sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

A MILITARIZAÇÃO DO REGIME




 












 1 -  Embora, no interior das actuais fracções burguesas, que apoiam o sistema político parlamentar enquadrado desde 25 de Novembro de 1975, se verificassem "indícios"
desde os ano 80 para reforçar o sistema militar da Guarda Nacional Republicana, foi, essencialmente, desde a entrada de Rui Pereira para Ministro da Administração Interna no primeiro governo de José Sócrates que se registou, oficialmente, esta tendência.

Convém recordar como seria montada a sua super-estrutura de comando:

O comandante-geral da GNR teria a atribuição de general de quatro estrelas, equiparando-o, na prática, ao Chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas e aos chefes dos três ramos castrenses. 

Além desta promoção, haveria um acréscimo de três tenentes-generais (três estrelas) no comando-geral da GNR, numa reestruturação em tudo semelhante ao modelo do ramo Exército actual.

E, para reforço desse modelo,  o chefe do Estado.Maior da mesma GNR, ocupado nos dias de hoje, por um major-general, teria um "impulso" com um tenente-general no topo e dois majores-generais a coadjuvá-lo.

A formação do seu corpo de oficiais seria da exclusiva competência da Academia Militar. 

Haveria uma estruturação interna, com a criação ou alargamento de corpos motorizados de cavalaria pesada e um incremento da actividade militar-securitária no mar. 

De assinalar que este projecto tinha, anteriormente, o assentimento do então Ministro da Defesa Nacional Paulo Portas. 

O projecto, em forma de lei, foi em 2007, aprovado somente pelo Partido Socialista, que governava com maioria absoluta no Parlamento.

O Presidente da República, Cavaco Silva, perante o protesto radical dos então chefes militares, vetou essa lei.

Estávamos em 2007.

2 - Agora, em  Junho de 2012, o actual governo, maioritário no Parlamento, devido à coligação entre o PSD e o CDS, nomeou uma comissão para revisão do Conceito Estratégico de Segurança e Defesa Nacionais (CESDN), e, curiosamente, mas não por acaso - mais frente falaremos disso-, constituída por ex-ministros e governantes ligados ao PS, PSD e CDS, em que se regista uma volumosa presença de figuras militantes ou próximas das lojas maçónicas portuguesas.

Cita-se, nomeadamente, Luís Fontoura, Jaime Gama, Nuno Severiano Teixeira, Luís Amado, Ângelo Correia, Gomes Canotilho e Adriano Moreira. Justamente, a questão da militarização da GNR volta à baila, agora, invertendo a práxis, dando lugar à teoria.

Cita-se, então, precisamente, os pontos centrais do reforço castrense. 

Os "senadores" do regime tentacular das confrarias propõem que a GNR se estruture para "o combate à criminalidade mais violenta e ao terrorismo, na protecção dos pontos sensíveis (...), na vigilância e no controlo das infraestruturas críticas e das principais vias de comunicação e fronteiras". 

Para o efeito, enquanto "força de natureza militar", a GNR deverá ser dotada de "meios multifuncionais para o cumprimento das missões militares e policiais, o que segundo a proposta "implica armamento e equipamento mais robusto". (O sublinhado é meu, o texto é retirado da imprensa). 

E mais um acrescento, precioso, na sua ambiguidade: será atribuida à GNR "uma especial responsabilidade na segurança ambiental, tirando partido da sua vocação para a vilância dos espaços terrestres e costeiros". (o negrito é meu)


3 - Se estes respeitáveis republicanos - socialistas e sociais-democratas - teorizam sobre o papel da defesa da sua República, eles estão, desde há muito, a preparar, em primeiro lugar, a sua "salvação" como mentores do regime capitalista que tem medrado sobre o actual regime. 

Ao preconizarem a militarização assanhada da GNR estão, como políticos burgueses que se prezam, a formar o corpo central da sua estrutura castrense pretoriana para o defender contra as arremetidas que vão surgir das movimentações populares. 

Não é, pois, uma obsessão em defesa dos interesses nacionais, pois eles são e foram os promotores da submissão total do que é nacional sobre os poderes estrangeiros. 

Eles estão a preparar sim uma ditadura musculada, baseada na sua guarda pretoriana, pois sabem que vai haver uma reacção daqueles que neles votaram contra os roubos que lhe fizeram. 

Mas, poderão surgir perguntas. Não têm as Forças Armadas à mão para essa missão?

Essa é a questão: as actuais Forças Armadas resultam de uma reestruturação que foi iniciada pelos sectores militares, ainda que tidos como moderados, mas que faziam parte do antigo Conselho de Revolução. Nunca viram com bons olhos o assédio ao poder feito pelos bajuladores "civis" que se apoderaram do poder de Estado, em proveito próprio, menosprezando e aviltando até aqueles que lhe deram cobertura.

Tal como na I República, em que as estruturas de "poderes invisíveis", naquela altura, essencialmente, a maçonaria, constituíram a sua guarda pretoriana baseada na recém- criada Guarda Republicana, transformada em 1911, em Guarda Nacional Republicana. Era uma força de segurança composta por militares, organizada em corpo especial de tropas.

Hoje, o actual poder político está de costas voltadas para as Forças Armadas, e, em caso de necessidade não sabem para onde pendem.

Tal como são na realidade, estes homens do actual regime, pusilâmines, merdosos, medrosos, arrogantes com as costas quentes, mas de uma cobardia atroz quando confrontados, eles procuram contrariar um poder castrense duvidoso com outro compaginado à sua acção política.

É neste emaranhado de crise, que surgem estas propostas, ou melhor dizendo ressurgem.

Eles que se dizem defensores do regime parlamentar estão a trucidá-lo. Estão a criar a sua própria sepultura.

Espero que se vão em breve.

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

LADRÕES DE BICICLETAS




1 - Na segunda metade dos anos 80 do século passado, assisti, como jornalista profissional, ao julgamento judicial do falecido antigo ministro da Qualidade de Vida Francisco Sousa Tavares, de um governo do bloco central liderado pelo então Primeiro-Ministro Mário Soares. 

Causou-me impressão ver ali, acabrunhado e, aparentemente, destroçado, o antigo arrogante senhor do novo sistema político, acusado, precisamente, num caso que abalou o chamado "mundo político e económico" da altura, com certas semelhanças ao que agora está na berra, com o nome de "Monte Branco": a massiva fuga de capitais, branqueamento de dinheiro dos poderosos deste país. E tal como agora, em plena crise financeira e económica....


Pensei, que face às acusações provadas, que Francisco Sousa Tavares acabaria por ter uma pesada pena. 


Que a justiça, como era "cega" actuaria com mão de ferro sobre quem estava a arruinar o país, colocando em paraísos fiscais as mais valias retiradas a quem trabalha. 

Oh, "ingenuidade" minha: os juízes são seres humanos normais e pertencem as mesma confrarias.

Sousa Tavares, em Abril de 1989, teve uma condenação de 30 dias de prisão perdoados em troca do pagamento de mil escudos por dia (hoje cinco euros). 


Um mês depois, Tavares está em Macau, dizendo-se em "gozo de férias", mas, na realidade, a trabalhar como consultor jurídico do governo de Macau, presidido por Carlos Melancia, onde auferia ou iria auferir um vencimento de 150 contos mensais. (Expresso). 

Apesar desta "pesada" pena, Sousa Tavares foi apenas o "boi de piranha" (o termo é, metafórico, de origem brasileira: para cruzar, as manadas, em rios infestados de piranhas, escolhia-se um bovino velho e mais fraco, que se sangrava e lançava ao rio num local mais abaixo do trilho de passagem dos restantes animais) seleccionado para "dar uma satisfação" ao povoléu sobre as altas vigarices e ladroagens feitas ao contribuinte português no então "Caso Dopa".

