sexta-feira, 30 de outubro de 2015

PROLIFERAÇÃO DA DROGA ESTÁ LIGADA AO SISTEMA CAPITALISMO FINANCEIRO

1 – Em Julho de 2015, um dos maiores traficantes de droga mexicano de nome Chapo Gusman, detido numa prisão de alta segurança naquele país, fugiu, depois de lhe terem cavado um túnel por baixo da sua cela, com mais de 1,5 quilómetros de extensão.

Até hoje as autoridades militares e policiais do México não conseguiram sequer aproximar-se dele. Será por acaso?

A revista norte-americana Forbes, em 2009, divulgava que o traficante Gusman teria uma fortuna pessoal de mais de mil milhões de dólares. Quem lhe garante a guarda do dinheiro?

Como se pode fugir, impunemente, de uma prisão de alta segurança, ainda, por cima, um individuo preso por traficância de droga, extorsão, assassinatos em série e dirigir um negócio ilegal lucrativo?

Como emergem nas sociedades mexicana, colombiana, afegã,e noutras *bandos* armados de traficantes que jugulam os próprios aparelhos de Estado?

2 - *De Londres a Hong Kong, as belas fachadas dos grandes centros de negócios com frequência escondem a violência (e a corrupção) das suas origens*.

Assim iniciava, em 2010, o jornal francês Le Monde uma reportagem sobre o grande banco britânico HSBC (Hong Kong & Shangai Banking Corporation, cujas *raízes mergulham em guerras coloniais, envolvendo tráfico de drogas (as duas guerras do Ópio) e comerciais conduzidas pelo Império Britânico na Ásia*.

O repórter do jornal poderia acrescentar a sua extensão dos negócios até Washington a Moscovo, passando por Pequim, Vietname, Afeganistão, seguindo para a Europa, África e toda a Ásia.

A questão é que o negócio da droga está interligado, intimamente, e somente pode medrar, porque está associado ao lúmpen capitalismo financeiro internacional, e, em particular ao bloco ocidental Wall Street/City londrina.

Em 2009, no rescaldo da crise financeira norte-americana de 2007/2008, o então director do Departamento da ONU sobre Drogas e Crime (UNODC), o italiano Antonio Maria Costa era taxativo: Num mercado financeiro em crise e falho de liquidez o narcotráfico serviu para resgatar alguns banco do colapso ao actuar como fonte de capital líquido.

Em entrevista dada na época à revista austríaca «Profil», Costa sustentou que o dinheiro das drogas se tem introduzido no circuito da economia legal ao ponto de haver *indícios de que alguns bancos se salvaram desta forma* do colapso provocado pela crise financeira, primeiro norte-americana, que depois se tornou mundial.

O antigo dirigente da ONU não citou, especificamente, os grandes bancos em questão, mas vendo as empresas do sector que estavam em falência no início e logo após a crise e foram «salvas» pode-se inferir alguns nomes: Lehman Brother´s, Bank of América, que, já em 2010 necessitou de 100 a 200 mil milhões de dólares para se manter *à tona da água*, suíço UBS ou o alemão Commezbank.

 3 -  A difusão da droga, como instrumento de negócio do sistema capitalista, é uma tragédia para a humanidade.

Não é um elemento de produção que sirva o bem-estar dos trabalhadores, nem da evolução da sociedade.

É apenas um produto que serve a ganância do Capital.

Improdutivo como instrumento de consumo, degradante para a condição humana.

É um indício de que o capitalismo está atingir um estádio que já não consegue conter as necessidades das forças sociais que emergem na sociedade.

Recorre a todos os *expedientes*.

Poderá ser um indicativo de que o sistema está a entrar num beco sem saída, não criando empregos, nem produzindo condições para a elevação real do nível de vida.

Se houver capacidade de retirar o controlo financeiro das mãos dos lumpen capitalistas, em grande parte, o negócio da droga desaparecerá.


domingo, 25 de outubro de 2015

PRETENDE BONAPARTE CAVACO O SEU 22 DE OUTUBRO?

1 – Quis o Presidente da República de Portugal realizar um golpe de Estado no país a 22 de Outubro deste ano, quando emitiu a sua «colorida» comunicação com foguetes estrondosos das televisões do regime nesse dia?

Aponta-se nesse sentido pelas suas declarações.

A prática é que vai determinar se é capaz.

Ao acusar um eventual governo alternativo, apoiado por PS, PCP e BE, de «inconsistente», e, em caso de entrar em funções, produzir «muito mais graves as consequências financeiras, económicas e sociais» para o país, *Bonaparte* Cavaco Silva sustenta que «tudo – irá – fazer para impedir» o rumo que o Parlamento dará a um novo executivo.

