terça-feira, 29 de junho de 2010

GRANDE MÉDIO ORIENTE: QUEM INCENDIAR PODERÁ PAGAR CARO
















O caldeirão bélico do Médio-Oriente pode incendiar quase toda a Europa










Um porta-aviões norte-americano a propulsão nuclear, vários navios, tipo fragata e corveta da minha nacionalidade, bem como, pelo menos, um submarino de tipo recente israelita, estão a atravessar o Mar Vermelho, com o propósito declarado de patrulhar águas muito próximas da costa iraniana, aparentemente, numa manobra intimidatória para, unilateralmente, procurar vistoriar navios mercantes e outros que se dirijam para águas nacionais do Irão.

Aparentemente, estes navios passam no Mar Vermelho, com a autorização expressa do regime de Hosni Mubarak, e, certamente, com a conivência do regime teocrático feudal da Arábia Saudita. De outra maneira, já haveria uma denúncia oficial desta movimentação agressiva americano-israelita.

Pode suceder que a presença israelita nas costa iranianas seja apenas uma tentativa norte-americana de querer dizer que Washington está ao lado do regime de Telavive numa eventual agressão iraniana, mas, também, pode significar uma "provocação", mostrando que estão dispostos a atacar unilateralmente o território iraniano.

A razão: só uma - os EUA não querem um concorrente "inimigo" e independente, nos próximos anos, no cartel nuclear no Grande Médio-Oriente. Pois, na realidade, Israel já tem armas de destruição maciça, mas só existe porque tem a protecção de "asas" do poder imperial norte-americano e serve os "interesses nacionais" de Washington na região.

Só que esta ameaça se está a aproximar muito da guerra.

No Médio-Oriente já são muitos os que desrespeitam abertamente o poder de Washington e fazem por afrontá-lo. Desde o emergente Irão, ao aliado turco, que se afasta, ao cada vez mais distante antigo pró-ocidental sírio, e agora, com outra dinâmica, todo um cortejo de exércitos de guerrilha, fortemente armados, que vão do Líbano, onde o verdadeiro poder militar reside no Hiszbolá, ao Hamas, que não aceita a mão pesada de Israel e continua em frente, novamente rearmada. Mas também existe efervescência no Egipto, onde o seu ditador de plantão está velho e doente e a jovem oficialidade espreita uma oportunidade para se desfazer da velha casta que domina há 30 anos. (Fala-se até no antigo director da Associação de Energia Atómica para o substituir). Isto para não referenciar a volatilidade de Estados praticamente sem controlo do Iraque e do Afeganistão e de um Paquistão, que parece cotejado por Washington, mas com toda a oposição da estrutura clandestina do Exército e dos Serviços Secretos, que se pode rebelar-se a qualquer momento, no meio de uma grande crise.

Ou seja, uma acção militar unilateral norte-americana (convém referir que Israel, apesar de ter bombas atómicas, não conta como força militar, capaz de ocupar um território tão extenso como o Irão) poderá destruir parte do potencial atómico do Irão e até destruir uma fatia elevada da sua capacidade produtiva, mas a administração de Barack Obama não tem tropas disponíveis e moralizadas para realizar uma investida em larga escala na antiga Pérsia.

Não sabemos a força de resistência da Pérsia, talvez até seja exagerada, mas o que realmente temos a percepção é que podem retaliar, em larga escala, na região, ainda que momentaneamente.

Possivelmente, não terão mísseis suficientes para uma destruição em larga escala de Israel, mas, certamente, destruirão algumas cidades e actividades produtivas, o que permitirá depois uma maior capacidade de intervenção da guerrilha, quer da Palestina, quer do Líbano, quiçá da Síria e da própria Jordânia.

Ousarão os iranianos fazer isso? Não sei.

O que sei - e cito a CNN deste mês - é que um simples avião da Marinha Iraniana se aproximou na semana passada do porta-vviões USS Einsenhower, no Golfo de Omã, voando a menos de 100 metros de altitude, e isto foi confirmado por um oficial americano.

O incidente aconteceu quando o Irão realizava uma série de exercícios militares na região para exibir seu poder militar.

O USS Einsenhower estava em serviço no Golfo de Omão, a norte do MarArábico, aparentemente em apoio às tropas de ocupação do Afeganistão.

Quando o avião foi detectado pelos radares do navio de guerra norte-americano, já estava perto daquele, e, sem qualquer espécie de receio, sobrevoou o Golfo a cerca de 900 metros do porta-aviões.

Os norte-americanos comentaram que o encontro não foi ameaçador, mas incomum.

Diz a CNN que navios americanos têm encontrado, regularmente, nos últimos anos, aeronaves iranianas no Golfo Persico, mas não no Golfo de Omão.

Existe um desconhecimento da evolução real do poderio militar do Irão nos últimos 10 anos.

Um aspecto que os especialistas realçam é que o Irão está a ser auto-suficiente em toda a fileira castrense, desde o armamento ligeiro até à tecnologia militar de ponta.

Naturalmente, esta auto-suficiência ainda não atingiu a grande quantidade, nem, possivelmente, o grau de qualificação necessário.

Mas, o que os especialistas assinalam é que o país possui mísseis capazes de atingir bases dos EUA e Israel, além de 1,7 mil tanques e quase 500 mil soldados.

O Irão testou, a 20 de Abril, um míssil com alcance de 2 mil quilômetros.

De facto, o míssil , o Sejil 2, pode atingir bases dos EUA e de Israel no Golfo. Qual a quantidade e a eficácia de tiro? Não se sabe.

O país tem mais de 545 mil pessoas em serviço militar activo. O Exército possui cerca de 350 mil soldados. A Guarda Revolucionária Islâmica, os chamados guardiães do sistema, enquadra outros 125 mil homens.

Num desfile militar realizado em 2007, por ocasião das comemorações da guerra com o Iraque (1980-1988), o Irão mostrou o míssil Shahab-3, informando que o projétil era capaz de percorrer dois mil quilômetros. Outro míssil, que apareceu na parada, o Ghadr-1 também integra o arsenal do país, e tem capacidade de atingir alvos até 1,8 mil quilômetros.

A Marinha iraniana é constituida por cerca de 18 mil pessoas. Possuia, na década anterior, três submarinos russos da série Kilo, três fragatas e duas corvetas.

Em 2007, o Irão lançou à agua um novo submarino de fabrico nacional e uma nova fragata, também criada no país. Oficialmente, não se sabe se produziram outros modelos.

A Força Aérea enquadra cerca de 52 mil pessoas e 281 aviões de combate. Estes eram, essencialmente, de origem soviética ou russa.

Em 2007, o país anunciou o teste de dois novos aviões, que estariam sendo produzidos no país em escala industrial.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

MORTE DO LÍDER DA ALA LIBERAL: 40 ANOS DEPOIS AINDA SEM ESCLARECIMENTO
















Este pequeno texto tem apenas um motivo: recordar a morte na Guiné-Bissau, há 40 anos, precisamente, a 25 de Julho, num alegado acidente de helicóptero do então deputado da Assembleia Nacional do antigo regime José Pedro Pinto Leite.
Juntamente, com Pinto Leite, morreram mais três deputados do parlamento de partido único: James Pinto Bull, Leonardo Coimbra e José Vicente Abreu. Na queda da aeronave vieram ainda a morrer o seu piloto, um alferes miliciano de nome Francisco Manso e um capitão de cavalaria Carvalho Andrade, que era do protocolo do governador e comandante-chefe militar da ex- colónia general António de Spínola, bem como um mecânico de bordo, cujo nome não consegui identificar.
O acidente deu-se quando uma formação de três helis, que voava para Teixeira Pinto, hoje Canchungo, foi, aparentemente, apanhado por uma tempestade tropical sobre o rio Mansoa, tendo os restantes dois conseguido aterrar. O terceiro caiu no rio junto da ilha Lisboa, não havendo qualquer sobrevivente.
O assunto, hoje, é meramente histórico, mas nunca ficou esclarecido. Até porque nunca existiu uma investigação oficial ao sucedido, apesar de envolverem a morte de quatro parlamentares do regime.
A questão levanta-se -e daí a recordação - porque o deputado Pinto Leite, eleito em 1969, era o líder de uma ala reformista que estava a criticar a orientação política nacional, em particular a continuidade da guerra colonial.
O corpo do então deputado Pinto Leite, que juntamente com os outros seus pares, fazia uma visita áquela colónia para verificar a evolução da guerra, nunca mais foi encontrado, embora tivessem sido recuperados os destroços do helicóptero.

Nesta ala reformista, tiveram algum papel de destaque os então deputados Pinto Balsemão, Sá Carneiro, Miller Guerra e Magalhães Mota, ainda que alguns outros se pronunciassem, ocasionalmente, contra o rumo que o país estava a levar.
De certo modo e em certo sentido, o desaparecimento de Pinto Leite levou a um enfraquecimento dessa ala, que, perante o bloqueamento dos seus pares, maioritariamente, apoiantes declarados do regime pró-fascista do Estado Novo, optaram cerca de dois anos depois pela demissão. E nem o apoio tiveram de Marcelo Caetano, que convidara Pinto Leite para exercer o cargo de deputado.

Era o fim do sonho liberal de reformular o regime fascista por dentro.
Anos atrás, o irmão Vasco de José Pedro Pinto Leite publicou um livro com o título "A Ala Liberal de Marcelo Caetano", colocando muitas reticências à tese de acidente que o regime impôs para a queda do helicóptero. Todavia, não existem, até agora, factos concretos que expliquem cabalmente o sucedido, referindo algumas das testemunhas que seguiam nos helicópteros que a turbulência atmosférica poderia ter sido a razão principal para o despenhamento.

domingo, 27 de junho de 2010

MÁRIO SOARES. O MAIS ILUSTRE PORTUGUÊS VIVO?

Neste passado fim-de-semana, ouvimos um antigo Presidente da Assembleia da República e representante de múltiplos interesses financeiros e comerciais, em Portugal continental e na ex-colónia de Moçambique, antes e depois do 25 de Abril, de nome António Almeida Santos a afirmar, como figura senatorial do actual regime político, do qual ele é co-responsável, que Mário Soares é "o mais ilustre português vivo".

Entre numerosos elogios de igual fôlego, quase na semântica dos velhos termos apologéticos dos antigos regime do Leste europeu do tempo dos regime pró-soviéticos, Almeida Santos eleva-o a "líder exemplar" e "pai do actual sistema democrático".

Dizia-me, há anos, uma figura proeminente do círculo político soarista, no decorrer de um almoço, referindo-se à personalidade de Mário Soares, que o "seu ego é de tal maneira elevado, que ele pensa que vai ficar na História. Eu, cá para mim, se calhar daqui a 50 anos, nem nos rodapés dos livros de História ele terá lugar".

