terça-feira, 29 de outubro de 2013

CONTRA O DOMÍNIO AVASSALADOR DA IDEOLOGIA DOMINANTE

1 – As ideias morais, estéticas, artísticas, de propagação de formas de lazer, de direito, de justiça, apresentam-se, hoje, mais do que nunca, envoltas em controvérsias e relações contraditórias.

No meio de uma nuvem, que aparece obscurecer o essencial do debate ideológico, de que, actualmente, não existem ideias dominantes, mas sim múltiplas interpretações conforme as teorias e as práticas de cada homem pensante, gostaria de explanar a minha opinião:

Como não existem verdades eternas, também não posso deixar de estar convicto que, no meio da turbulência dos dias de hoje, há uma perspectiva profunda e contabilizadora, que é possível racionalizar quem é dominante no campo ideológico.


Para tal, terei de recorrer, principalmente, à História.

Não à História marcada por cronologia e personalidades, mas aquele investiga o desenvolvimento societário da humanidade, nas suas relações económicas, sociais e políticas, no estudo das suas diferentes formas estatais, de direito, de filosofia, de vida artística.

Se se analisar a História das comunidades e sociedades humanas ao longo da sua actividade escrita, porque, até agora, é a única que nos dá resultados confirmados documentais da evolução dos seus processos de desenvolvimento, de nascimento, crescimento, implantação e declínio das épocas estruturadas sociais e institucionais, verificamos que as ideias nos domínios da moral, da justiça, da ética, da estética, do próprio enquadramento governativo ou Estado se vão modificando.

E esta modificação, por vezes, foi tão díspar em comunidades organizadas, situadas muito próximas, e mesmo em épocas diferenciadas.

Se olharmos, para os dias de hoje, claro que já de uma maneira difusa, existem três de morais e formas de expressão espiritual de concepção ideológica: a monárquica-feudal, com resquícios da Idade Média, a burguesa, que se foi implantando desde o século XV e hoje é a dominante, e a da classe trabalhadora, que é submergida, ou pelo menos, “abafada” pelo monopolismo da anterior na sua tentativa de ganhar pleno direito de acção e cidadania.

2 - Vem isto a propósito de quê?

Em primeiro lugar, a avassaladora dominância nos principais meios televisivos de informação e de lazer de divulgação de notícias cujo conteúdo central provem, essencialmente, dos Estados Unidos, como centro da ideologia burguesa dominante e dos seus meios de comunicação.


O exemplo mais gritante para Portugal, por exemplo, é a SIC, em que o “correspondente” para o Médio-Oriente é um judeu, apologista do regime sionista instalado em Israel, cujo “fio noticioso” primordial é a “justeza” da política israelita na região.

Ou das televisões e jornais que debitam, por exemplo, as notícias do conflito sírio a partir de uma pertença ONG, situada em Londres, dependente dos serviços secretos, cujos protagonistas são os “rebeldes” financiados e treinados pelos países ocidentais para intervirem nos “assuntos internos” de uma Nação, em nome de uma pretensa democracia, tutelada, mundialmente, por Washington.

Ou a completa submissão dos filmes e séries televisivas (para adultos e crianças) aos ditames das cadeias controladas pelo sistema financeiro de Wall Street, como a FOX, a Universal, a Disney,  cujos argumentos e guiões se baseiam no “patriotismo” norte-americano, na segurança policial “made em USA”, com as brutalidades mais bizarras e inumanas e nos problemas sociais da decadente América do Norte.

Mas inclusive a moral e a justiça – e a própria ética – que transmitem está assente no sistema corrupto dos Tribunais norte-americanos e nas prédicas dos comerciantes religiosos que pululam naquele país e controlam, em parte, a actividade política e económica dos Estados Unidos, como se tal orientação fosse a única para divulgar nas restantes partes do Mundo.

Os desenhos animados que passam nas televisões e mesmo nos cinemas são execráveis, que produzem a completa alienação dos miúdos, e estão a ser aceites, com a maior das apatias pelos progenitores.
 Uma série de defesa da política externa dos EUA...que até mete uma agente da MOSSAD..

3 – Ao escrevermos este alerta, fazemo-lo porque somos contra a imposição de uma visão dominante e dogmática da ética, do lazer, da informação.

Quando nos atiram, martelando continuadamente na informação, que os Estados Unidos da América pretendem, inclusive pela força que países, que eles consideram “fora da lei” (com que moral e justiça podem julgar os outros países?), não podem ter acesso à energia nuclear ou construir bombas atómicas, e ninguém questiona esta prepotência, – eles que fabricam milhares e já as utilizaram, foram os únicos, matando centenas de milhares - estamos a ser cúmplices de um processo de neonazificação da sociedade.

Qualquer país, por muito poderoso que seja, não pode, nem o devemos permitir, que se imiscua nos interesses de outro, por muito pequeno que seja.

Nem devemos admitir que a sua ideologia, porque assenta na primazia do seu poder económico, molde as mentalidades dos outros povos.

domingo, 27 de outubro de 2013

PODE A ESQUERDA TOMAR O PODER DENTRO DO SISTEMA CAPITALISTA?



1 – Tiveram lugar, no passado 29 de Setembro, eleições autárquicas em Portugal, sendo que a coligação partidária no poder, PSD/CDS/PP, sofreu uma derrota, perdendo o domínio na maioria das câmaras municipais do país.


O Partido Socialista (PS) saiu vencedor, ascendendo a partido maioritário no sector autárquico, o que vai levar a ser a força política nas duas principais estruturas associativas representativas municipais, a Associação de Municípios (ANMP) e a Associação de Freguesias (ANAFRE).

O PCP recuperou um conjunto de municípios, quase todos no Alentejo, onde já estivera na gestão camarária, incluindo, um fora daquela zona, Loures. Percentualmente, subiu uns poucos milhares de votos.