Para obstar a este seu desejo de «impedimento», Cavaco teria de contar numa primeira fase pela divisão no seio dos deputados do PS, ou então do BE e PCP.

Ou, forjando uma forma de governação de sua iniciativa, pouco consentânea com a votada maioritária do Parlamento.

Ora, atendendo ao actual estado da correlação de forças políticas, uma tal vontade presidencial, somente poderá ter eficácia através de *manus militare*. 

O que pressupõe um golpe militar *legal*. Em caso extremo, sangrento.

Todavia, para o efectuar, terá de contar com a força de armas interna e a conivência externa, especialmente, do capital financeiro internacional, sustentado nos seus representantes políticos em Bruxelas e em Washington.

Ou, Cavaco Silva, qual Bonaparte de terceiro plano, já tenha garantido tal suporte, antes de proferir o discurso em apreço, ou então, tal como os seus comparsas capitalistas internos, está desesperado.

E, neste último caso, se não conseguir, só lhe resta desaparecer de cena e ir para o que se costuma dizer - *o caixote de lixo* da História.

2 – Ora, o discurso virulento do espectro de Napoleão na pessoa do alferes de alcatifa em Lourenço Marques (Maputo, hoje), seguidor dos ditames do Estado Novo, expresso em informação policial, aparece quando a NATO realiza, esta semana, exercícios ostensivos em terras portuguesa *em defesa da civilização ocidental*, assente nas *instituições financeiras*, *investidores* e a *mercados*.


E, surge, também, quando, já depois do acto eleitoral, a 9 deste mês, em cerimónia, com pompa e circunstância, precisamente efectuada no Regimento dos Comandos da Amadora, condecorou com a medalha da Ordem Militar da Torre e Estado o coronel Raul Folques por feitos em combate na guerra colonial ao serviço do antigo regime...e isto 45 anos depois do derrube daquele.

No site da Presidência da República, Cavaco Silva fez questão de referir que, na cerimónia, estiveram presentes o Ministro da Defesa Nacional, o Presidente da Câmara Municipal de Sintra, os Chefes do Estado-Maior General das Forças Armadas e do Estado-Maior do Exército, Marinha e Força Aérea, bem como outras altas entidades civis e militares.

3 – O traje de Bonaparte, o embusteiro francês do século XIX, que Cavaco Silva se quer travestir em finais do seu mandato presidencial em pleno século XIX, não é exclusivo de Portugal, nem produto do cesarismo do homem que não tinha grande apreço pela Comunidade Económica Europeia, antes de ascender ao cargo de primeiro-ministro em 1985.


A questão é que sob as vestes da tradição, do blá blá das regras democráticas estabelecidas, e de outras balelas pseudo formuladas, nestes últimos tempos, está uma mudança de política em praticamente toda a Europa.

E, esta mudança ainda é uma enigma para o grande capital financeiro. O espectro de uma hecatombe paira sobre a sua cabeça.

Na realidade, sob o fantasma de um reforço político do capital financeiro, instalado em Bruxelas, com ramificações em centros de poder como Londres e, em certos países da Europa de Leste, pressente-se que, no emaranhado das movimentações políticas e sociais, começa a surgir uma evolução num sentido de corte com o estado de coisas existente.

Esta evolução é, todavia, titubeante, cheia de hesitações, envolta em nublosas de descrença de que não sabe o real caminho programático de que tem sido traído por outras tentativas de assalto ao poder.

ESTA É A PECHA MAIOR, NA MINHA OPINIÃO, PARA UMA AVANÇO MAIS DETERMINADO, DE AFASTAMENTO DO ACTUAL REGIME QUE GOVERNA A UNIÃO EUROPEIA.

Mas, nesta fase de acumulação de forças, de procura de rumos para atingir os fins, o capital financeiro também tem a percepção que o seu tempo de poder já não era como eles pensavam.

Por isso, eles procuram levar para o seu redil, através de *programas mínimos realistas* as forças políticas, que  intitulam *radicais*, levando-os a ceder nos seus pontos de vista de ruptura com o poder político existente.

Estamos, nestes meses, na busca, para os capitalistas europeus de uma tentativa de rearranjo dos seus objectivos dominantes, através de uma renovação da via *social-democrata* de governação.

Em caso de falhanço, lançam para o terreno os buldogues aventureiros, vestidos de *salvadores de Pátrias*, encimados pelas bainhas das espadas e as vestes padrecas de vários matizes.

Eles estão aí vigilantes.

quarta-feira, 21 de outubro de 2015

OS MONSTROS QUE GOVERNAM OS ESTADOS UNIDOS

1 – Foi publicado, recentemente, nos Estados Unidos da América um livro de Bob Woodward, antigo jornalista do *Washington Post*, intitulado «The Last of President´s Men» (O último dos homens do Presidente), em que Alexander Butterfield, um dos principais assessores do falecido Chefe de Estado norte-americano Richard Nixon dá a conhecer parte da faceta pessoais presidenciais, bem como dados de documentos confidenciais dos quatro anos que passou com aquele na Casa Branca.

