sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

ESTÓNIA: A ATRACÇÃO PELA MOEDA MAIS FORTE


A força económica da moeda no cerne do ataque especulativo


1- A Estónia é a partir de 01 de Janeiro de 2011 o 17º Estado europeu a aderir ao euro, a moeda única da União Europeia. Pode parecer um contra-senso que um jovem país faça uma tal opção face às incertezas políticas que dominam a constituição da União Europeia.

Não se sabe qual vai ser, nos próximos tempos, o futuro de uma parte substancial dos governos capitalistas mundiais, incluindo os Estados Unidos, a França, a Alemanha, a Índia, o Brasil e a própria China. Não haja dúvida que a presente crise financeira, económica e política mundial vai trazer mudanças em todas as estruturas de poder a nível global.

2- Pode surgir a ideia que as acções políticas dos Estados - e no caso europeu, a "determinância" da Alemanha - são a motivação central do incremento histórico. No meio de todo o barulho e ruido que rodeia a crise na Europa (e no mundo, certamente), o fim que está subjacente ao impulso do crescimento produtivo na Europa
são as relações económicas e essas é que estão a "furar" toda a falsa arrogância dos chamados mercados. Ou seja do sistema financeiro mundial.

Eles sabem que o euro é, presentemente, a unidade monetária mais forte do Mundo, e o sistema de acumulação de capital aquele que "melhor" serve o incremento do desenvolvimento de toda a economia, não só na Europa, mas em todo o mundo capitalista, seja o dos EUA, seja das chamadas economias emergentes. E estas estas mais interessadas no "modelo europeu", porque foi ele - e continua a ser - aquele que nas últimas décadas mais desenvolvimento deu à produção, ao comércio, à pos-industrialização e, para eles, acima de tudo, à própria acumulação de riqueza.

3 - A União Europeia é resultado de um contrato.


Na evolução da Europa para a sua unidade, desde o Império Romano, foi em torno deste contrato recente, que se criou algo de novo, sem a força violenta da guerra de destruição de imensas forças produtivas. Ora, os medíocres dirigentes desta Europa sabem, por muito medíocres, que o sejam, que quem esfrangalhar este contrato irá desfazer o seu próprio modelo de formação de um capitalismo diferente do dos Estados Unidos da América e de tudo o que resto de Capitalismo de Estado no Oriente.

É nesta Europa que está hoje o centro de uma nova possibilidade de refazer as próprias forças revolucionárias, que são as mais activas, conscientes e actuantes no Mundo, desde os anos 60. Será, pois, do interesse das forças do progresso saberem interpretar e actuar, politicamente, neste contexto histórico.

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

CAVACO SILVA: TUDO BONS RAPAZES...






1 - "Para serem mais honestos do que eu têm que nascer duas vezes".

A frase, retumbante, surgiu da boca "contida" do Chefe de Estado, Cavaco Silva, como candidato às próximas eleições presidências quando o acusaram de "malfeitoriais" que o nosso político, como mais mais anos de garimpagem no aparelho de Estado, pretende agora, apresentar-se como um homem "simples", "impoluto", que pairou no ar no meio da malandragem com que se rodeou - e estimulou - desde que surgiu no país, como Ministro das Finanças - e logo esta pasta hein ! - de Sá Carneiro, um especulador da bolsa que já vinha de antes do 25 de Abril de 1974.

(Mas, nessa altura, o jovem Cavaco Silva estava "dentro do regime" e fazia por fazer carreira, tal...como continuou com o regime seguinte, o do 25 de Abril. Não fez nada pelo outro - mas esteve "dentro dele" e fê-lo constar à polícia política do dito - e mostrou as garras no seguinte regime, fazendo uma carreira de acumulação de reformas e salários que o colocam no lugar de "mais honesto" que todos os restantes...Mas, claro não é assim. Irritou-se e saiu do "contido". É nos debates, nas críticas políticas que se vem a conhecer melhor a personagem!!!).

Quando foi eleito Chefe de Estado, em 2006, Cavaco Silva recebia uma subvenção vitalícia de 2.876 euros, por ter exercido o cargo de Primeiro-Ministro durante 10 anos (1985 a 1995), mais duas pensões do Estado (frise-se isto...), uma do Banco de Portugal (BP, de 2.679 euros e outra da Caixa Geral de Aposentações (CGA), como professor catedrático da Faculdade de Economia da Universidade Nova, no valor líquido de 5.007 euros.Mas ainda dava aulas, como professor na Universidade Católica, onde auferia um salário da ordem de cinco mil euros por mês.

Como Chefe de Estado, o seu salário então seria da ordem dos 7.100 euros (só em salário, não sabemos os valores dos extras).

Houve controvérsia pública, porque haveria muitas acumulações e então foi explicitado, via oficial, e socorremo-nos do jornal "Correio da Manhã" que o Presidente eleito só perderá a subvenção vitalícia, cujo valor ascende a 2.876 euros, à qual tinha direito por ter exercido o cargo de primeiro-ministro.

E o jornal esclareceu: a nova legislação estabelece que os deputados, os eurodeputados e os autarcas, entre outros titulares de cargos políticos, tenham, caso recebam reformas no exercício de funções públicas, de optar entre um terço do salário ou um terço da pensão. Mas, para o Presidente da República, essa imposição legal não existe, dado que o Presidente não é abrangido pela Lei 52-A, de 2005.

Qual é o real vencimento - em acumulação - de Cavaco Silva não sabemos.

Mas sabemos que o actual Presidente da República fez "aplicações" do seu dinheiro em especulação financeira e, uma dessas, aplicações, foi feita num sistema bolsista, que estava fora da alçada da lei. E daí recebeu dividendos, que não estavam co-paginados com a legislação em vigor. E o Chefe de Estado omitiu isso, sabendo que a instituição bancária andava fora dos carris. Qual é o grau da honestidade em toda este imbróglio?

2 - À mulher de César não basta ser séria... tem de parecê-lo!


A honestidade de Cavaco Silva, para ser verdadeira e consistente, não deverá ter à sua volta, os promotores da mais desenfreada e criminosa especulação financeira e das negociatas de chico-espertos em Portugal.


Se se consultar, por exemplo, a sua Comissão de Honra, verifica-se que eles estão todos lá. Não como meros assistentes de um processo político, mas como lobos esfaimados, prontos para saltarem e cavalgarem, novamente, toda a estrutura do sistema financeiro português.

Não iremos referenciar todos, mas alguns cujos percursos de transparência mostram como vai a carruagem.


A) ADBOOL KARIM VAKIL

É apresentado como gestor e economista (tem uma licenciatura em economia no ISEG). Passou pelo Banco de Portugal, de onde foi afastado por Vitor Constâncio, então governador, por razões pouco transparentes, que nunca surgiram à luz do dia. Esteve depois no estrangeiro no Manufactor Hanover e criou o banco EFISA, que se dedicava a transacções obscuras, tendo depois integrado esse banco no BPN, onde se tornou administrador.

O jornal Publico em 2008 escreve:

"Abdool Karim Vakil foi nomeado líder da Sociedade Lusa de Negócios e do Banco Português de Negócios.

Quem lhe deu as recomendações?

Nada mais, nada menos que Rui Machete, que igualmente está na Comissão de Honra de CS, e na altura era o Presidente do Conselho Superior do BPN.

"Uma pessoa com experiência e credibilidade", diz Rui Machete, então sobre Vakil.

Notícia da Lusa de 2009:

"A administração do Banco Efisa, presidida por Abdool Vakil, foi hoje dissolvida pelo seu accionista Banco Português de Negócios (BPN), que invocou a “degradação continuada da situação económica e financeira, traduzida em capitais próprios negativos” da instituição financeira.

"A administração liderada por Francisco Bandeira decidiu afastar Abdool Vakil por ter extravasado “as suas competências legais, de gestão corrente, apesar dos ditames da lei e de expressamente lhe ter sido comunicado que não o poderia fazer”, segundo um comunicado enviado pelo BPN.

Entre outras trapaças que fez Vakil. Cita-se da imprensa. Jornal I, Maio 2009

"A nova administração do Banco Português de Negócios (BPN) quer a devolução de parte dos salários de Abdool Karim Vakil e dos restantes cinco membros do anterior conselho de administração do banco. Segundo uma fonte contactada pelo i, só o montante reclamado a Karim Vakil, que sucedeu a José de Oliveira Costa na presidência do BPN, entre Fevereiro e Junho do ano passado, será de aproximadamente 100 mil euros". ISTO SÓ EM CINCO MESES...

Mas em 2008, o CM relatava: "A informação sobre uma "operação clandestina", como lhe chamou ontem Vítor Constâncio, apanhada há meses pelos investigadores da ‘Operação Furacão’, deu um golpe mortal no BPN e apressou a nacionalização quando a situação deste banco se fragilizou nos últimos dias. O Ministério Público detectou uma operação de centenas de milhões de euros sem qualquer suporte contabilístico num balcão virtual do Banco Insular de Cabo Verde, que gerou um elevadíssimo valor incobrável".


Jornal Público: "Abdool Vakil, ex-presidente do Efisa e presidente do BPN entre Fevereiro e Junho de 2008, era administrador não executivo do Taib Bank do Bahrain que prestou a garantia bancária a um financiamento do empresário libanês El Assir.
A revelação foi feita pelo deputado comunista, Honório Novo. O parlamentar tinha alertado o governador do Banco de Portugal para a situação, pedindo a Vítor Constâncio que identificasse o gestor que fazia parte da administração de um banco nacional (presidente do Efisa) e do banco do Bahrain até Novembro de 2007
O Taib Bank foi a instituição que passou uma garantia bancária de 1,5 milhões de euros para o BPN classificar de crédito em situação normal a ausência de pagamento do serviço de dívida de um financiamento de 26 milhões de euros concedido pelo Banco Português de Negócios a três offshores cujo destinatário final era El Assir.
O governador do Banco de Portugal confirmou ter detectado a situação, mas invocou o segredo profissional para não revelar a identidade do gestor.
O nome de Abdool Vakil consta dos órgãos sociais do Taib Bank, do qual saiu em Novembro de 2007. El Assir começou a ter negócios com o BPN por iniciativa de Dias Loureiro. O empresário libanês intermediou a venda da Redal de Marrocos aos franceses da Vivendi e esteve na origem do negócio com uma empresa tecnológica de Porto Rico que representou uma perda para a Sociedade Lusa de Negócios da ordem dos 30 milhões de euros".

