terça-feira, 28 de outubro de 2014

OS PAPAS CÙMPLICES DO NAZISMO VÂO PARA O CÉU


1 - O falecido Papa Paulo VI foi beatificado, no passado dia 19, no Vaticano, numa cerimónia pública da Igreja de Roma, depois de ter merecido a aprovação do actual Papa Francisco, cinco dias depois dos principais hierarcas da estrutura - cardeais e bispos -, apelidada Congregação para a Causa dos Santos, terem considerado como válido *um milagre* atribuido à intercessão do morto.

Paulo VI foi o nome titular do cargo que o hierarca da Igreja Católica Apostólica Roma adquiriu, quando os seus pares, os cardeais com direito a voto, o escolherem para exercer aquele cargo religioso, político e até militar, em 1963.

Na realidade, ele foi registado como Giovanni Battista Enrico Maria Montini. 

Pertenceu à chamada baixa nobreza italiana.

(Alguns dos títulos, normalmente os mais pomposos, que o chefe da Igreja Católica Romana utiliza foram retirados, em aproximação, essencialmente, dos titlónimos imperiais romanos: Sumo Pontífice (Pontifex Maximus), Soberano do Estado da Cidade Vaticano (Soperanus sui iuris civitatis vaticanae), embora este seja recente, pois foi criado com o Tratado de Latrão em 1929, Sucessor do Principe dos Apóstolos (Successor principis apostolorum), outros adaptados às funções enquadradas ao longos dos séculos, quando a primazia do catolicismo ganhou essencialmente um lugar proeminente na Europa medieval e renascentista como Bispo de Roma, (Episcopus Romanus), Vigário de Jesus cristo (Vicarius Jesu Christi), Primaz da Itália (Primatus Italiae), Arcebispo Metropolitano da Província Romana (Archiepiscopus metropolitanus provinciae romanae) e Servo dos Servos de Deus (servus servorum Dei). Retirados do Anuário do Vaticano de 2009.

O processo de beatificação foi iniciado em Maio de 1993, e, a demora, no interior da Cúria Papal, para chegar a esse reconhecimento deve-se, essencialmente, à controvérsia que o seu passado pró-nazi provocou entre alguns dos apologistas mores do catolicismo.

(No ritual católico oficial romano, essa beatificação é o reconhecimento que aquela instituição religiosa atribui ao Papa morto - faleceu em 1978 - como estando no paraíso, em estado de beatitude e pode interceder por aquele que lhe recorrem em oração. 

É, pois, em termos mais simples, um venerável espiritual. 

Ridículo, em termos de racionalidade, mas as mentalidades tradicionais são o elo fraco de qualquer avanço civilizacional.

A canonização implica, nesse ritual, o reconhecimento que a personagem se tornou *santo* e adquire este estatuto com alcance universal para os correligionários da confissão religiosa).

2 - O Papa Paulo VI, agora beatificado, foi o promotor da beatificação do seu antecessor Pio XII, este o artífice principal católico da ascensão de Hitler, primeiro dentro do regime de Weimar, depois na sua consolidação desde que assumiu o poder, em 1933, e, posteriormente, na "lavagem" política da acção nazi em toda a Europa. 

Ambos estiveram, intimamente, ligados a dois delitos monstruosos mundiais

a) a cumplicidade e apoio ao incremento do nazi-fascismo na Europa e no Mundo, bem como ao encobrimento organizado, planeado e direccionado ideologicamente da fuga de alguns dos principais responsáveis criminosos dos regimes nazis, implantados na Alemanha, Áustria, Hungria, Croácia, Roménia, Checoslováquia, e fascista, como Itália, Grécia e Albânia.

b) à criação e expansão moderna do sistema bancário do Vaticano, que institucionalizou a lavagem de dinheiro, o enquadramento do dinheiro da droga, o apoio às ditaduras fascistas que permaneceram na Europa e na América Latina.

Mas, a questão a abordar, neste caso, é o papel desempenhado pelo beatificado, Paulo VI/Montini, enquanto hierarca e Sumo Pontífice da Igreja Católica Romana.

Paulo VI, como sacerdote, bispo e arcebispo, foi o mais próximo e influente dirigente da Igreja Católica sobre a governação de Pio XII.

Os actos deles são factuais. 

Os argumentos dos apologistas da Cúria Papal para justificar o injustificável são imensos, e, principalmente para denegrir investigações, mesmo de homens seguidores da Igreja Católica, mas que descobrem a sinistra actividade da Santa Sé.

Uma realidade indesmentível: relação continuada e em plena sintonia entre os dois grandes Estados nazi-fascistas - primeiro, Itália e, depois, a Alemanha, que fomentaram o caminho de implantação daqueles regimes capitalistas assassinos e a Cúria papal romana, prosseguindo, exactamente, os mesmo objectivos a acumulação de Capital e a sua disseminação pelo planeta. Desde os Estados Unidos à Rússia, passando pela China de hoje. 

Os regimes fascistas e nazis, respectivamente, italiano monárquico mussoliano e alemão hitleriano - mesmo os que não entraram, directamente, na guerra, como os europeus Portugal de Salazar e Espanha, primeiro de Primo de Rivera, depois Franco, ou americanos, Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai, entre outros - não o conseguiram, mas o Vaticano ocupou, em termos económicos, o seu *espaço*.

Eugénio Pacelli e Giovanni Montini estiveram, directamente, implicados nesses crimes, que foram a consolidação e alastramento de regimes mais desclassificados, monstruosos, a troco de dinheiro roubado aos contribuintes, em nome da religião e da sua expansão como mercadores lumpen-capitalistas do pior que existe. Ate hoje.

