segunda-feira, 22 de junho de 2015

EXÉRCITO NAS ESCOLAS: COMO SE VAI FORJANDO A MILITARIZAÇÃO DA SOCIEDADE

1 – O Conselho de Ministros de Portugal aprovou, recentemente, um documento, que permite o recrutamento de elementos das forças armadas, na reserva, para fazer tarefas policiais de *vigilância escolar*.

"Esta alteração visa facilitar a contratação de elementos para o desempenho das funções de chefes de equipa de zona e de vigilantes para integrarem as equipas de vigilância, bem como permitir a renovação das comissões de serviço, de modo a assegurar a continuidade da actividade de vigilância das escolas", lê-se no comunicado emitido no final da reunião do Governo.


Aparentemente, pode parecer um atitude bem pensada de segurança, mas a iniciativa nasce, justamente, numa ocasião em que se verifica uma divórcio crescente entre as forças guardiãs do actual regime e os seus mentores e promotores – políticos e económicos.

Tal como sucede em quase todos os países do Mundo, os representantes do capital financeiro no poder estão a forjar «exércitos mercenários», que disfarçam sob a pacata  supercialidade de «seguranças privadas«, (a ESEGUR era ou é dos BES) que, paulatinamente, procuram enquadrá-las, militarmente, e armá-las com material letal.

Uns já o fazem abertamente, como os Estados Unidos da América, outros, como Portugal usam artimanhas para chegar a esse objectivo.

Vão buscar, desta vez, militares reservistas, com o o argumento de *bom samaritano* de segurança para preparar o futuro.

2 – Mas, qual a razão desta procura da «militarização» e controlo castrense da sociedade?

O actual regime assente no domínio absoluto do lumpen-grande capital internacional está numa encruzilhada - são forças que já eram, sentem que surgem outras forças do progresso, da ruptura política, estão a emergir, e podem varrê-lo do panorama político num espaço, mais ou menos longo, dando origem, possivelmente, as novas formas de poder – que não consegue desfazer o *nó de pescador*.

Claro que esse poder antigo, ainda que apodrecido, não desaparecerá por si próprio.

As principais potências capitalistas modelam formas de actuação, que plasmaram em documentos internos, confidenciais, ou até já os estão a aplicar no terreno, quer a nível interno, quer em território exterior, sempre em nome da «defesa dos interesses nacionais».

Um documento emitido do Estado-Maior do Exército norte-americano, divulgado, em 2014, pelos meios de comunicação e intitulado *Megacities and the United States Army*, sublinha, sem qualquer rebuço, que as forças militares teriam de entrar e ocupar grandes cidades, para obstar que se formem levantamentos civis e revoltas politico-sociais.

No fundo, segundo o documento do Chefe do Estado-Maior, a actuação poderá dar-se sempre que estiver em perigo o poder político existente.

Foi, justamente, com esse receio que o governador do Estado de Missouri decidiu enviar unidades, fortemente armadas, da Guarda Nacional para conter o levantamento da população de Fergusson, que protestava contra a morte, obtida a sangue frio, de um negro da cidade por um polícia branco.

Que foi absolvido do crime...


Embora as autoridades norte-americanas tentem fazer crer que a Guarda Nacional é uma mera agremiação de voluntários com carácter quase caritativo, na realidade, é uma instituição armada dependente do Pentágono.

As unidades (Exército e Força Aérea) são treinadas e enquadradas como fazendo parte das Forças Armadas, e, em último caso, podem ficar mesmo na dependência do Presidente dos Estados Unidos. 

Comportam mais de 400 mil homens.

3 – Em Janeiro de 2015, vários indivíduos, que mais tarde o poder instituído associou ao chamado Exército Islâmico, atacou, em Paris, França, a sede do jornal satírico *Charlie Hebdo*, matando 12 dos principais e jornalistas do periódico e outras pessoas.

De imediato, o poder político +militarizou+ o país.

Tropas de elite da polícia e das Forças Armadas ocuparam várias cidades francesas e cercaram as fronteiras do país.

Aparentemente, os autores do atentado à sede do jornal “Charlie Hebdo” eram, somente duas pessoas – dois irmãos de apelido Kouiach – que actuaram, com plena naturalidade e com enquadramento militar.

Tiveram até oportunidade de parar o automóvel numa rua de um só sentido e mesmo assim conseguiram escapar.