O ex-assessor de Nixon descreve-o como *solitário, vingativo e traiçoeiro, torpe e inseguro ao ponto de atingir a paranóia*. Uma pessoa capaz de *estratégias perversas* e *obsessivamente secreta*, acrescenta.




Na década de 70 do século passado, Woodward, conjuntamente com Carl Bernstein, então ambos jornalistas do diário *Washington Post, denunciaram o papel de Richard Nixon no chamado «escândalo Watergate», que levou à sua demissão.

Um dos documentos citados no livro agora editado, refere-se a um pequeno episódio, com data de Janeiro de 1972, no qual o falecido Presidente protesta junto do então seu assessor de segurança nacional, mais tarde Secretário de Estado, Henry Kissinger, porque os bombardeamentos norte-americanos sobre o Vietname do Norte não tinham conseguido *nada de nada*.

Uns dias antes, perante a Nação sustentava que *os resultados tinham sido muito, muito eficazes*.

Mas, mais tarde, por razões de política interna - estava em causa a sua reeleição -, mandou reforçar, indiscriminadamente, com milhares de mortos, os bombardeamentos contra as populações do Vietname.


A este respeito, o seu antigo assessor político Butterfield refere, agora, no livro que Nixon *mentiu* perante os norte-americanos.

Este mesmo assessor sublinha também que Richard Nixon, que ele apelida de *pobre homem, miserável*, maltratava, abertamente, a sua mulher Pat, na frente dos seus colaboradores.

Colaboradores estes, bem como a sua própria Administração, que permitiam, pelo que se retira das declarações de Butterfield, que Nixon fosse um *mulherengo*, assediando as próprias jovens funcionárias da Casa Branca.

Um relato exemplar da cumplicidade vergonhosa dos que depois denunciam: Numa viagem de helicóptero *quando Nixon convidou uma secretária em minissaia a sentar-se ao pé dele. A secretária – confessa o ex-assessor – sentou-se entre o assessor presidencial e o mandatário e este começou a apalpar-lhe as pernas enquanto falava com a comitiva que seguia na aeronave*.

2 – Os trechos atrás citados foram retirados da imprensa norte-americana e inglesa.

O livro ganha relevância na fase actual da campanha eleitoral para a Presidência dos Estados Unidos da América.

Não porque revele dados muito desconhecidos da vida do falecido Chefe de Estado norte-americano, mas, principalmente, porque nos leva a questionar como governam os principais dirigentes dos EUA.

O caso de Nixon não é isolado. Pelo que conhece, actualmente, dos seus antecessores e sucessores, verifica-se que era – e é - uma prática comum na actividade política dos governos norte-americanos.

O mais idolatrado Presidente do poder político e económico norte-americano John Kennedy é o protótipo de monstro que representou o regime mais corrupto do Mundo.

Com Kennedy, a Casa Branca funcionou como bordel, tanto para o Presidente, como para com a sua mulher Jacqueline, apresentada, exteriormente, como uma *primeira dama* recatada.

Como artistas de +alterne+, John Kennedy – sabe-se agora - *mercadejou sexo* com Angie Dickenson, Kim Novak, Janet Leigh, Jean Simmons, Jayne Mansfield e Marilyn Monroe, entre outros casos *amorosos*, sempre escondidos pela grande imprensa do país..e pela Casa Branca.



Jacqueline, a sua esposa, respondeu-lhe na mesma maneira. São conhecidos e badalados os casos com o actor William Holden, o artista Bill Walton e o multimilionário Aristóteles Onassis, com quem, aliás, veio a casar, após o assassinato do Presidente.

Claro que estes casos, aparentemente, são do domínio do moral.

Mas mostra o cinismo do moralismo da classe dirigente que propaga, aos sete ventos, a sua conduta balizada pelo matrimónio religioso monogâmico, quando os *vícios* encobertos se transformavam em segredo de Estado.

Outros Presidentes, antes e depois, lhe seguiram as pisadas.

Todavia, a sua faceta de monstros criminosos a dirigirem uma superpotência é que deve ser denunciada e transmitida à população norte-americana e mundial.