A Igreja Católica somente teve poder quando se interligou com o poder ditatorial, recebendo os os grossos dividendos monetários e patrimoniais, ao longo da sua existência desde o Império romano, nos seus inícios, até aos tempos actuais, na sua "parceria estratégica" com a Wall Street nova-iorquina e a City londrina.

O Papado romano ficou de tanga, no século XIX, com a perda dos Estados Papais e a unificação italiana. 

Sem dinheiro para viver nos luxos e na agiotagem, a Igreja Católica viu a sua tábua de salvação no apoio aos Estados nazi-fascistas contra os regimes republicanos nascentes que surgiam na Europa, e lhe era adversos, que lhes limitavam a capacidade manter o estatuto de religião de Estado, com todas as benesses e regalias em valor e poderio, real, económico, político e social.

Desde 1922, altura em que o partido fascista de Benito Mussolini ascendeu ao poder político em Itália, com a conivência do rei, Vítor Emanuel II, começou "um namoro" correspondido com a Igreja Católica, cujo Sumo Pontífice se acantonara num edifício chamado Castel Gandolfo.

Recebia, então, já ajuda económica do Estado fascista de Roma. 

A Cúria papal apoiava, claro, sempre, com o seu encobrimento aterrador, mas melífluo, sinuoso como as cobras.

As relações políticas e ideológicas aproximavam, rapidamente, as elites dirigentes do Estado e da Igreja de Roma.

Entabularam-se negociações, prolongadas. 

Mussolini conseguiu que o Papado mandasse dissolver o Partido Popular (Católico), dirigido, directamente, por um hierarca daquela confissão religiosa, monsenhor Luigi Sturzo, que aceitou de bom grado.

Três anos de reuniões e muitos rascunhos de um tratado, foi finalmente assinado, em 1929, o "Patti Lateranensi", uma concordata que transforma o catolicismo em religião de Estado. 

O regime fascista controlou toda a estrutura política e social da Igreja Católica em Itália, em troca da constituição de uma Cidade-Estado para o Vaticano, que, por seu lado, aceitava o reino e a sua acção, organizado por Mussolini, encimado por um soberano Vítor Emanuel II.

Mas o Vaticano conseguiu o essencial: uma imensa fortuna e a imunidade política e económica para a sua corte.

O Papado recebeu uma fortuna, entregue de bandeja como indemnização, de 92 milhões de dólares, que devem constituir hoje mais de mil milhões de dólares, e, um número elevado de edifícios por toda a capital italiana.

O Papa era Pio XI, mas o seu "guia" chamava-se Eugénio Pacelli, secretário de Estado, cujo negociador principal com Mussolini se chamava Francesco Pacelli, e era seu irmão.

Um dos homens mais importantes dessa Secretaria de Estado chamava-se Giovanni Montini, que ali se instalara desde 1922 até 1954.

Pio XI apelida Mussolini de o *homem enviado pela Divina providência", e, em 1932, condecora o monstro assassino com o mais alto galardão do Vaticano a "Ordem da Espora de Ouro".



Os assinantes do Tratado de Latrão

Giovanni Montini ainda vai estar mais activo, com o regime nazi hitleriano, nas negociações, encobrimentos, cumplicidades e trapaças, em que o dinheiro e o ouro roubados aos martirizados pelo poder nacional-socialista, foi parar, em parte, aos cofres da Santa Sé.

O Partido de Hitler ascende ao poder em 1933, pelas mãos do falecido Presidente Hindeburgo, e com o aconselhamento de um antigo chanceler, von Papen, um dos mentores do partido católico Zentrum (Zentrumpartei), liderado pelo padre Ludwig Kaas, e que será vice-chanceler e embaixador do *fuhrer* do III Reich.

Hitler e von Papen

O processo de tomada do poder de Hitler passa, na sua fase inicial, pela via formal de cumprimento das leis da República de Weimar, ou seja, o parlamento institucional.

Claro que, ao mesmo tempo, actuava, na sombra, com todo o gangsterismo capitalista internacional. Queima o Reichstag (o parlamento) e culpa os comunistas. 

Leva Hindenburg a decretar o "estado de sítio". 

Prende os deputados comunistas, e, em seguida os sociais democratas. 

Depois uma purga sangrenta de judeus remediados e pobres, pois os ricaços capitalistas pagaram e bem a *sua* liberdade, incluindo subornando Adolf Eichmann.

Lança os campos de concentração, executa os adversários, primeiro, políticos, depois inclusive, religiosos e, barbaridade das barbaridades, por motivos pseudo-raciais.


O Papado esteve sempre a par. 

Deu-lhe cobertura. Estimulou-os, apoiando o regime nazi instalado.

Mas, façamos referência aos passos, concretos, reais, dessa cumplicidade e conivência e mesmo benção.

Para passar do *estado de sítio* e conseguir os *plenos poderes* (Ermächtigungsgesetz), Hitler necessitava de dois terços dos votos parlamentares - com os comunistas, excluídos, e os sociais democratas a votar contra -, eles vieram do Zentrunpartie, - friso, o líder daquele partido era um hierarca católico monsenhor Ludwig Kass -, e, finalmente a assinatura do Presidente Paul von Hindenburg, um velho marechal no final da vida.

Com este último acto constitucional, o partido nazi começou a governar, abolindo as liberdades ditas democráticas e desarticulando o Parlamento.

Transferindo, simultaneamente, para o governo do Reich toda a máquina de poder. 

Foi, deste modo, constitucionalmente, que a Igreja Católica deu, com toda a naturalidade, a liberdade de instaurar a ditadura.