B) DANIEL PROENÇA DE CARVALHO

É um advogado que controla uma das maiores empresas do sector, intervindo essencialmente no mundo dos negócios, alguns deles escabrosos e sinistros. Repare-se por onde se movimenta.


Foi inspector da Polícia Judiciária. Logo após o 25 de Novembro, foi indicado pelo bloco central para ser o director do Jornal Novo; entre 1976 e 1977, pertenceu ao Conselho de Imprensa. Foi ministro da Comunicação Social no 4º governo constitucional, de Mota Pinto e entre 1980 e 1983, Presidente do Conselho de Administração da RTP (Ficou célebre a frase do então jornalista José Mensurado, que o apelidou de «Maquiavel à Moda do Minho».


Já como traficante entre a advocacia e os negócios, entre 2007 e 2008, foi idente do Conselho Estratégico do Hospital Amadora-Sintra Sociedade Gestora, S.A., apologista da privatização da saúde.


Vejamos os cargos negociais financeiros da actualidade:

Vice-Presidente da Mesa da Assembleia-Geral da Caixa Geral de Depósitos, S.A., desde 2004;

Presidente do Conselho de Administração da ZON Multimédia, SGPS, S.A., desde Junho de 2007;

Presidente do Conselho Consultivo da sociedade de Capital de Risco "Explorer Investments – Sociedade de Capital de Risco, S.A.", desde 2004;

Administrador da sociedade SINDCOM - Sociedade de Investimentos na Indústria e Comércio, SGPS, S.A., desde Outubro de 2005;

Membro da Comissão de Remunerações do BANCO ESPÍRITO SANTO, S.A., desde Março 2008

Presidente do Conselho de Curadores da Fundação "D. Anna de Sommer Champalimaud e Dr. Carlos Montez Champalimaud", desde Junho de 2005;

Professor de “Direito do Audiovisual e da Comunicação”, no Instituto Jurídico da Comunicação, Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, desde 2005;

Membro do Conselho Consultivo da Fundação Galp Energia desde Setembro de 2009.

Presidente da Assembleia-Geral das seguintes Sociedades:

GALP ENERGIA, SGPS, S.A., desde Abril de 2008;

ESTORIL SOL, SGPS, S.A., desde Abril de 2007;

SÉTIMOS – PARTICIPAÇÕES, SGPS, S.A., desde Junho de 2005;

SOCITREL – Sociedade Industrial de Trefilaria, S.A., desde Maio de 2005;

COALTEJO – Criador de Ovinos Algarve e Alentejo, S.A., desde Março de 2005;

GOTAN SGPS, S.A., desde Dezembro de 2004;

CONFIANÇA PARTICIPAÇÕES, SGPS, S.A., desde Dezembro de 2004;

EDIFER – INVESTIMENTOS, Sociedade Gestora de Participações Sociais, S.A., desde Maio de 2003;

EDIFER – Sociedade Gestora de Participações Sociais, S.A., desde Maio de 2003;

CELULOSE DO CAIMA – SGPS, S.A., desde Abril de 2002;

3 Z – ADMINISTRAÇÃO DE IMÓVEIS, S.A., desde Março de 2001;

SOGEB – Sociedade de Gestão de Bens, S.A., desde Maio de 2000;

VILA SOL – SGPS, S.A., desde de 1999;

EUROATLÂNTICA – Investimentos e Comércio, S.A., desde 1999;

SOGESFIN – Sociedade Gestora de Participações Sociais, S.A., desde Novembro de 1998;
Caixa Geral de Depósitos, SA - Sede Social: Av. João XXI, 63 1000-300 LISBOA - Capital Social €4.500.000.000-CRCL e Contribuinte sob o nº 500 960 046

MAGUE – SGPS, S.A., desde Junho de 1998;

CABO RASO – Empreendimentos Turísticos, S.A., desde Maio de 1998;

RENOVA - Fábrica de Papel do Almonda, S.A., desde Maio de 1997;

VILA SOL II – Empreendimentos Turísticos, S.A., desde 1997;

ALMONDA – Sociedade Gestora de Participações Sociais, S.A., desde Março de 1996;

G.A. – Estudos e Investimentos, SA, desde 1996;

PANATLÂNTICA – HOLDING, Sociedade Gestora de Participações Sociais, S.A., desde 1995;

SOTAC – Sociedade de Turismo e Agricultura, S.A., desde Dezembro de 1991;

PORTUGÁLIA – Administração de Patrimónios, S.A., desde Junho de 1980;

Sociedade Agrícola Belo de Mértola, S.A., desde Janeiro de 1978;

Sociedade Agrícola dos NAMORADOS, S.A., desde Janeiro de 1978;

Sociedade Agrícola da SERRA BRANCA, S.A., desde Março de 1975;


C) JOSÉ TAVARES MOREIRA


Foi Secretário de Estado do Tesouro em 1980 e, mais tarde, de Novembro de 1985 a Maio de 1986.



Entre Maio de 1986 e Maio de 1992, ocupou o cargo de Governador do Banco de Portugal (naturalmente tem uma reforma choruda).


Fundador da CISF – Cª Investimentos e Serviços Financeiros em Maio de 1984 e
Administrador do Banco Pinto & Sotto Mayor (de 1976 até 1979) e da Caixa Geral de Depósitos (de 1981 até 1983).


Depois Consultor do Banco Africano de Investimentos (Europa) e de empresas.


Foi Vice-Presidente da Comissão Política Nacional do PSD desde Maio de 1999 a Maio de 2003 e deputado do mesmo partido e Presidente da Comissão de Controlo Orçamental, de Abril de 2002 a Fevereiro de 2005.


O facto relevante, que não vem nas biografias oficiais, é que foi o primeiro banqueiro a prestar contas à justiça e a ser impedido pelo próprio Banco de Portugal a exercer funções na banca. A instituição detectou irregularidades e aplicou castigo.



Mais tarde, Tavares Moreira foi recorrendo e, há um ano, o Ministério Público decidiu arquivar a queixa-crime contra o ex-governador do Banco de Portugal, no âmbito do processo desencadeado pela falência do Central Banco de Investimento (CBI) de que o antigo deputado do PSD foi presidente. O banco faliu. O homem era presidente, mas, naturalmente, não houve dolo, pois as provas eram difíceis de esmiuçar nos meandros dos off-shores...


O arquivamento do caso - para a Procuradoria - resultará do facto de a acusação não ter conseguido reunir provas que demonstrassem os indícios criminais detectados pelo Banco de Portugal (BdP), que em Novembro de 2003 enviou para o Ministério Público o inquérito ao CBI.


Reparem: O BdP detectou...mas os investigadores estavam de oculos fumados e não viram nada...


A entidade de supervisão concluía que os gestores lhe tinham prestado informações falsas e manipulado e falsificado as contas do CBI, por forma a ocultar prejuízos de cerca de 25 milhões de euros em 2000 e 2001, com recurso a sociedades offshore ligadas ao banco. (Mas tudo isto é de somenos importância).


Para o BdP, estava em causa o facto de a gestão do CBI ter autorizado a venda de acções de 13 empresas - como a Pararede, CBI , PT e Teixeira Duarte - àquelas entidades acima do preço de mercado. As offshores financiaram esta aquisição com um empréstimo da UBS, concedido mediante garantia do CBI. Para o supervisor, esta operação correspondia a um parqueamento das acções não declarado ao BdP e ao não provisionamento da garantia, permitindo esconder prejuízos.


Apesar da decisão do MP, continua a correr um processo contra- -ordenacional na pequena instância criminal, que resultará do recurso que Tavares Moreira e os restantes ex-gestores do CBI interpuseram relativamente às sanções aplicadas pelo supervisor. O BdP concluiu que a administração do CBI tinha praticado infracções especialmente graves e puniu os gestores dentro das suas competências.


Tavares Moreira foi o gestor mais penalizado. O supervisor aplicou uma coima de mais de 200 mil euros ao economista e determi- nou a sua inibição de desempe- nhar funções de administração em instituições de crédito por sete anos. Também os restantes ex-administradores executivos do CBI ficaram temporariamente impe- didos de regressar à gestão de bancos.


A terminar, esta crónica datada de 8 de Junho de 2009, inserida no jornal Expresso, da autoria do falecido fiscalista Saldanha Sanches:


"O dr. Tavares Moreira ex-governador do Banco de Portugal, depois presidente de uma instituição bancária ligada às caixas de Crédito Agrícola foi um dos primeiros banqueiros portugueses a encontrar-se a contas com a justiça.

Sujeito a um processo do Banco de Portugal (que desta vez actuou) viu a decisão do Banco ser confirmada pela primeira instância. Recorrendo para o Tribunal da Relação, este resolveu anular a decisão e mandar repetir o julgamento.

Hoje, segundo nos informa o interessado, o delito encontra-se prescrito. O dr. Tavares Moreira, segundo afirmou ao prestante "Público", pondera a possibilidade de processar o Banco de Portugal.

Uma das especificidades do nosso processo penal é que além de existir, como por toda a parte, uma presunção de inocência antes da condenação em relação a crimes de colarinho branco, essa presunção é iniludível.

Se tudo correr de acordo com a intenção do legislador penal, se houver algum processo contra este tipo de actuação criminosa depois de alguma agitação, o processo será arquivado.

Se por acaso chegar à primeira instância, em princípio, o juiz terá dúvidas e o acusado absolvido. Se por acaso isso não acontecer há sempre a possibilidade de recorrer para os tribunais superiores e conseguir que estes mandem repetir o julgamento.

Se mesmo assim se não tiver acabado com o processo ainda há a possibilidade de ir para o Tribunal Constitucional.

Em suma, se não se obtiver uma absolvição ou um arquivamento pode sempre conseguir-se uma prescrição. Foi assim na Caixa Faialense, foi assim no presente caso.

No caso Tavares Moreira, como este afirma gravemente na sua entrevista, tudo se deveu a uma conspiração.

