terça-feira, 31 de dezembro de 2013

NOVO ANO: OS CENTROS DE PODER VÃO MEXER-SE EM BREVE

1 – O ano de 2014 parece vir a ser um ano de encruzilhadas, de início de recomposições de poderes, indiciários de possíveis explosões sociais de envergadura, mas também de tentativas de imposição de poderes ditatoriais do grande capital num sentido cada vez mais alargado no espaço planetário.

Os poderes, que eram e, em parte ainda o são, podem estar a ficar para trás, presos nas cadeias da História.

A imagem e a argamassa, que se construíram as instituições e os jogos de forças ao longo das últimas dezenas de anos, logo após a segunda grande guerra, com a ascensão meteórica da política hegemónica contínua dos Estados Unidos, principalmente depois do seu aparecimento na cena mundial com o triunfo da bomba atómica, e, posteriormente, do incremento da alta tecnologia, com a entrada na conquista do espaço e da evolução rapidíssima dos mísseis intercontinentais, e, acima de tudo, o seu domínio económico global, com a primazia do petrodólar, como moeda universal de troca na produção, distribuição e comercialização das riquezas ligadas ao petróleo e gás, pareciam apresentar uma auréola de sucesso sem fim.

Numa competição vencedora face ao capitalismo de Estado, matizado de falso socialismo, que teve a sua “entronização” como vanguarda de progresso, mas, na realidade, anti-materialista, primeiro, na antiga União Soviética, depois na República Popular da China.

A hegemonia norte-americana conquistada, de maneira evidente, na segunda metade do século XX, com uma actividade sem contestação de imposição e sem escrúpulos de violência e de terra queimada, sustentada em defesa de argumentos, sem qualquer discussão, como polícia mundial, em torno de umas pretensas e abstractas democracia e liberdade, que, aparentemente, não teria escolhos ou travões, tinha, mais cedo ou mais tarde, de colapsar.

E o marco divisório dessa realidade, que ganhou evidência, deu-se com a crise – financeira e económica - de 2008.




2 – Na realidade, os vencedores da II Grande Guerra Mundial aproveitaram o facto de ter havido uma carnificina planetária, que custou mais de 50 milhões de vidas, por um lado, na antiga União Soviética, a principal visada desde o início, por outro, na Alemanha e Itália, fomentadores do conflito, e, em países contíguos, cujos dirigentes se colocaram ao lado das potências nazi-fascistas da altura, como a Roménia, Hungria e Bulgária , juntaram-se, numa aliança provisória de divisão de despojos, que começou em Ialta, não para cooperarem, mas para repartirem, arbitrariamente, os territórios, primeiro, europeus, depois os circundantes e coloniais, em zonas de influência.

Assim aconteceu, da parte da ex-URSS, com os países que vieram a fazer parte do COMECOM e do Pacto de Varsóvia, e, da parte dos Estados Unidos, que forçaram o alinhamento de protectorado no chamado mundo ocidental, através da NATO e do Plano Marshall, e, em escala mais diluída, com a OCDE.

(Dividiram mesmo, por essas razões, a própria Alemanha).

Aparentemente, não se pode afirmar, de forma taxativa, que tal divisão, pós II Guerra, sucedeu, com violência, pois houve um assentimento tácito inicial dos próprios povos a essa repartição.

A fase seguinte, essa sim, a sua prática, do lado dos vencedores, esteve encharcada na na mão de ferro e no peso da violência.

Todavia, da parte da antiga União Soviética, até porque lhe faltavam os investimentos financeiros necessários e uma estrutura industrial e agro-industrial avançada, pois a destruição da sua capacidade produtiva no seu espaço territorial para reconstrução teve, já nos anos 50 do século XX, uma maior extensão e profundidade, que levou a espezinhar, desde logo, sem qualquer rebuço, os sentimentos nacionais, a pretexto de ter havido um colaboracionismo acentuado das suas classes dirigentes e intermédias com o regime de Adolf Hitler.

E criou, deste modo, uma tensão crescente em Estados como a Jugoslávia, logo em 1947, porque se libertou do nazi-fascismo, praticamente, sem apoios exteriores e a Hungria em 1956, com uma revolta generalizada, sufocado com a intervenção directa militar da URSS.

Os Estados Unidos da América foram os grandes beneficiários da II Grande Guerra, nela entrando na sua fase final, quando o regime nazi já estava em retrocesso, e, em fase de agonia.

No período de 1939 a 1942, juntamente com o Canadá, incrementaram a sua industrialização, em especial a indústria pesada, e a exploração de riquezas minerais.

Na realidade, duplicaram a capacidade industrial dos dois países, e, os Estados Unidos fomentaram, grandemente, o investimento, abrigados de toda a destruição que atingiram os países, verdadeiramente, empenhados em conter o avanço nazi-fascista imperial (alemão, italiano e japonês).

Os norte-americanos apenas começaram a fornecer material bélico e produtivo aos países europeus, em guerra contra os nazis hitlerianos e fascistas mussilinianos, já ia dentro o ano de 1941, mas num processo de chamado de Lend-lease Act ( Lei de empréstimo e arrendamento), o que pressupunha pagamentos com juros.

Procuraram, acima de tudo, balizar, a partir de meados de 1943, altura em que desembarcaram na Sicília, uma “zona de influência” político-militar na parte ocidental da Europa, em especial França, Espanha, Itália e Inglaterra, e, se possível, o que conseguiram, na própria Alemanha.

Os Estados Unidos forçaram os Estados, que ficaram sob o seu controlo económico-financeiro, através do Plano Marshall, a constituir governos da sua confiança, a partir de 1949, organizando, ao mesmo tempo, uma parceria militar, a NATO, que dominaram, totalmente, enxameando a chamada Europa ocidental de bases castrenses e corpos de Exército de verdadeira ocupação, como na Alemanha Ocidental, Itália, Bélgica, Inglaterra, Espanha e Portugal.

O incremento desmesurado militar dos Estados Unidos, aliado à sua caminhada crescente para a supremacia nas relações financeiras internacionais,  começou a dominar, paulatina e em alargamento extensivo a outros países, as relações comerciais e o avassalamento dos grandes bancos, da actividade bolsista, e de uma parte significativa da produção/comercialização/distribuição de matérias-primas, com especial destaque o petróleo e o gás.

Ao mesmo tempo e impondo o dólar, como a moeda de troca padrão incontornável de todas as actividades, comercial e financeira, internacionais, impossibilitaram, nos países mais avançados, qualquer alternativa de poder independente, pois as burguesias nacionais foram subservientes e as classes trabalhadoras a lutarem sem programas revolucionários.

Intervieram abertamente em territórios que se desejavam emancipar das tutelas coloniais, em Estados que aspiravam, pura e simplesmente à sua independência, dividiram e espezinharam, inclusive, parte da Europa, já depois de destruição da antiga URSS, motivo principal do seu apego propagandístico em defesa da democracia em luta contra o comunismo.

A sua arrogância de supremacia do seu sistema que consideravam perfeito e indestrutível, como modelo a seguir em todo o mundo, valia mais, muito mais, que as aspirações dos povos a sua própria soberania, ao seu caminho independente.

Intitulavam-se libertadores, mas massacravam e humilhavam.

O rol passa pelo Vietname, Cambodja e Laos, passa por toda a América Latina, desde Cuba à Nicarágua, incluindo as ditaduras chilena, brasileira, argentina, uruguaia, paraguaia, peruana, boliviana, venezuelana e colombiana.

Extravasando mais recentemente para a Europa do sul com a destruição programada da Jugoslávia e a transformação da Albânia e o Kosovo em Estados de narcotráfico, controlados pelos serviços secretos norte-americanos. E reduzindo a escombros o Iraque, o Afeganistão e a Líbia.

Todavia, esta actividade criminosa, embrulhada em falsa democracia, está a acabar.

Tinha de acabar.


3 - A violência de Estado pode ser um acto de prática selvagem ou de próprio ordenamento social, mas é, acima de tudo, um produto económico.

Logo, custa dinheiro.

Baseando-nos em dados do Instituto Internacional para a Investigação da Paz (SIPRI, em inglês), com sede em Estocolmo, no ano passado, os EUA gastaram cerca de 682 mil milhões de dólares em despesas militares, o que representa perto de 40% de todas as despesas castrenses dos restantes países da Terra.

As despesas militares norte-americanas aumentaram cerca de 68%, desde que foram organizados os atentados de 11 de Setembro em Nova Iorque e Washington a 11 de Setembro de 2001.

Embora uma parte destas despesas possa trazer benefícios em exportação armamentista, a maioria faz parte de uma actividade improdutiva para a economia, que conduziu ao reforço interno do militarismo, com a componente imperialista, que, ao longo dos últimos 50 anos, se foi transformando em objectivo central de toda a actividade estatal norte-americana.

Ora, em termos de economia política, tal orientação, seja qual for o Estado, contribui para a sua decadência e, provavelmente, a prosseguir o mesmo rumo, para a sua destruição.

/De maneira evidente, desde 2001, os EUA mostraram ao Mundo que a sua imposição imperial através das suas Forças Armadas constituiu a finalidade central da sua acção como Estado.

De certo modo, esta política foi um “tubarão” feroz da sua penúria económica e financeira, e, em grande medida, a razão da sua entrada em plano inclinado no domínio da cena internacional/.

Porque todo o processo de incremento militarista norte-americano, deu-se, concomitantemente, com um progressivo empobrecimento da economia interna dos Estados Unidos, e, uma avassaladora dominância do grande capital financeiro centrado em Wall Street, com ramificações interligadas, na City londrina.