Na realidade, teria de haver recompensa dentro da parceria: O papado aceita a dissolução do Zentrumpartei, a 5 de Julho de 1933, e a institucionalização estatal ditatorial, mas as duas partes, a Santa Sé e o NSDAP, negociam uma Concordata, à semelhança do partido fascista italiano.

Do lado alemão, a assinatura formal fica encarregue do vice-chanceler Van Pappen e de monsenhor Ludwig Kass, pelo Vaticano, o selo é firmado pelo cardeal Eugénio Pacelli, secretário de Estado de Pio XI, que inclui ainda assinatura do bispo Montini, então adjunto na mesma secretaria de Estado, entre outros. 

Ambos serão papas.

A fotografia regista o momento:




3 - Giovanni Montini não era um qualquer responsável da Cúria Papal, tornara-se confidente do cardeal Pacelli, que vai ser Papa Pio XII, em 1939, e já em plena guerra, secretário de Estado adjunto, responsável pelos assuntos extraordinários da Santa Sé.

Mas significava mais: era um negociador, quase plenipotenciário, representante do Sumo Pontífice, entre os nazis e os Estados ocidentais, nomeadamente com os EUA e a América Latina pró-fascista.

Foi, além disso, um responsável e reorganizador dos Serviços Secretos do Vaticano, a Santa Aliança, que, após a guerra supervisionou uma fuga maciça de criminosos de guerra - alemães, italianos, croatas, húngaros, austríacos, romenos, búlgaros, letões, estónios, ucranianos e lituanos, para as Américas e mesmo para o Médio-Oriente, nomeadamente, o Egipto e a Síria.



Pacelli com o ditador fascista brasileiro Getúlio Vargas

Os apologistas e defensores da Santa Sé utilizam argumentos venais e usados: a Igreja Católica teria agido, tal como a Cruz Vermelha, completamente submersa pelos fluxos massivos de refugiados, sobre os quais não teria podido efectuar senão inquéritos sumários, habilmente torneados pelos antigos dignitários nazis.

Velhos remendos de cúmplices metidos na lama até ao pescoço.

A Santa Sé estava a par de todo o fluxo de criminosos nazis e fascistas que fugiram à justiça, para Portugal, Espanha, EUA, Médio-Oriente, Austrália, e, principalmente América Latina, com a sua organização, ajuda e a colocação de meios. 

Um dos colaboradores mais próximos nessa missão de Montini era o bispo croata nazi Alois Hudal.


Alois Hudal

Josep Mengele


Adolf Eichmann

Estes dois "desconhecidos" nazis foram levadas para a América Latina pela *caridosa* acção da Igreja Católica

A descrição factual e largamente expandida pode ser procurada nos livros que cito mais abaixo.

O Papa era Pio XII e o seu braço direito Giovanni Montini.

O Estado Papal deu a sua benção à construição e reorganização da Alemanha Ocidental, onde foi colocado, como primeiro chanceler, em 1949, um antigo dirigente do zentrumpartei, aparentemente menos conotado com a cumplicidade hitleriana, de nome Konrad Adenauer, mas sabia que o seu braço direito o ideólogo nazi Hans Globke, se transformou no chefe de gabinete e conselheiro de segurança nacional da chancelaria germânica.

Mudou, estrategicamente, o nome do partido, cúmplice do nazismo, para CDU, Partido Cristão Democrata, com um ramo bávaro pró-nazi, chamado CSU (União Social-Cristã da Baviera).

Como sabia que o criador dos Serviços Secretos (BND) da nova Alemanha Ocidental era um general hitleriano chamado Reinhart Gehlen. 

4 - O então arcebispo católico de Milão Giovanni Montini (nomeado para aquele cargo pelo Papa Pio XII, em 1954) está intimamente ligado à transformação do Banco Ambrosiano, com sede naquela cidade, e superintência do hierarca máximo daquela arquidiocese, numa das principais instituições bancárias privadas de Itália.

Desde 1960, o banco expande-se internacionalmente. Na sua estrutura de direcção já está Robert Calvi, um homem de confiança de Giovanni Montini.

Em 1963, ano que Montini, já cardeal, se torna Paulo VI, eleito pelos seus pares, o Ambrosiano monta uma holding no Luxemburgo.

Ao leme do Ambrosiano, nesta altura está um "montiniano" chamado Carlo Canesi, seu Presidente efectivo em 1965.

Paulo VI já está instalado no Vaticano e o Istituto per la Opere de la Religione (IOR) era parceiro privilegiado e maioritário accionista na actividade do Ambrosiano.


Paulo VI sauda Calvi

Em 1971, o irmão maçon da Loja Propaganda Due (P-2) assume a Presidência do grande banco católico de Milão, o papa Paulo VI nomeia um mafioso da Cosa Nostra e *investidor* do Papa nos negócios nebulosos e tenebrosos dos Estados Unidos, de nome Michele Sindona, como conselheiro financeiro do Vaticano e membro do Conselho de Administração do IOR.

Calvi cria uma rede tentacular, com o apoio do nazi Licio Gelli, grão-mestre da P-2, de companhias-fantasmas, movimentadas através de off-shores, onde se fazem lavagens de dinheiro, especulações bolsistas, financiamento de guerras, comércio de armas. 

No IOR, já pontifica um arcebispo norte-americano, de nome Paul Marcinkus, que se tornara um braço direito e guarda-costas do Papa Montini.

Em 1978, ano da morte de Giovanni Montini, o Banco de Itália elabora um relatório a admitir profundas irregulares no funcionamento do Ambrosiano - e por tabela no próprio IOR.