Convém fazer um breve resumo do que foi, naquela altura, a maior fuga de capitais do país e ao mesmo tempo uma tremenda traficância ilegal de divisas, efectuadas, precisamente, por uma parte substancial das mais altas personalidades da política e da economia do país.

Quem era a DOPA e como seguiu a trama? 


A DOPA (Dragagens e Obras Públicas) tinha sido fundada por Joaquim Manuel Queirós de Andrada Pinto em 1977, como firma do sector da construção civil. 


O seu escritório central estava em Lisboa e começou a ser "visitado" por um número elevado de clientes. 


Parecia próspera no ramo. Prometia juros entre 10 a 14 %, atribuídos em moeda estrangeira, a quem ali depositasse dinheiro. 


Fazia-o com a chamada cobertura do segredo bancário suíço.

As transferência sigilosas efectuavam-se com o banco suíço Trade Development Bank


O primeiro caso detectado - pelo menos inscrito na acusação - ocorreu em 1983, numa altura em que o gerente do Banco Pinto & Sotto Mayor em Mira (do grupo Champallimaud) procurou depositar 200 mil contos na DOPA. 


O caso teve mais de 200 arguidos, e um só condenado, como atrás foi descrito. 


Seis anos demorou o processo. Vejam só---seis anos. 

Segundo a acusação, o caso "DOPA foi responsável "pelas maiores fugas de capital jamais verificadas em Portugal", com uma previsão anual de 1,5 milhões de contos. Isto entre 1977 e 1985, pelo menos.


Em 1993, o Supremo Tribunal de Justiça - essa entidade cheia de pergaminhos balofos de independência e de cumplicidades intrincadas em jogos de bastidores - considerou legal o tráfico de capitais. 


Numa busca à sede da DOPA, foram encontradas listas, um delas com 235 clientes que faziam a traficância de dinheiro. 


Tinham apelidos sonantes da nossa praça, como, entre outros, Vanzeller, Pinto Basto, D´Orey, Avillez, Roquette, Lumbrales, Breyner, Mendia. 

Mas também havia, segundo um dos juízes implicados na investigação, outras listas, um delas - feita desaparecer - de políticos, onde constaria, por exemplo, um homem, filiado como o número do PSD, de apelido Balsemão. 


Veio a descobrir-se, mais tarde, e o "Expresso" noticiou tal que havia escutas telefónicas que indiciavam a mãozinha do então Ministro da Justiça Mário Raposo (cujo chefe de gabinete era então um jovem advogado e magistrado do Ministério Público chamado Isaltino de Morais) na gestão "criteriosa" do processo.


Raposo negou, com a sua pretensa dignidade ferida, ele que fora até bastonário da Ordem dos Advogados.


A evidência acabou com o orgulho, mas a argumentação continuou: Ele somente estivera no caso "como advogado" para redigir o recurso para a libertação do patrão da DOPA!!!

Tal como agora, não havia dinheiro para pagar a trabalhadores, mas havia licença para exportar, ilicitamente, o dinheiro do contribuinte para paraísos fiscais.




2 - Em 2010, as manchetes dos jornais lusos apontavam que os quatro maiores bancos privados portugueses - BCP, BES, BPI e Santander Totta - lucravam, só nos três primeiros meses do ano, 391,7 milhões de euros, o que equivalia a 4,35 milhões de euros por dia.

De repente, este lucro desaparece, como por magia. 


Os banqueiros começam a gritar que estão na "miséria", que era preciso obter dinheiro para a sua capitalização, caso contrário seria o caos no país. 


Queriam dinheiro fresco, sem juros, e, começavam a exigir contenções salariais, diminuição das prestações sociais, mudanças na legislação laboral, entre outros roubos em perspectiva.


Em Dezembro de 2011, uma reportagem do jornal I, referia, com todas as letras, que "todos os dias são transferidos, em média, mais de 5,4 milhões de euros para paraísos fiscais".


E continuava: "De acordo com dados do Banco de Portugal, de Janeiro a Outubro, saíram de Portugal 1.647 milhões de euros com destino a off-shores. Este montante, apesar de em linha com valores de 2010, contribui para a forte descapitalização do país, sobretudo se somado ao investimento directo de Portugal no exterior, que aumentou 74 %, para 9.505 milhões de euros. No total, a saída de capitais eleva-se, até ao final de Outubro, a mais de 11.152 milhões de euros".


E um pouco mais à frente: "Segundo as estatísticas do Banco de Portugal, o investimento de Portugal no exterior representava em Setembro 30,6 % do PIB, enquanto o investimento de carteira ascendia a 72,9% da riqueza nacional". 


"Número de empresas e particulares a procurar regimes fiscais mais favoráveis que o português reflecte a actual conjuntura (comentário meu, a crise é provocada pela fuga de capitais). A manter-se este ano (2011) o ranking elaborado pelo Fundo Monetário Internacional em 2010, o paraíso fiscal *eleito* pelos portugueses (os graúdos, naturalmente!!!) são as Ilhas Caimão. A escolha foi confirmada, recentemente, com a notícia de que o banco estatal (CGD, vejam bem...)está a transferir as contas da zona franca da Madeira para as Ilhas Caimão. O fim da isenção de IRC para operações com não residentes, do imposto sobre juros e do imposto do selo - os principais atractivos  da zona franca da Madeira - está a levar os bancos portugueses, como CGD, BCP e BES, a procurar outras praças para gerir as relações com os clientes fora de Portugal". 


Além das Caimão, a fuga de capitais, segundo o I, tem como principal destino as IlhasVirgens Britânicas, as Antilhas Holandesas, Guernsey e Bermudas. 

Noutro local, aquele jornal, citando o economista Eugénio Rosa, que não foi desmentido, assinala que, entre 2000 e 2010 "foram transferidos para o estrangeiro mais de 147 mil milhões de euros, causando a descapitalização do país". (ou seja, em termos terra a terra, a origem da crise financeira). 

Ainda citando Rosa, daquele montante, 71 %% dos rendimentos transferidos (quase 105 mil milhões) resultaram de "investimentos de carteira e de outros investimentos" que, na sua maioria, "não criaram qualquer riqueza em Portugal, limitando-se a apropriar-se de riqueza interna criada por outros, transferindo-a depois para o estrangeiros, e muitos deles sem pagar qualquer imposto ao Estado, uma vez que estes rendimentos de não residentes estão isentos de impostos".

Quem foram os "lucradores" do dinheiro alheio?:

 "Todas estas transferências beneficiaram grandes grupos económicos e financeiros".

3 - Apontado, em Dezembro, a dedo e um *réu* confesso: Ricardo Espírito Santo Salgado. Capitalista financeiro desclassificado. Presidente do grupo BES.

O semanário Sol, de 21 de Dezembro, titulava em letras garrafais vermelhas: "Milhões lá fora".

E afirmava Ricardo Salgado teve vários milhões depositados através da Akoya, em nome pessoal (sublinhando meu), mas pagou voluntariamente os impostos e rectificou o IRS, pelo que não foi constituído arguido no processo Monte Branco. 

Fugiu com dinheiro, recebeu brutos juros lá fora, foi apanhado com as calças na mão por um crime cometido (roubou dinheiro do sistema bancário e colocou-o em seu nome), fez regressar o dinheiro sem o perder, pagou meia dúzia de milhares de euros de impostos. 

E tudo ficou com dantes, quartel general em Abrantes. 

Continua a ser banqueiro e a fazer as mesmas patifarias...

Isto só mostra uma coisa, que nunca é de mais repisar: o actual sistema político saído do golpe de Estado de 25 de Novembro de 1975, e, no caso presente, de maneira visível e miserável, o actual governo PSD/CDS, da dupla Passos Coelho/Paulo Portas está nas mãos da alta burguesia financeira.

