segunda-feira, 23 de junho de 2014

VATICANO: A MÁFIA EXCOMUNGADA, MAS O SEU DINHEIRO É ENDEUSADO


1 - Podemos afirmar como o velho pensador alemão do século XIX, Karl Marx, que recordava palavras do filósofo Hegel, segundo as quais os factos e as personalidades históricas surgem por assim dizer duas vezes. 

Tendo Marx acrescentado: uma vez como tragédia. A outra como farsa.

O que vamos reportar a seguir tem, também, duas partes:

A primeira é a sinistra, que passamos já a referenciar:   

O passado dia 21, o Papa Francisco, dono do maior banco do Mundo, o Instituto per la opere de la religione (IOR), que é um dos centros de camuflagem e branqueamento dos dinheiros sujos da Máfia, esteve na Calábria, sul de Itália, com a maior das desfaçatezes e o maior sonoro cinismo, multiplicado pelo submissos meios de comunicação do planeta, determinou, em palavras apenas, como Sumo Pontífice da Igreja Católica Romana, a excomungação daquela sua parceira de negócios.




Michelle Sindona, o mafioso que era o banqueiro do Vaticano

Claro que o argentino Jorge Mario Bergoglio fez estas declarações solenes, sem se enfulijar com as barbaridades mentirosas das suas predições: "é preciso combatê-la, é preciso dizer não a ela - a Máfia -(...) Os que escolheram esse mau caminho estão excomungados".

Claro que o Bergoglio, hierarca católico - principalmente, o antigo líder da sua seita mais rica, a Companhia de Jesus - do tempo da ditadura de Videla, não caiu fulminado por um raio do seu deus furibundo. 

Pelo contrário, deve ter rido para dentro, porque o dinheiro da Máfia continua a chegar aos cofres do IOR e dos seus bancos espalhados por todo o Mundo.



Inserto na revista Sábado


E as denúncias da injecção de dinheiro mafioso provem do próprio Vaticano - e até hoje, no reinado do actual inquilino da Santa Sé - nada mudou no circuito desses negócios tenebrosos.

(Como aliás nada muda dentro da Santa Sé em termos de política criminosa dos negócios terrenos, seja qual, for o Papa, seja qual for os seus propósitos).

Foi um jornalista italiano, de nome Gianluigi Nuzzi, que fez ecos de documentos de um alto dirigente da Cúria papal e da administração do IOR, monsenhor Renato Dardozzi, falecido em 2003, que deu ordem de publicação, após a sua morte.

Nuzzi colocou parte em livro que intitulou "Vaticano S.A." e deu à estampa em 2009, sem qualquer desmentido do Papa, do IOR ou própria Santa Sé.

Referindo-se ao Vaticano, Nuzzi escreve: "o silêncio protege toda a sua economia,e, portanto, também os negócios mais discutíveis que caracterizam a vida financeira da Igreja Roma. O silêncio protege a relação de confiança com os fiéis, evitando assim os estragos do passado mais recente. Enfim, o silêncio é indispensável para que o grupo de cardeais possa consolidar p poder que eles próprios representam, sobretudo, depois dos escândalos da Banca Privata Italiana, de Michele Sindona, do Ambrosiano, de Roberto Calvi e do IOR com o arcebispo Paul Marcinkus".

É a revista portuguesa Sábado, que sublinha já em Junho de 2012, o que continuam a serem "os negócios obscuros do banco secreto do Vaticano".

Acusando taxativamente: "Tem ligações à máfia, à política e às ilhas Caimão. Os titulares das contas são anónimos e tudo o resto é segredo. Uma das poucas coisas que se sabe é que aceita depósitos em barras de ouro".

2 - A segunda parte é cómica e dava para fazer uma revista à portuguesa.

No passado dia 2, o Papa Romano, Francisco, inspirando - e cito as reflexões provindas da Rádio Vaticano -, dissertou sobre "o casamento cristão".

Segundo aquele jesuíta argentino, "o amor de Jesus à sua Igreja - a sua esposa - é fiel, perseverante e fecundo", que serão na sua douta inteligência as mesma características de "um autêntico matrimónio cristão".

O Sumo Pontífice da Igreja Católica Apostólica Romana, que se encontrava perante 15 casais, expôs a sua teoria, considerando o que deve ser o amor entre esposos: fidelidade, perseverança e fecundidade.

E essas três referência, argumentou o chefe máximo do Vaticano, representam os "três amores de Jesus: pelo pai, por sua mãe e pela igreja (a católica, naturalmente) a sua esposa".

(Retiramos daqui que Jesus Cristo fez amor com uma comunidade de gente, homens e mulheres ao longo da sua vida, porque essa comunidade - a igreja - era a sua esposa!!!!!!!!)

Não são palavras de um desmiolado (e daí não sei!!!) - são de um senhor que tem uma "supremacia religiosa" sobre mil milhões de seres humanos.

Vejam o raciocínio, especificamente no que diz respeito à fecundidade e reprodução. 

Socorremo-nos da Rádio Vaticano:


Terceiro ponto, a “fecundidade”. O amor de 

Jesus, observa o Papa Francisco, “faz fecunda a 

Igreja com novos filhos, pelo Batismo, e a 

Igreja cresce com esta fecundidade nupcial”. 

Em um matrimônio esta fecundidade pode ser 

às vezes colocada à prova, quando os filhos não 

chegam ou estão doentes. Nestas provas, 

sublinha o Papa, existem casais que “olham 

para Jesus e buscam a força da fecundidade 

que Jesus tem para com a sua Igreja”.

Enquanto, por outro lado, conclui, “existem 

coisas que não agradam a Jesus”, ou seja os 

casamentos estéreis por escolha:

“Estes casamentos que não desejam filhos, que 

querem ficar sem fecundidade. Esta cultura do 

bem estar de dez anos atrás nos convenceu: É 

melhor não ter filhos! É melhor! Assim tu podes 

conhecer o mundo, em férias, pode ter uma 

casa de campo, fica tranqüilo”... Mas é melhor 

talvez – mais cómodo – ter um cãozinho, dois 

gatos, e o amor se dirige aos dois gatos e ao 

cãozinho. É verdade ou não? E por fim este 

casamento chega à velhice na solidão, com a 

amargura de uma solidão difícil. Não é fecundo, 

não faz aquilo que Jesus faz com sua Igreja: 

torna-a fecunda”.

