segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

LEILÃO DA DÍVIDA PORTUGUESA: NAS MÃOS DOS ESPECULADORES










1 - Com trombetas e os habituais comentaristas residentes, apanhadores das migalhas do Orçamento de Estado nos grandes meios de comunicação social, o governo português anunciou que estava no trilho certo ao colocar, na semana passada, para venda, títulos de dívida pública (bilhetes de Tesouro) no valor de dois mil milhões.

Fez este leilão em três fases: a três meses (300 milhões de euros), 12 meses (1.200 milhões de euros) e a 18 meses (1.000 milhões).

Formalmente, quem colocou a venda da dívida foi o Estado português, via governo.

Na realidade, o leilão foi todo ele controlado e efectuado por quatro bancos, três estrangeiros declarados, Barclays, Deusche Bank e Morgan Stanley e, um português, detido, na prática pelo Crédite Agrícole francês, o BES.

As trombetas serviram para fazer ruído, para obscurecer que a dívida pública está nas mãos do sistema financeiro especulativo e o dinheiro arrecadado é apenas para pagar juros da dívida existente, o que, na realidade, vai fazer crescer, novamente, essa mesma dívida.

//É um facto: o Estado português, ou seja o seu executor prático, o governo actual – e os anteriores – está de “calças na mão”, completamente à mercê da grande burguesia financeira mais vampiresca, o que, em termos práticos, o obriga a descarregar todo o ónus da despesa para cima das classes trabalhadoras e de grande parte da pequena burguesia para satisfazer os apetites crescentes da rapinagem dessa lumpem-grande burguesia.

A denúncia não é minha, está estampada na grande imprensa, que faz título de primeira página: “Dívida detida pelos bancos atingiu máximo histórico em Novembro” do ano passado.

Transcrevo a notícia de um jornal diário económico que é elucidativo: “A dívida pública portuguesa detida pela banca atingiu máximos históricos em Novembro de 2012, um recorde que os analistas atribuem ao financiamento barato (sublinhado meu) do Banco Central Europeu (BCE) que os bancos aproveitam para aplicarem em dívida com elevada rentabilidade.

“Os bancos a operar em território nacional tinham, em Novembro do ano passado, 32.499 milhões de euros de títulos soberanos de Portugal. Este é o valor mais alto desde 1997, primeiro ano de que há registos do Banco de Portugal, e ultrapassa em 39% o valor de Abril de 2011, quando os presidentes dos maiores bancos portugueses sugeriram que Portugal devir pedir ajuda externa e alertaram que o sector não podia continuar a financiar o Estado através da compra dos títulos de dívida.



“Após esse mês, a dívida soberana nas mãos dos bancos ainda subiria ligeiramente, mas na segunda metade do ano iria descer e chegaria aos 22.847 milhões de euros no final de Dezembro de 2011. Desde então, a tendência é de subida.



“De acordo com os analistas, o aumento da dívida nas carteiras dos bancos é o resultado de dois factores. Por um lado, da percepção de que a dívida portuguesa estava subvalorizada no mercado e, por outro, da capacidade financeira dada pelas operações de financiamento a três anos do Banco Central Europeu (BCE), que permitiram aos bancos ter capital para investirem em títulos soberanos e realizarem mais-valias.



“Nas duas operações de financiamento do BCE (em Dezembro e Março, à taxa de 1%) os bancos portugueses ficaram, no total, com 40 mil milhões de euros do bilião de euros concedido à banca da zona euro.



“Em Setembro, segundo os últimos dados dos principais bancos privados, 16% dos activos do BPI eram títulos de dívida soberana, os quais ascendiam a 7.462 milhões de euros. Destes, mais de 80% era dívida de Portugal (6.073 milhões de euros).

No BCP e no BES a dívida soberana era de cerca de 5% dos activos em balanço.



“No entanto, em termos do total de títulos soberanos, os números são ainda mais significativos: 95% do total no banco liderado por Nuno Amado (4.788 milhões de euros) e 98% no banco presidido por Ricardo Salgado (4.204 milhões de euros).

"Já a Caixa Geral de Depósitos (CGD), segundo a imprensa, tinha no final do primeiro semestre do ano passado 8,1 mil milhões de euros em dívida soberana de Portugal, isto em termos consolidados.

“Francisco Almeida, gestor de activos da corretora Orey Financial, considera que, além das remunerações elevadas, os títulos de dívida portuguesa são atractivos para os bancos porque têm a vantagem de "servirem como colateral para entregar ao BCE por empréstimos". 

“Mas não é só o financiamento do BCE que os bancos estão a utilizar para comprar dívida portuguesa.

“Paulo Soares Pinho, professor da Universidade Nova de Lisboa, refere também que parte importante do capital público que o Estado português tem injectado nos bancos é canalizada para dívida pública.

“Isto porque, explicou, o facto de os instrumentos de capital convertíveis em açcões (as chamadas 'CoCo bonds') serem "onerosos" (com taxas a partir de 8,5%) leva os bancos a utilizarem "esses montantes para comprar dívida pública de longo prazo, cujas 'yields' [rendimentos] elevadas permitem compensar o custo dos CoCos".

“Depois dos 4.500 milhões de euros injectados no BCP e no BPI em 2012 para os recapitalizar, até final deste mês o Estado vai pôr 1.100 milhões de euros no Banif, onde ficará como accionista. O Estado investiu ainda 1.650 milhões de euros na CGD, neste caso, enquanto seu único accionista.

“Os analistas encontram neste processo quase que um círculo vicioso que está, pelo menos de momento, a financiar tanto os bancos como o Estado.

"Os bancos estão a ir buscar fundos ao Estado em parte por força de terem exposição a divida soberana e com esse capital vão comprar mais dívida soberana. É um ciclo estranho, resolver apagar o fogo com mais lenha", afirmou o analista que prefere não ser identificado.

“Já segundo Soares Pinho, o "Estado encontra, via banca, uma fonte de financiamento estável", ao mesmo tempo que assiste a uma queda das taxas de juros da dívida pública através dessas compras. Já os bancos têm melhorado "bastante" a sua liquidez, o que lhes permite baixar as taxas de juro agressivas que chegaram a oferecer pelos depósitos a prazo, enquanto o BCE se mantém como uma fonte fundamental de financiamento”//.


Querem explicação mais clara?







2 -
E para onde foram esses títulos de Tesouro?

Diz a secretária de Estado do Tesouro, Maria Luís Albuquerque (como elas exercem, com mestria as funções capitalistas!!!) que 93 por cento da emissão foi colocada junto de investidores estrangeiros.

A linguagem de servidores da lumprem-grande burguesia: Maria Luís enaltece: a operação foi “um primeiro passo muito importante” no processo de regresso aos mercados, que contribuirá para a recuperação da economia e para o financiamento das empresas e famílias”.
E referenciou: cerca de 30% dos investidores são dos Estados Unidos, 30 por cento do Reino Unido, 9 da Alemanha e 7 por cento de Portugal. O complemento explicativo: mais de 60 por cento são gestores de fundos, ficando 22 % da dívida nas mãos de *hegde funds*, 9 % nos bancos e 4 % em seguradoras. 

Ou seja, os detentores são, essencialmente especuladores financeiros que querem sacar mais valias, o mais rapidamente possível à custa de juros apetecíveis, e estão a marimbar-se para qualquer recuperação da economia nacional, de Portugal ou de outro qualquer país. 

Muitos desses gestores de fundos são os accionistas reais do sistema financeiro internacional, principal de Wall Street e da City londrina. 

O que vai trazer esta dependência? 

Mais penúria financeira para o Estado, mais açambarcamento do dinheiro do erário público português, maior desequilíbrio do Orçamento. 