São os *assassinatos políticos* planeados na Casa Brança, pelos próprios Presidentes, contra Chefes de Estado ou de governo de países que não concordavam, ou fugiam à tutela férrea do capitalismo norte-americano, e, efectuados ou dirigidos por sicários contratados pelos serviços secretos ou por estruturas diplomáticas da Secretaria de Estado, como os casos de Patrice Lumumba (Congo), Rafael Trujillo (República Dominicana), Ngo Dinh Diem (Vietname do Sul), Karim Kassen (Iraque), Salvador Allende (Chile), René Schneider (general chileno, ex-CEME), entre muitos outros.
Ngo Dinh Diem assassinado e funeral do general Schneider 

Para não falar nas numerosas tentativas falhadas para assassinar Fidel Castro, o antigo Chefe de Estado cubano, onde alguns dos seus executantes seriam *soldados* da Máfia norte-americana, onde estava inserido o próprio Kennedy e a família.

Não esquecer os casos de utilização de produtos químicos para utilização, como venenos ou substâncias alucinogénas, quer individualmente, que em massa sobre figuras e personalidades políticas e/ou conjunto de pessoas tidas como *dissidentes* da política instalada em Washington/Casa Branca.

Ou o controlo da produção e comercialização de drogas quer a partir do Vietname/Laos/Cambodja ao Afeganistão, bem como os crimes de guerra efectuados um pouco por todo o Mundo: Médio-Oriente, Extremo-Oriente e mesmo na Europa.


As torturas no Iraque

Não esquecendo, antigamente, como agora a prática generalizada de tortura, prisões ilegais e execuções indiscriminadas, sob uma pretensa luta contra *o terrorismo* interno e externo, decretada e mantida *secretamente* pela chancela dos Presidentes.





sexta-feira, 16 de outubro de 2015

O DIVINO CARDEAL PORTUGUÊS QUE GOSTA MAIS DE CÉSAR

1 – Dai a Deus o que é de Deus, a César o que é de César – a frase é sustentada pelo cristianismo e catolicismo oficiais como orientação para separar as questões da religião dos assuntos terrenos.

A frase aparece inserta, como resposta, em três dos chamados Evangelhos canónicos (Mateus, Marcos e Lucas), e referem-se, precisamente, a uma questão muito terrena: se uma autoridade, ainda que de ocupação, pode receber impostos.

Ela é atribuída a Jesus, o Cristo, que nos relatos desses Evangelhos o colocam como o promotor e o mensageiro divino de uma nova doutrina, que veio a ser, tradicionalmente, a religião oficial e o guia político do Império romano, a partir do reinado do Imperador Constantino (306 a 337 DC).



2 – Os hierarcas da Igreja Católica pouca atenção dedicam, todavia, aos ensinamentos dos seus *livros sagrados*, optando, mais, ao longos tempos, às coisas venais, terrenas, que tanto vociferam repudiar, em palavras, mas que colocam na frente das suas preocupações. 

Desde os negócios financeiros às campanhas de +caridadezinha+ para Cáritas, Bancos Alimentares e quejandos.

O lema central da Igreja Católica – desde o Vaticano aos bispados mais recônditos – é, justamente, «Olha para o que eu digo e não olhes o que eu faço».

2 – Esta introdução é feita a propósito das declarações do senhor Manuel Clemente, que foi nomeado cardeal da Igreja Católica portuguesa por uma entidade extra-nacional chamada Santa Sé, dirigida por um senhor que se intitula Francisco, que, de nascimento argentino, se chama Jorge Mario Bergoglio.

Clemente, o transmissor português do divino Francisco, sediado em Roma, qual adivinho mago do oráculo de Delfos, considerou, esta semana, que o próximo governo português deve ser constituído entre o PSD e o CDS, alargado, na douta e etérea opinião, ao PS para vingar *o interesse nacional*.

*Juntando essa coligação ao PS, isto forma uma grande maioria no próximo Parlamento. Parece-me (este parecer será pela cor do dinheiro?) mais natural (sic, será de nascença?) que o acordo surja dentro deste conjunto do que fora deste conjunto”, opina o burocrata religioso católico à Radio Renascença, o órgão de inspiração ideológica – e também de propaganda comercial – da Igreja Católica.



E Clemente, que usa o medieval Dom, enfia-se, pelos negócios do capitalismo, sublinhando que Portugal – ou seja o seu governo – pediu assistência internacional, nos últimos quatro/cinco anos da actual governação segui-se um caminho que *estava mais ou menos (este mais ou menos...) enquadrado por um acordo que tinha na base três forças políticas – PS e actual coligação PSD/CDS com divergências quanto aos ritmos, mas uma base de entendimento nacional e internacional*.


O cardeal católico – pergunto eu – não estará mais preocupado com os interesses terrenos da Igreja Católica que recebe milhares de milhões do erário público para satisfazer os bolsos dos prazeres mundanos de indivíduos inúteis, que vivem à custa da sociedade portuguesa?

quarta-feira, 14 de outubro de 2015

PORTUGAL: A MUDANÇA ELEITORAL TRAZ UMA MUDANÇA POLÍTICA PROGRESSISTA?