Pode mesmo aventar-se que tudo se deveu ao conhecido fundamentalismo do Banco de Portugal e à intransigência doentia com que se persegue em Portugal qualquer fumo de corrupção. No entanto, se não dermos isto como provado, surge uma questão desagradável.

Com esta regulação e com esta justiça (mesmo quando a regulação funciona, a justiça anula as suas decisões) como podemos ter actividade bancária em Portugal? A banca assenta numa relação fiduciária com os clientes. Na confiança (fiducia) do mercado: sem ela ou não funciona ou funciona com mais elevados custos de transacção.

A dureza da condenação de Madoff recorda-nos a importância que as economias de mercado dão a estas questões.

A comparação da velocidade dos dois sistemas (o deles e o nosso) deveria ser um motivo de contrição nacional.

Mas isso não vai acontecer:

Primeiro porque ainda há alguns tolos que acham que o nosso sistema é óptimo e o mais importante é manter tudo. O nosso sistema é um exemplo para o mundo, o que é verdade.

Por exemplo a separação de carreiras entre juízes e ministério público faz parte do plano de Berlusconi para a reforma da justiça em Itália.

Depois porque não se pode comparar a importância como factor de depressão nacional da verificação destes bloqueios que parecem intransponíveis com os que seriam provocados, por exemplo, pela eliminação da selecção nacional do próximo campeonato do mundo".







quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

PT:PT: OS VAMPIROS ESTÂO A ABOCANHAR A RIQUEZA NACIONAL









Quando se põe termo ao saque das riquezas nacionais?







Eis a notícia:

Telecom: Royal Bank of Scotland passa a deter mais de 2% do capital e direitos de voto da PT



Lisboa, 29 dez (Lusa) -- A Portugal Telecom (PT) informou hoje que o Royal Bank of Scotland passou a deter uma participação superior a 2 por cento do capital social e correspondentes direitos de voto da empresa.



Em comunicado enviado à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), a PT diz que o Royal Bank of Scotland comprou 1,8 milhões de ações da empresa e com esse reforço passou a deter 19,7 milhões de ações da operadora liderada por Zeinal Bava.



"Na sequência da transação", refere o comunicado, "passou a ser imputável ao Royal Bank of Scotland uma participação social" de cerca de 19,7 milhões de ações ordinárias da PT, "representativas de 2,20 por cento do respetivo capital social e dos correspondentes direitos de voto".




Mas o que é O Royal Bank of Scotland?




O Royal Bank of Scotland pertence ao The Royal Bank of Scotland Group PLC, que é um dos maiores bancos britânicos.





Foi fundado, em 1727, em Edimburgo, por carta régia. Hoje é o maior banco da Escócia, o segundo maior do Reino Unido e da Europa e o quinto maior do mundo em capitalização bolsista. Ou seja especulação financeira.



Em 26 de fevereiro de 2009, o grupo financeiro anunciou perdas no no total de £24 mil milhões de libras (37 mil milhões de dóalres), o maior prejuízo financeiro do sistema bancário na história da Grã-Bretanha, causado pela perdas geradas pela crise do subprime - especulação selvagem do capital financeiro - nos Estados Unidos em 2008, que se espalhou pela Europa e pelo mundo.





Em 2007, num operação obscura bolsista, aquele banco gastou 22 mil milhões de libras na compra do grupo financeiro holandês ABN Amro, já em dificuldades de solvência.





Significa que a PT vai ter mais um "sugador" internacional de dividendos nacionais, sendo que o RSB é uma instituição que hoje está associada a negócios mais escuros e nefastos do capitalismo internacional, como branqueamento de capitais e tráfico de droga.





(Como registo noticioso, informa-se o seguinte: em 26 de Março de 2009, um grupo intitulado os "Banqueiros são bandidos" «Bank bosses are criminals -BBAC - em inglês» atacou a casa em Edinburgo - uma luxuxosa apalaçada moradia - e os automóveis, entre os quais em Mercedes s600 -xpto - do banqueiro Fred Goodwin, que até, há pouco tempo, era o administrador executivo do RNS.



Aquele grupo BBAC distribuiu depois um comunicado à imprensa: “É inadmissível que pessoas ricas, como ele, vivam no luxo e gastem uma quantia enorme de dinheiro, enquanto pessoas comuns vivem sem-teto, na miséria e no desemprego. Isso é um crime. Esses banqueiros deveriam ir para a cadeia. Isso é apenas o começo".





Entretanto, um mês atrás, a Portugal Telecom já tinha informado que um grupo especulador multinacional o Income Fund of America já detém 5,03% da empresa, geridos pela Capital Research.


A Capital, uma gestora de fundos, subira, há poucas semanas, a sua posição para 10,08 por cento.




De acordo com o comunicado da empresa liderada pelos comparsas Zeinal Bava/Henrique Granadeiro, o Income Fund of America (Fundo de Rendimento da América) -(IFA, na sigla inglesa) comprou, no dia 29 de Novembro, 545.319 acções da PT, elevando assim a sua posição para mais de cinco por cento.



Adicionalmente, a PT “foi informada que o IFA conferiu poderes à Capital Research and Management Company para exercer os direitos de voto correspondentes a esta participação qualificada”.



Esta, por sua vez, segundo foi conhecido no dia 25 de Novembro, passou a deter uma participação superior a 10 por cento dos direitos de voto (10,08 por cento) da PT, mas já incorporando a posição que o IFA detinha nessa data.



Na altura, a operadora de telecomunicações comunicou que “as acções correspondentes a esta participação qualificada são detidas por fundos de investimento geridos, com poderes discricionários, pela Capital Research and Management Company”.



Conhecida por ser responsável por investimentos de longo prazo, a Capital só pode exercer os seus direitos de voto, de acordo com os estatutos da operadora de telecomunicações, até dez por cento, apesar de agora gerir uma posição que rondará os 11,5 por cento.



Tudo parece ser uma grande notícia, mas é, acima de tudo, estas duas operações representam um reforço do capital especulativo estrangeiro, não garantido, na PT.





Estas entradas de capital nada mais são que a chegada, em volume crescente, à empresa portuguesa de “mais vampiros sugadores de lucros”.



Repetimos. Se se consultar as informações oficiais norte-americanas, respeitantes aos riscos de investimento em tal fundo, assinala-se nomeadamente que “o preço das acções e o retorno varia. Portanto, você pode perder dinheiro”.


Ou seja, o movimento monetário, não é, produtivo, mas simplesmente especulativo. E acrescentam: “os investimentos não são seguros pela FDIC (Federal Deposito Insurance Corporation, em português: Agência Federal de Garantia de Depósitos Bancários), nem são depósitos ou garantidos por um banco ou qualquer outra entidade).


Para que se possa avaliar, quem especula com o dinheiro de uma empresa nacional, repare-se nos principais parceiros da firma norte-americana, segundo a informação oficial da empresa detentora da gestão do Fundo:

1. Merck 2.2% 6. Royal Dutch Shell 1.4%
2. Verizon 2.1% 7. Chevron 1.4%
3. Bristol-Myers Squibb 1.7% 8. McDonald's 1.2%
4. Home Depot 1.6% 9. Philip Morris International 1.2%
5. Waste Management 1.5% 10. DuPont 1.2%


terça-feira, 28 de dezembro de 2010

CAVACO SILVA NÃO SABIA QUE O BPN ERA DA SLN?

Será ele o benemérito de Cavaco Silva?



Nos últimos dias, o Presidente da República, como recandidato a Chefe de Estado, confrontado com críticas, que o dão como associado a negócios pouco transparentes, quiçá, ilegais, que o envolvem em negociatas com o BPN, arrogou-se no direito de ser o maus puro dos portugueses, e referiu que disse tudo sobre o assunto num comunicado que emitiu a 23 de Novembro de 2008.

Como não o conhecia o teor do comunicado, fui consultá-lo ao portal da Presidência, e cito-o textualmente:

"Nos últimos dias, detectou a Presidência da República, face a contactos estabelecidos por jornalistas, tentativas de associar o nome do Presidente da República à situação do Banco Português de Negócios (BPN).
Não podendo o Presidente da República tolerar a continuação de mentiras e insinuações visando pôr em causa o seu bom nome, esclarece-se o seguinte:
1. O Prof. Aníbal Cavaco Silva, no exercício da sua vida profissional, antes de desempenhar as actuais funções (nem posteriormente, como é óbvio):
a) nunca exerceu qualquer tipo de função no BPN ou em qualquer das suas empresas;
b) nunca recebeu qualquer remuneração do BPN ou de qualquer das suas empresas;
c) nunca comprou ou vendeu nada ao BPN ou a qualquer das suas empresas.
2. O Prof. Cavaco Silva e a sua Mulher:
a) nunca contraíram qualquer empréstimo junto do BPN;
b) não devem um único euro a qualquer banco, nacional ou estrangeiro, nem a qualquer outra entidade.
3. O Prof. Cavaco Silva e a sua Mulher têm, há muitos anos, a gestão das suas poupanças entregues a quatro bancos portugueses – incluindo o BPN, desde 2000 – conforme consta, discriminado em detalhe, na Declaração de Património e Rendimentos entregue no Tribunal Constitucional, a qual pode ser consultada.
As aplicações feitas pelos bancos gestores constam, detalhadamente, da referida Declaração de Património, entregue no Tribunal Constitucional – assim como o número de todas as contas bancárias do casal, excepto uma, aberta no Montepio Geral, por acolher apenas depósitos à ordem - a qual, repete-se, pode ser consultada.
As alienações de títulos efectuadas pelos bancos gestores constam, nos termos da lei, e como pode ser verificado, das declarações de IRS do Prof. Aníbal Cavaco Silva e de sua Mulher, preenchidas com base nas informações fornecidas anualmente pelos referidos bancos.
4. Ao tomar posse como Presidente da República, o Prof. Cavaco Silva e a sua Mulher deram instruções aos bancos gestores das suas poupanças para não voltarem a comprar ou vender quaisquer acções de empresas portuguesas, excepto no exercício de direitos de preferência.


1 - Fiquei a saber Cavaco Silva tem poupanças em quatro bancos, sendo um deles, precisamente, o BPN.

2 - Ele assinala no comunicado que entregou a "gestão" a esses estabelecimentos bancários, onde fez "aplicações", sustentando que "nunca comprou ou vendeu nada ao BPN ou a qualquer das suas empresas", ou que "nunca recebeu qualquer remuneração do BPN ou de qualquer das suas empresas".