Como segundo o Anuário Estatístico da Igreja Católica, existem em tudo o mundo, com dados relativos a 2010, mais de um milhão de padres e freiras, solteiros, que não fecundam, incluindo o eminente Papa, eles não cumprem os desejos de Jesus Cristo. 

Logo não tornam a Igreja fecunda. São inúteis e não cumpridores do ensinamento do provável fundador do cristianismo.

Os cardeais romanos são anti-cristãos, porque não são reprodutores por opção

Na prática, são anti-cristãos!!!

3 - Mas, a fecundidade da Igreja Católica está na acumulação de capital. 

Aí o amor é fecundo.

Eles estão, neste caso, na vanguarda da reprodução.

Retirado do mesmo Anuário, verifica-se que gerem, em todo o planeta, 5.305 hospitais, 17.223 lares e 9.8882 lares.

Açambarcam, na educação, 70.544 escolas de acolhimento de crianças (que são pagas ou recebem subsídios dos Estados); 92.847 escolas primárias, 43.591 escolas de ensino secundário, bem como numerosas universidades, onde estão inscritos cerca de 3.340.000 estudantes.

Claro, já não vale a pena citar o amor aos bancos, à especulação bolsista, aos grandes negócios industriais. 























sexta-feira, 20 de junho de 2014

APÓS A II GRANDE GUERRA, OS NAZIS MOLDARAM OS GOVERNO DA EUROPA OCIDENTAL

1 - O aparecimento em larga escala dos partidos extremos do grande Capital, os partidos que apelidamos de nazis ou fascistas desde os anos 30 do século passado, está ligado, pela História e pela evolução da economia política, ao antagonismo crescente entre a burguesia que entra em decadência e procura a sobrevivência, colocada perante o caminho inexorável para o seu desaparecimento, e, as classes trabalhadoras, que de uma maneira autónoma, mas ainda sem uma orientação classista acentuada, produzem reivindicações e direitos que colidem com os privilégios desmesurados daquele.


Todavia, tais partidos não nascem de um dia 

para outro, nem aumentam a sua expressão 

política e eleitoral, se não tiverem uma base de 

apoio dentro do regime que lhes permite 

“engrandecer”.



//Jean Marie Le Pen teve a cobertura directa de toda a direita conservadora, que, no rescaldo do fim da guerra, não poderia declarar-se abertamente fascista, tendo sido eleito deputado, pela primeira vez, em 1956, numa lista do partido de Pierre Poujade, que se intitulava, significativamente, na Assembleia Nacional francesa, Unión et Fraternité Française (UFF)//.


Pierre Poujade e Jean-Marie le Pen

Além dos apoios directos em dinheiro (banqueiros, empresários, especuladores bolsistas, grandes traficantes de drogas) e em auxílio propagandístico com os grandes meios de comunicação social, tais como jornais, rádios e televisões, igualmente surgem “projectos” de manipulação de comentadores, especialistas de formação de “campanhas” de manipulação de massas, entre outras.

Mas, acima de tudo, o enquadramento persistente do aparelho de Estado com homens e estruturas que lhe vão dando capacidade de inserção e de força de apoio, incluindo a segurança de Estado, a segurança policial, lobbies “secretos”, como organizações maçónicas, ou religiosas (OPUS DEI, Jesuítas, Templários, islamistas sunitas wahhabistas, Judaistas, Budistas -Dalai Lama-, Manás, Mórmons, etc.etc) e as próprias Forças Armadas.



2 – As principais formações castrenses e de 

segurança estatal do chamado mundo ocidental, no 

pós II Grande Guerra, foram edificadas, tendo como 

suporte material” a oficialagem nazi-fascista e 

a sua ideologia, dentro do contexto supremo, não 

de defesa da Pátria, mas de um possível 

enfrentamento revolucionário com as 

classes trabalhadoras.

Dentro do mesmo princípio, se constituíram e fortaleceram as máquinas militares de países como a Rússia e a República Popular da China, embora nestes o enquadramento e a formação tivessem outros critérios.

Ficamos, a saber em 2014, através de documentos parcelares, agora desclassificados,  dos Serviços de Informações Federais da Alemanha, o Bundesnachrichtendienst, (BND), que o centro nuclear das Forças Armadas da então Alemanha Federal foi constituída por um conjunto de oficiais e soldados provenientes do Exército nazi de Adolf Hitler.


//Ver Der Spiegel, Suddestsche Zeitung, Focus, entre outros.//


O relatório do BDN, com laivos de ingenuidade para papalvos, descreve que um grupo de oficiais hitlerianos (cerca de dois mil) de alta patente, (Exército, SS e SS-Waffen) chefiados, por um operacional, um coronel de nome Albert Schnez, organizou uma formação castrense “clandestina” de 40 mil homens, todos provenientes daqueles corpos hitlerianos, para combater uma possível subversão interna, e, secundariamente, uma “invasão comunista”.

Adenauer passa revista ao Exército Alemão formado por nazis

A parte do relatório conhecido assinala que esta criação de um Exército hitleriano dentro da então Alemanha Ocidental teria tido lugar em 1949 e só seria do conhecimento... do chanceler Konrad Adenauer em 1951.

Que, sem pestanejar, lhe deu cobertura.

E os integrou.

A constituição operacional, de formação política militar e de enquadramento logístico deste “Exército democrático", ficou, portanto, dependente, desde então, da doutrina nazi.

(Convém referir que à frente do BND, instituição que o criou e moldou até hoje, estava já e esteve, até 1968, o general nazi Reinhard Gehlen, que foi o responsável máximo dos serviços secretos militares nazis na Frente leste – um cargo de obediência sem limites a Hitler.

Foi ele que construiu o BND, em estreita ligação com o Exército norte-americano e o seu comandante-chefe David Dwight Eisenhower, bem como do embrião da CIA, o OSS, cujo director era Allen Dulles, e este irmão de John Foster Dulles, secretário de Estado do general como Chefe de Estado norte-americano.