O Bloco de Esquerda (BE) teve uma substancial derrota e descida eleitoral.

A abstenção, votos nulos e brancos, tiveram uma crescente subida entre as eleições de Outubro e as anteriores de 2009 – cerca de 13%.

De registar, que apesar das diferentes votações, todos os principais Partidos, com exclusão do PCP, recolheram menos votos face a idêntico acto eleitoral anterior, desde os que estão no poder ate àqueles que se afirmam oposição – PS e BE.

O PCP registou uma subida de cerca de 15 mil votos, que provieram essencialmente de Loures e Alentejo. No resto do país, em particular nos grandes centros urbanos as descidas foram significativas.

(Perdeu todas as Juntas de Freguesia de Lisboa que geria, embora subisse de um para dois vereadores na capital, mas sem mais votos. No Porto, manteve um vereador, mas desceu de 9,80% para 7,8 %. Decresceu, apesar das vitórias, em votos em Setúbal, Palmela e Sesimbra).

2 – As abstenções – assim como os votos nulos e brancos - são difíceis de analisar no sentido real da sua intenção política.

(Aqui uma ressalva – torna-se irrealista acreditar que existam, neste momento, em Portugal, 9. 429. 024 eleitores. Segundo o censo oficial de 2011, a população portuguesa era de 10.562.178 pessoas – 5.515.557 mulheres e 5.046.600 homens, enquanto a de 2001 atingiu as 10.356.117 pessoas.

Ora, segundo o censo de 2011, cerca de 15% da população situava-se nas idades até 14 anos, ou seja perto de uns 1.500.000 que, garantidamente, não podem votar. Talvez uns 20%, se alargarmos até aos 18 anos).

Todavia, um facto é revelante: o conjunto abstenção/nulos/brancos tem vindo a crescer, substancialmente, desde a década de 80 do século passado, o que, em parte, representa um desencanto com a própria orientação política do regime pós 25 de Novembro de 1975.

E, entre esses “rejeitacionistas” estão sectores importantes das classes laboriosas.



2013     2009






BRANCOS3,87 %
    1,72 %
NULOS2,95 %
    1,25 %
ABSTENÇÃO 47,40 %

  40,99 %



Um dado baseado nas próprias estatísticas do regime, pelo menos, desde 1985: houve um contínuo abaixamento do nível de vida das classes trabalhadoras, e, esta realidade, muito disfarçada nos últimos anos dessa década, começa a vir, nitidamente, ao de cima em toda a década seguinte, e de maneira evidente, já neste século.

Todavia, este retrocesso no bem-estar e nos interesses sociais das classes trabalhadoras, em especial às ligadas aos sectores produtivos industriais, não se tem traduzido num incremento de maturidade daquelas classes para se organizar e ganhar um espaço político autónomo na sociedade portuguesa.

E, essencialmente, em toda a Europa comunitária, já que “o recuo” societário do conjunto da classe oprimida atingiu todo o espaço europeu comunitário, como unidade política, unidade política esta onde se atingiram os maiores processos de desenvolvimentos económico e produtivo industrial nos últimos 40 anos.

Quer isto dizer que uma maior parte, se não uma parte substancial das classes trabalhadoras, se desencantou com as eleições burocráticas do actual poder de Estado e, de uma maneira progressiva desde o 25 de Novembro de 1975, se desligaram da sua opção de voto nos partidos que se auto-intitularam defensores dos seus interesses, que diziam, em palavras e promessas, serem os garantes do revolucionamento social.

Eles próprios, portanto, em recuo eleitoral.

No fundo, com o retrocesso da semi-revolução que seguiu ao 25 de Abril, interrompida com o golpe novembrista de 1975, sem uma intervenção eficaz dos partidos que, meses antes, se empolgavam em auto-apelidar-se de revolucionários, mas que apelavam à calma para “evitar uma guerra civil”, permitiram o ascenso progressivo dos privilégios desenfreados do Capital.

E isto pela mão dos partidos que se diziam socialistas/social democratas e comunistas e que juraram uma Constituição programática em defesa de uma “sociedade sem classes” – PPD/PSD, PS, PCP e UDP.

As idas às urnas tem seguido um caminho em crescendo de afastamento, a princípio a apatia ainda com crença na eleição, e hoje o resultado mais vincado, o descrédito acentuado no actual regime.

Não é, pois, só uma crise de partido, é essencialmente, uma crise de regime.

3 - Mas porque é que essa massa enorme de desfavorecidos, espoliados continuadamente, não procuram uma via autónoma para a sua emancipação?

Porque não optam por “uma viragem à esquerda” convincente, de cariz revolucionário?

Porque não existe um partido que tenha essa referência programática independente, aplicada à situação concreta de hoje. Porque, não foram analisadas e criticadas, com profundidade e seriedade, os programas e as práticas anteriores daqueles que se intitulavam herdeiros das revoluções goradas do século XX.

Na minha opinião, temos de analisar, em primeiro lugar, as grandes revoluções que tiveram epicentro na Europa, Russa de 1917, Revolução Húngara de 1956, Maio de 1968 em França e as repercussões destas que tiveram lugar, essencialmente, na Itália e na Checoslováquia e o caminho que tomaram.

Depois, na senda do que atrás se assinala, as revoluções anti-imperialistas e anti-coloniais na China e Vietname (1949 e anos 50, respectivamente), e, mais tarde, no Chile em 1973, com a via pacífica e parlamentar para o socialismo, e, finalmente, o golpe militar português em 1974 e a via revolucionária em Portugal, jugulada, conjuntamente pela via armada da facção capitalista liberal (PS/PPS/CDS) e pela cumplicidade na inércia à resistência dos partidários do capitalismo de Estado, mascarado de socialismo/comunismo, do PCP/APU e PC(R)/UDP.