Fui consultar a imprensa de há vários anos sobre as declarações de interesses de Cavaco Silva entregues no Tribunal Constitucional (TC).

Segundo a imprensa, (DN), a penúltima declaração de interesses de Cavaco Silva entregue no TC revela que detinha, em 2005, no Banco Português de Negócios (BPN) uma carteira em fundos de investimentos avaliada em mais de 200 mil euros. Precisamente: 210 634,00 euros.

Essa declaração foi entregue no final de 2005, quando se assumiu como candidato a presidente da República. É expressamente referido que esse valor (os tais 210 mil euros) era o apurado em 30 de Novembro de 2005.

A declaração revelava rendimentos de cerca de 425 mil euros (entre pensões, rendimentos de trabalho independente e rendimentos de trabalho dependente). Cavaco detinha acções em várias empresas (BCP, BPI, Brisa, Comundo, EDP, Jerónimo Martins, PT, SAG e Sonae.com) e devia cerca de 16,7 mil euros ao Banco de Portugal (onde foi alto funcionário).

A declaração seguinte, entregue em 2006, já depois de ter sido eleito Presidente da República, é diferente. Cavaco Silva continuou a declarar aplicações no BPN (em fundos de investimento imobiliário). Contudo, já sem valor atribuído. Os "valores" surgem apenas em "unidades de participação".

A declaração de 2006 - a mais recente, visto que o Presidente não é obrigado a actualizá-la anualmente - revela uma descida forte nos rendimentos do Presidente. Os do trabalho dependente passaram de 138,3 mil euros (na declaração de 2005) para 5900 (na de 2006). Os do trabalho independente também baixaram, de 101,8 mil euros para 70,9 mil euros.

Continuava também a dever 14,4 mil euros ao Banco de Portugal. O empréstimo foi entretanto saldado, visto que a Presidência da República declarou a 23 de Novembro de 2008, em comunicado, que Cavaco Silva e a sua mulher "não devem um único euro a qualquer banco, nacional ou estrangeiro, nem a qualquer outra entidade".

O DN refere depois que questionou a assessoria de imprensa de Belém sobre o facto de as aplicações do PR no BPN declaradas em 2006 não terem valor discriminado.

E também sobre a veracidade da notícia do Expresso revelando que o PR deteve acções no BPN até 2003. "O comunicado da Presidência da República e os documentos nele citados constituem uma informação completa sobre o assunto em causa", foi a resposta.


Mas, surgem perguntas que tem de ser respondidas:

A) O comunicado fala no BPN, mas omite a sua ligação à Sociedade Lusa de Negócios - eu não posso acreditar que o economista, ex-Ministro das Finanças e ex-Primeiro-Ministro, não sabia que a SLN detinha o BPN a 100 por cento.

Ora, em 2001, Cavaco Silva e a sua filha compraram 254 mil acções da Sociedade Lusa de Negócios. A omissão, neste caso, torna-se, na realidade, em mentira, já que o BPN está metido no negócio.

B) Como as acções da SLN não eram transaccionadas na bolsa, a quem é que Cavaco (já não falo da filha ou de outro parente) as comprou?

C) Se não havia uma referência de transacção bolsista, como foi fixada o preço por acção de um euro?

D) Já agora seria interessante saber como foi feito o pagamento da parte de Cavaco Silva para a compra das acções? Gostaria de conhecer, por um questão de transparência, o rasto do dinheiro.

E) Refere a imprensa que, em carta de 2003 à SLN, Cavaco Silva teria «ordenado» a venda das suas acções, facto que, igualmente, fez, pelo menos, a sua filha.

Com a transacção, teria havido uns 72 mil contos (dinheiro de então) de mais valias para ambos.

F) Foram estas mais valias foram declaradas para serem taxadas? Seria útil, também, por transparência, que tal fosse esclarecido.

G) Mas, se as acções não eram transaccionáveis em bolsa, então como foi feita a venda? Não poderia haver uma transacção legal, com mais valias, já que não haveria uma "baliza legal" para as referenciar. Ora, teve de haver um comprador, e este comprador fez um negócio, aparentemente ruinoso, pois comprou-as a 1,4 euros - ou seja uma mais valia significativa.

H) Por uma questão de transparência para a Presidência, deveria ser conhecido o benfeitor?

Se se acreditar no jornal Expresso: «Cavaco Silva e a filha deram ordem de venda das suas acções, em cartas separadas endereçadas ao então presidente da administração da SLN, José Oliveira Costa. Este determinou que as 255.018 acções detidas por ambos fossem vendidas à SLN Valor, a maior accionista da SLN, na qual participam os maiores accionistas individuais desta empresa, entre os quais o próprio Oliveira Costa.». Ora, a ser assim, o benemérito foi o arguido Oliveira Costa. Esta a versão até a haver um esclarecimento.


I) Ora aqui é que a "porca" torce o rabo. Tudo é obscuro. A não ser que Cavaco Silva e família receberam "por acto benemérito" um valor substancial de dinheiro de uma empresa que não estava cotada em bolsa e estava sob suspeita do Banco de Portugal.

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

A QUEM SERVE O TERROR CONSTANTE?








Quem está, realmente, a fomentar o terror?


































Uma operação antiterrorista levou à detenção de nove homens em várias cidades do Reino Unido.

As autoridades britânica indiciaram os nove homens sob a acusação de conspiração para preparar ataques terroristas, na sequência de uma série de raides das autoridades levados cabo na semana passada em Inglaterra e no País de Gales.

Os indiciados, com idades entre 19 e 28 anos, foram detidos no dia 20 de Dezembro e deverão depor esta segunda-feira. As explosões que estavam alegadamente a ser preparadas pelos suspeitos, seriam «de natureza a pôr em perigo a vida de muitas pessoas e destinavam-se também a causar graves danos materiais entre 01 de Outubro e 20 de Dezembro deste ano», precisaram as autoridades.

Esta notícia - veiculada pela agências internacionais e aceite acefalamente pelos órgãos de informação portuguesas - ou está mal redigida, ou é um embuste, completo, das autoridades policiais do Reino Unido, ou, então, está muito mal contada pelas mesmas autoridades. E porquê?


Os acusados foram detidos no dia 20 de Dezembro e o que, eventualmente, estariam a conspirar iria - cito "pôr em perigo a vida de muitas pessoas e destinavam-se a causar danos materiais entre 01 de Outubro e 20 de Dezembro deste ano".


Ora, o acto terrorista que pretendiam praticar não se produziu, então qual a razão da sua detenção, se não deram "os danos materiais" previstos para 01 de Outubro até 20 de Dezembro? Não bate a bota, com a perdigota.

Aliás, os alertas sucessivos de actos terroristas que percorrem a Europa desde há anos não tem uma explicação convincente.


Do ponto de vista de efectivação dos actos, nem daqueles que já, eventualmente, tiveram lugar há muitos anos. Com suspeitos detidos e até...agora sem julgamento, a não ser o caso dos ataques ao metropolitano de Madrid, em especial a estação de Atocha, em que houve julgamentos, mas os cabecilhas - estranhamente - foram ilibidados. Voltaremos ao caso.


Centremo-nos no chamado ataque terrorista ao metropolitano de Londres a 7 de Junho de 2005.

Houve mais de 50 mortos. O caos na circulação em pleno centro da capital londrina.
Foi morto, desarmado, é à queima-roupa, um cidadão brasileiro às mãos da polícia anti-terrorista britânica, vindo depois a provar-se que o mesmo nada tinha a ver com o assunto. E a polícia metropolitana a descartar-se do acto que praticou.


Houve, no entanto, eventuais suspeitos detidos. Foram realizadas numerosas operações policiais entre as comunidades migrantes do Médio-Oriente e Extremo-Oriente.


O comandante da Polícia Metropolitana de Londres afirmou então que se estava perante "um grande ataque terrorista", mas até hoje ainda nem um só julgamento se efectuou.

Em 11 de Março de 2004, explodiram 10 bombas, aparentemente colocadas em mochilas que explodiram estações de Atocha, El Pozo e Santa Eugénia, no Metro madrileno. Cerca de 220.000 passageiros utilizavam diariamente essas linhas ferroviárias. Registaram-se cerca de 200 mortos e muitas mais dezenas de feridos, além dos estragos materiais.


Foram indiciados vários homens de origem magrebina ou do Próximo-Oriente.

Em Outubro de 2007, foi conhecida a sentença do julgamento desses atentados. Vinte e um dos 28 réus foram condenados a cumprir pena, mas sete foram absolvidos.


Em Julho de 2008, o Supremo Tribunal espanhol analisou um total de 31 recursos da sentença, apresentados pelo Ministério Público, por associações de vítimas e pela maioria dos condenados.


Acabou por absolver quatro dos 21 condenados por responsabilidade nos atentados de 11 de Março.

O alegado cérebro dos atentados terrorista, Rabei Osman el-Sayed, conhecido como 'Mohammed, o Egípcio', foi absolvido.


'Hanssan, Al Haski' e 'Youssef Belhadj', alegados co-autores do atentado, também foram inocentados deste crime, tendo apenas sido condenados por participação em organização terrorista, da qual já se terão desvinculado, informou o tribunal.


Ou seja, estão detidos apenas os eventuais segundas linhas.


Desde os ataques, a 11 de Setembro de 2001, com dois aviões de passageiros às Torres Gêmeas, em Nova Iorque, e um outro obscuro ataque, também, com um avião que ninguém viu, ao Pentágono, em Washington e uma queda de uma outra aeronave civil, com mais de 100 pessoas na Pensilvânia, também envolta em mistério, foram detidos, primeiro em Guantánamo e depois em várias prisões "secretas" em várias partes do Mundo, sob a gestão norte-americana, 804 cidadãos, quase todos de origem árabe ou muçulmana, naturais dos EUA, ou de diferentes países, onde aquele Estado interveio unilateralmente.


Até hoje, apenas um jovem, na altura com 12 anos, foi julgado, mas não se conhece com exactidão a sua situação judicial. O julgamento foi à porta fechada e feito por um Tribunal Militar. Dos restantes, nenhum compareceu perante o sistema judiciário dos Estados Unidos. Alguns ainda se mantêem incomunicáveis, outros foram sujeitos a tortura.

