quinta-feira, 21 de agosto de 2014

A OESTE NADA DE NOVO: UM MÊS DEPOIS DE ABATE DE AVIÃO MALAIO

1 - Já passou um mês desde que um avião civil da empresa Malaysia Airlines foi abatido quando sobrevoava uma zona insegura, zona de guerra, no leste da Ucrânia, sob a supervisão de controladores aéreos estatais daquele país.

Até agora, não existe um relato de imprensa sequer de que tenha sido feito um relatório independente, principalmente por parte do Conselho de Segurança da ONU.

Logo após a queda provocada do avião, quer as autoridades de Kiev, que os principais países ditos ocidentais - EUA, Inglaterra e França - lançaram acusações incendiárias, cujas caixas de ressonância, ampliadas e, aparentemente, não confirmadas, e mesmo deformadas, são os grandes meios de comunicação social ligados a Wall Street, com os grupos Fox, CNN, ABC, CBS e NBC, com ligações directas à Europa, Austrália, Coreia do Sul, Japão e América do Sul, entre outros territórios.

Como um único eixo propagandístico noticioso e apontado, de imediato, está virado para que a proveniência seja um alvo já estipulado: a Rússia.

Até poderia ter sido, mas o principal no jornalismo ético é a confirmação de várias fontes, se possível não concordantes.

Mas, não foi assim: sem qualquer dado objectivo, além da queda do avião, foi direccionada a culpabilidade do seu abate, primeiro, directamente para a Rússia, depois, apenas para os milicianos separatistas que actuam no leste ucraniano, e que pretendem uma ligação política com a Federação Russa.

Vamos aos factos e às campanhas de informação e contra informação que chegaram.

Aceites a maior parte das vezes, acriticamente, em maioria, pelos defensores da política expansionista norte-americana, mas também, por meras razões política-ideológicas, por críticos da política norte-americana, cujo elo interno na Ucrânia, é o actual governo, ilegal e não eleito, sediado em Kiev. 


O Exército ucraniano actua, na frente leste, com equipamento pesado

(Apenas existiu até agora uma eleição para a Presidência da República, após o derrube do anterior Chefe de Estado, através de um golpe de Estado. Ou seja, toda a estrutura estatal está em mãos de partidos pró-nazis, ditatoriais, ou, assumidamente nazis.
O partido Svoboda, que forma as principais milícias armadas de suporte ao regime de Kiev, é abertamente nazista, tem vários membros no governo e 37 deputados no Parlamento local, a RADA - sem eleição. O seu Presidente, Oleg Tyahybok, propôs à Alemanha que o ucraniano John Demjajuk, um dos responsáveis de campos de extermínio durante a II Grande Guerra, fosse declarado "herói nacional". A ligação daquele partido ao chamado "grupo de direita", com grande influência no governo e no exército, de onde foi escolhido o primeiro-ministro em funções é Arseniy Yatsenyuk, ali colocado pelos Estados Unidos, é, justamente, o vice-Presidente do Svoboda, Yuly Mykhalchyshyn, que se auto-intitula *nacional-socialista*).


milícias nazis na Ucrânia

A primeira realidade. A 17 de Julho passado, um avião da empresa Malaysia Airlines, o voo MH17, foi abatido quando atravessava uma zona de guerra na leste da Ucrânia, aparentemente sob a orientação dos controladores aéreos estatais ucranianos. Morreram 298 pessoas.

A segunda realidade. De acordo com as versões de fontes divergentes, Estados Unidos, Rússia, Ucrânia e russos do leste deste último país, em fase de luta separatista, o avião caiu, em fragmentação, numa área que estaria sob a tutela dos milicianos pró-separatistas.

A terceira realidade. Havia, no entanto, combates na região entre as forças ucranianas e aqueles milicianos.

2 - As minhas objecções e dúvidas. 

Porque havia ataques da aviação de caça ucraniana, nessa mesma região, admiti, numa primeira impressão, que fosse um simples míssil terra-ar que tivesse provocado a queda do avião civil.

Considerei então. Foi justamente um míssil tipo Strella, idêntico ou melhorado aos que abateram os Fiat g-91 na Guiné Bissau, em 1972 e 73. 

(A guerrilha guineense já enquadrava nas suas fileiras desde finais de 1969 em ataques contra as tropas portuguesas os foguetões Katiusha de 120 mm, que começou a utilizar, por todo o território guineense em 1970).

Míssil este de que se começou a falar que o PAIGC os possuía ou iria possuir em breve.

Corria o ano de 1971 e estava eu ainda no Território Operacional da Guiné-Bissau.

E a minha congeminação, levou-me, de imediato, a perguntar: quem orienta um avião civil de grande porte, carregado de passageiros, numa zona de guerra, a baixa altitude, estará bom da cabeça ? 

Ou são inconscientes os controladores aéreos ou quiseram provocar o incidente, pensei para comigo.

A quarta realidade. O avião malaio voava a cerca de 11 mil metros de altitude. 

Logo, pensei, não poderia ser atingido por um míssil portátil estilo Strella ou similar que não tinha esse alcance. 

O que me levou a conjecturar que, ou foi abatido a partir de terra, através de um sistema mais sofisticado de mísseis, o que já exigia a utilização de radares, ou atingido, no ar, por um avião militar (míssil ou peça de artilharia).

No dia 23 daquele mês, a agência de imprensa norte-americana Associated Press, emitiu um despacho, baseado em informações de "altos responsáveis" dos serviços secretos de Washington, que fizeram questão de "permanecerem anónimos" de que "não havia provas directas" do envolvimento da Rússia no derrube do avião civil.

Aqueles responsáveis opinavam, no entanto, que a Rússia teria "criado as condições para o derrube do avião, admitindo, embora "provavelmente" que o mesmo fora atingido por um míssil terra-ar SA-11.

