quarta-feira, 31 de julho de 2013

FEIOS, PORCOS E MAUS


1 – Em 1976, o realizador italiano Etore Scolla fez um filme, que se chamou em português “feios, porcos e maus”, como um sátira realista à putrefacção de uma família do lumpem proletariado de um bairro da lata dos subúrbios de Roma.

O enredo do filme tem todos os ingredientes demonstrativos como o capitalismo (ao longe vêem-se os prédios de arranha-céus impecáveis das classes médias-altas e altas) transforma um proletário, a quem atribui uma mísera indemnização – elevada, na perspectiva da família que está na fossa – de um milhão de liras por um acidente de trabalho, que o confinou a uma barraca deplorável, destruindo, deste modo, a sua condição económica e moral.

 
Assim surge nessa família – cerca de 20 pessoas entre filhos, noras e genros e netos e uma avó inválida, a única com uma misérrima pensão, que serve de “peça de caça”, logo no acto de a receber, a uma corja de seres humanos embrutecidos e depravados, mesmo nas relações sexuais entre familiares.

E que não têm pejo de procurar todos os meios para sacar o dinheiro da indemnização do antigo operário, embrutecido pelo álcool.

Um comportamento humano, todo ele, forjado e forçado pelas condições de vida no mais abjecto individualismo.

O que predispõe esse tipo de pessoas para servirem de tropa de choque das acções mais reacionárias.

2 -  Quando em Outubro de 2012, o senhor Fernando Ulrich, presidente do Conselho de Administração do Banco BIP, afirmou, alto e bom som, depois do seu banco, na falência, ter recebido uma capitalização em dinheiro, sacado ao contribuinte, de cerca de mil milhões de três mil de euros, para o “salvar” , que as classes trabalhadoras poderiam continuar a serem roubadas nos seus salários e pensões, porque elas aguentavam esse esbulhamento.

Cínica e arrogantemente,  ele estava, pura e simplesmente,  a tornar público, vangloriando-se, o que constituía, em todo o seu esplendor, o triunfo, em Portugal, da lúmpen grande burguesia financeira.

(A trama do BPN, do BANIF, dos sawps, representa, simplesmente  o exemplo acabado desse domínio: especulação financeira  corrupção a rodos, aumento das dívidas e toda uma dissimulação constante do aumento do décife a favor dessa fracção de classe, em nome da austeridade).

Na realidade, no período em apreço, ou seja, por alturas daquelas declarações, o governo de Passos Coelho, sem hesitações, deu de mão beijada, ao sistema financeiro bancário português 5,6 mil milhões de euros, lançando o ónus da “desgraça” para cima das classes assalariadas e de certos sectores da média burguesia.

Eram eles, para aquele governo, os sectores sociais que viviam acima das suas posses.

//Convém referir que os 5,6 mil milhões euros foram distribuídos pelo BCP (três mil milhões), BIP (1,5 mil milhões) e BANIF (1, 1 milhões)//.

Para Ulrich, um descendente de judeus alemães, ligado umbilicalmente  por via familiar, ao capital que apoiou Salazar, e que ascendeu ao cargo pela via das ligações estreitas com o poder capitalista vigente no pós-25 de Abril – foi chefe de gabinete dos ministros das Finanças João Salgueiro e Morais Leitão, que não levantou um dedo contra o anterior regime, não admite que seja posto em causa o seu salário milionário de um inútil de 60 mil euros por mês.

Ou seja vive à custa do Orçamento de Estado, embora diga e bata no peito que trabalha numa empresa privada.


Este mesmo Ulrich, que antes da crise de 2008, lançou o banco, a que preside, no lamaçal dos negócios especulativos, que o afundaram, tem a lata de que não admite que ninguém o possa pôr em causa e o seu modo de vida.

E a sua fortuna – e dos outros seus iguais, como os Jardim Gonçalves, Paulo Teixeira Pinto, João Salgueiro,  Lobo Xavier, Valente de Oliveira, Armando Vara, Maldonado Gonelha, Oliveira Costa, Dias Loureiro, Ferreira do Amaral, entre outros -  advem, pois, da rapinagem do tesouro nacional, dos salários e das pensões dos portugueses, dos negócios especulativos dos seus lacaios do governo em sawps, privatizações a custo zero, dos concursos transacionados, com distribuição equitativa pelo sistema financeiro onde está inserido.

