quinta-feira, 17 de abril de 2014

VATICANO: A USURA COMANDA OS NEGÓCIOS DE DEUS

1 - Recentemente, a sala de imprensa do Vaticano anunciou que o Instituto para as Obras da Religião (IOR), o banco central da Santa Sé, iria continuar a prestar "os serviços financeiros especializados da Igreja Católica em todo o Mundo".

Esta decisão, segundo a mesma fonte, foi apresentada como proposta, que intitulou de "reforma" do IOR, que mereceu a aprovação do Chefe de Estado do Vaticano e Sumo Pontífice da Igreja Católica Apostólica Romana.

Ou seja, tirando a linguagem de retórica, que o Vaticano pretende seguir as "normativas internacionais", o certo é que a principal função do IOR, a especulação financeira, vai continuar.

Quer isto dizer, que a Santa Sé prosseguirá os seus objectivos, já enraizados, de usura e de busca de riqueza para sustentar a imensa "Sociedade Anónima" capitalista que é o Vaticano.


Aqui funciona a sede do IOR, o banco central mais secreto e corrupto do Mundo.

Pode a grande comunicação social afecta ao Vaticano - e de certa maneira, a que está sob o controlo do grande capital financeiro - montar uma monumental campanha manipuladora de que o actual Sumo Pontífice, o italo-argentino Jorge Mario Bergoglio será o Papa reformador da decadente Igreja Católica, *idolatrando" frases piedosas e manobras superficiais de berloques do cardeal argentino afecto à ditatura militar que governou aquele país, a questão central com que faz que a Santa Sé tenha poder real na cena internacional, está na actividade que produz esse poderio - o dinheiro e a sua acumulação e reprodução.

A única reforma real de uma instituição decadente está sublinhada na frase, retirada do livro de Giuseppe Tomasi di Lampedusa, no seu livro "O leopardo": "tudo deve mudar para que tudo fique como está".



A mudança está no modo de calçar: o Papa abandonou os sapatos vermelhos pelos pretos

O escritor colocou a frase, justamente, no personagem príncipe de Falconeri, o típico exemplar de uma aristocracia, neste caso, italiana, no seu ocaso.

E não há reforma justa, reforma da essência de solidariedade, sem destruir os papéis de usureiro e de explorador egoísta, que serve os interesses da classe dominante mundial, e que, nos dias de hoje, irmanam o judeu capitalista e o Papado capitalista. 

E não podia ser de outra maneira, porque os mentores, promotores e seguidores do grande capital financeiro não se auto-regeneram, nem abrem mão das suas prerrogativas e do seu poder terreno, por muito que batam no peito, vociferando contra a pobreza, a corrupção, a ostentação e o luxo.

2 - Qual foi a razão porque o Presidente dos Estados Unidos da América, Barack Obama, foi o primeiro Chefe de Estado de uma grande potência internacional, se prontificou a visitar, há dias, o Papado romano, situação, que, curiosamente, não sucedia desde que aquele ascendeu àquele cargo norte-americano? 



Vejamos primeiro uma lista dos países e territórios que adoptaram o euro, sendo ou não membros da União Europeia: Alemanha, Andorra, Áustria, Bélgica, Chipre, Eslováquia, Eslovénia, Estónia, Espanha, Finlândia, França, Grécia, Holanda, Irlanda, Itália, Letónia, Lituânia, Luxemburgo, Kosovo, Malta, Mayotte, Monaco, Montenegro, Portugal,  Saint-Piere e Miquelon, San Marino, São Bartolomeu, São Martinho,Vaticano. 

Roménia e Hungria farão do euro este ano e a República Checa em 2015. 

São mais de 350 milhões de pessoas que, diariamente, usam esta moeda dentro desses Estados ou territórios.

Tacitamente, as antigas colónias de países europeus membros da Zona Euro aceitam, perfeitamente e na maioria, a circulação corrente daquele moeda.

Ora, como se pode verificar o Vaticano está dentro da circulação corrente dessa moeda, alvo dos maiores ataques organizados do capital centrado em Wall Street.

Ela, a Santa Sé é, através dos seus bancos mais importantes, a principal base accionista do Banco Central Europeu (BCE).


O euro é, nos dias de hoje, uma moeda "atractiva" concorrencial em parcerias já elaboradas ou em preparação, com os chamados países emergentes, os BRICS, que estudam maneira de contornar os câmbios da moeda dominante, o dólar, e até, há poucos anos, incontornável nas transacções comerciais internacionais.