E essa dependência, que foi efectuada quando se deu rédea solta, aos financeiros mais rapaces e desclassificados, levou aqueles a jogar com a própria fuga de capitais para sacar sempre e sempre mais dinheiro à custa do erário público. (Ulrich, despudoradamente, afirma a plena pulmões: "O país aguenta mais austeridade, pois aguenta, aguenta..."

E este erário público são os contribuintes que não podem fugir ao fisco. Os seja, todos os dependentes: classes trabalhadoras e profissões afins.



Os financeiros obrigam o Estado, através do governo a transformar a dívida privada em dívida pública, o que produz, na prática, mais endividamento do Estado, pois os banqueiros vão buscar aos Bancos Centrais, europeu, no caso da União Europeia, norte-americano, no caso dos Estados Unidos, mais dinheiro. Bancos Centrais esses, que, curiosamente, são bancos privados.

Ora, os Bancos Centrais emprestam aos bancos nacionais a custo zero ou quase, e os bancos privados especulam, depois, com empréstimos ao Estado ou a empresas descapitalizadas, e até a particulares, a juros exorbitantes.

Ou seja, a dívida pública tornou-se (e continua a tornar-se) em principal fonte de enriquecimento dos banqueiros. 

Descaradamente, sem qualquer punição. 

É um crime de lesa pátria. 

E um crime desta natureza merece uma punição exemplar, sem remissão.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

QUEM PAGA A "CARIDADE" DAS MISERICÓRDIAS?



1 - Os abutres da hierarquia da Igreja Católica portuguesa "salivam" de contentamento com a crise. 

No passado dia 16, Manuel Lemos, presidente da União das Misericórdias Portuguesa (uma entidade pertença da Igreja Católica), saltitava de contente, com a situação de pobreza, porque - segundo esse douto caridoso "enquanto existirem misericórdias não há razão para haver fome em Portugal".

Basta, segundo o piedoso católico, ir de braços caídos chafurdar nas gamelas das ditas.

Mas quem paga estas "mãos largas"? O Estado, ou seja o contribuinte. 

Lemos tem a lata de afirmar que se for preciso mais dinheiro para os bolsos das Misericórdias o governo tem guardado mais 58 milhões de contos para reforçar "a sopa dos pobres".

"Quem quiser e estiver em condições e precisar(...)pode ir a uma misericórdia de Portugal e a muitas IPSS (instituições particulares de solidarieddae social), onde de certeza terão o que comer", vomitou Lemos.

É esta indignidade que deveria fazer com que a Igreja Católica fosse levada à alçada da Justiça, para determinar para onde vão esses dinheiros, se os tempos políticos fossem outros.

2- Meses atrás, estes abutres gritavam a plenos pulmões, vindo para os órgãos de comunicação social, que estavam em vias de fechar muitas desses "antros" de caridade de sacar dinheiro à custa do contribuinte, porque o Estado - ou seja o governo - não lhe enchia às mãos de dinheiro.

Falavam então de pobreza, e ameaçavam que seria os coveiros dos casos de conflitualidade, se não houvesse "comparticipações" suficientes para os cofres da Igreja Católica.

O representante desta no Ministério da Solidariedade, o actual ministro Pedro Mota Soares, fez-lhe a vontade.

E depois o padre católico Lino Maia, presidente da Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade Social, eufórico, proclamou aos "crentes": não só não vai haver cortes (nos apoios estatais), como vai haver um reforço, ainda que curto, das comparticipações do Estado às Misericórdias, Mutualidades e Institutições de Solidariedade Social (IPSS), que estão, em mais de 95 % na posse das estruturas da IC.

"Muito embora estejamos num momento de acentuada crise, com cortes sucessivos por vários razões, este protocolo não prevê cortes até haver alguma valorização na comparticipação por parte do Estado às instituições. É pequena, mas é um sinal muito positivo", regozijou-se o sacerdote da Santa Madre Igreja Católica.

E certamente, como bom samaritano, pensou com os seus botões: "venha a nós o vosso reino".




3 - Vamos aos números e ao esbulho que o Estado (Orçamento da Segurança Social) faz ao retirar o dinheiro dos salários para o entregar à Igreja Católica, com o argumentação de "caridade" e "solidariedade" em 2013.

a) Transferência em conta corrente estatal para "as instituições sem fins lucrativos" - 1.450.415.630 euros 

b) Subsidios estatais para "as instituições sem fins lucrativos"                                   - 480.611.105 euros

c) Transferências de capitais para "instituições sem fins lucrativos"                            -   77.741.689 euros

Em 2012

a)  transferência corrente                                                                                        - 1.580.700.865,00

b) subsídios                                                                                                             - 384.169.127,00

c)  capitais                                                                                                       - 95.139.328,00


Convém referir e repisar que toda esta rede de "instituições privadas de solidariedade nacional", além dos dinheiros do Estado, ainda sacam, mensalmente, parte das pensões dos utentes (valor que pode atingir 80 por cento do valor recebido).

Ou seja, na prática um duplo pagamento. Do Estado e do utente.

E o valor individual que a Segurança Social paga por idoso que está entregue a um Lar da Santa Casa da Misericórdia ascende, actualmente, a cerca de 700 euros.

Segundo dados da própria União das Misericórdias, em 2009, havia cerca de 50 mil idosos em lares, centros de dia ou com apoio domiciliário.

Além do mais, como estruturas privadas, pagas com dinheiro público na sua criação, as Misericórdias - segundo dados da União citada - têm, na sua posse, 105 unidades de cuidados continuados. Ou seja hospitais de retaguarda.

A finalizar, deve-se referir que um número elevado recebe uma parte muito significativa de produtos alimentares grátis da recolha, através de Bancos Alimentares e outros semelhantes, também elas entidades da Igreja Católica.

Em nome de Deus, a hierarquia - e os seus acólitos leigos - suga muito dinheiro ao contribuinte português, sustentando que o faz por "caridade".

Claro que estas divulgações podem ferir muitas piedosas consciências, argumentando que estão a caluniar quem presta assistência às populações desfavorecidas. 

É verdade que prestam um serviço, mas fazem-no, não por solidariedade, mas para arregimentar dinheiro.

As populações não precisam de "caridade", necessitam sim de uma distribuição de riqueza através da sua participação na economia do país. 

E a missão do Estado é evitar a "parasitagem" formulada sob o manto diáfano de uma "solidariedade" de aves de rapina deste calibre.

A Igreja Católica vive à custa do Estado, e isso é que tem de acabar.








terça-feira, 18 de dezembro de 2012

NARRATIVAS DA INFÂNCIA DE CRISTO SÃO HISTÓRIA INTERPRETADA- BENTO XVI



1 - O Papa Católico Apostólico Romano, o alemão Joseph Ratzinger, que se veste de Bento XVI, no seu ritual de Chefe de Estado da Santa Sé e de bispo de Roma, na sua profissão de fé, decidiu, na sua corporização humana, discorrer, em escrita vulgar, naturalmente não etérea, sob o dogmas da Igreja de que é Sumo Pontífice (Pontifex Maximus, copiado do expoente religioso dos antigos imperadores romanos) para expor, em livro, logo em meros estratagemas terrenos, a sua versão da vivência de Cristo, como o título " Jesus de Nazaré - A infância de Jesus".

(Deixemos de lado, este repetitivo de títulos - Jesus, coisas de somenos importância na literacia actual!).


O que assinala, então, de relevante o Sumo Pontífice da Igreja Católica Romana: que "as narrativas da infância (de Jesus Cristo) são história interpretada, a partir da interpretação, escrita e condensada".


Sem qualquer metáfora, o Papa Ratzinger reconhece que os escritos sobre o cristianismo (e a história da criação da figura de Jesus Cristo é o início, preciso, da modelação dessa confissão religiosa) foram obras de seres terrenos, que interpretaram, à sua maneira, um evento que pretendiam divulgar.