São eles que dominam, como lumpem grande burguesia, o poder político (Presidência da República, Governo, Assembleia da República), o poder económico (a banca, as bolsas especulativas, os negócios chorudos das grandes obras públicas), que superintende a própria administração do Estado, colocando nos lugares-chave os seus homens de mão, desde os Ministérios até às empresas estatais e paraestatais.

Como chacais esfomeados, colocaram o Estado no estertor da falência, e, com as garras cravadas no pescoço do contribuinte querem mais lucro, mais juros, mais controlo do dinheiro no seu sector.

Já o afirmava o velho Karl Marx, há mais de 160 anos, no seu texto “As lutas de classes em França” – cujo conteúdo é actual  na sua temática teórica e argumentativa – que “no seu modo de fazer fortuna, como nos seus prazeres, a aristocracia financeira não é mais do que o renascimento do lumpen proletariado nos topos da sociedade burguesa”.
 

terça-feira, 16 de julho de 2013

SALVAÇÃO NACIONAL NÃO EXISTE SEM ATINGIR OS INTERESSES DO CAPITAL FINANCEIRO

1 – Os últimos acontecimentos ocorridos em Portugal, com os pedidos de demissão do todo, aparentemente, poderoso ministro das Finanças Vítor Gaspar, tendo a indigitação da sua sucessão recaído numa personalidade vulgar, a  ser investigada judicialmente, chamada Maria Luís Albuquerque, com uma actividade ligada à especulação financeira, sem qualquer atitude de valor como profissional, seguida de uma rocambolesca demissão “irrevogável”, que deixou de ser, do presidente do CDS, Paulo Portas (por causa, exactamente, da nomeação da dita adjunta para o cargo), bengala da coligação que mantém com o PSD, que, de imediato, volta atrás, subindo na hierarquia do executivo e ficando, em teoria, a controlar a área financeira e económica governamental, apresentam uma interligação interna e externa, que para serem, completamente, compreendidos tem de se analisados com o desenvolvimento económico em Portugal, no geral desde o 25 de Novembro, mas, no particular, em toda a evolução económica do país, desde que Cavaco Silva iniciou a sua ascensão ao poder, como Primeiro-Ministro em 1985.

Quando a semi-revolução, que se seguiu ao golpe de Estado militar de 25 de Abril de 1974, adquiriu alguma pujança, fazendo crer que poderia levar o curso dos acontecimentos para um estádio avançado de revolucionamento social, no entanto, foi destroçada por um contra-golpe militar-politico em 25 de Novembro de 1975.

Todavia, o recuo imediato da acção política nessa época não deu lugar a uma destruição sem freio dos muitos projectos de cariz revolucionário que emergiram num espaço, muito curto, de poucos meses: nacionalizações do sistema bancário, redistribuição da posse da terra, particularmente na região centro e sul do país, relações contratuais de trabalho, entre outras.

Houve, realmente uma reacção a uma acção breve de ruptura, ainda que profunda, pois foi efectuada sobre a força revolucionária popular de meia dúzia de meses, conduzida contra o poder do Capital e contra o poder efectivo dos partidos burgueses que se afirmavam do socialismo e do comunismo.

Houve, portanto, uma derrota, mas o recuo foi efectuado, durante certo período, com uma burguesia no poder, mas ainda sem as alavancas económicas totais.


De tal modo que a Constituição da República Portuguesa de 2 de Abril de 1976, aprovada, portanto, depois do golpe novembrista, se intitulava como Socialista no seu regime e pretendia enquadrar um poder sem classes dominantes.

As lutas políticas interpartidárias, que se seguiram, e , particularmente, a acção concertada entre o PS, de Mário Soares e o PPP/PSD, de Sá Carneiro, teve um objectivo político e ideológico central, para formatar a inflexão económico capitalista, bem como a repressão, empenhada, quer dos soaristas, quer dos sá-carneiristas, especialmente, contra a Reforma Agrária,  de efectuar a transformação jurídico-legal-constitucional do poder de Estado.

