à entrada momentânea,  de 397 mil novas pessoas no mercado de trabalho. Mas, o de longa duração permanece e até cresceu.
“Entre os grandes grupos de trabalhadores, a pesquisa não apontou, todavia, variações significativas nas taxas de desemprego na passagem de Abril para Maio. As taxas para homens e mulheres permaneceram, ambas, estáveis em 5%.
Entre adolescentes, ficou em 17,9%.
Entre os negros, o desemprego ficou em 10,2%, enquanto a taxa entre os brancos foi de 4,7%. A taxa entre asiáticos ficou em 4,1%, e entre hispânicos, em 6,7%”.
Fonte: Departamento do Trabalho dos EUA

Fila de desempregados em Nova Iorque

5 – Verificamos como a violência desmesurada norte-americana teve sucesso no Mundo: transformaram a América Latina numa sua coutada; humilharam a ex-URSS na fase final e a Rússia de Ieltsin; encurralaram a China no seu território; incendiaram, brutalizaram e procuraram desfazer os Estados mais ricos, que se procuraram afastar da subserviência no Médio-Oriente; ocuparam a Indonésia, quando fomentaram o golpe de Estado de Suharto. Alimentaram o alargamento europeu, uma necessidade da burguesia da Europa, que os ultrapassou em produção comercial, mas hoje estão a procurá-lo açaimá-lo, através de uma criminosa organização militar chamada NATO.

Todavia, este estado de coisas não pode permanecer imutável indefinidamente.

Ora, as crises que se sucederam desde a chamada do petróleo (1973) vieram progressivamente a colocar, no julgamento da crítica histórica, a questão do papel crescente do capitalismo financeiro, centrado em Wall Street, e o poder avassalador dos magnates do dinheiro improdutivo.

Em todo o Mundo, a evidência assumiu proporções mais consistentes a partir de 2001 (qual eram as verdadeiras razões do desmembramento da antiga Jugoslávia, dos ataques unilaterais ao Iraque e ao Afeganistão, nos aparecimentos de grupos aparentemente sem consistência, que se apelidam de Al Qaeda e mais tarde Exército Islâmico?).  

Quem dominava e actuava, em nome dos Estados Unidos, na realidade, não era o presidente X ou Y, sejam eles os democratas Kennedy, Carter ou Clinton, os republicanos Reagan, George Bush ou o filho George W.Bush, mas, desde os anos 60 um grupo restrito da grande burguesia capitalista financeira, que geria sem controlo Wall Street.

Eles nomeavam – e nomeiam - os Presidentes, senadores, congressistas, os chefes militares ou a cúpula da Justiça do seu país, e, começaram a impor, impunemente, os seus homens de mão, em Itália, Mario Monti e Mario Draghi, em França, primeiro Sarkozi, depois Hollande e o seu lacaio dos Negócios Estrangeiros, o judeu Laurent Fabius ou na Grécia Lucas Papademus.

Em síntese, desenvolveram, em conjunto, dois tipos de guerras, a económica e a militar, esta normalmente encoberta ou através de intermediários em, praticamente, em todo o planeta.

A situação a que chegamos hoje – embora com um aparente superpoderio militar norte-americano –demonstra que essa ascensão desenfreada de uma lumpen burguesia capitalista financeira não poderia continuar.

Podemos dizer que os EUA levaram a sua imposição violenta a quase todo o Mundo, mas tal facto trouxe também a reacção de uma grande parte dos povos e de Estados a esta asfixia.


Com a derrota da revolução soviética de 1917, e, posteriormente, com o desmascaramento progressivo do modelo de capitalismo de Estado, implantado em nome de um leninismo deturpador da teoria de Marx, formalizando um programa dito revolucionário em torno de uma pretensa aliança operária-camponesa – e sob os escombros, que levou décadas, da teoria stalinista da construção do «socialismo num só país», a burguesia capitalista liberal adquiriu uma nova força e poder que impulsionou uma nova estrutura económica e social de Estados.

Ou seja, a burguesia tornou-se dominante no planeta, porque, na ausência de um programa internacional revolucionário, o seu avanço nos grandes Estados – ou conjunto de Estados – torna o terreno fértil para a sua prosperidade e consolidação.

E foi este avanço nesses Estados, com o incremento do comércio, da indústria, do poder social da burguesia, que fez renascer um desejo e um sentimento de nacionalidade independente do poder único implantado nos EUA.

Criaram-se, deste modo, novas formas de cooperação geo-económica e geo-política para satisfações dos interesses dessa nova grande burguesia, fora da alçada do impropriamente apelidado Ocidente

A nova paisagem geopolítica que se desenrola, com uma rapidez desconcertante, neste última década, tem, a meu ver, no seu bojo, justamente a reacção de povos e principais nações ao seu desejo de independência e de serem eles próprios a marcarem o rumo da sua sociedade.