Ora, o Vaticano é, na actualidade, um accionista de peso em empresas e companhias de relevo nos Estados Unidos da América, como por exemplo o sistema bancário (Bank of América, JPMorgan Chase, City Group, entre outros), do sector energético, como a General Motors, a General Electric, do aço, como a Bethlem Steel, da aviação, Boeing, Lockheed, Douglas. Poderia referir-se muitas outras.

Logo, para Wall Street pode tornar-se um perigoso concorrente, quando a crise financeira mundial actual recrudescer.

Barack Obama, certamente, foi "apalpar" o significado da "reforma" do sistema financeiro vaticanista.

Referem os especialistas do sistema financeiro que o Vaticano controla para cima de 5 % dos valores das maiores bolsas mundiais.

3 - A realidade: o IOR está a reformular-se, a reformar-se, é certo, mas para se adaptar a nova fase, mais dura, mais agressiva, e talvez mais trituradora e auto-destruidora do grande capital financeiro que aí vem. 

Alguns dos mais importantes bancos, ligados a ordens e confrarias católicas pelo mundo fora, estão centradas em zonas geográficas fora dos EUA, e, de certo modo, são centros dominantes do capital financeiro, como o Banco Bilbao y Viscaya (BBVA), Santander, espanhóis de sede, cujos tentáculos se estendem pela América Latina e grande parte da Europa.

Também na América Latina, se encontra o brasileiro ITAÚ, um dos maiores bancos católicos daquela região, se não o maior. 

Mas a sua estrutura financeira passa ainda pelo grupo Barclays, pelo grupo AXA, pelo grupo Allianz, pelo BNP Paribas, entre muitas outras. 

Não há qualquer indício de supressão do papel nefasto da especulação financeira nos negócios do IOR, e, pour cause, na sua hierraquia superior, o Papado Romano. 

Nada indica que a actividade daquele potentado económico venha a ficar alheio ao papel do dinheiro no actual sistema capitalista.

E não pondo em causa esta realidade, não haverá qualquer reforma do objectivo de acabar com a desigualdade no Mundo.

Não destruindo o conteúdo central do poder especulativo financeiro, não se porá em causa a usura. 

Logo, as palavras do Papa Francisco são palavras vãs.

quinta-feira, 10 de abril de 2014

A FRANÇA DE VALLS É UMA ANTE-CÂMARA DO REGIME FASCISTA ACTUAL DA UCRÂNIA

1 - A evolução política da República de Weimar, na Alemanha, desde que foi constituída logo após a I Guerra Mundial tem, pondo de lado as circunstâncias e o tempo, similitudes com o desenvolvimento, nos últimos 20 anos, na França, com François Mitterrand, Jacques Chirac, Nicolas Sarkozy e François Hollande.

A França colocada, desde o Maio de 1968, sob a perspectiva de  ver desmoronar, pela contínua agitação classista, a V República, criada e formatada pela política de Charles de Gaulle para impulsionar a evolução, sem freio do capital financeiro e de um militarismo nacionalista, que sugava, em grande, o Orçamento de Estado, levou os seus grandes banqueiros a fazerem cair o poder político.

No rescaldo do afastamento da figura tutelar "cesarista" de de Gaulle, foi preparada a *ribalta*, pela primeira vez, para os socialistas -neste caso, Mitterrand - tendo este, com toda a matreirice e «naturalmente» com conselhos experimentados, formar um executivo, primeiro, em aliança com o PCP, de George Marchais, para amaciarem as reivindicações.


O movimento contínuo para a direita em França, desde de Gaulle.



Mitterrand e Marchais: atrás daquele Pierre Maurois e do outro, Charles Hernu.

Deste modo, conseguiram a estabilização - mas não só, mais, a desorientação no seio da classes trabalhadoras - do grande capital e puseram em marcha uma "era" de grande "progresso capitalista" para os banqueiros e associados, sem grandes sobressaltos para a obtenção de lucros máximos e consolidação do domínio do grande capital financeiro.

Depois, do +servicinho+ prestado pelo PCF, deram-lhe de imediato com os "pés" nas eleições legislativas seguintes, onde aquele se começou a desmoronar.

É, precisamente, nessa altura, meados dos anos 80 do século passado que a Frente Nacional (Front Nationale, FN) se torna, por tolerância e por cumplicidades das políticas governamentais - primeiro do PSF, depois dos partidos da chamada "grande coligação" (PSF, RPR, de Chirac, actual, UMP, de Sarkozy), principal força do nazi-fascismo, com o argumento da "regeneração" da sociedade, tal como Hitler preconizou nos anos 20 e 30 do século XX.