1 – No passado dia 4 deste mês, efectuaram-se eleições legislativas em Portugal, cujos resultados dificultam a formação de um governo, liderado pelos mesmos partidos que estiveram no poder nos últimos quatro anos.

Estas eleições surgiram como um evento inesperado, quando todos os *bem pensantes* da política burguesa julgavam que tudo se enquadraria como uma «tradição» de 40 anos.

Na realidade, a coligação formada pelo PSD/CDS, os partidos representantes directos do grande capital financeiro, que receberam 38,5 % dos votos expressos (104 deputados) se confrontaram com uma votação na que é considerada a *esquerda parlamentar* (PS, Bloco de Esquerda e PCP) que atingiu um número de votos expressos de 50,87 %, o que corresponde, respectivamente, a cada um de 32,83%, 10,22% e 8,27%, com um conjunto de deputados de 121.

(De recordar que, em anterior eleições legislativas, o voto somado de PSD e CDS atingiu os 50,35% - 132 parlamentares, o PS 28,06% , o BE 5,17% e o PCP 7,91%).


2 – Pode-se gesticular, nestes dias, contra a opção do Partido Socialista por um tipo de governação ou por outra.

Lançar anátemas sobre a pretensa *contra-natura* de uma associação do mesmo com o PCP e o BE.

Pode-se, inclusive, clamar por uma fuga à *tradição*. Propalar, mesmo, indignações morais ou *incompreensões* pelas alianças que, eventualmente, venham a surgir.

Todavia, tudo isso esquece o principal: a política faz-se com o futuro e, substancialmente, alicerçada no percurso histórico da luta de classes.

O que sucedeu, em Portugal, com as eleições legislativas, não está isolado da governação que dominou – e domina – a Europa nos últimos 25 anos, nem da política prática que foi descarregada, violentamente, sobre as condições sociais e económicas das classes trabalhadoras.

Na realidade, desde as eleições autonómicas espanholas e, posteriormente, com as legislativas gregas de Janeiro deste ano, se verifica que existe, através do voto, uma propensão entre as massas populares para romper, politicamente, com a situação de asfixia total que a classe capitalista financeira procura amarrar uma implosão social que germina no seio de toda a sociedade europeia, mas não só.

De certo modo e em certo sentido, as recentes eleições legislativas e regionais europeias, têm, no seu conteúdo propagandístico, como objectivo principal uma luta política *contra a política de austeridade*, que – de forma mais clara, ou mais ambígua e pouco transparente enunciada pelos diferentes partidos – reponha poder de compra e obste a preponderância desenfreada do capital financeiro.

Esta realidade apresenta, todavia, limitações para aumentar a consciência políticas das classes laboriosas já que encerra, em grande medida, essa luta política, no quadro da *democracia* por parte dos partidos que, mais abertamente, colocam a luta contra a austeridade no seu programa eleitoral.

Ora, esta orientação, que se fez sentir no resultado, de maneira mais aberta nas eleições legislativas de Portugal de 4 de Outubro, empurra, ainda sem se conhecer os passos negociais dos partidos, para a uma coligação política e/ou governamental entre o PS, BE e o PCP.

Este arranjo político tanto pode ser benéfico para as classes oprimidas, como pode servir a consolidação das classes dominantes, em especial a capitalista financeira.

Depende, acima de tudo, dos projectos  que forem alcançados e levados à pratica pelos seus promotores, em particular, os que resultarem da imposição que for acordada pelos dois partidos, PCP e BE.

Se se concretizar tal coligação *de esquerda*, sem um programa de progresso, não podem depois os seus dirigentes fazer crer, quando a política *prática* irromper, com todas as consequências de serem os partidos citados no parágrafo anterior  minoritários e ficarem à mercê da orientação maioritária do PS, representante oficial dos *mercados* e das *instituições* capitalistas europeias, que foram atraiçoados.


Devem reflectir antes e verificar porque, apesar dos crimes políticos que realizou a coligação PSD/CDS nestes quatro anos, eles conseguiram manter uma certa base de apoio eleitoral.

Qual a razão porque o PS, o BE e o PCP, que foram oposição não suplantaram, individualmente, os votos dos partidos que sustentam o actual governo?

E tirar ilações. Não se pode ficar maravilhado com a perspectiva de ir para o próximo governo, com uma vaga ideia de que está edificada uma *alternativa de esquerda*.

Ou seja, para que haja, na realidade, uma fase de progresso, tem de se atingir o cerne das pretensões da burguesia capitalista financeira, de ferir a sua máquina de propaganda, de travar, profundamente, a movimentação das velhas forças sócio-económicas da sociedade.