E este caminho ainda demorou uns anos. O primeiro processo de revisão constitucional teve um “parto” demorado – entre Abril de 1981 e 30 de Setembro de 1983.

Com o recuo dos movimentos populares, os mais influentes políticos no seu seio, em escalas diferentes é certo, o PCP/APU/CDU, em primeiro lugar, depois o PC (R)/UDP (ambos com representações parlamentares), trouxeram, igualmente, uma inversão grande do seu papel parlamentar, pondo de lado, pelo “adormecimento” da concepção revolucionária de subversão estatal, enquanto os defensores “moderados” que apoiavam o socialismo da Constituição e a sociedade de classe, se transformaram em defensores abertos do capitalismo “democrático”, mudando os seus estatutos e as concepções políticas que antes enalteciam. 

O PS passou o “socialismo” para a gaveta com o inefável salta-pocinhas Mário Soares, e mais tarde, com Vítor Constâncio, então secretário-geral deu aos estatutos “marxistas-leninistas” do PS a nova visão de defesa intransigente do mercado, e Sá Carneio tornou-se no defensor máximo do capitalismo bolsista e especulativo.

(Seguiram-se outras revisões, que ajustaram o poder legista constitucional `a marcha dos acontecimentos capitalistas. Em 1989 teve lugar a 2.ª Revisão Constitucional que deu maior abertura ao sistema económico, nomeadamente pondo termo ao princípio da irreversibilidade das nacionalizações directamente efectuadas após o 11 de Março de 1975.
As revisões posteriores, em 1992 e 1997, vieram adaptar o texto constitucional aos princípios dos Tratados da União Europeia, Maastricht e Amesterdão, consagrando ainda outras alterações referentes, designadamente, à capacidade eleitoral de cidadãos estrangeiros, à possibilidade de criação de círculos uninominais, ao direito de iniciativa legislativa aos cidadãos, reforçando também os poderes legislativos exclusivos da Assembleia da República).

2 – Com a entrada formal de Portugal na Comissão Económica Europeu, a 1 de Janeiro de 1986, e o impulso capitalista rejuvenescido que se deu no Mundo com o ressurgimento de uma nova potência económica chamada União Europeia, com o mínimo de harmonia económico-política, a facção mais rapace e desbragada do capital financeiro que juntava banqueiros sedentos de lucros obtidos da maneira mais rápida e especulativa, a lumpen grande burguesia financeira especulativa juntou banqueiros, grandes capitalistas, grupos de advogados sem escrúpulos, políticos analfabetos e tidos como corruptos, como Almeida Santos, Galvão Teles, Rui Pena, Castro Caldas, José Miguel Júdice, Mota Amaral, Dias Loureiro, Valentim Loureiro, Fernando Nogueira, Oliveira Costa, Mira Amaral,  Arlindo de Carvalho, António Vitorino,  José Lamego, Mário Lino, entre outros, uma chusma de assessores e jornalistas chamados de economia, a hierarquia religiosa católica e os seus asseclas laicos, como Jardim Gonçalves, Teixeira Pinto, Vítor Melícias, Américo Amorim, Belmiro de Azevedo, entre outros, lançou-se ao assalto aos principais centros de poder económico, social, cultural e político.

É, precisamente, com a chegada de Cavaco Silva ao poder político, em 1985, que todas as classes dominantes burguesas se encavalitaram, como fossem uma só, na cravagem das garras na repartição dos lucros escandalosos e gananciosos das mais valias que davam entrada com os chamados dinheiros da CEE.

Com essa ascensão, desapareceu da cena política toda a aparência de um Estado Constitucional, inserto no texto de 1976. 
06278.01435


Os antigos partidos que se diziam revolucionários, PCP/CDU e PCP(R) – convém dizer que o MRPP e o PCP (m-l) foram apêndices do golpe novembrista – e o PS, que procurou dissimular a sua capitulação completa por detrás de um slogan estafado de um “socialismo democrático”, tornaram-se ser inúteis e os “socialistas” foram mesmo cúmplices declarados dessa lúmpen grande burguesia capitalista.