Acrescentaram para justificar esta probabilidade, a "análise de comunicações interceptadas, um vídeo, fotos de satélites e divulgações da acção por parte dos separatistas em redes sociais".

No entanto, na altura, a administração Obama - e os legisladores - acusavam, directamente, a Rússia de ter intervido directamente na queda da aeronave malaia.

Ora, a Rússia tem, realmente, ao seu serviço mísseis SA-11, instalados em sistemas de defesa anti-aérea, denominado BUK, que podem alcançar alvos até cerca de 22 mil metros, portanto mais do dobro da altura a que seguia a aeronave.



sistema BUK russo

Os sistemas BUK são móveis, colocados em veículos, e podem atingir, além de aviões militares, helicópteros, misseis de cruzeiros, drones e outros alvos.

No entanto, este sistema é complexo: são necessários pelo menos três grandes camiões - um para PC (posto de comando), outro para transportar o conjunto de radares e o terceiro para servir de suporte disparador dos mísseis.

A complexidade aumenta porque exige para a sua operacionalidade uma grande quantidade de homens e estes têm de estar, perfeitamente, treinados para serem capazes de realizarem uma tal missão, além de um suporte logístico de manutenção também sofisticado.

A Rússia possui tal sistema de mísseis, mas a Ucrânia também.




sistema BUK ucraniano

Segundo a revista inglesa Jane, a Ucrânia possuía, até entrar em conflito com os separatistas russos, seis a oito sistemas operacionais, cada um com quatro mísseis.

Baseando-nos nas informações dos responsáveis norte-americanos dos serviços secretos, citados pela AP, a acusação provável de abate do avião por parte dos separatistas tinha como justificação uma utilização de satélites, de que não referiam o país de origem, o que significava, factualmente, que os Estados Unidos estavam no local a "vigiar" e possivelmente a orientar tropas em terra.

Ou seja, quer os russos, quer os norte-americanos, sabem perfeitamente o que sucedeu, pois utilizam AWACS, drones, satélites e outros meios de transporte aéreo para rastrearem o que sucede em terra naquela zona em guerra. 

Ora, quando surge a acusação peremptória de Washington de que os autores dos disparos foram os russos, estes ripostaram no dia 21 de Julho, através do responsável do Centro Operacional do Comando Chefe das Forças Armadas da Rússia, tenente-general Andrei Kartopolov, que sublinhou que os seus serviços de vigilância detectaram um caça SU-25 ucraniano que seguia o avião de passageiros.

Citamos as afirmações do general russo, que se dirigiu especificamente ao governo norte-americano para que mostrasse as fotos tiradas por um satélite daquele país que estaria no local no momento do abate.

"Gostaríamos que houvesse uma explicação para a presença do jacto militar, que voava num corredor da aviação civil, quase ao mesmo tempo e ao mesmo nível do avião de passageiros", referiu o militar. 

"O caça SU-25 pode atingir uma altitude de 10 Km, de acordo com a sua especificação. Ele estava equipado com mísseis ar-ar R-60, que podem atingir um alvo até 12 Km, e, certamente, ainda com mais precisão a 5 Km", sublinhou. 

E acrescentou que a presença do jacto militar ucraniano pode ser confirmado através de uma filmagem de vídeo feita pelo centro de controlo de Rostov.


No momento do acidente MH17, um satélite norte-americano estava voando sobre a área do leste da Ucrânia, segundo o Ministério da Defesa da Rússia. 



O general russo solicitou a Washington para publicar as fotos do espaço e os dados retidos por ele.
E a sua acusação foi mais longe: o MH17 caiu no interior de uma zona operacional, onde estavam instalados sistemas ucranianos de mísseis de médio alcance terra-ar BUK.

"Temos imagens tiradas do espaço de certos lugares onde a defesa anti-aérea da Ucrânia estava a actuar no sudeste do país", concluiu. 

O general distribuiu algumas dessas imagens.

Da parte norte-americana, até agora, nunca foram divulgadas imagens tiradas pelos seus aviões ou satélites.

3 - Dentro da própria América, começaram a surgir vozes, pondo em causa a versão oficial do governo de Barack Obama.

Uma delas é o próprio ex-candidato presidencial do Partido Republicano e antigo legislador Ron Paul que, segundo o jornal Huffington Post, de 8 de Agosto, sustenta que os EUA *provavelmente estão a esconder a verdade* sobre o abate do MH17.

Segundo Paul, a maior parte da informação detida pelo governo do seu país não está a ser transmitida aos norte-americanos.



O antigo legislador é categórico: os EUA, com toda a gama de capacidade de recolha de informações, devem ter uma ideia clara do que aconteceu a 17 de Julho.

O antigo candidato presidencial refere as contradições entre as afirmações categóricas da Casa Branca e as precauções dos serviços secretos.

"O governo dos EUA tem lançado a ideia de que foi a Rússia ou os seus aliados que derrubaram o avião da Malásia, com um vulgar míssil anti-aéreo", sublinhou, acrescentando; "mas o pouco que temos ouvido dos serviços secretos é que eles não têm provas de que a Rússia esteja envolvida. Ainda assim a propaganda de guerra teve sucesso ao convencer o público norte-americano de tudo era culpa da Rússia".

4 - A questão é que os dirigentes da União Europeia (UE) se colocaram de cócoras perante a pressão do sistema económico-financeiro-militar norte-americano. 

E este caminho não serve a unidade europeia, nem o seu incremento, nem a cooperação harmónica no interior da Europa (as posições de diferentes classes laboriosas e mesmo capitalistas e inclusive de governos divergem e combatem-se face ao papel que deve se desempenhado por essa mesma Europa numa aproximação programada com a Rússia), nem o investimento na economia desenvolvimentista, nem a sua cimentação política.

Os EUA não são aliados da unidade europeia, são um Estado imperial nazi em decadência, que pretende continuar o seu caminho de superpotência desagregando a UE e fazendo-a cair numa guerra fratricida.