O primeiro julgamento “por terrorismo” de um detido de Guantánamo num tribunal civil norte-americano, que se iniciou, este ano, continua, por seu turno adiado.

O tanzaniano Ahmed Ghailani devia começar a ser julgado em Outubro em Nova Iorque. Mas o juiz rejeitou a convocação da testemunha chave da acusação, considerando que a sua identidade foi revelada por Ghailani à CIA sob tortura.

O advogado de defesa, Peter Quijano, congratulou-se com a decisão: “A Constituição conquistou uma grande vitória. Aplaudimos o tribunal pela coragem e respeito pela lei”.

Ahmed Ghailani é acusado de ter participado nos atentados contra as embaixadas americanas no Quénia e na Tanzânia em 1998, onde morreram 224 pessoas. É também acusado de ter sido guarda-costas de Bin Laden.

Ghailani foi detido em 2004 no Paquistão. Ficou dois anos numa prisão secreta da CIA, antes de ser enviado para Guantánamo.

Todo este secretismo à volta dos chamados prisioneiros terroristas cheira a esturro. E o esturro tem sido tão intenso, adensando ainda mais quando se deu a 26 de Novembro de 2008, 10 atentados sincronizados na cidade indiana de Mumbai (Bombaím), que atingiram hoteis de luxo, instituições financeiras, uma estação ferroviária.

Pelo menos 195 pessoas, incluindo 22 estrangeiros, foram mortos, e cerca de 327 pessoas ficaram feridas.

Entre cinquenta e sessenta terroristas teriam participado dos ataques. Foi uma operação militar bem conduzida.

Surgiu uma organização até então desconhecida, que se identificou como os 'Mujahidin do Decão', que reivindicou a responsabilidade dos atentados, através de um e-mail enviado a diversas empresas jornalísticas.


Cerca de um ano depois, a polícia indiana declarou que o ataque tinha sido coordenado por um cidadão norte-americano de none David Coleman Headley, que a CIA Recusou extraditar para julgamento considerando-o como pessoa da sua estrutura.


Veio a saber-se que Headley trabalhava em estreita ligação com os serviços secretos paquistaneses e a polícia federal norte-amaericana FBI e a polícia secreta CIA estavam a par.



Os serviços secretos norte-americanos receberam pelo menos cinco alertas sobre contactos com extremistas paquistaneses mantidos pelo norte-americano, cujo papel foi chave nos violentos ataques de novembro de 2008 em Mumbai, informou na altura o jornal The Washington Post.



Prossegue o jornal: apesar das advertências, repetidas durante um período de cerca de sete anos, (sublinhado meu) as autoridades norte-americanas não chegaram a interrogar o americano em questão, David Coleman Headley, nem o colocaram numa lista para ser vigiado, acrescenta o jornal,q ue cita uma investigação em andamento.

David Headley declarou-se em março passado culpado de terrorismo perante um tribunal de Chicago por seu papel na preparação dos atentados de Mumbai em 2008 e de uma tentativa de atacar o jornal que publicou os desenhos humorísticos do profeta Maomé na Dinamarca. O assunto é de "Estado" para os norte-americanos.


A matéria foi investigada pelo Washington Post em colaboração com a ProPublica, um grupo independente de jornalismo investigativo, que este ano revelou que uma das esposas de Headley alertou o FBI, em agosto de 2005, que o seu marido havia recebido treinamento intensivo com o grupo extremista Lashkar-e-Taiba, com base no Paquistão.

Também alertou que seu marido era "militante ativo" do grupo suspeito dos atentados de Mumbai. A CIA estava a par e controlava a iniciativa.



Quem está a fomentar o terrorismo no Mundo e com que objectivo? Uma realidade está patente:

A militarização e o fascismo internacional estão em ascensão à custa da propaganda em torno do terror. Até porque a crise está aí e as agitações populares podem descambar em revoluções.




NOAMI WOLF: ACUSAÇÂO SUECA É INSULTO A MULHERES VIOLADAS

J’Accuse: Suécia, Inglaterra e a Interpol insultam as vítimas de violação de todo o mundo

Por: Naomi Wolf*, via Grupo Beatrice. Publicado originalmente, em inglês, pelo Huffington Post

Como sei que o tratamento dado pela Interpol, Inglaterra e Suécia a Julian Assange é uma forma de fazer teatro? Porque sei o que acontece em acusações de violação contra homens que não “atrapalham” governos poderosos.

Julian Assange, o fundador da WikiLeaks esteve detido em isolamento na prisão de Wandsworth antes do interrogatório sobre acusações estatais de molestação sexual. Muita gente tem opiniões sobre as acusações. Mas cada vez mais acredito que só aqueles de entre nós que passaram anos trabalhando com sobreviventes de violação e agressão sexual por esse mundo afora e que conhecem a resposta legal padrão a acusações de crime sexuais, compreendem totalmente como esta situação é uma paródia contra aqueles que têm de conseguir viver com o modo como as acusações de crime sexual são vulgarmente tratadas – e como esta situação é um profundo e mesmo enojante insulto aos sobreviventes de violação e agressão sexual em todo o mundo.

O que quero dizer é isto: os homens praticamente nunca são tratados da maneira que Assange está a ser tratado face acusações de crimes sexuais.

Comecei a trabalhar como advogada num centro inglês de vítimas de violência sexual nos meados dos meus 20 anos. Também trabalhei como advogada num abrigo para mulheres vítimas de violência nos EUA, onde a violência sexual fazia muitas vezes parte dos padrões de abuso. Passei desde então duas décadas viajando pelo mundo fazendo relatos sobre sobreviventes de agressão sexual e entrevistando-as e aos seus advogados, em países tão diversos como Serra Leoa e Marrocos, Noruega e Holanda, Israel e Jordânia e os Territórios Ocupados da Palestina, Bósnia e Croácia, Inglaterra, Irlanda e Estados Unidos.

Digo isto na qualidade de pessoa que registrou relatos em primeira mão. Dezenas de milhares de meninas adolescentes foram raptadas sob a mira de armas e mantidas como escravas sexuais na Serra Leoa durante a guerra civil naquele país. Foram atadas a árvores e a estacas no solo e violadas por dúzias de soldados uma a uma. Muitas delas tinham apenas doze ou treze anos. Os seus violadores estão em liberdade.

Encontrei uma menina de quinze anos que arriscou a vida para fugir de seu captor no meio da noite, levando o bebê que resultou da sua violação por centenas de homens. Caminhou da Libéria até um campo de refugiados na Serra Leoa, descalça e perdendo sangue, vivendo de raízes no mato. O seu violador, cujo nome ela conhece, está em liberdade.

Generais a todos os níveis instigaram esta agressão sexual duma geração de meninas por todo o país. Os seus nomes são conhecidos. Estão em liberdade. Na Serra Leoa e no Congo, os violadores usaram muitas vezes objetos contundentes ou afiados para penetrar a vagina. Rasgões e lesões vaginais, chamados fístulas vaginais, proliferam, como qualquer trabalhador da saúde naquela região pode certificar, mas a assistência médica muitas vezes não está disponível. Portanto as mulheres que foram violadas deste modo frequentemente sofrem com corrimentos constantes e mal odorosos por infecções que podiam ser tratadas com um antibiótico de baixo custo – estivesse ele disponível. Por causa das suas lesões, são evitadas pelas comunidades e rejeitadas pelos maridos. Os violadores estão em liberdade.

Mulheres – e meninas – são drogadas, raptadas e traficadas às dezenas de milhares para a indústria sexual na Tailândia e pela Europa Oriental afora. São mantidas como prisioneiras virtuais por proxenetas. Se se entrevistar as mulheres que passam as suas vidas a tentar resgatá-las e reabilitá-las, elas atestam o fato de que esses raptores e violadores de mulheres são bem conhecidos das autoridades locais e até nacionais – mas esses homens nunca são alvo de acusações. Esses violadores estão em liberdade.

No conflito na Bósnia, a violação era arma de guerra. As mulheres foram presas em barracas utilizadas para esta finalidade e violadas, novamente sob a ponta da espingarda, durante semanas uma a uma. Elas não podiam fugir. Audiências minimalistas depois do conflito resultaram em sentenças de leve admoestação para um punhado de violadores. A vasta maioria dos violadores, cujos nomes são conhecidos, não sofreu acusações. Os militares que perdoaram esses ataques, cujos nomes são conhecidos, estão em liberdade.

As mulheres que testemunhem ter sido violadas na Arábia Saudita, na Síria e em Marrocos arriscam-se a ser presas e espancadas e a ser abandonadas pelas famílias. Os seus violadores quase nunca sofrem acusações e estão em liberdade.

As mulheres que são testemunhas em casos de violação na Índia e no Paquistão foram sujeitas a homicídios de honra e a ataques com ácidos. Os seus violadores quase nunca sofreram acusações, quase nunca são condenados. Eles estão em liberdade. Um caso bem conhecido dum playboy nascido em berço de ouro na Índia acusado de violar uma empregada de mesa violentamente – que estava disposta a testemunhar contra ele – resultou em encobrimento aos níveis mais altos da investigação policial. Ele está em liberdade.

E que tal alguns casos mais típicos, mais perto de nós? Nos países ocidentais como a Inglaterra e a Suécia, que estão se unindo para manter Assange sem fiança, se efetivamente se entrevistar mulheres que trabalhem em centros de emergência para casos de violação, ouvir-se-á isto: é incrivelmente difícil conseguir-se uma condenação por um crime sexual, ou mesmo uma audiência séria. Os trabalhadores em centros de emergência para casos de violação na Inglaterra e na Suécia dirão que há atrasos enormes no trabalho com mulheres violadas durante anos por pais ou padrastos – que não conseguem que se faça justiça. As mulheres violadas por grupos de homens jovens bêbados, atiradas da parte de trás dos carros para fora, ou abandonadas depois de violação em grupo num beco – que não conseguem que se faça justiça. As mulheres violadas por conhecidos não conseguem uma audiência séria.