Os governos do PSD cavaquistas intitulavam-se, num auto-elogio degradante de subserviência, os “alunos” cumpridores dos ditames da política do grande capital financeiro, que avassalava já a União Europeia.
Entrando no governo, em 1985, com um apoio parlamentar minoritário, Cavaco Silva colocou em marcha uma política agressiva favorável ao Capital, levando para o Parlamento a arrogância de que pretendia “mudar” Portugal, atacando todos os princípios constitucionais ainda vigentes.  

A sua ascensão à Presidência do PSD foi preparada pela grande burguesia, cujo testa de ferro foi um depravado sexual empresário ignóbil nortenho, chamado Eurico de Melo, e que se veio instalar no poder em luta contra uma coligação PS/PSD, que estava a braços com a aplicação titubeante de uma política de austeridade, imposta, como agora pelo FMI/capital financeiro judeu de Wall Street, e que teve a cumplicidade descarada do então Presidente da República general Ramalho Eanes, também ele emaranhado por mil laços ao capital financeiro e comercial do Norte e à hierarquia da Igreja Católica, via Opus Dei.

Formando um partido (PRD- Partido Renovador Democrático) o falso impoluto Eanes deita abaixo, em Abril de 1987, o governo minoritário de Cavaco Silva, sabendo que toda a camarilha de banqueiros, generais e almirante, empresários da grande imprensa, rádio e televisão, estruturas dirigentes das policiais, e incluindo uma chusma de vendidos antigos militantes políticos pequenos burgueses, ditos revolucionários, reforçavam a ideia de que Cavaco Silva seria o agente transformador da sociedade. 

Deram-lhe as honrarias de homem providencial. 

Levaram os camponeses, destroçados por impostos,a incensá-lo, arregimentaram mesmo uma classe de assalariados, saídos recentemente das fileiras do campesinato, residentes, em amontoados bairros de lata nos subúrbios das grandes cidades.

Nas eleições de Julho de 1987, uma maioria dos portugueses atribui a primeira maioria absoluta a uma força política conservadora não coligada (com 50,2% dos votos para o PSD), que se havia de repetir nas eleições legislativas de 1991. 

Dessas vitórias resultaram, respectivamente, a constituição dos XI e XII Governos Constitucionais, cujo seu chefe colocou em marcha, com rapidez, a política do grande capital financeiro.

Os resquícios da semi-revolução de 1975 foram arrasados, humilhados, destroçados: introduziram-se impostos que beneficiavam à acumulação de Capital, como o IRS e o IRC. 

Privatizou-se, ao desbarato, as grande empresas públicas, revogaram-se as leis laborais e agrárias, deu-se de bandeja as grandes estações de televisão aos seus apaniguados privados. 

Foram lançadas obras faraónicas, como o Centro Cultural de Belém.

Embora se utilizasse uma parte dos dinheiros recebidos da CEE para modernizar estruturas rodoviárias e grandes parques industriais, tudo isto era controlado pela lumpem grande burguesia capitalista especulativa, que dominava os concursos, os preços, a distribuição de cargos públicos, a destruição da indústria, da agricultura e das pescas em detrimento da especulação bolsista, e acentuava, na realidade, uma penúria constante das Finanças do Estado, cujos ganhos e impostos não pagos pelo capital financeiro seguiam para off-shores e outros paraísos fiscais.

A administração do Estado era sugada, sem dó, nem piedade, por esses abutres financeiros, que pediam sempre mais, transformando a sua dívida privada em pública.  

(Entrega de toneladas de ouro do Banco de Portugal a uma empresa norte-americana que terminou na falência, uma operação conduzida por Cavaco Silva e o secretário de Estado Tavares Moreira).

Embora governasse num período de vacas gordas, colocando o Estado numa crescente e evidente da dívida pública ao fim de 10 anos de consulado cavaquista levou-o ao afastamento do poder: Cavaco deixa o governo, em 1995, numa altura que o desemprego começa a subir e se fazem sentir o desequilíbrio já acentuado dos orçamentos de Estados.

Mas o partido sucessor, o PS tornou-se um canino seguidor dessa mesma política. 

O rendimento dos trabalhadores começou a baixar ainda mais acentuadamente, os investimentos estrangeiros, que apostaram no apoio sem fundo do Estado e na mão de obra intensiva, começaram a abandonar o país.