A questão central da UE é de economia política, de busca de um caminho independente, de corte radical com o militarismo agressivo norte-americano.

(A NATO é, neste momento, o instrumento único desse militarismo).

Não concordando com as posições ideológicas do seu autor, mas porque ele representa, certamente, o pensamento de um sector importante da burguesia alemã, termino este meu texto, com citações do editor-chefe do mais importante jornal diário económico alemão, Gabor Steingart. O periódico chama-se "Handelsblatt".

O título do seu artigo de 8 de Agosto é o seguinte: "O Ocidente no caminho errado".

"Tendo em vista os acontecimentos na Ucrânia, o governo (de Merkell) e vários meios de comunicação (do seu país.NM) têm mudado de posição, da moderação para a agitação. O leque de opiniões (moderadas) foi-se reduzindo, à medida que se entra no alastramento do conflito. A política de escalada de confronto não tem um objectivo realista - e prejudica os interesses alemães", assim sintetiza o responsável do jornal o seu artigo.

Começa deste modo o seu artigo: "Qualquer guerra é acompanhada por uma espécie de mobilização mental. Até mesmo as pessoas inteligentes não ficam imunes ao irracionalismo desta febre.

*Esta guerra ainda é uma coisa grande e maravilhosa. É uma experiência mesmo quando milhares caiam mortos nos campos da batalha. Vale a pena regozijar-se com tais factos*. Assim escrevia Max Weber em 1914, quando as atrocidades se abatiam sobre a Europa.
Thomas Mann sentiu "uma purificação, uma libertação e uma imensa esperança". 93 Pintores, escritores e cientistas escreveram, em manifesto com titulado"Apelo ao Mundo Civilizado".

"Max Liebermann, Gerard Hauptmann, Max Planck e Wilhelm Rongten encorajaram os seus compatriotas a envolver-se na crueldade. *Sem militarismo alemão, a cultura alemã teria sido varrida da face da terra há muito tempo. As forças armadas e os alemães são um único corpo. Essa consciência faz com que 70 milhões de alemães estejam irmanados, sem prejuízo de educação, status ou partido".

E, prossegue o seu raciocínio: "Interrompemos a nossa própria linha de pensamento. *A História não se repete*. Mas poderemos afirmá-lo, com tanta certeza, nos dias de hoje?

Os líderes ocidentais apenas vêem na frente dos seus olhos os acontecimentos militares na Crimeia e no leste da Ucrânia. Os chefes de Estado e de governo do Ocidente, de repente, deixaram de fazer perguntas e dizem ter todas as respostas. No Congresso dos Estados Unidos, discute-se, abertamente, a hipótese de armar a Ucrânia. O ex-conselheiro de segurança (dos EUA) Zbigniew Brzezinnski (estrategista judeu importante no lobby de Wall Street. NM) recomenda que se armem os naturais da Ucrânia para os combates casa a casa e de rua. A chanceler alemã, como é seu hábito, fica-se pelas meias-tintas, mas não é menos sinistra. *Estamos prontos para tomar medidas severas*.

O jornalismo alemão mudou, repentinamente, em questão de semanas, passou da moderação para a excitação. O leque das opiniões afunilou-se para um campo de visão de um atirador furtivo.

Nos jornais debatiam-se em torno de pensamentos e ideias, mas colocaram-se todos em fila cerrada, tal como os políticos, solicitando pedidos de sanções contra o Presidente Putin.

Mesmo as manchetes reproduzem essa agressividade, características de claques de vândalos do futebol em apoio de olhos fechados às respectivas equipas que apoiam. 



O Tagessiegel: *Basta de conversa*, o Frankfurter Allgemeine Zeitung: *Mostra a força*, o Suddeustsche Zeitung: *Agora ou nunca*. O Spiegel enche o peito: *fim à cobardia* na *teia de mentiras, propaganda e decepção sobre o engano que Putin expôs. Os destroços do MH 17 são também os destroços da diplomacia". 

A sintonia entre a política ocidental e os grandes meios de comunicação é total.

O articulista lança depois os seus argumentos: "O somatório de acusações e reflexões lançadas em tão curto espaço de tempo com alegações e contra-alegações surgem tão emaranhadas que os factos se tornam completamente obscurecidos.

Quem enganou quem em primeira mão?

Tudo começou com a invasão russa da Crimeia ou o Ocidente, primeiramente, provocou a destabilização propositada da Ucrânia?

A Rússia quer expandir-se para o Ocidente ou é a NATO que pretende dominar para Oriente?

Ou então, uma terceira via, como hipótese, as duas potências mundiais estiveram reunidas à noite à `porta da mesma casa`, orientadas com intenções de acção muito semelhantes e através de terceiros, parceiros indefesos, lançaram o caos para conduzir a uma situação de pré-guerra civil?

Depois de discorrer que, na sua opinião, é uma inutilidade, neste momento, determinar a culpabilidade do início da crise, o articulista sustenta que se deve entrar na via do "realismo" e constatar o que está, realmente, na prioridade da política europeia para superar o desentendimento.

Para Gabor Steingart, para a Europa uma política de incremento das tensões é prejudicial, por um lado, para a sua economia, por outro, para a política.

"A situação - elucida - é muito diferente para os Estados Unidos. Ameaças e poses fazem parte dos seus preparativos eleitorais. Quando Hillary Clinton compara Putin a Hitler, ela somente faz esta declaração para arregimentar votos junto dos republicanos, isto e, pessoas que nunca possuíram um passaporte. Para uma parte substancial dos americanos, Hitler é o único estrangeiro que conhecem, por isso a colagem de Adolf a Putin é um ícone de campanha que é bem-vindo internamente. Nesse aspecto, a Clinton e Obama apresentam uma meta realista: apelam ao povo para ganhar eleições, para conseguir mais uma presidência democrata".