A fascização dos serviços secretos alemães, com o apoio directo da Administração norte-americana e dos dirigentes saídos da queda do nazismo, desde o início da criação da Alemanha Ocidental, será analisada mais à frente).

De acordo com a imprensa alemã de Maio de 2014, referindo, candidamente, sem interpelação, a documentação secreta, posta à disposição de uma equipa de historiadores, pelo BND, o projecto de Schnez iniciou-se, logo no pós guerra, na Suábia, perto de Estugarda, onde aquele coronel nazi organizava reuniões com veteranos de guerra, cujas questões – assinala o BND, que, curiosamente, até conhecia o seu teor, ou seja estava presente – se colocava da seguinte forma “que devemos fazer se os russos e os seus aliados da Europa de leste nos invadem?”.

O BND até os financiou.

Especifica o BND, de Gehlen, nos seus relatórios: Schnez ofereceu os préstimos do “seu Exército”, sob a supervisão daquele.

Ele aceitou – e argumentou para este assentimento: era “simplesmente como uma força potencial”.  


Engraçado, não é?.

Segundo os relatórios dos Serviços Secretos, ressalta a imprensa, começaram a organizar-se fora das estruturas das tropas ocupantes, neste caso norte-americanas, britânicas e francesas, e, em 1950, estavam em plena forma. 


Que ingénuos eram os ocupantes!!!

Para tal receberam apoios imediatos dos antigos patrões hitlerianos, de empresas de transportes e logística, bem como armamento, e, vejam tornaram-se populares...sem o conhecimento do governo e dos Estados Unidos (grandes bananas, não é?)!!!.


Foi um general nazi Anton Grasser que supervisionou a recolha de armas.

Curiosidade: estava destacado no Ministério do Interior, a dirigir a nova polícia alemã.



general nazi Anton Grasser (à esquerda de um outro general) 




A nova polícia alemã (Bundesgrezschutz) formada por Grasser, que passa revista como seu inspector-general. Repare-se nos mesmos capacetes nazis, estilo SS



A teia nazi que formou toda a estrutura estatal da Alemanha Ocidental formou-se, organizou-se e estabeleceu-se até aos dias de hoje, como “por encanto”. Mas, apenas... na visão idílica dos manipuladores burgueses!!!

O conselheiro de segurança nacional de Konrad Adenauer – este um antigo dirigente do Partido Católico, de Von Pappen, que esteve aliado até 1933 a Hitler, com o beneplácito do Papado Romano – chamava-se Hans Globke, um dos teóricos do nazismo das ideais raciais de Nuremberga.


O principal assessor militar de Adenauer foi o marechal Erich von Manstein, um dos principais chefes militares de Adolf Hitler.

(Escapou à prisão por intervenção directa do marechal inglês Montgomery e do antigo Primeiro-Ministro britânico Winton Churchill.

Manstein, como chefe militar da Alemanha Ocidental, foi um dos defensores da *Wehrmacht limpa*, a tese de que as forças armadas hitlerianas não foram culpadas dos crimes de guerra).


Hitler e Von Manstein



Von Manstein com Franz Josep Strauss, ministro da Defesa

Em finais dos anos 50 do século passado, Schnez, como general, era o “braço direito” do nazi Ministro da Defesa alemão Franz Josep Strauss, dirigente do CSU (a União Social Cristã), uma formação pró-fascista, pintada com as cores do catolicismo... mas mais reaccionário, a única estrutura da CDU existe, autonomamente, na Baviera.

Esse Schnez ascendeu ao cargo de Chefe do Estado-

Maior das Forças Armadas, sob o mandato, como 

chanceler, de Willy Brandt, que o antigo dirigente da 

CIA Victor Marchetti denunciou, num livro chamado 

“A CIA – O culto da espionagem”, como admite ter 

sido recrutado por aquela.


Albert Schnez com o Presidente da República Heicih Lubke (1968)


E o BND, ou seja Gehlen, coloca as palavras de 

Schnez – documentos dixit – que a criação do 

citado Exército “clandestino” teve a aprovação 

de Hans Speidel, que veio a ser o comandante 

supremo da NATO na Europa Central em 1957, 

de Adolf Heusinger, que foi o primeiro 

inspector-geral do Bundeswehr e presidente do 

Comité Militar da Nato. 

Ambos foram generais de Hitler, tendo o segundo sido mesmo o seu Chefe do Estado-Maior...

Vejamos a sucessão política nessa Alemanha, dita democrática, toda ela entranhada de nazi-fascismo:

Depois de Adenauer – um cúmplice do nazismo auto-proclamado de democrata, pelos ocupantes ocidentais – o cargo recaiu em Ludwig Ehrard, que teve a sua carreira ligada ao patronato hitleriano o *Reichsgruppe Industrie*, como seu principal conselheiro económico (1963-69).

O escolhido entre 1966 e 1069 foi Kurt Georg Kiesinger, membro do NSDAP, de Hitler, e, no seu consulado tenebroso, director adjunto da Rádio, junto do Ministério dos Negócios Estrangeiros, de Ribbentrop.



Kiesinger, como alto funcionário nazi

A que segue, 1969, Willy Brandt, social-democrata, que merece a aprovação do BND, depois de se saber a sua submissão a Washington.

Aquele cai, em 1974, devido a um escândalo mal esclarecido de ter no seu núcleo duro político um eventual espião da Alemanha de Leste.

O chanceler seguinte é Helmuth Schmidt, também social-democrata. Ingressou na Juventudes Hitlerianas.

Alistou-se na Wehrmacht, e foi integrado numa Divisão Blindada, como tenente, que actual na frente leste e, mais tarde nas Ardenas, sendo condecorado com a Cruz de Ferro hitleriana.

Helmuth Schmitd 

Regressemos à BND, e a determinado passo dos escritos insertos nos documentos que estamos a citar, aqueles serviços colocam reservas a nomeação de um dirigente político do SPD Fritz Erler para líder parlamentar do partido, porque era “meio judeu”.


Mas, nesses escritos, a vigilância era, principalmente sobre activistas de esquerda.