Nos EUA ouvi falar em dúzias de mulheres jovens que foram drogadas e violadas em cidades universitárias pelo país fora. Há quase inevitavelmente um encobrimento pela universidade – que é garantido se os seus violadores forem atletas destacados na universidade ou abastados – e os seus violadores estão em liberdade. Se se chegar a inquérito policial, ele raramente vai muito longe.

Violação num encontro? Esqueça. Se uma mulher tiver bebido algo, ou se tiver tido anteriormente sexo consensual com o seu atacante, ou se houver ambiguidade sobre a questão do consentimento, ela quase nunca consegue uma audiência séria ou uma verdadeira investigação.

Se a rara mulher de classe média que apresente queixa de violação contra um estrangeiro de fato for tratada seriamente pelo sistema legal – porque inevitavelmente esses são os poucos e raros casos que o estado se dá ao trabalho de ouvir – ainda assim vai encontrar barreiras inevitáveis a qualquer espécie de verdadeira audiência para não dizer a uma verdadeira condenação: «falta de testemunhas» ou problemas com as provas, ou então um discurso de que até um ataque claro é atingido por ambiguidades.

Se, ainda mais raramente, um homem for, de fato, condenado, será quase inevitavelmente uma condenação mínima, insultuosa na sua trivialidade, porque ninguém quer «arruinar a vida» de um homem, muitas vezes um homem jovem, que «cometeu um erro». (As poucas exceções tendem a considerar uma disparidade previsível de raças – homens negros realmente chegam a ser condenados por ataques a mulheres brancas de classe média que eles desconhecem).

Por outras palavras: nunca em vinte e três anos de relatos e apoio a vítimas de violência sexual pelo mundo afora alguma vez eu ouvi falar de um caso dum homem procurado por duas nações e mantido preso em isolamento sem fiança antes de ser interrogado – para qualquer alegada violação, mesmo a mais brutal ou mais fácil de provar.

Quanto a um caso que implica o tipo de ambiguidades e complexidades das queixas dessas pretensas vítimas – sexo que começou consensualmente e que alegadamente se tornou não-consensual quando a discussão surgiu em volta dum preservativo – por favor, encontre em qualquer parte do mundo, outro homem hoje na prisão sem fiança por alguma acusação que se lhe compare.

Claro que «não é não», até depois do consentimento ser dado, quer se seja homem ou mulher; e claro que os preservativos devem sempre ser usados se houve acordo quanto a isso. Como diria o meu rapaz de 15 anos: dah!

Mas para todas as dezenas de milhares de mulheres que foram raptadas e violadas, violadas sob a mira duma arma, violadas em grupo, violadas com objetos afiados, espancadas e violadas, violadas enquanto crianças, violadas por conhecidos – que ainda estão à espera dum mínimo sussurro da justiça – a reação altamente excepcional da Suécia e da Inglaterra a esta situação é uma bofetada na cara.

Parece dizer às a mulheres na Inglaterra e na Suécia que se alguma vez se quiser que alguém leve o crime sexual a sério, se deve assegurar que o homem que acusa do mal por acaso também tenha embaraçado o governo mais poderoso da Terra.

Mantenham Assange na prisão sem fiança até ser interrogado, dê por onde der, se estivermos de repente numa verdadeira epifania mundial feminista sobre a gravidade da questão do crime sexual: mas a Interpol, a Inglaterra e a Suécia devem, se não querem ser culpadas de manipulação detestável para fins políticos cínicos duma questão grave das mulheres, prendam também – de imediato – as centenas de milhar de homens na Inglaterra, na Suécia e pelo mundo fora que são acusados em termos muito menos ambíguos por formas muito mais graves de violência.

Alguém que trabalhe no apoio a mulheres que foram violadas sabe que com esta resposta grosseiramente desproporcional a Inglaterra e a Suécia, seguramente sob pressão dos EUA, estão a usar cinicamente a questão séria da violação como uma folha de parreira para cobrir a questão vergonhosa do conluio global para silenciar a discordância.

Não é o Estado a abraçar o feminismo. É o Estado a afrontar, agredir o feminismo.


*Naomi Wolf é autora do êxito editorial «The End of America: Letter of Warning to a Young Patriot
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domingo, 26 de dezembro de 2010

APOIO SOCIAL:É DO DOMÍNIO DE ESTADO OU DE PRIVADOS?



Algo vai mal no País quando o Chefe de Estado se submete ao ditames económicos e políticos de uma confissão religiosa.

























A chamada solidariedade social não estatal tem sido um sorvedouro de dinheiros públicos, e consequentemente, uma "mealheiro" de dimensões enormes nas mãos de privados.




Para muita gente, estas palavras podem parecer de uma radicalidade estranha. Para essa mesma gente, tal afirmação, no imediato, é um sinal de "desfasamento" da realidade que se vive. O papel da solidariedade é essencial para evitar casos extremos de carências sociais, de travões às pobrezas, entre muitos outros argumentos.



Eu sei que existem muitas pessoas envolvidos no processo, que dão do seu melhor para modificar o estado do descalabro de muitas comunidades que sobrevivem, pois são servidas unicamente por essa rede chamada de solidariedade social.



Tudo é certo. A questão é a economia. Acima de tudo a economia política. Todas estas instituições são geridas, não como instrumentos de bem-estar público - embora, teoricamente, prestem um "serviço social" - mas como empresas que dão lucro. Claro, caro leitor, que é muito difícil verificar, de imediato, este argumento.



Mas pensemos, meditemos, façamos contas.



Em primeiro lugar, um ponto de ordem:






A organização social do bem-estar da população deve ser obra da própria comunidade, e, o Estado como estrutura político-económica desse comunidade de interesse, até porque, em último caso, é o responsável pela gestão do dinheiro que nos saca, com impostos, também tem e deve ser o responsável pela manutenção e consecussão desse bem-estar. Sem lucros, sem objectivos de apropriação privada de parte substancial do dinheiro que é dotado para as diferentes instituições ditas de solidariedade social privadas.

E eu quando estou a referir-me a instituições de solidariedade social privadas estou a referir-me, essencialmente, a praticamente todas que são controladas pela Igreja Católica em Portugal.



Comecemos com exemplos. Os lares, que, na sua maioria, são geridos ou pelas Misericórdias, Paróquias ou associações aparentemente laicas, mas que no vértice tem um homem da Igreja Católica.



Um lar social privado recebe, mensalmente, este ano, da segurança social estatal, com quem tem um contrato, cerca de 725 euros. É verdade, é este valor: Dá perfeitamente para pagar três refeições diárias (10 euros por cada utente), e toda a logística, incluindo os salários dos seus funcionários. Se multiplicarmos estes 725 euros por 50 utentes, teremos, todos os meses, um valor de 36.250 euros. Mas, como todos estamos a par: um utente paga, normal e em média, entre 400 a 500 euros. Ou seja entre 12.000 e 15.000 euros. Suponhamos que estes 12/15 mil euros vão para os pagamentos de honorários e despesas de manutenção.






Reparem quanto fica nos cofres da gestão privada da "irmandade"?



O Ministério do Trabalho e da Solidariedade Social e as instituições Comissão Nacional de Solidariedade (CNIS), União Mutualista Portuguesa e União das Misericórdias assinaram um contrato em que seria destinados do Orçamento de Estado para as IPSS - creches, jardins-escolas, lares, centros de dia, centros de apoio a deficientes - 1,3 mil milhões de euros, mais sete por cento do que em 2009. Tal qual.




(Um pequeno aparte, mas curioso: A CNIS representa quase 70% das instituições de solidariedade do país. É dirigida, directamente, por um hierarca da Igreja Católica, padre Lino Maia. E naturalmente, quer mais dinheiro do Estado....)



Ou seja, em média, 2.500 euros, se apontarmos os números referidos pelos dirigentes das IPSS: cerca de 600 mil, a sua grande maioria frquentadores apenas de centros de apoio.




Claro que todos estes utentes pagam as suas mensalidades - os utilizadores de creches e restantes necessidades consideradas como "extras". O valor mensal de uma creche "social" (sem acrescentos) fica-se entre os 200 e os 250 euros. Se fizermos as contas a cerca de 60 mil crianças que podem, eventualmente, frequentar essas creches tira-se que essas instituições sacam qualquer coisa, mensalmente, entre 12 a 15 milhoes de euros. Num ano entre 144 e 170 milhões de euros. Só em creches...



Quantos aos idosos, segundo a Carta Social de 2008, estariam registados em lares cerca de 50 mil. No que diz respeito aos lares sociais, pagam normalmente 80 por cento do seu salário/pensão.




Outra questão, mas interligada com a anterior...nos dinheiros.





Nos últimos dias, acendeu-se uma polémica em que volta a estar em questão a organização social do Estado. E mais uma vez é a Igreja Católica que mete lenha para a fogueira, querendo colocar em causa o poder laico estatal. Sempre a velha estória. Os religiosos a querem conduzir o destino do país. E os tratantes cúmplices dessa estratégia, situados no altos cargos do Estado laico, como é o caso do actual Chefe de Estado a meter o bedelho no assunto.

A Igreja Católica - aproveitando-se da crise fermentada pelos próceres do liberalismo que se diz socialista - tenta calvagar as velhas ilusões medievais e retrógradas de que a orientação societária é da sua lavra. Porque são solidários, porque estão próximos das pessoas, blá, bla´...



Falamos do ensino. Este, desde que o Estado moderno se sobrepôs ao obscurantismo religioso cristão da Idade Média, foi um sector formativo da sociedade, fora das barras da usura e da limitação religiosa. Para o Estado, o ensino é um assunto da comunidade, da sua organização social.

Antes do 25 de Abril de 1974, o ensino básico e secundário era, em maioria, dominado pela concepção religiosa subjacente à estrutura do Estado Novo. Embora o ensino básico,praticamente desde a I República, já fosse de assunção pública e gratuita, era regido, no entanto, na ideologia, regido pelos cânones da Igreja Católica.




Por seu turno, o ensino secundário, embora tivesse, desde os anos 50, um liceu em cada capital do distrito, fora desses centros estava - em maioria, e com o objectivo do lucro - nas mãos da Igreja Católica.




Com o 25 de Abril, foi dada uma nova orientação à concepção desse ensino, sendo que, com algumas rapidez, se foram estendendo os centros escolares públicos a zonas que antes estavam nas mãos de colégios privados, quase todos sob a alçada, directa ou indirectamente, a Igreja Católica.