Claro que não foi um desabafo, ele deu explicações para a sua argumentação. Não interessa de imediato a sua explicação, pois eu quero apresentar a minha visão do personagem político Mário Soares.

Em primeiro lugar, é diletantismo fazer afirmações do tipo "o mais ilustre português vivo". Porquer aparece muitas vezes nos jornais e televisões? Porque representou (ou apresenta) um papel marcante na evolução social e histórica de Portugal? Porque criou algo de novo no modo de fazer política no país e na Europa?

Em segundo lugar, não é factual, nem histórico, o facto de ser Mário Soares "o pais do actual sistema democrático" português, por muito que os seus apoiantes e apaniguados o tentem estabelecer.

Quem "democratizou" o regime de Salazar e Marcelo Caetano foram os chamados militares de Abril, através do Conselho de Revolução. Quando aquele se "retirou da História" nos anos 80, o sistema parlamentar democrático, que eles preconizavam no seu Programa do golpe de Estado de 25 de Abril, estava cimentado e foi então "entregue aos civis".

Mário Soares, como personagem política da chamada oposição republicana, não teve qualquer influência na opção da movimentação militar abrilista.

Mais: os principais chefes desse movimento nem sequer sentiam qualquer simpatia política por ele.

Ele adquiriu alguma preponderância no primeiro governo provisório, não pela via dos autores directos do golpe de Estado, mas pela pressão do general António de Spínola, que pretendeu "calvagar" o trabalho efectuado pela jovem oficialagem para impor o seu "poder de Estado" e lhe ofereceu o lugar de Ministro dos Negócios Estrangeiros.

O curioso é que em 25 de Abril de 1974, o PS de Mário Soares, incipiente e sem organização no interior de Portugal, que fora formado apenas em 1973, elaborara uns estatutos que, em muitos dos itens programáticos, nomeadamente, na economia e na superestrutura do Estado, se poderiam colocar "à esquerda" do próprio PCP.

Defendia abertamente o marxismo-leninismo.

(Estatutos estes que vigoraram até ao consulado do banqueiro Vítor Constâncio como secretário-geral do PS).

Até ao 11 de Março de 1975, e, praticamente, às eleições legislativas de 25 de Abril desse ano, Mário Soares foi um defensor acérrimo da nacionalização da economia e da Reforma Agrária; depois, com a ligação financeira e política à administração norte-americana e ao governo social-democrata de Helmut Schimdt, iniciou uma viragem, primeiramente muito subtil, defendendo o "socialismo" e a "liberdade" e, mais tarde, depois da aprovação da Constituição de 1976, começando a levantar a bandeira do "socialismo democrático".

Com a formação do seu I Governo Constitucional, em 1976, deu guarida a um um dos principais gestores dos grandes grupos económicos de antes do 25 Abril, Alfredo Nobre da Costa, como Ministro da Indústria e Tecnologia, colocando Carlos Mota Pinto no Comércio e Turismo, o banqueiro Emílio Rui Vilar nos Transportes e Comunicações e o liberal Henrique Medina Carreira nas Finanças. E, como figura-chave na destruição da Reforma Agrária, um antigo exilado, que queria mostrar serviço, completamente inexperiente em economia agrícola, na pasta da Agricultura, à revelia do seu maior especialista no sector Lopes Cardoso, que considerava tal orientação política como nefasta para a própria evolução económica do país.

Foi Mário Soares, logo no primeiro governo constitucional, o artífice do primeiro despedimento colectivo de envergadura em Portugal, o encerramento da empresa do Jornal "O Século", com os seus 800 trabalhadores, simplesmente porque aquele periódico era o elo fraco da cadeia jornalística de então e se opunha, mesmo depois do 25 de Novembro de 1975, ao controlo político da sua linha editorial, e isto depois de depurações internas, algumas arbitrárias. Alguns dos trabalhadores chegaram a suicidar-se no interior das próprias instalações.

Foram nos seus dois primeiros governos constitucionais, aqui com a liderança esfuziante de Soares que alguns dos principais banqueiros fugidos do país, a maior parte do quais por evidentes e ilegais fugas de capitais do país, regressaram com a percepão de que, a partir daquele momento, o seu reinado iria ressurgir.

O que se tornou um facto.

Com a revisão da Constituição de 1983, e com Mário Soares, novamente no poder a especulação financeira começou a enraizar-se e a tornar-se em "governo de facto", através dos seus representantes políticos.

E esta ligação de Soares ao capital financeiro, à especulação bolsista, aos arrivistas do negócio fácil e chorudo, esteve presente e contribuiu, de suma maneira, para que o antigo Primeiro-Ministro, então completamente desacreditado no país, fosse levado em ombros, como democrata impoluto, à Presidência da República.

Curioso é esta aparição, agora, desta uma homenagem a Mário Soares, e em pleno norte do País, zona tradicional de hostilidade à própria figura do antigo Chefe de Estado.

E isto numa altura em que já se está em campanha eleitoral para a Presidência da República.

Ora, Soares está contra a candidatura que o seu próprio partido apoia.

Ora, ele esta a fazer de porta-voz oficial dos seus apoiantes (internos e externos) dessa contestão, ultilizando, inclusive, a presença do secretário-geral socialista.

Mais curioso se torna porque nas últimas eleições presidenciais, onde se se quis apresentar como definidor da estratégia socialista, julgando-se "o mais ilustre português", ficou reduzido à sua impotência como influenciador do que seja, a não ser a divisão nas hostes do partido.

De certo modo e em certo sentido, essa campanha foi o traço marcante para desmontar o culto soarista, como estadista. A sua lenda de herói do 25 de Abril começou a ficar, então, um pouco baça.

Ora, o que de novo está, hoje, Mário Soares a trazer para a vida política é a sua promoção de uma aliança de poder entre o PS e o PSD.

E, em termos práticos políticos, ela somente pode ressurgir com a reeleição de Cavaco Silva para a Chefia do Estado.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

AFEGANISTÂO: OS AZARES DA GUERRA TRAZEM UMA MUDANÇA PROFUNDA DE ESTRATÉGIA?







Terá sido só a substituição de um general?










O Presidente dos Estados Unidos da América, num gesto teatral, afastou, ontem, o comandante militar norte-americano e da NATO em serviço no Afeganistão, general Stanley McChrystal, e, nomeou, em sua substituição, o general David Petraeus, que dirigia o comando central castrense daquele país.

O motivo imediato para a substituição do general, que, segundo a própria Casa Branca, foi o "estratega" da política militar e civil no terreno, em sintonia com Barack Obama, foram declarações proferidas por McChrystal à revista norte-americana "Rolling Stone", onde aquele criticava, abertamente, ou através de adjuntos, quer o Presidente, quer o vice-Presidente Joe Biden, quer, principalmente, o enviado civil para acompanhar as questões afegã e pasquitanesa, um antigo membro do governo Clinton chamado Richard Holbrooke, diplomata e banqueiro,proeminente membro do lobby judaico e destacado dirigente do grupo Bilderberg.

O general Stanley McChrystal, embora aparentemente se diga solidário com a orientação presidencial para o Afeganistão, há cerca de um ano, enviou um "relatório confidencial", que apareceu, mais tarde, no jornal Washington Post, a sublinhar que "sem um reforço do contingente militar, a guerra contra os rebeldes terminará em fracasso".

Ora, a realidade afegã - e em certa medida a paquistanesa - aponta para um continuado descalabro militar norte-americano, com os seus principais aliados da NATO a impôr limites de permanência no terreno da guerra muito apertados.

Por um lado, os reforços pedidos não surgem, e isso está ligado também à deterioração interna política e militar no Iraque, de onde seriam retirados os soldados para "tapar" a ocupação afegã, por outro, o progresso castrense de ocupação norte-americana (e já agora da NATO) está a produzir muitas baixas e uma fraca implantação no terreno operacional.

Naturalmente, o general McChrystal está (e estava) a par desta situação, e, como todos os generais políticos norte-americanos, que estão a par da realidade económica do país, deve ter feito a seguinte pergunta: Que lucro tiram, na realidade, os Estados Unidos da América da presença e ocupação militar dos Afeganistão?

Como retorno imediato de dinheiro, a Administração norte-anericana não vê um tostão, até porque as receitas do Estado (mas existirá realmente Estado?) afegão não existem. O que acontece, naturalmente, é que, desde a invasão, em 2001, os contribuintes norte-americanos apenas têm desembolsado avultadas e enormes verbas, que, na maioria dos casos, têm ido parar ao bolso de uns quantos.

Os EUA mantêem no Afeganistão cerca de 50 mil soldados (juntamente com alguns milhares de países da NATO, incluindo portugueses), mas tem ao seu serviço um número maior - jornais norte-americanos apontam para um valor de 100 mil "civis" - de assessores, agentes secretos, membros de empresas de segurança e outros, que custam valores astronómicos (e, muitas das vezes não controlados), a que se acresce as despesas posteriores com os soldados mortos e estropiados.

Em Maio de 2009, o presidente Barack Obama, enviou ao Congresso uma proposta (depois aprovada) do Orçamento da Defesa para o ano fiscal de 2010, que teve início em Outubro desse ano.

Pela primeira vez, neste Orçamento, os gastos com a Guerra do Afeganistão tornaram-se maiores do que os dispendidos com a Guerra do Iraque.

No documento aprovado, o valor total destinado ao Departamento da Defesa foi de cerca de 664 mil milhões de dólares.

Desses, 130 mil milhões de dólares são destinados para o financiamento directo das guerras: 65 mil milhões para a do Afeganistão e 61 mil milhões para a do Iraque. Há também previsão de gastos com ajuda ao Paquistão.

Ora, desde que assumiu a Presidência, Obama prometeu um reforço de 21 mil soldados para o TO afegão. Ora, este número nunca foi atingido. Houve, realmente, transferências, mas os números reais foram inferiores.

Até porque no Iraque devem estar perto de 140 mil militares (e um número da ordem de 200 mil de "civis"). Obama disse no principio do ano que, até Agosto de 2010, sairiam, progressivamente, do Iraque perto de 90 mil homens. Não consta que este número esteja a ser praticado.

Ora, os 65 mil milhões de dólares para o Afeganistão (o valor é muito mais elevado, pois são canalizadas verbas, possivelmente, idênticas de outros Ministérios) representam 35% do total das despesas feitas pelos EUA desde a invasão do país.

No caso do Iraque, o valor é 7% dos 860 mil milhões gastos desde 2003.

Claro, que não se sabe, por enquanto, se já existiu um pedido de recursos suplementares (e esta questão pode estar na origem do diferendo com o general substituido) nos últimos meses.

A Administração de George W. Bush era useira no sistema. Em 2009, o valor inicial de 66 mil milhões subiu para 142 mil milhões com os pedidos suplementares.