Pode Ratzinger, "remexer depois na caldeirada", sustentando que "entre a palavra de Deus e a história interpretadora há uma relação recíproca: a palavra de Deus ensina que os eventos contêm *história da salvação*, que diz respeito a todos", mas o que ele admite, para a racionalidade histórica, que é essa que interessa, pois é a única que é objecto da Ciência, é que a narrativa dos começos dessa doutrina não tem, justamente, uma... base histórica.


Cito: "Eu não vejo como se possa aduzir, em apoio de tal teoria (nascimento de Jesus em Nazaré,ndr) fontes verdadeiras. De facto, a propósito do nascimento de Jesus, não temos outras fontes além das narrativas da infância de Mateus e Lucas. Vê-se que os dois dependem de representantes de tradições muito diferentes; são influenciados (sublinhado meu) por perspectivas teológicas diferentes, e, inclusive as suas informações históricas divergem parcialmente". (Bento XVI, "Jeus de Nazaré - A Infância de Jesus" - Principia Editora, 2012)




As figuras de Cristo mudaram conforme as épocas e as tradições. Tudo obra de homens....

2 -  Quando Bento XVI refere que as narrativas de Mateus e Lucas, dois dos chamados Evangelistas - e são os Evangelhos os únicos textos, juntamente com os Actos dos Apóstolos e o Apocalipse que falam e descrevem algo da vida do eventual fundador da doutrina - representam "tradições muito diferentes", está a dizer que as transcrições que fazem são produtos de relatos de outros, logo já os receberam em segunda ou terceira mão. 


Ou seja, não reproduzem na sua escrita, documental e presencialmente, a vivência de Jesus Cristo.


Do Evangelho de Lucas, logo no início aquele sublinha: 


"Escreveram-se já várias narrativas sobre Cristo, em que se usaram, como informação principal, relatos que circulam entre nós e que nos foram feitos pelos primeiros discípulos e por outras testemunhas, que viram o que aconteceu. Pareceu-me, contudo, que seria bom verificar todos esses relatos, dos mais antigos aos mais recentes (sublinhado meu), e, após um exame completo, dar-te este resumo desses factos que aconteceram no nosso meio, para fortalecer a tua confiança de tudo o que foi ensinado". 


E, entrando na sua versão, Lucas apresenta dois casos de nascimento por intervenção do anjo Gabriel, um filho "endeusado" que nascerá, por obra e graça, e será pertença de um casal já velho, o homem de nome Zacarias e a mulher de nome Isabel, ele "sacerdote judaico, e os dois observavam - segundo o autor, embora de outra confissão religiosa - "todas as leis de Deus". Não tinham filhos. 


Esta criança nascida "por via divina", é transformado num João "pregador do Deus glorioso", porque - interpreta - irá preparar "o caminho para o Messias, o seu Enviado".


Ficamos a saber, logo depois que o anjo Gabriel, um mês depois, transmitia a Maria, que era prima de Isabel (cito o evangelista), que iria engravidar virgem, e a criança se chamaria Jesus e seria "o Filho de Deus eterno. O Senhor lhe dará o trono do seu antepassado, o rei David. Reinará sobre Israel para sempre; o seu reino jamais terá fim".


Como se pode verificar do que Lucas escreve, existem muitas relatos biográficos de uma figura que chamam Jesus Cristo, umas muito antigas, outros mais recentes, que são divergentes e que criam confusão nos apaniguados. Preconiza então uma formatação para dar confiança ao que estava a ser "ensinado".


Em termos práticos, era necessário unificar doutrina, pois as pessoas do tempo do Evangelho de Lucas não assistiram a nada que tivesse convivido com Cristo, nem estavam a aceitar, de bom grado,    as narrativas que lhe estavam a transmitir.



3 -  Os Evangelhos - Lucas reconhece e Ratzinger, dois mil anos depois, dá a mão à palmatória - não são provas testemunhais directas da existência dessa personalidade que ficou, mais tarde, conhecida como Jesus Cristo. 


A única razão dessa aceitação dessa existência é a crença, a fé. Ponto final.


Quando se tenta investigar em documentos coevos a figura histórica daquele, que os Evangelhos assinalam que teve uma importância enorme, em vida, no espaço geográfico, pelo menos da antiga Palestina, a situação complica-se de tal modo, pois não existe um único texto que permita referenciar sem hesitações a sua existência real. 


Quer da parte de apologistas ou discípulos de Cristo que com ele, eventualmente, tivessem convivido, quer da parte das diferentes entidades, desde Romanos ocupantes até às diferentes autoridades civis e religiosas das várias confissões que habitaram, ao mesmo tempo, o território, desde a Judeia, Samaria e Galileia, por onde Cristo se movimentara, nada ficou registado, nem na escrita, nem na arqueologia. Até agora. 


Estranho, pois os evangelistas e apologistas dos primeiros séculos do cristianismo ressaltam que Jesus Cristo era acompanhado de multidões nas suas movimentações e pregações e que, logo, nos primeiros anos da sua passagem pela terra, já eram às centenas de milhares os seus seguidores. E, tais factos, nunca foram registados na época por ninguém!!!. 


Ratzinger, como Papa, procura com este texto minimizar os documentos, entretanto, descobertos recentemente, também eles Evangelhos, pertencentes, no geral a épocas idênticas de concepção dos Evangelhos, considerados canónicos, a partir do Concílio de Niceia (325), justamente num altura que o Imperador romano, tornava o cristianismo em ascensão como religião oficial de Estado.


Com estes textos, o Papa Romano procura fazer obscurecer, do ponto de vista religioso, o manancial de documentação real, que uma outra versão do cristianismo. Desde as relações carnais de Jesus Cristo até ao papel ignaro que desempenhavam os próprios apóstolos, que, aliás, se apresentam diferenciados nos próprios Evangelhos canónicos.


4 - Ora, a descoberta destes documentos, que apenas sabíamos que existiam pela critica demolidora que os hierarcas burocratas dos princípios da nova religião oficial, lhe faziam, vem colocar, em primeiro plano, precisamente, a razão real do seu desaparecimento.


O bispo Eusébio, um fanático da religião cristã de Estado, no século IV, na sua História Eleciástica, admite que o facto de Jesus Cristo ter sido elevado a "divindade" trouxe "em cada país" discussões e polémicas que enquadraram "um grande número de pessoas estrangeiras de terras distantes da Judeia".




Todavia, toda esta discussão não foi transferida para escritos e documentos. Sabemos agora que existiram. 

O que pressupõe que o seu desaparecimento, logo nos primeiros séculos da oficialização da nova doutrina, se devolveu a uma perseguição organizada e profunda. 


A Igreja Católica actuou com sinistra actividade censória, que ia até à própria morte de todos aqueles que se opunham à versão oficial. 





sábado, 15 de dezembro de 2012

PCP:O QUE È UMA DEMOCRACIA AVANÇADA?









1 - O PCP efectuou, recentemente, princípios de Dezembro, o seu XIX Congresso, e única novidade ideológica e política deste partido  nesta sua assembleia magna, foi uma alteração ao seu programa, que passa a denominar-se por "uma democracia avançada - Os valores de Abril no futuro de Portugal".

Mas afinal o que diferencia, programaticamente, o PCP, dos restantes partidos ditos de esquerda, o Partido Socialista (PS)  e Bloco de Esquerda (BE), se todos defendem a democracia?

Referiu o PCP na justificação às alterações programáticas que elas visaram apenas "actualizar e enriquecer" o seu programa, que aprovado em 1992, se intitulava "Portugal: uma democracia avançada no limitar do século XXI".