Este capital, cada vez mais concentrado numa fracção da grande burguesia, em particular a sua face lumpem, estendeu as suas “garras” ao sistema financeiro de cada Estado, às suas bolsas, às suas riquezas minerais, às suas grandes redes de transporte transnacionais, às suas grandes propriedades agrícolas e produções agro-industriais.

Este domínio da lúmpen grande burguesia afastava-se cada vez mais da produção industrial dos Estados Unidos, produzia retrocesso interno: falência de Estados e grandes cidades, desemprego, abaixamento contínuo dos salários, cortes no papel social do Estado.

Consequentemente, alargou fissuras no seu poder real internacional, que levou países e grupos de países a entrar na sua própria corrida armamentista, mas também a procurar “parcerias alargadas” de alternativas de intercâmbio monetário, trocas comerciais e inclusive, na formação de polos de Estados com a economia interligada (a UE é o caso de sucesso, mas estão forjando-se outros como o MERCOSUR, e, essencialmente, a composição de uniões monetárias, como os BRICS e o grupo de Xangai – este com uma certa componente militar – para facilitar as trocas comerciais entre si, sem passar pelo padrão dólar).

/Vejamos o incremento das despesas militares de todos os países, incluindo os EUA, segundo o relatório do SIPRI de 2013 - 1.756.000.000.000,00 : um total de despesas maior do que em qualquer ano desde o fim da II Grande Guerra e o ano de 2010/.



4 – A paralisação parcial de toda a Administração norte-americana, incluindo o seu governo, na segunda metade deste ano, trouxe uma grande machadada na confiança já abalada do dólar como moeda de referência.

Mas, isso não é o mais saliente no conjunto das relações comerciais e económicas mundiais, o que relevou esse aspecto visível do “icebergue” que está a ferir a estrutura política, social e militar norte-americana é que a crise aberta naquele país com a falência do seu sistema financeiro, em 2008, e passados cinco anos, não dá mostras de um controlo.

Pelo contrário, aprofunda-se continuamente, e, abriu, definitivamente, a caixa de Pandora que está a fazer em estilhaços toda a estrutura montada na geopolítica dos últimos 30 anos. 

Os “remédios” receitados pelo sistema financeiro internacional, centrado nos organismos de Washington, o FMI e o Banco Mundial, com as chamadas “medidas de austeridade”, que levaram os povos ao empobrecimento em todo o globo, podem trazer no bojo nos próximos tempos as tempestades revitalizadoras de uma, ou várias explosões sociais, daqueles que consideram que o caminho percorrido tem de ser invertido.

Já não há lugar para recuo, quando muito uma travagem brusca, momentânea, para fazer avançar o comboio da humanidade noutro sentido.

Os Estados Unidos, como motor da economia mundial, já foi chão que deu uvas.

Em Outubro, os seus departamentos estatais divulgavam, oficialmente, que a sua dívida pública atingia então os 16,699 biliões de dólares.

E esta dívida tem vindo sempre a crescer, impulsionada artificialmente por emissão de dólares sem correspondência real com o desenvolvimento económico.

São "papéis" que o Estado emite em títulos, comprados pelo Banco Central – a Reserve Federal – depois de serem adquiridos pelos principais bancos que receberem empréstimos constantes do mesmo Estado a juros quase zero.

Somente, portanto, o sistema financeiro tem sido beneficiado com o crescimento da dívida.


Histórico da dívida pública dos EUA (Foto: Editoria de Arte/G1)

Retirado do jornal O Globo


Como se pode verificar o grande salto na dívida inicia-se em 2001.

Como hoje é, consensualmente, admitido nos Estados Unidos – e em todos os países, que acefalamente seguiram Washington, e os ditames de Wall Street -, os beneficiários do reembolso da dívida pública norte-americana são os grandes bancos norte-americanos.

O endividamento público norte-americano, nitidamente em crescendo nos últimos 10 anos, está, neste período, directamente relacionado com dois aspectos da política da classe dominante: o financiamento, com dinheiro dos contribuintes, sem limites, dos principais bancos e companhias de seguros, os verdadeiros fautores e responsáveis conscientes da crise, a partir da falência fraudulenta do Lehman Brothers e o investimento constante do complexo industrial militar.

Mas, como a voracidade do grande capital, os seus representantes políticos no aparelho de Estado – governo, Câmara de Representantes e Congresso e Reserva Federal – (curiosamente, na sua esmagadora maioria ligados ao lobby judaico, quer pela sua origem, como Ben Bernanke, o Presidente da FED, quer pela sua adesão ao mesmo, Barack Obama, Hillary Clinton ou John McCain), têm de enquadrar orçamentos federais que possam alimentar a pretensão constante de lucro imediato.

Mas, naturalmente, como necessitavam de mais dinheiro, lançaram uma campanha manipuladora, sustentando que irão produzir mais dólares e bilhetes de Tesouro, para estimular a economia. Chamaram a essa campanha de quantitative easing QE (tradução livre *facilidade de quantidade*).

O objectivo, segundo os promotores – a FED, de Bernanke – era o de lançar, na economia, estímulos monetários para que servisse o desenvolvimento empresarial, com a criação segura de emprego e incrementasse a produção interna (agro-industrial, industrial e tecnológica).

Ao mesmo tempo, evitar a subida de impostos e evitar a restrições nos acessos às prestações sociais.

Foram três os QE lançados desde 2009 pela FED, que atingiram os quatro biliões de dólares do erário público.

Os resultados para a economia real onde estão?

Retiramos, através de um artigo inserido do jornal português Expresso, que recorreu a um texto inserido, em Novembro, no “Wall Street Journal”, com o título de “Confessions of  a Quantitative Easer”, cujo autor Andrew Huszar foi um dos responsáveis desses estímulos no interior da FED.

Segundo Huszar, os quatro biliões de dólares tiveram apenas um efeito multiplicador de apenas 40 mil milhões de dólares de aumento do PIB.

Di-lo o agora académico Huszar: os beneficiários foram os bancos.

Cita-se: “os bancos norte-americanos viram o seu valor em bolsa triplicar desde Março de 2009 e apenas 0,2 % deles controlam mais de 70 % dos activos bancários – cartel”.


5 – Colocando de lado as divergências e questiúnculas no interior das instâncias dirigentes capitalistas norte-americanas, e centremo-nos na razões de fundo que enquadram estas revelações, retiramos que a crise está a ultrapassar os principais dirigentes do sistema financeiro mundial.

(Perante a dimensão da crise, o sector dominante de Wall Street, ligado ao lobby judaico, procura reforçar, desde já, a sua penetração nos meandros dos negócios especulativos dos EUA, colocando dois dos seus no topo da FED: Janet Yellen, que substituirá Bernamke na Presidência em Fevereiro próximo e em número dois Stanley Fischer, que ocupou o cargo de governador do Banco Central de Israel entre 2005 e 2013).

Desde 2008, o selecto grupo do G-8 (EUA, Alemanha, Japão, Reino Unido, França, Itália, Canadá e Rússia), que era o “centro geo-estratégico financeiro e militar da altura-1975, onde se debatiam e harmonizava, de acordo com os seus interesses, as relações económicas, comerciais e militares").

Devido às sucessivas crises mundiais ou regionais de envergadura, iniciadas já na década de 80 do século XX, e porque surgiam países e Nações com novas capacidades económicas e militares que fugiam ao estrito controlo dos seleccionados, claro que contra a sua vontade tiveram de alargar o grupo em 1999.

Chamaram-lhe g-20, que enquadrava uma nova realidade, a União Europeia, a mais importante, mas também um conjunto de BRICS – os emergentes, como a China, a Índia, Brasil, África do Sul, e os parceiros em crescimento que com eles podem fazer parcerias, como a Argentina, ou interligação com outros como a Coreia do Sul, México, Canadá, Austrália, Indonésia, Arábia e Turquia.  

Com a crise de 2008, e, sob a perspectiva de um descalabro do próprio capitalismo internacional, a 25 de Setembro de 2009, os seus representantes políticos intitularam o g-20 como “o novo conselho internacional permanente de cooperação económica”.

O objectivo desta concertação de países, aparentemente divergentes, teve um único propósito – controlar as possíveis explosões sociais, procurando, no mínimo, atrasar o que eles sabem ser inevitável, e, defender e resguardar as principais instituições financeiras e bancárias.

Foi então organizada, a nível planetário, a maior manipulação propagandística para colocar em prática aqueles propósitos: dizer que os povos viviam acima das suas possibilidades e que era necessário implantar uma austeridade forçada e permanente para colocar, novamente, a economia nos carris.

Tal como foi uma operação concertada para salvar o actual lumpen sistema financeiro internacional, era – é – um sintoma de que os principais dirigentes dirigentes do sistema estão ultrapassados.

Tiveram de se socorrer de – logo admitir – uma nova dinâmica geopolítica e geoeconómica, o que significa que estamos, por assim dizer – numa nova fase em desenvolvimento de uma nova definição geopolítica, que quer queiramos, quer não, se irá estender, em breve, ao próprio Irão.

Esta dezena de anos trouxe, por um lado, uma transformação radical da economia, com uma desarticulação de todos os centros de poder, mas também de busca de novos modelos de intercâmbio cambial, onde o dólar perdeu confiança e forças política e militar para se impor como padrão único, por outro, um afastamento enorme e evidente dos povos das balelas da democracia, buscando antes – ainda que indecisiva e titubeantemente – alternativas, que cada vez mais se encaminham para rupturas políticas.
 