Concentremo-nos agora no papel do BND – a sua organização permanente nazi-fascista e o seu apoio contínuo à extrema-direita alemã.

Em 2012, o director do BND Heiz Fromm, formado na escola Gehlen, demitiu-se do cargo depois de se ter descoberto que mandara destruir documentação que implicava, directamente, os serviços secretos na direcção de um grupo neonazi de nome National Socialist Underground (NSU) implicado no assassinato de nove imigrantes numa década.

Fromm exercia o cargo...há 12 anos.


O passado do BND/Organização Gehlen pode ser consultado em artigo anterior deste blogue.

Assim, a seguir a Gehlen sucedeu no cargo o seu número dois  Gerhard Wessel, coronel da SS, que permaneceu no cargo de 1968 a 1978, tendo falecido em 2002.

Faço questão de recordar o seguinte: 


“Em documentos norte-americanos que tem sido desclassificados nos últimos anos, mas pouco divulgados, sabe-se que foi feita uma auditoria interna, efectuada conjuntamente por autoridades alemãs e norte-americanas, que referenciou que os lugares cimeiros (de estratégia e operacionais) do BND estavam ocupados, pelo menos, por 200 antigos nazis.

“Nenhum deles foi posto em causa.

“Sabia-se então que o BND encobriu, abertamente, a "lavagem" de uma parte da elite nazi-fascista da Alemanha Federal, permitindo-lhe a ascensão nos meios económicos e políticos do novo Estado pró-ocidental saído da II Grande Guerra.

Assim, sucedeu com os principais artífices da economia capitalista nazi, como os Kruup, os Thyssen, os Porsche, entre outros. 



Ferdinand Porsche com Hitler

"Foi, também, com a "lavagem" da actividade pró-nazi de cientistas e torturadores que muitos se vieram a estabelecer nos Estados Unidos da América, e em muitos países da América Latina.

“Curiosamente, contaram com a colaboração prestimosa da Igreja Católica de Roma, que, em 1927, se prontificara a apoiar o regime fascista de Mussolini, através do Tratado de Latrão.

“Há anos, fora já divulgado, até pela rádio oficial 

alemã Deustche Welle, que "um grupo extremistas de 

direita", actuando na "clandestinidade e sem ser 

importunado" assassinou uma série de trabalhadores 

estrangeiros. Por meras razões racistas”.

3 – Não vou fazer uma análise exaustiva de todos os países da UE. 

Situo-me justamente na França, aparentemente tão democrática e apologista dos direitos humanos.

Pois, ela nos pós guerra foi, toda essa, formatada no colaboracionismo e no fascismo.

Desde as Forças Armadas até à Chefia do Estado.


(Ver a propósito a ascensão de François Mitterrand à Presidência no artigo deste blogue "A franco-maçonaria francesa e o branqueamento do colaboracionismo", de 13 de Fevereiro de 2014.)


Pacientemente, ao longo deste anos todos, que vieram a fazer crescer a força política do novo nazismo sob a denominação de Front National (Frente Nacional), cujos testas de ferro estão na família le Pen.

(As forças políticas dos fascismos português e espanhol estão dentro do aparelho de Estado – político, militar, social e económico. Não necessitam, neste momento, de criarem partidos típicos, eles estão no poder: Em Espanha, como PP, de Mariano Rajoy, que foi fundado, justamente, por filhos queridos de Franco, como Fraga Iribarne, em Portugal, a força coligada do PSD/CDS, que tiveram no seu gérmen, figuras do chamado “fascismo liberal”, como Sá Carneiro, Pinto Balsemão, João Salgueiro, Adelino Amaral da Costa, Freitas do Amaral, Nogueira de Brito, entre outros.

Os seus Exércitos, ou nunca foram desmantelados, caso de Espanha, ou foram remodelados e expurgados, paulatinamente, dos seus oficiais de topo, que se mostraram democratas, tudo feito, a partir de 25 de Novembro de 1975, por ideólogos militares pró-nazis, como o general Soares Carneiro, no caso português).


Quando se aproxima o fim da II Grande Guerra, no interior de França o que restava do Exército profissional, particularmente, a quase totalidade dos seus generais e almirantes eram colaboracionistas ou mesmo quadro ligados ao sistema nazi ocupante.

O verdadeiro Exército resistente era constituído pelos chamados “francs-tireurs e partizans (FTPF)”, a única verdadeira guerrilha francesa lutadora contra os nazis ocupantes.


Atingiram o número que se pode situar nos 200 mil homens e mulheres armados. 

Deste conjunto, só uma parte minoritária obedecia, directamente, a de Gaulle, sediado em Londres, com uma estrutura montada pelos ingleses chamada Bureau Central de Rensignements e d`Action (BCRA).


Na realidade, a maioria guerrilheira era controlada pelo PCF, mas do interior, chefiados por Charles Tillon.


Maurice Thorez vivia exilado em Moscovo, não participara na resistência armada, e seguia, sem qualquer contestação, a política da União Soviética de Stáline, decidida em conjunto com Roosevelt (EUA) e Churchill (Inglaterra), de divisão da Europa por zonas de influência. 


Na realidade, foram os guerrilheiros, armados e organizados militarmente, os reais libertadores de França, que derramaram sangue pela defesa da sua sociedade (30 mil fuzilados, 60 mil deportados politicamente) e não os norte-americanos, que não conheciam o terreno e fizeram erros tremendos de condução da guerra na região. 


Aqueles, como força interventora tardia na guerra europeia, estavam, essencialmente, preocupados com o controlo, pós o conflito, da produção e da gestão capitalistas da parte ocidental europeia.

Quando, já a partir de 1944, se debatia dentro de França e do próprio PCF, em constituir um Exército nacional, a partir das unidades de guerrilha, de Gaulle, os ingleses e norte-americanos, querem uma instituição castrense baseada na ordem burguesa militarista.


Desde que o governo provisório se instalou em Paris libertado, em 31 de Agosto, com dois ministros comunistas, o objectivo a aliança inglesa-norte-americana, mediada por de Gaulle, era a de desmobilizar os "partizans".


Os comunistas do interior opunham-se.