E tal sucedeu, justamente, com a desarticulação dos sectores das classes laboriosas mais conscientes, os representantes "democráticos" da burguesia, iniciaram uma clara "viragem" para métodos repressivos na acção interna e uma desenfreada concentração do grande Capital financeiro, com despedimentos, cortes de salários, progressivos e por vezes quase invisíveis cortes nas protecções sociais, e uma corrupção desgarrada e criminosa.

Chega-se deste modo ao descrédito quase total da democracia parlamentar!!!

(Convém recordar: em 1984, a FN é o terceiro maior partido do país. Na eleição presidencial francesa de 2002, Le Pen, o candidato nazi, obteve mais votos que o PSF e vai à segunda volta em competição com a direita de Chirac). 

Nas eleições municipais recentes francesas, cuja segunda volta terminou no passado dia 30, o papel desempenhado pelos seguidores de Mitterrand, encabeçados por Hollande, assemelhou-se ao dos sociais democratas de Ebert, na República de Weimar: destruições da capacidade produtiva, incremento brutal do desemprego, descida continua dos salários dos cidadãos nacionais, submissão total ao capital internacional norte-americano, através da intermediária alemã Merkell, desmoronamento e menosprezo pela democracia (uma verdadeira chicana sobre o modelo parlamentar vigente), imposição do autoritarismo sobre os mais pobres e imigrantes, que o grande capital foi buscar e agora, com a crise, quer mandar pela borda fora.


A sopa dos pobres na República de Weimar






O debate actual


2 - Tal como os sociais-democratas de Ebert (e em menor escala o PCA, de Thallmann), existiu uma política de tolerância, e de não demarcação ideológica e política, com a direita - nessa altura, fizeram parte, numa primeira fase, de um governo com o centro católico e o partido popular, cujos programas muito se aproximavam dos nacionais-socialistas, numa segunda fase deixaram essa direita sozinha no poder e, numa terceira, não impediram mesmo uma aliança formal e de poder - Von Papen, ex-chanceler aceitou ser número dois de Adolf Hitler - entre aquela e o nacional-socialismo - que encimava a República de Weimar.

Tal como em França, mas agora, os sociais-democratas e socialistas europeus neste últimos anos permitiram que os partidos nazis-fascistas se tornassem *respeitáveis* e ascendessem, candidamente, aos poderes, primeiro na Áustria, em 2000, com a coligação entre o partido nazi (Partido da Liberdade da Áustria - FDO), de Jord Haider, já falecido, e o conservador Partido Popular Austríaco, de Wolfgang Schussel, a que se estenderam hoje, sem qualquer espécie de vergonha, dos partidos dominantes do "arco do poder", à própria governação dos países, casos da Noruega (o Partido Conservador, da primeira-ministra, Erna Solberg, está coligada com o partido nazi (Partido do Progresso - tem sete ministérios, em 18, incluindo a sua líder Siv Jensen, que controla o ministério-chave das Finanças), ou da Hungria, onde os fascistas, do FIDESZ, de Viktor Orban, e nazis, do JOBBIK, ganharam as eleições legislativas, com o apoio do grande capital. 

(Poder-se-ia aumentar a resenha, com o Partido da Liberdade Holandês (PVV), terceiro partido parlamentar, que sustenta a actual coligação no poder, em troca da repressão e o corte de direitos às minorias, não judias, - é apoiado pelo governo de Israel -, ou do grego Aurora Dourada, partido nazi, com milícias autorizadas, que massacram imigrantes e matam activistas anti-nazis, pelo actual governo de Samaras, conservador populista).

É nesta viragem para as práticas ditatoriais dentro da Europa, e no caso em apreço, em França, que surge o governo do primeiro-ministro Manuel Valls, um emigrante catalão que viveu nos subúrbios parisienses (muitos portugueses dos antigos bairros da lata conheceram-no então), que "subindo" no interior do PS, como "desclassificado" que renega as suas origens de "marginalizado" pelo poder dominante, se considera "diferente" dos compatriotas enfaixados em "bairros tipo bidonvilles de cimento", optando pela "ordem" do sistema policial francês. 

Ele - emigrante que singrou, oh, lá, lá- considera os seus pares emigrantes, mas, no presente, como "párias" de uma sociedade multicultural... 

Um renegado que se aproxima das teorias nazis, desprezando as origens humildes, como Salazar, Hitler ou Mussolini.

Segue os passos do seu padrinho colaboracionista, François Mitterrand.