Em segundo lugar, a desconfiança de sectores importantes e mais esclarecidos das classes trabalhadoras nos chamados partidos de “esquerda”, cujo principal objectivo estratégico está centrado na busca, sem sentido e sem um objectivo de ruptura radical de governação, de uma solução dentro do actual poder de Estado.

Governação esta enquadrada na política de “acção comum” ou “unitária” numa ilusão macabra de que se pode conseguir “uma solução” favorável aos interesses das classes trabalhadoras sem retirar o poder o económico aos capitalistas.

Todas as revoluções do século XX, a começar pela Russa de 1917, que se forjou com um programa de carácter socialista, bem como a chinesa de 1949, que tiveram, na sua génese e movimentação uma genuína ruptura revolucionária, que pareciam ir pôr de pé um novo sistema social em que a maioria iria ter um poder que lhe traria a sua real emancipação, tiveram, algumas anos depois, poucos, uma estagnação, e, pouco depois retrocessos, começando a ser governadas, de forma contra-revolucionária, por um minoria, que, embora mantendo as consignas de um programa revolucionário, concentrava (e alguns ainda concentram) em si uma política de continuidade do anterior poder que derrubaram, com laivos ditatoriais evidentes.

Centremo-nos na Revolução Soviética de 1917.

(Todas as restantes revoluções desse século seguiram, no seu programa, o mesmo conteúdo daquela).

Quando ela surgiu, foi, para as classes desfavorecidas, um momento de grande euforia, até porque, ainda, não tinham passado 50 anos da destruição raivosa da Comuna de Paris, pela grande burguesia, coligada com a Igreja Católica.

principais dirigentes soviéticos em 1918

Trouxe para o primeiro plano da actividade política internacional reivindicações revolucionárias que ainda hoje perduram e servem de guia em movimentações democráticas e revolucionárias.

Tal facto, fez obscurecer, no entanto, o caminho real que a nova entidade estatal, URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas) tomou, já a partir de 1921, quando triunfou dos seus inimigos internos (Exército Branco, liderado por ex-generais e almirantes czaristas) e externos (coligação da França, Grã-Bretanha e Japão, principalmente), uma coligação capitalista internacional, que apoiou e financiou os apoiantes do antigo regime.

Na verdade, quando o principal dirigente do Estado e do Partido Comunista (Partido Bolchevique, como era conhecido), Vladimir Lénine sustentou, em 1918, que o novo poder estava ainda assente numa forma de economia capitalista, que apelidou de capitalismo de Estado, essa orientação nunca foi modificada, na evolução posterior do país até à sua dissolução, para um poder socialista, mesmo quando, em 1956, o inefável Krutchov anunciou no Congresso do PCUS que a US já estava…no comunismo!!!.

Justamente, quando Lénine defende e põe em prática no novo Estado, cerca de três após a ascensão ao poder, uma política abertamente capitalista, liberal, embora supervisionada pelos dirigentes da URSS, que chamou de NEP (nova política económica), ele está a reconhecer que, naquela altura, o desenvolvimento económico do país de modo algum estava com capacidade para avançar para medidas socialistas radicais.

Admitia que não havia nenhum indício que, na Europa ocidental capitalista e nos Estados Unidos, em forte galopada de modernização total do sistema capitalista, surgisse uma convulsão revolucionária, - e isso se tornou evidente com as derrotas das revoluções spartaquista na Alemanha (1918/19) e soviética húngara de 1919 -, que desse um apoio classista para impulsionar a revolução soviética para um estádio superior.

Então, porque se manteve durante tanto tempo, a URSS?

Primeiramente, e foi real, existiu uma revolução em toda a grande região da Grande Rússia e em territórios adjacentes, como a Ucrânia, a Bielorrússia, a Arménia, a Georgia, o Azerbeijão, o Ubzequistão, Turquemenistão e Cazaquistão, e a conquista do poder pelos bolcheviques teve, no início, um apoio espontâneo, acolhedor de grandes massas populares que, num período muito curto, modificaram, rapidamente, a sua situação social, particularmente nos centros rurais, onde vegetavam como escravos, sob a ditadura sanguinária dos czares.

Logo nos dez primeiros 10 anos após 1917, essas grandes massas eram acessíveis a ideias e uma certa prática que mexeram na sua própria situação económica.

Mais tarde, esta aceitação popular à praxis inicial de transformação das suas necessidades, deu lugar à apatia, ao cansaço, e mesmo a um desprezo pelo novo poder contra-revolucionário que se foi consolidando, com as imposturas do antigo projecto socialista, totalmente abandonado.

Ora, internamente, a minoria ganhadora – que se apelidou de stalinista - das clivagens internas, que continuava a intitular-se revolucionária, e periodicamente lançava, como propaganda, as consignas Marx e Engels, consolidava o seu poder, através de um forte Exército, de um aparelho terrível de segurança policial e para-militar e de uma rede de interesses económico-partidários que se interligavam, em benesses e sinecuras, pelos diferentes Estados, que, teoricamente, consolidaram a ex-URSS.

dirigentes soviéticos após afastamento da "velha guarda"

Por outro lado, com a criação da chamada III Internacional Comunista (Komintern) – mais tarde, em 1943, o Kominform, ambos sedeados em Moscovo.

Isto no aspecto externo teve maiores repercussões na disposição revolucionária dos povos e na sua aceitação acrítica, em muitos milhões de seres humanos, durante quase 70 anos, porque, para os novos partidos comunistas nascentes (anos 20) e para as grandes movimentações populares e mesmo radicais, que se deram na Europa, América e mesmo no Oriente, pelo menos até ao cisma russo-chinês dos princípios dos anos 60 do século passado, o programa inicial da Revolução soviética foi erigido como “farol” (intimamente ligado, por uma propaganda avassaladora, à evolução da União Soviética, que se industrializava e reduzia, fortemente, a propriedade individual campesina, mas sempre, de maneira forçada e com medidas extremamente repressivas, sem a participação das massas operárias e do pequeno e médio campesinato).