No meio de uma tentativa mundial de forçar uma ditadura organizada do grande capital financeiro, enrolado nas suas contradições, farejando uma saída por um novo tipo de nazi-fascismo político, sob uma pretensa representação parlamentar, existem luzes ao fundo do túnel que tentam relançar as probabilidades de se construir uma nova sociedade mais humana e igualitária.

Os próximos anos dir-nos-ão a nova arquitectura da geopolítica mundial.




domingo, 22 de dezembro de 2013

PAPA FRANCISCO: UM ANTI-CAPITALISTA PARA INGLÊS VER EM ÉPOCA DE NATAL



1 – Estamos no Natal católico (e, naturalmente, de todas as religiões dissidentes daquele ou aparentadas ao catolicismo).
Como chefe supremo da Igreja Católica Apostólica Romana está, há cerca de um ano, um hierarca, que foi cardeal argentino – de seu nome  Jorge Mário Bergoglio – e antigo líder da principal estrutura institucionalizada dessa mesma igreja naquele país sul-americano, a Companhia de Jesus, e se intitula, agora, Papa Francisco.
Sucedeu – o que aconteceu pela primeira vez – a um Papa vivo, o alemão Joseph Ratzinger, que dirigiu a Santa Sé como Bento XVI.
O Natal católico (e protestante nas suas diferentes matizes) assinala uma data de nascimento aleatória de uma figura que a Igreja Católica procura transformar em personagem histórica, mas que pode não ter tido existência real, porque nenhum documento coevo o atesta: Jesus Cristo, que é apresentado como fundador do cristianismo.
Embora com os seus sermões distantes, de quase dois mil anos, estes dois personagens – Francisco e Cristo, o primeiro considerado o seu sucessor, o 266 º, na lista oficial - apresentam linguagens semelhantes.
//Não existe uma lista oficial de Papas – pelo menos os dois primeiros, Pedro e Lino, descritos como tais pela Igreja Católica não têm documentação epocal fidedigna que confirme a sua existência sequer.
Os Papas cristãos, adoptados mais tarde como católicos, somente adquiriram esta desinência no século III DC.
Baseando-nos no Anuário Pontifício e  naEnciclopédia Católica, são contabilizados 266.
Todavia, verifica-se, mesmo posteriormente, que, por exemplo, nunca existiu um Papa João XX, nem Marinho II ou III.
Os Papas com nomes com nomes Félix foram *rectificados*, porque, para o oficialismo católico, Félix II e Félix V “desapareceram”, porque foram antipapas.
Os lugares de Pontífice Máximo (cópia de um dos títulos dos Imperadores romanos Pontifex Maximus) estiveram, por vezes, vagos durante anos e admite-se que tenha “reinado” no Vaticano uma Papisa//.
Segundo os Evangelhos canónicos ( documentos escritos em datas muito posteriores à morte do eventual fundador da religião que enquadram apenas os cânones teóricos e históricos oficiais da mesma – existem muitos outros), Jesus Cristo manifestou-se contra “os vendilhões do templo” que pululavam no interior das sinagogas judias – os mercadores ricos e especuladores de então -, assim como, actualmente, com grandes manchetes mediáticas, o seu sucessor Francisco ataca o lúmpen capitalismo financeiro como “uma nova tirania”, que produz desigualdade e exclusão social que “geram violência” e poderão levar a “uma explosão” da presente sociedade.
Os apologistas actuais do catolicismo que pareciam murchos, pois o presentem decadente, embandeiraram em arco, bem como, os órgãos de comunicação,  ligados àquele  grande capital, como a revista “Time” que o tornou “a personalidade do ano”, pelas suas tiradas, pela sua falsa humildade, pela sua hipócrita mudança de posição, ele um dos cardeais mais conservadores da América Latina.
Todos os cardeais eleitores devem chegar até quinta-feira, diz Vaticano
Agarram-se à forma, às artimanhas de propaganda, mas não se empenham em mostrar o conteúdo, a representação real e verdadeira desempenhada pelo Vaticano e o seu chefe.
Mas, metem no “calor do Inferno” o conteúdo terreno da verdadeira actividade da Santa Sé.
O que, aliás, já não é novidade.
Assim sucedeu com João XXIII, que procuraram “vendê-lo” como um regenerador da Igreja Católica, para fazer esquecer a ligação da hierarquia católica ao nazi-fascismo anterior e aos negócios sórdidos com os dinheiros estatais que o ditador Benito Mussolini injectou no Papado em troca da sua bênção para a política fascista.
Assim aconteceu com João Paulo II, após uma morte suspeitíssima do seu antecessor João Paulo I, mas, que, no seu *pastoreio* planetário, se tornou no Papa da especulação financeira, das intervenções nos assuntos internos de países, no alargamento da mais repugnante corrupção no Estado do Vaticano e nas suas instituições, como o OPUS DEI, Os Legionários de Cristo ou a Companhia de Jesus, entre outras.
Do Império vaticanista, foi retirado agora um “coelho”, um conservador latino-americano, Jorge Mário Bergoglio, que viveu em paridade com a ditadura sangrenta da Argentina, e se travestiu, nos últimos meses, em modernaço, para obstar a toda a imundice que paira dentro da estrutura dominante do antro de negócios fraudulentos na Igreja Católica Romana.
2 – Apelo a “Igreja pobre”, críticas ao capitalismo, vociferações contra a guerra. Tudo é, fortemente, aplaudido, com palavreados entusiásticos para o argentino Bergoglio, como se tratasse de uma viragem radical na orientação do Papado. 
Hipocrisia. Pura hipocrisia.
O Vaticano é um centro em progressão do capitalismo internacional, que tem dado guarida aos mais desagravados casos de especulação financeira, de lavagem de dinheiro, de corrupção generalizada, de investimentos constantes nos complexos militares gigantesco internacionais.
As suas mais importantes facções, ordens e congregações – Companhia de Jesus, Opus Dei, Legião de Cristo, Cavaleiros de Malta, Salesianos, Dominicanos, Beneditinos, Franciscanos, Filhas do Amor Divino, Serva das Servas, entre outros, são meras firmas capitalistas. (Pode-se falar, com propriedade que são várias centenas).
Na realidade, a Igreja Católica é, acima de tudo, a maior empresa económica e financeira do Mundo.
Admite-se que hoje – os dados são meramente estimativos e por baixo – o Vaticano controla, directa e indirectamente, mais de 15 % do mercado de acções  em todo o Mundo.
Os negócios atravessam todos os sectores financeiros, económicos e sociais planetários (desde Portugal até à China, passando pelos Estados Unidos da América e acabando em África).
A Igreja Católica controla, por exemplo, o Banco Central Europeu, e tem uma quota-parte elevada no sistema financeiro norte-americano, incluindo Wall Street e inglês, através da City londrina.
É justamente uma mega-instituição capitalista em expansão, que entra em contradição com os pressupostos ideológicos de um sistema religioso que preconiza o contrário, mas isso não vai fazer recuar o que está no centro do seu poder real: a busca constante do lucro.
Fará piruetas para fazer esquecer o seu itinerário macabro: o seu chefe máximo poderá vestir-se de palhaço, fazer declarações de “piedade”, de apelos à pobreza.
Mas o que conta é a riqueza, mas tal facto terá de ser obscurecido, manipulado. 
Como, aliás, fazem todos os que enveredam pelo mesmo caminho.
Os Estados Unidos criticam os que cometem crimes, mas usam a propaganda para sustentar que actuam para o progresso da humanidade, para abrir caminho à democracia.
O lema da Igreja Católica foi, abertamente confessado, por um dos homens que contribuiu para que essa instituição religiosa se tornasse na grande “força avançado” do actual lúmpen grande capitalismo.
Chamou-se Paul Marcinkus, foi arcebispo, e durante mais de 20 anos, que começou com Paulo VI, dominou o maior branco mundial, o Instituto para as Obras Religiosas, o IOR: “Pode-se viver neste mundo sem se preocupar com o dinheiro? Não se pode dirigir a Igreja com avé-marias”.
Ele foi o braço direito e protegido de João Paulo II no desbravar de todo o tipo de negócios, em todo o tipo de falcatruas, de operações ilegais, desde lavagens de dinheiro à venda de armamentos, passando por traficância de drogas, até ao fomento de guerras.
3 - Tudo isto está registado, porque desde o chamado escândalo do Banco Ambrosiano e da loja maçónica transnacional P-2, nos anos 80 do século passado foi investigado pela justiça e pelo Parlamento italianos.
Mas já antes um jornalista católico, Nino Lo Bello, já falecido, que foi correspondente, durante oito anos junto da Santa Sé, do “New York Herald Tribune”, escreveu um livro sobre a actividade terrena do Estado papal, que intitulou “O Empório do Vaticano”.