Idênticas facções dominantes da burguesia europeia tomaram conta dos diferentes governos europeus e das suas instituições de poder económico, como o Banco Central Europeu, e político, como a Comissão Europeia e o Conselho Europeu, que unificava toda a estrutura financeira e dirigia a administração já formada supranacional sob os ditames da grande burguesia financeira capitalista financeira, centrada essencialmente na subserviência a Wall Street e à parceria conjunta vaticana e do lobby judeu internacional.

Toda a União Europeia, na sua formulação política e monetária, estava a transformar-se, tal como Portugal, numa descuidada e asfixiante entidade accionista supercapitalista, ligada a Washington e ao Papado Romano que explorava as riquezas construídas ao longo de cerca de 60 anos para dar ligar a um novo tipo de potência económica, que arrecadava cada vez mais lucros, que punham de lado quer o interesse europeu, que, essencialmente, a harmonização da sua indústria, do seu comércio, da sua agricultura, na sua pesca e navegação, desprezando a produção que deveria ter sido orientada para fortalecer os diferentes Estados mais débeis dessa União.

A grande burguesia financeira mundial colocava homens de mão, como Mário Draghi, um servidor desse polvo chamado Goldamn Sachs, a dirigir o BCE, fazendo alastrar a crise a todo o espaço europeu,  destroçando – ou pelo menos atrasando - a unificação política dos Estados, enlameando-os, pelo contrário e deliberadamente, no mundo da corrupção, do saque dos tesouros nacionais, no empobrecimento das classes assalariadas, nas fraudes mais descaradas.

Revertendo salários, impostos e pensões para favorecer o sistema financeiro com uma política de roubo descarado, de ladroagem doentia, chamada austeridade.

3 – Esta política, com nuances menos aberrantes, continuava a ser praticada pelos governos de Guterres, Durão Barroso, Santana Lopes e Sócrates, e no meio do descalabro governamental e financeiro crescente, um homem, que se considerava providencial, chamado Cavaco Silva, preparava, com a chusma de seus antigos ministros, transformados em banqueiros, unidos a velha estirpe bancária, que ia dos Espíritos Santos aos Mellos,  e escritórios de advogados, cujos sócios principais medraram no governo e no aparelho de Estado, desde Rui Pena a Castro Caldas, passando por André Gonçalves Pereira, Júdice e Proença de Carvalho, até José Luís Arnault, Aguiar Branco, para unificar, finalmente, e dar rédeas soltas, à fracção da grande burguesia que já dominava o poder de Estado.

Ascendeu ao poder em Junho de 2006, clamando contra “a década perdida em termos de ganhos de nível de vida”, que atribui, única e exclusivamente à governação do PS. Pedia “um caminho”. 

Com ele, subiu ao poder, preparando a sua estratégia de “pequeno Salazar”, rodeado de rufias seus apaniguados e ex-ministros, encravados na onda lamacenta do dinheiro sujo, que iria governar, sendo Chefe de Estado, garroteando a Constituição e impondo a sua vontade.

Sempre a vociferar, cinicamente, contra a austeridade do “aliado” PS do arco governativo.

Um acontecimento mundial acelerou um descontrolo total sobre a economia, fez aumentar o mal-estar geral das populações, incrementou um descontentamento larvar, com conflitos duros de rua e mesmo das instituições políticas quer na Europa, quer nos Estados Unidos, mas especialmente neste: a falência técnica oficial do grande sistema bancário norte-americano, que a administração norte-americana “esbateu” com uma aceleração forçada de dinheiro – dólar – pondo-o em circulação e remetendo-o para o salvamento do seu sistema financeiro: a crise financeira de 2008 nos EUA.

Propositada e por tabela, o lobby de Wall Street “exportou” essa crise financeira para a Europa, cujos principais bancos e companhias de seguros estavam dependentes do poder de Washington.

Os bancos europeus – e particularmente o sistema financeiro dos chamados países da União Europeia – caiaram na alçada da ameaça latente da finança. 

Portugal foi, justamente, dos mais atingidos. A banca portuguesa descapitalizou-se rapidamente, com os seus responsáveis a colocarem os seus activos em paraísos fiscais e a exigirem, como senhores reais do poder, aos seus executivos governamentais a que aumentassem os impostos, fizessem restrições drásticas nos salários e pensões para “salvar”, em primeiro, lugar as instituições de rapina financeira.