//Não referimos aqui, em pormenor, mas de passagem, o papel que desempenhou a antiga URSS na guerra contra o avanço nazi em direcção ao Leste europeu, que, embora, historicamente, não pode ser encarada como uma confrontação entre o capitalismo fascista e o comunismo, na prática, o que que foi transmitido para as massas populares mais esclarecidas foi, precisamente, isso//.

Esta conjugação de circunstâncias, de afloramentos constantes de crises, quer nos EUA (1929), quer na Europa, com o ascenso de partidos nazis e fascistas, quer na confusão que existia nas pessoas, mesmo naquelas mais avançadas politicamente, sobre as críticas a fazer ao caminho que estava a ser seguido pela antiga URSS e sobre o caminho que se teria de “desenhar” para enveredar para uma nova via revolucionária, conduziram ao cansaço, por um lado, com abandono de outras perspectivas de forjar um programa alternativo, por outro, uma apatia e até desencanto e, acima de tudo, desorientação, que levou milhares de antigos quadros políticos para os braços dos regimes enquadrados pelos sistema capitalista internacional (quer fossem nazi-fascista, ou formalmente republicanos parlamentares).

4 – Na parte final da II Grande Guerra, e essencialmente, nos cinco anos se seguiram à mesma, houve uma grande debate no interior da classe dirigente da antiga União Soviética e, fora dela, com especial destaque nos países ocidentais onde os chamados Partidos Comunistas tiveram um papel de relevo na luta anti-nazi e antifascista, como a França, a Itália, Grécia e os países balcânicos que vieram a constituir a ex-Jugoslávia e a Albânia sobre o papel que os mesmos deveriam assumir.

Por um lado, na URSS sobre uma eventual forma de estrutura estatal, com eleições e outros partidos, que não só o PCUS, a ter a acção política exclusiva, por outro, nos países que se libertaram dos jugos hitleriano e mussoliniano, se deveria conquistar o poder ou efectuar alianças com as burguesias nacionais.

(Essa discussão, claro que noutras condições, caso de Espanha e Portugal, também teve repercussões, essencialmente porque havia ilusões de que seriam possível afastar, pacificamente, as ditaduras fascistas de Salazar e Franco, por amplas coligações que iriam dos comunistas e socialistas, a dissidentes dos regimes até monárquicos anti-salazaristas e anto-franquistas. 

Eram as épocas das grandes unidades anti-fascistas ou de *unidades de todos os portugueses honrados*).

Por pressão e imposição da URSS, de Stáline, no final da II Guerra, os PC de França, Itália e Grécia, que detinham, na prática, o poder interno dos seus países, pois estavam fortemente armados, foram obrigados a entregar as armas aos “representantes” da burguesia nacional, aliados directos dos EUA e Inglaterra e entraram nas coligações que forjaram o relançamento do poder capitalista.

(Claro que esta situação conduziu a dissidências, mais ou menos, profundas em todos os PC´s do Mundo)

Mas, aqueles, como estrutura política, foram fiéis depositários das alianças (De Gaulle/Thorez-França, de Gaspari/Togliatti-Itália, acordo de Varkiza na Grécia, para um governo de unidade nacional, que desarmou os guerrilheiros, por ordem do ditador soviético, que os abandonou depois, permitindo que milhares deles fossem presos) para “recuperar” os países desbastados pela guerra, sob a liderança dos Estados Unidos, que lançaram o chamado “Plano Marshall”.

Gaullistas/PCF em 1944/46


De Gaspari (DC), Togliatti (PCI)

Na realidade, tal orientação criou a desorientação, fez com que sectores importantes das classes operária e da pequena burguesia democrática se interrogassem sobre o caminho a seguir, já que a própria URSS, que cuidava, essencialmente, dos seus interesses nacionais – e não internacionalistas – se abespinhava numa clivagem imperialista sobre o controlo de zonas de influências, entrando em choque com os seus aliados da guerra sobre o decidido em Teerão, Ialta e Potsdam.


Ialta

O único propósito destas reuniões, todas elas com agendas secretas, foi a divisão internacional dos países, por zona de influência, tornando-os vassalos.

Começou, deste modo, da parte desses PC`s, alinhados com uma política de aposta crescente, centrada, quase exclusivamente, na conquista de lugares nos Parlamentos e em acções de massas, perfeitamente enquadradas em cumprir rigorosamente as Constituições de cariz democrático liberal, um caminho de “compromissos políticos tácticos” onde a revolução deixava de ter qualquer espaço programático.

A única arma de toma de poder reduzia-se à via parlamentar.

Quando se torna público, nos finais dos anos 50/princípios dos 60 do século passado, o cisma sino-soviético e se dão revoluções anti-imperialistas (primeiro Vietname, depois Cuba), que não enquadravam, nos seus programas e acção políticos, essa via, como única e primordial para a transformação do poder, entrou em colapso.

Acima de tudo introduziu uma oscilação e desorientação entre os sectores mais conscientes e militantes dos grandes movimentos políticos e de massas mais influenciáveis e conquistadas para uma nova acção revolucionária.

Deste modo, deslizou-se entre o parlamentarismo mais rasteiro alicerçado na perspectiva politica de atingir o poder e mudar a sociedade aumentando a democracia dentro do sistema capitalista até ao radicalismo pequeno burguês extremo, que só a via armada interessava, formulando um programa que apenas a classe operária seria revolucionária, menosprezando, sem excepção, todas as restantes como reaccionárias.

