terça-feira, 26 de abril de 2016

A NATO ESTÁ À DERIVA E OS GENERAIS NORTE-AMERICANOS QUEREM SANGUE NA EUROPA

1 – Nunca, como agora, estão a aparecer declarações sonoras de generais norte-americanos, comandantes da NATO, falando de cátedra, sobre o *perigo russo*, ultrapassando mesmo a *diplomacia* do poder político, a que estão subordinados.  

Esses *alfaiates* do complexo militar industrial dos Estados Unidos da América procuram, nos últimos meses, afanosamente, provocar conflitos com Moscovo, desde o Mar Báltico ao Azerbeijão, com compasso de espera na Ucrânia.

Um exemplo. Estas foram proferidas, há cerca de dois meses, na Geórgia, uma zona de crise, pelo general Philip Breedlove, que, então, ocupava os cargos simultâneos de comandante das Forças norte-americanas na Europa e Supremo das Forças Aliadas da NATO na Europa (SACEUR):
*Estamos a assistir a um ressurgimento de uma Rússia agressiva, que, voluntariamente, escolheu ser um adversário e representa uma ameaça agressiva e de longo prazo para os Estados Unidos e os nossos aliados e parceiros europeus*.

Mas, agressiva para os EUA…na Europa? Será que a fronteira norte-americana começa em Portugal?


2 - Mas o que representa, verdadeiramente, a NATO na actualidade?

Qual a razão de declarações cada vez mais agressivas de generais norte-americanos?

A NATO – Tratado da Organização do Atlântico Norte -, criada em 1949, pelos Estados Unidos da América *e os seus aliados* de peito, Inglaterra, Alemanha, e França, portanto muito antes de existir a chamada *cortina de ferro* e de ser instituída uma aliança militar sobre a liderança da antiga União Soviética com os países *seus satélites* chamada *Pacto de Varsóvia* em 1955.

Nasceu, desta maneira, como instrumento de poder imperial dos Estados Unidos para *amarrar*  os europeus ao seu controlo económico que começou a ser instituído com o *plano Marshall*.

Wall Street sabia que a recuperação económica da Europa ocidental seria superior e mais rápida face à recuperação da parte leste e da própria ex-URSS, onde o desenvolvimento do capitalismo estava em fase inferior e a destruição produtiva desses espaços atingia percentagens muito superiores do que do lado ocidental.

O empréstimo estatal de Washington, sob a supervisão do sistema financeiro e em seu benefício, foi algo como 13 mil milhões de euros, a partir de 1947 (uma valoração superior actual superior a 140 mil milhões de euros).

Era uma batalha, contra o tempo, de salvação do capitalismo financeiro ocidental, o que foi conseguido.

Na realidade, o crescimento da Europa ocidental nas duas décadas seguintes foi significativo, como foi arrasador o fluxo de exportações norte-americanas para o mesmo espaço geográfico (cerca de 80 % dos produtos entrados), mas mais arrasador foi a exportação bélica, o que representou a *asfixia* de Washington sobre a capacidade europeia de impor a sua própria política externa e a política de defesa.

O primeiro objectivo de Washington foi o de enxamear a Europa ocidental de bases e estruturas controladas pelas Forças Armadas norte-americanas. Ou seja, ocupação efectiva de territórios. Transformá-los em protectorados.



No continente europeu, devem existir mais de 100 mil soldados dos EUA, cerca de 40 mil só na Alemanha. As suas bases estendem-se desde Portugal até à Turquia, passando pela Inglaterra, Grécia, Itália, Dinamarca, Islândia, Noruega, Holanda e Luxemburgo.

E desde a queda da URSS, à Polónia, Hungria, Roménia, Bulgária, Albânia e Kosovo.

Embora a *ajuda* do plano Marshall fosse aproveitada pela burguesia desenvolmentista europeia para levar avante o seu projecto de criar um espaço europeu, através da cooperação económica primeiro, esse espaço está cerceado pela sua incapacidade de forjar uma diplomacia e Forças Armadas únicas.

De certo modo e em certo sentido, essa burguesia avançou, tirando lições dos esforços anteriores (napoleónicos, prussianos e hitlerianos) de rasgar para essa via, de maneira unilateral, brutal, desprezando os direitos nacionais e soberanos dos povos.

Para que se tivesse implantado a CEE, e, depois introduzido a UE, contaram com a cumplicidade dos sectores mais conscientes das classes laboriosas. E isto porque se instituíram, ao mesmo tempo, uma panóplia de direitos para todos os diferentes povos e nações da Europa.

A CEE nasceu, realmente, de uma nova tentativa de desbravar o espaço económico sem fronteiras (circulação de mercadorias e de pessoas), agora em harmonia internacional.