Disfarça-se, agora, com o rótulo de socialista - que aliás despreza, dizendo-se, tempos atrás, social liberal (Valls), e isto com uma perspectiva, que pós em prática, como ministrio do Interior para reforçar o velho espectro do passado repressivo, sustentando que vai impulsionar um sistema novo, de rigor orçamental - ou seja cortes de salários, de direitos sociais - para, daqui a uns tempos, mostrar a repugnante face dos velhos aventureiros, como Piere Laval, socialista e pacifista na sua fase de inserção no sistema, que vai ocupando cargos, tornando-se, depois, conservador e, no auge da carreira, primeiro-ministro nazi do governo de Vichy.

Valls, certamente, reve-se no húngaro Orban.

2 - Falemos agora do conflito ucraniano. 

Parece nada ter a ver com o ascenso nazi na Europa ocidental. Mas vamos embrenharmo-nos por esse trilho. 

Ao analisarmos os acontecimentos na Ucrânia, temos de nos questionar, se no processo evolutivo das reivindicações e contestações que percorreram e percorrem aquele antigo país, se deu uma mudança no poder pela via da revolução. 

Ou se retrocedeu para a "máscara" do passado.

Depois centremo-nos nas movimentações ideológicas, políticas, sociais e económicas dos países exteriores que neles intervieram, claro que com motivações diferentes, e, e sublinhar o que de certo ou errado trouxe, de imediato, para o presente, e, essencialmente, para o futuro.

As lutas de rua sucederam-se, essencialmente, em Kiew, na Ucrânia, embora contivessem um espectro popular que buscava reverter uma melhoria do nível de vida, não estava orientada pelos seus principais protagonistas e organizadores para reter despeitos imperiais praticados pela Rússia de Putin.

Os protestos contra a governação de Viktor Yanakovich, ténues e centrados em Kiew, tinham apenas, no seu início, um cariz económico e provocado por uma política anti-popular.

De repente, adquiriram uma proporção inusitada quando o Presidente ucraniano protelou, a 21 de Novembro de 2013, um acordo de livre comércio e associação política com a União Europeia.

De um dia para outro, surgem homens armados e enquadrados por estruturas para-militares no centro da capital ucraniana, mas que não tem conseguido um alastramento nacional por todo o país, especialmente para Leste.

Por detrás de um movimento popular o centro das reivindicações virou-se, na prática, para uma divisão étnica ucraniana. 

Os para-militares (e os generais da região Oeste), que controlaram, na realidade, a queda de Yanakovich  fizeram ressurgir os "heróis" da Ucrânia nazi.


Desfiles nazi em Kiew





Partidários de Stepan Bandera, o lider do partido nazi ucraniano, durante a ocupação hitleriana, estão hoje no governo 

Os políticos europeus pró-imperialistas com a cobertura da NATO, em especial ingleses ( a baronesa Catherine Ashton, que intitula comissária da política externa UE) e norte-americanos, como o senador John McCain e a secretária de Estado adjunta Victoria Nuland, expoente dos nazis neo-conservadores na Administração Obama,... curioso não é - , aparecem a incentivar o derrube do governo eleito e a "entrada" sem qualquer pejo na UE e na NATO.

Facto que eles sabiam ser impossível, estando cerca de 25 mil soldados russos na Crimeira, a guardarem a principal base naval de toda a Grande Rússia.

Quer os Estados Unidos, quer os sectores pró-americanos da União Europeia, armaram, enquadraram e forjaram um "verdadeiro exército", recorrendo aos partidos nazis-fascistas ucranianos de leste e a "mercenários" encapotados, provavelmente, de eslavos das Repúblicas vizinhas da Rússia.


Senador John McCainn em comícío do partido nazi e em conversações com o seu líder Oleh Tyahnybok


Victoria Nuland e o senador McCain - um dos principais sustentáculos do lobby judaico no Congresso - estiveram em negociações com dirigentes de partidos nazis.

Certamente, os milhares de membros dos principais partidos nazis e para-nazis que estiveram na Praça Maiden, permanentemente, durante três meses acampados e a serem alimentados e munidos de armamento sofisticado, como misséis portáteis, não o faziam com o simples dinheiro de quotas.

O senador McCain discursou para dezenas de milhares de pessoas, enquadradas pelas estruturas militares daqueles partidos, a prometer o apoio directo e financeiro de Washington e, tinha a lata, de falar na própria União Europeia.

A neo-conservadora Victoria Nuland, que é a responsável pelos Assuntos Europeus na Secretaria de Estado, estabelecia, em Kiew, em conversa com o embaixador dos EUA naquele país, a formação de um novo governo, cujo lider dos partidos pró-nazis ou nazis teria de ser o mais próximo dos interesses capitalistas de Washington, e só de Washington.

A União Europeia, que irá ficar com a batata quente, nas mãos, porque a Administração Obama já se pôs ao largo, "que se foda" a UE, afirmou, muito diplomaticamente, a Nuland para o seu embaixador.