3 – Poder-se-á dizer que esta alternativa se enquadre num período de acumulação de forças para passos mais avançados de criação de uma nova sociedade?.

Em teoria, pode afirmar-se  tal.

A questão é a sustentação na actividade diária. E na melhoria real da vidas das classes trabalhadoras.

Mas, a vitalidade de uma tal viragem, estará, não apenas em Portugal, mas, de maneira mais acentuada, na capacidade de mudança efectiva da relação de forças na UE, e, num trabalho programático europeu.

Ora, um passo mais avançado e radical somente surgirá como viável se houver um desenvolvimento económico conjugado com um incremento significativo da consciência política das massas assalariadas.

Em conclusão, terá de haver, no seio da produções industrial, agrícola e comercial capitalistas, um crescimento significativo das próprias classes assalariadas e uma ideologia de ruptura.



quinta-feira, 8 de outubro de 2015

O IMPERIALISMO NORTE-AMERICANO ENCOSTADO À PAREDE


1 – O mundo parecia imóvel, há cinco anos atrás, face ao avanço que parecia imparável do imperialismo norte-americano.

Os países do leste europeu (Polónia, Lituânia, Estónia, Letónia, Roménia, Hungria, Bulgária, República Checa e Eslováquia) que se integraram na União Europeia, com o apoio político e económico dos Estados Unidos, tornaram-se, num instante, o *cavalo de Tróia* da política norte-americana no envolvimento da Rússia, sendo cúmplices declarados do alastramento do conflito interno na Ucrânia, com o derrube do presidente eleito Viktor Yanukovich.

(Lembram-se do alarido norte-americano, secundado e ampliado por aqueles países, sobre o derrube do avião comercial MH17, da Malasya Airlines, abatido no leste da Ucrânia a17 de julho de 2014?.
Onde estão os resultados do inquérito?).

Em 2011, de uma assentada, *espontaneamente*, surgiram revoltas e *revoluções* nos países islâmicos que bordejam a parte sul e leste do Mediterrâneo, apoiadas em reais protestos populares, provocados pela crise económica do capitalismo, de que os regimes políticos eram (ou são serventuários), propalados em nome das lutas contra as ditaduras e os direitos humanos.


Os aliados dos Estados Unidos nas Primaveras árabes

Assim, foram sacudidos países, como Argélia, Tunísia, Líbia, Egipto, Síria, e já no Médio-Oriente, o Iémen.

Na Argélia, onde, cerca de 15 anos antes, se registou uma contenda feroz entre o Exército laico e os fundamentalistas islâmicos, ganha pelo poder político-militar vigente instalado desde a revolução colonial contra a França, pouco foram os protestos.

Na Tunísia e Egipto, os regimes foram apeados, com grandes manifestações populares laicas, mas, através de manipulações externas, substituídos por regimes islâmicos sunitas, apoiados pelos Estados Unidos e pela Arábia Saudita.

No Egipto, o poder secular, centrado nas Forças Armadas, vacilou, perdeu, mas reagiu e empurrou o regime religioso dos islâmicos sunitas para as masmorras e para as torturas e mortes, evitando, deste modo, uma reacção semifeudal, assente nas leis da Sharia. 

Instituíram, todavia, um forte regime militar, ditatorial, sustentando pelas baionetas, que, de imediato, num volte-face, recebeu a bênção de Washington, e, de certa maneira, da Rússia e da China, com a complacência do Irão xiita.

Mas a questão central desta investida do imperialismo, cavalgando em protestos populares incipientes e sem clareza política, estava (e está) alicerçada em dois parâmetros da geoestratégia económica e política.

(O derrube do coronel Kadafi na Líbia está inserido nesses parâmetros. Voltaremos a ele mais à frente).

Que convém analisar e ponderar, em minha opinião, para compreender a situação actual dos descalabros e incapacidade da chamada superpotência da tentativa de espezinhar povos e Estados que lhe eram adversos.

2 – Primo. A preocupação primeira da política norte-americana, em toda a movimentação que atingiu (e atinge) a parte sul da bacia do Mediterrâneo e na parte leste da Europa, cuja face visível podemos verificar com a militarização dos países vizinhos da Rússia, em particular, a destabilização política e castrense da Ucrânia, é a subjugação, aos seus ditames, da União Europeia.

Bombardeio Líbia G
O bombardeamento *humanitário* norte-americano na Líbia


Na realidade, apesar de todas as debilidades, de todas as hipocrisias, de todas das fraquezas da grande burguesia, dominante, no poder de Estado na UE, este espaço continua a ser a referência mundial de poder económico, comercial e de bem-estar no mundo multipolar que emerge.