Antes deste, um autor, que viveu intensamente, por dentro, a vida religiosa, participante activo da Resistência italiana contra Benito Mussolini e foi mesmo Cavaleiro da Ordem de Malta, economista de formação, de nome Avro Manhattam, falecido em 1990, decidiu, ainda nos anos 50, começar a denunciar o que se passava, realmente, no interior da Santa Sé.
Escreveu, em 1952, uma obra que chamou de “Imperialismo Católico e a Liberdade Mundial”, mas o aprofundamento dos negócios da Igreja Católica somente foram escalpelizados por ele, já em 1983, num livro, muito conhecido, chamado “Os biliões do Vaticano”.
Referencia, com fontes que considera “confiáveis”, que o Vaticano é um dos principais accionistas, senão o maior, do Bank of America, Chase Manhattan, City, Morgan Stlanley, Bankers Trust, de empresas como a Gulf e a Shell, da grande indústria como a General Motors, General Electric, Bethlem Steel, aviação e alta tecnologia militar, como a Boieng, Lockheed, Douglas, Curtis Wright. Todo isto em intima ligação com os Rotschild, Rockfeller, Hambro (Inglaetrra), entre outros.
Em 1999, o jornalista italiano Gianluigi Nuzzi publica um livro que intitula de “Vaticano S.A.”, que se baseia em documentação deixada por um dos mais importantes administradores financeiros do IOR, um monsenhor, já falecido (2003), chamado Renato Dardozzi, homem de absoluta confiança de João Paulo II.
Solicitou, a pessoas amigas , que entregassem os documentos a Nuzzi, com a recomendação: “Tornem público esses documentos para que todos saibam o que aconteceu”.
Também se pode consultar um livro do professor universitário, ensaísta e jornalista Eric Fratini, cujo título é “Os abutres do Vaticano”, editado este ano pela Bertrand em Portugal, que relata a corrupção, jogos de interesses entre ordens e grupos religiosos organizados, ligações à Mafia, lavagem de dinheiro e especulação financeira no interior do IOR.
Recentemente o jornal inglês “Guardian” editou uma ampla reportagem sobre a penetração financeira e económica na Inglaterra.
Pode ser consultada em www.guardian.co.uk.

O título – tradução – é “Como o Vaticano construiu o seu império secreto em propriedades, usando os milhões de Mussolini", da autoria dos jornalistas David Leigh, Jean François Tanda e Jessica Benhamou.
Em síntese, a reportagem assinala como a Santa Sé construiu um “império secreto”, através de paraísos fiscais, em imóveis de grande valor, usando os milhões de liras, que foram doados por Mussolini, em troca da aceitação do regime fascista por parte do Papado romano, em Inglaterra, França e Suíça, entre outros países, com um valor estimado pelos jornalistas em mais de 500 milhões de libras.
Citam, entre muitos bens patrimoniais, as lojas da marca BULGARI, os joalheiros de luxo da New Bond Street, mas também a sede do importante banco de investimentos Altium Capital International Investment Bank e a Pall Mall.
A revista “Forbes”, do dia 21, na sua edição mexicana, intitulava um artigo sobre os meandros papais, titulando, precisamente: *As finanças “impuras” do Vaticano*.
4 – O então provincial dos Jesuítas na Argentina, Jorge Mario Bergoglio, conviveu com a ditadura militar argentina durante todo o período de responsabilidade à frente daquela ordem católica.
A companhia de Jesus não perdeu qualquer poder material durante o período ditatorial.
Aliás, o almirante Emílio Massera, o número dois da Junta Militar, liderada pelo general Jorge Videla, foi, em 1977, professor honorário da Universidade jesuítica de Salvador.
Ora, tal cargo não poderia ser aceite sem a anuência do provincial, que, na altura se dizia seu amigo.
A lavagem do papel dos Jesuitas durante a ditadura argentina já começou há muito, e agora, em particular o papel de Bergoglio.
Vão aparecer declarações de jesuítas presos e torturados, a afirmar o contrário. 
Um deles,  Francisco Jalics, agora com 85 anos, mais ou menos *enclausurado* num convento na Alemanha, que apontou directamente para Bergoglio, como cúmplice activo na sua tortura e posterior deportação, afirmou, agora, que já “perdoara”, mas não negou o sucedido.
Esse evento pode ser apenas um caso. Pode ter muitas versões.
A realidade é esta: a Companhia de Jesus é a mais importante ordem religiosa do catolicismo, na sua actividade financeira e económica, que inclui o controlo do ensino, da assistência hospitalar, actividades comerciais e industriais.
Retiramos do livro de Avro Manhattan, “Os biliões do Vaticano”, a que diz respeito à acção mercantil da Companhia de Jesus nos Estados Unidos, situando à época que foi publicado.
“Os jesuítas controlam o Federal Reserva Bank, o Bank of America, a CIA, o FBI, a Emigração, a Segurança, as multinacionais do petróleo, ferro, aço, etc., enfim controlam toda economia ocidental”.
Manhatan referiu que este controlo se fazia em estreita colaboração com os grandes capitalistas judeus internacionais.
5 -Curioso é que o então cardeal Bergoglio entrou em choque profundo com o Presidente Nestor Kirchner, quando o seu governo tentou mexer no controlo bancário, na aplicação de impostos às grandes fortunas e sobre as entidades privadas, como a Igreja Católica, que beneficiavam da isenção de impostos.
É este senhor, agora Papa que, verbalmente, e em geral se insurge contra o capitalismo, pede uma casa para cada família, atira, sem ficar envergonhado, slogans a favores dos desprotegidos.
Pois, na Argentina,  a mesma Argentina, a Igreja Católica tem o privilégio legal de pessoal jurídica de carácter público.
Tal facto garante a Igreja Católica e às suas instituições benefícios iguais idênticos aos que são concedidos às empresas estatais, como, exactamente, a redução ou mesmo a isenção de impostos.
Além disso, essa mesma Igreja recebe subsídios estatais para os seus estabelecimentos de ensino, cujos alunos pagam propinas escolares.

Cada bispo católico recebe do Estado um salário mensal de cerca de 1.300 euros, bastante elevado para o padrão de vida dos argentinos que trabalham.
Pregar para desviar a gentalha do essencial é fácil, quando se tem o poder na mão; difícil é denunciar toda a podridão daqueles que invocam o nome de deus para viver como nababos.
É PRECISO QUE ALGO MUDE PARA QUE TUDO FIQUE NA MESMA.

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

QUEM DESEJA E FOMENTA A EMIGRAÇÃO ILEGAL?



1- Nas primeiras páginas dos meios da comunicação social portuguesa estiveram notícias sobre uma entrada, eventualmente forçada, em Bissau, de 74 emigrantes sírios ou turcos num avião da Transportadora Aérea portuguesa TAP, como "passageiros clandestinos", entrada forçada esta que teria sido efectuada, segundo as informações divulgadas oficialmente, mas não alvo de contraditório por parte dos jornalistas, por altos responsáveis governamentais da Guiné-Bissau, com o apoio das forças segurança e paramilitares.

Socorro-me de uma reportagem do jornal "Público" do passado dia, que sem indicação de fonte, refere que "o destino final dos sírios não era Portugal, mas um país do Norte da Europa. O método já tinha sido utilizado há alguns meses por outro grupo de emigrantes árabes que saíram de Bissau, passaram por Lisboa e rumaram a vários países europeus".

Significa isto que os casos não eram, portanto, "virgens": embarcavam em Bissau, com o consentimento de alguém da parte portuguesa, que não o referenciou, nem dele foi dado conhecimento.

O que é lógico, numa interpelação policial ou meramente jornalística, está na pergunta: "porque é que eventuais emigrantes de países geograficamente distantes, tinham conhecimento de que uma via *fácil*, até agora de entrada na Europa, era através de Portugal e, particularmente, com os "olhos" fechados da TAP ou de outras entidades?".




Como dizia o outro: "não há transportes aéreos ilegais, sem pilim".

Algo deve ter corrido mal no "negócio" de Bissau?!!!

E, vou mais longe: no contrabando de homens existe sempre uma rede organizada a partir das origens e com locais predestinados de destino.

Quer queiramos, quer não, não se pode esconder o "sol com a peneira", estas "traficâncias" nunca se fazem sem o conhecimento das autoridades, directa ou indirectamente, ligadas ao controlo de fronteiras e não só.

Até porque, sejamos frontais, pela extensão, nos dias de hoje, do problema de movimentações de populações em larga escala, pela via ilegal em todo o mundo, esta "economia" dá muito dinheiro, e este, tal a sua opacidade e quantidade que tem de circular, para sobreviver e se multiplicar, só o consegue, se tiver um "mealheiro" para o reciclar discreta e rapidamente, ou seja, os bancos.

2 - O fluxo massivo de pessoas em busca de uma vida melhor um pouco por todo o mundo é um indicativo do fosso cavado nas desigualdades económicas e sociais entre países mais e menos avançados e na desumanidade com que se está a fomentar, por parte do mundo capitalista ocidental, através da guerra e da rapina sangrenta das matérias-primas, por intermédio, normalmente, de "senhores da guerra" locais ou do capacete do poder dominante, chamado ONU, na desorganização estatal e social nos Estados e territórios para que o neocolonialismo se faça a "preço barato".

A emigração é um sinónimo de empobrecimento ou mal-estar social das populações que a vão praticar no seu país natal.

E, em parte, quem fomenta - e até organiza, ainda que encobertamente através de intermediários oficiais ou informais ou, mesmo, e cada vez mais, de redes organizadas - essa emigração é o próprio patronato do Estado (s)/pais (es) mais avançados para conseguir (em) mão de obra mais barata, e, consequentemente, fazer baixar os salários internos e maximizar o mais rapidamente possível o lucro.

Com o beneplácito das autoridades governamentais instituídas e a cumplicidade de mãos largas do sistema financeiro (nacional e internacional).

3 - A política de apelo à emigração é, actualmente, em Portugal uma orientação governamental, para não dizer de Estado.

Está divulgado, oficialmente, pelo próprio chefe do governo actual, Passos Coelho (DE, 18/12/2011):

"Os professores portugueses podem olhar para o "mercado da língua portuguesa" como uma alternativa ao desemprego que afecta a classe em Portugal". Reparem no termo "mercado" humano!!!

"Em Angola e não só, o Brasil também tem uma grande necessidade, ao nível do ensino básico e secundário, de mão de obra qualificada", respondeu o primeiro-ministro quando questionado, em entrevista ao Correio da Manhã, se aconselharia os professores excedentários em Portugal a abandonar a sua zona de conforto e procurar emprego noutro sítio.