Iniciam-se investigações judiciais e policiais que vão desembocar, em 1981, na invasão por parte da polícia da sede da P-2 e da prisão de Licio Gelli.

Começam a tornar-se públicos os desvios de dinheiros, a associação directa entre a Máfia e o Ambrosiano e o IOR, os financiamentos ilegais ao principais partidos italianos, incluindo a Democracia Cristã (DC), o Partido Socialista (PSI), e o Partido Comunista (PCI).

Em 1982, é divulgado que o Ambrosiano está na bancarrota e é declarado a sua falência. 

O IOR assume os prejuízos e Robert Calvi é assassinado em Londres, numa encenação em que aparece enforcado na ponte Blackfriars.

Para consultar:

- Manhattan, Avro, The Vatican Holocaust

- Manhattan Avro, The Vatican in Worl Politics, 1949 (em inglês e castelhano)

- Goñi, Uki, La auténtica Odessa. La fuga nazi a la Argentina de Perón, Paidós, Barcelona, 2002. 

 - Aarons, Mark e Loftus, John, Ratlines, William Heinemann, Londres, 1991

 - Frattinni, Erc - A Santa Aliança (edição portuguesa)






























sexta-feira, 17 de outubro de 2014

NEGÓCIO DA DROGA: UM MERCADO DE UTILIDADE PÚBLICA PARA O CAPITAL


1 - Há cerca de 15 dias, cerca de 50 estudantes de uma Escola Superior de formação de professores do ensino primário do México - denominados, no país, por normalistas - foram assassinados, por uma acção conjunta, das autoridades municipais, policiais e um "gangue" de narcotraficantes, na região da cidade de Iguala, no Estado de Guerrero.



(O México é uma República federal, constituída por 32 estruturas federativas, sendo que 31 se apelidam de Estado e uma de distrito federal, que enquadra a capital: Ciudad de Mexico, com os arredores e localidades próximas, com mais de 30 milhões de pessoas. A cidade mais povoada do Estado de Guerrero é Acapulco (mais de 800 mil), sendo que Iguala tem uma população de cerca de 130 mil habitantes.).

A razão deste massacre está centrado numa represália por aqueles estudantes se organizarem para combater, justamente, a íntima ligação entre as autoridades e os gangues de narcotraficantes, que comandam a política local e nacional.

Segundo o relato da imprensa, e eu estou a fazer referência à edição mexicana do jornal madrileno El País, os estudantes, desde a sua entrada em Iguala, "foram seguidos por carrinhas de pistoleiros, que deram apoio armados aos policiais, quando após um conflito de protesto no decorrer de um evento onde estava a mulher do Presidente da Câmara".

E, após entrarem em três autocarros, começou um tiroteio indiscriminado contra os veículos onde se encontravam os jovens.

Foram detidos pela Polícia Municipal, e - assinala o jornal - "os normalistas foram transferidos para o pátio do quartel-general policial, e, lá, entregues ao crime organizado. Qual era o seu delito: terem desafiado o poder do narcotráfico. Um a um eles foram abatidos no lugarejo desabitado de Pueblo Viejo. Tinham entre 18 e 23 anos. Os corpos foram empilhados. Os pistoleiros atearam um fogo bárbaro com galhos, troncos e petróleo. Algumas das vítimas foram mutiladas antes de serem executadas. A ordem de raptar os normalistas partiu do chefe da polícia, Francisco Salgado Valladares, e de morte partiu de um *capo* apelidado El Chuky. 

As duas faces da mesma moeda".

A terceira face é o Presidente da Câmara, homem de mão do gangue.

Refere o jornal que uma parte dos polícias de Iguala está organizado no gangue "Guerreros Unidos".

Na reportagem, o El País sublinha ainda: "os dois suspeitos principais (os principais mentores.NM), o Presidente da Câmara, José Luís Abarca e o seu chefe de segurança, fugiram com facilidade espantosa".

Teoricamente, estão dados como desaparecidos.


manifestações contra o governo

2 - Em 1996, como jornalista profissional, acompanhei o primeiro-ministro português de então António Guterres durante uma visita oficial à América Latina, que começou no México e depois prosseguiu no Chile para reportar a VI Cimeira Ibero-Americana, que se efectuou em Santiago e Viña del Mar, onde esteve presente, também, o chefe de Estado português em exercício Jorge Sampaio.

Nessa visita ao México era interlocutor de Guterres o Presidente da República Ernesto Zedillo Ponce Léon,  já que a chefia do governo local era atribuição do Chefe de Estado.

As conversações decorreram no Palácio Nacional, situado no Zócalo, como é conhecido na cidade, cuja denominação oficial é Praça da Constituição - fazendo parte do centro histórico da capital mexicana. 

Ergue-se no local onde ficava situado o palácio imperial azteca de Montezuma II, que foi transformado pelo conquistador colonial espanhol Hernán Cortez.

Tem uma particularidade: toda a parede ao lado das escadas em caracol desde a entrada até à sede do executivo está repleto de magníficos frescos do pintor Diego Rivera.





Frescos de Rivera na escadaria do Palácio


Zedillo fez questão de mostrar a Guterres - e naturalmente aos jornalistas que faziam a cobertura - algum do espólio da Revolução mexicana, que instituiu a República, nomeadamente a espada de Emiliano Zapata.

Mas vamos ao que realmente interessa.

Na cobertura deste evento, estavam vários jornalistas mexicanos. 

Nestas ocasiões, trocavam-se palavras de circunstâcia entre profissionais. 

Como as reuniões demoraram um certo tempo, um dos jornalistas mexicanos atirou-me uma frase, meio sussurrada, que me ficou na memória: "Aqui (no palácio presidencial) está o centro dirigente do narcotráfico". 