O crescente aumento da dívida pública cai sempre, em benefícios, para o sector da classe dominante avassaladora no momento actual – a grande burguesia financeira -, que enquadra, sem qualquer resistência todo o poder real, o executivo (governo e Presidente da República) e o legislativo, e, em grau menos esclarecedor, o aparelho militar e de segurança, bem como a magistratura. 

E conforme retiramos da própria grande imprensa da burguesia instalada no poder, o défice de Estado é a real raiz da especulação financeira e o factor principal de enriquecimento dessa burguesia financeira desclassificada e vampiresca. 

É impossível – em termos de economia política, que é essa que interessa à gestão do país – conseguir relançar a economia nacional (e em grande medida da União Europeia, por a interligação ser evidente e cada vez mais premente politicamente), sem fazer um equilíbrio justo do Orçamento de Estado, sem atingir, portanto, os interesses reais - e não meros aumentos de impostos de contas viciadas e irreais - dessa grande burguesia financeira, sem atingir, na realidade, os seus dinheiros encobertos, sem lançar mãos de impostos às fortunas dos banqueiros e similares incrustadas em off-shores.

Ou seja, sem arrecadar a verdadeira carga fiscal – a encoberta – dessa grande burguesia.





3– O governo de Passos Coelho, primeiro através do seu ministro das Finanças, Vítor Gaspar, posteriormente, pelo boca do Primeiro-Ministro, divulgou, solenemente, que o défice da contabilidade pública ficaria este ano nos cinco por cento, e que tal facto teria sido conseguido pela aplicação da política de equidade na austeridade que introduziram no país.

Ora, a realidade é uma outra: estes valores são alcançados, artificialmente, defraudando, sem qualquer espécie de rubor, o próprio Estado.

E onde estão as fraudes?

As aplicações constantes das chamadas obtenções de “receitas extraordinárias”, que nada são do que receitas de privatizações, no caso em apreço imediato a empresa ANA – logo delapidação do erário público e entregá-lo a especuladores – e de transferências de fundos de pensões, que são poupanças dos trabalhadores feitas ao longo do seu tempo de trabalho (no mínimo 36 anos de descontos), como foi o caso do fundo de pensões da Portugal Telecom, que serviu para injectar dinheiro nos bancos. Um valor, oficial, de pelo menos cerca de 9,2 mil milhões de euros.
Que, a prazo, vai entrar no défice do Estado.

Como se pode ver, existe uma cadeia no controlo total do domínio do capital financeiro.

Nada do que se está a desenrolar em torno da política de diminuição de défice traz vantagens para impulsionar a produção nacional, nem para servir, em último caso, o próprio interesse nacional, porque tudo o que está a ser transaccionável na esfera do Estado, desde as privatizações até ao investimento em chamadas Parcerias Pública Privadas, como forma de lançar dinamismo na economia, traz benefícios para as classes laboriosas atingidas. 

Tudo, mas tudo, na actualidade da sociedade burguesa, o que é grande negócio é especulativo, e quem domina, desde o aparelho de Estado até as empresas nacionalizadas privatizadas, e a sectores chaves, como a saúde, a educação, os transportes nas suas grandes vertentes, à própria propriedade da terra, são apenas uns: os banqueiros, os especuladores bolsistas, os grandes accionistas privados de empresas nacionalizadas rentáveis, que passaram para a sua posse.
Um facto novo, brutal, numa crise económica e política mundial que estava a larvar, progressiva, mas continuamente, desde 1973, altura do chamado *choque petrolífero*, foi o surgimento espectacular da crise da grande finança nos Estados Unidos em 2008. 

De olhos esbugalhados, a classe média norte-americana, e, essencialmente, as classes laboriosas viram-se, de um dia para outro, serem colocadas na rua, porque não podiam pagar as suas casas, os seus empregos desapareciam como por encanto, os seus seguros de pensões evaporaram-se, porque o capital financeiro especulara, desenfreadamente, com o dinheiro dos depositantes colocados à sua guarda. 

Esta crise rapidamente se transformou em crise económica, após a falência de uma dos maiores bancos privados dos EUA, o Lehman Brithers. 

Por tabela, e porque o capital financeiro está toda associado, dias depois a maior seguradora norte-americana a American International Group (AIG). 

Depois instalou-se o efeito dominó, empresas “tidas acima d qualquer suspeita” estavam na falência ou quase, Citigroup e Merryl Lynch (EUA), Northern Rock, Inglaterra, UBS, Suíça, e Société Générale, França.

Qual foi a principal preocupação dos governos, começando pelos Estados Unidos: injectar dinheiro público para salvar os bancos ligados ao grande capital especulativo (Wall Street e City londrina, curiosamente interligados ao capital especulativo judeu e do Vaticano). 

Esta realidade trouxe a contestação social generalizada para as ruas.

Começou a evoluir – ainda que sem grande orientação ideológica e política – conflitos de grande extensão, em particular na Europa, centro da grande evolução social e das rupturas políticas de envergadura ao longo dos séculos. 

Está em marcha um processo de luta, que vai ser prolongado, cheio de ziguezagues contra o domínio económico e político do grande capital financeiro.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

O REGRESSO À CONVENÇÃO DE VIENA DO SÉCULO XXI?




bacia das riquezas minerais da região do Mali, Mauritânia e Argélia



                            Mali, mapa político

1 - Assistimos hoje, e quando digo hoje vai desde os anos 80 do século passado, com toda a desfaçatez, às intervenções armadas neo-coloniais das chamadas potências - europeias, norte-americanas, russas ou chinesas - no interior de povos e territórios de países economicamente menos desenvolvidos, mas carregados de riquezas naturais ou situados em encruzilhadas geo-estratégicas, actuando, cinicamente, em nome da sua civilização que dizem superior.

Vem esta introdução a propósito da violência praticada pela França - em cumplicidade declarada com o chamado Conselho de Segurança da ONU, que se institui em polícia do mundo, conforme as conveniências - no Mali e a sua prática de violência e sangue, levada a efeito pela clique assassina, que se intitula socialista, e governa aquele país.

Os franceses, juntamente com os norte-americanos, que actuaram, descaradamente, na Líbia, provocando massacres e morticínios indiscriminados, que esfrangalharam o incipiente Estado Líbio, à custa de uma aliança táctica com os islamistas da chamada Al-Qaeda, pró-americana, fazendo expandir o descontrolo de armamento que foi aproveitado pelos tuaregues do sul líbio, que têm ligação com os da Argélia, Mali e Mauritânia, estão agora confrontados com a insurreição daqueles e com o expulsão, pura e simples, dos seus fantoches instalados em Bamaco.

Jogando, portanto, com as divergências internas no país, e considerando que, unilateralmente, se arrogam no direito de intervir onde não têm jurisdição, os representantes no governo de Paris da aristocracia financeira ligada aos petróleos pensam colocar a pata na reconstrução de um novo poder, apresentando-se como libertadores de uma invasão de retrógrados islamistas.

(No oeste  do Mali, segundo os dados já disponíveis em prospecção, existem jazidas de petróleo e gás natural na bacia do Taudeni algumas já em exploração -dizem os jornais do sector com mais capacidade do que as da vizinha Mauritânia-, e no leste, minas apreciáveis de urânio, que empresas gaulesas já exploram. Isto, portanto, em duas regiões onde os islamistas avançam ou já controlam.

2 - Esta intervenção neo-colonial das antigas potências e das novas em emergência, como a China e a Rússia, que está a levar a guerra total a todos os territórios onde proliferam as grandes riquezas naturais, como petróleo, gás, urânio, lítio, alumínio (bauxite), ouro, prata, ferro, cobre, tungsténio,  pisando, literalmente, de novo, os direitos nacionais e regionais.

Veja-se que o caso mais recente se iniciou com a chamada Primavera árabe, a qual partindo de uma real e genuína insatisfação popular, por ela vingaram os aliados islâmicos (principalmente sunitas) da grandes potências ocidentais.