Stáline discutiu esse tema com de Gaulle, em Moscovo, tendo sido negociado o regresso de Thorez a França (o líder do PCF fora desertor do Exército francês em 1941), em troca da dissolução das forças guerrilheiras. 


(Em Outubro de 1945, efectuam-se, em França, eleições para a Assembleia Constituinte. O PCF recolhe 26% dos votos expressos. De Gaulle convida Thorez para Ministro de Estado e da Administração Pública - haverá mais quatro membros do PCF no executivo. Tom laudatório imediato do general para Thorez: um "homem de Estado"; o seu partido aconselha os franceses a participarem na *batalha da produção* e a não reivindicarem aumentos salários, nem a fazerem greves. 


Tal como em Portugal entre 1974 e 1976...


Thorez chegou a vice-Presidente do Conselho de Ministros no governo seguinte. 


Em 1947, deixou de ser o "comunista estadista" útil e a nova burguesia já refeita do descalabro protagonizado pelo poder armado dos guerrilheiros, que foi desarticulado, deu-lhe com os pés. 


Charles Tillon, membro destacado do secretariado do PCF, que era o ministro dos Armamentos, entrou em ruptura e saiu daquele partido. 


Este foi-se desmoronando, desde então, progressivamente).


Os norte-americanos, que entraram pelo norte de África entenderam-se, logo às mil maravilhas com os colaboracionistas pró-nazis de Vichy ali destacados, como os generais Maxime Weygand, que fora anteriormente Ministro da Defesa de Pétain, e, depois Delegado-Geral daquele para as colónias francesas norte-africanas, Henri Giraud e Alfhonse Juin.


Deram cobertura directa a outros generais colaboracionistas, como Raoul Salan (que foi Secretário de Estado das Colónias de Pétain) e Edmond Johaud.


E tentaram impor, com todos esses colaboracionistas, a direcção política do novo poder ao próprio general de Gaulle, que era apoiado pelo ingleses.


Não conseguiram tudo. 


De Gaulle foi o chefe do primeiro governo, mas a montagem da nova estrutura militar ficou na mãos desses colaboracionistas.


Quando o poder capitalista em França se refaz, pela via parlamentar, a seguir às eleições constituintes de 1947, pelo menos três dos principais torcionários policiais do regime colaboracionista nazi de Phillippe Pétain vão assumir cargos relevantes em cargos de responsabilidade e formação policial ou securitária: São eles Maurice Pappon, Jean Baylot e Jean-Paul Martin.


Outros altos responsáveis policiais de Vichy, como René Bousquet (foi considerado como criminoso contra a humanidade e defendido pelo poder instalado, seus confrades na actividade colaboracionista) e Jean-André Faucher, enveredam pela actvidade política, do grande patronato jornalístico ou da grande banca.






Maurice Pappon foi director-geral da Polícia da região da Gironde, entre 1942 e 1944. Depois, em 1958, ascende a director do maior centro policial de França, Paris, autónomo em relação à própria polícia nacional, que resultou da "reconstituição" da millice vichista. 

(Trepa rapidamente na hierarquia gaullista e pós gaullista: Presidente do Conselho de Administração da Sud Aviation, secretário das finanças do próprio partido, Ministro do Orçamento , com Valéry Giscard d`Estaing na Presidência).


Antes de Papin, na chefia da policia de Paris esteve Jean Baylot, que vai de Vichy directo para a liderança policial dos Baixos Pirenéus, de 1944-46, depois nos "bouches-du-Rhone", até ascender ao cargo supremo do ramo em Paris.


Aparece depois sempre ligado a François Mitterrand, o colaboracionista, reciclado pelo poder gaullista, em vários Ministérios (antigos Combatentes, depois secretário de Estado na Presidência de Conselho de Marir, Schumamm e Queille. Ministro do Ultramar (1950/51), Ministro de Estado com Faure, ministro do Interior com Pierre Mendés-France e da Justiça, com Guy Mollet).



Bosquets com os carniceiros nazis

Curiosamente, como chefe de gabinete de Mitterrand surge o número dois de Bosquet, na chefia máxima de polícia de Vichy. De seu nome, Jean-Paul Martin. 


Uma personalidade pró-nazi francesa que vai acompanhar Mitterrand, juntamente, com outros colaboracionistas apoiantes de Hitler, como Bousquet, Charles Hernu, Gui Penne e Jean-André Faucher. 



Ver *A FRANCO-MAÇONARIA FRANCESA E O BRANQUEAMENTO DO COLABORACIONISMO*




4 - A depuração do nazi-fascismo na Europa e na restante parte do planeta, incluindo os Estados Unidos, onde apologistas directos daquela ideologia estiveram no poder político, militar e económico, como os irmãos Dulles, a família Harrimann, Henry Ford, Vernon Waters, entre muitos outros, nunca poderia ser feita por qualquer regime burguês.

Em particular quando sentiam que a principal força de poder, no final da guerra, na Europa, estava, nos principais países, França, Itália, Alemanha, Grécia, Jugoslávia, nas "espingardas" da resistência, que abominava a burguesia que esteve, de alma e coração, com os regimes fascistas e nazistas, desde Portugal até à Alemanha, passando pela Áustria, 

Roménia ou Bulgária.

Por isso, no rescaldo da guerra, a burguesia decapitada, acossada pela acção armada dos guerrilheiros, não teve pejo, em lançar as mãos aos PC stalinistas, subservientes ao regime de Moscovo, para desfazer essa ameaça que era real.


Mas débil, porque ideologicamente, estavam sujeitos aos  bonzos pró-moscovitas que enxameavam as direcções daqueles partidos e ansiavam por serem ministros obedientes da nova ordem parlamentar que se estava a reconstituir.


Foram eles, realmente, que ajudaram a colocar nos carris a economia burguesa europeia que estava no caos e na balbúrdia da destruição pela guerra.