O escolhido de Nuland - logo de Washington - é o primeiro-ministro desse governo fantoche. Chama-se Arseniy Yatseniuk.

E que deu assentimento a toda a estrutura política, militar e de segurança.

O vice-primeiro-ministro chama-se e é um dos principais dirigentes do partido nazi Svoboda (Liberdade).

O ministro da Defesa, Igor Tenyuk, é um oficial-general da Armada da Ucrânia. 

Formalmente não surge filiado no partido Svoboda, mas participou nas reuniões da sua cúpula.

Em 2008, durante a guerra na Geórgia, colocou-se ao lado dos Estados Unidos e participou, como comandante militar-naval no bloqueio à base russa de Sebastopol, sendo elevado a vice-CEMA da Ucrânia.

No diferendo actual, quando surgiu como Ministro, a maior parte das forças navais da Crimeia recusaram obedecer-lhe.

Ministro da Educação, Serguei Kvit (Partido Svoboda).

Ministro dos Recursos Naturais e Ecologia, Andrei Mojnyk (Partido Svoboda).

Ministro da Agricultura e Alimentação, Igor
Chvaika (Partido Svoboda).

Ministro da Juventude e Desporto, Dimitry 

Bulatov (dirigente do partido nazi Auto-Defesa 

Ucraniana - UNA-UNSO).

Secretário do Conselho Nacional de Segurança, Andrey Parubiy, que ficou com o controlo supremo do Ministério da Defesa e das Forças Armadas. 

É co-fundador do Partido Nacional-Socialista da Ucrânia.

Secretário-adjunto do Conselho Nacional de Segurança e Defesa, Dimitry Yarosh, lider da formação nazi Stepan Bandera e do partido Sector da Direita.

Participou, nas fileiras dos islamistas, na guerra da Tchétchénia. Ligado ao chamado emir do Cáucaso do Norte, Doku Umarov.

Procurador-Geral da Ucrânia, Oleg Maknitsky, dirigente do Partido Svoboda.

Presidente da Comissão Nacional Anti-corrupção, Tatiana Chornovol, dirigente do UNA-UNSO.

Como se pode verificar todo o poder de Estado, na Ucrânia revoltada, está assente no regresso ao passado. Foi espicaçado por reividnicações populares para subverter um regime, que corrupto ou não, assentava nas estruturas, que teoricamente, os bravos democratas norte-americanos propagandeiam e destroem quando a sua política interna "de conquista de espaço vital" é posta em causa. 

Seriam necessárias novas eleições.

Mas nada que tenha ou tivesse um espírito de revolução, de salto para um sociedade diferente, de ruptura social, sucedeu.

Este evento está na trajectória de todos os outros que estão a "preencher" as repúblicas do Leste europeu, numa "parceria" organizada com o grande capital financeiro centrado em Wall Street.

Este atiçou o fogo do "nacionalismo" ucraniano, tal como o fez na Hungria, na Letónia, Estónia e Lituânia, na Eslováquia, e deixou a "criança" a chorar nas mãos dos proxenetas europeus desse capitalismo.

Querem a desagragação e o enfraquecimento do sentimento de unidade europeia, pelo empobrecimento, pela manipulação, e, em último caso, pela guerra.

Mas quem vai financiar a mudança de poder na Ucrânia, sem a participação das suas regiões mais ricas de Leste?

Eles, os norte-americanos, já zarparam para o outro lado do Atlântico. 

Agora estão à espera que recrudesça a crise na região ucraniana.

Só que o mundo concorrencial, encontrou, neste momento, uma multiplicidade de pólos de resistência que não aceitam os ditames de Washington, de mão beijada.

A Rússia está a afirmar aos norte-americanos que não é uma mera "potência regional", mas que influi, directa ou indirectamente, em todos os pontos do planeta, incluindo na própria UE. 

E acima de tudo, em Wall Street.

Petróleo, gás, e mesmo investimentos bancários dixit. 

Basta por em prática o que ameaça fazer: mudar a moeda de troca, o dólar pelo euro.

Os sul-americanos não estão a deixar mexer os Estados Unidos na crises nos países da região, com destaque para a Venezuela.

A China está a impor-se, cada vez mais, como presença permanente - militar e economicamente - em todo o Extremo-Oriente, incluindo o Japão.

Os acontecimentos da Ucrânia não podem ser considerados pela "máfia" política, dita democrática, que governa a UE, que foi um evento espontâneo da população, que se deixou depois manipular.