Já com Obama, em Maio de 2009, tinham sido aprovados mais 96,7 mil milhões até Setembro.

Ora, há dias surgiu um escândalo, proveniente da Câmara dos Representantes dos EUA, quando foi divulgado um relatório, que referia que "dezenas de milhões de dólares" foram pagos a grupos armados afegãos "e talvez até talibãs" para proteger a circulação de transportes rodoviários logísticos para as Forças Armadas.

Do documento, retirava-se que o Pentágono tinha decidido "entregar" esses transportes à gestão de empresas privadas. O contrato, feito pelo Departamento de Defesa, com essas empresas privadas, para abastecimento logístico das suas tropas, segundo o relatório, ascende a 2,1 milhões de dólares.

Cito a reportagem feita pela TSF sobre o assunto:

"O congressista John Tierney, presidente da sub-comissão de Segurança Nacional e Negócios Estrangeiros, comparou o que se está a passar no Afeganistão com um negócio mafioso.

O congressista reforçou que os contribuintes norte americanos estão a alimentar com dólares um negócio de protecção que tornaria «orgulhoso Tony Soprano», o protagonista da série sobre a máfia “Os Sopranos”.

No Afeganistão, as empresas privadas de transportes da logística militar têm que pagar protecção para não serem atacadas. Estes contratos aparentam assentar em «extorsão, corrupção e mesmo no financiamento do inimigo», disse. Ou seja, os talibãs estão a ser pagos pelos norte-americanos, segundo o parlamentar norte americano, e calcula-se que sejam cerca de três milhões de euros por semana.

John Tierney acrescentou que, há 14 meses, as «empresas de transportes fazem o pagamento a senhores da guerra dois dias antes das viagens começarem».

O congressista disse ainda que «a combinação de um aumento crescente dos contratos e incapacidade de gestão e controlo externo foi uma receita para o desastre».

Estão em causa mais de cem contratos com empresas de camiões para o reabastecimento de comida, água, combustível e equipamento dos militares no Afeganistão.

No início do ano já um relatório secreto, agora citado, dizia que os Estados Unidos eram cegos e estúpidos na forma como estavam a lidar com a realidade cultural e étnica do Afeganistão".

É evidente que os lobbies que rodeiam Obama e, particularmente, os que enxameiam o Pentágono, beneficiam, enormemente, - mas este enxame também povoa os Estados-Maiores europeus que participam na guerra - com a presença norte-americana prolongada.

E esta presença mais prolongada, também, não está isolada nos negócios paralelos e criminosos internos do Afeganistão.

A ocupação e a guerra prolongada destruiu, praticamente, toda a economia agrícola que era a principal fonte de riqueza dos povos locais. Floreseceu, pelo contrário, o tráfico de ópio e dos seus derivados, especialmente a heroína.

Dizem as entidades especializadas da ONU, que 93 por cento desses opiácios, que se espalham pelo mundo, provem do Afeganistão, e que o comércio aumentou exponencialmente desde 2001. A UNDOC refere que 80 a 90 por cento da heroina consumida na Europa é transportada do Afeganistão.

Ora, por ocasião, das últimas eleições presidenciais no Afeganistão, a administração norte-americana, hipocritamente, acusou o irmão de Hamid Karzai como um dos principais traficantes do país. E, sibilinamente, apontava que o Presidente, que eles colocaram no lugar, e pertencia aos seus serviços secretos, actuava, como "cúmplice".

Com uma presença, tão actuante das tropas dos EUA e da NATO, este tráfico, feito tão às claras, não é possível sem a benção das autoridades norte-americanas.
Os negócios ilegais deste tráfico tem dado entrado, para acções de branqueamento, no sistema financeiro internacional, e este sistema ainda é controlado por Wall Street.

Eis-nos chegados, pois, à entrada em funcções do general David Petraeus.

Apesar da humilhação que as declarações de McChrystal foram para Obama, algo deve estar a ser reformulado na estratégia norte-americana. E isto porque, é muito natural que a Administração tenha chegado à conclusão que, por muito dinheiro que possa correr, atravês da poresença, no Afeganistão (e até no Iraque), o certo é que toda a máquina de guerra está a custar mais numerário do que ele possa vir a render.

E para que os negócios possam ter de evoluir noutro sentido, menos belicoso, mais consensual entre os próprios senhores da região, ou seja o Grande Médio Oriente, será necessário refazer alianças, diminuir o peso das despesas militares, caminhar para parcerias menos rígidas.

O general Petraeus, há cerca de um ano, numa audição no Senado, sublinhou que os EUA teria de repensar a sua visão sobre o Médio-Oriente. E frisou, significativamente, um aspecto que era candente para a política a prazo de Washington: "as posições de Israel enfraquecem os Estados Unidos", que complemetou: "Israel fomenta o sentimento anti-americano na região".

Ainda pensará da mesma maneira?
Estará na forja uma manobra, mais profunda, no meio das frequentes cambalhotas norte-americanas, face ao inevitável no Afeganistão, no Iraque, e, possivelmente, no Paquistão?















terça-feira, 22 de junho de 2010

PSD: UM LíDER POLÍTICO DE CARA LAVADA PARA SERVIR O CAPITAL FINANCEIRO







Quando se pretende dar o triunfo da modernidade a um político de cara mais nova, mas adepto do Capital financeiro especulativo está tudo dito.
É preciso mudar para que tudo fique na mesma.



















Quando o apelidado jovem (iremos ver o percurso biográfico dele, é podemos verificar que é antigo, bafiento e retrógrado) Passos Coelho assumiu o lugar de líder do PSD, sairam a terreiro muitas personalidades da nossa praça que o incensaram, elevando-o a uma futura promessa de renovação do aparelho político e de Estado.

Ele, todavia, foi lesto a demonstrar o que quer, e isto a propósito da crise que o acompanha desde que foi eleito líder, e, no meio da azáfama da defesa do regime, ele dá orientações ao destorneado José Sócrates e aos apoiantes, incluindo o antigo Presidente da República Mário Soares: "Se for necessário recorrer ao fundo europeu de emergência, o devemos fazer, olhando para a nossa dívida pública, reestruturá-la rapidamente e reduzir estrategicamente o peso do Estado”.
Aqui estão as velhas receitas.

Ou seja, a partir de agora, se eu for directamente para o poder - difunde o divinus Passos Coelho - o papel que Sócrates esta a desempenhar será reforçado: "O domínio do capital financeiro especulativo será avassalador".

Mas afinal o que fez na vida Passos Coelho?

Foi político profissional e gestor de empresas ligadas ao grupo BES. Nada mais.

/Um pequeno àparte: licenciou-se, com o título de trabalhador-estudante, numa Universidade Privada mais ou menos obscura, a Lusiada. (Ironicamente, não sei se desaparcerá, tal como a Independente, se o homem for para o governo para apagar rastos demasiado perigosos...)/


Pedro Manuel Mamede Passos Coelho, nascido em 1964, passou a infância no Bíe, Angola e regressou, com 10 anos, no pós-25 de Abril. Foi viver para Trás-os-Montes, concretamente em Vila Real. Foi ali que reparou qual o partido que o servia, ainda jovem. Alistou-se na Juventude Social-Democrata. Percorreu os patamares desta organização, que serve, normalmente, de trampolim para a distribuição posterior de lugares no partido e no aparelho de Estado, quando ascende ao poder o seu partido.

Foi membro do Conselho Nacional (1980-1982) e presidente da Comissão Política (1990-1995). Foi deputado à Assembleia da República, pelo Círculo de Lisboa, nas VI e VII Legislaturas (1991-1999), onde integrou a Assembleia Parlamentar da OTAN (1991-1995) e foi vice-presidente do Grupo Parlamentar do PSD (1996-1999). Foi candidato a presidente da Câmara Municipal da Amadora, eleito vereador (1997-2001).

Precisamente, nesse último ano, finaliza, como #ardoroso# trabalhador-estudante a licenciatura em Economia, pela Universidade Lusíada de Lisboa (2001).

Faz estágio como gestor, e, em 2004, ingressa, como director financeiro, no Grupo Fomentinvest (2004-2006), tornando-se num dos braços direitos do ex-ministro Ângelo Correia. Passou a membro da Comissão Executiva (2007-2010), funções que acumulou com as de presidente do Conselho de Administração da HLCTejo (2007-2009).

Ora, o grupo Fomentinvest, embora tivesse Ângelo Correia, como aparente homem-forte, na realidade, é um consórcio detido, em larga percentagem- 15% do capital -, pelo grupo BES (Banco Espirito Santo). Outros sócios com peso são o grupo Ilidio Pinho, ligado a Mário Soares, Américo Amorim e o Banco Banif, do falecido Horácio Roque. (Ângelo Correia é tido nos meios bem informados dos negócios como um representante político do grupo BES). Neste negócio, igualmente participa o BCP e a CGD.

Para que não haja a tendência de dizer que esta narração é de motu próprio, tendenciosa, descrevemos uma notícia saida na imprensa nacional, retirada da agência Lusa (Janeiro de 2010):

"O Banif e a Fomentinvest vão lançar a Ecotrader, a primeira corretora de carbono portuguesa, detida em partes iguais pelas duas entidades e que será presidida por Ângelo Correia, revelou à agência Lusa Artur Fernandes, presidente do Banif Investimento.

A Banif Ecoprogresso Trading (Ecotrader) será presidida por Ângelo Correia, presidente da Fomentinvest, e contará com mais dois administradores, Carlos Jorge, do Banif Banco de Investimento, e Paulo Caetano, da Ecoprogresso.

A Fomentinvest actua nas áreas do ambiente, energia, mercado de carbono e mudanças climáticas, contando entre os seus accionistas com a Fundação Ilídio Pinho (21,2 por cento), Caixa Capital (15,4 por cento), Espírito Santo Capital (15,4 por cento), Millennium BCP (15,4 por cento), IP Holding (15,4 por cento), Banif Banco de Investimento (7,7 por cento), Fundação Horácio Roque (7,7 por cento) e Banco Africano de Investimentos (BAI), com 1,9 por cento.

“O Banif Investimento será o banco depositário dos accionistas da sociedade [Ecotrader] e adviser para os investimentos”, adiantou Artur Fernandes.

"Paralelamente, o presidente do Banif Investimento disse à Lusa que a MCO2, uma nova sociedade gestora de fundos de investimento mobiliário já autorizada pela Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) – conforme o supervisor anunciou na sexta-feira -, vai passar a gerir os fundos Luso Carbon Fund e New Energy Fund, que neste momento são geridos pelo Banif Gestão de Activos (BGA).

“A MCO2 é constituída pela Fomentinvest (50 por cento), pela Espírito Santo Activos Financeiros (ESAF), com 25 por cento, e pelo Banif Investimento (25 por cento)”, revelou Artur Fernandes, explicando que o BGA “começou a gerir os dois fundos já com o intuito de os passar para uma nova gestora, ou seja, transitoriamente, já que o acordo [para o lançamento da MCO2] está assinado desde o início”.