Esse espaço – económico e político – é essencial à emancipação política das próprias classes trabalhadoras.

Estas terão, agora, a tarefa de criar a sua própria estrutura própria com as suas reivindicações específicas.

A NATO é, hoje, um entrave a esse caminho, é, na realidade, um escolho mantido por Washington para desarticular o nascimento de União Europeia independente, dentro de uma harmonia possível, e, englobar um território maior, talvez dentro de duas décadas, com a própria Federação Russa.

Ou seja, o maior mercado comercial do Mundo.

(O capitalismo centrado em Washington tem consciência que foi – e será – na Europa que surgiram as maiores convulsões revolucionárias que deram a perspectiva de um novo rumo societário para o Mundo.

Essas convulsões deram-se sempre na esteira do avanço da burguesia na sociedade europeia, com o ascenso, primeiro, do capitalismo industrial na Inglaterra e depois em França; depois com a sua extensão à Alemanha e à Itália, nos finais do século XIX. Mais tarde, com a sua penetração na Rússia czarista).

E esse escolho, presentemente, é visível desde a entrada forçada, eivada de *nacionalismos* e com o financiamento do lado norte-americano dos países do leste, antigos integrantes do Pacto de Varsóvia na estrutura da Aliança, totalmente dominada pelos Estados Unidos da América.

3 – Com os novos rearranjos geo-estratégicos e geo-políticos, criados com o aparecimento de novos centros capitalistas em concorrência directa com os EUA, em particular, a Rússia e a China, o papel da NATO tornou-se obsoleto.


Numa escala menor, o Brasil, com o MERCOSUR, a Índia e a África do Sul, associados àquelas nos BRIC´S.

As crises do Médio-Oriente trouxeram, de maneira mais visível e aguçada, a impotência da NATO e da sua cabeça política, Washington, e financeira, Wall Street.

Esse obsoletismo político-militar faz vir ao de cima as ameaças dos generais, que, no fundo, são as ameaças do complexo industrial-militar, ou seja, gritos de agonia de um militarismo que contra a marcha da História pretende continuar actuante. 

São, pois, perigosas, porque estão centrados no desespero de um modelo político-económico que está a entrar em colapso, ainda com poder castrense extraordinário.

Justamente porque são gritos de desespero de um sector do grande capital financeiro que sente o chão a fugir-lhe dos pés, e isto porque a UE não quer contribuir para o financiamento da NATO.

Desde os atentados do Charlie Hebdo em Paris, a França, que se considerou atacada de fora pelo *terrorismo internacional*, nem sequer fez um esgar para se dirigir à NATO, como organismo de *defesa colectiva*.

A Alemanha, e por tabela a UE, na recente crise dos refugiados, opinou que a Aliança Atlântica actuasse como *guarda costeira* no Mediterrâneo.

4 – A gravidade da questão é que, na crise geral do capitalismo, a concorrência inter-imperialista está provocar um incremento desmesurado do militarismo nos próprios EUA, na Rússia, na China, o que provoca um aprofundamento crescente da crise financeira internacional.

Curiosamente na UE, são os governantes dos países do leste que mais pressionam para que aquela enverede pelo apoio à política de Washington dentro da NATO. Com o dedo apontado ao *monstro* russo.

Mas, os países mais evoluídos economicamente, como a Alemanha e a França, estão mais preocupados em reatar os *laços comerciais* com Moscovo.

Quem quer lançar gasolina para o fogo neste momento ao território europeu?: 

Apenas os EUA, e, depois colocar-se de fora para vir recolher os *proventos* quando a Europa novamente estiver reduzida a cinzas.

Só que, no presente, os ventos da guerra atingirão todo o planeta.

A tecnologia castrense para alcançar a destruição não precisa de grande deslocamento de forças.


Vamos esperar para ver como reage a UE ao que se está a passar no Médio-Oriente.

domingo, 10 de abril de 2016

EUA: UM FUTURO COM ESPECTRO DE GUERRA CIVIL

1 – Quando o candidato presidencial norte-americano Donald Trump afirma que os Estados Unidos da América estão em recessão, tal divulgação, alicerçada nas propostas do capitalista, enquadra já uma promessa de futuro:

A sua eventual ascensão ao poder político será feita, com mão de ferro, em defesa do capitalismo puro e duro, alicerçado na supremacia da finança norte-americana.


E a mensagem política traz uma *armadura militar*: vai haver guerra contra todos os explorados do Capital, desde os naturais integrados até aos migrantes documentados e indocumentados.