Dias depois, segundo a imprensa oficial, dois homens teriam assaltado uma bomba de gasolina, com armas ak-47.

Uma movimentação militar e policial desenrolou-se por todo o norte, pois segundo as autoridades o assalto teria sido praticado a 70 Km a norte de Paris.


Surgiram detenções de vários +suspeitos+ de ligação aos fugitivos, que acabaram por ser abatidos.

Entretanto, um novo incidente surge quando um franco-argelino de nome Amedy Coulibaly, tido como antigo cadastrado e referenciado como militante activo do chamado *terrorismo* islâmico entra num talho judaico, onde faz vários reféns, alguns dos quais abateu, bem como um agente policial.

Após um cerco de centenas de polícias e exército foi, ele próprio, abatido.

Segundos os relatos das autoridades, e o sucedido tem sempre a chancela oficial, Amedy agiu em cumplicidade e sintonia com os irmãos Kouiach.

O curioso é que a mulher de Amedy de nome Hayat Boumeddiene, considerada, de imediato, como cúmplice daquele e *mais radical* do que ele próprio – tida como «a mulher mais procurado de França» conseguiu sair do país legalmente e foi referenciada, dias depois, como fazendo parte dos quadro do Estado Islâmico do Iraque e de Levante e já actuar na Síria.

(Uma pequena notícia da altura, que não foi explorada pela grande imprensa, é que a namorada de um dos suspeitos pertencia ao próprio corpo policial).

Tudo isto sucedeu em Janeiro, mas até hoje não houve um relato circunstanciado das *falhas dos serviços secretos* de que denuncioiu então o primeiro-ministro Manuel Valls.

4 – Não podemos considerar esta *militarização* da sociedade, como actos pontuais.

São planos preparados face à evolução descontrolada da lumpen burguesia no poder, que por um lado puxa o cobertor para cobrir a cabeça, por outro deixes os pés ao labéu, porque já não consegue dirimir suavemente a situação.

A luta de classes no mundo caminha para um terreno enxameado de descontentamento, que cresce e evolui, ainda sem um rumo programático definido.

As classes laboriosas querem mudança, mas a sua percepção de ruptura com o poder instalado ainda é difusa, e, por vezes, descrente de que possa irromper uma nova sociedade.


Mas, a mudança está em movimento, vai surgir. Poderá, muito em breve, a sociedade ser percorrido pela violência. 

O mundo está prenhe de algo novo. Está a forjar o parto.

sábado, 13 de junho de 2015

A FIFA; A CORRUPÇÃO E A GEOPOLÍTICA

1 – Aplaude-se sempre quando uma estrutura, um país, um juiz ou um jornal coloca a nu um esquema monumental e internacional de corrupção.

O que foi denunciado, agora, na FIFA, partindo dos EUA, pode merecer o aplauso generalizado das grandes instituições jornalísticas internacionais.

É real e verdadeiro.

Mas, tal facto é só um aspecto da questão.
Um jornalista tem de remexer no entulho. 

Tem de questionar razões...

Mas, ninguém questionou até agora, onde se centra, realmente, o *vespeiro* da corrupção da FIFA.


Iremos argumentar e ditar dados.

É a maneira mais justa de verificar a razão da denúncia dos EUA, e, essencialmente, porque esse país se excluiu do processo, melhor dizendo tenta fazer obscurecer os verdadeiros propósitos.

2 - Dois dias antes de começar um Congresso da FIFA (Federação Internacional de Futebol) – 29 de Maio - num imenso espectáculo mediático, a actual Procuradora-Geral da Justiça dos Estados Unidos da América, Loretta Lynch, que apenas tomou posse do cargo a 27 de Abril findo, lançou uma acusação, em larga escala, sobre a existência de corrupção nas estruturas dirigentes e associadas daquela instituição do futebol.

(Curiosamente, a senhora Lynch, que pertenceu a um dos maiores escritórios de advogados de negócios norte-americanos, que defende, essencialmente, o capital financeiro, a Cahill Gordon & Reindel, não acusou judicialmente nenhum dos grandes bancos e companhias de seguros que estão envolvidos nos processos fraudulentos e criminosos que os dirigentes da FIFA utilizaram, abertamente e com seu perfeito conhecimento.



Também, por curiosidade e coincidência, o único dirigente da FIFA norte-americano (estou a falar de dirigente de topo!!!), enquadrado pela Procuradora-Geral de Justiça, Loretta Lynch, como acusado é o *informador* milionário do FBI Chuck Blazer. Significativo, não é?).