Ora, Ângela Merkel não pode utilizar esta visão para a sua política interna. Tem de olhar para a Geografia, e a chanceler tem de actuar com muito maior seriedade.

E isto, porque somos vizinhos da Rússia, porque fazemos parte da Comunidade Europeia, que está, por isso, ligada à própria Rússia, como destinatária da energia e aquele é fornecedora,

Nesse sentido, nós, os alemães, temos um interesse claramente vital na estabilidade e comunicação (com a Rússia). Não podemos dar-nos ao luxo de olhar para a Rússia, com os olhos distantes do Tea Party norte-americano".

O longo artigo do responsável do jornal económico concentra-se na necessidade de aproximação, de conseguir pouco a pouco benefícios mútuos e não "punir e auto-punir" que, na sua opinião, se torna na mesma coisa.

Mesmo que houvesse uma cedência russa, ele interroga-se: "o que traria de bom uma Rússia subjugada?".

Para Gabor, seria um contra-senso, na situação actual, viver a UE, ao lado de um vizinho, com ligações estreitas, em que a sua liderança, que é eleita, seja tratada como um pária e em que, no próximo inverno, terá de contar com os seus cidadãos. 

Ele alonga-se descrevendo as evoluções históricas das lideranças alemãs dos anos 60 e 70 tiveram de suportar para manter a sua independência face aos EUA. 

Situação esta que, frisa, na sua opinião levou às mudanças que se produziram na própria União Soviética e conduziram a sua aproximação à Europa.

Ele chama "verbalistas" aos que, então, estavam longe da Europa e clamavam por dureza.

"Os verbalistas estão de volta e a sua sede está em Washington DC. Mas ninguém nos está a forçar para nos prostrarmos debaixo da sua pata", assinala.

Todavia, acrescenta, se se seguir essa linha, mesmo como certos entraves e relutâncias, ela não protegerá o povo alemão, mas poderá vir a colocá-lo em perigo.

Para o jornalista económico, a evolução alemã, e, europeia, deve pautar-se pelo "envolvimento", pela "moderação". E foi essa, assinala, que deu resultados e que poderá, agora, continuar a dá-los.

Em certo sentido, ele argumenta que o governo alemão (ele fala na dupla Merkel/Steinmeir) deve cortar com a política belicista da administração norte-americana, ou seja o contrário do que conduziu à paz e estabilidade na Europa.

"Agora (e já há longo tempo), a América está a fazer exactamente o oposto. Todos os conflitos onde se mete são incrementados. O ataque de um simples grupo terrorista chamado Al Qaeda é transformado numa campanha mundial com o Islão. O Iraque foi bombardeado, com justificações mais que duvidosas. Em seguida, a Força Aérea dos EUA metralham o Afeganistão e o Paquistão. A relação com o mundo islâmico pode, justamente, considerar-se com foi seriamente abalada", referiu.



E especificou: " Se o Ocidente tivesse julgado o governo dos EUA de então, que invadiram o Iraque, sem qualquer resolução da ONU e sem provas da existência de *armas de destruição maciça* pelos mesmos padrões que pretende fazê-lo hoje com Putin, então George W. Bush deveria ser proibido, de imediato, de entrar na UE. Os investimentos estrangeiros de Warren Buffett deveriam ter sido congelados, a exportação de veículos das marcas GM, Ford, Chrysler, deveriam ser proibidas de entrada na UE. 

A tendência americana para começar, primeiro, uma escalada verbal, e depois, militar, para tentar conseguir o isolamento, a demonização e atacar, às cegas, os inimigos não se revelou eficaz. A última acção militar de sucesso dos EUA foi o seu desembarque na Normandia. Tudo o resto - Coreia, Vietname, Iraque, Afeganistão - foi um fracasso evidente.
Deslocando unidades da NATO na direcção da fronteira polaca e pretendendo armar a Ucrânia é uma continuação de uma falta de diplomacia através de meios militares.
"Esta política de acção de lançar a sua cabeça contra a parede - e pratica tal acto onde a parede é mais grossa - apenas lhe dá uma dor de cabeça e nada mais. 

Temos de verificar que a parede tem uma enorme porta que está na relação da Europa coma a Rússia. E a chave para a resolução de um diferendo nesta situação é pratica "a conciliação de interesses".


5 - Do ponto de vista classista, que eu defendo,
a importância da unidade europeia não está ligada apenas a um alargamento de uma estrutura organizacional política num território que a torne potência mundial.

Essa importância advém, principalmente, porque tal alargamento fez alastrar, sem condições, a dominação económica e política da burguesia, acabando com resquícios de um pré-capitalismo incipiente que existiam em muitos Estados, que se intitulavam socialistas, na realidade, governados, ditatorialmente, sob a forma de capitalismo de Estado obsoleto.

(Esses resquícios devem ser debatidos ideologicamente e combatidos como formas anti-democráticas de poder capitalista que nada tem a ver com o socialismo)

E esse avassalamento capitalista, que ainda mostra fraquezas e incoerência, que limitam a formação de uma cooperação interestatal mais estreita, o que torna, na realidade, um entrave para um incremento da consciência, entre as classes trabalhadoras, sem incremento esse e sem a correspondente teoria programática da criação de uma nova sociedade, tem, ainda agora, pés de barro.

Significa isto que a consolidação da UE, como estrutura independente política e economicamente, do protectorado norte-americano, tem de evitar que aquele explore as tensões nacionais e as atitudes anti-democráticas que vão surgindo no seio europeu, e de desenvolver, ao mesmo tempo, uma política comum de comércio, de agricultura, de indústria, e de poder militar, que tenha em conta as autonomias nacionais e a capacidade dos seus cidadãos intervirem na sua gestão.