Foi justamente, no início da sua segunda passagem pela Presidência da República que Cavaco Silva, encavalitando-se no descontentamento popular, que mostrou a sua verdadeira face: na sua tomada de posse a 9 de Fevereiro de 2011, fez um violento discurso contra o governo, criticando-o pela má governação – evidente – e sugerindo que deveria ser derrubado.

Ele vai ser o porto seguro do novo governo, entretanto eleito, numa coligação PSD/CDS, cujo lema principal é a recapitalização bancária e o “corte” das gorduras das classes assalariadas e sectores da média burguesia para compensar todo o chamado endividamento do Estado ao sistema bancário.

Cavaco Silva tornou-se, deste modo, a cabeça do polvo que utilizou o défice do Estado como fonte constante de enriquecimento do capitalismo especulador.


Durante estes dois anos, o Chefe de Estado esteve sempre no lado mais radical da aplicação prática e sem qualquer recuo das medidas do Memorando de Entendimento, inclusive das medidas que os seus subordinados no governo ultrapassavam todas as metas do razoável.

Quando se começa a desmoronar todo o sistema montado, se inicia a degradação humilhante desse executivo, Cavaco Silva não tem pejo em lançar mãos de propostas que ultrapassam a Constituição para a manutenção do “status quo”, sempre na defesa do sistema financeiro da chamada tróica. 

Um governo ou compromisso de "salvação do capital" tutelado ultrapassado tudo o que o sistema judirico-constituição defende, em nome da “salvação nacional”.

A classe dominante, essencialmente de Wall Street e do FMI, assim o exige.

4 – Convém seguir uma trama desta personalidade vulgar, intriguista e cobarde, que se apelida inimiga dos políticos, mas age, com presteza, em defesa do grande capital.

Com as ascensão, em 1985, de Cavaco Silva significou o fim da carreira do velhos sonhos republicanos de avental, ou de uma social-democracia capitalista, que embora já beliscados pela arrogância da AD, de Sá Carneiro ainda se mantinha nas instituições do Estado.

Cavaco foi o começo real da montagem e da caminhada do capital financeiro para o topo do poder de Estado.

Quando é nomeado Presidente do PSD não era nada, mas poderia tornar-se uma personalidade saliente, porque tinha a pretensão de representar os interesses convergentes de diversas classes e extractos de classe da burguesia.

A partir do seu primeiro governo de maioria absoluta tornou-se uma personalidade colectiva para todos os partidos que representavam o capital, desde o financeiro até ao agrário, passando pelo industrial, e ate da pequena burguesia que odiava os “devaneios burgueses” dos socialistas que abocanhavam tudo o que fosse interesse negocial em torno do aparelho de Estado.

A falsa imagem de ícone de Cavaco está a e irá, ainda mais, desvanecer-se quando o vamos ficar a conhecer ao longo dos anos, como informante policial, pequeno burguês agarrado ao dinheiro que faz negócios obscuros, através de homens de mão que foram seus ministros e que medraram em torno da sua figura e lhe dão umas migalhas, homem de pequenos rancores contra os seus pequenos barões, que depois de bolsos cheios, lhe cospem na cara, como Mira Amaral. E outros.

Estamos perante uma figura patética do pequeno burguês que pensava agigantar-se como político e dirigente de Estado, dando a mão ao grande capital, como o faz agora. 

Mas, presentemente, age também, com medo de ser preso, se houver uma mudança de regime, porque se enlameou (ele e a família) em negócios de vão de escada, para arrecadar mais uns cobres para o fim de vida.

5 – Tal como a União Europeia, e em particular Portugal, os governos de cada um do país, especialmente os da zona euro, estão completamente encarcerados pela fracção da grande burguesia financeira, e, esta submissão está ligada à sua míngua de capacidade consentida de financiamento.

Nestes dois últimos anos, de intervenção do FMI e do BCE na política interna de Portugal, mas igualmente de outros países, verificamos que essa míngua cresceu e o desequilíbrio entre as receitas e as despesas do Estado se aprofundaram, porque a distribuição de encargos recaiu sempre sobre os sector assalariados e pensionistas. 