Pode parecer estranho, mas a alternativa política dentro do actual regime norte-americano, construído, desde as primeiras décadas do século XX sobre a luta ideológica contínua contra o «comunismo soviético», abominando tudo o que cheirasse a revolução, está num senador desse próprio regime, Bernie Sanders, que defende uma *revolução política* e que essa deva nascer da implantação do *socialismo democrático*.

2 – O combate ideológico e político de Sanders centra-se sobre o domínio avassalador de Wall Street, ou seja o grande capital financeiro especulador sobre a própria sociedade norte-americana, em que o senador de Vermont engloba a própria antiga secretária de Estado Hillary Clinton, sua comparte partidária na liça.

Nesta perspectiva, Sanders apresenta-se como o representante da *oposição* burguesa – industrial, camponesa e, em grande medida, a pequena burguesia (intelectuais, artistas, certas profissões liberais) – afastada, na realidade, de qualquer representação no aparelho governativo e legislativo do Estado norte-americano.


Apesar da manobra da grande burguesia financeira, de há 10 anos, de alçarem uma personalidade como Barack Obama, proveniente, por nascimento, de um pai negro, a Presidente, o certo é que ele era – é – um membro destacado de um grupo escritório de advogados, que servia e serve a facção financeira dominante da grande burguesia.

Não resultou essa manobra face à crise existente aprofundada desde 2007/08.

O fosso entre governantes e governados aumentou nos EUA.

O ascenso revolucionário que impregnou a Europa na segunda metade do século XIX e primeiras décadas do século XX, que trouxe vitórias às classes trabalhadoras em todo o Mundo, desde a redução do horário de trabalho, os contratos colectivos, as seguranças sociais, o próprio direito de voto alargado impulsionou, todavia, uma enorme onda contra-revolucionária, cujo expoente desde a II Grande Guerra, se situou, precisamente, nos Estados Unidos.

Apesar do descalabro dessa onda, a partir dos finais do século passado, tal facto não viu crescer uma nova estrutura político-partidária, coesa e internacional,  com uma nova capacidade programática revolucionária.

3 – Os Estados Unidos da América, a alma mater do poder contra-revolucionário mundial durante décadas, estão, agora, acantonados sob a ameaça de uma possível implosão da sua sociedade.

Então, ainda que com reservas, admitem toda a argamassa ideológica e política de uma *sociedade socialista*.

Mas – sublinhamos – sob o manto diáfano da social-democracia.

Os Estados Unidos da América, como Nação independente, têm, historicamente, um passado recente.

Embora apresentem uma unidade política, na realidade, não tem o cimento de uma centralização definida desde os seus primórdios.

Os acontecimentos históricos marcantes na sua vivência estão assinalados por conflitos de envergadura, e, ainda hoje, problemáticos, porque fazem vir ao de cima clivagens na sua sociedade, como é o caso da guerra civil norte-americana (1861-85).

Uma guerra sangrenta que levou à morte de mais de 750 mil norte-americanos envolvidos nos combates e número não determinado de civis.



Ainda hoje em muitos locais públicos do sul dos Estados Unidos se usam bandeiras da Confederação secessionista.


Esta guerra civil provocou o incremento da grande burguesia industrial e impulsionou em poucas décadas o ascenso do capitalismo norte-americano à cidadania mundial, e, acima de tudo, internamente, à coesão como Estado territorial.

Na realidade, foram abertas estradas rodoviárias de norte a sul e de leste a oeste, e ferroviárias, que colocavam homens e produtos de costa a costa. Desenvolveram-se as comunicações, com os telégrafos; inundaram-se as grandes cidades com fábricas, estaleiros e navios, a agricultura elevou-se a agro-indústria. 

A indústria de guerra contribuiu para todo este ascenso. Rapidamente, abriram caminho ao extraordinário desenvolvimento do capital financeiro.

A actual fase recessiva desse capitalismo, ameaçado pela falência e pela ruptura entre forças produtivas e relações de produção, está a fazer vir ao de cima as clivagens sociais que estiveram na origem do nascimento do *milagre* norte-americano.

Claro que a sociedade norte-americana evoluiu muito desde a luta contra a escravatura, mas os resquícios permanecem – norte com sul, brancos contra negros e hispânicos, regiões de alta tecnologia industrial contra cidades decadentes da *velha indústria*, cidades contra campos.

Este fantasma está latente nas candidaturas principais dos republicanos, desde Trump a Marco Rubio ou Ted Cruz. Acirradas por muito ódio.

Do outro lado, é Sanders, que sustenta que é preciso uma *revolução*.

No ar, fica a ideia de guerra civil…se o regime claudicar.

Os resultados das escolhas da candidaturas presidenciais ir-nos-ão apontar o futuro que está reservado aos Estados Unidos.

Esse futuro parece bem sombrio.