"O New Energy Fund (NEF) é o primeiro fundo português a investir directamente em empresas projectos de Energias Renováveis (eólica, biogás, biomassa, biocombustíveis, hídrica, solar, hidrogénio, oceanos/marés e geotermia).

"O NEF é um fundo desenvolvido e promovido pela Fomentinvest SGPS e conta com participações minoritárias do Banco Espírito Santo de Investimento e do Banif Banco de Investimento. A Ecoprogresso assume a consultoria de investimento desde a sua entrada em funcionamento em Novembro de 2007.

"O mesmo grupo de parceiros é ainda responsável pela gestão do Luso Carbon Fund, lançado em 2006, que é o primeiro fundo de carbono nacional que actua a nível mundial".

Claro que Pedro Passos Coelho, transparentemente, decidiu renunciar a todos os cargos que ocupava na Fomentinvest, sociedade gestora de participações em várias empresas da área do ambiente e energia com vários contratos com o Estado.

Sustenta ele decidiu dedicar-se exclusivamente à política - e naturalmente irá representar interesses de alguém, não há almoços grátis, não é? - e ficará a receber um vencimento do partido que no caso da sua antecessora foi equivalente ao de vice-primeiro-ministro mas que poderá ser actualizado pela novo Conselho de Jurisdição do partido.

Mas, por vias das dúvidas, logo a 7 de Maio, Passos Coelho almoçou com um grupo de empresários do Norte, em casa de Américo Amorim, segundo o Diário Económico.

O almoço serviu para Passos Coelho "dar a conhecer as suas ideias" a alguns dos mais importantes empresários portugueses, incluindo Carlos Martins (Martifer), Manuel Violas, Adalberto Neiva Oliveira, Aprígio Santos, Mário Ferreira (Douro Azul), Carlos Saraiva e Joaquim Barroca (Grupo Lena), entre outros.

A finalizar, revertemos para este blogue o trabalho jornalístico, efectuado recentemente, pela revista Sábado, a propósito das ligações pouco transparentes da empresa Fomentivest, que o periódico evita referir, no entanto, que são os sócios principais - os especuladores -, mas descreve com pormenor a rede de influência que envolve personalidades duvidosas, naturalmente menores, que fazem o trabalho sujo.

A Sábado procura revelar assim - e é bom que o faça - a actividade empresarial de Pedro Passos Coelho.

A revista titula a reportagem com “Os interesses de Passos”.

Ficamos a saber que as empresas de resíduos do grupo Fomentinvest, onde Pedro Passos Coelho deteve responsabilidades de gestão, tiveram como sócios (e num caso ainda têm) figuras envolvidas em escândalos financeiros: entre os quais Horácio Luís de Carvalho, que está a ser julgado por corrupção activa e branqueamento de capitais, ainda é sócio da sub-holding Tejo Ambiente.

Recorda a revista que quando, em Novembro de 2003, Passos Coelho entrou para o grupo, então liderado pelo "histórico" do PSD Ângelo Correia, Horácio Luís de Carvalho já era administrador e sócio da Tejo Ambiente, a sub-holding da Fomentinvest que controla as empresas de resíduos Ribtejo e HLC Tejo.

A este respeito, Carvalho, depois de ter vendido a HLC Tejo, do grupo de Ângelo Correia (convém referir que Correia é um testa de ferro de grupos financeiros, como atrás se assinala), passou então a deter 20% da Tejo Ambiente através da sua empresa HLC EGP - Engenharia e Gestão de Projectos.

Contudo, refere que, nos últimos anos, Horácio de Carvalho delegou a sua representação na administração da Tejo Ambiente no seu sócio Jorge Raposo de Magalhães.

Sublinha que o empresário está a ser julgado desde Outubro de 2009, no processo de adjudicação do aterro sanitário da Cova da Beira, que remonta à segunda metade dos anos 90, onnde é acusado de ter depositado 59 mil euros numa conta offshore de António Morais, o “célebre” professor de José Sócrates na Universidade Independente, que trabalhou com Armando Vara no Ministério da Administração Intema.

Refere que, segundo a acusação, António Morais terá favorecido Horácio de Carvalho através da sua consultora, a ASM, que prestava assessoria no concurso para o aterro. O valor do contrato em causa ascendia a 13 milhões de euros.

O concurso teve lugar quando José Sócrates ainda era secretário de Estado do Ambiente - e o actual primeiro-ministro chegou a ser investigado, mas no que lhe dizia respeito o processo foi arquivado em 2007.

Lembra ainda - segundo a revista - que, em finais de 1997, Horácio de Carvalho tinha vencido 10 concursos para aterros como o da Cova da Beira num total de 37, que se socorre de uma reportagem do jornal o Público, de 2009.

Contactado - e reportamos - pela Sábado, Pedro Passos Coelho não quis pronunciar-se sobre estes casos nem sobre assuntos que digam respeito às empresas. Ângelo Correia diz que a Fomentinvest “nada tem a ver” com Horácio de Carvalho: “Não temos qualquer relação com ele, nem está nos órgãos sociais.”

Os outros sócios da Fomentinvest envolvidos em escândalos são os empresários de Santa Maria da Feira António e Manuel Cavaco.

São os donos da construtora Irmãos Cavaco, que detinha 1% da Sociedade Lusa de Negócios (SLN), proprietária do Banco Português de Negócios, e 1,5% da SLN Valor. Mais adianta que estão envolvidos no processo do BPN acusados de cumplicidade com Oliveira Costa numa burla qualificada para iludir a supervisão do Banco de Portugal. Estes construtores e outros cinco accionistas do grupo SLN/BPN terão comprado a SLN Imobiliária à SLN, através de uma empresa offshore, mas corn dinheiro do próprio BPN, simulando uma mudança de propriedade apenas formal. A empresa ficava assim fora da alçada do Banco de Portugal.

Na Fomentinvest, os irmãos Cavaco foram sócios da empresa de recolha de lixo Ecoambiente entre 2005 e 2009, onde detinham 30% do capital, e pertenciam a um agrupamento de empresas para recolha de lixos em Albufeira. A Fomentinvest comprou-lhes a participação em Dezembro passado quando os irmãos Cavaco manifestaram intenção de vender. A construtora ainda é parceira noutra empresa do grupo: detém 37% da SDEL (construção e exploração de mini-hídricas). “Nunca houve ligação ao BPN no financiamento dessa empresa”, diz Ângelo Correia.

A revista informa que Pedro Passos Coelho, como administrador do grupo Fomentinvest, com responsabilidades pelo pelouro financeiro, trabalhava com uma boa parte das operações de crédito bancário do grupo e as relações com a banca a passarem por ele. De resto, enfatiza a Sábado, os seus créditos, como gestor, estãoligados aos resíduos.

Além disso, a publicação acentuou que o líder do PSD foi presidente do conselho de administração da HLC Tejo e da Ribtejo - dois aterros de resíduos situados no Ecoparque da Chamusca.

Segundo a Sábado, a sede da Fomentinvest é no 10º andar da Torre 3 das Amoreiras, em Lisboa, onde Passos Coelho ocupa (ou ocupou) um gabinete espartano a três metros do de Ângelo Correia, com uma vista avassaladora sobre Lisboa.

A Fomentinvest controla mais de 30 empresas com muitas relações com o Estado, distribuídas por três sectores: ambiente, energia e carbono.

A revista pormenoriza operações nada transparentes.

Em 2008, a Ribtejo foi alvo de uma contra-ordenação ambiental muito grave “por descarregar efluentes contaminados na ribeira de Lamas”, escreveu o jornal Público em Outubro de 2008.

Realça que as análises notavam que a concentração de sulfitos era 34 vezes superior aos máximos legais e que os sulfuretos os ultrapassavam 27 vezes.

A IGAOT aplicou a Ribtejo uma coima de 60 mil euros por incumprimento das normas de qualidade das águas, decisão da qual a empresa recorreu para tribunal, por entender que a entidade fiscalizadora se tinha enganado na verificação de parâmetros.

As três empresas ambientais da Fomentinvest terão sido alvo de 12 processos por infracções nos útiltimos anos.

Sublinhou ainda que, da mesma maneira que são fiscalizadas pelo Estado, muitas das empresas então sob do líder do PSD têm entidades estatais como clientes.

A HLC Tejo, por exemplo, tinha o Estado como única cliente, pois geria o aterro de resíduos urbanos da Chamusca (uma concessão atribuída por 10 anos pela Associação de Municípios da Lezíria), mas as autarquias não renovaram o contrato com a Fomentinvest em Maio de 2009.

Desde o ano passado, as autarquias tomaram conta da gestão do aterro, onde agora a Fomentinvest está a desenvolver um projecto de biogás através da CEBC - Produção de Energia.

Mas a revista esmiuça mais.

Uma grande parte da facturação de outra empresa do grupo, a Ecoambiente, também provém do Estado. Trata-se da segunda maior do País e trabalha para muitas câmaras municipais. Entre os grandes contratos com autarquias, conta-se a Câmara de Matosinhos (PS), onde a Ecoambiente criou uma empresa para recolha de lixo e limpeza de ruas, ao ganhar um concurso internacional de valor superior a 20 milhões de euros, em 10 anos.

Outro grande cliente da Ecoambiente é a Câmara de Albufeira (PSD), cuja prestação de serviços vale 27,8 milhões de euros entre 2005 e 2013 (era em sociedade com a Irmãos Cavaco).

Também são clientes da Ecoambiente as câmaras do Seixal e Almada (CDU), as de Olhão, Loures, Marinha Grande, Azambuja e Montijo (PS), e da Maia, Valongo e Mafra (PSD).

Por outro lado, aponta a revista que, no concelho de Sintra, onde Ângelo Correia é o presidente da Assembleia Municipal e Fernando Seara preside à Câmara (PSD), a Ecoambiente mantém um contrato com uma empresa municipal para o aluguer de viaturas para recolha de lixos e limpeza de ruas que ultrapassa os 2,5 milhões de euros por ano. Isto apesar da revista recordar que o estatuto dos eleitos locais dizer que os autarcas não podem celebrar contratos com as câmaras por onde foram eleitos.

Ângelo Correia explicou à Sábado que o contrato é anterior à sua ida para a Assembleia Municipal e afirmou que se demitiu, nesse momento, de presidente da Ecoambiente.

Outra empresa que pertence à Fomentinvest Ambiente é a ISBS, uma consultora adquirida em 2008 à Société Générale de Surveillance (SGS), que dá aconselhamento em “projectos inovadores para submeter ao QREN [Quadro de Referência Estratégico Nacional – de fundos comunitários]”, segundo o relatório e contas do grupo.