Desde Marrocos até ao Médio Oriente, mas principalmente na Líbia, onde a ocupação e fragmentação daquele Estado somente se fez com a intervenção assassina do bloco imperialista NATO, para defender, única e exclusivamente, os interesses das chamadas oito *irmãs*, as companhias majestáticas do petróleo.

Mas já vem desde os ano 90 século XX, com a multiplicação de conflitos na regiões dos Grandes Lagos, em África, tendo como país de destino principal a República Democrática do Congo para a exploração brutal do lítio, através de senhores da guerra facto que este torna o produto mais barato do que sendo explorado por um único governo central.

Mas também pela intervenção nas Guinés (Bissau, por um lado, e Conacri, por outro). Nestes países estão riquezas substanciais em petróleo, bauxite, ouro e prata.

O exemplo da Nigéria, aparentemente dilacerada e, praticamente, esfrangalhada, por uma guerra interna com contornos religiosos, mas na realidade fomentada para o controlo real da exploração petrolífera.

Convém recordar o caso da Costa do Marfim, cujos piedosos governantes e comentaristas ocidentais falavam à boca cheia de diamantes de sangue, pois ali foi desencadeado, através de actores internos, um massacre inaudito para que as grandes companhias do sector, controladas pelos capitalistas financeiros judeus, se assenhoreassem directamente daqueles metais preciosos.

O que produziu, realmente, naquele país foi um constante turbilhão de tensões entre o norte - com migrações enorme de origem islâmica, provenientes de outros países, - e o sul, de populações que professam o cristianismo. Claro que o poder interno está periclitante, servindo de motivo para as intervenções imperiais de França, ali, actualmente instalada.

Gritante é o que se passa no Sudão, onde se acirram conflitos, que se estendem do Darfur até ao Nilo Azul, retalhando o próprio país em dois Estados - Sudão e Sudão do Sul, com argumentos de defesa das populações e por razões humanitárias, onde chafurdam, como ícones, estrela de cinema, palhaços úteis, como George Clooney, para repartir na realidade as riquezas do crude.

3 - O que referimos, faz-nos lembrar, claro com a distância do tempo e das mudanças sociais e políticas de quase 200 anos, o sucedido após o Congresso de Viena em 1815, em que as potências vencedoras e poderosas se lançaram, desenfreadamente, na conquista (sim conquista, porque nunca a houvera antes, apesar de serem os europeus os chamados "descobridores" do continente africano) dos territórios coloniais em África, Médio e Extremo Oriente, quando a industrialização necessitava, urgentemente, de matéria-prima barata.

O mapa de África, do Médio e em grande parte do Extremo-Oriente foi desenhado então a régua e esquadro, ou redistribuído conforme os apetites e interesses imperiais europeus.

Desprezaram-se vidas inteiras tribais, mesmo sentimentos nacionais, fragmentaram-se nações forjadas desde os tempos antigos sob as concessões religiosas então vigentes. 

Colocaram-se garrotes indecorosos aos povos de África, mas também da região do Indostão e da Conchichina, para não falar na humilhação aos chineses, através da guerra do ópio.

Claro que isso tinha de acabar e acabou no rescaldo da II Grande Guerra. 

A História avançou para dar lugares a concepções de nacionalidade e nacionalismo.

Essa revolução que terminou, grosso modo, nos anos 70 do século passado com as derrotas gritantes dos Estados Unidos no Vietname, Cambodja e Laos e nas colónias portugueses (Guiné, Angola e Moçambique) por essa mesma época, as quais permitiram a queda abrupta, uma dezena de anos depois, dos regimes racistas da Rodésia e da África do Sul, foi, portanto, orientada para a satisfações das reivindicações nacionais e de liberdade face ao opressor colonial e imperial.

Foi, realmente, um período de grande efervescência pré-revolucionária, pois havia a ameaça de um avanço sobre o poder dominante das classes laboriosas.

Mas, a burguesia, que então se retraíra, e, ascendera ao poder, sob as consignas da revolução, foi ganhando terreno, e, sob os escombros dessas bandeiras, veio a dominar, cerca de duas dezenas de anos mais tarde, totalmente, as rédeas da dominação.

Com o descrédito total da antiga União Soviética, nos anos 90 do século XX, mudaram rapidamente de alianças do capitalismo de Estado para o capital financeiro liberal e desclassificado.

Afastando-se das velhas ilusões pseudo-revolucionárias das teses soviéticas (russas, maoístas ou albanesas), novas gerações procuram restaurar o seu orgulho nacional, escudando-se sob ideologias religiosas, católicas, na Polónia e em parte na Roménia, Hungria e Roménia, islâmicas, em grande parte de África e Médio-Oriente.

A reprovação desta avançada islâmica não pode ser feita sob a alçada do neo-colonianismo, mas sim através de um novo programa de revolução que seja radical, completo e sirva os interesses gerais dos povos, e, essencialmente, das classes laboriosas.









terça-feira, 15 de janeiro de 2013

OS RATOS ESTÃO A ABANDONAR O NAVIO...MAS ENTRETANTO EMPOCHAM



1 -  Os ratos estão a abandonar o barco?

Exactamente. É isso que está a acontecer com os apoiantes entusiasmados, alguns meses atrás…., do actual governo PSD/CDS, como o caso de Carlos Carreiras, um indefectível de Passos Coelho.



É sempre preciso mudar...a tempo


Depois de Nogueira Leite, que trocou os governos PS pelo apoio aos partidos do Bloco Central do poder de agora (PSD/CDS) e que foi o emplastro útil (para ele, que conseguiu tachos atrás de tachos) de Passos Coelho, na luta política, em 2010, contra Paulo Rangel, então o candidato oposicionista ao actual líder do PSD na ascensão à liderança daquele partido, ter abandonado a vice-presidência da Caixa Geral de Depósitos (um tacho de muito dinheiro!!!), e,  depois de Mota Amaral, ter anunciado que o executivo passista produziu "uma verdadeira catástrofe", aparece Marques Mendes, porta-voz oficial e diligente *padrinho* de Coelho, a afirmar temer a queda do governo, perante a gestão do recentemente anunciado relatório do FMI, já antes vários "caninos" autarcas sociais democratas, bajuladores de antanho, depois da derrota nas eleições regionais dos Açores, em Outubro passado, viraram as espingardas com o líder.

"Não podemos meter a cabeça na areia", gritava histérico esse rapaz político de carreira chamado Hermínio Loureiro, Presidente da Câmara de Oliveira de Azeméis, em declarações à imprensa. e acrescentava, de olhos fechados: "foi uma derrota de Passos, enquanto líder do PSD e enquanto líder do Governo".

2 – Mas, antes multiplicam-se no venha cá o meu?  

É verdade. Verdade, verdadinha. Aterradora verdade.

Pode mesmo dizer-se que se vão multiplicando na sacagem rápida de beneses e prebendas em nome dos serviços prestados ao sistema financeiro dominante, e aos seus grupos de pressão, organizados em torno de aventais, de terços e quejandos.

Claro que não é um exclusivo do actual governo, mas uma sintonia perfeita dentro do Bloco Central. 

E esse "arco" estende-se, concretamente do CDS ao PS, passando, no caso presente, essencialmente pelo PSD.

Geralmente, quando os partidos do Bloco Central ascendem ao poder, os que se assentam no governo, distribuem, em primeiro lugar, as sinecuras e as migalhas pelos apaniguados, e, depois – por vezes em simultâneo -, na embrulhada de aventais e passes de sacristia, pelos que pode dar uma mãozinha na ajuda de manter o "barco" capitalista a flutuar.

Comecemos pelo mais antigo.

Um rapaz que percorreu todas as "capelas" do poder.