Cita-se novamente o DE (31/10/2010): "O jovem desempregado em vez de ficar na *zona de conforto* deve emigrar", disse o secretário de Estado da Juventude e do Desporto, Manuel Mestre.


(A zona de conforto deve ser o local de dormida na rua dos sem abrigo).

"Se estamos no desemprego, temos de sair da zona de conforto e ir para além das nossas fronteiras", disse o governante, que falava para uma plateia de representantes da comunidade portuguesa em São Paulo e jovens luso-brasileiros.

Num mail enviado pelo organismo oficial que deveria fomentar o emprego no país IEFP (Instituto de Emprego e Formação Profissional), em 2013, a um número indeterminado de enfermeiros – alguns deles inscritos já há cerca de dois anos.


Do jornal Público

Ora, este Instituto divulga propaganda de várias acções de recrutamento de enfermeiros e enfermeiras.

As propostas são várias e todas elas para outros países: Reino Unido, Irlanda, Alemanha…mas, não em Portugal.

E esta orientação, exactamente, na mesma linha de pensamento e acção da política salazar-caetanista do Estado Novo.

Especifica-se este período, porque foi com a governação de Oliveira Salazar, onde Marcelo Caetano era Ministro da Presidência que se discutiu, oficialmente, no Congresso Colonial de 1940 uma política de emigração para obstar ao surgimento de uma crise social no país.

E nesse Congresso, essa política foi colocada não só em termos de emigração, quer para as então colónias portuguesas e para países estrangeiros, mas, igualmente, institucionalizando uma colonização interna.


(Como dados de emigração. Na primeira metade do século XX, houve uma emigração de cerca de 1.550 pessoas - José de Sousa Bettencourt, O fenómeno da emigração portuguesa, 1961).

Maria Ioanis Baganha, na revista Análise Social, de 1994, em estudo com o título "As correntes emigratórias portuguesas no século XX e o seu impacto na economia nacional" refere que, entre 1900 e 1988 emigraram de Portugal cerca de 3,5 milhões de pessoas, 25 % das quais ilegalmente.

Assinala que 61 % dessa emigração se deu entre 1950 e 1988, sendo que entre 1963 e 1973 correspondeu a 48% do total de saídas no período de 88 anos. O grosso da emigração ilegal ocorreu naquele período

Segundo aquela investigadora, entre 1986 e 1988, saíram de Portugal cerca de 174 mil portugueses, mas, nesta altura, a emigração era essencialmente sazonal - 139 mil. Os restantes 35 mil foram permanentes.

A situação hoje deve estar a nível dos anos 1963 a 1973, digo eu).

Regressemos ao Congresso Colonial.

Um dos teóricos de Finanças Públicas do regime de Salazar, catedrático da Faculdade de Direito Fernando Emídio da Silva defendia, em primeiro lugar, a colonização interna, mas é essencialmente adepto da emigração para o Brasil pelo retorno de dinheiro.

Para Armindo Monteiro, que foi Ministro dos Negócios Estrangeiros, o Estado deveria impulsionar a emigração para o Brasil, em detrimento das antigas colónias que apenas deveriam ser destino daqueles que desejassem um "destino diferente" ou então não conseguissem "uma situação compensadora" na antiga colónia portuguesa sul-americana.

Henrique Galvão, antigo oficial do Exército, então deputado e inspector superior colonial, o destino da emigração deveria ser canalizado para a "colonização" africana.

O que merecia reticência de Fernando Emídio da Silva: "A emigração para as colónias portuguesas, como que exprimindo um instintivo horror pela África, é uma espécie de constante que não segue a curva ascensional da emigração".

Oliveira Salazar era pragmático no seu desejo de colocar portugueses fora do território: "Mesmo que supuséssemos o aproveitamento integral das terras irrigáveis e baixássemos para um hectare o lote a distribuir por família, teríamos conseguido estabelecer 150.000 famílias,e, a 4 ou 5 pessoas por família, 600 a 700 mil indivíduos. Ficamos longe de uma absorção total".

Em termos práticos, ou mandamos embora grande parte da população ou o regime rebenta, eis o pensamento rectilíneo de Salazar.

Por isso, legal ou ilegalmente, a *ordem* era colocá-los para fora de Portugal.











domingo, 15 de dezembro de 2013

O PCP DE CUNHAL DATA DE 1935, COM CONTRA-REVOLUÇÃO INSTALADA NA URSS



1 - O PCP comemorou, no passado dia 10 de Novembro, o 100º aniversário do seu falecido secretário-geral Álvaro Cunhal.

Foi uma acção partidária a quem tem todo o direito de o fazer, já que foi o seu dirigente principal durante um período largo da sua existência.

Álvaro Cunhal foi uma personalidade política, que teve um certo destaque no combate ao regime fascista português desde os anos 40 do século passado até ao 25 de Abril de 1974.

Foi um resistente ao fascismo.

Sofreu fortemente a repressão violenta do governo de Salazar, que o associava a uma actividade, sumamente, revolucionária.

Como muitos outros, de outras formações políticas, considerados revolucionários, que, igualmente, estiveram enclausurados em Peniche pela sua actividade política até ao 25 de Abril de 1974, e que o regime já encimado por António de Spínola se recusava libertar por terem sido condenados pelo governo de Salazar por “delitos de sangue”.

Todavia, embora Cunhal se considerasse como comunista, com um acrescento de marxista-leninista, que nada tem a ver com o conceito inicial, e, fizesse questão de apresentar como o “líder” dos comunistas portugueses e procurasse ser o “representante” do comunismo internacional, particularmente, desde o XX Congresso do PCUS, tudo isso são questões que têm de ser testadas.

É este aspecto na sua actividade que merece a nossa crítica, pois ele nunca abraçou os ensinamentos de Karl Marx e Frederico Engels, nem na teoria, nem na sua “praxis”, como objecto central e estratégico de alcançar uma sociedade comunista.

Foi essencialmente um seguidor de Josep Stáline.

Depois do golpe de Estado abrilista, em 1974, em Portugal, ele e o seu partido fizeram parte, actuante, da governação em coligação entre um sector do regime fascista derrotado, que se acolitou em torno do então general António Spínola, a burguesia representante do capital financeiro, cujo expoente foi Francisco Sá Carneiro, a representação burguesia liberal, onde pontificou Mário Soares e a pequena burguesia que se apelidava marxista-leninista, como gestor acutilante do programa democrático-burguês do Movimento das Forças Armadas (MFA),com desprezo do internacionalismo.

Aplicou, deste modo integralmente, o seu principal informe político de Abril de 1964, como o título saído em livro de “Rumo à Vitória”, que descrevia um relatório do Comité Central do seu Partido, encimado pela consigna “as tarefas do Partido na Revolução Democrática e Nacional”.

No fundo, um apelo à “unidade de todos os portugueses honrados” que o orientava desde os anos 40, seguido então as práticas stalinistas da URSS.
Com o golpe de Estado do 25 de Novembro de 1975, que lhe retirou parte – isso já acontecera cerca de um mês antes ao participar no VI Governo provisório - da sua participação no poder de Estado, o PCP manteve-se, no entanto, completamente humilhado, no mesmo  governo até 1976, contribuindo com a sua cumplicidade e dupla face (até quando lhe prendiam militantes e matavam oficiais e civis anti-fascistas) para a recuperação e reorganização capitalistas, que atinge o auge no momento presente.


Mais uma vez, seguia as orientações dadas pelos dirigentes da antiga URSS sob o “equilíbrio” de poderes entre superpotências, em detrimento dos interesses superiores das classes trabalhadoras, em particular do proletariado e dos interesses internacionalistas do mesmo.

2 – O papel e a actividade que desempenhou na sociedade portuguesa devem, nesse sentido, ajuizar sobre a sua actuação histórica desenvolvida na mesma, e, em particular, - porque é isso que nos interessa -, o desempenho de Cunhal como principal dirigente de um Partido que se diz comunista.

O PCP pode elevá-lo à condição de “personalidade única” (mas face a quê? Dentro daquele partido, na sociedade portuguesa?) e intitulando-o como o “consequente defensor das liberdades, dos direitos, das transformações democráticas alcançadas na sociedade portuguesa com o 25 de Abril e, ainda, consagradas na Constituição da República, e o mais consequente construtor de um futuro melhor para o nosso povo e o nosso país”.

Claro, ao fazer tais panegíricos tem de se sujeitar à crítica história e à “arma da crítica política”.

E aí, o que O PCP sustenta que ele fez ou o que ele representou, no meu ponto de vista, não tem correspondência com a análise do materialismo histórico.

“Álvaro Cunhal personalidade ímpar que é, sem dúvida, o mais destacado construtor do PCP, é alguém cujo perfil e dimensão intelectual e humana são também formados no PCP e pelo PCP, formados no grande colectivo partidário”, este naco de prosa, tal como os extractos anteriores, de uma banalidade confrangedora, está inserido na nota oficial daquele partido sobre o aniversário em questão.

“Personalidade única”, “personalidade ímpar” são frases altissonantes, mas vazias, agravadas com o facto de serem proferidas por um Partido que se diz construído no colectivo e que são os seus membros os esteios da criação, organização e da actividade do mesmo, e não uma figura individual, por muito intelectualmente desenvolvida que seja.

Em primeiro lugar, o PCP não foi criado, nem edificado sob a direcção de Álvaro Cunhal.

É uma falsidade histórica.

Aliás, a criação daquele partido, como todos as formações neófitas e baseadas nas estruturas e programas de outras já enraizadas e, além do mais, já colocadas no poder de Estado, como é o caso em apreço, do Partido Operário Social-Democrata da Rússia (bolchevique) (POSDR, bolchevique), que, somente se veio a chamar Partido Comunista da União, a partir de 1925 e, em 1934, Partido Comunista da União Soviética, tem um espaço temporal definido.