"O processo contra-revolucionário - em desenvolvimento - e o processo de integração na União Europeia interligados, conduziram a uma situação marcada pelo domínio dos grupos monopolistas, associados e dependentes do capital estrangeiro, pela actuação do processo de perversão do regime democrático e por um elevado grau de comprometimento de soberania e independência nacionais", lê-se na argumentação da proposta aprovada.

Afinal que traz de novidade esta modificação? Nenhuma. 

O PCP, tal como o PS e o BE, afirmam-se vinculados ao actual sistema político-parlamentar, preconizando uma vaga e inócua "democracia avançada", que não representa nada mais, nada menos, que uma submissão ao parlamentarismo institucionalizado.

Existe um círculo que inter-une  os três partidos ditos da esquerda, que estão colados, como lapas, à dinâmica do poder concentrado no actual parlamento, fazendo fica-pé nas suas vagas "suas características próprias", mas nada apresentam sobre quanto à organização e luta pelo poder revolucionário num território mais amplo, que é o seu, chamado União Europeia, que é o campo próprio em convulsão de partidos e formações que se dizem defensoras, no caso em concreto actual, dos interesses das classes trabalhadoras. 

Mas, que afinal não demonstram capacidade de formular um acordo minimamente programático de política internacional.

2 - O PCP assinala no seu programa, de maneira evidente, uma orientação, nitidamente conservadora e retrógrada, que é a sua "preocupação" pelo "comprometimento da soberania e independência nacional", como se fosse esse o ponto fulcral de um partido se proclama internacionalista.

(Claro que não é uma novidade no PCP, ao longo da sua história, praticamente, desde a sua fundação em 1921, depois nos anos da II Grande Guerra, e, de maneira evidente, quando começa a guerra colonial colonial, em que o  primeiro pomo de discórdia surgido no então seu secretariado foi justamente o "carácter nacionalista" daquele partido face às formações guerrilheiras que emergiram em África na luta contra o colonialismo português, daí surgindo a maior cisão da sua História, que deu lugar à extrema-esquerda).


Este projecto constante do PCP conduzido para enquadrar o movimento social das classes trabalhadoras nas "baias" do nacionalismo, não é típico de Portugal, é uma distorção embutida em todos os dirigentes, que ainda resistem na arena internacional, na senda dos antigos partidos, ligados ao "internacionalismo proletário" submisso à antiga União Soviética, cujo expoente máximo hoje conhecido é o KKE grego.

É uma evidência que para se forjar uma força organizada de luta política revolucionária, as classes trabalhadoras têm de se organizar, com os seus interesses próprios classistas, em primeiro, nos Estados nacionais. 

Mas isto não pode significar um fim em si - é, essencialmente, formal. 

A estrutura produtiva de Portugal - o seu conteúdo, na realidade - está ligado e interligado, em primeiro lugar, à União Europeia.

Logo, quer pela natureza dos laços multinacionais que interligam as suas relações de produção, quer pela super-estrutura mais poderosa, que é dada pela política, formando a União Europeia, do ponto de vista político, a acção revolucionária das classes trabalhadoras tem de ser supranacional, neste caso no interior da UE, mas indo mais longe, impulsionando a luta internacional.

Daqueles três partidos, ditos de esquerda, do arco constitucional parlamentar português, o PCP é aquele que mais reacção apresenta a uma visão além-fronteiras: o PS, como partido liberal burguês pró-imperialista é adepto da internacionalização comercial, o BE, que se atem à democracia parlamentar, vê, no entanto, a importância do monetarismo europeu, como expansão do próprio comércio e da produção desenvolvementista. Mas, fica-se pela sua curta visão da política: a chamada "mais democracia" enroscada na legalidade existente.

O que falta é a visão, em todos em esses partidos, ou em militantes e dirigentes que nele se enquadram, de um novo programa internacionalista que consiga unificar as lutas radicais e, por vezes revolucionárias, que estão a surgir um pouco por toda a parte.

Os partidos actuais da chamada esquerda portuguesa puseram de lado, definitivamente, o internacionalismo.



3 - O PCP viveu toda a sua histórica debaixo das concepções ideológicas e políticas formuladas pelo stalinismo. 

Desde o seu programa geral até as reviravoltas tácticas (e estratégicas) formuladas ao longo dos anos, desde 1923 até 1992, estiveram sempre ditadas pelo poder político de Moscovo. 

Ou seja o poder moldado por Josep Stáline e os que foram o seu suporte e organizativo ate 1953, e, posteriormente, na manutenção moribunda da URSS até 1991.

Quando se constituiu, oficialmente, em 1921, somente realizou o seu primeiro Congresso em 1923, sendo eleito seu secretário-geral José Carlos Rates, que preconizou ao Congresso a "venda" das colónias portuguesas a outras potências estrangeiras, desprezando, precisamente, um dos aspectos mais progressistas defendidos pela Revolução Russa de 1917: a emancipação dos povos oprimidos, que foi o "elo" ideológico que veio dar consistência à formação da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). 

Teve de ser um delegado da III Internacional, presente naquele Congresso, a impor de fora - a frase é essa - a retirada de tal anúncio e a fazer subscrever a sustentação programática.

Durante a II Grande Guerra, o PCP, em 1943, defendeu no seu I Congresso Ilegal "A Unidade da Nação Portuguesa na luta pelo Pão, pela Liberdade e pela Independência", englobando a Nação, desde o Minho a Timor. 

Em 1946, quando se desenvolviam já as lutas pelas independências dos territórios ocupados, no seu II Congresso Ilegal, preconizava no seu informe político, aprovado, que a luta política se fazia sob o lema "Unidade da Nação para a conquista da Democracia". 

A mudança de orientação somente se dá quando se inicia a ruptura visível, nos pós-guerra, entre a antiga URSS e os EUA, e de maneira evidente quando estalam, nos inícios dos anos 60, as divergências ideológicas entre a ex-União Soviética e a China maoista. 

Com o desaparecimento da União Soviética, e com o total descrédito da sua sucessão na República Popular da China, as análises desapaixonadas devem ter lugar agora, repensar todo o movimento revolucionário que percorreu o mundo sem ter, até agora, um novo tipo de poder emergido no Mundo.

-  Quando se efectua o primeiro Congresso do PCP, em 1923, a antiga URSS estava mergulhada numa grande guerra civil, o programa inicial do PCUS, que o levara ao poder estava a ser abandonado progressivamente, tendo o Conselho de Comissariados do Povo (o executivo central do novo poder), optado, em 1922, pelo que ficou celebrizado como NEP (a Nova Política Económica), que permitiu a reintrodução dos princípios de gestão capitalista liberal, nomeadamente no comércio interno, na diferenciação salarial, e na abertura de empresas privadas.

E, principalmente, o impacto de uma revolução a Ocidente se tinha gorado, com a jugulação da Revolução alemã de 1918-19 e a destruição da Revolução Húngara de 1919, que isolou, na pratica, um verdadeiro progresso revolucionário, primeiro, na nova República Soviética, depois, provável e simultaneamente, em toda a Europa.




O que trouxe, no imediato, a Revolução Russa de 1917 foi um despertar e um ânimo revolucionário em todo o mundo, que levou para programas políticos consignas que ficaram, durante dezenas de anos, como bandeiras que levar a conquistas sociais duradouras, como a jornada de 48 horas, as melhorias das condições de trabalho, as reivindicações de trabalho igual, salário igual, tratamento igual para os trabalhadores, dependente dos sexos, contra o trabalho infantil, eleições de conselhos ou comissões de trabalhadores, controlo operário, entre outros.

Mas, no interior da própria URSS, esta estagnação do progresso revolucionário (convém sublinhar que o principal líder da Revolução Soviética Russa, Vladimir Lénin definiu, desde o início, que o novo poder político estava forjado sob a forma de Capitalismo de Estado, que dominava então a nova sociedade...e que nunca foi ultrapassado!!!) fazia vaguear as diferentes facções de dirigentes, que se degladiavam até 1924, ano da morte de Ulianov, doente desde 1922, sob rumos contraditórios.