Nem se tratou - na sua argumentação - de uma acção política organizada para colocar, no poder, um regime retrógrado, que alargou a penetração do novo nazi-fascismo na Europa, sob a batuta do lumpem grande capital que está, sob a forma de uma ditadura de dois partidos da oligarquia dominante e nazi, a ser gerido a partir dos Estados Unidos.

Em política, o que é, é mesmo.

Nem sequer pode argumentar que o regime russo "anexou" a Crimeia, porque na prática ele já estava lá, em permanência. 

Grande parte do seu poder naval está ali instalado, há centenas de anos, e uma parte da Ucrânia é um território-tampão, para as ambições "de espaço vital" dos oligarcas norte-americanos.

O que é certo é a a Rússia não foi apanhada de surpresa, nem se intimidou, passou de imediato ao ataque, facto que está a levar a efeito em todos os "espaços" de geo-estratégia que lhe interessam.

E isso aconteceu, justamente, a partir da intervenção e ocupação dos EUA/NATO do território jugoslavo do Kosovo.

Hesitaram ainda na Líbia, mas não o fizeram na Síria, nem na Geórgia, nem agora na Ucrânia.

O que está a suceder nesta parte do Mundo, mas também no Médio-Oriente com o Irão, na América Latina, com a criação do Mercosur e da UNASUR, bem como o papel intimidatório da China na política do Pacífico e do Índico, são indícios mais que suficientes de uma nova época.

É, pois um evento que vai ser marcante na História Mundial.

A Ucrânia poder vir a ser um rastilho de uma guerra regional, mas as intervenções armadas dos norte-americanos trar-lhe-ão mais dissabores.

Um facto deste acontecimento temos também de destacar: além da economia, da política e da geo-estratégia, houve, neste assunto, uma pressão enorme dos grandes complexos industriais militares, que do lado dos Estados Unidos, quer a Rússia.

A crise capitalista que foi despoletada muito também pelo crescimento desmesurado do militarismo, em especial norte-americano, estava a obrigar a desviar dinheiros orçamentais do sector armamentista para acudir aos problemas internos de desigualdade e pobreza crescente.

Esses complexos industriais-militares estão a forçar os governos de Washington e de Moscovo, mas também de outros pólos concorrenciais a entrar, com mais força, na corrida militarista.


O sufoco de novos encargos castrenses aprofundarão a ruína dos grandes Estados. 


E talvez mais rapidamente do que se pensa.


Germina, quer se queira, quer não, mais lenta ou mais depressa, a destruição do sistema estatal tal como o conhecemos no século XX.









terça-feira, 1 de abril de 2014

25 DE ABRIL: O ANTI-COLONIALISMO LITERÁRIO NÃO EXISTIU EM PORTUGAL NA 1ª METADE DO SEC. XX

1 - Vamos dar o nosso pequeno testemunho, como nacionais de Portugal - e naturalmente transmiti-lo ao Mundo -  do 40 º aniversário do golpe de Estado do 25 de Abril de 1974, cujo motivo central  do mesmo esteve no término de uma guerra colonial independentista, que teve um período de vigência de cerca de 13 anos.

Uma parte significativa para memória do que esse período histórico significou ficou registado na escrita.

É,  justamente, por ela que eu vou reflectir sobre o período colonial e anti-colonial.

(Este artigo é um texto-síntese elaborado com base numa tese de mestrado, que efectuei em 2003, na Universidade Aberta - *A Literatura portuguesa na primeira metade do século XX/Da ausência do romance anti-colonial*, texto policopiado - Biblioteca Nacional, Universidade Aberta).


O catedrático Rui de Azevedo Teixeira, num livro de ensaio e investigação com o título "A guerra colonial e o romance português" (Lisboa: Notícias Editorial, 1988 - 2ª edição)" escreveu a propósito: 

«O tema da guerra, até ao início de sessenta, não dá à Literatura Portuguesa sequer uma dezena de grandes, definitivas, obras. Por seu lado, a Guerra Colonial e as suas consequências, só por si, dão origem a textos - testemunhos, autoficções, contos, novelas, romances. non-fiction fiction, diários, peças de teatro, etc - que, desde o trabalho sub-literário e para-literário ate ao exemplo de excelência literária têm assinatura de mais de cento e cinquenta nomes".

(Convém referir que nos últimos 25 anos, este número subiu exponencialmente).

E acrescenta-se um parágrafo do mesmo professor: 

"com este mare magnum de textos, a Guerra Colonial é o acontecimento histórico pela única vaga de fundo de literatura tematizadora da guerra da Literatura Portuguesa".

Mas porque será que, durante todo os últimos 500 anos até à primeira metade do século passado, no Portugal continental, não existe um único livro de literatura anti-colonial?.