(Em 1918, quando os bolcheviques tomaram o poder transformaram o POSDR – bolchevique em Partido Comunista de Todas as Rússias).
Na realidade, na época, a velocidade de informação era muito lenta, e a criação do PCP, no início, pouco, ou quase nada, tem a ver com o próprio programa bolchevique.

E, acima de tudo, com as ideias de Karl Marx e Frederico Engels, que lançaram as bases programáticas, com o “Manifesto Comunista”, do que deveria ser uma formação internacionalista, que serviu de base para a criação da I Internacional.

A aliança operário-camponesa que se torna a base programática central dos Partidos da III Internacional, na parte final da vida de Lénin, e, essencialmente, de Stáine, que lhe acrescenta uma tese de carácter anti-Marx e anti-Engels de construção do “socialismo num só país”, são princípios claramente contrários daqueles pensadores comunistas, em especial a tese stalinista que é um atentado ao principio do internacionalismo, pois renegava, na altura, a capacidade de surgirem revoluções socialistas noutros países.

O PCP tem um pré-período de formação que remonta a Outubro de 1919, quando é publicado o primeiro número do jornal “Bandeira Vermelha”, como “semanário comunista”, à volta do qual é forjada a Federação Maximalista Portuguesa.

São, essencialmente, operários anarco-sindicalistas (Manuel Ribeiro, António Peixe, Francisco Dias, Arsénio Filipe e José da Silva Oliveira), que se afastam da sua central sindical, a CGT, e manifestam o seu apoio à Revolução Russa, de cujos princípios ideológicos, programáticos e sociais pouco conhecem.

As Bases Programáticas de um futuro Partido Comunista são publicadas, cerca de dois anos depois, a 27 de Janeiro de 1921.

A 6 de Março, surgem os organismos de direcção, depois de ter havido uma reunião em Lisboa, antes de terem sido aprovados os seus programa e estatutos e elegerem, em assembleia-magna, os seus dirigentes.

O I Congresso do PCP tem lugar entre 10 e 12 de Novembro de 1923. Ali foi eleito um Comité Central, cujo principal dirigente foi Carlos Rates.

Foi apresentada uma tese programática, que não chegou a ser discutida por imposição do delegado da II Internacional Jules Humbert Droz, que preconizava a venda das colónias à Inglaterra como forma de resolver o enorme défice de Estado, obra do capitalismo nascente.

Alíás, Droz pouco tempo se mantem como “funcionário” da IC, pois tempos depois foi afastado por ser um apoiante de Leon Trotsky.

(A criação do PCP e as suas derivas iniciais, não estão isoladas das divergências que, por um lado, se estão a dar dentro do PCUS, e, por outro, no interior da III Internacional, fundada, em 1919, sob os auspícios de Vladmir Lénin, para conseguir furar o isolamento que o capitalismo liberal procurava impor à mudança de poder e conseguir a adesão dos partidos e movimentos comunistas ocidentais à Revolução soviética, cujos pressupostos ideológico-programáticos da revolução operário-camponesa, se opunha, principalmente, o Partido Comunista Alemão, defensor de um programa descentralizado apoiando essencialmente nos conselhos operários.

A chamada reorganização posterior do PCP é efectuada quando a revolução soviética já estava derrotada, e no interior do novo poder de Estado e do próprio PCUS se formou uma poderosa e constante contra-revolução, disfarçada com frases e apelos revolucionários, que mais não fizeram, infelizmente por demasiado tempo de permanência no poder, do que desmontar e destruir tudo o que foi subversivo em Outubro de 1917.
Este não é o assunto central deste artigo.

Mas, a ele nos iremos referir, no entanto, num capítulo próprio para balizar o verdadeiro papel desempenhado, em Portugal, pelo PCP, sob a orientação de Álvaro Cunhal).

As primeiras orientações do novo Partido, saíram da escrita de Carlos Rates, no jornal “O Comunista”, de 8 de Dezembro de 1923.

Aquele dissertou sobre um projecto programático, algo anquilosado e nada tendo a ver com a teoria de Marx e Engels.

Assim ele defendia uma ditadura das esquerdas contra a ditadura das direitas.

Sustentava ele que os comunistas eram partidários de uma revolução imediata, porque as classes laboriosas e populares eram uma massa inerte e indiferente.

Para ele, sem qualquer análise classista e histórica, quem dominar Lisboa, domina o país.

Faz uma previsão de que poderia ser instaurada, brevemente, uma “ditadura das direitas” e, de imediato, no dia seguinte, a população aderirá aos vencedores, mas que três meses depois já se voltarão contra essa ditadura.

Admite que será uma prova que os trabalhadores, os proletários, terão se suportar.

Na senda desse imediatismo, em 28 de Agosto de 1924, participaram numa revolta abortada. Foram presos oito militantes comunistas.

Depois, em 1925, sem qualquer separação política e ideológica com o programa de um executivo, que tinha sido apoiado pela ala direita do PRP, liderado por José Domingues dos Santos, e mais tarde, acossado pelas forças do Capital, apela para operariado, com ataques ao sistema financeiro e algumas reformas na agricultura, o PCP dá-lhe todo o apoio, sem exigir o prosseguimento das nacionalizações e o desarme das forças policiais, numa frente comum com a ala esquerda do Partido Republicano, com socialistas, CGT e Federação Nacional das Cooperativas.

Depois do II Congresso, que se efectuou em Lisboa entre 20 a 20 de Maio de 1926, o PCP sofreu os efeitos do golpe de Estado militar desse ano, que impediu o término da assembleia, e entrou numa deriva organizacional e política.

Com a entrada do operário do Arsenal Bento Gonçalves naquele partido e a sua ascensão em 1929 a secretário-geral, o PCP começou a adquirir, então, os traços de uma estrutura partidária organizada em células, e uma hierarquia de compartimentação.

No entanto, verifica-se que não existe uma estratégia e tácticas definidas, levando o partido, que era pequeno e pouco enraizado nos sectores operários e populares, a actuar “no imediatismo”, como em 1932 em que procura por em prática acções armadas com lançamento de bombas e a criação de brigadas paramilitares contra a criação do imposto de desemprego, que sacrificava muitos militantes e estruturas partidárias.

Em 1934, os elementos operários do PCP, juntamente com seus camaradas anarco-sindicalistas lançam um princípio de movimento insurreccional em todo o país, que apenas teve um momento alto na Marinha Grande, mas que foi jugulado pelo aparelho fascista em formação.

Todo este passado de acção revolucionária, ainda que incipiente e muito dispersa, foi completamente menosprezada e aviltada pelo “novo” PCP, que não retira destes actos,  lições de “praxis” revolucionária para o futuro.

Até meados da década de 30, Álvaro Cunhal pouca ou mesmo nenhuma influência tem na estrutura dirigente cimeira do PCP.

Apenas em 1936, depois de Bento Gonçalves ser preso em Novembro de 1935, quando regressava da antiga URSS, Cunhal é cooptado para membro do Comité Central, onde se junta a Alberto Araújo, Manuel Rodrigues da Silva e Pires Jorge.  

Em 1936, uma organização do PCP para a Armada (Organização Revolucionária da Armada) organiza uma sublevação a bordo dos contratorpedeiros Afonso de Albuquerque e Dão, que se preparavam para intervir, ao lado das forças franquistas, na guerra civil espanhola.

Esta acção valorosa foi, no entanto, derrotada e conduziu a um elevado números de presos militantes do PCP e à colocação de muitos deles no campo de concentração do Tarrafal.

Este período que vai daquele ano até 1941 é percorrido por uma fase de desorientação, lutas internas desordenadas e desconfianças acirradas pelas prisões pela polícia política.

O PCP chega a confrontar-se com dois CC (Em 1940/41, um grupo liderado por militantes como Cansado Gonçalves, Velez Grilo e Vasco de Carvalho intitula-se o núcleo dirigente, em contraposição à direcção Cunhal/Manuel Guedes/Pires Jorge/Pires Jorge).

O imbróglio fratricida entre militantes, essencialmente, intelectuais no PCP leva a IC stalinista a cortar, em 1939, o relacionamento com aquele partido.

É em 1943, que se realiza o III Congresso do PCP, onde Álvaro Cunhal já aparece como o principal dirigente – curiosa e subtilmente procura-se fazer esquecer o que anteriormente já constituía História daquele partido, intitulando-o de I Congresso, com uma rebarba oportuna, no conclave seguinte em 1946, de o considerar ilegal, metido, estrategicamente entre parênteses.

Cunhal apresenta o relatório político “A Unidade da Nação na luta pelo Pão, Liberdade e Independência”, com o pseudónimo de “Duarte”, e ainda um outro para desancar nos seus opositores internos que apelida de “grupelho provocatório” (Cansado Gonçalves), sendo os restantes apresentados, como apêndices- José Gregório “Relatório sobre as greves de 1942 e 43”, Manuel Guedes – sobre problemas de organização e Sérgio Vilarigues, sobre a Juventude.

(O relatório político de Cunhal será analisado seguidamente, já que ele é o documento central de toda a política cunhalista até à sua morte).

Como se referirá a partir do parágrafo seguinte, Álvaro Cunhal irá ter pouca influência directa na vida interna do PCP em toda a década de 50, pois é preso em 1949 e ficará detido até 1960, ano da sua fuga, juntamente com o principal grupo dirigente do seu partido, do forte de Peniche.