Ora, o FBI, extravasando a sua jurisdição nacional, mandou prender 14 responsáveis e assessores da FIFA, todos eles não cidadãos norte-americanos, excepto o magnate senhor Blazer, que estava infiltrado na estrutura policial dos EUA, pelo menos, oficialmente (FBI dixit)desde 2011.

Na realidade, já era o homem forte nos EUA da FIFA, pois desde Abril de 1990 até Dezembro de 2001, foi o  secretário-geral da CONCACAF, uma estrutura poderosa que controlava o futebol profissional na América do Norte, Centro e Caraíbas, sabendo, já nesta altura, a justiça norte-americana que Blazer era um agiota que vivia da corrupção na FIFA.

Foi, aliás, então acusado de fraude.

(Convém recordar que, em 1994, os EUA organizaram o Campeonato de Mundo de Futebol, situação que foi considerada como *obscura*, e, eventualmente fraudulenta, já que os Estados Unidos nem um campeonato nacional interno conseguiam organizar, nem enquadramento futebolistico profissional transparente existia, em extensão, no país.

Por curiosidade, a Procuradora-Geral e o FBI não mencionaram este campeonato, nem como surgiu o assentimento à candidatura).

3 – Temos então a senhora Loretta Lynch, no cargo de Procuradora há meia dúzia de dias, natural e perfeitamente (não é ironia, é verdade, os crânios americanos são assim!!!) a par do que se passava no interior da FIFA, há dezenas  de anos, centrado nos negócios fraudulentos e criminosos dos grandes bancos norte-americanos, que acrescentavam mais-valias à custa da corrupção em torno da grande malandragem que *escondia* os subornos, com o conhecimento do FBI, no interior dos Estados Unidos da América.

Façam a análise e contraponham os factos e deixem de lado a estória de carochinha...do FBI campeão anti-corrupção.

Procuradora e FBI culparam, de uma assentada, 14 responsáveis e assessores ligados ao *marketing* desportivo da FIFA.

A justiça norte-americana conhecia esta teia criminosa, há vários anos, mas esqueceu-se de revelar os nomes e prender os administradores das principais instituições bancárias dos EUA, como o JP Morgan, Chase Manhattan e Citigroup, que, selectamente, receberam os depósitos dos subornos e os utilizaram na sua política económica.


Lançaram Lynch e o FBI que os subornos se *circunscreviam* nos bancos norte-americanos a 150 milhões de dólares.

Curiosidade: um dos visados – e só ele - prontificou-se a devolver a módica quantia de 151 milhões de dólares. Porquê?.

Não bate a bota com a perdigota.

No relatório de acusação, fala-se, segundo a imprensa norte-americana, em 26 bancos envolvidos...

Ora, são muitos bancos para uns míseros 150 milhões!!!

3 – O circo mediático da Administração Obama, via Lynch e FBI, na ante-véspera do Congresso da FIFA, virou-se, politicamente, para onde?

Em política, o que surge em determinada altura tem objectivos precisos que a servem.

Assim sucedeu com a denúncia da corrupção no topo da FIFA.

Para os actos fraudulentos e criminosos das suas *impolutas* instituições de crédito ?.

Não: viraram-se, como já fizeram com a crise financeira de 2007/2008, para o que pensavam ser o ele fraco na luta contra os efeitos da mesma, a UE, que estava de mãos e pés atados, porque, por um lado, tinha o seu sistema bancário controlado pelas multinacionais do sector, sediadas nos EUA;

por outro, a UE não tinha capacidade militar e diplomática unificada para fazer frente à artimanha do lobby judaico de Wall Street, que está na prática a destroçar, progressivamente a UE.

Agora, surge este caso de corrupção na FIFA, que é real, num emaranhado multinacional, que atinge proporções assustadoras, mas atingem apenas corruptos intermediários.  

Os beneficiários principais são os bancos norte-americanos –então, *cospem para o lado* e concentram-se fora dos EUA;

Claro que, em parte na Suíça, mas igualmente na América do Sul e na Europa.

Ora, este Congresso da FIFA, além das suas eleições, tinha um ponto central e *delicado* para a geoestratégia norte-americana, a confirmação da efectivação do Campeonato do Mundo de Futebol de 2018, que está programado para a Rússia.