Começou justamente em pleno Estado Novo. Chama Silva Lopes e, aos 77 anos, foi nomeado, em 2009, administrador da EDP renováveis, onde se mantêm, passando os 80 anos.

Abandonou, há uns anos, a Presidência do Conselho de Administração do Montepio Geral onde empochou, ao sair, pelo menos 500 mil euros.

Façamos um pequeno lembrete da sua "estória": Nos anos 60 e 70 do século passado, como funcionário superior do Estado Novo negociou a adesão de Portugal à EFTA, depois participou nas negociações de adesão à então CEE.

De 1975 a 1980, foi governador do Banco de Portugal.

Andou, como ministro e secretário de Estado, pelo Ministério das Finanças quer nos governos provisórios, quer constituicionais do pós 25 de Abril de 1074. Logo no I Governo provisório do maçon Palma Carlos foi secretário de Estado das Finanças.

Teve tempo e ousadia ainda para ser deputado entre 10985 e 1987. Ocupou cargos de topo no Montepio Geral entre 2004 e 2008.

Pela mão de António Mexia, presidente da EDP e ex-ministro das Obras Públicas de Santana Lopes, foi integrado na Administração da EDP Renováveis.

a união perfeita entre o capital e o seu governo. Estão todos juntos 

Um outro figurão, que vem das entranhas da Rua do Grémio Lusitano - e não só. Antes deste não só, andou por Macau, onde chegou  a ser Governador interino.

Foi secretário de Estado e Ministro, saltou por muitos tachos e assentou arraiais, com um balúrdio de ordenado, como Presidente do Conselho de Administração da EDP Energia.

Deixa o cargo - dizem os jornais para outra pérola do regime: Diogo Freitas do Amaral, um saltitão político e económico das maravilhas de penacho oco da nossa praça, onde se contam, também,  no *curricullum* os milhares e milhares de euros provenientes de pareceres.

Pois, Murteira ainda não saiu de "bordo" da EDP e já está indigitado para ser o Presidente da SAER, uma consultora especializada na chamada geopolítica, estratégia e competividade, e que conta também na sua propriedade a CPR - Consultora Portuguesa de Rating. (Curioso, a CPR faz o "rating" da EDP - é estranho, não é. Mais curioso, é que Murteira, que sucede a Ernâni Lopes, foi, tal como o ex-ministro das Finanças de Mário Soares, Presidente da PT. Tudo curiosidades, não é).

Viremos para as figuras e personalidades que giram em torno da Fundação Gulbenkian. Aparentemente, uma Fundação privada, na realidade uma instituição onde o Estado coloca milhões de euros e indica os seus administradores. Uma instituição que movimenta muitos milhões e milhões de euros. Apetitosa...em tudo.

Meses atrás, foi para Presidente do Conselho de Administração Da Gulbenkian, um reformado chamado Artur Santos Silva, mas que, na prática, é o homem-forte do BPI - um banco que meses atrás estava quase falido, agora já está em vento em pompa...depois de vender a dívida do Estado). Ele afirma que não recebe o dinheiro do cargo que representa, mas porque será que o banqueiro está na Gukbenkian? Para admirar quadros e colecções? Claro que não. Para superintender dinheiro....Está tudo dito.

Agora sabe-se que foram nomeados para administrador não executivos duas personalidades socialistas: António Guterres e Gomes Canotilho, este um universitário, que já foi do PCP.

Guterres que é alto funcionário da ONU, quer regressar a Portugal, depois de ser ter afundado com o governo que liderava. Foi um incompetente. Já não o é?

Tirando os casos de autêntico crime jurídico e de polícia, mas de uma impunidade infame, com os de Oliveira Costa (BPN), Dias Loureiro (BPN), Isaltino de Morais (Tagus Park, branqueamento de capitais e semelhantes), submarinos (envolvendo todos os ministros da Defesa, desde Rui Pena até Paulo Portas, pelo menos), o caso recente mais gritante de mordomias e traficâncias com cargos em proveito pessoal diz respeito ao antigo governante de Cavaco Silva de nome Eduardo Catroga.

Pois este homem de mão do capital financeiro-industrial (desde sempre ligado ao grupo CUF), que foi o braço direito de Passos Coelho nas negociações com o FMI/BCE/CE (apelidada de troika), vai juntar aos seus *magros* proventos um salário de 45 mil euros, quando assumir o cargo de Presidente do Conselho Geral e de Supervisão da EDP.

Sabe-se que este “lúmpen representante” do Capital já tem um pensão mensal de 9.600 euros, tirando os PPR Reforma, que juntou ao longo da sua passagem pelas diferentes gestões

Pois, este ex-ministro das Finanças de Cavaco Silva, seu conselheiro privado, tem a lata de afirmar que “quanto mais ganhar, maior é a receita do Estado com o pagamentos dos meus impostos, e isso tem um efeito retributivo para as políticas sociais”.

Catroga é um dos três antigos governantes de Cavaco Silva que irá sacar dinheiro em acumulação no mesmo Conselho da EDP: Braga de Macedo e Paulo Teixeira Pinto .

Mas para lá também vai Celeste Cardona, que foi ministra da Justiça de Durão Barroso, e até uns meses atrás pertenceu à administração da CGD. 

Mas as sinecuras vão também para Ilídio Pinho, que já foi patrão de Passos Coelhos, e *mecenas” de Mário Soares na sua Fundação, e também o general Rocha Vieira, apoiante de Cavaco Silva, e ex-governador de Macau.

Para compor o ramalhete: Manuel Quiró, cunhado de Celeste Cardona, irá ser o Presidente do Conselho de Administração da CP. Quiró é uma da eminência pardas do CDS/PP.

3- 
Eles reproduzem-se?

Sim, desde “jovencitos” com gorduras fenomenais.

Se pudéssemos consultar, com transparência, os quadros de pessoal das principais empresas portuguesas, principalmente aquelas que tiveram ou têm uma intervenção do Estado, com gestão do Bloco Central, encontraríamos aí os filhos dos “fidalgos” do actual regime, saído do 25 de Novembro de 1975.

É um jornal de um grande grupo económico quem o divulga. E Cito “O grupo Portugal Telecom (PT) dá hoje emprego a dezena de ex-políticos, autarcas e filhos de governantes. Os exemplos são inúmeros segundo apurou o Correio da Manhã. Assim o filho de Teixeira dos Santos (ex-ministro das Finanças de Sócrates)…é quadro da PT. Também a filha da ex-Presidente da Câmara de Sintra Edite Estrela, exerce funções no grupo PT, assim como o irmão de Pedro Santana Lopes.

E mais à frente: “São alguns dos nomes que se juntam aos já publicamente conhecidos: o filho do Presidente da República Jorge Sampaio, o filho do ex-primeiro ministro António Guterres e o filho de Marcelo Rebelo de Sousa também têm emprego na PT”.

De uma outra publicação, de alguns anos atrás,  retiramos que “o filho de Miguel Horta e Costa, então recém-licenciado, entrou para lá (GALP – então com participação estatal maioritária) com 28 anos a receber, desde logo, 6600 euros mensais”.

4 - A terminar, uma lista de promissores boys adjuntos e 

assessores, cujos salários, no geral, são superiores às pensões de 


carreiras dos oficiais superiores e  até generais das Forças 


Armadas, bem como dos antigos directores-gerais dos 


Ministérios, sujeitos à ascensão, por antiguidade e mérito.