Togliatti no governo do marechal Badoglio

Thorez em França, Togliatti em Itália, foram eles, os "verdadeiros" heróis da burguesia, os subservientes destruidores do papel do comunismo no mundo, ao se submeterem aos ditames da ideologia do capitalismo de Estado que governava a antiga União Soviética, e ao seu objectivo imperial geo-estratégico, que *demonizou* e adulterou a teoria de Marx até aos dias de hoje, porque a prática ditatorial stalinista se sobrepôs às análises agudas, profundas, e, grande parte actuais, do filósofo e pensador alemão.




domingo, 8 de junho de 2014

ELEIÇÕES EUROPEIAS: A ECONOMIA VAI DECIDIR A MUDANÇA

1 – No passado dia 25 de Maio, houve eleições para o Parlamento Europeu (PE), onde, pela primeira vez, se apresentaram e fizeram campanha, a par dos candidatos partidários nacionais, abrangendo todos os Estados membros da União Europeia (UE) candidatos trasnacionais, que representaram algumas das “famílias políticas”, à liderança do Conselho Europeu.

Estas eleições deram-se no meio de uma profunda crise do capitalismo mundial, e, em particular, do lumpen capitalismo financeiro, e, de uma descrença generalizada nas instituições enquadradas pelo parlamentarismo burguês e nos partidos que dominaram (e ainda dominam) o aparelho de Estado, quer da UE, quer dos Estados nacionais, especificamente, o que se enquadram nas “famílias” do PPE (Partido Popular Europeu), e S & D (socialistas e sociais democratas, ligados à esquelética Internacional Socialista).







O que parece ter sido um descalabro para a União Europeia pode não o ter sido.  

A Europa não está isolada da crise do capitalismo, que abala, em primeiro lugar, os EUA, a Rússia, a China, a Índia, o Brasil, entre outros BRICS.

A questão terá de ser posta na capacidade económica e politica de resistir ao impacto de uma nova crise económica mundial que está na forja.

Ir-se-á verificar a evolução da actual situação nos próximos meses, quiçá, no espaço de um ano.

Teremos de analisar estas eleições, não pelo prisma, de um conjunto de estatísticas, que claro não deve ser menosprezado, mas, principalmente, como uma luta política.

E este acto eleitoral não está isolado numa única luta política, faz parte de contínuas lutas políticas, que ocorreram na Europa, mas não só, nas Américas, África, Médio-Oriente, Extremo-Oriente.

Ora, estas lutas políticas são, essencialmente, lutas de classes – embora a burguesia dominante tende a fazer obscurecer esta realidade.

De maneira incipiente, titubeante, os numerosos conflitos políticos que se deram na Europa, nos últimos sete anos – balizemos com a crise de 2007 – tiveram, em parte, um desejo de libertação política.

Ao longo desses anos, mas de maneira evidente e continuada desde 2010, multiplicaram-se os conflitos sociais e os protestos de rua, bem como greves nacionais e mesmo supranacionais na zona euro, mas não só mesmo em Inglaterra: Irlanda, Itália, Espanha, Portugal, França, Alemanha,  Holanda, Bélgica, Polónia, Roménia, Bulgária.

Greves nacionais, marcadas para o mesmo dia, 14 de Novembro, deram-se em Portugal, Espanha, Chipre, Grécia, Itália, França e Bélgica.



Mas também questões de emancipação nacional dentro de Estados, essencialmente, porque o centro de decisão política deixou de ser a capital territorial para ser, na realidade, o centro da UE, ou seja nesta caso Bruxelas.

Toda esta movimentação popular tem e tinha um objectivo comum: contestar a política de austeridade dos diferentes executivos e da comissão europeia, ou sejam, os partidos dominantes das famílias PPE e S & D, bem como o poder real do capitalismo financeiro, que continuava a beneficiar com essa política.

Depois do acto eleitoral de 25 de Maio, começamos a descortinar, pelo meio do aumentos abstencionistas, nulos e brancos, e, pela votação em partidos e grupos novos e emergentes, que essa luta política, em parte abertamente classista, traz no bojo um desejo crescente de libertação económica de largas massas populares do domínio avassaladora do grande capital financeiro.

Ou seja, a vontade de transformação da União Europeia, como entidade estatal supranacional.

Vontade esta que se está a forjar, com todas as inconsequências, contestações, erros crassos das classes dominantes, mas só será determinada, num certo prazo, pelas próprias necessidades das suas sociedades nacionais, que são mudáveis, mais lenta ou mais rapidamente, pela relação de forças que se vão criar nos próximos meses entre as várias classes e fracções de classes, que minguaram ou despontaram com essas eleições.

E, acima de tudo, pela evolução que as próprias forças produtivas irão tomar, possivelmente, num ano ou dois, e pelo avanço, ou não, do comércio europeu face a outras potências ou grupos de países.

2 – As eleições para o Parlamento Europeu começaram em 1979.

Quando se iniciou este processo democrático de parlamentarismo burguês, já a burguesia dominante se enraizara e estabelecera a industrialização e o comércio ultrapassando as barreiras nacionais nos países mais avançados da Europa naquela altura (com excepção da Inglaterra que sempre fez de cavalo de Tróia na unidade europeia).

E, essa burguesia que fomentara uma verdadeira revolução económica na Europa, se bandeara, progressivamente, do incremento industrial e da cooperação harmoniosa inter-Estados, cujos resquícios vão até aos anos 80, para o apoio, sem qualquer pejo de vergonha, para a subserviência descarada ao grande capital financeiro (os bancos, as companhias de seguros, a especulação bolsista, o branqueamento de capitais, o fomento global do comércio de drogas).

E essa mudança dá-se de maneira evidente com a crise económica-financeira mundial de 1973, que ficou conhecida por crise do petróleo.

//O  caminho para a unidade europeia começou, justamente, pela grande indústria, centrada no carvão e no aço.

Daí  nasceu, a partir de 1950, a respectiva Comunidade, com a sigla CECA.

Seis países fundadores: Alemanha, Bélgica, França, Itália, Luxemburgo e Holanda. Um êxito.
Tal permitiu em 1957, avançar para a Comunidade Económica Europeia-CEE.

O passo seguinte assentou na institucionalização de uma pauta aduaneira harmonizada.

Depois em 1959, entra em vigor um Acordo Monetário Europeu, que vai dar cerca de 30 anos depois o euro.

Em 1962, inicia-se a Política Agrícola Comum (PAC), que permitiu a auto-suficiência alimentar e o estabelecimento de um rendimento razoável para os agricultores.