E, na minha opinião, a denúncia visa essencialmente a questão geopolítica;

por um lado, evitar que o Campeonato tenha lugar na Rússia,minando a perspectiva de uma possibilidade de maior participação política da Rússia de Putin na arena internacional;


por outro congregar os seus aliados europeus – e especialmente estes – em torno das pretensões de hegemonia norte-americana, que necessitava de fazer valer a sua política anti-russa na cimeira dos G-7, que teve lugar dias depois na Alemanha, com todo o serventualismo dos partidos capitalistas actualmente no poder (Populares e Socialistas).

Na realidade, depois das sanções anti-russas, ditadas de Washington, os países da UE estão a ser os mais prejudicados da retaliação de Moscovo, e, fissuras começavam a surgir na chamada coligação EUA/NATO, e, a administração Obama actuou, humilhando a Alemanha e a própria França, amarrando-os ao redil do capital financeiro de Wall Street.

Claro, que nem tudo correu bem, porque nesse período, o Papa católico, interessado nos negócios com a Rússia,recebeu com gala e circunstância o Chefe de Estado da Grande Rússia.

Com esta pressão constante, os EUA procuram comprometer, directamente, os Estados europeus numa guerra contra a Rússia, (ficando eles de fora), através do acirramento nas contradições étnicas e linguísticas da Ucrânia, que voltam a recrudescer em força, depois dos EUA rearmarem fortemente Kiew.

4 – Claro que as denúncias do FBI, acobertadas pela senhora Lynch, igualmente tem um objectivo, embora secundário, de mexer com a relação de forças no interior da FIFA – mudança esta que se relaciona essencialmente com os valores monetários e financeiros que movimenta a estrutura futebolística.

(Alguns dados reveladores: o Mundial de Futebol de 2014 – Brasil – deu de receita à FIFA mais de 4,7 mil milhões de euros. Para onde foi uma parte significativa deste dinheiro?)

Temos de nos focar na chamada candidatura alternativa ao suíço Joseph Blatter.

(Blatter veio a subir na FIFA pela mão do agente da ditadura brasileira João Havelange, que tinha a cobertura dos EUA, para o desenvolvimento dos seus negócios, que se iniciou por volta de 1975.

Com o afastamento de Havelange, Blatter vai ter um papel destacado nas negociações da Taça do Mundo da FIFA e na reestruturação do formato comercial do evento até o ano de 2006).

Claro que os dirigentes e assessores de Blatter, incluindo os membros proeminentes da UEFA, como Michel Platini, que eram necessários para que os processos de corrupção se efectuassem dentro do *núcleo duro*, despejavam os dinheiros nos bancos norte-americanos, mas os principais centros de negócios e poder estavam localizados na Europa.

O Congresso da FIFA de 2015 parecia pender para reforçar a estrutura de Blatter, perante uma candidatura, aparentemente, surgida do nada, de um príncipe jordano de Ali bin Hussein, irmão (aliás meio-irmão) do actual rei da Jordânia Abdullá II.

O curioso é que o *capo-mor* da UEFA o apoiava – o velhaco Platini estava a apostar num cavalo errado ou a orientação era outra?.

Qual é o verdadeiro curricullum deste príncipe Ali?

Esteve na Academia Militar inglesa de Sandhurst, saindo oficial em 1994.




Como responsável dos serviços secretos em vista à NATO

Foi fazer estudos nos EUA e no regresso entrou nas forças especiais jordanas.

Foi escolhido para chefe da segurança especial do irmão rei, que lhe permitiu formar e ser presidente do Centro Nacional de Segurança e Gestão de Crises (vulgo serviços secretos).

Ora, estes serviços secretos são dependentes, como a realeza jordana do controlo e financiamento dos Estados Unidos.

Blatter que venceu no Congresso, verificou que forças poderosas, que conheciam o seu passado – e essas forças estão nos EUA – iriam trucidá-lo.

Demitiu-se e convocou um Congresso extraordinário, sublinhando que iria tentar redimir-se e controlar as investidas que, certamente, virão do outro lado do Atlântico e dos bancos de Wall Street.

Pode ser uma piedosa missão, certamente levada ao fracasso.

Uma coisa é certo o príncipe jordano, dos serviços secretos, sustenta que se vai recandidatar.

Naturalmente, encoberto, em nome dos Estados Unidos da América.

Veremos o que vai acontecer nos próximos meses.