Ou seja, a unidade da Europa tem de se obtida não só contra os actuais dirigentes capitalistas que a governam e contra outros entraves internos, como o domínio do capital financeiro internacional, mas também, em primeiro lugar, contra a hegemonia imperialista norte-americana e, secundariamente, contra os restos de poder imperial que está impregnado o regime russo.
Michal Bociurkiw, o primeiro observador da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) a chegar junto dos destroços do avião abatido na Ucrânia confirmou a informação de que a fuselagem do aparelho apresenta “marcas nos estilhaços que parecem ser de munições de metralhadoras, poderosas metralhadoras”.
Por outro lado, tal como admitiu anteriormente o piloto alemão Peter Haisenko através da observação de fotos de alta resolução de restos do cokpit, entretanto retiradas da internet, os destroços do aparelho não apresentam sinais de míssil, na opinião do representante da OCSE.
As informações de Bociurkiw, obtidas através da observação no local “de dois ou três pedaços da fuselagem”, coincidem com a interpretação do comandante alemão Peter Haisenko com base na imagem de alta resolução: o avião tem marcas que podem ser de munições de metralhadoras como as que equipam os SU 25, pelo que foi provavelmente abatido por caças da aviação ucraniana. As imagens divulgadas durante o depoimento do observador da OSCE confirmam que as imagens que serviram de base à análise do piloto alemão são efectivamente do avião malaio.
Caças foram detectados nas imediações do avião acidentado pelo controlador aéreo espanhol “Carlos”, que trabalhava na torre de controlo do aeroporto de Kiev quando se deu a catástrofe, por testemunhas oculares momentos antes do desastre, e pelos radares russos, segundo provas apresentadas pelo Ministério da Defesa de Moscovo.
As informações divulgadas por Michal Bociurkiw à estação de televisão canadiana de televisão CBS contribuem para afastar um pouco mais a tese do derrube através de um míssil, uma vez que os restos do aparelho não mostram indícios da acção de um engenho deste tipo, tal como interpretara o piloto alemão.
Michal Bociurkiv é o porta voz da missão da OSCE na Ucrânia, tem origem ucraniana e nacionalidade canadiana. Esteve no local do acidente imediatamente a seguir à queda do aparelho e agora voltou a fazer parte do primeiro grupo de representantes da OSCE a visitar o local depois de a situação dos combates na região o permitir.

Urszula Borecki, Kiev 
Leia mais: http://portuguese.ruvr.ru/2014_08_12/Autoridades-dos-EUA-sabem-do-acidente-do-voo-MH-17-muito-mais-do-que-revelam-2053/

sexta-feira, 15 de agosto de 2014

CGTP E CANAIS ROCHA: UM ELOGIO À PRÁTICA ANTI-DEMOCRÁTICA


1 -  Morreu, há dias, Francisco Canais Rocha, um antigo funcionário e membro suplente do PCP, que depois de detido e de ter falado na Polícia Política do regime fascista de António Salazar e Marcelo Caetano, foi ostracizado por aquele partido, já depois do 25 de Abril de 1974.


Esteve indigitado pelo PCP, de Álvaro Cunhal, para ser o ministro do Trabalho do I governo provisório, mas alguns oficiais, naturalmente com apoios civis *qualificados* do MFA, que vasculharam os primeiros documentos da PIDE (Polícia Internacional de Defesa do Estado) detectaram algumas informações duvidosas sobre o passado de Canais Rocha, que o substituíram pelo então Presidente da Direcção do Sindicato dos Bancários do Norte, Avelino Pacheco Gonçalves, que exerceu funções entre 16 de Maio e 17 de Julho de 1974 e que tinha ligações à Intersindical, então já controlada pelo partido cunhalista.


No entanto, vieram a colocá-lo, fraudulentamente, na liderança da Intersindical Nacional, logo a 27 de Abril até Agosto de 1974, altura em que foi destituído, "por razões de ordem pessoal alheias à actividade sindical", razões estas que nunca foram explicadas, frontalmente, quer pelo PCP, quer pela hoje central sindical CGTP-IN até hoje.


Canais Rocha nunca fora sindicalista de base, nem dirigente sindical.


Na altura, esta destituição só ocorreu depois de, publicamente, ter surgido na Imprensa que Canais Rocha prestara declarações consideradas graves na então PIDE/DGS, o que o visado apenas veio a confirmar em 1986, mas nunca especificou a sua eventual gravidade.


O que é certo é que o PCP não emitiu uma linha sobre o falecimento de Canais Rocha, mas, a CGTP-IN fez um largo comunicado laudatório, elevando o falecido a "destacado militante antifascista, sindicalista, historiador, democrata", todavia, sem qualquer explicação real e factual do seu afastamento da actividade daquela central.

Deve aquela central essa exigência histórica, como instituições que se dizem democratas e transparentes: esclarecer.


O que é curioso é quem faz, politica e ideologicamente, o mais rasgado elogio, acriticamente, a Canais Rocha, é o Bloco de Esquerda, através do seu site "EsquerdaNet", com data de 10 de Agosto - será a caixa de ressonância do PCP, neste caso? - apelidando-o de "fervoroso combatente antifascista e um dos mais destacados nomes do distrito de Santarém na luta contra o fascismo".


Da sua real actividade sindical, apenas se conhece a sua acção, sempre, como "funcionário político" em Sindicatos, como o dos Electricistas do Sul ou mesmo na região de Santarém. 


Nos Electricistas, foi ali colocado como assessor da direcção. 


2 -  A questão *Canais Rocha* seria um assunto menor se não tivesse atrás de si, quer da parte da actual CGTP-IN, como do PCP, como seu "controlador político", tal como a UGT é uma estrutura ligada ao poder político saído do 25 de Novembro, uma 

omissão propositada da verdade histórica e dos 

artifícios anti-democráticos que aquele partido 

efectuou para desarticular o modelo nascente, em 



1970, da primeira Intersindical Nacional.