4 - Das análises que se fizeram, nos pós II Grande Guerra, sob a chamada perspectiva marxista-leninista pró-soviética (concepção esta uma clara deturpação do que escreveram Marx e Engels), predominava, particularmente, após o XIX Congresso do PCUS, e pela boca do próprio José Stáline, que a missão estratégica principal dos partidos congéneres das Repúblicas parlamentares ocidentais era a defesa das chamadas “liberdades democráticas burguesas” – o que pressupunha coligações também estratégicas com os partidos desses regimes que tivessem idêntico programa.

Com a vitória da URSS e a constituição do chamado “campo socialista” europeu, que, em 1952, Stáline estendia à China, aquele líder soviético considerava que “o comunismo” poderia ser conquistado, pacificamente, no ocidente, pelas eleições parlamentares.

Assim comentava, um ano depois, essa orientação um dos maiores partidos da América do Sul, o PCB, cujo secretário-geral era Carlos Prestes, defensor até então da via revolucionária armada: “O discurso de Stálin, inspirado nos ensinamentos de Lênin é síntese da experiência acumulada do P.C.U.S., forneceu aos Partidos irmãos nos países onde ainda domina o capital um claro programa de luta pelas reivindicações democráticas de conteúdo mais revolucionário em nossa época — a luta pelas liberdades democrático-burguesas e pela independência nacional”.

Esta análise de que o capitalismo se poderia destruir facilmente, por dentro, em ampla aliança de classes progrediu e envolveu totalmente toda a reivindicação autónoma nos últimos 40 anos sobre os interesses revolucionários das classes trabalhadoras.




Todos nós, em Portugal, mesmo quando os que romperam, ainda antes do 25 de Abril de 1974, com as concepções de *unidade de todos os portugueses honrados* e de formação de governos de “unidade de esquerda” dentro do sistema parlamentar capitalista, desprezando totalmente, ou menosprezando em parte o aproveitamento eleitoral, considerando que existia um rápido caminho para a revolução, estávamos tão enganados, como os que acreditavam e continuam a acreditar, hoje, no entrismo dentro do sistema, sem um programa revolucionário, para o derrubar, com uma grande “coligação de esquerda” com o PS, tal como defendem o PCP/CDU e o BE/UDP/LCI.

Desde 1973, a época inicial da primeira grande crise do sistema capitalista liberal da segunda metade do século XX, enganámo-nos sobre o amadurecimento para uma destruição desse sistema.

Este estava a expandir-se, e por um incremento económico extraordinário, alargava-se como um polvo ao leste europeu à URSS de capitalismo de Estado e começava a entranhar-se, por uma evolução mista, na própria China maoista.

Era necessário fazer um aproveitamento lento, de pequenas vitórias com a táctica de trabalho político de eleições, de ganhar espaço na sociedade em crise, mas era necessário, mais do que nunca – e os tempos actuais assim o demonstram - a formação de uma estrutura partidária, não exclusivamente nacional, mas internacional, que desse um corpo programático, com as reivindicações revolucionárias das classes trabalhadoras, que desse capacidade de elevar a consciência as massas populares apáticas e desorientadas para uma mostrar a necessidade de ruptura de poder político, agora que o capitalismo está atingir uma fase em que as relações de produção estão a desejar novas formas de evolução e desenvolvimento.

Ora, esta alternativa não existe. Nem está em vias de ser posta em prática. Assim aconteceu nas últimas eleições autárquicas, como sucedeu nas anteriores legislativas ou presidenciais.


Daí, ideologicamente, o grande desalento e indiferença de sectores que pretendem levantar os alicerces de uma nova sociedade.


Na minha opinião, esta é a grande questão que deve ser discutida com os desaires eleitorais daqueles que pretendem modificar as condições da existência da comunidade humana.

domingo, 13 de outubro de 2013

JANET YELLEN REPRESENTA WALL STREET E NÃO AS MULHERES



1 – O Presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, anunciou, há dias, que nomeara para Presidente do Banco Central norte-americano, o chamado Sistema de Reserva Federal, mais conhecido por Reserva Federal (FED) , uma senhora de nome Janet Yellen Louise.

A comunicação social norte-americana, e, por tabela, a servil congénere europeia, incluindo a portuguesa, deram honras de primeira página, com trombetas, divulgando que se trata, pela primeira vez, da nomeação de uma mulher para tal alto cargo na estrutura económica-política dos EUA.

Esqueceram-se de referir o que ela é realmente, e, acima de tudo, o que representa, o que para o efeito prático, tanto faz que o seja feito pelo homem ou mulher.

Ela é a representante de Wall Street, e, particularmente, isto é que interessa é um membro destacado do lobby judaico do lúmpen capitalismo financeiro internacional.

Janet Yellen já era vice-Presidente da FED.

Ou seja está, perfeitamente, enquadrada na estrutura dirigente da economia norte-americana. Ela é co- responsável, directa, pela crise financeira e económica de 2008.

Mas, não é uma estreante neste cargo, pois, com 31 anos, já pertenceu, como economista, entre 1977-78, ao Conselho de Governadores da Reserva Federal, ou seja já “aqueceu” o lugar desde o tempo de Jimmy Carter, como Presidente dos Estados Unidos.

Depois dessa passagem pela FED, veio a ocupar o cargo de Presidente e administradora-executiva da FED de San Francisco (Califórnia).
Entre banqueiros no FMI
E foi, ainda, a chefe da equipa de assessores económicos do então Presidente Bill Clinton, sucedendo ao também judeu Joseph Stiglitz.

Para que conste é casada com um académico judeu George Akerlof, que é prémio Nobel de Economia.


E o apelido da sua mãe é Blumenthal, que, curiosamente, é o mesmo do judeu W. Michael Blumenthal, que se refugiou na China, e, mais tarde, foi secretário do Tesouro, no tempo de Carter, embora, aparentemente, não sejam parentes próximos, mas são, ambos de origem germânica.

2 - O controlo político do sistema financeiro norte-americano, e, acima de tudo, da grande produção económica do país está nas mãos do “lobby” judaico desde os princípios do século XX.