Os olhares atentos dos jovens boys


MINISTÉRIO DA DEFESA NACIONAL (2)Cargo: Assessora
Nome: Ana Miguel Marques Neves dos Santos
Idade: 29 anos
Vencimento Mensal Bruto: 4.069,33 €
Cargo: Adjunto
Nome: João Miguel Saraiva Annes
Idade:28 anos
Vencimento Mensal Bruto: 5.183,63 €
MINISTÉRIO DOS NEGÓCIOS ESTRANGEIROS (1)
Cargo: Adjunto
Nome: Filipe Fernandes
Idade: 28 anos
Vencimento Mensal Bruto: 4.633,82 €
MINISTÉRIO DAS FINANÇAS (4)
Cargo: Adjunto
Nome: Carlos Correia de Oliveira Vaz de Almeida
Idade: 26 anos
Vencimento Mensal Bruto: 4.069,33 €
Cargo: Assessor
Nome: Bruno Miguel Ribeiro Escada
Idade: 29 anos
Vencimento Mensal Bruto: 4.854 €
Cargo: Assessor
Nome: Filipe Gil França Abreu
Idade: 28 anos
Vencimento Mensal Bruto: 4.854 €
Cargo: Adjunto
Nome: Nelson Rodrigo Rocha Gomes
Idade: 29 anos
Vencimento Mensal Bruto: 5.069,33 €
MINISTÉRIO DA ADMINISTRAÇÃO INTERNA (2)
Cargo: Assessor
Nome: Jorge Afonso Moutinho Garcez Nogueira
Idade: 29 anos
Vencimento Mensal Bruto: 5.069,33 €
Cargo: Assessor
Nome: André Manuel Santos Rodrigues Barbosa
Idade: 28 anos
Vencimento Mensal Bruto: 4.364,50 €
MINISTRO ADJUNTO E DOS ASSUNTOS PARLAMENTARES (5)
Cargo: Especialista
Nome: Diogo Rolo Mendonça Noivo
Idade: 28 anos
Vencimento Mensal Bruto: 5.069,33 €
Cargo: Adjunto
Nome: Ademar Vala Marques
Idade: 29 anos
Vencimento Mensal Bruto: 5.069,33 €
Cargo: Especialista
Nome: Tatiana Filipa Abreu Lopes Canas da Silva Canas
Idade: 28 anos
Vencimento Mensal Bruto: 5.069,33 €
Cargo: Especialista
Nome: Rita Ferreira Roquete Teles Branco Chaves
Idade: 27 anos
Vencimento Mensal Bruto: 5.069,33 €
Cargo: Especialista
Nome: André Tiago Pardal da Silva
Idade: 29 anos
Vencimento Mensal Bruto: 5.069,33 €
MINISTÉRIO DA ECONOMIA (8)
Cargo: Adjunta
Nome: Cláudia de Moura Alves Saavedra Pinto
Idade: 28 anos
Vencimento Mensal Bruto: 5.069,34 €
Cargo: Especialista/Assessor
Nome: Tiago Lebres Moutinho
Idade: 28 anos
Vencimento Mensal Bruto: 5.069,34 €
Cargo: Especialista/Assessor
Nome: João Miguel Cristóvão Baptista
Idade: 28 anos
Vencimento Mensal Bruto: 5.069,34 €
Cargo: Especialista/Assessor
Nome: Tiago José de Oliveira Bolhão Páscoa
Idade: 27 anos
Vencimento Mensal Bruto: 5.069,34 €
Cargo: Especialista/Assessor
Nome: André Filipe Abreu Regateiro
Idade: 29 anos
Vencimento Mensal Bruto: 5.069,34 €
Cargo: Especialista/Assessor
Nome: Ana da Conceição Gracias Duarte
Idade: 25 anos (deve ser mesmo boa!?!?)
Vencimento Mensal Bruto: 5.069,34 €
Cargo: Especialista/Assessor
Nome: David Emanuel de Carvalho Figueiredo Martins
Idade: 28 anos
Vencimento Mensal Bruto: 5.069,34 €
Cargo: Especialista/Assessor
Nome: João Miguel Folgado Verol Marques
Idade: 24 anos (deve ser mesmo bom)
Vencimento Mensal Bruto: 5.069,34 €
MINISTÉRIO DA AGRICULTURA (3)
Cargo: Especialista/Assessor
Nome: Joana Maria Enes da Silva Malheiro Novo
Idade: 25 anos (superboa!!)
Vencimento Mensal Bruto: 5.069,33 €
Cargo: Especialista/Assessor
Nome: Antero Silva
Idade: 27 anos
Vencimento Mensal Bruto: 5.069,33 €
Cargo: Especialista
Nome: Tiago de Melo Sousa Martins Cartaxo
Idade: 28 anos
Vencimento Mensal Bruto: 3.069,33 €
MINISTÉRIO DA SAÚDE (1)
Cargo: Adjunto
Nome: Tiago Menezes Moutinho Macieirinha
Idade: 29 anos
Vencimento Mensal Bruto: 5.069,37 €
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E DA CIÊNCIA (2)
Cargo: Assessoria Técnica
Nome: Ana Isabel Barreira de Figueiredo
Idade: 29 anos
Vencimento Mensal Bruto: 4.198,80 €
Cargo: Assessor
Nome: Ricardo Morgado
Idade: 24 anos (deve ser mesmo dotado)
Vencimento Mensal Bruto: 4.505,46 €
SECRETÁRIO DE ESTADO DA CULTURA (1)
Cargo: Colaboradora/Especialista
Nome: Filipa Martins
Idade: 28 anos
Vencimento Mensal Bruto: 2.950,00 €

Eis o retrato do que é a refundação do Estado, segundo Passos Coelho: a fascização progressiva do aparelho de Estado, o empobrecimento das classes laboriosas e a ladroagem desgarrada em tudo o que pode ser roubado e distribuído pelos seus apaniguados. 

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

ABAIXO DE CÃO





1 – Atire com as suas quatro estrelas douradas contra a parede, senhor general Luís Araújo.
E, de certo modo, a sugestão é apelativa para o topo da hierarquia dos três ramos.
Sois cúmplices, se não manifestarem uma posição pública contrária ao acto efectuado.
Alberto João Jardim não é um patriota, nem um homem íntegro, muito menos no que diz respeito às suas relações com as Forças Armadas nacionais.
Se vivêssemos num regime e num país minimamente decentes já estaria, há dezenas de anos na prisão.
Na gíria da praxe castrense, Alberto João Jardim está vários graus abaixo de cão.
Mas, para Luís Araújo, Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas, Jardim, o fomentador da FLAMA, o vigarista político profissional, o homem que como português ameaça, constantemente, a separação política da Madeira, é um patriota, “um líder, um homem de honra e de uma só palavra”. Atribuiu-lhe a medalha de S.Jorge.
2 – Ao longo dos mais de 30 anos, que está à frente do governo regional da Madeira, Jardim desprezou, olimpicamente, as Forças Armadas portuguesas: perseguiu militares nas ruas, restringiu a movimentação, em serviço, dos representantes legais das hierarquias na região, torpedeou, inclusive, o exercício de estruturas nacionais, criando, ilegalmente, congéneres regionais, separadas da submissão normal de comando.
Fez tropelias tais que um oficial superior, normalmente paciente, então chefe do Estado-Maior da Região Militar da Madeira, vestido à rigor, pediu-lhe uma audiência e deu-lhe um valente par de bofetadas, com luvas brancas, para não sujar as mãos.
O Jardim acagaçou-se de tal modo, merdroso e medroso. Como sempre foi, como homem, e submeteu-se uns tempos.
Voltou à carga, quando personalidades políticas e militares, como o general Luís Araújo, lhe deram a mão
Abaixo de cão, realmente,

3 – Para recordação do general Araújo: em Dezembro passado, Alberto João Jardim, por ocasião da aprovação do Plano e Orçamento madeirense para 2012, que teve apenas os votos do PSD, reafirmou: a independência é “um quarto caminho” para a Madeira, caso a região não seja dotada de maior autonomia, designadamente de âmbito fiscal e de um novo regime de isenções fiscais para a sua zona franca”.