No portfólio de clientes publicado na página da empresa na Internet constam 18 entidades estatais, entre as quais câmaras, portos, institutos e empresas estatais, como CP e Metro de Lisboa, ou ligadas ao Estado como a EDP.

Mas há mais sociedades do grupo Fomentinvest que têm relações directas com ministérios.

É o caso da Ecoprogresso, que faz consultoria e opera no mercado de compra e venda de licenças de emissões de carbono. Segundo o relatório e contas da Fomentinvest, a Ecoprogresso colabora com o Ministério do Ambiente (o mesmo que fiscaliza as empresas de resíduos do grupo) e com a Agência Portuguesa do Ambiente.

No caso das mini-hídricas da SDEL (subsidiária da Fomentinvest Energia SGPS) em Cabeda, Parada de Pinhão; Armamar, Tabuaço e Fafe, o arranque dos projectos está pendente de decisões de entidades da administração pública e das autarquias. A Fomentinvest também ganhou concursos do Ministério da Economia para a construção e exploração de centrais de biomassa em Portalegre, na Covilhã e na Sertã (embora tenha participado em mais), mas os projectos estão parados.

Um dos concursos mais importantes em que a Fomentinvest esteve envolvida foi a reorganização da Galp, cujo modelo caiu quando o Govemo socialista de José Sócrates tomou posse. O grupo gerido por Ângelo Correia concorria em consórcio com os norte-americanos do grupo Carlyle para entrar na petrolífera. (A revista omitiu que o principal sócio português era o BES)

Em Janeiro deste ano, com Ângelo Correia ao lado, José Sócrates e o ministro da Economia, Vieira da Silva, participaram na inauguraçã no Mercado Abastecedor da Região de Lisboa, em Loures, uma das maiores centrais fotovoltaicas em ambiente urbano, que vai produzir energia suficiente para abastecer 3000 casas.

A central de energia eléctrica pertence a um consórcio liderado pela empresa Fomentivest.

Como se pode verificar o talentoso Passos Coelho tem uma sina ligada ao capital financeiro.
Certamente, o seu interesse pela dívida pública e pelo papel do Estado está muito ligado áqueles que querem continuar a ir buscar a sua principal fonte de rendimento ao...próprio défice do Estado. Tudo bons rapazes, não há dúvida.

domingo, 20 de junho de 2010

SARAMAGO: LITERATURA UNIVERSAL QUE O VATICANO DESPREZA
























Faleceu, sexta-feira, o escritor português José Saramago, que se tornou uma figura destacada e marcante na literatura mundial nas duas últimas décadas.

Do ponto de vista nacional, e para sermos mais precisos, no espaço da lusofonia, a projecção da sua escrita trouxe um impulso enorme à divulgação e penetração da literatura centrada no português (falado nas suas diferentes matizes) na cultura internacional.

Do ponto de vista do debate de ideias, os seus livros, os temas centrais de alguns desses livros, tiveram uma mérito acrescido de agitar e obrigar a discutir, em todos os cantos do mundo, mas especialmente no chamado mundo ocidental, a actualidade do socialismo, a injustiça da repartição da riqueza.

Mas foram, justamente, os seus desafios literários, a sua ironia dilacerante, sobre o papel da religião, e em particular da religião judaico-cristã, cuja supremacia hoje está centrada na Igreja Católica Romana, que entusiasmou, causou sensação, fez brotar perplexidades em muitos milhões de pessoas. Não haja dúvida que a sua escrita, em torno desses temas, produziram um choque de envergadura sobre a mentalidade retrógrada da hierarquia suprema da Igreja Católica, e, naturalmente dos seus apaniguados e fiéis ortodoxos internos em diversos países, incluindo Portugal.

Quando a intelectualidade dos mais diversos quadrantes reconhece a importância e agudeza mundial da literatura de Saramago e o elogia, como tal, na hora da sua morte, o Vaticano, que se diz seguidor de Jesus Cristo, tolerante, aberto a ideias diferentes, perdoador das ofensas de outrem, atacou duramente o escritor com uma insolência cobarde de quem não se pode defender.

Para o efeito, o séquito de cardeais, encimado pelo Papa, não o fez directamente, mas utilizou o seu porta-voz de imprensa, o jornal diário Osservatore Romano, na sua edição de domingo, considerando que Saramago foi um "populista extremista" e um "ideólogo anti-religioso"

Citando as agências internacionais, o jornal colocou logo um título acintoso "O grande (suposto) poder do narrador", desenvolvendo depois no texto uma "critica com virulência" ao Prêmio Nobel de Literatura, que, segundo o Osservatore Romano, era marxista e ateu, como se tal rotulagem fosse um crime digno da Inquisição e das figueiras fomentadas pelo fanatismo irracional do Papado romano nas Idades Médias e Moderna.

O Osservatore Romano definiu-o como "um ideólogo anti-religioso, um homem e um intelectual que não admitia metafísica alguma, aprisionado até o fim em sua confiança profunda no materialismo histórico, o marxismo".

O curioso é que a seccção portuguesa da Igreja Católica Romana tomou uma posição diferenciada da Santa Sé.

Também não o fez, directamente, pelo conclave dos bispos católicos, é certo, mas utilizou o
Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura (SNPC), da Igreja Católica, através de um comunicado, saído domingo à tarde - ou seja, horas depois da posição do jornal oficial do Papado, no qual manifesta “o seu pesar na morte de José Saramago, grande criador da língua portuguesa e expoente da nossa cultura”.

O comunicado assinala, em contradição, com o Vaticano que “o cristianismo e o texto bíblico interessaram muito ao autor como objecto para a sua livre recriação literária” e que nessa “exigência e beleza” há uma“aproximação” que o SNPC sublinha.

Todavia, o secretariado católico lamenta “que ela nem sempre fosse levada mais longe, e de forma mais desprendida de balizamentos ideológicos”.

No documento do SNPC, a organização da Igreja Católica acrescenta que José Saramago “ampliou o inestimável património que a literatura representa, capaz de espelhar profundamente a condição humana nas suas buscas, incertezas e vislumbres”.

“Mas a vivacidade do debate que a sua importante obra instaura, em nada diminui o dever da cordialidade de um encontro cultural que, acreditamos, só pode ser gerado na abertura e na diferença”, segundo o texto.

Naturalmente, o ataque desabrido do Vaticano tem um significado: o debate introduzido, ao longo dos anos, pelos escritos e declarações públicas de Saramago teve repercussões no seio da própria Igreja Católica, e de modo particular, nos seus fiéis. Isto quer dizer que, para o Papado, os ideais do escritor português são temidos, porque são argumentados e baseados em contradições que minam a própria credibilidade da construção ideológica e política da Santa Sé.

Esta situação, na minha opinião, engrandece a obra e a genialidade de Saramago.

Todavia, deve ser feita uma análise crítica mais profunda da sua acção e da sua própria militância política, mas isto, torna-se secundário, face ao gigantismo da sua obra e projecção cultural e literária.

sábado, 19 de junho de 2010

QUAL A RAZÃO PORQUE O PROCURADOR DOS EUA VAI À GUINÉ?





OS EUA mandam o sétimo homem da hierarquia para resolver um problema interno?












O Procurador-Geral da República da Guiné-Bissau anunciou, hoje, que o seu homólogo norte-americaco, Eric Holder, que na estrutura estatal norte-americana é membro do governo, logo sendo mais um Ministro da Justiça, irá visitar aquele país lusófono, em Setembro, para "ajudar nas investigações do assassínio do ex-presidente ‘Nino’ Vieira".

Amine Saad divulgou esta visita depois de se ter encontrado com uma delegação norte-americana que foi a Bissau preparar a vinda do Procurador americano.

Amine Saad adiantou que o Procurador norte-americano não só virá ajudar a esclarecer as circunstâncias do assassínio do ex-Presidente guineense, João Bernardo ‘Nino’ Vieira, como também nas investigações de outros casos de mortes e tráfico de droga.

“O caderno de encargos que nós oferecemos às autoridades americanos, através desta senhora que é também uma Procuradora da República, foi de nos ajudarem a investigar o processo de tráfico de droga, o processo que tem a ver com a morte do Presidente ‘Nino’ Vieira, com a morte do general Tagmé Na Waié, o processo da tentativa de golpe de Estado atribuído ao doutor Faustino Imbali, mortes de Helder Proença e Baciro Dabó e outros implicados nesse processo”, afirmou Amine Saad.

Ora, esta visita de um alto responsável governamental dos EUA ao país - eu penso que é o mais alto responsável daquele país a realizar uma visita àquele país - traz água no bico.

O Ministro da Justiça dos EUA vai a Bissau "ajudar" nas investigações dos assassinatos de Nino Vieira e Tagmé Na Waié?

Qual o interesse "ao mais alto nivel" de Washington por "um aparente ajuste de contas" internos, como quiseram fazer acreditar na altura, quer o Primeiro-Ministro guineense, Carlos Gomes Júnior, quer o alto intitulado almirante Zamora Induta, o homem que substituiu, de imediato, o falecido CEMGFA Na Waié?

Quando se dá a morte de Nino Vieira, minutos depois, já o então capitão de fragata Zamora Induta, que era porta-voz do EMGFA, afirmava à Agência France Presse o seguinte: "O Exército matou o presidente Vieira quando ele tentava fugir da casa dele, atacada por um grupo de militares ligados ao comandante do Estado-Maior, Tagme Na Waie".

E acrescentava: "Agora, o país vai avançar. Este homem bloqueava tudo neste pequeno país".

Como sabia Induta, ainda em cima do acontecimento, que eram tropas fiéis a Na Waié, que efectuaram o assassinato?.

Ora, as tropas que entraram na casa de Vieira não eram de Bissau, provieram de Mansoa, quartel onde predominava António Indjai. Levaram tempo a chegar. Alguém estava, pois, a par de tudo.

Zamora Induta referiu, dias depois, que a bomba que matou o CEMGFA poderia ser de origem tailandesa. Mas como poderia determinar essa origem, se os militares guineenses nem material de investigação pericial têm ao seu alcance?

Pela mesma altura, o PRS, o partido de Kumba Ialá, com forte componente étnica balanta na sua composição, referia que um dos indivíduos que colocou a bomba na Fortaleza da Amura era guarda-costas do PM, Carlos Gomes Júnior. Afirmação esta que foi confirmada por fontes judiciais. E foi mesmo divulgado que tal indivíduo teria a patente de coronel.

O antigo Primeiro-Ministro Francisco Fadul, nesses mesmos dias, acusava, publicamente, Induta e Carlos Gomes Júnior, de cumplicidade na morte do general e do Chefe de Estado.

O que é certo é que perante estas declarações e acusações, tanto o PM, como o governo, mantiveram o mais rigoroso silêncio.

Em horas, Induta ascendia a almirante e a CEMGFA interino e António Indjai a vice-CEMGFA.