Quer através dos grandes bancos, quer da FED, como instituição, quer na ocupação de lugares-chave na Administração norte-americana (governo), quer no gabinete presidencial.

Os factos.

Comecemos, precisamente, pela época, imediatamente, após a II Grande Guerra, com a nomeação de William McChesney Martin Jr para Presidente do FED.

Mcchesney Martin Jr ficou conhecido na própria imprensa norte-americana como “o rapaz vassalo de Wall Street”, e isto porque desde muito jovem (31 anos) tornou-se Presidente da Comissão de Controlo Cambial, a U.S. Securities and Exchange Commission (SEC) de Nova Iorque, depois de ter colaborado com os principais banqueiros fautores da depressão de 1929, em minimizar, legalmente, as vigarices do grande capital financeiro do país.

Depois, foi o sustentáculo do incremento do capital financeiro norte-americano na sua expansão e controlo da Europa, no pós II Grande Guerra.

Foi nomeado Presidente da FED, em 1951, pelo então Presidente Harry Truman, com a cobertura directa das duas câmaras legislativas e manteve-se no cargo, com o aplauso e beneplácito de Wall Street, com cinco Chefe de Estado, até 1970.
Quantos funcionários da administração Obama pode encontrar nesta imagem?  (AP Photo / Doug Mills)
Principal assessora económica de Clinton

Seguiram-se, no cargo, até actualidade, sempre judeus, representantes de Wall Street - Arthur F. Burns (1970-78, com três Presidentes), G.William (78/79, Paul Volcker de 1979 a 87, com dois Presidentes), Alam Greenspan (1987 a 2006, percorrendo as Presidências de Ronald Reagan, George Bush, pai, Bill Clinton e George Bush, filho) e finalmente Ben Bernarke (de 2006 a 2013, com Bush filho e Barack Obama).

Estes dois últimos foram os impulsionadores das bolhas imobiliárias, do empolamento desmesurado da dívida pública, com a duplicação em duplicação descontrolada de notas de dólar, com o crescimento da inflacção e a maior especulação financeira.

São os principais responsáveis da crise de 2008, juntamente com as sucessivas administrações governamentais (e os seus assessores económicos), através dos Secretários de Tesouro e os principais bancos do país.

Ora, os Secretários do Tesouro de toda a época em que marcadamente sucedeu o que atrás descrevo, ou seja, justamente, na altura que a grande burguesia capitalista financeira dos Estados Unidos se apoderou completamente do poder classista no país, fomentando a mais feroz desregulamentação do sistema financeiro, pertencem (ou pertenceram) ao lobby judeu.

Todos esses responsáveis estão intimamente ligados ao “Partido de Wall Street” e são os mentores teóricos e pragmáticos de toda a política económica criminosa do mundo ocidental que conduziu à situação actual.

Cita-se, para que conste: Nicholas F. Brady (1988/93 – Ronald Reagan George Bush pai); Lloyd Bentsen (1993/94 – Bill Clinton); Robert Rubin (95/99, Bill Clinton); Lawrence Summers (1999/2001, Bill Clinton); Paul Henry O´Neil (2001/02, George Bush filho); John Snow (2003/2006 George Bush filho); Henry Paulson (2006/09. George Bush filho); Timothy Gietner (2009/2013, Barack Obama) e Jack Lew (Fev 2003, Barack Obama).

Foram judeus ou apoiantes incondicionais do “lobby judaico” internacional, os secretários de Estado Henry Kissinger (Richard Nixon), general Alexander Haig (R. Nixon e Ronal Reagan), George P. Shultz, anteriormente Secretário do Tesouro (82/89, com Ronald Reagan), Lawrence Eagleburger (92/93, com George Bush pai), Maleine Albrigth (93/97, com Bill Clinton) e Hilary Clinton (2009/2013, com Barack Obama).


Representantes capitalistas judeus na Administração norte-americana em várias gerações
3 – O traço comum destes todos políticos, legisladores, governantes, e, responsáveis de instituições de controlo económico, aparentemente, público, como a FED, é que estiveram ou ainda estão ligados, quer como membros responsáveis executivos ou membros proeminentes de grandes escritórios de advogados de grandes estabelecimentos empresariais aos 10 maiores bancos multinacionais, geridos a partir de Wall Street.


Convém referenciá-los para que se saiba o seu papel real no desenvolvimento de toda a crise financeira internacional. Foi, em nome deles, que Lawrence Summers, por exemplo, director dos assessores económicos de Barack Obama e Timothy Geithner, que foi secretário do Tesouro do mesmo Obama, puseram em prática toda a política de desregulamentação financeira, que produziu a maior especulação financeira mundial, que apenas favoreceu uma maior grandeza desses bancos.

O maior banco norte-americano é o JP Morgan Chase de Nova Iorque. É uma instituição chave da família Rockfeller, tal como referem as principais publicações económicas dos Estados Unidos.

Todavia, nunca aparece um nome individual da família entre os accionistas.

Nos documentos oficiais do Banco, verifica-se que que 74% das acções são retidas por instituições e fundos.

Analisando as instituições, tem-se que o Vanguard Group, um monumental império de controlo de investimentos capitalistas, aparece como estrutura principal, seguida de State Street Corporation, BlackRock Institutional Trust Company, N.A., State Street Corporation e Bank of New York Mellon, FMR e LLC e diversas empresas Vanguarda no que diz respeito aos fundos.

No segundo banco, o Bank of América, regista-se a mesma gama de instituições e ainda o JP Morgan, sendo que nos fundos impera o Vanguard Group.

No terceiro banco, o Citigroup, registamos a mesma disposição, entrando na estrutura accionista, também, o JP Morgan.

O quarto banco, o Wells Fargo, apresenta na mesma uma elevada participação de instituições e fundos. Curiosamente, la está, também, o JP Morgan.