Porque existe esta ausência, sendo que alguns dos maiores escritores do neo-realismo português estiveram vivendo anos em terras coloniais?

Pode citar-se os casos de Afonso Ribeiro, Alves Redol (viveu pobremente em Angola, segundo ele recordou mais tarde), Soeiro Pereira Gomes, Sidónio Muralha ou Alexandre Cabral.

Em 1977, o escritor e professor universitário Manuel Ferreira, ele próprio um neo-realista, que viveu largos anos nas antigas colónias portuguesas (sete em Cabo Verde, onde casou com a escritora caboverdiana Orlanda Amarilis - recentemente falecida - Goa e Angola) assinala que a literatura africana - portuguesa europeia e portuguesa africana - que *chama a si mais de um século de existência* não enquadra, nesse período, da parte dos escritores portugueses, a visão anti-colonial.  

//Manuel Ferreira, que, após o derrube do regime fascista em Portugal, veio a criar na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, a cadeira de Literatura Africana em Língua Portuguesa, somente publicou um primeiro romance de algum cariz anti-colonial, em 1956, intitulado "A Casa dos Motas", e o seu grande livro "A Hora di Bai", em 1962, já em pleno florescimento da guerra colonial//.

2 - Significa esta situação que não havia activistas anti-coloniais em África, ou que não existia a nível pessoal, provavelmente até organizadas, em Portugal continental pessoas com consciência de que teria de haver o direito à auto-determinação?

Não. 

Pelo contrário, o fermento anti-colonial é antigo é foi mesmo analisado no princípio do século XX no I Congresso da III Internacional.

A questão central tem de ser buscada na realidade política existente em Portugal.

Ou seja, temos de nos socorrer da História, porque ele é feita, não pelos princípios gerais, mas pela prática dos que estão no terreno, desde a economia à política. 

Enfim, as diferentes classes sociais e os seus representantes, ou quem dizem representar. 

Sofre, por isso, reencaminhamentos, acções contraditórias nas formas políticas da luta classista.

E esta evolução política tem de ser interpretada com os dados e condições em que vivíamos então, tendo de se ter em conta os variegadas condições que foram surgindo, o curso reactivo dos acontecimentos que se deram e fomentaram posições e visões diferentes dos princípios enunciados.




A omissão da escrita anti-colonial não foi, por isso, um esquecimento, nem produto de uma repressão impediosa do regime militar e da sua continuidade civil, o consulado fascista de Salazar, sobre a escrita e o pensamento.

(O regime salazarista foi impiedoso na restrição à liberdade de expressão e censor violento sobre a escrita avançada e de progresso, mas nunca conseguiu, nem o poderia fazer, impedir a circulação de ideias e a difusão, ainda que clandestina ou semi-clandestina, na arte e na literatura).

A chamada esquerda - PS (com a obscura Associação Socialista Portuguesa, pelo meio), e PCP, praticamente desde a sua criação formal, em 1921 - esteve irmanada ao próprio regime salazarista, mais do que se julga vulgarmente, na primeira metade do século XX, mas igualmente até ao início da guerra colonial em 1961, na ideia de uma Nacão portuguesa, desde o Minho até Timor.

O regime de Salazar, tal como os republicanos, socialistas, na I República, e, depois, antes da criação do PS em 1973, e os chamados comunistas enquadrados pelo PCP, desde 1921, e, "reorganizados" desde os finais dos anos 30 por Álvaro Cunhal, foram defensores intransigentes da ligação de Portugal continental às suas colónias.

Os salazaristas, primeiro sob a forma de "Império", republicanos e socialistas, porque defendiam "o colonialismo português", e o PCP, de Álvaro Cunhal, porque preconizava a "Unidade da Nação para a conquista da Democracia", ou conforme as conveniências do momento para "salvar a independência ameaçada" (e esta salvação da independência enquadrava a continuação da unidade estatal com as antigas colónias). 

Unificava-se, na realidade, sob diferentes consignas, o conteúdo idêntico do colonialismo.

Quando Timor foi ocupada pelos japoneses e esteve para ser "anexada" por australianos e holandeses, o jornal então clandestino "Avante" (órgão central do PCP), de Março de 1942, alastrava toda a sua primeira página com uma sonora palavra de ordem "Contra a política de traição que fez perder TIMOR! (sic) Só a unidade nacional garantirá a independência do povo" (Claro do Minho ao território timorense).



A curiosidade é que esta consigna faz lembrar as diatribes dos antigos e saudosos colonialistas contra a "traição" do abandono das antigas colónias em 1974/75...