Era o reverso da medalha, no interior de uma poderosa revolução, onde estava a germinar uma terrível contra-revolução, que era amadurecida e estimulada por dados contraditórios, subversivamente organizada e alicerçada sob os escombros e pseudo-programas socialistas e comunistas. 

Daí, o seu lado trágico, difícil de denunciar e obscurecido propositadamente para não se poder analisar o intrincado da sua contra-subversão, nem refazer uma análise sob os auspícios de Karl Marx e Frederico Engels, que fizesse renascer e amadurecimento de um novo levantamento revolucionário.  
  
A seguir à morte de Lénin, a orientação estratégica da classe dirigente que se instalava, ditatorialmente, em Moscovo, colocou o tema principal da acção política diária, na possibilidade de instalar "o socialismo num só país", (Stáline tem, logo após a morte de Lénin,  um debate agressivo, demolidor contra Trotsky, em Novembro de 1924, numa sessão preliminar do Conselho Central de Sindicatos), consigna que aquele fez ser aceite em todas as secções da III Internacional, ou seja os partidos considerados "irmãos". 

Como enquadramento ideológico, inventou a teoria do "marxismo-leninismo", como movimento inovador do pensamento de Marx e Engels, e tornou como dogma de "praxis" política a aplicação da "aliança operário-camponesa". 

Que uma dezenas de anos depois, transformou como modelo de governo, nas chamadas "democracias populares", provenientes das "frentes anti-fascistas". 

E foi este modelo, na versão stalinista, que prevaleceu desde a luta anti-hitleriana até à vitória na II Grande Guerra e a criação dos novos Estados na chamada órbita soviética, com especial relevância para a Bulgária, Roménia, Hungria e Jugoslávia, Checoslováquia e Polónia.

4 - Então surgirá a inquirição: como foi possível manter, como dominante, este sistema  obscurantista e manipulador durante tantas dezenas de anos?



A transformação de uma revolução, como a que teve lugar na Rússia czarista em 1917, em contra-revolução, não se efectuou, de repente, nem teve a particularidade de fazer reviver, com a sua fase contra-revolucionária, o reaparecimento dos poderes monárquicos que estavam antes instalados. 

(Tem de se referir, e até salientar, que foi efectuado um esforço monstruoso da Revolução, que ainda não estava assente no terreno, na derrota de uma intromissão poderosa externa do Ocidente, - Inglaterra, França, Japão e Estados Unidos) e o destroçar completo das chamadas tropas pró-czaristas - ex-generais e almirantes, cadetes -, o chamado Exército Branco, que durou desde 1918 a 1921).

Ora, esta contenção de uma Revolução foi efectuada por homens, que estiveram na frente da batalha em Outubro de 1917, e, apesar dos retrocessos ideológicos, políticos e sociais que se manifestavam,    esses líderes continuavam a apregoar, em palavras, os ideais de uma nova sociedade.

Além do mais, a devastação económica provocada no interior do território que agora se tornara União Soviética foi, em parte, reorganizada pelo novo poder, que apostou na industrialização, e, em certa medida, no fomento de um novo tipo de agricultura, e lançou campanhas de enorme alcance de educação e ensino.

O facto de a Europa, e, em parte os Estados Unidos, serem percorridos por um surto de poder ditatorial do capital financeiro e industrial mais desclassificado, obrigou as forças políticas avançadas a embrenhar-se numa luta sem tréguas contra as hordas nazi-fascistas que ganhavam, progressivamente, o poder político. 

Quando se começava a criticar, mesmo dentro dos partidos comunistas ocidentais, certos aspectos da evolução da Revolução Russa para os trilhos de contra-revolução, na agudização da luta de classes não existiu, portanto, um intervalo de acalmia que pudesse permitir, serenamente, a análise das causas que, por um lado, impulsionaram uma Revolução com um programa socialista num país plenamente impregnado de resquícios feudais, relações sociais nitidamente imaturas para avanços civilizacionais que, naquele momento, ultrapassavam a capacidade de entrar em aprofundamentos mais profundos os conflitos classistas que, superficialmente, estavam em marcha.

A questão não envolvia, portanto, este ou aquele dirigente em conflito aberto com outro. 

A análise e o estudo que deveria ter sido feito era o estado real da Rússia quando a guerra civil terminou, e como se comportavam, realmente, as diferentes classes, em especial os camponeses, que estiveram na projecção da Revolução em 1917.

O regresso daqueles aos campos foi feito, numa dupla mestiçagem de sentimentos: entre o progresso e o retrocesso. 

Muitos entraram numa dinâmica de proprietários, vinculados ao velho feudalismo agrário. O campesinato começou a refrear o espírito revolucionário. Era necessário sobreviver.

O capitalismo de Estado russo, que pensava ir impulsionar o progresso revolucionário, estava a ser tragado pela imensa mole camponesa que desejava controlar "os seus produtos" e "as suas míseras propriedades".

O novo poder com Lénin fez-lhe concessões, que nada resolveram no essencial, os que lhe sucederam optaram, pela repressão aberta, e pela chamada "colectivização forçada". 

Por seu lado, enquanto isto sucedia na ex-URSS, as burguesias dos Estados Unidos, França, Inglaterra, e mesmo da Alemanha, manifestavam-se numa fase evolucionista mais avançada. 

Registava-se um rápido avanço da produção capitalista, e, o feudalismo, na prática, já não causava, nelas, complicações de monta. Nesses países começava a emergir uma classe média, já pujante e eficaz, que se concentrava nas grandes urbes.

Ora, esta evolução societária na Europa e nos EUA também tem repercussões na estrutura das próprias classes trabalhadoras ocidentais, cujas reivindicações, por vezes, mais avançadas do que na própria ex-US, trazem contradições com a orientação pró-soviética da IC.

Os Partidos Comunistas ocidentais vão sofrer abalos conflituosos com as orientações de Moscovo, que se reflectem em cisões e, muitas vezes, em desmoralizações enormes, que se repercutem na própria luta contra o avanço nazi-fascista. 

Claro que o PCP sofreu dos mesmos males, nunca resolvidos, correctamente, por uma crítica serena e profunda.

- Temos de considerar, taxativamente, como o poder dominante capitalista sustenta, que o que capitulou com a destruição da URSS e o seu seu definhamento, a sua entrada num caminho contra-revolucionário, significou, pura e simplesmente, a derrota da Revolução Socialista?

Não.

Quer da experiência histórica, que se seguiu à Revolução russa, quer todo o trajecto posterior, mesmo quando a "crença" numa Rússia Socialista se esboroara, quase completamente, a partir dos anos 60 do século passado, quer pelas transformações económicas e sociais, que levam os próprios defensores do capitalismo, a afirmar que esgotou "o seu tempo", o que "se estilhaçou" não foi o caminho da revolução, mas todos os restos de outros sistemas sociais que entravavam o rumo socialista da sociedade.

O que foi ficou para trás foi um determinado período histórico, digamos pré-revolucionário, que tinha muito de voluntarista na sua argumentação teórica e ideológica, e que uma nova fase revolucionária, de carácter mais avançada, somente surgirá com uma crise económica de maior envergadura, que atinja países que nunca foram percorridos nas suas entranhas por convulsões revolucionárias, como os Estados Unidos, a Índia e a própria China.

Este passado, recente, de várias dezenas de anos, dizem-nos que se tem de refazer todos os conceitos programáticos, e que os projectos revolucionários têm de ser assentes em orientações multinacionais.

As revoluções, a partir de agora, não podem ser revoluções de minorias, mas de massas populares laboriosas e assente na estrutura de poder de baixo para cima, eleito, controlado e revogado a qualquer momento. 