O sexto é o Goldman Sachs, de onde retiramos a presença marcante deVanguard Group, State Street Corporation, Citigroup,BlackRock Institutional Trust Company, N.A. e Bank of New York Mellon Corporation, entre outros.

Estes accionistas de referência aparecem no sétimo o Stanley Morgan.

Em oitavo parece o Taunus Corrporation, aparentemente um banco subsidiário do Deutsche Bank, banco este, que embora sediado na Alemanha, é dominado por fundos internacionais, em que se destaca um proveniente dos Estados Unidos (iShares S&P U.S. Preferred Stock Index Fund).

Segue-se o Bancorp, com uma participação elevada do Vanguard Group e da Wells Fargo, entre outros.

Temos depois o Bank of New York Mellon, onde aparece o Vanguard Group. o State Street e o BlacRock.

Para terminar no HSBC USA, nominalmente uma sucursal do congénere inglês, mas cujos accionistas influentes é capital sediado em off shores, mas de origem formal norte-americana, como a Fidelity e a FMR.

Tudo escondido, formalmente, em fundos e instituições sem rosto, na realidade vão recair nas grandes famílias de capitalistas judeus, e, desde os anos 70, em parte significativa no Banco do Vaticano, o IOR.

4 – A FED é formada por 12 instituições, com um conselho de administração de sete pessoas.

Elas representam as principais “famílias” dominantes do sistema capitalista norte-americano.

(Em grande medida, essas famílias, juntamente com a Igreja Católica, tem o controlo do Banco Central Europeu).

E todos os homens que dirigem os grandes organismos financeiros FMI e o Banco Mundial foram "formados" e permanecem os "empregados" dos mesmos grandes capitalistas sediados em Wall Street.

Tal como na crise de 1929, na crise de 2008, os seus fautores provem das mesmas entidades e personalidades.

A FED não é de facto uma instituição pública norte-americana, mas sim privada

A estrutura nacional do Sistema de Reserva Federal é composta por um Conselho de Governadores ( Federal Reserve Board), pelo Federl Open Market Committee  (FOMC) e pelos doze presidentes de Federal Reserve Banks regionais, localizados nas maiores cidade do país, além de numerosos representantes de bancos privados dos Estados Unidos e diversos conselhos consultivos.

De acordo com o Conselho de Governadores, o Fed é independente dentro do governo, de modo que "suas decisões não têm que ser ratificadas pelo Presidente ou por nenhum outro membro do Poder Executivo ou do Legislativo."


No entanto, formalmente, a sua autoridade deriva do Congresso dos EUAe está sujeita a supervisão parlamentar.

Só que a maioria deste Congresso, está sujeita aos ditames de Wall Street.

Mais de 50 por cento dos congressistas, participam, activamente, no Congresso do AIPAC, o principal lobby judaico oficial.
Como se descobre a concubinagem entre o capital e representantes governamentais para as trapaças especulativas

Janet Yellen pertence a este lobby.






segunda-feira, 7 de outubro de 2013

CASO MADDIE: QUE IMPORTÂNCIA TEM O CASAL McCANN NA POLÍTICA INGLESA?

1 – Em Maio de 2007,  foi divulgado, com parangonas na imprensa nacional e internacional, o desaparecimento de uma menina inglesa, de cerca de quatro anos, de nome Madeleine McCann, nascida em Leicester, em Maio de 2003, eventualmente, de um apartamento turístico na Praia da Luz, no Algarve.

A miúda estava de férias com os pais, dois médicos de nome Kate McCann, anestesista e de clínica geral, e Gerry McCann, cardiologista no Hospital Glenfield, em Leicester.

Madeleine estaria, na altura que os pais dizem ter desaparecido, a dormir sozinha,  com dois irmãos gémeos, Sean e Amelie.

Os pais estariam fora do apartamento, a uma distância considerável, a jantar com amigos, num restaurante do complexo turístico, que comportava, na ocasião, a possibilidade de hospedar cerca de mil pessoas.

Segundo Kate McCann, teria sido cerca das 22:00 que ela dera pelo desaparecimento da sua filha, e, detectou, então, que havia uma janela e um dos estores aberto no apartamento, quando nele reentrou, após o repasto.

Nas declarações prestadas à polícia na ocasião, o pai de Madeleine afirmou que teria ido verificar como estavam os filhos cerca das 21:30 e que um amigo – que curiosamente não foi identificado em todo o processo noticioso então divulgado – fez idêntica diligência pelas 21:30 dessa noite.

Teria sido também um amigo, que avisou a recepção do complexo turístico sobre o eventual desaparecimento,  recepção essa que alertou a GNR pelas 21:41.

Funcionários do complexo, juntamente com as autoridades, efectuaram buscas até às 04:30 do dia 4.

Quando a Polícia Judiciário iniciou as investigações periciais entre as 23:30 e as 24:00 do dia 3, constata que o reboliço que existia no apartamento dava, no imediato, pouco espaço de manobra para uma investigação presencial, com possibilidade de incluir dados de um número mínimo de pessoas.

Pelas 00:01 do dia 4, já o jornal britânico “The Daily Telegraph” fazia manchete do caso com o artigo "Three-year-old feared abducted in Portugal" ("Teme-se que menina de 3 anos tenha sido raptada em Portugal").

Alguém se apressara, deste modo, dentre os do grupo que girava à volta dos McCann a canalizar o rumo da investigação.

E, isto porque, nesta altura, as autoridades policiais não colocavam como hipótese principal a tese de rapto.

No entanto, foram alertadas as autoridades para vigilância nas estradas, mar e no ar, em particular, as que levavam ao alto mar, à fronteira e a aeroportos, ao mesmo tempo que informavam a polícia espanhola.

Protecção Civil, Bombeiros e Cruz Vermelha igualmente foram mobilizadas.