Não respondi, nem liguei muito, porque, por experiência, sabia que havia de ter cautelas sobre as mensagens que nos queriam dar. 

Ao ler nesse dia, alguma imprensa diária da capital, verifiquei, no entanto, que algo poderia ser verdade, já que existia polémica com a prisão, meses antes, do irmão do anterior Presidente Carlos Salinas de Gortari de nome Raul por tráfico de influências, evasão fiscal, ligação ao narcotráfico e autoria moral do assassinato de um um político destacado chamado Ruiz Massieu.

Este investigava o homicídio do candidato Luís Donaldo Colosio, designado pelo Partido no poder há 70 anos, o PRI, a que pertencia Salinas, à  sua sucessão, e não era do seu agrado.

Ora, o escolhido, após a morte de Donaldo Colosio, foi um burocrata desconhecido, membro do gabinete presidencial de Carlos Salinas, chamado Ernesto Zedillo.

(A eleição de Carlos Salinas foi muito contestada, já que nos primeiros resultados saídos após o acto eleitoral referiam que o candidato oposicionista Cuauthtémoc Cárdenas Solórzano levava uma grande vantagem. 

De repente, foi provocada uma interrupção na contagem e quando, oficialmente, foi divulgado o vencedor surgiu Salinas à frente com mais de 20% do que o opositor).

De registar, que quer Salinas, quer Zedillo se licenciaram nos Estados Unidos - o primeiro em Harvad, o segundo em Yale - ambos com bolsas de estudo.

Já com Zedillo no poder, uma investigação judicial veio a implicar Carlos Salinas na "compra de votos", tráfico de influências, e, na eventual ligação aos cartéis da droga.

O antigo presidente saiu do país e exilou-se (acusou Zedillo de vingança), primeiro nos Estados Unidos, depois em Cuba e em seguida no Canadá, para fixar-se na Irlanda, onde não havia tratado de extradição entre os dois países e o Estado europeu considerado já na altura um território de "paraísos fiscais" oficiais.

//Salinas foi um homem de mão - tal como Zedillo - dos EUA, pois acordou, em 1994, com aquele país o Tratado de Livre Comércio da América do Norte (NAFTA), que, praticamente, colocou o México na dependência do capital financeiro norte-americano.

Foi ainda Salinas quem privatizou a principal empresa telefónica do país, a Telmex, que entregou a um então obscuro empresário chamado Carlos Slim, hoje um dos homens mais ricos do mundo, privatização que envolveu a banca, os seguros, as empresas de aviação, os grandes meios de comunicação social, entre outras firmas de importância estratégica para o pais//

Mas a observação do jornalista naquele dia no Palácio mais me avivou a memória mais tarde, quando surgiu na imprensa internacional em 1997 que o então número dois das Forças Armadas mexicanas o general de divisão Jesús Gutiérrz Rebollo, que fora indigitado por Zedillo para dirigir a principal força repressora do tráfico de estupefacientes, o Instituto Nacional para o Combate das Drogas (INCD), era o principal protector do principal narcotraficante mexicano Amado Carrilo Funtes, apelidado como "O senhor dos Céus", que dirigia o cartel de Juárez.

A imprensa do regime, inclusive a norte-americana, incensara o general Gutiérrez como "absolutamente honesto e incorruptível", pois contribuira para o combate "sem freio" ao narcotráfico. 

Antes de assumir o cargo no INCD, que só durou 72 dias, o general comandou, durante sete anos, a poderosa XV Região Militar, com sede em Guadalajara, capital do Estado de Jalisco, que enquadrava aquele, e ainda os Estados de Zacatecas, Colima, Sinaloa e Aguascalientes. 

Jalisco e Sinaloa eram considerados, na altura, os principais centros, onde reinavam "os capos" da droga. 

Normalmente, segundo noticiou então a imprensa mexicana, o período de comando das regiões militares era de dois anos, mas o general Jesus Gutiérrez, ali se manteve de 1989 até 1997 - atravessou o mandato de Carlos Salinas, continuou com Ernesto Zedillo, viu passar um ministro da Defesa, estiveram três governadores em Jalisco, todos os outros comandos castrenses sofreram rotações. 

Ele ficou com uma folha de serviço que registava a prisão de "El Guero Palma, dos chefes de gangue mais procurados no país (1995), do colombiano Ivan Taborda (Maio de 1996), dos irmãos Lupercio Serratos, em Aguacalientes, em Agosto de 1996, todos chefões de bandos rivais do cartel de Juárez.

Foi considerado o *herói nacional* do combate ao tráfico, apadrinhado pelos Estados Unidos América, tendo inclusive o embaixador norte-americano de então na Ciudad de Mexico James Jones lhe dado um louvor público.

O general Jesus Gutiérrez era, ainda, o interlocutor, para o combate à droga, da CIA e da DEA norte-americanas.

Mas o general já estava a ser investigado, pois em Dezembro de 1996 foi viver num palacete, transacionado em seu nome, que pertencera a Eduardo González Quirante, que os agentes de investigação admitiam ser o lugar-tenente de Amado Carrillo. 

Vivia, há muito, à grande e a francesa. 

Segundo a imprensa mexicana, o alto responsável da investigação revelou, depois de o general ter sido detido, que havia gravações de Gutiérrez Rebollo em troca de impressões com Amado Carrilo, onde discutiam a entrega dos subornos para ser dada protecção ao cartel.

O general Gutiérrez foi detido em condições um pouco rocambolescas.

(Convém referir que Amado Carrillo se escapuliu com toda a naturalidade).