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

AS REVOLUÇÕES ÁRABES E A GEOPOLÍTICA DOS RECURSOS NATURAIS






Mapa do Magrebe e Médio-Oriente - Situação da Síria (castanho, fazendo fronteira com Iraque vermelho) face a um "corredor" para o Mar Cáspio


1- Há cerca de três anos, visitei durante, cerca de dois meses, vários países do Magrebe, nomeadamente, Marrocos e Líbia e, do Médio-Oriente, Jordânia e Síria. 

Embora dois deles, fossem reinos ditatoriais, Marrocos e Jordânia, e os outros dois Repúblicas também de cariz ditatorial, Líbia e Síria, um traço comum na minha passagem, e no grupo que me acompanhava na viagem, foi a relativa segurança verificada em todos eles sem sermos importunados nos diferentes locais que percorremos no itinerário. 

(Estivemos perto dos montes Golã, viajamos até perto da fronteira do Iraque, dormimos no deserto não muito longe do Níger, fomos a Akaba, percorremos estradas com Israel ao nosso lado).

Notava-se, na sociedade desses países, uma "pressão" para "cumprimentos estritos" de preceitos religiosos muçulmanos, mas registei, em todos eles, uma tolerância significativa, claro que dentro dos parâmetros islâmicos, para com as mulheres, na sua maneira de vestir e até de presença, solitária, em locais públicos, como cafés e restaurantes.


Na Jordânia, tendo-nos deslocado ao golfo de Akaba, alugamos uma embarcação e navegamos uns quilómetros, sem colocar o pé em terra, ao longo da costa da Arábia Saudita, pois foi o único país muçulmano daqueles onde, efectivamente, pudemos ver as pessoas no seu lazer nas praias com as mulheres a nadar completamente vestidas, e de preto.

Vem isto a propósito de quê? 

Daquilo que nos interessa. 

Como se encontram, socialmente, esses países, depois do aproveitamento pelo Ocidente da chamada Primavera Árabe, que começou, praticamente, em todos os países ao mesmo tempo, a partir de um incidente nos finais de Dezembro de 2010, na Tunísia?


Foi um movimento, que trazia, no bojo, uma forte componente de insatisfação popular, que percorreu de uma penada, todo o norte de África, desde Marrocos e Mauritânia até ao Egipto, e, alastrou a, praticamente, todo o Médio-Oriente, desde o Barhein à Arábia Saudita, passando pela Síria e Iémen.

Naturalmente, havia - e continua a haver - um sentimento latente de revolta nas populações mais desfavorecidas contra o sistema instituído. 

Que irá percorrer o seu caminho para surgir noutras condições e, possivelmente, com programas políticos mais avançados.

Todavia, no rescaldo dessas movimentações que poderiam ter assumido um patamar revolucionário, verificou-se que culminaram em retrocessos políticos e mesmos civilizacionais, precisamente, porque os seus dirigentes actuantes no terreno, organizados e financiados, pertenciam às organizações político-religiosas de obediência sunita, que estavam, umbilicalmente, ligadas ao sistema religioso wahhabita que governa, de maneira absoluta, a Arábia Saudita.

Na prática, tornaram-se parceiras tácticas da aliança estratégica entre o reino saudita e os Estados Unidos da América. 

Curiosamente, em todos os Estados laicos (Tunísia, Egipto, Líbia, Iémen - não referimos, para já, a Síria, que mais adiante trataremos) houve ascensão ao poder de Estado de partidos sunitas - os dois primeiros, ou desarticulação do poder central do Estado, com a substituição de bandos armados nos principais centros, normalmente, favoráveis à Al Qaeda, no caso da Líbia e Iémen.

(O actual governador político e militar da região de Tripoli - a mais povoada do país, perto de 50 % do total de seis milhões, segundo dados de 2006 - é Abdel Hakim Belhaj, que ali foi colocado pelas tropas da NATO. 

É o líder do Grupo Islâmico Combatente da Líbia- CIGL -, pertencente à Al Qaeda, de acordo com o jornal francês *Liberation*. Este acrescentou que Belhaj foi colaborado da CIA, Afeganistão, sob ocupação soviética).

Os protestos em Marrocos, Jordânia, Arábia Saudita, Bahrein, Omã e Kuwait foram abafados em repressão, sem qualquer tomada de posição dos governos ocidentais.

De referir que a Arábia Saudita, que foi o centro criador da Al Qaeda, é uma monarquia absoluta onde não há poder legislativo, nem partidos políticos autorizados. 

Está ligada, desde há dezenas de anos, em parceria política, económica e militar preferencial com os Estados Unidos, que lhe dão cobertura castrense e utilizam, abertamente, aquele Estado para operações em outros países da região.

O Alcorão é o único documento constitucional de orientação política, educacional e de justiça (aplicação severa da Sharia). O rei é chefe de Estado e de governo e os seus familiares mais próximos - irmãos e meio-irmãos - exercem os principais cargos governativos. Existe uma polícia religiosa, a Mutawa, que regula estritamente tudo o que seja o cumprimento dos preceitos do wahhabismo, incluindo a vestimenta das mulheres.


Projetos de Oleodutos e Gasodutos em torno do Mar Cáspio e Irã
Zonas de gasodutos na região do Mar Cáspio

2 - Centremo-nos agora no conflito sírio. 

Tal como noutros países, o movimento de protesto teve a sua adesão, ainda que.em menor grau, que em outros Estados da região. 

E aqui os meios de comunicação social ocidentais têm tido uma prática que, descaradamente, mostra a falta de ética arrasadora que estão, actualmente, imbuídos. 

Não se sabe o que se passa realmente no terreno, mas são transmitidos sempre, como fonte fidedigna, os pontos de vista de um Observatório, estabelecido...em Londres e pago pelo governo britânico.

Não existem, na realidade, jornalistas no interior do território sírio profundo, que é ali que se desenrolam os principais combates. 

Quer o governo de Damasco, quer as chamadas coligações insurgentes, não dão informações fidedignas. 

E a própria ONU debita que morreram já 60 mil pessoas no conflito. Quem os contabilizou, de maneira independente?

(Fazem-me lembrar as informações de guerra nas antigas colónias portuguesas, em que tanto os guerrilheiros, como as Forças Armadas de Portugal, emitiam caricatos (para quem estava no terreno) comunicados a anunciar baixas de um lado e de outro que, na maior parte das vezes, pura e simplesmente, não existiram. Eu estava lá).

O Barhein, por exemplo, é percorrido, em permanência, desde 2010 por acções e manifestações de milhares de pessoas, que contestam, abertamente,  o poder do soberano Al Khalifa, um sultão que emergiu com a riqueza do petróleo. 

Tem havido repressões impediosas, com manifestantes mortos e encarcerados e um rearmamento descarado de Washington a uma monarquia isolada, que só existe porque está sob ocupação conjunta de norte-americanos (ali está sediada a sua V Frota Naval e sauditas (milhares de soldados, veículos militares).

Mas, regressemos à Síria. 

O regime, por métodos violentos, fez calar rapidamente os manifestantes, que se veio a verificar que eram, essencialmente, dirigidos por forças pós-islâmicas próximas ou mesmo integrantes da Irmandade Muçulmana.

Com o Presidente sírio, Bashar Assad, dominou os tumultos internos, surgiram das fronteiras turcas, libanesas e jordanas, e, em parte do próprio território curdo do Iraque, grupos fortemente armados, incluindo com mísseis terra-ar, que se implantaram em regiões fortemente povoadas, como os subúrbios de Damasco e Aleppo, e em territórios fronteiriços.

Na realidade, foi aberta, declaramente, uma guerra interna, e, o Exército regular sírio, depois de uma fase de hesitações ou de reformulação estratégica, com o apoio directo de russos e iranianos, tem resistido e reocupado terreno perdido, causticando, grandemente, os insurgentes estrangeiros, que, pelo que se verifica em certas ocasiões - não há notícias muito específicas - têm contra si as próprias populações, naturais e refugiadas, como aconteceu com os campos palestinianos, que se colocaram ao lado do regime de Bashar.