Ao longo de décadas, apesar dessa orientação, que aliás ficou inscrita na Constituição da República de 1976, houve um compromisso da parte dos dirigentes do Estado de então: nos locais onde a oferta pública não tivesse chegado, aquele daria subsídios à continuação de privados.



Com o avanço do ensino público - e particularmente - com o progresso que é dar, gratuitamente, aos portugueses formação educacional cada vez por mais anos, é contraproducente e mesmo anti-consticuional manter escolas e colégios privados com dinheiros de impostos.



Quem quiser manter colégios privados e quer quiser colocar os seus filhos nos mesmos, tudo bem, que os paguem do seu bolso, sem recorrer ao dinheiro público.

Num Estado não confessional, os ensinos são diferenciáveis, no seu financiamento pelo Estado. Este não tem que se precaver e apoiar o ensino privado. Este é assunto de quem o deseja, e então tem de o suportar. Ponto final.

Mas, a Igreja Católica não se quer submeter aos ditames da organização social do Estado laico. Então deste os seus hierarcas, bispo, cardeal e arcebispos, até ao seus vassalos como o padre Querubim Silva, Presidente da APEC (Associação Portuguesa de Escolas Católicas) manifestaram-se, ruidosa e ameaçadoramente, contra o poder de Estado, argumentando que está de pé uma questão ideológica.






Pois claro que está: ideológica e de lucro. As escolas católicas são antros do catolicismo e mais nada. De ensino público, bico calado, não se podem pronunciar. Não é com eles. A religião, para o Estado, é um assunto privado.



Mais grave é que Cavaco Silva, como Presidente da República, utiliza a inauguração de um colégio católico, Pedro Arrupe, - nem sequer lá deveria ter ido como Chefe de Estado - e considere que os ensino públicos e privados estão no mesmo patamar. "É uma missão que pode e deve contar com as instituições privadas que desenvolvem a sua acção neste sector e que constituem, muitas delas, uma referência de qualidade no panorama do ensino, projectando-se no percurso de sucesso dos seus alunos.

Não podemos prescindir, bem pelo contrário, da competição que estabelecem entre si e com o sector público", referiu, sem pudor, Cavaco Silva, sabendo que, constituiconalmente, tal afirmação é de uma transgressão a toda a prova.




O que é estranho é que os candidatos PRESIDENCIAS ditos laicos e defensores da Constituição se mantenham calados perante tal discurso do Chefe de Estado.

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

CHEIRA A ESTURRO A CRIAÇÃO DE UM HOSPITAL ÚNICO MILITAR











Um hospital que está envolto na polémica, não na saúde, mas nos negócios.





De repente, saltou para a ribalta a questão da existência de um Hospital Militar único, de raiz, para as Forças Armadas.

Não percebi, até agora, a razão desta pressa.
Qual a necessidade de um hospital público ultra-moderno e ultra-sofisticado para as Forças Armadas, que tem uma utilização máxima que não ultrapassa o do mero estabelecimento hospitalar regional?

Inquiri. Verifiquei numa primeira abordagem, que os mais interessados neste Hospital eram os actuais responsáveis castrenses, precisamente, os Chefes dos Estados-Maiores das Forças Armadas e do Exército, que são generais daquele ramo.
E que o governo mantinha um interesse "especial" em fazer sair o da Força Aérea do Lumiar, por razões "económicas". Ou seja, apresentar factura de receita à custa de venda de instalações militares.
Os dois restantes, Exército (Estrela) e Marinha (Santa Clara) estão situados em edifícios históricos, logo pouco "rentáveis".


Informei-me sobre a quantidade de utentes nos diferentes estabelecimentos hospitalares castrenses.

O número total de possíveis utentes militares no país rondará os 100 mil, que estão dispersos e podem socorrer-se de um dos hospitais distritais mais próximos para os casos considerados "normais" e "mais em cima do acontecimento".

A região do Porto contará com cerca de 10 mil utentes e da de Lisboa 40 mil "no máximo".

Será que nos próximos 10/20 anos, os números de alistados e pessoal de carreira nas Forças Armadas irão crescer exponencialmente? Não, responderam-me.
Admitiram até que, face a toda a mudança de especialização e ultra-sofisticação tecnológica os valores de recrutamentos/voluntários possa a diminuir de "maneira significativa". E mais, dentro de 25 anos, a UE, se quiser vingar, terá de ter umas Forças Armadas únicas em estado adiantdo de formação.

De repente, pergunta atrás de pergunta, e começa a fazer-se luz.

O hospital, a ser construído custará aos cofres do Estado perto de 100 milhões de euros e o local onde está instalado o mais moderno, o da Força Aérea, o único que "dá rendimento" do governo está situado numa zona "nobre" para construção, com mais de 10 hectares de área, a "preços certamente muito convidativos para a especulação", nas palavras de uma alta patente castrense.

Na realidade, uma unidade militar de envergadura, para servir as Forças Armadas, poderá ficar adstrita, ou em conjugação com um hospital publicamente, relativamente bem apetrechado, sendo que os médicos militares até poderiam servir, em certa medida, a população civil, se houver organização, planeamento e boa-vontade.

A questão do HMU cheira a esturro e a negociatas pelo meio: em envolvimento político-castrense.

É melhor pedir, desde já responsabilidades.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

WIKILEAKS/EUA: A MENTALIDADE DE ASSASSINOS PSICOPATAS

1 - A divulgação, ainda que filtrada e controlada das mensagens do circuito diplomático do Departamento de Estado norte-americano pelo site Wikileaks, veio mostrar, pelas reacções, como a estrutura de poder (económico, político e militar) nos Estados Unidos - e em todos os modelos de regimes congéneres mundiais - se interliga, interage e actua em sintonia.


As tretas e balelas da grande democracia norte-americana não passam exactamente disso: são balelas.


O poder de Estado norte-americano é capitalista, com um estatuto imperial, que ele pensa ser intocável e, sendo assim, como qualquer vulgar império, arroga-se no direito de pôr em marcha uma máquina opressora para trucidar todos os que lhe opõe.


Isto é fascismo - o fascismo não é apenas o poder despótico unipartidário, é o poder despótico estatal, mesmo reinando numa democracia pluripartidária , que gira entre dois partidos que são duas faces da mesma moeda, - substituem-se rotineiramente - como representantes directos do capital financeiro dominante.


Curiosamente, ainda que as mensagens fossem apenas diplomáticas, logo do foro político, as medidas mais opressoras e ferozmente drásticas vieram do poder económico.



Primeiro, a empresa Amazon se recusou a hospedar o site nos seus servidores. Depois os financiamento do WikiLeaks afectados pelo encerramento da sua conta no PayPal , e posteriormente, a interrupção do contrato pelas operadoras bancárias de cartão de crédito Visa e Mastercard. Seguidamente, alguns bancos suíços e agora do próprio Bank of América.


Agora, o poder político norte-americano procura utilizar a sua justiça para cercear a liberdade de informação. Estudam argumentos, cozinham leis, debaixo da vaga artimanha dos ditadores que esgrimam com "o interesse nacional" e a "segurança de Estado" para legitimar crimes contra povos, nacões e pessoas.


A secratária de Estado da Administração Obama,Hillary Clinton, vocifera e faz propaganda de que a divulgação lesa os "interesses da política internacional norte-americana, enquanto o Senado congemina uma lei para castrar a imprensa, de modo a cercear sites como o WikiLeaks .


Um senador judeu, cão de fila dos interesses financeiros judaico-norte-americanos, chamado Joe
Joe Lieberman, tem sido dos mais agressivos nos ataques ao Wikileaks, sustentando que o Estado deve processar Assange, o porta-voz do site, por espionagem e chegou a acusá-lo do crime de “traição” – algo descabido já que o editor do WikiLeaks é australiano.


Mas não são apenas os políticos a actuar. Existe uma convergência com os propagadistas encavalitados na imprensa ligada ao caoital financeiro, como é o caso da FOX News.


Vejamos. Bob Beckel, comentador da Fox News, não se coibiu de dizer em directo o que pensa ser a solução para acabar "com os problemas" que Julian Assange tem causado aos EUA e incentiva que as Forças Especiais matem ilegalmente o australiano.


«A maneira de lidar com isto nos EUA é muito simples. Temos Forças Especiais. Um homem morto não pode revelar fugas de informação. Este homem é um traidor e quebrou todas as leis dos EUA. Eu não sou a favor da pena de morte, por isso a única forma de o fazer é matar ilegalmente o filho da mãe», sublinhou.


Os EUA procuram utilizar ainda a sua influência imperial, em particular a vassalagem dos poderes instituidos nas democracias ocidentais para limitar a própria liberdade pessoal desse porta-voz.


Neste caso, foi a Suécia que se prontificou ao "jogo sujo", debaixo de um processo judicial.


Acusam Assange de ter violado duas suecas. As "investigações" até já foram tornadas públicas pelas próprias autoridades judicias suecas.


Pelo que a imprensa relata parece uma estória da carochinha.


Assange encontrou-se com duas suecas, em dias distintos, que o levaram para as suas casas, onde mantiveram relações sexuais.


Do que se retira dos despachos, o relacionamento com as suecas realmente começou de forma "amigável". Mas, ter-se-ia tornado violento quando elas se negaram a fazer sexo sem preservativo.


O documento, extenso e repleto de interrogatórios, é uma tentativa de restringir a defesa de Assange, que esteve preso e foi posto em liberdade condicional, com avultada fiança. O australiano alega que tudo não passa de uma artimanha de última hora teleguiada pelos EUA.


Também se retira das informações da imprensa, que as suecas, depois dos encontros sexuais, onde teriam sido violadas, continuaram "numa boa" com o australiano.


Só decidiram fazer queixa a polícia após uma delas ter sabido que a outra, que era sua conhecida, estivera na cama com Assange.


Nos autos, elas são identificadas apenas como "A" e "W". "A" tem 30 anos e é apresentada como uma activista da esquerda na Suécia. "W", 25, trabalhou no Museu de Estocolmo e é apresentada, no relatório judicial, como "grande apoiante" do WikiLeaks.


São vários os órgãos de informação que relacionam a mesma velha, de origem cubana, como tendo ligações à CIA e aos grupos anti-castristas da Florida.