A 6 de Fevereiro de 1997, o director do INCD, quando já se encontrava na cama a dormir, foi mandado comparecer, de urgência, no gabinete do Ministro da Defesa general Enrique Cervantes.

Ali um grupo de quatro generais do Estado-Maior, juntamente com o Ministro do ramo, determinou a detenção de Gutiérrez, mas no mais absoluto segredo, que Cervantes manteve durante 13 dias.

Nunca se soube realmente o que sucedeu nesse intervalo.

De repente, a 18 desse mês, o general Cervantes convocou uma inesperada conferência de Imprensa no seu Ministério, em que aquele apareceu rodeado de toda a estrutura superior das Forças Armadas - quase 300 oficiais-generais e oficiais superiores, incluindo os comandantes de 31 regiões militares.

O aparato do general Cervantes bisou considerar que o seu par, Gutiérrez, era o único envolvido na "protecção" aos cartéis de droga, e, especialmente ao de Juaréz, actuando deste modo como *um traidor* à instituição castrense e praticado um *atentado contra a segurança nacional*.

Cervantes engendrou, deste modo, a trama: o general Gutiérrez actuava fora do controlo militar, contratava *desertores* das Forças Armadas, que agiam, sob a direcção do detido, como Exército próprio, tendo como principal colaborador um seu parente, um capitão, de nome Horácio Montenegro, que liderava os serviços secretos da V Região Militar e que o acompanhou quando ascendeu ao cargo dirigente do INCD.

Os EUA, que estavam em conciliábulo dito "anti-droga" com o general Gutiérrez, através da DEA e da CIA, começaram a fazer constar que foi a primeira instituição a dar a conhecer às autoridades mexicanas o envolvimento do director do INCD no apoio ao cartel de Juarez.

Piedosa e cinicamente, o Presidente do EUA, na altura Bill Clinton e a secretária de Estado Madeleine Albrigth, fizeram declarações sonoras de repúdio, distanciando-se da anterior fraternidade colaborante do general.

A versão norte-americana foi desmentida pela parte mexicana.

Aproveitando aquela "descoberta", a  imprensa local iniciou uma campanha de denúncias sob a penetração constante do narcotráfico nas estruturas estatais mexicanas, apontando a presença de narcopolíticos - representantes políticos dos cartéis - e mesmo *capos* da droga em cargos, desde os mandatos de Miguel de la Madrid e Carlos Salinas, que persistiam no de Ernesto Zedillo.

E apontava o dedo: são altos responsáveis militares a ocupar funções não castrenses, cargos que eram até ocupados por civis; as Forças Armadas, em especial o Exército, veio a deter o controlo da luta contra a droga; a estrutura militar tinha no Congresso seis deputados e senadores (todos do PRI), e o ministro da Defesa surgia sempre ao lado do Chefe de Estado, em todos os grandes actos oficiais.

Todas as forças policiais passaram a estar sob o controlo da instituição castrense.

Esta pressão levou a continuar a investigação, obrigando o Ministério da Defesa a enviar o processo do general Gutiérrez para a magistratura civil.

Assim na segunda metade de Março de 1997, a Procuradoria-Geral da República e da Defesa (PGR) anunciava a detenção de um outro oficial-general, o general de brigada Alfredo Navaro Lara, que estava ligado ao cartel rival de Carrillo, o de Arellano Félix.

E segundo a acusação, procurava subornar também o general José Luis Chávez, o representante da PGR para o Estado da Baja Califórnia.

Navarro era, há sete anos, o responsável dos serviços secretos da II Região Militar em Tijuana, o principal centro de contrabando de droga para os Estados Unidos. 

Um mês depois, os * lobos* começaram a sair da toca: mais três generais são detidos, sugerindo a investigação que um deles era o elo de ligação entre Amado Carrillo e Gutiérrez Rebollo.

A imprensa noticiou, então, que havia um "cartel de militares" no México.

Dias depois, perante o incremento das investigações, o Ministro da Defesa chamou à sede do Ministério todos os comandante das regiões militares.

Assim começou uma "limpeza" antecipada, antes de prisão, de várias dezenas de oficiais-generais e de um número não revelado de oficiais superiores.

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Ernesto Zedillo e o general Cervantes, sempre juntos

Mas a imprensa foi rebuscar ligações, não só a ligação a barões da droga, mas a políticos: divulgaram na ocasião que o Estado de Jalisco, onde o general Gutiérrez foi o verdadeiro *manda-chuva*, era um "terreno político" de excelência da actividade da família Garcia Paniagua, dos quais Javier Garcia Paniagua fora, anteriormente, o Presidente do PRI.

O próprio Ministro da Defesa de Zedillo, Cervantes,  tinha sido chefe de gabinete do seu antecessor general Garcia Barragán, ligado, por laços familiares a Paniagua. 

O seu irmão coronel foi, formalmente, constituído arguido.

Cinco meses depois, os próprios Serviços Militares foram obrigados a divulgar que 34 comandantes militares e oficiais estavam directamente ligados ao narcotráfico.

Soube-se nesta ocasião, a fonte é jornal semanário Proceso, que o Ministério da Defesa - e logicamente a Chefia do Estado - estava a para das ligações, há anos, dos chefes militares ao narcotráfico.

Revelaram-se então documentos classificados de secretos: um deles que citava um tal informador Pedro (que se descobriu ser o próprio Amado Carrillo) que dava conta de *uma reunião - onde ele estava presente - com o senhor Paul Bradley de EMBA USA e o secretário pessoal de essa superioridade (general Tomás Angeles Dahuhare, o braço direito do Ministro da Defesa), para coordenar a realização de operações técnicas, analisando-se a possibilidade do emprego de satélite, aviões modernos FLIRO Schwizer à luz de um plano da área adstrita ao domicílio de Pedro, que inclui a escolas dos filhos, determinando-se a dificuldade para empregar qualquer desse meios".