Oficialmente, a Intersindical Nacional, que, mais tarde, já sob a supremacia anti-democrática do PCP, se transformou em CGTP (Confederação Geral dos Trabalhadores Portugueses), tem como data de criação o dia 1 de Outubro de 1970.

Na realidade, segundo sindicalistas que participaram na reunião de cinco sindicatos - de que apenas quatro assinaram a convocatória para um reunião alargada intersindical extensiva a 19 direcções -, ela ocorreu a 28 de Setembro desse ano. 


Assim, as direcções dos Sindicatos Nacionais dos Caixeiros do Distrito de Lisboa (presidida por Malaquias Pinela), do Pessoal da Indústria de Lanifícios do Distrito de Lisboa, cujo Presidente era Manuel Lopes, dos Técnicos e Operários Metalúrgicos do Distrito de Lisboa, liderado pelo operário da TAP Santos Júnior e o Sindicato dos Empregados Bancários do Distrito de Lisboa, onde o Presidente era Daniel Cabrita, mas os quadros principais se chamavam Pina Correia e Ferreira Guedes, enviaram uma carta a 19 estruturas sindicais eleitos para uma reunião, apelidada de "sessão de trabalho para estudo de alguns aspectos da vida sindical cuja discussão lhes parece da maior oportunidade". 



Repressão da greve da TAP em 1973

A reunião efectuou-se a 11 daquele mês, com a presença de representantes mandatados de 13 estruturas.


Ora, a relação de forças no interior dos corpos gerentes dos principais sindicatos que estavam a impulsionar a Intersindical Nacional não eram favoráveis ao Comité Central do PCP, liderado por Álvaro Cunhal, nem muitos dos jovens militantes ou simpatizantes daquele partido que estavam em algumas dessas direcções se sentiam atraídos pela política de "unidade de todos os portugueses honrados" e de "pequenos passos" face ao regime fascista de Marcelo Caetano.



O que é factual é que os dois maiores sindicatos operários, por simplificação Metalúrgicos e Lanífícios de Lisboa, fomentadores das reuniões intersindicais, eram dirigidos, maioritariamente, desde aquele ano - 1970 - por elementos eleitos que estavam *à esquerda* da política cunhalista. 

Nos Bancários de Lisboa, embora, nominalmente, o Presidente fosse Daniel Cabrita, na realidade, em 1969, tal cargo deveria ter sido ocupado por Ferreira Guedes, mas o governo impediu-o que tomasse posse. 

Por razões de tomada de posições político-sindicais, o então secretário de Estado do Trabalho Joaquim Silva Pinto do governo de Marcelo Caetano impôs a suspensão de alguns dos dirigentes mais influentes daqueles quatro sindicatos, precisamente três dirigentes metalúrgicos entre os quais Santos Júnior, que era o principal impulsionador das reuniões intersindicais.


Nos Bancários de Lisboa, aquele governante impediu, precisamente, as candidaturas de Ferreira Guedes e Pina Correia, vindo esse cargo ser ocupado por Daniel Cabrita, que, dois anos depois foi detido por ter assinado uma carta a protestar quanto à representatividade da delegação governamental a uma reunião da OIT (Organização Internacional do Trabalho).


Curioso - e isto tem de ser referenciado e relembrado perante os elogios prestados, que logo a seguir ao 25 de Abril de 1974, Canais Rocha esteve como simples "conquistador político" do Sindicato dos Escritórios de Lisboa, onde se intitulou dirigente interino  (acuso eu *usurpador* de um estatuto profissional que nunca teve) - é que aquele, na senda da directiva dos seus superiores, tivesse atropelado todos os direitos que o novo regime trouxe, à revelia da democracia e da liberdade e da representatividade eleitoral laboral, e isto para colocar a única estrutura sindical, que veio a ser reconstruida laboriosamente por sindicalistas simples e jovens, de alma e coração, em mera arma de "guerra política" para ganhar peso no regime abrilista, seja considerado como um *herói da classe operária*.

3 - A Intersindical Sindical pós 25 de Abril - que mais tarde - de golpe em golpe se tornou uma estrutura burocrática e anti-democrática chamada CGTP-IN, já nada tem a ver com a luta heróica encetada desde 1969.

E Canais Rocha foi um instrumento canhestro desse caminho anti-democrático. 

Não merece ser louvado. 

Merece ser tratado como bonzo sindical que foi. Esteve preso é certo, mas não sabemos o papel que desempenhou.

A luta contra esta CGTP, que pertence ao passado, a luta contra a sua política deve ser levada a efeito, ideológica e praticamente, pelas novas gerações, com a criação de uma nova central sindical democrática e revolucionária. 

quinta-feira, 7 de agosto de 2014

OS AGONIADOS JORNALISTAS DO CAPITALISMO PORTUGUÊS

1 - A angústia do jornalista apologista do capitalismo, no momento em que a doença está a atingir o sistema, está perfeitamente retratada na coluna de "opinião", assinada no jornal Expresso, do passado dia 2,  intitulada "fraude" da autoria de um responsável daquele jornal chamado Pedro Santos Guerreiro.

A prosa é feita a propósito do BES, e, Pedro Santos Guerreiro é lesto na sua preocupação ansiosa com o destino do sistema dominante do Capital.

Começa, justamente, assim:

"O Estado tem de intervir, capitalizando ou separando o banco dos problemas. E depressa. Processem-me se quiserem: houve fraude. A justiça tem de agir.

E, o climax do "jornalista" é realmente angustiante: 

"Já vamos aos polícias, já vamos aos ladrões, já vamos à ética, ao roubo, ao crime, já vamos aos culpados e aos inocentes, ás vítimas, às fúrias e às lamúrias. Mas antes salvem o BES: Salvem-no já".