Foram aplicados roubos sem nome, feitos pelo governo, em nome do interesse nacional, simplesmente para pagar os “empréstimos” e juros dos bancos privados, sacados a custo quase zero ao Banco Central Europeu, e “comprados” pelo Estado a juros exorbitantes. 

Os banqueiros estão a pedir sempre mais, a pilhar o dinheiro dos contribuintes em nome de novos “empréstimos”.

Não é possível inverter esta situação, sejam quais forem as cambalhotas, enquanto não se atingir os interesses rapinantes do capital financeiro e sem realizar legislação drástica que obrigue, a bem ou a mal, um redistribuição dos impostos sem os ir buscar ao lado do Capital – dentro e fora do país.



Sem esta capacidade de restabelecer o equilíbrio nas despesas e receitas do Estado, sem atingir o Capital financeiro, o caminho da sociedade será para procurar uma outra via para acabar com este estado de coisas. 

A bem ou a mal. 

segunda-feira, 8 de julho de 2013

ISLAMISMO RADICAL VERSUS CATOLICISMO E PROTESTANTISMO RADICAL

1 ­ - O maior avanço, que se deu, nos últimos 100 anos, na construção ideológica de um Estado democrático, foi a Constituição de um Estado rigorosamente não confessional com a vitória, momentânea, da Revolução Socialista Russa de 1917, que, nos seus pressupostos, seguia os ditames tentados, meio século antes, com a Comuna de Paris.

Porque foi, primeiro, na Comuna, depois na Rússia revolucionária que se colocou a religião fora da esfera estrutural do aparelho de Estado, e a tornou como um dos “ramos” da miríade de elementos privados que constituem o que se denominava então “sociedade civil”, tal facto significou que o Estado se estava a implantar como meramente político.

Este paradigma, embora com diferentes projectos e proposições ideológicas constitucionais nos incrementos que se deram nos Estados modernos, democrático-parlamentares, teve a preocupação de separar o Estado da religião.


Mesmo nos Estados já existentes onde o islamismo era dominante, ou nos futuros Estados “de base muçulmana” nascentes das descolonizações europeias, como o Egipto, a Líbia, a Síria, Argélia, Iraque, Irão, Síria, Indonésia, entre outros.



2 – Esta evolução entrou em retrocesso, principalmente, na segunda metade do século XX, com uma evidência devastadora e acelerada nos finais do mesmo e já em todo o século XXI.

Os desafios programáticos das revoluções políticas que marcaram os finais do século XIX e a primeira metade do século XX deixaram de ser os objectivos de transformação da sociedade humana e, uma parte significativa da suas classes, que a constituem seguiram, os ditames religiosos, como princípios de organização modificadora dessa sociedade. 

De maneira evidente, no mundo muçulmano, de maneira oportunista, no mundo ocidental, à medida que o cristianismo e o judaísmo se organizaram e se interajudaram como entidades que utilizam o o comércio e a actividade bancária como objectos de domínio, de usura, de egoísmo humano.

Quer as Igreja protestantes anglo-saxónicas, quer a Igreja Católica Romana universal,  transformaram a sua natureza religiosa pura em prática dominante de domínio do dinheiro.

Utilizam a riqueza material como objectivo de domínio político, que lhes é alheio, destroçando, de certa maneira, paulatinamente, a constituição do Estado Democrático. 

Com o apoio das classes dirigentes, para usufruto próprio do seu egoísmo pessoal.


terça-feira, 2 de julho de 2013

A HISTÓRIA NEM UMA NOTA DE RODAPÉ VAI COLOCAR NO PACIFICADOR MANDELA



1 – O “terrorista” Nelson Mandela f
oi preso, em 1962, pelo regime racista do “apartheid”, que era apoiado pelos democratas Estados Unidos da América, cujo Presidente de então se chamava John Kennedy, incensado, na altura, tal como anos, mais tarde, Barack Obama, como campeão da liberdade, dos direitos humanos, enfim, o supra-sumo da democracia formal parlamentar.

A Administração norte-americana de então apoiou a repressão do regime do “apartheid” contra os dirigentes do ANC (Congresso Nacional Africano).