E, no rescaldo da senda vitoriosa da burguesia na criação desse espaço económico, com o incremento da grande indústria, do comércio e agricultura modernos e intensos, igualmente se levantou uma onda poderosa de lutas sociais que trouxeram as classes trabalhadoras para uma maior presença na cena política.

De certa maneira, a burguesia europeia ameaçada por essa nova chama de mudança política e social, que se sente em toda a Europa, caiu nos braços da grande burguesia capitalista financeira norte-americana.

Quando os administradores capitalistas sentem na pele a ira dos trabalhadores

Para os EUA de Wall Street, a UE, do Banco Central Europeu e do grande capital alemão e inglês, é, neste momento, a sua única grande e poderosa aliada no Mundo.

Aliada essa que, na sua dimensão, mantém uma fraqueza de subjugação face a Washington, pois não tem capacidade militar para se impor, autonomamente, no xadrez geopolítico estratégico que se desenha, cada vez mais, com pólos cristalizados em Pequim, Moscovo e Nova Deli.

Daí, a grilheta contínua do imperialismo norte-americano na busca da sua divisão - imigrantes, particularidades regionais - do amesquinhamento de ocupação, com os pretextos mais vis, retirando-lhe todas as tentativas de forjar uma unidade diplomática e militar.

Desde o fim da II Grande Guerra (1939-45), o processo histórico europeu, no seguimento do que sucedeu desde o advento do capitalismo no mesmo território, no estertor do feudalismo, finais do século XV, tem havido um constante percurso para criar uma grande Europa.

E isto, primeiro, com a formação de grandes Estados – em luta contra a fragmentação e particularismos feudais -, depois com a tentativa de forjar *impérios*, com a família Napoleão, o alemão Bismarck, e, posteriormente, com violência inaudita, com o austríaco Adolf Hitler, a partir do expansionismo alemão.

Ora, logo após a II Grande Guerra, a burguesia europeia desenvolvimentista aprendeu com os fracassos da imposição unilateral desses grandes espaços, com desprezo total do sentir nacional.

E procurou forjar essa unidade, através  de uma harmonia possível da cooperação económica, avançando, depois, para a sua estruturação política.

Apanhada pelas crises contínuas deste século, e, confrontada pelas movimentações populares que começam a exigir novos tipos de governação, essa grande burguesia europeia, desesperada, deixou-se enredar no estrangulamento provindo de Wall Street e lançou-se na via do menosprezo dos sentimentos nacionais.

Perdeu a noção histórica que, na Europa, a criação de um novo espaço político é indispensável uma parceria com a vizinha Rússia, de modo a estabelecer uma verdadeira cooperação sem fronteiras.

A tradição revolucionária de conquista de uma nova sociedade está enraizada, precisamente, nesse grande espaço europeu – desde Portugal até a grande Rússia.

Este caminho somente pode ser conseguido se se alargar o horizonte actual transfronteiriço para leste.

E não na cooperação com os Estados Unidos da América, amorfos a convulsões e a reivindicações genuinamente revolucionárias.

3 – Secundo. A queda do império soviético, com a separação económica e política dos países europeus integrantes do Comecon e do Pacto Varsóvia, bem como de alguns Estados do Próximo Oriente, fez dos Estados Unidos a superpotência dirigente do Mundo e os Presidentes norte-americanos, principalmente Ronald Reagan, o campeão do chamado Mundo Livre ocidental.

Todavia, a *pax* norte-americana, que os propagandistas da comunicação social de Wall Street fizeram soar pelos cinco continentes, não trouxe qualquer apaziguamento a esse mundo.

Os Presidentes norte-americanos instituíram-se em *correctores* gananciosos do grande capital financeiro internacional, alçando-se em auto-proclamados gestores das democracias burguesas, dos direitos humanos e do *um homem, um voto*.

Lançaram, então, uma cruzada guerreira para dominar o Mundo, como instrumento da rapinas das matérias-primas, das vigarices bolsistas, da especulação financeira, das trapaças com os negócios das drogas, do branqueamento de capitais. Enfim, o enriquecimento desenfreado e sem freio do lumpen capitalismo financeiro de Wall Street.

Foi com essas premissas que incendiaram o Médio-Oriente, a ex-Jugoslávia, as repúblicas do Cáucaso, como o Azerbaijão, a Arménia, a Geórgia, a Abecázia, a Tchéchénia, o Daguestão e as Ossétias, e, nos tempos presente, a Ucrânia.

A destruição anti-ditatorial de Belgrado

(A Primavera Líbia trouxe como resultado o desmantelamento do Estado e a sua entrega ao islamismo sunita, com o descontrolo da produção do petróleo e a sua traficância a favor das multinacionais ianques).