Refere ainda a mensagem do informador chefe do cartel que "um especialista da EMBA USA com dois elementos do CIAN efectuaram reconhecimentos, concluindo que se teria de estabelecer vigilância técnica, com equipamento fotográfico e electrónico, desde um lugar próximo do domicílio do branco".

Curiosa é a transcrição de um interrogatório - com data de 6 de Março de 1997 - a uma alta autoridade militar, apenas citada como "X", que trata por tu quem lhe está a fazer o interrogatório - os investigadores assinalaram nos autos, mais tarde ser o general Guttiérrez Rebollo: "reuniram-se na casa de Javier Garcia Paniagua (ex-Presidente do PRI), o seu filho Javier Garcia Morales, tu (o general), Acosta Chaparro (general) e Amado Carrillo Fuentes".

O documento da estrutura secreta castense - S-2 - acrescenta que Garcia Morales disse a *X* que Amado Carrilo dava somas de dinheiro a Gutiérrez Rebollo e Acosta Chaparro em troca de *protecção*. 

E prosseguiu: " *O senhor dos Céus* está relacionado com o governador de Morelos, general Jorge Castillo Olea e com os governadores de Yucatán, Quintana Roo, Sonora, Campeche e Chihuahua".

Muitos outros responsáveis pllíticos, militares, judiciais foram citados - uns quantos foram afastados, outros permaneceram nos cargos.

Zedillo permaneceu no cargo presidencial até 2000, correndo já rumores da sua ligação ao narcotráfico.

Mas somente após a sua saída é que, abertamente, foi considerado como um dos responsáveis políticos da existência daqueles.

Zedillo está hoje sob a protecção dos EUA, que lhe deu imunidade, e isto porque a 22 de Dezembro de 1997, foi praticado um massacre - a Matança de Acteal - na localidade daquele nome, na autarquia de Chenalhó, na região de Los Altos de Chiapas por um grupo de paramilitares.

Foram mortas 45 pessoas, incluindo crianças e grávidas, que se encontravam numa igreja a assistir a uma missa.

Eram índios tzotziles, enquadrados por uma organização chamada "Las Abejas". Opunham-se aos desmandos das autoridades locais.


funeral em Chiapas

Verificou-se, após prolongada investigação, que os paramilitares actuaram sob a autoridade do Exército, que, por seu turno, recebia ordens para actuar dos principais responsáveis de Estado.

Em 2011, foi colocada uma acção judicial contra Ernesto Zedillo, como último mandante.

O processo ainda hoje decorre.

Os EUA prontamente o socorreram.

Actualmente é o director do Centro para o Estudo da Globalização da Universidade de Yale e, cinismo dos cinismo, trabalha para as Nações Unidas em programas ditos de apoio aos países subdesenvolvidos.

É igualmente membro dirigente do grupo espanhol PRISA, proprietário do jornal El País, desde 27 de Novembro de 2010.

(Notícia de Agosto de 2014. O grupo espanhol Prisa, que detém a quase totalidade do grupo de media português Media Capital, dono da TVI e da Rádio Comercial, entre outras, alienou 16% do seu capital a três credores. 

Na sequência deste movimento de conversão de dívida em capital, Telefónica, Santander e Caixabank são os novos accionistas do grupo espanhol da comunicação social, ficando com, respectivamente, 5,29%, 5,38% e 5,34% do capital. Há uma semana, o banco norte- americano Morgan Stanley ficou também com 4,7% da Prisa e o empresário mexicano Roberto Alcántara - este está ligado por relações familiares a um dos barões políticos mexicanos, José Murat,  antigo governador do Estado de Oaxaca - investiu num aumento de capital do grupo em 100 milhões de euros, que lhe garante 9,3% do capital e a posição de segundo maior acionista, a seguir à sociedade Rucandio, da família Polanco, o principal accionista com 12,4%).

Mas Zedillo tem mais ligações aos EUA: depois de abandonar o cargo presidencial foi, de imediato, para administrador de várias empresas, nomeadamente a Procter and Gamble, Alcoa e Union Pacific, esta última que controla a companhia Ferromex (a antiga Ferrocarriles Nacionales de México, privatizados por sua autorização).

3 - O mercado das drogas ilícitas é um negócio tornado lícito pelo capital financeiro internacional, sediado em Wall Street e no Estado Papal, defendido, claro que encobertamente, como essencial para manter o poder dos grandes Estados da actualidade.

O que se passa no México é o exemplo gritante, mas mais gritante é o que sucede com os Estados Unidos da América que utiliza as Forças Armadas, a CIA e a DEA para controlar o negócio desde a antiga Indochina ao Afeganistão, passando pela Turquia, Albânia e Kosovo.

Claro que a China e a Rússia, igualmente, também, são metidos no negócio, mas o poder do seu sistema bancário não se compara ao papel desempenhado pelos chamados "grandes bancos ocidentais".

Só não vê quem não quer!!!

De acordo com o Centro Anti-Droga e Anti- Crime da ONU (ONUDC) e o FMI, são lavados, anualmente, mais de 600 milhões do crime organizado em todo o mundo e *isto com conhecimento do sistema bancário legal*.

Para a ONUDC, o tráfico ilegal de drogas é o segundo em movimento de capitais do mundo, depois do petróleo, *pelos lucros extraordinários que acumula*.