Não podem existirem, pura e simplesmente, governo executivos centrais e secretariados partidários, ditos revolucionários, que tudo decidem e impõem, sem haver uma disposição popular para o fazer.

O desenvolvimento capitalista hoje está numa encruzilhada da sua própria destruição. O contrato que criou para se estabelecer no mundo está, nos nossos, dias a ser trucidado por si próprio. E nós também temos essa percepção. Temos, pois, o direito de o fazer desaparecer da História.

Por muitas derrotas que as revoluções tivessem sofrido nos últimos 150 anos, uma nova empresa revolucionária está a colocar-se em marcha. Os tempos estão a mudar. Naturalmente, não sabemos como irá ser esse caminho. O que é certo é que o trilho está minado e existem sementes que começam a irromper.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

EUA: AS MUDANÇAS DE DINHEIRO MODIFICAM AS ALIANÇAS






1 - Um dos mais badalados generais dos Estados Unidos, de seu nome David Petraeus, que, após a passagem à reserva, em 2011, assumira o cargo de director da CIA (o Departamento dos Serviços Secretos norte-americanos), demitiu-se, inesperadamente, argumentando que tivera um caso amorosos com uma senhora tenente-coronel do Exército dos Estados na reserva, Paula Broadwell, mas ligada, ela própria, aos mesmos serviços secretos.



Os comentaristas de serviço e os  jornalistas de algibeira internacionais e nacionais ampliaram, quais vozes do dono, a versão oficial transmitida para a imprensa, como se um simples caso de "alcova" pudesse deitar abaixo um dos mais proeminentes político-militares dos EUA, que, foi comandante-em chefe das Forças norte-americanas no Iraque e Afeganistão, donde saiu com a auréola de vitorioso entre a elite dirigente do seu país, o que não corresponde minimamente à verdade, mas retirou lições que expôs pondo em causa a política de alianças do seu país no Médio-Oriente. EM CAUSA, justamente a subserviência da administração norte-americana face ao belicismo israelita.



Por tabela, e, curiosamente, ao mesmo tempo, os "problemas amorosos" vêem a atingir um outro destacado general, John Allen, que sucedeu no cargo de chefe militar no Afeganistão ao seu camarada Petraues, e estava indigitado para ocupar a função de comandante-chefe da NATO na Europa(claro com a indicação de Washington!). Na trama deste novo general surge uma nova mulher, de nome Jill Kelley, conhecida, também, de Petraues, mas que teria mantido uma correspondência de "carácter amoroso" com o outro seu camarada de armas.

Os jornais pretendem apresentá-la, apenas, como uma vulgar "socialite" da Florida, mas, na realidade, tem contactos estreitos com o Departamento de Estado e o Comando Conjunto de Operações Especiais (JSCOC), encarregado, justamente, das Operações Especiais, em Tampa, como responsável (não-renumerada, dizem os jornais) de relações públicas.

Paula Broadwell, com ligações entre o Departamento de Estado e o Pentágono, esteve como cadete de West Point, (hoje é tenente-coronel na reserva), a estagiar, durante meses em Israel, onde chegou a viver num kibutz.

O curioso é o facto de quem levantou a "lebre" foi um congressista profundamente ligado ao "lobby" israelita, Eric Cantor de seu nome, republicano, indefectível da candidatura presidencial de Mitt Romney, que teria recebido umas "dicas" de um mero agente subalterno do FBI (I Serviço de Segurança Interna dos Estados Unidos), como se um tal funcionário tivesse capacidade autónoma para "vasculhar" as comunicações do Director da CIA e do Comandante-Chefe das Forças multinacionais destacadas no Afeganistão! 



2- Tanto Petraues, como Allen, mas mais o primeiro, são generais de opereta, e o primeiro criou, à sua volta, um circo mediático, apresentando-se à imprensa, impecavelmente vestido à militar, com luzidias condecorações, mas poucas vitórias castrenses no seu "curricullum", fazendo lembrar, um pouco, o general Westmoreland no Vietname, e, posteriormente, o general Alexander Haig, na sua premeditada ascensão a uma alta carreira militar, mas balofa, para alcançar o cobiçado cargo de Secretário de Estado.

Ou seja, a versão caseira do falecido general Spínola. 

Mas, Petraues e Allen queriam colocar em causa a política imperial dos Estados Unidos no Médio-Oriente, e, acima de tudo, no mundo muçulmano? 

Claro que não: eles foram estrategas nos desaires sucessos castrense no Iraque e no Afeganistão, mas perceberam que a geo-política e os investimentos e circulação de capitais se diversificaram no Mundo e, em particular, no mundo muçulmano, onde os capitalistas islâmicos estão a adquirir um papel crescente na actual economia mundial. (só os Emirados Árabes Unidos teriam investido na UE e nos EUA nos últimos anos, mais de três biliões de dólares). 

Eles, os generais, são apologistas da intervenção directa e mesmo musculada no Médio-Oriente, mas sob novas alianças e a cumplicidade directa dos próprios regimes árabes e muçulmanos, incluindo os do Norte de África. 

E, Israel é, nos dias de hoje, uma fonte de problemas e não a solução que interessa, no futuro, ao Império. 

Para uma parte significativa da classe dirigente norte-americana, ciosa da sua hegemonia não partilhada, Israel  está a ser um sorvedouro de dinheiro e um "esqueleto no armário" que não serve as perspectivas estratégicas a novas saídas para o capitalismo decadente norte-americano. 

E entre um sector importante da estrutura dirigente militar norte-americana, Israel está a imiscuir-se demasiado nos "assuntos internos" do país. 

Que é, precisamente, o que aconteceu agora: o lobby judeu norte-americano, que obedece ao seu fanatismo religioso cego, que está concentrado numa frágil e mítica Terra Prometida, não está a perceber que está a ficar "cercado" dentro dos próprios Estados Unidos, e, então actua, à descarada, para inflectir a sua política interna. 

O visível desta cegueira está na actuação política de homens "pagos", como Cantor, Bernarke, Rahn Emanuel, entre centenas de outros, com os fundos do lobby judaico de Wall Street. 

Mas, por outro lado, judeus, que olham, essencialmente, para os movimentos dos negócios e lucros, através dos seus representantes, como Henry Kissinger (ex-secretário de Estado de Nixon) e Zbigniew Brzezinski (Conselheiro de Segurança Nacional de Carter) estão a avisar que se Israel seguir a actual orientação se desmembrará dentro de muitos poucos anos. 

3- Desde a última guerra entre Israel e o Líbano em 2006, cujos participantes principais foram, de um lado, as Forças de Defesa do Estado israelita, e do outro, os guerrilheiros do Hizbollah, e parte do Exército libanês,  guerra essa que durou 34 dias, verificou-se, no entanto, que o estado de organização e prontidão da estrutura castrense do primeiro, que iniciou, abertamente, as hostilidades, com uma barragem descomunal de artilharia pesada, ataques aéreos e bombardeamentos de unidades navais. sobre 40 localidades libanesas.

E tal verificação sucedeu quando as tropas de Israel avançaram Líbano dentro e tiveram contra-tempos que lhe advieram do facto da parte contrária comportar armamento sofisticado, que paralisaram e obstruíram uma aparente ocupação terrestre que parecia ser uma operação de abrir e fechar um olho para os israelitas.

A operação trouxe, por um lado, uma visão que horrorizou o mundo: destruição generalizada de infra-estruturas por todo o país dos Cedros, 900 mil deslocados e sem abrigo  libaneses, 1.200 mortos, também libaneses, entre civis, e, por outro, isto em Israel, pela primeira vez, um deslocamento forçado de 500 mil habitantes e um número elevado de mortos, principalmente soldados, como resposta do Hizbollah, que utilizou artilharia de longo alcance (misseis e katiucha), mas, essencialmente, armamento sofisticado contra tanques.