A 1 de Abril passado, aqueles dois homens desentendem-se, e este desentendimento conduz a uma tentativa de golpe de Estado, em que Indjai e um antigo Chefe do Estado-Maior da Armada José Américo Bubo, foragido há anos, após uma frustado afastamento de Nino Vieira, se coligam para deter Induta e Carlos Gomes Júnior. Este é posto, a contragosto, em liberdade.
Pelas entrelinhas, verifica-se que o CEMGFA e o PM estavam a pretender decapitar a liderança militar efectiva que estava nas mãos do vice-CEMGFA.

Indjai, como CEMGFA efectivo, acusa Induta, ainda, de ter ligações ao tráfico de droga.

Há dias, em Paris, o actual Presidente da República, Malan Bacai Sanhá, que era na altura da morte de Nino e de Waié, Presidente da Assembleia parlamentar guineense, fez afirmações em Paris à revista Jeune Afrique que " a comssião de inquérito (dirigida pelo PGR) apresentará as suas conclujsões premilinares. Tudo o que posso dizer, é que personalidades políticas estão implicados nesses assassinatos".
(Malan faz estas declarações, depois, um encontro que teria tido, também em Paris, com o PM Carlos Gomes Júnior e o Chefe de Estado de Cabo Verde, Pedro Pires).

Como é que Malan conhece estes dados, se a comissão, que teoricamente é independente, ainda não apresentou as conclusões, e mais, estranho, divulga tais factos (enigmáticos) quando se encontra no estrangeiro, ilibando, de certa maneira, os autores (Indjai e Bubo) dos actos ilegais que efectuaram a 01 de Abril?

Há cerca de um mês, o departamento de Justiça dos EUA acusou Indjai e Bubo de estarem ligados ao tráfico de droga, indo ao ponto de afirmar que iria sequestrar todas as contas do segundo, que estivessem depositadas nos EUA.

Será que os assassinatos de Nino e Waié, bem como o tráfico de droga, têm uma mão exterior muito mais comprida do que se pensa?

Ou será que a estratégia dos EUA para África, com a formação do AFRICOM (Comando Militar norte-americano para África) também passa pela Guiné-Bissau?

Há dias, as agências internacionais noticiavam que uma delegação do Comando Americano para a África, AFRICOM, visitou, na segunda e terça-feira passadas, o arquipélago de Cabo Verde.

Durante a sua estada, a referida delegação, chefiada pelo número dois desse organismo, o embaixador Anthony Holmes, manteve contactos e encontros de trabalho com responsáveis cabo-verdianos do sector da Defesa e Segurança.

Ainda há menos de um mês foi inaugurado o Centro de Segurança Marítima, COSMAR, financiado em três milhões de dólares pelo governo americano, através do AFRICOM. Dentro de dias Cabo Verde deverá receber uma nova embarcação para reforçar a sua guarda costeira.

Segundo a ministra cabo-verdiana da Defesa, Cristina Fontes, com quem Anthony Holmes se encontrou, esta visita vem na linha do reforço da cooperação actualmente em curso entre Cabo Verde e os Estados Unidos.

“Trata-se de continuar nesta linha de reforço da cooperação e de parcerias. Tanto nós como os Estados Unidos achamos que a principal ameaça à segurança dos nossos países vem do mar.”
Cristina Fontes, ministra da Defesa de Cabo Verde.

De referir que o Africom, comando americano para África, está sedeado em Estugarda, Alemanha, sendo esta a segunda vez desde a sua criação há cerca de três anos que um alto responsável seu visita Cabo Verde.
Por seu turno, a comandante-adjunta para actividades civis-militares do Comando dos Estados Unidos para África, AFRICOM, Mary Carlin Yates, esteve em Angola, de 4 a 6 de Dezembro, para discutir com as autoridades angolanas novas formas de cooperação




















quinta-feira, 17 de junho de 2010

A SOCIEDADE COMERCIAL E FINANCEIRA CHAMDA VATICANO






















Qual a razão porque um prelado, altamente considerado na Cúria Romana, decide desmascará-la?









Deram-me há dias, com presente, um livro, recentemente editado em Portugal, pela Editorial Presença, com um nome sugestivo "Vaticano S.A".

É escrito por um jornalista de Itália, natural de Milão, nascido em 1969, que colaborou com vários diários italiano e, actualmente, é correspondente especial da revista Panorama.

O essencial do seus escritos é um espólio documental de um obscuro, para nós, hierarca da Igreja Católica Romana, monsenhor Renato Dardozzi, que, na sua discrição, foi, desde 1974 até finais do século XX, conselheiro das figuras mais importantes na gestão do banco central da Igreja, o IOR.

No final da sua vida, tal como assinala o guião de informação inserto no livro, Dardozzi determinou que o arquivo que ele próprio elaborou, com todos os processos que acompanhou, se tornasse público.

Segundo esse guião, Vaticano, SA contém o essencial das informações recolhidas por este prelado, sendo um documento de grande interesse histórico que expõe a frenética a actividade da Igreja, durante duas décadas, visando, sob a capa de obras de caridade, secretíssimas manipulações políticas, subornos, pagamentos a políticos corruptos e elementos da Máfia, e até mesmo um elaborado sistema de lavagem de dinheiros: um paraíso fiscal inexpugnável em plena cidade de Roma.

Irei pronunciar-me, mais tarde, sobre o conteúdo deste livro, porque uma pergunta me atormenta: qual a razão porque o prelado decidiu tornar público tal acervo, que desmacara toda a actividade religiosa da Igreja Católica Apostólica Romana?

O PAPEL DO BES, NA VISÂO DE RITA FERRO







Uma posição arrojada de Rita Ferro, mas, certamente, os Espírito Santo continuarão a orientar-se pela sua divisa: quanto maior for a força do dinheiro, maior é a minha força.











Li, pela primeira vez, de modo enviesado, o texto, que transcrevo abaixo, da escritora Rita Ferro, e não lhe deu muita atenção. Pensei cá para mim: zangaram-se. Mais tarde, fui reler, e reparei que havia, sinceridade, na escrita.
Conheço algumas obras de Rita Ferro, mas não sou um seu leitor assíduo. A úniva vez que a vi - e digo só a vi - foi, em Luanda, nos meados dos anos 90, num recepção na sede da União dos Escritores Angolanos, que ela visitou e eu estava ali em serviço profissional jornalista.
O texto inserido na jornal Expresso, na última semana, merece um comentário, que farei no final.

Carta Aberta à Família Espírito Santo – Rita Ferro

"Cresci a ouvir falar da vossa família com urna reverência quase tão mística como a matriz bíblica do nome que vos designa. Em 1931, o vosso avô Ricardo foi mecenas de uma obra social fundada por minha avó, e é em nome dessa memória afectiva que venho hoje galvanizar-vos.


Sabem? Herdeira genética do salazarismo, mas penitente pelos efeitos do seu regime, sinto-me hoje ludibriada por ter dado o benefício da dúvida a quem se perfilou na defesa das suas vítimas para agora as defraudar, apropriando-se de todos os tiques, luxos e vassalagens que, rusticamente, se associam à direita, e de que toda a Esquerda persistente deveria, ao menos, recatar-se.


Na verdade, devo a meu pai tudo o que sei de política: “Nenhum sistema ou nenhuma ideologia pode hoje considerar-se a salvo de suspeita”. Lição breve, mas que sobra para enxergar quando me enganam: o nosso primeiro-ministro está mais preocupado em encobrir o lóbi argentário que o assedia do que em escorar Portugal contra a calamidade mundial que afundará, em primeiro lugar, economias frágeis corno a nossa.


Todavia, presenciar os ultrajes a que se presta - sem saber ou poder defender-se - não é um espectáculo menos triste do que assistir à demissão dos portugueses que, lesados, falidos e ultrapassados por jogadas de bastidores, contam anedotas para expurgar a impotência.


Sei que sabem: as “classes” acabaram finalmente, não por promessas de Abril ingénuas nesta matéria - mas porque tanto operários com os intelectuais se irmanam hoje no garrote da penúria para que meia dúzia de plutocratas possam beneficiar-se com o que, em justiça, caberia a todos, segundo os chavões humanistas de que sempre se socorrem para burlar os eleitores.


Diverso, o vosso caso: o que se ouve neste momento, nas vossas costas, tanto nas salas como na rua, é que a força deste Governo não lhe advém dos cabelos, como em Sansão, mas da retaguarda que o vosso Grupo lhe assegura para acautelar negócios que, com o álibi das metas europeias e a promessa de retornos delirantes, vão cavando a nossa sepultura.


Refiro-me, claro, a todos estes investimentos - inoportunos nos prazos - em que Sócrates vem embarcando, com a chancela de consórcios financeiros onde, surpreendentemente, consta sempre o vosso Grupo: novas redes de auto-estradas, pornográficas para quem não tem que comer; o TGV para Madrid e a extravagância de urna terceira travessia sobre o Tejo; um aeroporto importante do ponto de vista logístico e estratégico, mas sem tráfego que justifique um projecto faraónico.


É, pois, na qualidade de patriota angustiada, que vos rogo que recordem o seguinte a quem, de entre os vossos - tão endividado como nós, e a outra escala - possa também ressentir-se. Ao contrário do vosso Grupo - e doutros, claro, mas com menos pergaminhos – não teremos a Suíça como abrigo quando a lâmina da bancarrota nos cortar a jugular, pelo que será aqui mesmo, em solo lusitano, desonrados e perecendo entre escombros, que exalaremos o último suspiro.


Se nem isto os demover, pois então que se perfile, coerente, a fé cristã da família: estão em causa montantes capazes de salvar, literalmente, milhares de irmãos da desonra, da doença, da morte nos hospitais, sem cama nem assistência, e do recurso ao suicídio para o qual a Estatística nos tem vindo a alertar e que disparou, em flecha, desde o princípio da crise.


Confiem: lembrar-lhes isto seria o acto mais nobre de lealdade a Portugal, tratando-se de um Grupo que, desde o Estado Novo até hoje, tem podido prosperar graças à indulgência de todos os governos e à vista grossa de um povo já exangue.


Dirão que o GES está no seu papel e que cabe a Sócrates prevenir-se; direi eu, que estou no meu, que me cabe defender a minha pátria de quem quer que a ameace”.