O ONUDC estima que, na actualidade, esse tráfico gera uma receita entre 320 mil milhões a 700 mil milhões de dólares*, que, segundo fontes ligadas a investigações, pode gerar uma receita real superior a 3,5 bilhões de dólares.

Refere a ONU que "apenas 20 dos maiores bancos do mundo fazem 75% das transacções financeiras dos Estados Unidos, França e Inglaterra*. 

Frisando que a lavagem do dinheiro da droga passa exactamente pelo grande sistema bancário ocidental.






A ONU não cita os bancos, mas o seu estatuto pode ser buscado, rapidamente, aos relatórios que fazem as triagens, como a *Global Banking 500", edição 2014, que coloca a Wells Fargo, com o maior valor de marca do mundo este ano.

A plêiade bancária norte-americana enquadra, segundo outras fontes, o JP Morgan Chase, Bank of América, Citigroup, Goldman Sachs,Morgan Stanley, Taunus Corporation (sede na Alemanha), US Bancorp, The Bank of New York Mellon, HSBC (sede Reino Unido). 

Para que conste, segundo a ONU, o consumo de drogas atinge mais de 240 milhões de pessoas no mundo (valor este enquadrado naqueles que compram a droga ilícita do mercado clandestino). Um rico negócio.

Estes números são frios. 

A verdadeira fase *quente* é que os capitalistas financeiros são os promotores e beneficiários principais, sem escrúpulos, do tráfico ilegal da droga.

A denúncia não é minha.




Drug money saved banks in global crisis, claims UN advisor

Drugs and crime chief says $352bn in criminal proceeds was effectively laundered by financial institutions
Drugs money worth billions of dollars kept the financial system afloat at the height of the global crisis, the United Nations' drugs and crime tsar has told the Observer.
Antonio Maria Costa, head of the UN Office on Drugs and Crime, said he has seen evidence that the proceeds of organised crime were "the only liquid investment capital" available to some banks on the brink of collapse last year. He said that a majority of the $352bn (£216bn) of drugs profits was absorbed into the economic system as a result.
This will raise questions about crime's influence on the economic system at times of crisis. It will also prompt further examination of the banking sector as world leaders, including Barack Obama and Gordon Brown, call for new International Monetary Fund regulations. Speaking from his office in Vienna, Costa said evidence that illegal money was being absorbed into the financial system was first drawn to his attention by intelligence agencies and prosecutors around 18 months ago. "In many instances, the money from drugs was the only liquid investment capital. In the second half of 2008, liquidity was the banking system's main problem and hence liquid capital became an important factor," he said.
Some of the evidence put before his office indicated that gang money was used to save some banks from collapse when lending seized up, he said.
"Inter-bank loans were funded by money that originated from the drugs trade and other illegal activities... There were signs that some banks were rescued that way." Costa declined to identify countries or banks that may have received any drugs money, saying that would be inappropriate because his office is supposed to address the problem, not apportion blame. But he said the money is now a part of the official system and had been effectively laundered.
"That was the moment [last year] when the system was basically paralysed because of the unwillingness of banks to lend money to one another. The progressive liquidisation to the system and the progressive improvement by some banks of their share values [has meant that] the problem [of illegal money] has become much less serious than it was," he said.
The IMF estimated that large US and European banks lost more than $1tn on toxic assets and from bad loans from January 2007 to September 2009 and more than 200 mortgage lenders went bankrupt. Many major institutions either failed, were acquired under duress, or were subject to government takeover.
Gangs are now believed to make most of their profits from the drugs trade and are estimated to be worth £352bn, the UN says. They have traditionally kept proceeds in cash or moved it offshore to hide it from the authorities. It is understood that evidence that drug money has flowed into banks came from officials in Britain, Switzerland, Italy and the US.
British bankers would want to see any evidence that Costa has to back his claims. A British Bankers' Association spokesman said: "We have not been party to any regulatory dialogue that would support a theory of this kind. There was clearly a lack of liquidity in the system and to a large degree this was filled by the intervention of central banks."



The Guardian/Observer
















Retirei a notícia do jornal diário inglês institucional The Guardian/Observer, de 23 de Dezembro de 2009, publicado cerca de um ano depois da falência fradulenta de alguns dos principais bancos norte-americanos, que provocaram a crise económica e financeira que hoje perdura.

"O dinheiro das drogas salvou os bancos na crise global", titula o jornal, que cita, precisamente, o então responsável da ONUDC o italiano Antonio Maria Costa.

Costa divulgou que 352 mil milhões de dinheiro das drogas foram lavados e entraram no circuito das instituições financeiras com o perfeito conhecimento dos Estados e dos administradores dos bancos.

Sem indicar que bancos estavam inseridos no esquema - com a justificação de que seria inapropriado porque o seu departamento tem o objectivo de encaminhar o problema e não de atribuir culpas -, mas sublinhou: o dinheiro faz parte agora do sistema oficial e tinha sido, efectivamente, lavado.

Apenas especificou que o dinheiros das drogas que entrou nos bancos foi autorizado por responsáveis da Inglaterra, Suíça, Itália e Estados Unidos da América.

Admitiu, de passagem, que as suas fontes foram as investigações judiciais e serviços secretos.

"Em muitos exemplos - explicou ele ao jornal  - o dinheiro das drogas era o único capital de investimento líquido. Na segunda metade de 2008, a liquidez era o principal problema do sistema bancário, e, portanto, o capital líquido tornou-se um factor importante".

Explicou: "Empréstimos entre bancos foram financiados pelo dinheiro que proveio do comércio de drogas e outras actividades ilegais... Havia sinais de que alguns bancos foram resgatados dessa forma".


Tudo efectuado em nome da defesa do sistema capitalista financeiro, com autorização institucional.