A política insana de impor, pela força de armas, o domínio económico e social do Afeganistão e do Iraque, sob a lenga-lenga dos direitos humanos e da *batalha pela democracia*, trouxe na realidade  a opressão dos povos e a tirania sobre as classes trabalhadoras, incluindo dos próprios Estados Unidos.

E uma realidade superior: o ascenso sem qualquer controlo do militarismo e do défice crescente da despesa pública quer nos EUA, quer no Mundo.

Mas, o militarismo está a devorar a América do Norte.

São os próprios economistas do regime, como Stigliz (prémio Nobel da Economia em 2001 e ex-economista-chefe do Banco Mundial), em associação com Linda Bilmes, professora na Universidade de Harvard, que escreveram, em 2007, um livro «A Guerra dos 3 biliões de dólares, que assinalam que as guerras do Afeganistão e Iraque já tinham custado aos EUA 3 biliões de dólares.

E sublinharam: os números são conservadores.

Por mês, Stigliz e Bilmes garantem, sem contestação oficial, a administração norte-americana gasta 16 mil milhões de dólares no Afeganistão e Iraque, além dos 500 mil milhões de despesas regulares do Orçamento da Secretaria de Defesa.

Para manter esta guerra, acrescentam os autores, fizeram empréstimos externos, sobre os quais pagam juros anuais de 200 mil milhões de dólares. Valor este que ascenderá, em 2017, a três biliões.

(Ora, estes empréstimos vieram principalmente da China, o que, em termos práticos, se pode dizer que é aquele país asiático que está a financiar o esforça expansionista de Washington).

A sanha devoradora da cruzada norte-americana apenas levou a derrotas, recuos económicos e sociais, bancarrotas financeiras fraudulentas.

É, pois, em grande medida, que se explica, nos dias de hoje, o papel decadente da política imperialista norte-americana no Mundo, e, com especial relevo para o Médio-Oriente.

Com o rabo entre pernas, obrigados a retrair a sua ganância expansionista, devido aos problemas financeiros e económicos internos, os EUA foram forçados a *ceder* à Rússia e à China o papel de apaziguadores de tensões e permitir o seu ascenso na cena geopolítica mundial.

Estão, por consequência, a sentir na pele, humilhantemente, a sua fraqueza real, não só política, como militarmente.

Temos, pois, que a Rússia e a China, cada potência na sua área de influência, estão a surgir, com toda a sua capacidade, como árbitros reais e eficazes da condução da política externa internacional.

Admitimos que eles não vão aceitar esta realidade, irão estrebuchar e, eventualmente, entrar numa via de desespero e de acções descontroladas.

Esperemos que a sociedade humana consiga parar essa via, ( não só do imperialismo norte-americano, mas também do expansionismo russo e chinês), pois as consequências serão trágicas.

4 – A crise financeira e económica na UE desnudou o pior do desespero da sua classe dominante: o espezinhamento de todos os sentimentos nacionais e os direitos mais essenciais das classes trabalhadoras.

Esta situação fez vir ao de cima a questão nacional na Europa, tendo sido agravada pela intervenção externa norte-americana, que exacerbou, de maneira criminosa e violenta, a questão das nacionalidades nos Balcãs, e, com uma proporção terrível no despertar de particularidades tribais na parte sul do Mediterrâneo e do Médio-Oriente.

As feridas abertas nos territórios árabes e islâmicos, porque, igualmente, atingem a rapina das suas matérias-primas, fazem sangrar os povos locais que têm a noção que os antigos senhores coloniais se aprestam a regressar com ambições neo-coloniais, retalhando novamente Nações, países e regiões.

Esta sobranceria *ocidental* relevou, para primeiro plano, as resistências populares, que, para sobreviver, se escondem, historicamente, sobre as ideias mais radicais da religião dominante ou que professam.

Ou seja, o imperialismo norte-americano, europeu ou russo, fomenta e faz medrar o radicalismo islâmico, pensando que através dele ascende ao domínio das matérias-primas, e, concomitantemente, ao poder político que esse pseudo radicalismo lhe pode proporcionar.

Só que o processo histórico tem mostrado que esse *radicalismo* traz retrocesso civilizacional, e, acima de tudo, se vira contra o(s) seus *pai(s)* patrocinador (es).

Na Europa, a questão nacional não surge como um processo reaccionário, mas como uma explosão contra o espartilho das classes dirigentes capitalistas financeiras.

Catalunha quer ficar na União Europeia

Não pretendem, desde a Espanha ao Reino Unido, um afastamento de um processo de unidade europeia, mas sim de serem tratados como iguais, numa outra estrutura de poder político dentro da União Europeia.

Este o busílis da questão da unidade na Europa: a cooperação internacional, a ligação programática política de uma UE, sem dominação do capitalismo financeiro.