Mais tarde, distorcido pelos excedentes e pela política de supremacia dos grandes Estados produtores face aos pequenos e, principalmente, periféricos, cujos dinheiros de implantação de um novo sistema produtivo foram desviados para interesses pessoais.

Estava formado, em 1968, com a supressão dos entraves alfandegários, o maior mercado mundial.

Que se vai estender, por vários partes do globo, com acordos e parcerias.


Inicia-se, em paralelo e depois mais tarde, os alicerces de uma nova estrutura política. 

Primeiro a Assembleia Parlamentar e o Tribunal de Justiça//.

Este avanço para uma nova Europa, de paz e cooperação, atrai as burguesias ávidas de fazer parte desse grande mercado comercial.

Começam os alargamentos.

Não só na Europa, mas praticamente em todo o mundo, em especial centrado nos Estados Unidos, era a grande burguesia que passou a dominar.

E, se antes, havia uma intervenção de incremento desenvolvimentista da burguesia industrial, desde essa altura, a supremacia passou para uma facção particular da burguesia dominante, a financeira, com destaque para um conjunto em ascensão sem freio, nem modos, a lumpen grande burguesia capitalista, que assoberbou os grandes bancos, as enormes seguradoras, o controlo das bolsas de valores, as grandes vias de comunicação e meios de comunicação, e, um sector da burguesia proprietária de grandes terras, enriquecida com os subsídios governamentais.

Como uma nuvem pavorosa, através dos seus lacaios, impuseram os seus ditames nos parlamentos nacionais e europeu, distribuíam os “tachos” e sinecuras, impuseram um modelo de governação da Administração Pública.

Começava a haver uma subversão do caminho europeu, que se acentuou à medida que se alargava o espaço da UE.

Esta mudança representou;

por um lado, um desenvolvimento tal do grande capital, que face ao incremento da situação económica atingiu um patamar de inutilidade como classe, e, portanto, se verifica que começa a ser supérfluo.

O que significa, em termos de economia política, que se tornou um travão ao próprio desenvolvimento social – e acima de tudo – se afasta da produção necessária para satisfazer as classes laboriosas, que estão a ganhar espaço e consciência de que podem dirigir, elas próprias a sociedade;

Por outro,  os indícios, que dão o aparecimento de forças políticas em crescendo do lado “direito” e do lado “esquerdo” das famílias dominantes, estas a definhar – e isto iremos analisar mais à frente -, são um dado objectivo, que pode não significar mudanças imediatas, porque ninguém sai da arena política sem ser empurrado, sem que as forças sociais produtivas em movimento possam determinar  que as relações políticas avancem para formas reaccionárias ou revolucionárias.

3 – O período que vai desde o primeiro acto eleitoral directo do Parlamento Europeu, em 1979 até 2014, tem uma linha contínua de 35 anos que enquadra, ainda que de maneira visível a partir da legislatura iniciada em 2004, um decréscimo acentuado dos partidos dominantes da gestão da UE.
_________________________________
Percentagem de participação – 1979/2014(Oficial)
 1979/1984 /1989 /1994 /1999 / 2004/2007/2014
61.99/58.98/58.41/56.67/49.55/45.47/ 43  /43.09
_________________________________

Depois de serem o “eixo” fundador e impulsionador da união económica europeia; de terem lançado os alicerces da sua unidade política, e de impulsionarem um conteúdo burguês capitalista parlamentar, as duas famílias política – PPE e S & D – (e, em grande medida, darem uma contribuição para desmembrar o que restava de um proletariado avançado), assiste-se a um progressivo afastamento (em que alguns partidos entraram em desagregação ou caminham para ela).


Ou sejam, estão a deixar de ser os partidos centrais dos interesses do grande capital.

No evento eleitoral de 25 de Maio, o PPE – com os seus aliados primaciais – e os S&D – já elegeram um número de deputados inferiores a 50 por cento (331) do total do Parlamento Europeu (751), ou seja 44% dos parlamentares que receberam menos de metade dos 43 por cento de votantes em partidos.

A quebra de deputados daquelas duas “famílias” foi muito acentuada: no conjunto quase 70 deputados, ou seja cerca de 10% dos 751 da totalidade de 2014 para o PE.

(PPE passou de 274 em 2009 para 221 e o S&D de 196 pra 190, com um conjunto de parlamentares de 732).

O que representa um traço contínuo desde 1979 é a descida constante na participação no acto eleitoral: naquela data foi de 63%, em 2014 atingiu os 43,09%.

E o declínio é de tal modo sistemático nos partidos iniciais dinamizadores da CEE, e, depois da UE, com especial evidência, para os chamados socialistas/sociais democratas da raiz saída da II Internacional, que, na prática, alguns deles já sucumbiram como o PSI (em 1992, obteve apenas 2,2%, quando o seu secretário-geral Bettino Craxi era primeiro-ministro e, em 1993, acusado de corrupção, fugindo para a Tunísia, onde faleceu. Esta acusação envolveu também a Democracia Cristã e o Partido Social Democrata, idêntico ao português, com o mesmo nome, e até o PCI, nas lideranças de Alessandro Natta e de Achille Occhetto, partido este que, aliás, se desfaz em 1991).

Outros caminham para essa “cova profunda” como o PSF, de onde emana o actual chefe de Estado gaulês, eleito por maioria de 51,6%, devido à concentração de votos à esquerda, tem perdido consecutivamente, de 2004, mas com mais visibilidade desde.

Mas neste último país, um outro “afundamento” se deu com o principal partido da “família PPE”, o UMP, que desce de 27,8 % e 29 deputados, para 20,79% e 20 deputados.

A Frente Nacional (FN), partido capitalista fascista, ascende de 6,3% e 3 deputados para 24,95 e 20 deputados.  

No acto eleitoral de 2009 recebeu 16,48% dos votos expressos e 12 deputados, passando em 2014 para 13,9% e 13 parlamentares.

Mais significativo é o PS grego (PASOK) e o PSOE (a realidade que teve 36,55%, dos votos em 2009, oito deputados, e em 2014 se quedou nos 8,1% em aliança com outros pequenos partidos, quatro deputados).