E remata, a sua prosa corrida sobre o sprint para salvar o Capital, com uma tirada de feiticeiro, que desconhece o papel real do processo capitalista: "Desgraçada sorte. Há uns anos, Salgado disse *o capitalismo é amoral*. Nós continuamos a admirá-lo. Mas, no fundo, ele avisou".

(Convém assinalar o movimento profissional deste jornalista dentro do sistema capitalista:

Cita-se da imprensa - Pedro Santos Guerreiro, nascido em 1973, é director-executivo do jornal Expresso desde Novembro de 2013, onde assume funções de coordenação da edição electrónica diária, lançada em 2014. 

Antes foi director do Jornal de Negócios, desde 2007, do qual foi um dos fundadores em 1997. 

É colunista da revista Sábado, do jornal desportivo Record e do diário Correio da Manhã. Todos do grupo Cofina.

Participa num programa semanal na Rádio Renascença).

Como admirador do capitalismo, Santos Guerreiro tem a "fé" de que aquele pode permanecer moral, ao longo dos séculos, num processo estático, em que representou, no seu início, uma fase progressiva da vida da Humanidade, acabando com o feudalismo, e estendendo a forma de comércio a toda a parte do planeta Terra. 

Por isso, o capitalismo deve ser assegurado a qualquer preço, somente se tem de acabar com os seus asseclas amorais. 

Mesmo com a nacionalização. 

Cinismo de uma porra...Então já serve, quando em causa está em injectar dinheiro dos contribuintes para vender mais tarde aos mesmos abutres?

Ingenuidade de esperto. 

De funcionário do dr.Balsemão, um especulador capitalista, que domina grande parte da comunicação social defensora do sistema.

(Registemos o papel de especulador bolsista e "jogador de casino" de Pinto Balsemão.

Nunca foi jornalista de profissão, mas desde os tempo do Diário Popular aparece ligado à administração, onde, aliás, o seu tio era um dos principais accionistas. 

Hoje, é presidente do conglomerado da comunicação social Impresa, onde se integra a SIC, Expresso, Courier Internacional, Blitz, Exame, Exame Informática, Caras, Visão, Activa, TV mais, Telenovelas, Jornal de Letras, Caras Decoração, InfoPortugal e o site Olhares, bem como 33,33% na Distribuidora VASP e 22,35% na Agência Lusa, de capitais maioritariamente públicos, suportada a 100% pelo Estado, - ou seja, Balsemão recebe dividendos, sem nunca lá metido um tostão!!!.



Foi dirigente do Banco Privado Português (BPP), que entrou em falência, mas ele foi sacar 4,9 milhões de euros ao Estado, com o argumento de serem créditos, de onde era accionista, que tinha direito da instituição em falência, de que era co-responsável. Moveu mundos e fundos e conseguiu ganhar através de uma sentença do Tribunal do Comércio.

Esteve também no Conselho Assessor Internacional do Santander Totta, e pertenceu às administrações da Celbi, da multinacional Allianz e da NEC Portugal. 

Mas, a sua veia de especulador veio ao de cima, em plena crise e já na vigência deste governo, quando o seu conglomerado vacilava. 

Através de *rumores*, em 2012, - notícias da Imprensa económica - os títulos de Impresa fecharam em máximos de mais de cinco meses e lideravam os ganhos na Bolsa de Lisboa com "uma liquidez invulgar".

Em 2014, logo no início o Banco UBS e fundos de investimento entraram no capital da Impresa, no âmbito de uma guerra com a empresa Ongoing que detinha cerca de 24% do capital do grupo de Balsemão, e pretendia adquirir a maioria accionista.

Foi disparado um ataque conjunto, sem olhar a meios, claro que não foi "amoral", de todas as empresas jornalísticas do homem de Bildberg contra a Ongoing, e, por tabela contra o BES, já que detinha grande parte do capital daquela.

O resultado é conhecido. 

O ano passado, segundo a imprensa da especialidade, a Impresa teve "um dos melhores desempenhos da Bolsa, com os títulos a subirem 252%").

2 - Regressemos à prosa de Pedro Santos Guerreiro e à sua admiração pelo capitalismo.

O director-executivo do Expresso sabe, porque a crise financeira, económica e social de 2008, que se iniciou e alastrou por todo o mundo e ainda não terminou, mas dá indícios de se aprofundar, que o capitalismo, hoje, é a formação económica que se estendeu a todos os Estados e grupos de Estados, desde o seu centro, os Estados Unidos, aos seus concorrentes directos como potências, União Europeia, Rússia, China, Índia, Paquistão e os emergentes subpotências como o Brasil -Mercosur, ou a África do Sul, ou o Irão, em ascensão, de todo o planeta.

E quem domina todos esses Estados, ou seus associados ou aliados, não é a burguesia capitalista no seu conjunto, mas sim uma secção dela: a mais amoral, desclassificada, súcia e corrupta, que se considera a continuadora da grande burguesia financeira: os especuladores bolsistas, os superbanqueiros rasteiros, os sócios considerados omnipotentes que detêm as principais empresas das grandes riquezas das matérias-primas minerais e vegetais, (petróleo, gás, diamantes, carvão, ferro, ouro, florestas descomunais, campos e produções agrícolas enormes).



É ela, que, em nome do seu grande capitalismo, indica os cargos de governo, dos partidos dos parlamentos que são seus servidores, que enquadra toda a Alta Administração do Estado - desde as magistraturas, aos bancos centrais, às comissões de valores mobiliários, às chefias de topo militares e policiais, os próprios departamentos essenciais dos Ministérios.

O capitalista amoral, neste caso Ricardo Espírito Santo na perspectiva de Santos Guerreiro, não é um caso isolado nessa fracção. 

Não é um homem só que organiza uma fracção pútrida da grande burguesia financeira. 

É uma acção colectiva, segundo um plano que é formalizado e estruturado ao longo da evolução de uma sociedade, neste caso, capitalista.