Todavia, essa independência e de procura de autosuficiência para enfrentarem os ataques e concorrência norte-americana levou-os por um lado a um esforço grande no seu desenvolvimento capitalista, por outro, a um incremento na sua militarização, ou seja a dedicarem uma parte substancial dos seus Orçamentos estatais na compra e na produção interna de criação de novas armas, como obsessão de Estado.

E, estão a fomentar, em crescendo, novos tipos de alianças comerciais, cambiais e castrenses em extensões nunca vistas até hoje.

Esta situação, a meu ver, está a tornar-se perigosa, porque os grandes Estados capitalistas estão a ser dominados pelo militarismo crescente.

6 -  Assim como o regime de Washington, com a crise de 2007, surgiu, na sua plenitude e desfaçatez, como um centro de poder do lumpen capital financeiro especulativo de Wall Street e procurou lançar os os seus tentáculos apodrecidos, mas musculados ainda de um certo poderio militar, no controlo e rapina das riquezas mundiais e nos dividendos espalhados pelos grandes bancos que ameaçavam bancarrota, mas que obrigaram os respectivos governos a subsidiá-los à custa dos impostos, salários e pensões das classes trabalhadoras;

Igualmente, a grande burguesia financeira que domina os outros grandes centros de poder, como a Rússia, a China, o Brasil, a África do Sul, utiliza, em grande parte, a sua capacidade produtiva e fomenta um sistema de parcerias estratégicas, que obstaculizou em parte(e planeia fazê-lo, em pleno, brevemente) os entraves cambiais, económicos, logísticos e mesmo militares que os Estados Unidos procuram (e procuraram) incrementar e impulsionar por todos os meios.

Esta concorrência desenfreada e, essencialmente, o facto de os Estados Unidos conduzirem uma «guerra» sem quartel, que leva os seus oponentes a embrenhar-se, perigosamente, numa crescente «armadura castrense», desprezando os interesses populares. 


Assim, os direitos e liberdades dos povos saltaram para as reivindicações políticas e sociais e fizeram renascer, no seguimento da devastação capitalista financeira, tentativas isoladas de fomentar partidos que, dentro do sistema capitalista, o reformasse.

O que sucedeu, recentemente, com a vitória do partido Syriza é o exemplo flagrante, como o é com o PODEMOS, em Espanha, Die Linke, na Alemanha, o Bloco de Esquerda ou PCP, em Portugal, entre outros.

Esse processo «reformista revolucionário» é inútil e utópico, somente faz reavivar falsas expectativas, deturpando o papel de um programa revolucionário.

Está a surgir, na realidade, uma corrente de pensamento e acção que aponta para o desejo de uma mudança da sociedade.

A grande burguesia capitalista tem a percepção de que uma nova luta de classes se está a forjar para fazer desaparecer o modelo societário actual, que não consegue «dar uma volta» ao seu próprio labirinto.

Mas, esta irrupção revolucionária, para ser consequente, quando vier dar a cara, somente irá adquirir os foros de cidadania se surgir sobre a forma de uma revolução, e quando assentar num programa e +praxis+ extraterritorial e fizer aumentar a mentalidade política de sectores importantes das classes trabalhadoras, através de propaganda, dentro e fora dos regimes actuais de eleições pseudo-democráticas.

E acima de tudo, com os centros de acção revolucionária nos países mais avançados e com uma tradição em larga escala de profundas lutas de classes. 

Uma acção concertada, extirpada da letargia e formalismo actuais das chamadas oposições balizadas em torno da chamada democracia.

O exemplo mais importante, para mim, seria a criação e fomento de um tal programa dentro da União Europeia.

É preciso meditar, do ponto de vista revolucionário – e não seguindo os cânones políticos actuais da UE – que a unidade europeia – e o avanço revolucionário no Mundo – não é uma questão alemã, ditada pelos seus actuais dirigentes, é uma questão que somente dará resultados para os explorados, se for conduzido por esses mesmos explorados expulsando a corja capitalista dos destinos europeus.

A revolução – e no caso em apreço – a verdadeira cooperação europeia terá de se conquistada não só contra os populares/democratas cristão/socialistas/sociais-democratas no interior da UE, mas também com a destruição do lumpen capitalismo financeiro, que emana, primeiro, dos Estados Unidos, mas também dos seus grandes Estados ou blocos de Estados concorrentes.

Esta, na minha opinião, será a verdadeira política prática, aquela que fará inverter o rumo actual que está a colocar a UE à beira da fragmentação, e, necessariamente, a caminhar para a guerra no interior do território em confronto com a Rússia.

Esta via da guerra é do interesse do capitalismo financeiro de Wall Street, que de uma cajadada dá cabo de dois coelhos: por um lado, procura enfraquecer uma grande potência concorrencial nuclear, que é a Rússia; por outro, desfazer o papel de grande potência comercial, que é a Europa unificada.  

Este reconhecimento e mudança de rumo está nas mãos dos povos da Europa. Espero que haja discernimento para transformar este caminho de desastre real actual, que também é histórico.