E uma realidade menos visível, mas muito real: o emprego da força armada por parte de Israel e o prolongamento dos combates custaram ao erário público um preço demasiado elevado em dinheiro.

E as Forças Armadas israelitas tiveram de recuar, sem conseguir nada de palpável. Sentiram o cheiro da derrota.  

(Naturalmente, esta questão foi muito ponderada no recente recuo da entrada em Gaza, com um Hamas que retaliou, fortemente, em todo o Israel. Como seria possível actuar em duas frentes, (a externa e a interna), atolado, certamente, numa terrível guerra em guerrilha em território palestiniano, e, provavelmente, com a beligerância activa o Hizbollah libanês?).

Desde essa altura, as relações de parceria e aliança sem qualquer contestação entre os EUA e Israel nunca mais foram as mesmas. 

Claro, que para a fotografia tudo corria às mil maravilhas, mas os relatórios "confidenciais" e "secretos" das agências de espionagem norte-americana e de estrategas castrenses sugeriam que Israel se estava a tornar um empecilho para as ambições imperiais dos Estados Unidos naquela região.

E este facto foi reforçado com a crise financeira que abalou o sistema norte-americano em 2007.

Tendo como base o início da chamada Intifada palestiniana, ano 2000, os gastos castrenses de Israel cresceram exponencialmente, sempre financiados pelo governo (reforço) norte-americano que canalizou, anualmente, uma média de nove mil milhões de dólares, teoricamente, destinados a fins civis, mas verificou-se que 50 por cento foram "desviados" para o chamado "reforço da segurança" e para o armamento.

(No Orçamento de Estado de Israel, 20 % são atribuídos ao Orçamento militar. Claro que o governo israelita fica dependente da "ajuda" norte-americana, que é de pagamento "suave", mas mesmo assim gastou, só em 2011, perto de quatro mil milhões de dólares em armas sofisticadas, desde F-16 norte-americanos, F-4E Phanton, f-15-Eagle, mas também helicópteros 57 Cobra Attack, Ay-Apache, bem como carros de combate. Claro que os norte-americanos, ao "serem generosos", estão a testar armamento e a receber uma parte substancial de retorno).

Tal como os EUA, Israel tem como objectivo quase único da sua sustentação como Estado a manutenção da sua estrutura militar, e isso está a "canibalizá-lo".

Aliado à sua cada vez mais política isolacionista entre os seus aliados ocidentais (principalmente europeus), a evolução dos seus inimigos próximos, hizbollah, palestinianos, sírios, iranianos, outros como os sunitas, estão a começar a dominar a vida política de Estados que lhe eram favoráveis, como o Egipto e Tunísia.

Israel está, pois, numa encruzilhada, até porque a actual administração norte-americana e os seus principais estrategas político e militares estão mais interessados em manter uma política de parceria (ainda que seja fugaz e dúplice) com a nova camada sunita que emerge em todo o mundo muçulmano.

Isto porque essa nova elite sunita está também no centro de uma movimentação de capital extraordinária.

(Foi o investimento de 7,5 mil milhões de dólares dos Emirados àrabes Unidos, em 2008, que salvaram, em parte, da falência o gigante falido dos EUA, chamado Citigroup).

Ora, os EUA não estão em posição de "hostilização" de capitais que começam a ombrear, na economia interna, com os judeus de Wall Street, desde os árabes até aos chineses, passando pelos indianos.

Não estarão, até os EUA, em conversações secretas com o Irão, que tem sido já o parceiro "cúmplice" para a pacificação do Iraque, e está a fazê-lo também no Afeganistão, sendo o elo intermediário com o clan do Presidente, Hamid Karzai?

É que a exploração das jazidas de petróleo e gás do Cáspio, além da Rússia, depende, também, e muito, das relações com o Irão.

Mas, acima de tudo, o militarismo norte-americano está a contribuir para o afundamento das finanças do país. 

E essa realidade está a vir ao de cima: as Forças Armadas e a política imperial de Washington custam um balúrdio de dinheiro e esse rumo, que até poderia ser benéfico, pois criação de armas pode trazer progresso científico e industrial, ou seja económico, tem o reverso da medalha, porque o essencial do dinheiro não está a provir, no país, da produção económica nacional. 

O mapa seguinte dá algumas indicações




Os Estados Unidos da América foram o centro, em 2007, de uma crise financeira, produto da especulação desenfreada e criminosa, que teve repercussões mundiais. Eles tentaram "exportar" essa crise para os seus próprios aliados, como a União Europeia, e, numa primeira fase conseguiram-no.

Mas, fizeram, com falcatruas evidentes, puseram em circulação forçada quantidades enormes de dinheiro, que não correspondia a uma evolução económica produtiva interna.

Agora têm de prestar contas. E falam em "colapso fiscal".

Todas as manigâncias vieram a fazer vir ao de cima que a divida nacional (a transferência da dívida privada para aquele é escandalosa) já ultrapassou os 16 biliões de dólares (Há um ano, estavam nos 14 biliões!!!).

Aproxima-se o fim do ano e a convergência entre os cortes em gastos, que a maioria do poder parlamentar quer ver ser feito nos contribuintes dependentes e um vencimento de impostos que deve ser mais baixo, levou os economistas de pacotilha a inventar a tal mnemónica de "colapso fiscal".

Ou seja, a economia norte-americana irá retroceder.

Uma agência tão judia capitalista, como a Bloomberg, não tem dúvidas que a economia dos EUA irá entrar em recessão prolongada em 2013. 

A secretaria-geral do Congresso norte-americano referia, em Agosto passado, e estou a citar a Bloomberg, que o aumento de impostos e os cortes previstos para 2013 iria fazer com que a economia, que está estagnada, entrasse em fase decadente, com uma descida de 0,5 por cento e um desemprego que atingir os 9 % da população. Ou seja recessão.

4 - A supremacia imperial da política norte-americana, nas últimas quatro décadas, com a arrogância feroz de espezinhar direitos de povos, impor as suas medidas económicas asfixiantes a Estados nacionais, como se de vassalos se tratassem, o desprezo, como aquele país levou um estado de quase guerra total contra todo o mundo. 

Desde a Indochina (Vietname, Laos, Cambodja); Coreia do Norte, Indonésia,  América Latina, com intervenções directas ou camufladas - através das das grandes burguesias internas - no Chile, Brasil, Uruguai, Paraguai, Argentina, Nicarágua, El Salvador, Venezuela, Colômbia, África (Angola, Congo, Nigéria, Ruanda, Uganda, Quénia, Líbia, Tunísia, Argélia, África do Sul, Moçambique, Sahrá, Niger, Tchade), até ao Médio-Oriente (Irão, Iraque, Afeganistão, Paquistão e à própria Índia).

(Na implantação desta política arrogante mundial, os EUA têm cerca de mil bases e centros operacionais nas diferentes partes do Mundo. Ostensiva e ocupante nalguns - Iraque, Afeganistão, Cuba, Líbia, Iémen, Corno de África, forçada no seguimento da II Guerra noutros, Itália, Grécia, Turquia, consentida noutras, como Qatar, Arábia Saudita, Barein, noutros).

Para não falar na submissão europeia, desde Portugal até à Polónia, passando por Itália e, essencialmente, Balcãs, fez despertar novos conjunções de esforços entre países e grupos de países (Mercosul), ASEAN, que aproveitaram os progressos tecnológicos e as suas próprias riquezas e evolução própria, para evolucionar numa nova relações de forças geo-estratégicas, um pouco por todo o mundo. 

Ora, este estado de coisas, não poderia durar face à evolução que se produziu no Mundo. 

O espectro da liberdade e da independência percorre, actualmente, o Mundo e certamente, nos próximos anos, a geo-política será outra. E principalmente o desejo de uma outra política internacional está a ser forjada, sob o espectro de uma ruptura de grandes dimensões.