Rita Ferro, escritora – in “Expresso” – 12 Junho
Tenho de elogiar esta tomada de posição, precisamente, porque provem de uma pessoa - neste caso concreto uma intelectual - que não esconde o seu passado, nem o renega, mas constata a realidade das coisas. Ora, o seu realismo leva-a a verificar, justamente, que o capital banqueiro, neste caso na situação concreta do BES; esteve sempre por detrás dos regimes que nos têm governado. Daí, para mim, a sua importância.
A Rita Ferro, que se mostra preocupada, como "patriota indignada" contra o papel desempenhado pelo grupo BES, implora-lhe que mude de caminho.
Aí, assim o penso, ela auto-limita-se na sua apreciação: ela sabe, como eu, que o Capital não tem Pátria.
E os negócios do BES, descobertos nos últimos anos, demonstram isso à saciedade. Anos atrás, uma investigação feita pelo Senado dos Estados Unidos "às contas-fantasmas" do antigo ditador chileno Augusto Pinochet detectou a exeistência de perto de 100 contas, que constituiam "lavagem de dinheiro" em vários estabelecimentos bancários, nomeadamente no norte-americano Banco Riggs, no Banco do Chile, no Citicorp e no português BES (Florida). Só nesta dependência do BES, foram depositados, entre 1991 e 2000, cerca de três milhões de euros em nome de Pinochet.
Mas, o BES também foi indiciado num dos processos do caso "mensalão" do Brasil e teve uma investigação às contas da dependência de Madrid, ordenada pelo juiz Baltazar Garzon.
A natureza do grupo não vai mudar, nem retrair-se, mesmo que eles tenham apego "a sua fé cristã".
O dramaturgo inglês William Shakespeare sustentava, já no século XVI, possivelmente quando se iniciavam os primeiros judeus Espírito Santo nos negócios, que o dinheiro, e a busca contínua de mais dinheiro: é a prostituta universal, o alcoviteiro universal dos homens e dos povos.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

EUA: A ESTRATÉGIA DA LIDERANÇA TRAZ MILITARISMO











Um Estado militar custa caro, e engendra, por vezes, a sua própria destruição
O governo dos Estados Unidos da América lançou, no princípio do mês, o que considerou ser a sua nova "doutrina estratégica", cujo ponto central é um pressuposto velho dos impérios que entram em falência: "a manutenção da liderança norte-americana".

Claro que um objectivo estratégico é, sempre, um desejo, e, este está, hoje, mais do que nunca inserto nesta nova análise geo-estratégica que o poder de Estado norte-americano emite como garantia, piedosa, para manter o dominio da aristocracia financeira que está a esfrangalhar o sistema capitalista vigente nos Estados Unidos há quase 50 anos, praticamente depois da II Grande Guerra, com especial inicidência após a guerra da Coreia.

Pois, foi, justamente, depois desta data que os Estados Unidos, para tentar alargar e impor a influência do seu poder económico, do seu tipo de modelo capitalista, baseado na mais desenfreada especulação financeira, que constituiu, em grande medida, a sua fonte principal de enriquecimento, deram azo a que engordasse um poderoso complexo militar-industrial, que assentou na criação de umas Forças Armadas desproporcionais, que fizeram subir, estrondosamente, as despesas militares.

O militarismo é, nas últimas três décadas, o traço marcante e avassalador da estrutura política-económica dos Estados Unidos. Em grande medida, desde os finais dos anos 80 do século passado, pode dizer-se que o dominio militar em todo o Mundo chegou a ser o fim primeiro do poder político norte-americano.

Segundo o Center for Arms Control and Non-Proliferation (Centro para o Controlo e Não Proliferção de Armas), não desmentido pelos analistas especializados, os gastos militares dos EUA, em dólares, eram, em 2009, espantosamente superiores, em termos de dólares aos praticados no auge da Guerra da Coreia (1952: US$604 mil milhões), da Guerra do Vietname (1968: US$513 mil milhões) ou de incremento castrense dos tempos de Ronald Reagan na década de 1980 (1985: US$556 mil milhões).

Na segunda metade do ano passado, o Chefe de Estado norte-americano, Barack Obama, - o mesmo que emitiu agora nova doutrina estratégica - fez uma proposta ao Congresso fazendo subir o Orçamento castrense do país para 55 por cento do Orçamento Geral dos EUA. (Os dados são oficiais - O departamento de Orçamento e Tesouro).

Esse Orçamento militar foi assinado, em Outubro passado, por Barack Obama, como sendo o Defense Authorization Act 2010. Vejamos os dados: 680 mil milhões dólares; em 2009 era de 651 mil milhões US$; em 2000, atingia os 280 mil milhões. Quase triplica em 10anos!!!.

Ora, este Orçamento é da Defesa, mas não da guerra, pois muitas despesas com elas relacionadas provem doutros ministérios ou departamentos.

É grande este Orçamento? É enorme. Na pratica, é superior aos valores dos Orçamentos de Defesa praticados em todo o Mundo.

Ora, para quem quer dominar o Mundo, estes valores não são por aí além.

Para se exercer poder, tem de se "cuidar" das Forças Armadas.
A questão, tal como já referi noutro artigo, é que estas Forças Armadas custam muito dinheiro. Para sacar este dinheiro ao exterior de modo a satisfazer a sua clientela que domina o poder de Estado, fomentando o enriquecimento de um poderoso sistema económico-financeiro baseado nesse complexo armamentista, essencialmente especulativo, os EUA estão a "destapar" a essência do que foi o seu crescimento capitalista na primeira metade do século XX, a produção económica interna.

Ora, o poder militar expansionista está a ficar "no ar", sem as pernas do poder económico que provinham da sua poderosa indústria produtiva, que sustentava a sua produção automóvel, a sua produção tecnológica produtiva, a sua poderosa produção agro-industrial.

Internamente, na realidade, estão a ser devorados pelo espectro da falência.

Na realidade, em Junho deste ano, a despesa pública norte-americana ultrapassava os 13 biliões (milhão de milhões) de dólares, ou seja 88 por cento do PIB (Produto Interno Bruto).

Cálculos de economistas reputados sustentam que esta despesa deve ultrapassar mesmo os 110 por cento do PIB. Ou seja, é o país mais endividado do Mundo. Vai trazer consequências, naturalmente.

No seu discurso sobre estratégia, Obama tem noção disso, e reflecte-o nesta frase: "enquanto os EUA não têm e não enfrentam nenhum adversário militar em condições de realmente ameaçar sua liderança mundial, estão se despedaçando (sublinhado meu)".

E como ele quer inverter esta situação, sem "abandonar a liderança" ?.

Vamos buscar os argumentos de Barack Obama (a tradução é minha): "As responsabilidades do novo século não poderão cair somente sobre os ombros dos EUA".

Então vão cair em quem?: "fortalecimento de relações com os aliados tradicionais e criação de novas alianças com outros centros de influência, como o Brasil, a China, a Rússia e a Índia, assim como, com potências emergentes como a África do Sul e a Indonésia, de modo a cooperar em questões bilaterais, assim como, internacionais e expandir a aproximação com Estados emergentes, especificamente, aqueles que poderão projetar-se como modelos de sucesso periférico e estabilidade do continente americano até a África e o Sudeste Asiático".

Mas, tudo isto é sem consistência, porque o militarismo crescente norte-americano está a fomentar o aparecimento do militarismo noutros Estados, que vêm naquele "não o lider", mas o imperialismo expansionista, incluindo em países que ele sustenta serem parceiros, como o caso do Brasil, (e não a Venezuela, como muitos comentadores pró-americanos escrevinhma) que alimenta um tratado militar na América Latina, o UNASUL, que é criado, precisamente, para obstar aos apetites de Washington.

Embora queira lançar ramos de oliveira, o próprio líder norte-americano expressa esse, nada disfarçado, papel expansionista: "Embora o uso de violência em determinadas vezes seja indispensável, esgotaremos as demais opções antes da guerra quando isso nos for possível, unilateralmente. Os EUA deverão conservar o direito de agir unilateralmente se isto for necessário a fim de defenderem a nação e seus interesses" (sublinhando meu). Assim, o fizeram ainda, há dias, na questão do Irão, afastando ainda mais os aliados Brasil e Turquia.

Os exemplos belicosos, entretanto, não faltam: Balcãs, Iraque, Afeganistão, Paquistão, Índia, Coreia, África Central, desde o Ruanda à Nigéria, passando pela Libéria. Ameaças de intromissão na Venezuela, Edquador, com a interligação subverciente das autoridades da Colômbia.

Só que hoje os países com capacidade nuclear aumentam e fazem frente às arrogâncias de Washington. E esta já não é a potência única que fabrica os aviões de primeiro plano, nem os satélites capazes de direccionar os misseis balísticos continentais, nem os carros de combate de primeira água, nem os mísseis sofisticados que destroiem os tanques norte-americanos são fabricados em território dos Estados Unidos.

A força económica norte-americana, mesmo no domínio armamentista, já não é o que era. Daí que a sua estratégia, para evitar essa realidade, se baseie na ameaça da força.

Só que os aliados também já o eram. Os tempos são outros.

terça-feira, 15 de junho de 2010

OS EUA DESCOBRIRAM, POR ACASO, RIQUEZAS MINERAIS NO AFEGANISTÂO!!






A imposição pela violência de uma nova vida societária não é um mero acto de um poder militar acrescido, sem existirem, em primeiro lugar, condições económicas, sociais, e em último caso, vontade dos povos para a aceitarem











O jornal "New York Times" noticiou, há dias, com grandes parangonas, que uma equipa de geólogos e *assessores* do Departamento de Defesa (Ministério de Defesa nos termos europeus) dos Estados Unidos da América descobriu a existência de riquezas minerais nos Afeganistão, que dizem ser avaliadas em cerca de um bilião de dólares (os americanos escrevem trilion).

O jornal informa que esta sua notícia se baseou num "memorando interno" do Pentágono (Departamento de Defesa), e especifica que "as reservas minerais não exploradas" são de ferro, cobre, ouro, cobalto e um dos minerais, actualmente, muito cobiçado nas indútrias de alta tecnologia de comunicações, o lítio.

O NYT, naturalmente, seguindo as orientações do "memorando", assinala que estas riquezas, quando exploradas (reparem na explicação!!!), "poderiam mudar a situação económica" do Afeganistão e "alterar a situação da guerra travada no país desde 2001". E acrsecenta: o desenvolvimento industrial das riquezas "pode durar anos".

O períódico para dar maior consistência "à descoberta" (que claro, a ser verdade, foi feita nos últimos meses, e, por acaso, quando uma mina terrestre rebentou e pôs a nú a evidência....) socorre-se no "especialista em minérios", chamado general David Petraeus, que dirige o Comando Central Militar dos Estados Unidos da América", para sustentar que existe "um potencial (económico) impressionante aqui".

E a reportagem do NYT, retirada do "memorando" militar, argumenta que foi somente, em 2006, que os Serviços Geológicos dos EUA, começaram a fazer o levantamento dos recursos minerais afegãos, mas que ... se socorreram de informações elaboradas (estranho, não é?) por especialistas soviéticos, "durante a ocupação do país pela União Soviética em 1980".

Convém referir, antes de qualquer especulação, que o NYT é um dos porta-vozes oficiais do lobby que controla a especulação financeira norte-americana de Wall Street.