Este resiste há mais de 20 meses, e parece ganhar terreno. Não se pode prever o desfecho. Embora tudo indique, que após, uma maior consolidação castrense do Exército, haverá mudanças no governo de Damasco, com ou sem Bashar.


zona levantina de gás natural

Ora, neste conflito da Síria não está apenas em jogo a questão interna, está no bojo do conflito toda uma geoestratégia que tem por objectivo o controlo das matérias-primas, em especial, o petróleo e o gás natural.

A Síria é, actualmente, um Estado-tampão, para as ambições ocidentais, em particular, as "oito irmãs" petrolíferas, de ter o caminho aberto para as imensas reservas situadas na região do Mar Cáspio, que, estrategicamente, servem os interesses de duas potências nucleares, Rússia e China, e de uma potência regional em ascensão para o nuclear que é o Irão, na sua ambição de aumentarem a sua presença no mercado mundial.

Mas também, na própria Síria, e, paralelamente, no Líbano, que neste momento é um aliado directo do regime de Assad, estão em jogo os produtos petrolíferos e de gás natural.

Desde 2010, foi tornado publico que nas zonas económicas (mar e terra) que atingem vários países: Síria, Líbano, Israel, Palestina e a própria bacia da Líbia, numa área que ficou conhecida como bacia Levantina (de Leviatan), que havia uma (ou várias) gigantesca reserva de gás natural. 

Mas, há mais: as investigações geológicas apontam para a existência de imensas reservas de petróleo também, em que Israel quer exercer uma supremacia muito mais largada que não tem, pois se confrontam com as zonas de Gaza e Cisjordânia e os seus interesses próprios.

Estas descobertas - e o facto de haver reservas de petróleo e gás, ao longo da Grécia, Turquia e Chipre - puseram em pé de guerra as grandes companhias e as concorrências internacionais, em particular o facto de toda aquela bacia mediterrânica poder ser essencial para os Estados Unidos e a Europa, mas também do interesse estratégico da Rússia e da própria China.

Na é por acaso que a Rússia, está a enviar navios atrás de navios de guerra altamente sofisticados e meios navais de desembarque para actuarem na própria Síria.

Na realidade, com o controlo total dessa bacia, desde o Líbano, Síria, Turquia e Israel, por parte dos ocidentais, estes ficariam resguardados de eventuais interrupções do Golfo Pérsico, onde o Irão está a ter uma palavra a dizer.

A Síria, portanto, não é uma área de uma mera disputa de um regime, é uma arena maior das novas mudanças geo-económicas e geo-políticas que vão acontecer em toda a região do Próximo e Médio-Oriente.


sábado, 5 de janeiro de 2013

EUA: DE DECADÊNCIA EM DECADÊNCIA





Ruínas de fábricas em Detroit

1 - Desde 2008, que se fala, abertamente, em bancarrota do sistema económico norte-americano, que, necessariamente, a ocorrer levará a um descalabro político naquele país e, por tabela, atingirá a grande maioria dos Estados do mundo.

Nos últimos dias, os dois partidos da oligarquia política c
apitalista norte-americana -democratas e republicanos - passaram  o tempo a negociar para travar uma ruptura imediata orçamental, que evitasse uma entrada na sociedade norte-americana num processo repentino e galopante de impostos e cortes de prestações sociais, que colocaria na ordem do dia o pânico generalizado no país. 

Lançaram para os grandes meios propagandísticos do regime - imprensa, rádio e televisão - que o país estaria em risco de um "colapso fiscal", se não houvesse um consenso quanto às medidas imediatas de evitar a aplicação textual do processo de aplicação de subidas brutais de impostos e cortes de prestações sociais. O paradigma do medo.


Os legisladores do país e o Presidente dos Estados Unidos fizeram uma grande operação de "marketing", com a existência de um acordo conseguido no princípio deste ano, anúncio este logo aproveitado pelos especuladores financeiros de Wall Street para fazerem subir os valores da acções, como se se estivesse no melhor dos mundos. A gestão típica da especulação capitalista.


As realidades continuam, todavia, além da operação de cosmética, que, verdadeiramente, pôs em marcha, o que terá de ser aprovado daqui a dois meses: impostos, empobrecimento populacional, redução drástica das prestações sociais, privatizações de auto-estradas, de serviços públicos essenciais na saúde e educação, por exemplo, pela cáfila de vendilhões do capital, que são os senadores e os membros da Câmara dos Representantes norte-americanos. Os factos do dia a dia.




Daqui a dois meses a situação será a mesma: há uma dívida norte-americana, que, oficialmente, já ultrapassa os 2,1 biliões de dólares; há uma militarização crescente do sistema político norte-americano (em Abril de 2012, o Senado norte-americano aprovou, por  unanimidade, - veja-se, pasme-se, como são iguais os vendilhões...- o Orçamento de Defesa Nacional para 2013, que contempla mais de 631 mil milhões - 481 mil milhões de euros) para o financiamento da máquina de guerra; há uma défice actual de um bilião de dólares (a correspondência desajustada entre receita e despesa); há uma percentagem de desemprego - oficial - de cerca de 8 por cento; há um espectro real de recessão, (pelo menos -0,5 % do PIB) que o acordo de última hora não fez recuar. 


O acordo do fim do ano suspendeu a aplicação feroz de cortes indiscriminados, mas manteve o rumo da austeridade: para já, não existem aumentos salariais em 2013 para os trabalhadores dependentes. 


E uma realidade seguinte que está já programada - irá haver, para já, aumentos generalizados de impostos da ordem dos 2.200 dólares anuais. Outros se devem seguir. 

2 - Com esta "mise-en-scène", o que se pretende fazer distrair o contribuinte norte-americano (e naturalmente europeu, no nosso caso) não esclarecido é de uma realidade maior: a situação real catastrófica dos quatro maiores bancos norte-americanos, ameaçados da falência, que os dois partidos querem evitar, preparando neles, com o aumento de impostos, uma injecção monumental de dinheiro público.  


Uma situação que já ocorreu em 2008 e elevou, na realidade, a dívida pública, mas que é privada, pois pertence aos bancos, incorporada, forçadamente, pelo poder político na primeira.


E quem faz o aviso do que está na forja é um homem de dentro do sistema: Paul Craig Roberts, que foi secretário do Tesouro, adjunto para a Política Económica, actualmente editor contratado do Wall Street Journal, que sustenta: "Eu refiro (a tradução literal é minha) que, de acordo com o Departamento do Responsável do Relatório sobre a Moeda, relativo ao quatro trimestre de 2011, cerca de 95 % dos 230 biliões de dólares dos EUA estão em exposição especulativa em mercados de derivados através de quatro instituições financeiras norte-americanas - JP Morgan Chase Bank, Bank of America, Citibank e Goldmam Sachs". 


Quer isto dizer que estes valores, que não são reais assentes na produção, mas na especulação, por isso podem rebentar de um momento para o outro,  ultrapassam, exponencialmente, várias vezes o Produto Interno Bruto dos Estados Unidos!!!


Ou seja, segundo Roberts, toda a economia norte-americana está subordinada aos ditames de evitar a derrocada desses quatro bancos, que continuam na especulação desclassificada e desregulamentada, apesar de intervenções estatais anteriores.


Aí é que surge o tempo útil, e se situa o verdadeiro busílis do chamado "abismo" ou "colapso" da economia dos EUA.

Roberts assinala que "actualmente somente quatro bancos norte-americanos se encontram numa exposição especulativa (no chamado mercado de derivados. N.M.) igual a 3,3 vezes o Produto Interno Bruto mundial".