Emergirá, nesta altura, um antigo militante e dirigente chamado Júlio Fogaça, que aplicará diligentemente a doutrina cunhalista da III Internacional até 1957, altura em que se efectuará o VI Congresso do PCP, e os seus militantes se colocam, com toda a naturalidade, em sintonia com as teses saídas do XX Congresso do PCUS, realizado em 1956, então já sob a liderança de Nikita Krutchov, que defendeu e impôs a “doutrina de coexistência pacífica” a nível mundial com o sistema capitalismo liberal por parte dos seguidores do capitalismo de Estado vigente na URSS.

Depois da saída da prisão, criticou o que apelidou de viragem à direita do seu partido, cuja política  estaria só errada com a aplicação após o VI Congresso.

Claro manteve, como actual, a orientação programática da “unidade de todos os portugueses honrados”, que ele introduziu, mas ela estava, no fundo, já a ser posta contestada, há muito tempo dentro da estrutura partidária.

(Esses efeitos só ganharam notoriedade, com o início da guerra colonial).
Colocou-se, então, numa “posição intermédia” para reganhar novamente o controlo partidário.

Fogaça foi afastado do CC e do Partido.

Cunhal esteve somente mais um ano em Portugal, saindo para o exílio na antiga União Soviética.

A direcção executiva do PCP ficou nas mãos de três dirigentes: Vilarigues, Castanheira e Francisco Martins Rodrigues.
Este, já falecido, era, na realidade, o teórico e o responsável directo do jornal “Avante”.

Como é do conhecimento histórico, Martins Rodrigues aprofundou as divergências ideológicas e políticas, nascidas na própria prisão de Peniche, com Cunhal (e, já em liberdade, com o seu braço operacional no interior Vilarigues).

Na realidade, uma parte substancial das bases operárias do PCP, principal da cintura industrial de Lisboa, contestava a política de “unidade antifascista”, em que havia, na realidade uma subordinação estratégica à burguesia liberal e ao seu conceito de poder.

Estas divergências acentuaram-se com a eclosão da guerra colonial, em que a direcção cunhalista dava primazia a “unidade nacional contra o fascismo” em detrimento dos direitos dos povos colonizados à sua independência.

(O PCP colocou no papel, no VI Congresso, 1957, o direito dos povos colonizados a seguirem o seu próprio caminho, mas esta tese nunca passou à prática).

De certo modo e em certo sentido, o debate de finais dos anos 50 e primeiros anos de 60 do século XX foi o maior abalo ideológico dentro do PCP, e que teve início, justamente, dentro da prisão de Peniche.

Dos principais dirigentes presos críticos de então, como Francisco Miguel, recuaram na reunião do CC, realizada em Moscovo em 1963.

Foram colocados perante a possibilidade de serem expulsos e deixarem de ser funcionários, e apenas Francisco Martins manteve a sua posição.
Martins saiu, mas o PCP fez questão de o demitir, lançando-lhe um série de calúnias de carácter pessoal.

As cisões deram-se, mais tarde, em quadros intermédios. Os efeitos práticos do abandono daquele partido de jovens militantes operários ocorreu, justamente, nos pós-Abril.

Depois de 1963, Álvaro Cunhal ficou, então, o dirigente incontestado do PCP depurado. E idolatrado como um “santo cristão” pelos seus fiéis no pós 25 de Abril.

3 – A confissão é do próprio Álvaro Cunhal – está escrita na sua obra “O Partido com paredes de vidro”:  “É de sublinhar a importância que, para a formação política do PCP, teve o VII Congresso (e último) da Internacional Comunista. A linha política do PCP estava eivada de ilusões sectárias e voluntaristas”.

Ou seja, em termos práticos, a teoria programática do PCP foi forjada a partir do informe político do búlgaro Georgi Dimitrov, que liderava, em nome de Josep Stáline, a chamada III IC.


O objectivo estratégico dos partidos filiados ou ligados a essa IC foi a “unidade antifascista”.

O PCP e todos os velhos partidos que se reorganizaram com a IC de Stáline tiveram como linha ideológica estratégica fundamental até aos dias de hoje, aqueles que ainda se intitulam comunistas seguidores da velha URSS, o lema apresentado por Dimitrov, que vingou: “unidade a todo o preço para barrar o caminho ao fascismo, à guerra, ao imperialismo”.

Este novo programa estratégico está, precisamente, contido em dois relatórios políticos apresentados por Cunhal em dois Congressos partidários diferentes, em tempo e em condições políticas diferenciadas, o III, em 1943, (“A Unidade da Nação na luta pelo Pão, Liberdade e Independência”), o IV, já depois da II Grande Guerra, em 1946, que segue os ditames do primeiro e os aprofunda, no tipo de poder que preconiza, (“Unidade da Nação para a conquista da Democracia”).

Os informes de Álvaro Cunhal não trazem, pois, qualquer contributo ideológico e político à teoria comunista da luta de classes. Pelo contrário, obscurecem-na.

O enaltecimento que os actuais dirigentes escreveram para os 100 anos do nascimento de Álvaro Cunhal não passam de palavras mandadas para o vento: “A obra de Álvaro Cunhal é simultaneamente construção e testemunho da independência política e ideológica do proletariado português”.

Pelo contrário, são escritos mecanicistas e seguidistas das teses anti-comunistas delineadas pela dupla Stáline/Dimitrov para a chamada IC.
Pode-se começar pelos títulos dos dois informes: “Unidade da Nação…”.
Ou seja, a admissão, por parte de pessoas que se dizem comunistas, de que territórios coloniais ocupados e sujeitos aos maiores vexames pelo Estado fascista que os humilha, como “unidades políticas”, fazem, para o PCP, tal como Salazar, parte da “integridade territorial” (Avante, Janeiro de 1942), sem contestação.



Mas, vamos, em primeiro lugar, à questão da unidade de acção, com todos as classes e sectores que se opunham a Salazar: republicanos burgueses colonialistas, monárquicos profundamente conservadores e pró-capitalistas, apenas meros oponentes do ditador, fascistas em litígio com aquele, como Rolão Preto, entre outros.

A unidade em si não é má.

A questão é a prática e os princípios de um Partido Comunista, aplicados a um projecto que somente deve ser feito com sectores da burguesia democrática, mas que não estejam enquadrados numa orientação reaccionária, como eram os casos dos monárquicos colonialistas e os fascistas não salazaristas.

Não se pode aceitar este projecto, apresentado como comunista, sem definição, mesmo em compromisso, de um programa mínimo que tenha como objectivo a edificação de uma nova sociedade.

Para as classes trabalhadoras, Cunhal sustenta que o único caminho para “o derrubamento do fascismo” passa, essencialmente, pela “conquista da democracia”. Ou seja, a República parlamentar burguesa.

E, esse é o caminho que vai continuar a ser impulsionado pelos seguidores da URSS e pela burguesia capitalista mesmo depois do fim da II Grande Guerra - PCF em França, com Maurice Thorez, PCI em Itália, com Palmiro Togliati.

Eles foram o sustentáculo que deu argamassa à consolidação da grande burguesia, abalada pela queda dos regimes nazi-fascistas, a quem estivera íntima e umbilicalmente ligada.

Nem uma única reivindicação revolucionária, apenas teses democrático-burguesas, que, segundo o jornal “Avante”, de Fevereiro de 1943, deve acabar na “instauração de um governo democrático de unidade nacional”.

E quem cabe nessa miscelânea, todos os que se opunham ao “salazarismo” inclusive os legionários “honrados” que o suportam. 
É, nesta perspectiva, que em 1949, o jornal “Avante” coloca, como notícia destacada da sua primeira página um elogio de panegírico, por ocasião da sua morte ao monárquico conservador, antigo ajudante de campo do último rei de Portugal e adepto sem reservas da ocupação colonial Paiva Couceiro.



Com o título, precisamente, “PAIVA COUCEIRO inimigo do fascismo”, apenas porque aquele era um oponente a Salazar, que não sancionara a restauração da monarquia, como prometera aos seus apologistas, que o apoiaram na ascensão ao poder.

Mas, é também, em 1949, que o PCP apoia sem reservas o programa político do candidato presidencial da “oposição” general Norton de Matos, incluindo o seu programa assumidamente colonialista.

E isto numa altura que os “ventos da História” estão colocando em marcha acelerada a independência das colónias europeias em África e no Extremo-Oriente.

Foi por iniciativa do PCP, que os seus jovens membros de origem africana, alguns dos quais serão os futuros dirigentes dos novos Estados que se separaram, pela luta armada, de Portugal, assinaram, através do Movimento de Unidade Democrática (MUD) juvenil, um documento de apoio sem reservas à política colonial de Norton de Matos.

Esta prática não é passageira, nem desinserida de uma orientação ideológica perfeitamente instalada e enquadrada.

Durante todo o período de tentativa pacífica da nova República Indiana de incorporar no seu território os resquícios coloniais de Portugal naquele continente, que levam, primeiramente, a uma fase de mensagens verbais, e, posteriormente, à ocupação definitiva do chamado “Estado da Índia”, o PCP, através do seu órgão central, em lugar de defender as posições de separação, que a própria ONU já incluíra nos direitos universais dos povos à cessão política das potências ocupantes, sustentava uma posição “ultranacionalista”, argumentando que “Salazar afasta Goa de Portugal” (ver jornal Avante, 1947).

Com argumentos do *arco da velha”. Cita-se: “Pela sua política antidemocrática e de opressão colonial, o governo salazarista está cavando um irremediável abismo entre Portugal e os povos coloniais”.

Ou seja, a colonização “democrática”, via “unidade de todos os portugueses honrados”, acabava com a opressão daqueles povos….