2 - Ao entregar as mensagems aos grandes jornais ligados ao capital financeiro, de diferentes países, o Wikileaks fez uma jogada que ainda não se sabe toda a dimensão. Esses jornais "estruturaram" parte da sua divulgação com a própria Secretaria de Estado norte-americana. Sujeitaram-se, portanto, a uma espécie de censura. Em princípio, é pouco ético o que essa imprensa praticou.

Espera-se os resultados finais, pois há muitos "espaços de sombra" nesta manobra.

sábado, 18 de dezembro de 2010

DROGA: QUEM A CONTROLA É O CAPITAL FINANCEIRO





Thaçi é um democrata, com os mesmos valores de Bush e do Conselho da Europa.
















Um relatório do Conselho da Europa, divulgado na semana passada, tornava público, o que já era público, e as autoridades dos Estados Unidos e da União Europeia tentaram desmentir ao longo destes anos: Hashim Thaçi, primeiro-ministro de Kosovo, é um chefe mafioso, produto, único e exclusivo, da engrenagem política mafiosa de Washington e de Bruxelas.


Thaçi foi o chefe militar no terreno, de milícias criminosas e fascistas, da intervenção aérea da NATO, forçada e impulsionada pelos EUA, contra aquele território, visando o desmembramento total da antiga Jugoslávia e, acima de tudo e principalmente, o controlo efectivo pela mesma NATO (ou seja os norte-americanos) daquele parte territorial da Sérvia.

Quando a NATO/EUA planeava a intervenção armada na antiga Jugoslávia, com a conivência efectiva do Vaticano e da Alemanha (convém não esquercer que os primeiros acontecimentos na antiga Jugoslávia começaram pela Croácia, que esteve ligada ao antigo Sacro Império Alemão!), surgiu, em 1997, Thaçi, como um dos chamados comandantes do Exército de Libertação do Kosovo, exército este que era uma milícia armada e dinanciada pela CIA e pelos serviços secretos ocidentais anglo-saxónicos.

Relatórios de várias entidades europeias, elaborados já no tempo da guerra (1999) retratavam Thaçi como um chefe mafioso à frente de um grupo envolvido em assassínios, tráfico de orgãos e de drogas. ( O senador judeu norte-americano Joe Libermann, membro destacado e influente da AIPAC, antigo candidato à vice-Presidência daquele país afirmou o seguinte: "Os EStados Unidos e o Exército de Libertação do Kosovo lutam pelos mesmo valores e princípios -...-a luta do UÇK é a luta pelos direitos humanos e os valores norte-americanos)

O caso tornou-se tão evidente que a antiga Procuradora do chamado Tribunakl Internacional (TPI), que tentava a todo custo envolver apenas personalidades e dirigentes sérvios, teve de dar a mão à palmatória e denunciar o envolvimento de Thaçi no tráfico de orgãos foi Carla Del Ponte.

Em 2008, a antiga procuradora do TPI para a ex-Jugoslávia publicou no livro “La Caccia” (A Caça) que, depois da guerra, o UCK raptou 300 sérvios do Kosovo e transportou-os para a aldeia de Gurre, na Albânia.

Terão sido tirados, então, os orgãos antes da execução dos prisioneiros. Os orgãos iam depois para o estrangeiro pelo aeroporto de Rinas.

A Human Rights Watch enviou uma carta ao primeiro-ministro Thaçi, em 2008, a solicitar-lhe a abetura de um inquérito, devido à gravidade dos factos denunciados por Carla Del Ponte.

A ministra da Justiça de Thaçi, Nekuibe Kelmendi, rejeitou as alegações, e afirmou que eram “fabricadas”.

Desde então Kosovo (e por extensão a Albânia, que se tornou, na prática um protectorado norte-americano na Europa) foi referenciado em crescendo com um dos maiores centros de passagem, praticamente, impune de drogas do Afeganistão e do Oriente para a Europa e Estados Unidos. Mas não só um centro de tráfico humano, como a prostituição para as mesmas regiões.




Ora, tal facto, desligado dos outros grandes centros de produção e passagem de droga, nada teria de especial. Seria, isso mesmo, um caso isolado apenas. Todavia, se analisarmos e seguirmos o rasto do dinheiro e da "corrente material" que o impulsiona e sustenta como potência dominante, teremos de reconhecer que os Estados Unidos aparecem sempre, mas sempre, ligados ao seu controlo nos mais diferentes aspectos a começar pelo próprio aparato militar (de ocupação e distribuição), passando pela rede de distribuição e acabando na importância do mercado e do seu sistema financeiro.


A) Comecemos pela cocaína.


Baseamo-nos dos dados do Departamento da Droga e do Crime das Nações Unidas (UNODC), relatório de 2010.


Segundo o documento, m 2009, a Colômbia cultivou, aproxidamente, 43 % da produção mundial, seguido do Perú com 38%. (ou seja mais de 80 por cento do total mundial!)

Continuamos a seguir o relatório, estima-se que o valor do mercado de cocaína a nível mundial seja da ordem dos 88 mil milhões dólares (os cásculos oscilam entre os 80 mil e os 100 mil milhões de dólares norte-americanos).

O controlo da produção de cocaína na Colômbia e no Perú está nas mãos dos militares (que utilizam, naturalmente, os traficantes "civis" na sua distribução). Mas quem controla, na realidade, os Exércitos desses países: os destacamentos castrenses e paramilitares dos EUA (por terra, mar e ar, incluindo os sofisticados métodos tecnológicos de satélites, que tudo vêem nas movimentações na selva!!!).

B) Sigamos agora o ópio.

Relatório: a produção da maior parte dos opiácios ilícitos do mundo têm lugar no Afeganistão (6.900 toneladas métrias de ópio, a que corresponde cerca de 89% da produção mundial em 2009), e também se produzem quantidades importantes em Myanmar (300 toneladas métricas, México é o terceiro produtor mundial de ópio, com um volume, em 2008, (325 toneladas) semelhante ao de Myanmar em 2009.

Em 2008, os preços oscilavam desde valores abaixo dos três mil dólares norte-americamos por Kg no Afeganistão, a entre 10.300 e 11.800 dólares por Kg na Turquia, a um préço médio de 44.300 dólares por kg na Europa (tida como a área de maior consumo no mundo). Faça-se então as contas.

Quem controla o Afeganistão? O Exército de ocupação dos EUA (castrense e paramilitar) e os seus aliados. Sem o seu consentimento não existe tráfico de droga.

(Antes da guerra entre a URSS e o Afeganistão (1979-1989), a produção de ópio era quase nula no Afeganistão, bem como, aliás, no Paquistão. No início de 1979, as operações clandestinas da CIA estimularam a sua produção (financiando as actividades da guerrilha islâmica, como a Al Kaeda, treinada e controlada por aquela, sobretudo junto à fronteira entre o Paquistão e o Afeganistão, tornando-se, então, a primeira fonte primária mundial de heroína, que veio a fornecer 60% do consumo norte-americano, que depois se expandiu para a Europa).

Com a chegada ao poder dos talibãs, a produção de ópio tinha caido 90% em 2001. Esta proibição desencadeou uma penúria acentuada no mercado europeu e norte-americano) .

C) México

Nos últimos meses, no México, em especial no Estado de Chihuahua, que faz fronteiras com os norte-americanos Texas e Novo México, tem havido um intenso ajustes de contas, incluindo com a polícia e o Exército, cujo objectivo central é o controlo efectivo da rede de distribuição para os EUA. (No México, como nos Estados Unidos é do conhecimento público que as autoridades políticas e policiais, pelo menos da regiões fronteiriças estão altamente comprometidas com a traficância de droga).

A questão, segundo um homem avisado como o antigo Secretário de Estado norte-americano George Shultz, em declarações a Mary Anastasia O'Grady, colunista do Wall Street Journal, "é preciso se preocupar com o que está acontecendo com o México, e é preciso perceber que o dinheiro que financia tudo isso vem dos Estados Unidos."


Ou seja, por detrás da lamentação de um antigo responsável pelo sucedido nos últimos tempos, Shultz, está a referir e a revelar que "o dinheiro que financia" pode levar os detentores do Capital (naturalmente o capital dominante, o financeiro especulativo, a levar o seu poder de Estado a empreender guerras, ocupações, controlo de rotas terrestres, marítimas e aéreas para "manter o seu mercado a funcionar".


A confissão, aliás, veio com a recente crise financeira mundial e o seu "relator" é, precisamente, o responsável do UNODC, o italiano Antonio Costa.

Retiro as suas declarações do jornal inglês, Daily Mail, de Janeiro deste ano.



"Ao debaterem-se com um severo abalo financeiro, os bancos absorveram milhares de milhões de dólares de dinheiro de drogas", refere António Maria Costa, director do Departamento das Nações Unidas sobre Drogas e Crime [UNODC na sigla em inglês].

"Costa disse ao Observer que o dinheiro de drogas "salvou os bancos do colapso" no auge da crise financeira global, informou o Daily Mail.

O director do UNODC disse que havia sinais de alguns bancos terem sido resgatados por milhares de milhões de dólares que "tinham origem no comércio de drogas e noutras actividades ilegais".

Falando do seu escritório em Viena, Costa referiu-se ao problema enfrentado por muitos bancos na segunda metade de 2008, ao verem-se incapazes de fazer empréstimos mútuos.

"O sistema estava basicamente paralisado devido à indisponibilidade dos bancos para emprestar dinheiro uns aos outros," disse ao jornal.

Os analistas sustentam que na sequência do colapso do banco de investimentos Lehman Brothers em Setembro de 2008, o sistema de mercado interbancário ficou também paralisado e deixou de conseguir manter o fluxo constante de liquidez para os bancos.

Isto, afirmam, abriu caminho para os bancos absorverem dinheiro de drogas, que veio em salvação de alguns deles.

Costa assinalou a existência de indícios sustentando a ideia de que os rendimentos do crime organizado eram o "único investimento de capital líquido" disponível para alguns bancos que no ano passado estavam à beira do colapso.

As Nações Unidas estimam que os barões e os cartéis internacionais da droga encaixam anualmente mais de 300 mil milhões de dólares.


E naturalmente, os seus representantes políticos e económicos, acrescentou eu..