E essa fracção afastou, completamente, a burguesia industrial do poder, e, menorizou, totalmente, toda a pequena burguesia - nas suas diferentes correntes, desde os intelectuais, médicos, ao camponeses com pequenas parcelas de terras.


3 - Os grandes Estados, incluindo os Estados Unidos da América, estão na míngua financeira.

Washington paralisou a sua Administração, em 2013, porque não tinha dinheiro para prover a máquina estatal, sem aumentar os impostos e retirar propostas de alargamento de financiamento do sistema de saúde aos mais necessitados. 

Teve de arranjar uma artimanha de ultrapassar o endividamento do país, de 16,7% biliões de dólares, com a emissão de notas bancárias sem correspondência com o seu padrão-ouro. 

Ora, esta míngua, esta quase falência, coloca todos os Estados - UE, EUA, Rússia, China, etc - nas mãos do sistema financeiro não só nacional, mas internacional.

Eles emprestam dinheiro a juros altíssimos e depois vão buscá-lo ao Estado - Estados, conforme queiramos refenciá-los, como o caso da Federação Russa ou Espanha - a juros extremamente baixos, o que produz uma bola de neve de mais endividamento público.

É o que está a suceder com a banca portuguesa. 

O Estado endividou-se para "evitar" a falência dos bancos e os bancos adquiriram empréstimos a juros da "uva mijona". 

Alguns, depois de sacarem dinheiro, já o fizeram regressar ao Estado, mas depois de receberem os juros de "partir os dentes" em todas as transacções dos clientes, incluindo os preços dos bens de consumo, das "compras" de títulos de Estado e na sua mão os títulos estatais representam juros altíssimos, que fazem reverter a seu favor. 

Ou, das negociatas astronómicas em torno das obras e despesas públicas.

O caso BES é paradigmático, pois o Estado "salva" o Banco com um empréstimo, mas a sua venda "limpa" vai parar ao especulador financeiro que o vai comprar por tuta e meia.

Tal como no BPN. 

Tal como sucedeu, há 30 anos, com o Banco Totta e Açores, entregue de mão beijada, completamente "puro" de prejuízos, a António Champallimaud que o vendeu por cerca de 900 milhões de euros ao Santander.



 O endividamento estatal é, portanto, a "arma" ideal dessa burguesia financeira desclassificada - com os seus malabarismos, as suas operações de traficância bolsista, os seus fundos escondidos, mas pertença real desses grandes capitalistas - para encher cada vez mais os bolsos.

Assim vai suceder com o BES, o défice de Estado vai crescer, quer digam que sim e mais que talvez.

Não pode haver qualquer veleidade de conseguir equilibrar esse défice e afastar a dependência do Estado dessa lumpen-grande burguesia, sem alterar, no cerne da questão, a sua economia política.

(O papel desses abutres financeiros está retratado, justamente, numa reportagem, desta semana, do Wall Street Journal, o órgão de imprensa do grande capital financeiro norte-americano. 

Cita-se dos jornais: "Marshall Wace LLP, TT International e Altair Investmente Management são algumas das sociedades gestoras de fundos que terão realizado "dezenas de milhões" de euros em mais-valias depois de terem apostado na queda das acções do Banco Espírito Santo (BES) durante os meses mais recentes

Geridos por aquelas entidades, os *hedge funds*, que apostam em investimentos de risco com o objectivo de obterem rendibilidades elevadas, pediram emprestadas - notem esta referência.NM - acções do banco em colapso para as venderem em bolsa, recomprando-as depois de a cotação cair e conseguindo, desta forma, realizar ganhos em operações que são conhecidas como short selling ou vendas a descoberto.

Claro esta situação somente poderia ter acontecido com a cumplicidade de todo o sistema financeiro, desde o banco até às entidades governamentais e de supervisão!!!).

4 - A agonia do sistema não é exclusiva de Portugal.

Em Abril passado, em entrevista a agência Blomberg, o antigo Presidente da Reserva Federal norte-americana Alan Greenspan afirmou que a situação actual do maior banco norte-americano o JP Morgan (JPM) é, em tudo, semelhante, ao bancos de investimento imobiliário Fannie Mae e Fredie Mac, que tiveram de ser "salvas" da falência com a injecção de dinheiro dos contribuintes, em 2008.



O JP Morgan, nessa altura, também recebeu dinheiro estatal para se manter á tona de água.

Agora, com a persistência da continuação descontrolada de especulação, segundo Greenspan, há fortes probabilidades de haver nova entrada de dinheiro público. 

Assinala a Blomberg, que o JP Morgam "é um exemplo" da existência de garantias governamentais implícitas, mas que não são contabilizadas nas estatísticas oficiais da dívida pública do país.

Ou seja, o governo faz maningâncias para dizer que o défice estatal não está a aumentar.

Dirão os admiradores do capitalismo: não há alternativa.

Claro que no mundo haverá sempre alternativa para tudo, a não ser a desaparecimento repentino da Terra.

O contribuinte não tem nada que ser roubado para servir o capital financeiro.

O capitalismo não é moral, nem uma formação económica eterna. 

É histórica e transitória, como o foram outras anteriormente.

O que está a suceder é que, na actual fase de evolução mundial, o capitalismo está a passar à História.

É já?, penso que não, mas pode ser mais rapidamente do que se espera.

O que é certo é que se começa a verificar que o incremento das forças produtivas materiais mundiais, em especial das novas classes trabalhadoras - e já não só nacionais - estão a entrar em rota de colisão com o sistema capitalista existente.

Os entraves para que a sociedade evolua, sem retrocessos civilizacionais, são peças de uma engrenagem ferrugenta.



Um número crescente de forças sociais e económicas, mais conscientes, estão à procura de forjar uma nova estrutura política mais democrática e que favoreça as aspirações a uma nova maneira de estar no Mundo.

O tempo de grandes mudanças está a percorrer o seu caminho.