Em Espanha, entre 2009 e 2014, houve uma quebra de votação expressa, acentuadíssima, entre os partidos do poder nacional (PP e PSOE), o primeiro desceu de 42,23% (23 deputados) para 26,06% (21), o segundo de 38,51% (21) para 23% (14).

Os dois partidos entraram, de imediato, em crises profundíssimas, que se alastraram,mesmo, por tabela, à questão do regime (monarquia/república).

O mesmo se pode dizer para o sucedido na Holanda e na Irlanda, em especial aos partidos da “família S&D”.

Deixamos para o fim as eleições europeias ocorridas em dois países, com posições muitos diferenciadas face à UE.

(A questão italiana é diferente, e circunstancial: o Partido vencedor, Partido Democrático (PD), não provem do socialismo da II Internacional, mas de uma amálgama de ex-PCI, ex-Democracia Cristã, ex-Partido Social-Democrata, que conjunturalmente se aliaram sob os auspícios do capital e do Vaticano.

Todavia, o que realmente conta é um crescimento de um partido fora do regime, o 5 Estrelas, abertamente contra a política oficial dos partidos corruptos do poder).

Falemos, pois, do Reino Unido e a Alemanha.

No primeiro, o partido abertamente contra a presença de parte - o UKIP, a sua parte territorial da Grã-Bretanha - do Reino Unido ( a Escócia quer a independência e a Irlanda do Norte votou no Sein Fein, que pertence à Esquerda Unitária no PE) na UE, ascende, em 2014, a ser a formação mais votada e com o maior número de votos e parlamentares – 26,27% e 24, seguido dos trabalhistas (S&D), com 24,74 % e 20, ficando os conservadores com 23,34% e 19.

Em 2009,  o UIKP recebera 16,05%, com 13 deputados (segunda força), os conservadores atingiram os 27% e 24 deputados e os Trabalhistas, 15,7% e 13 deputados também. 

(Os Liberais, parceiros do governo de Cameron, passaram de 11 para um deputado).

Finalmente, a Alemanha, a CDU/CSU desceu dos 42 deputados de 2009 para 34 e os sociais-democratas (S&D) elegeram mais quatro deputados, mas em percentagem ficaram-se pelos 27,30%, inferior aos 35,30% da coligação CDU/CSU. 

(Os liberais que eram a quarta força em 2009 desceram de 12 para 3 deputados).



PE em 2014

Resultados das eleições de 2014 por grupo político
ÍconeNome próprioPercentagem
EPP logo
PPE
Grupo do Partido Popular Europeu (Democratas-Cristãos)
Resultado:221 Eurodeputados

Resultados em percentagem:29.43 %
S&D logo
S&D
Grupo da Aliança Progressista dos Socialistas e Democratas no Parlamento Europeu
Resultado:190 Eurodeputados

Resultados em percentagem:25.30 %
ALDE logo
ALDE
Aliança dos Democratas e Liberais pela Europa
Resultado:59 Eurodeputados

Resultados em percentagem:7.86 %
ECR logo
CRE
Conservadores e Reformistas Europeus
Resultado:55 Eurodeputados

Resultados em percentagem:7.32 %
GREENS/EFA logo
Verdes/ALE
Os Verdes/Aliança Livre Europeia
Resultado:52 Eurodeputados

Resultados em percentagem:6.92 %
GUE/NGL logo
GUE/NGL
Esquerda Unitária Europeia/Esquerda Verde Nórdica
Resultado:45 Eurodeputados

Resultados em percentagem:5.99 %
NA logo
NI
Não-Inscritos – deputados não filiados em qualquer grupo político
Resultado:41 Eurodeputados

Resultados em percentagem:5.46 %
EFD logo
EFD
Europa da Liberdade e da Democracia
Resultado:32 Eurodeputados

Resultados em percentagem:4.26 %
Others logo
Outros
Deputados recém-eleitos não filiados em qualquer dos grupos políticos do Parlamento cessante
Resultado:56 Eurodeputados

Resultados em percentagem:7.46 %




3 – O aparecimento, com algum alarido da grande imprensa ligada ao Capital dominante, de partidos nazis e fascistas, de vários matizes, com uma extensão nunca vista na Europa depois da II Grande Guerra, parece indiciar que o grande capital financeiro começa a “trocar” os seus representantes bicéfalos, ligados ao PPE e ao S&D, que açambarcaram, durante estas dezenas de anos, os lugares cimeiros de exercício do poder executivo, legislativo e até militar de serviço aos vampiros financeiros e os grandes industriais a eles ligados, por outras formações que imponham o poder capitalista de forma ainda mais violenta e sem a presença de outros partidos.

Esse capital enfrenta, pela propaganda, o surgimento, em crescendo, por outro lado, de formações, ainda sem um programa revolucionário coerente, sustentadas em reivindicações eleitorais anti-capitalistas, apelidando-os, furiosamente, de “aberrações radicais”, por vezes, com o desprezo bafiento da burguesia medrosa e cobarde, de “comunistas radicais”.

Ele sente que pode ser enfrentado e a sua capacidade de acção restringida.

A evolução da UE, a reviravolta que necessita; no fundo, a sua salvação depende, em primeiro lugar, da força da sua economia produtiva e do seu comércio, das suas exportações de qualidade.

Mas depende também daqueles que podendo forjar um programa revolucionário comum e o consigam fazer ampliar, em consciência política, entre as classes trabalhadoras levam a fazer encurtar o “casulo” dos exploradores e dos seus homens de mão nos Parlamentos nacionais e europeu e no aparelho de Estado.

E este ponto nuclear, certamente ténue, foi-nos dado por estas eleições europeias.

É preciso, pois, clarificá-lo, alargá-lo e enquadrá-lo em movimento constante de transformação política.

4 – A crise nos EUA que está  à porta, e são os próprios indicadores daquele país, que fazem o alerta do facto, mas os indícios evidentes de crises económicas em países emergentes como a Rússia e a China e o Brasil devem fazer-nos pensar sobre a situação económica – repito, económica – da UE, que está numa encruzilhada, mas, aparentemente, se encontra em melhores de condições de receber o embate do que em 2007/2008.




É um assunto que trataremos em breve.