Como se pode actuar tão irresponsavelmente na condução da política económica mundial?


Em primeiro lugar, porque o capital financeiro especulativo mais desclassificado - o lumpem capitalismo - se tornou em fracção dominante, sem rivais, do poder político nos principais Estados burgueses do Mundo, com especial ênfase para os Estados Unidos e a Inglaterra, do lado do capital liberal, e para a China, do lado do Capitalismo de Estado.


Os governantes e toda a superestrutura política e de justiça estão subordinados e agem como simples vassalos e intermediários. 


Ou seja, eles têm a sua "armadura", que faz as suas leis, enquadra os seus "homens" no aparelho de Estado, distribui as migalhas, nessa chusma de "inúteis" que se sentam no Executivo, na maioria parlamentar, nas instituições de decisão política e judiciária.


A dívida do Estado tem sido, desde sempre, mas desde a crise de 2008 de maneira evidente, o principal fonte de rendimento do capital financeiro especulativo.


E assim aconteceu desta vez, a olho nú, com toda a nudez e desfaçatez. 


Porque o "afundamento" financeiro do Estado - e neste caso do principal Estado capitalista - foi o verdadeiro objectivo que esteve por detrás de toda a especulação.

Parece uma contradição. 


Mas é a realidade de um processo histórico. 


O mundo capitalista actual, especialmente o capitalismo dito ocidental, atingiu um tal estádio de evolução que está a entrar em choque com as relações de produção actualmente existentes. 


Verifica-se, com a continuada sucessão de crises, desde 1973, sem saídas de progresso, estão a ser, justamente, uma barreira a  um novo desenvolvimento das forças produtivas que cresceram e se educaram a um nível superior. 


São indícios, ainda que ténues e incipientes, que se está a forjar uma nova era.


É uma pescadinha de rabo na boca. O capital está no seu labirinto, porque os centros do mesmo estão a ser ultrapassados, precisamente, nas suas relações de produção.

Foi, justamente, nos Estados Unidos, cerca de 15 dias depois do anúncio da crise, que a Administração Obama, seguindo os ditames de Wall Street, em conluio com o Senado, que foi autorizado ao Secretário do Tesouro que se pudesse gastar do erário público até 700 mil milhões de dólares para "estabilizar" o sistema financeiro especulativo, aparentemente, em descalabro. 


O executivo norte-americano, dias depois, tornou público que 250 milhões de dólares (mais de 1/3 do valor estipulado) seria destinado imediatamente, a custo zero, para "salvar" as principais instituições financeiras em bancarrota, como a seguradora AIG (85 mil milhões de dólares directos do Banco Central, FED) ou o Citigroup, que detinha o Citibank (um pormenor deste roubo organizado, do dinheiro do Tesouro foram 25 mil milhões para aquele último e o governo comprou acções que avaliou em 20 mil milhões. Aquele banco tinha perdas contabilizadas de 306 mil milhões de dólares em activos de alto risco).


Ora, este dinheiro foi utilizado para a nova fase especulativa pelos próprios fautores da crise
, com empréstimos a juros elevados, incluindo ao próprio Estado.

Quatro anos depois, os principais agentes do sistema financeiro especulativo norte-americano, depois de sacarem os juros e o "empréstimo" a custo zero, já estão, novamente, na corda bamba, com a uma nova derrocada a aproximar-se.   


A preocupação central dos vassalos dos banqueiros no governo e no Senado e Câmara de Representantes não são os reformados, a classe média ou o aumento do desemprego, é, pois, a "salvação" dos bancos. 


O "colapso fiscal" é uma nuvem de poeira para amedrontar o contribuinte para vir a financiar a voragem de ganhos do capital financeiro.

   
A Inglaterra segue o mesmo caminho e a UE - mais concretamente a zona euro - fez uma aplicação severa de medidas de austeridade, também, centrada na salvação dos bancos, que provocou uma recessão económica profunda, de que não se sabe qual vai ser a evolução futura.

Mas, acossados pelas movimentações populares e pela eventual subida ao poder de partidos que colocam nos seus programas medidas anti-capitalistas, estão a tentar a "blindagem" do euro, antes que se coloque na ordem do dia na Europa a nacionalização do sistema financeiro. 


Isto pressupõe um avanço para a concentração bancária sob a supervisão do Banco Central Europeu e avanço para a unidade política, que para ter alguma capacidade política para ser efectuada, terá de ser feita com uma "remodelação" dita de esquerda na governação política, para atenuar eventuais efeitos de uma convulsão de cariz revolucionário.


Exige, acima de tudo, um aumento da reindustrialização, das produções harmónicas europeias, diminuição do desemprego, aumentos salariais, e melhorias sociais. 


No fundo, inverter a actual orientação política para uma gestão de desenvolvimento dos serviços públicos.


A margem é mínima, pois as movimentações das classes laboriosas trazem no bojo uma outra dinâmica. 


3 - Como é que os Estados Unidos conseguirão amenizar o caminho do colapso económico?


O buraco da agulha é curto. 



Porta-aviões chinês


frota russa do Mar Negro

Somente uma inversão rápida da recessão dará alguma folga ao poder económico e político. Um crescimento económico acentuado, possivelmente três a quatro por cento em 2013, contra as previsões de descer para -0,5% este ano. Teria de haver uma aposta grande no sector público. Um controlo férreo estatal do sistema financeiro especulativo.


Ora, quer os republicanos, quer os democratas, não querem, nem podem, porque são gerentes políticos do Capital, actuar sobre aquele, retirando-lhe uma parte substancial do seu sustentáculo: as mais valias exorbitantes.


Nenhum dos partidos dominantes nos Estados Unidos quer equilibrar o Orçamento, impondo uma carga fiscal pesada aos grandes financeiros e industriais. E, de maneira evidente, um ataque organizado ao poderoso complexo industrial militar.


Então, sem um Orçamento que coloque o dedo na ferida, não será possível inverter o caminho da austeridade, e, estará aberto, com mais ou menos delongas, a continuidade da recessão. 


Os impostos irão recair, em grande, sobre quem trabalha, os cortes atingirão os pensionistas.



A economia dos Estados Unidos é ainda a principal estrutura económica do mundo capitalista, mas está ferida de morte.

Desde que nos anos 80, se inverteu a sua posição dominante exclusiva, em que era o maior credor e hoje está sendo o maior devedor mundial, com um desenvolvimento extraordinário de outras economias em várias partes do globo, principalmente, as consideradas emergentes, que o poder norte-americano teve vindo a decair.

Essa economia, aliás, já estaria em pleno colapso, principalmente, o seu sistema financeiro, se o papel do dólar   estivesse mais desgastado.

Em grande parte, a economia dos EUA já está a viver artificialmente, com a injecção acelerada de papel-moeda não correspondendo - os chamados *greenbacks* - ao valor comparativo em ouro, nem a emissão constante - na realidade fictícia - de títulos de Tesouro para cobrir os enormes déficits, referidos acima.

A questão que se está a colocar, com acuidade, desde a Guerra do Iraque, é se este sistema artificial pode ser mantido por muito mais tempo.

Com a crise económica interna norte-americana, uma depreciação acentuada do valor do dólar - a desconfiança grande que se está a gerar no mundo, se os Estados Unidos têm reservas em ouro suficientes, como eles afirmam - e o vencimento dentro de breves anos da maioria dos títulos de Tesouro, irão trazer preocupações acrescidas na sociedade norte-americana.  

A geo-estratégia e a geo-política mundial, certamente, irão mudar-se profundamente, quando alguns países, com projectos ou em fase de substituição do dólar como moeda privilegiada nas trocas internacionais, começarem a agir concertadamente.

Desde os anos 70, sempre que surge uma crise - e elas estão a nascer umas em cima das outras - está a verificar-se o estalar de um poderio norte-americano que era incontestado.