Na realidade, foram os dirigentes dos partidos e movimentações de libertação que acabaram com o lema cunhalista da “unidade da nação para a conquista da democracia”, ao romperem, a partir de Angola, que à revelia e em ruptura do PCP, constituíram, primeiro, o Partido Comunista de Angola, com os irmãos Pinto de Andrade e Viriato da Cruz, sem Agostinho Neto, e, posteriormente, o MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola).

4 – A Revolução Soviética de 1917, porque sucedeu num país imenso que meses antes derrubara por um levantamento popular imenso uma tirania sanguinária medieval, trouxe um regozijo e um fascínio que ultrapassou as fronteiras da Europa e se espraiou pelas Américas, Ásia e Oceânia.

E mais transbordo de alegria manifestou, porque aconteceu depois de derrotas violentas e significativas de movimentos e experiências revolucionárias e socialistas, especialmente na França da Comuna.

O que se estava a passar na Grande Rússia, com a sua vitória nos dois anos seguintes, numa guerra civil enorme, contra todo o mundo capitalista mais avançado da altura, parecia dar indícios de que uma revolução mais ampla e generalizada poderia alastrar no planeta terra.

A formação, em 1922, a partir da Revolução Russa, de um grande Estado federado que ia desde a Europa ao Extremo-Oriente, sob a designação de União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, que enquadrava o que é hoje a Ucrânia, a Bielorrússia, a Geórgia, a Arménia, Cazaquistão, Quirguistão, Uzbequistão, Tadjiquistão e Turcomenistão, maior alento deu ao que se considerava ser possível, em tempo breve, um despoletar de levantamentos revolucionários, principalmente, noutros Estados europeus.

A iniciativa, lançada pelo PCUS em 1919, de criar uma III Internacional, depois do levantamento revolucionários na Hungria (de Março a Agosto de 1919) e na Alemanha de 1918-19 (Baviera), reforçou a ideia entre os revolucionários de uma arrancada para uma nova era de poder das classes laboriosas.

Na realidade, a vitória revolucionária do Partido bolchevique russo, em Outubro de 1917, então sob a liderança de Vladimir Lénine, e com um programa de ruptura de poder em torno dos princípios do Manifesto Comunista, colocou em pânico toda a grande burguesia mundial, especialmente aquele onde dominava os países capitalistas mais avançados, que se lançou nos braços de programas claramente reaccionários, que se acolitavam, primeiro, em torno de partidos conservadores reaccionários, e, na década seguinte, em formações de carácter nazi-fascista, como Portugal, Espanha, Itália, e, posteriormente a Alemanha.

Todavia, depois dos fracassos das revoluções na Alemanha e na Hungria, e das mudanças de orientação programática e prática do Partido Comunista Russo, optando pela introdução de medidas capitalistas nos campos, com a chamada NEP (Nova Política Económica), iniciada em 1922, começava a verificar-se que o período revolucionário em particular na Europa entrava em retrocesso, e a situação económica e política no interior do que viria a ser a União Soviética entrava numa fase de ambiguidade que o próprio Lénine, ainda em vida, denominava de práticas capitalistas, disfarçadas com um verniz soviético, que intitulou mesmo de “capitalismo de Estado”.

Quando, em 1928, já depois da morte de Lénine, o grupo dirigente, onde começava a pontificar Stáline, dá por finda a NEP, verifica-se que se dera uma transformação profunda no programa socialista do PCUS, como se registava um descontentamento, com revoltas operárias e camponesas, e um afastamento em grande escala dos sectores revolucionários daquele partido e uma centralização brutal de um poder de Estado nas mãos de uma minoria – desprezando as análises de Marx e Engels sobre a destruição de Estado à medida que se evoluísse para o socialismo - que caminhava para a colocação em prática de medidas repressivas para impor em praticas as orientações económicas e políticas.

Quando finda a NEP, o fosso salarial entre operários aumentara substancialmente, igualmente se verifica uma diferenciação elevada entre funcionários superiores do PCUS e a maioria da população, a abertura ao sector privado nos campos e no comércio está a ser aproveitado para a formação de uma camada mais alargada de uma nova burocracia endinheirada e de sectores intermédios de camponeses mais beneficiados  (que na iniciativa inicial de Lénine pretendia ser apenas ao pequeno campesinato e pequeno comerciante) e mesmo ao capital internacional, que nunca mais foi enquadrado.

Revolução Socialista russa de 1917 tinha soçobrado e estava a ser dirigida por uma minoria, e esta minoria que venceu as restantes facções partidárias, aniquiladas violentamente,  conseguiu manter-se, mais tempo no poder, embora entrando claramente numa orientação contra-revolucionária.

A sua continuidade no poder deu-se porque manteve pretensas bandeiras revolucionárias, com as nacionalizações bancárias e industriais e a colectivização de terras, mas tudo em modelos de repressão forçadas, que satisfaziam, em parte o interesse de alguns sectores proletários e populares.

Surgiam sob uma perspectiva de radicalização de um processo revolucionário, que atiravam o ódio dos erros e desvios para cima dos antigos dirigentes, que foram vencidos ou acusados de actos de sabotagem as realizações do Estado que diziam socialista.

A realidade era outra: o nível desenvolvimento económico da Rússia saída do czarismo no momento em que se dá a Revolução Soviética de 1917 não estava preparada, por si só, para entrar num processo de eliminação radical do sistema capitalista, com resquícios medievais, sem que houvesse um apoio revolucionário do ocidente europeu, onde o poder socialista ajudasse o incremento da nova sociedade revolucionária da União Soviética.

(Convém referir que, em Outubro de 1917, o proletariado industrial russo representava uma percentagem reduzida face à imensa mole de campesinato).

Colocados perante a inexistência de desenvolvimentos subversivos e mesmo de uma crise revolucionária nos países europeus ocidentais, depois dos primeiros anos da década de 20 do século XX, os dirigentes da US, em 1925, adoptaram no XIV Congresso do PCUS, como política central, a tese da Construção do “socialismo num só pais”, sem que houvesse um revolucionamento social nos países capitalistas mais avançados.

Esta orientação era contrária, precisamente,  as análises desenvolvidas por Marx e Engels.

Nos “Princípios Básicos do Comunismo”, Engels é taxativo ao afirmar que uma revolução socialista não poderá “realizar-se apenas num único país”.

Com o argumento; “a grande indústria, pelo facto de ter criado o mercado mundial, levou todos os povos da terra – e, nomeadamente, os civilizados – a uma tal ligação uns com os outros que cada povo está dependente daquilo que acontece a outro”.

E uma explicação, que deve ser apreciada com o devido enquadramento na época: “A revolução comunista não será, portanto, uma revolução simplesmente nacional; será uma revolução que se realizará simultaneamente em todos os países civilizados, isto é, pelo menos na Inglaterra, na América, em França e na Alemanha”.

Ou seja, nos países onde os restos dos entraves pré-capitalistas estejam ultrapassados.

A Revolução Socialista Russa de 1917 foi derrotada, e a permanência, no conjunto de países e territórios que constituíram a URSS, de uma contra-revolução por longas décadas, com os lemas revolucionários e os seus programas pretensamente comunistas, considerados como “faróis” em revoluções posteriores, como a chinesa, a cubana, vietnamita e coreana (porque todas elas entroncam no programa político de *democracia popular* saído das orientações da III IC, de 1935), trouxeram desorientação e limitaram o alcance de uma verdadeira crítica materialista e consequentemente o desenvolvimento de um novo projecto de transformação radical da sociedade mundial.

Toda segunda metade do século XX, e de maneira evidente, neste princípio do século XXI, foi um período longo de incremento e amadurecimento de desenvolvimento económico capitalista, que contou, com o contra-ponto ideológico e económico da falência lenta mais continuada de uma contra-revolução, que se erigia em “farol” de progresso social, centrada na antiga União Soviética e, em divergências secundárias, com a República Popular da China.

Todavia, este período teve o mérito de fazer alastrar o capitalismo puro, praticamente, a todas as partes do mundo, e, fez acabar com certas discrepâncias e foi trucidando, ao longo destas largas dezenas de anos, os entraves secundários (não só na indústria incipiente, mas também na reorganização da produção e industrialização agrícola) que a evolução daquele desenvolveu na implantação do seu caminho.

Chegámos à época actual com uma crise económica financeira de proporções mundiais do capitalismo como nunca foi atingida e conhecida.
Temos também uma clarificação mais acentuada entre os interesses da burguesia e das classes trabalhadoras, em recomposição e reestruturação.
É sobre esta perspectiva, assim o penso, que se terá de retirar lições e descortinar soluções de teoria e “praxis”.

Uma revolução não tem cabimento com uma reforma dentro do actual sistema político dominante.                                 

Não está em causa a revolução por uma nova sociedade, que é um direito adquirido, que não foi destroçada, nem ela própria colocada “fora de moda”, mas sim as suas manifestações de poder que surgiram em Estados e Nações que não estavam maduras para o fazerem, isoladas, nem contando com uma mais profundidade de uma ruptura das relações de classe.

Será sobre visão que, analisando os erros, as nossas ilusões, as nossas deficiências de evolução ideológica e de crítica ao que se passava, que devemos projectar novas instituições políticas classistas, com um programa renovado e tendo em conta, essencialmente, que está ultrapassada a sociedade da primeira metade do século XX.

Não pode haver a ilusão de que é possível derrubar e instituir um poder com uma força minoritária revolucionária.

Igualmente, se tem de retirar da acção e do pensamento retrógrado, que ainda nos tolda a acção política, que uma força revolucionária deve fazer o seu trabalho político somente concentrado no seu próprio país.