Em termos imediatos, a notícia pode ter duas leituras:

- Os norte-americanos estão com as calças na mão no terreno da guerra afegão e lançam a ideia de uma riqueza imensa, que necessita de investimentos substanciais e de alta tecnologia, para levarem os "inimigos" (talibãs e outros) a ponderarem sobre a necessidade de um "compromisso" para a exploração conjunta do filão;

- Ou os EUA fazem o anúncio, agora, pois os seus aliados ocidentais estão a preparar-se a "abandonar o barco como ratos", deixando-os à sua sorte, e a alertá-los para a necessidade de cerrar fileiras em torno da "defesa militar" a longo prazo para conseguir a exploração de matérias-primas essenciais para as suas produções das indústrias de ponta e não só.

- Em termos mais mediatos, pode estar em jogo uma hipótese mais abrangente: Porque não considerar uma "parceria estratégica" com a Rússia, a China, quiça, o próprio Irão, que , na prática, já faz parte do consórcio de potências regionais, para conseguir "uma espécie de cessar-fogo", dividindo os resultados da exploração, num ambiente de "não beligerância". Talvez até sacrificando um pouco Israel...

O que estou a magicar não saiu da minha cabeça, mas é produto de experiências anteriores.

Na primeira metade dos anos 90, o então Presidente dos EUA Bill Clinton fez um périplo de vários dias pela África Central, que começou no Uganda, se não me engano, passou pelo Ruanda, andou pelo Burundi, e, se a memória ainda não me falha, depois de passar por outros territórios, acabou na Nigéria.

Pouco depois das conversas mantidas com o homem-forte do poder norte-americano, forças armadas do Ruanda e do Uganda, tornadas irregulares e consideradas rebeldes, invadem o territótio de Kivu, na República Democrática do Congo, o Zaire de Mobutu, e destabilizam o regime de Laurent Kabilla, um antigo membro do Partido de Patrice Lumumba, que afastara do poder o homem dos Estados Unidos o já falecido general Joseph Mobutu. Kabilla, apesar das suas hesitações e contradições, queria impor uma política nacionalsita para o antigo Congo Belga.

Ora, o Kivu ( e todas as imediações) era uma zona muito rica em coltan, donde se extrai o tântalo, e também de lítio.
A concentração como monopólio destas matérias-primas, que servem para condensadores, aparelhos de alta tecnologia e até para os carros eléctricos, no Estado congolês, ainda por cima, com prosápias nacionalistas, ia contra "a liberdade comércio" dos capitalistas ocidentais, em particular norte-americanos.
Ora, quebrando o monopólio, dando rédeas, através de contratos atractivos, aos possíveis aliados nos poderes no Uganda e no Ruanda, as matérias-primas iam, assim buscá-los a "senhores da guerra" (que, eles, oficialmente, não controlavam) a preços competitivos.
Yoweri Museveri (pelo menos há 15 anos no poder), do Uganda, e Paul Kagamé, com idêntica folha de serviço no Ruanda, tornaram-se "filhos queridos" dos responsáveis norte-americanos. E, apesar de serem criminosos de guerra, são elogiados pelos senhores de Washington, como figuras desejosas de contribuir para o progresso da região.

Concretamente, no Ruanda, sendo que Kagamé é um "senhor da guerra" mais fiel a Washington (sumamente elogiado por Bill Clinton), um grupo de "generosos empresários e políticos influentes dos Estados Unidos e da Europa" está a "apoiar o país, atraindo negócios e ajudando o processo de reconstrução". As citaçõe são retiradas da informação jornalística, incluindo a norte-americana.

A “equipa dos amigos poderosos do Ruanda” inclui figuras como Eric Schmidt, presidente mundial da Google; Howard Schultz, director executivo e fundador da rede de lojas de café Starbucks, e Tony Blair, ex-primeiro-ministro de Inglaterra.
Um dos objectivos deste grupo é fazer com que a economia da nação – baseada na agricultura de subsistência e no cultivo de café e de chá – se transforme num centro de referência para os serviços de tecnologia no continente africano.

“Nós já passámos pelo inferno, agora chegou a hora de prosperar”, afirmou o Presidente do Ruanda, Paul Kagame, numa entrevista recente à revista Fast Company.

A rede internacional de ajuda começou a ser formada há vários anos. Numa visita a Chicago, nos Estados Unidos, Paul Kagame conheceu Dan Cooper, sócio do banco Fox River Financial Resources, que o apresentou a Jim Sinegal, director executivo da cadeia de distribuição Costco. Este, por sua vez, pôs Paul Kagame em contacto com Howard Schultz, da Starbucks.
O líder africano convenceu "vários amigos" a investir no Ruanda e a mudar a imagem internacional do país, associada à miséria e à violência. Em 2007, quando o auxílio começou a chegar, os investimentos estrangeiros no Ruanda passaram de 16 milhões de dólares para 67 milhões.

A Starbucks é hoje uma das maiores compradoras de café do Ruanda.
Mas há outros exemplos. A ONG de Schmidt, da Google, iniciou a construção de um hospital que custará 1,2 milhões de dólares. Rob Glaser, fundador e presidente da RealNetworks, investiu 6 milhões de dólares em centros de saúde e educação no Ruanda com o objectivo de criar cursos técnicos especializados em tecnologia de informação. Nessa área, também se incluem a bolsa de estudos criada por Dale Daeson, um banqueiro do Arkansas, para levar os alunos ruandeses para escolas nos Estados Unidos. Há ainda um programa de intercâmbio estabelecido por Tony Blair para que funcionários do Whitehall (escritório do primeiro-ministro inglês) e o gabinete de Kagame troquem experiências, ajudando a modernizar a gestão pública ruandesa.
Tudo pura caridade.

Kagame foi eleito Presidente em 2000, por voto indirecto, e já está no segundo mandato, que vai até 2014. Não há um prazo definido para o reestabelecimento da democracia e o governo ainda controla a liberdade de imprensa.

Vejamos, agora, o fundamental, retirado, justamente, da revista EXAME:

"As recentes (de anos atrás) incursões de tropas ruandesas no Leste da RD Congo foram atribuídas à cobiça despertada pelas grandes reservas de coltan da região: é deste minério que se extrai o tântalo, mais precioso do que o ouro na era tecnológica em que vivemos.

O coltan é um minério nobre composto por dois elementos distintos: colômbio e tantalite. Deste último obtém-se o tântalo, um excelente condutor de electricidade, maleável e extremamente resistente à corrosão, muito utilizado no fabrico de componentes electrónicos, sobretudo condensadores".

Ainda da revista: "Afirma-se que a África detém 80 por cento das reservas mundiais e que só os dois Congos deteriam 80 por cento das reservas africanas. Segundo os entendidos, o coltan da região do Kivu (RD Congo) é o que possui tântalo em mais elevado grau".

"Resta confirmar se o Kivu, no Leste da RD Congo, é ou não o melhor filão de «ouro cinzento». Mas, mesmo não o sendo, o tântalo pode contribuir para explicar as recentes incursões das tropas ruandesas e longos anos de conflito armado. Esta região produziu, só no ano de 2000, 130 toneladas de tântalo, ou seja, 11 por cento do total mundial. Menos que o Ruanda, que atinge os 13 por cento da produção global".

"Os relatórios publicados pela ONU em Abril de 2001 e Outubro de 2002, bastante criticados pelas suas lacunas, acusavam o Uganda e o Ruanda de terem pilhado sistematicamente os recursos do Congo. Entre eles, o coltan. Diz-se que as maiores exportações ruandesas eram de coltan congolês. Calcula-se que em finais de 2000 a RD Congo tenha lucrado com a exploração de coltan 63 milhões de dólares e o Ruanda 77,6 milhões. O negócio do coltan teria proporcionado a chefes militares e civis ruandeses e ugandeses enormes somas de dinheiro, concorrendo assim para prolongar o conflito congolês".

Claro que não se denuncia quem são os verdadeiros recepcionistas destes minérios, e quem são os reais fomentadores das guerra. Mas, tudo isto está implicto.

Até, porque a ronda de Clinton acabou na Nigéria, que desde então ainda não viveu em paz, principalmente por causa do controlo do petróleo e do gás.
Por um lado, uma onda nacionalista, por outro grupos separatistas, estão a pressionar o governo central da Nigéria a comercializar, com condições mais vantajosas para o país e para as regiões produtoras, as matérias-primas com outros países, libertando-os das teias monopolistas.
Ora, tais reivindicações estão há anos a pôr em causa os detentores do Estado nigeriano e multinacionais como a Shell, a Chevron Texaco e a Exxon Mobil. A repressão estatal, com o apoio de Washinton, tem sido impiedosa.

O Center for Strategic and International Studies estima que, até 2010, as receitas de petróleo gerem 110.000 milhões de dólares extra para a Nigéria. Ora, estes valores estão a ser canalizados, essencialmente, para os apaniguados e protectores daquelas companhias.

Estes dados querem, na minha opinião, cimentar um ponto de vista que hoje se torna evidente para muitas pessoas, mas que não alcança a pedagogia da maioria, o que é de lamentar.
Não são por razões de liberdade, de democracia, de busca de progresso social que as potências dominantes actuam, directa ou indirectamente, sobre a situação interna de outros países.
A força que elas, as potências ocidentais, incluindo a Rússia, consideram se necessária para destituir ditadores reais ou eventuais, afastar fanáticos religiosos não cristãos, erradicar o terrorismo, é uma falácia.
O objectivo central é apoderar-se das riquezas, que podem dar dinheiro aos detentores desse poder de força (económico, primeiro, político, depois). Isto não é novo. Está é a tornar-se mais evidente, mais transparente.
Ora, o que é novo na situação política e geo-estrátegica mundial dos últimos 30 anos é que essa busca gananciosa de dinheiro está a transformar-se em suprassumo do sistema capitalista, como imanência de conseguir, acima de tudo, o máximo da especulação financeira, colocando de lado o objectivo central, em ciência económica, de que o dinheiro deve provir, essencialmente, da evolução da produção económica, da sua distribuição.
As mudanças mundais estão a ficar assentes numa concorrência de tal maneira desenfreada entre Estados e "Blocos de Estados" que está a engendrar cada mais a sua militarização, o que, em termos práticos, os obriga, para puderem dominar, ou quererem dominar, a efectuar despesas sempre acrescidas com as suas Forças Armadas.
As despesas públicas acrescidas, em especial nos EUA, estão interligadas com este aspecto da questão. As despesas militares norte-americanas estão a contribuir, em grande parte, para a sua crise financeira. O que, em grande medida, enquadra o actual marasmo norte-americano na sua economia. O gigantismo do poder militar de Washington está a determinar a sua própria destruição. Mas, isto é assunto para outra conversa.