2 – A pressão da comunicação social britânica, que inclusive chegou a noticiar que o Algarve era um paraíso de pedófilos internacionais.

(Jornais ingleses noticiaram – claro com o eco servil do jornalismo comercial português - que a polícia britânica informou a polícia portuguesa que cerca de 130 ingleses abusadores de menores estavam ou estiveram no Algarve, semanas antes do rapto de Madeleine, com o conhecimento das autoridades inglesas).

Sob esta pressão, a direcção da PJ e restantes autoridades apontaram a direcção de investigação para a hipótese de rapto.

Foram indicados numerosos suspeitos, alguns sendo mesmo constituídos como arguidos.

Eram canalizadas, quase diariamente, informações, segundo as quais a menina fora vista em vários países e locais, pistas estas que nunca foram confirmadas.

O mesmo dos suspeitos de rapto sob investigação.

Após meses de pesquisa, a Polícia Judiciária faz um interrogatório directo e cerrado aos pais de Madeleine.

São então constituídos, eles próprios, arguidos e sujeitos a medidas de privação de movimentos, com o termo de identidade e residência.

Havia suspeita, primária, de homicídio acidental, causado por negligência ou excesso de medicação calmante na criança.

No apartamento teria sido detectado pelos cães treinados cheiros de cadáveres

Foram ainda detectados, com o apoio da Scotland Yard, (curioso!!!), vários indícios de fluidos corporais com o ADN da criança, encontrados num carro alugado pelos pais mais de vinte dias após o desaparecimento, apontando uma possível transladação do corpo da menina.

A mãe explicou que, poucos antes da vinda para férias, estivera em contacto com cadáveres no hospital onde trabalhava e admitiram que transportaram no carro pertences - roupas e brinquedos - que eram da filha.

De imediato, começam a surgir nos meios de comunicação social ingleses críticas a eventuais "falhas" na investigação policial (Sky News e The Sun).

Existe uma intervenção directa  do então primeiro-ministro britânico Gordon Brown.

Os McCann iniciam uma programada campanha de imprensa intensificada com o facto de o assessor de imprensa de Brown, Clarence Mitchell, se demitir do cargo para assessorar os então arguidos.

Aparecem junto ao Papa João Paulo II, fazem vigílias com o apoio do padre católico da Praia da Luz.

Apesar de terem afirmado, publicamente e com toda a garantia de sinceridade, ainda em Maio do mesmo ano, que não colocaram em campo uma “investigação paralela”, os McCann contrataram, sem o conhecimento da PJ, uma firma de investigação privada que usa os serviços de ex-membros dos serviços secretos e forças especiais.

Explicaram depois, muito candidamente, que apesar de terem sido informados que era contra a lei, o fizeram, porque temiam que a PJ desse a sua filha como morta.

Em Agosto, denunciaram que a polícia portuguesa considerava que a sua filha estaria morta.

E insistiram, mais do que nunca, que a sua tese era de rapto.

Somente em Setembro, após investigações periciais, é que a PJ referiu que, provavelmente, Madeleine poderia estar morta.

3 – O que se acha estranho é que, perante tantos meios de investigação posto em marcha em torno da tese do rapto, nunca se avançou com força e coragem sobre a hipótese de morte.


Estranho é o desconhecimento total de quem seriam os acompanhantes do casal McCann na noite do repasto, nem porque nunca foram escrutinados, rigorosamente, como eventuais cúmplices em tudo o que se estava a passar.

A hipótese de homicídio que a equipa da PJ colocou – com a colaboração de certos investigadores da Scotland Yard – foi menosprezada  pela direcção daquela polícia e pelas autoridades portuguesas…e, mais estranho, de Inglaterra.

Mesmo o Procurador-Geral da República de Portugal (PGR) de então Pinto Monteiro que interveio para defender a morosidade de tal tipo de investigação -  "A Inglaterra, de onde ela é natural, tem 1.000 processos destes, nós temos 14 ou 15. E a percentagem de casos em que são descobertos, em países como Inglaterra, é de 20 por cento"[...]"Por isso, ninguém se pode admirar do até agora insucesso no caso Maddie – deu o caso como arquivado e nunca mais se falou no assunto.

De estranhar, é as intervenções em dinheiro que apareceram para financiar a campanha dos McCanns.

Alguns valores, para a altura, segundo os ingleses: mais de 2,6 milhões de libras esterlinas, incluindo:  250 mil libras do News of the World, 250 mil de Philip Green, 50 mil de Simon Cowell e 25 mil de Coleen McLoughlin.

Outros contribuintes incluem Richard Branson, J.K. Rowling e Bill Kenwright e um milhão de libras(€1.470.000) pelo homem de negócios britânico Stephen Winyard.

Apesar de todos os recursos particulares e públicos de investigação (verifica-se agora que as altas instâncias da Scotland Yard continuam na pesquisa) não há o mínimo indício de que tenha havido rapto.

Abandonado pela sua hierarquia, desconhecemos se justa ou injustamente, o inspector da PJ Gonçalo Amaral, que coordenava a equipa, deixou a corporação e editou um livro mantendo a sua tese de homicídio acidental ou não, sendo que os McCann utilizaram as receitas arrecadadas para o levar à justiça, exigindo uma indemnização de 1,2 milhões de euros.

Decorre, actualmente, o julgamento em Portugal.

De repente, a Scotland Yard lança a “a lebre” que a investigação pode ser aclarada, em breve, com os controlo das conversas de telemóveis dos utentes do complexo turístico da Praia da Luz.

Só agora, passados mais de seis anos, é que se lembraram de tal?

Ou tiveram acesso às escutas efectuadas pelos norte-americanos?


Uma pergunta fica sem responder, a não ser que o poder de Estado inglês o queira divulgar: 

Que importância  têm os McCann na 

sociedade inglesa?

(Os dados são retirados na sua maioria da imprensa da época)