As orientações do PCP de Cunhal da época estão inseridas nas decisões do chamados I e II Congressos (que o falecido líder daquele partido incluiu, mais tarde, com a titulagem *ilegal*, sob pressão de uma realidade histórica que o ultrapassava, e não podia ser esquecida.

É que já houvera, anteriormente, duas reuniões magnas antes da *reconstrução* ditada pelas linha política geral do antifascismo do VII Congresso da IC, que em Portugal ele apelidou de +unidade de todos os portugueses honrados+).

Da parte dos socialistas - ou melhor dos organizados, primeiro, na Acção Republicano-Socialista (ARS), e já nos anos 60, em torno da ASP tudo isto durante o consulado de António de Salazar- apenas em 1973, com a criação do PS, na Alemanha, se escreve uma posição anti-colonial e isso acontece num comunicado conjunto com o PCP.

Este Partido, ainda em 1949, através do MUD juvenil, subscreveu um manifesto de apoio à politica colonial do então candidato presidencial general Norton de Matos. 

E neste manifesto estavam alguns nomes de figuras que vieram mais parte a ter relevo nos partidos e movimentos independentistas das antigas colónias portuguesas.



Lúcio Lara (Angola) e Noémia de Sousa (Moçambique) estiveram ligados ao PCP em Portugal, em posiçõees subalternas



(Algumas das personalidades das antigas colónias a viverem em Portugal, como Agostinho Neto, Marcelino dos Santos, Lúcio Lara e Noémia de Sousa, entre outros, estavam ligadas ao PCP, e, segundo o historiador João Madeira - O PCP e a questão colonial - os dois últimos foram, em determinada altura, o elo de ligação directa ao Comité Central daquele partido).

Conforme não existe uma única obra literária de referência, ou um pensador de renome, político ou escritor, que, até meados do século XX, tenha posto em causa a colonização portuguesa, também tal desiderato não mereceu referência nenhuma de destaque, como obra literária, no principal manual histórico (primeira edição) orientador da vida académica literária, publicado, precisamente, em 1954.

Estou a referir-me, concretamente, à "História da Literatura Portuguesa, Porto: Porto Editora, 1954, 1ª edição", de António José Saraiva e Óscar Lopes, então dois pensadores considerados da esquerda portuguesa, na altura, aliás, ambos militantes do PCP.

3 - O escritor, investigador, professor universitário, ensaísta, poeta e pintor, já falecido (2010), Alfredo Margarido, que viveu muitos anos em S.Tomé e Principe e Angola procurou dar uma explicação simplista sobre essse afastamento da escrita anti-colonialista no seu ensaio: "Estudos sobre Literaturas das Nações Africanas de Língua Portuguesa" - Lisboa: A Regra do Jogo, 1980.


Cito: 

"Porque se a direita escreveu sempre sobre a África, desaguadora de muitos aristocratas e de muitos burgueses aruinados, como já sabemos desde a Ilustre Casa de Ramires, a esquerda nem sempre foi capaz de compreender a estrutura do facto colonial. Incapaz, por isso mesmo, de por a nú as várias formas de dominação." 

Margarido procura justificar o injustificável (a esquerda não compreende a estrutura do facto colonial?!).

A realidade é que a esquerda iludiu, precisamente, o acontecimento histórico. 

Tanto PS (e seus antecedentes republicanos desde a I República), como o PCP - desde o seu I Congresso em 1923 -, foram, na realidade, colonialistas, na sua acção prática.

Os republicanos e socialistas assumiam-no, directamente, o PCP - pelo oportunismo político que estava entranhado na sua orientação, em especial, desde a sua *reestruturação* cunhalista -, considerava heróis anti-fascistas, logo parceiros de coligação política, os conservadores monárquicos mais colonialistas, que tinham divergências com Salazar, como foi o caso de Paiva Couceiro.

No momento da morte daquele que foi o governador colonial assumido e monárquico convicto e militante, o jornal "Avante" dava-lhe destaque na primeira página, considerando: "PAIVA COUCEIRO - inimigo do fascismo", finalizando o seu artigo: "nossa homenagem é simples e sincera; é a Paiva Couceiro patriota, é a Paiva Couceiro anti-fascista".

A razão principal e de fundo porque não surgiu, nesta altura, literatura anti-colonial está, precisamente, ligada ao facto de não existir à esquerda uma orientação prática e actuante assente no direitos dos povos à sua auto-determinação e independência.

Aliás, essa - a questão colonial - é uma das principais razões que surge, nos finais dos anos 50/princípios dos anos 60, uma dissidência na própria Comissão Executiva do PCP, que vai levar à primeira grande cisão ideológica da sua História, e vai fazer aparecer uma formação política à esquerda daquele partido.