Nelson Mandela foi detido no regresso o seu país, depois de frequentar um curso de guerra de guerrilha na Argélia, para implantar um braço armado militar, Umkhonto we Sizwe, sob a supervisão do ANC, para combater de armas na mão a opressão nazi do regime branco sul-africano, suportado, externamente, pelos Estados Unidos e Inglaterra.


Tal como o regime racista, a administração norte-americana tratou o movimento de libertação da África do Sul, bem como os seus dirigentes, pura e simplesmente, como repelentes terroristas.
“Observadores norte-americanos e ingleses” estiveram presentes no chamado Julgamento de Rivonia, realizado entre 1963 e 1964, na então República Sul-Africana, onde, sem contestarem, o regime de apartheid, assistiram aos pedidos dos magistrados brancos do Ministério Público, que pediam, inicialmente, condenações à morte de 10 dirigentes de topo do ANC, sob uma banal acusação de "sabotagem" contra a “segurança do Estado”, na realidade, um condenação por lutarem pela opressão dos seus povos.

E aceitaram a sentença.

A História, com pormenores, pode ser consultada, com maior ou menor profundidade em profusas resenhas, algumas norte-americanas oficiais, agora empenhadíssimas em “glorificar” o “herói da pacificação”.


Em 12 de Junho de 1964, oito dos acusados, inclusive Mandela, foram condenados a prisão perpétua.
De 1964 a 1982, foi encarcerado na prisão de Robben Island, ao largo da Cidade do Cabo.

Antes esteve em Pollsmoor Prison, próxima do continente.

Aparentemente, ele sempre se recusou a comprometer a sua posição política para obter a sua liberdade.

Mas aconteceu, realmente, assim?. 

Nelson Mandela foi libertado em 11 de Fevereiro de 1990.
Naturalmente, a sua libertação foi negociada. 

Teoricamente, ele não cedeu nas suas ideias da libertação da sua Pátria.

Em 1991, na primeira conferência nacional do ANC realizada no interior da África do Sul, desde que a organização tinha sido proibida em 1960, Mandela foi eleito presidente do ANC, enquanto o seu camarada, Oliver Tambo, se tornou o presidente d honorário da organização.

2 - A mudança política e ideológica do ANC desde os tempos da luta armada de libertação até à entrega “pacífica” do poder do apartheid às mãos desse mesmo ANC, não pode ser vista sob o prisma do humanismo de um homem, nem desenquadrado do desenvolvimento histórico da sociedade sul-africana.

O Estado político actual da África do Sul sofreu, naturalmente, uma evolução, mas a base económica em que assentava o regime do “apartheid” essa é, praticamente, a mesma. 

Houve, no entanto, um “alargamento democrático” à nova burguesia, saída do ANC, mas a sociedade civil está dependente, precisamente, do poder económico daqueles que já lá estavam antes.
A sociedade sul-africana de 1963 até 1990 sofreu uma acção interna na sua evolução económica, mas igualmente externa, de toda a nova estrutura política que surgiu à sua volta, principalmente, desde a queda do regime colonial português, particularmente, o que sucedeu em Angola e Moçambique, mas também na Rodésia do sul do “apartheid” de Ian Smith, para a independência liderada, após uma longa guerra civil entre o governo branco e duas organizações guerrilheiras africanas (ZIPRA e ZANLA, de Robert Migabe e Joshua Nkomo, respectivamente).

Em 1979 o Reino Unido concedeu, o que era um facto, as guerrilhas venceram a guerra interna, afastaram Smith e um novo Estado começou a ser construído.

Nas eleições realizadas em 1979, venceu um bispo protestante de nome Abel Muzorewa, considerado pró-ocidental. Nas eleições de 1980, foi o partido de Mugabe o vencedor. O poder económico, que estava nas mãos dos racistas brancos, foi nacionalizado.

Com as independências de Angola e Moçambique, embora fomentadas no meio de uma agitação interna num conluio EUA/África do Sul, a conflitualidade na África do Sul cresceu neste último país. 

Cada vez mais se recorria a enfrentamentos violentos, para destruir o poder do “apartheid”.
A sociedade sul-africana desde 1963 sofreu uma grande evolução.

O estado do desenvolvimento da sua estrutura produtiva incrementou um nova indústria, o que levou ao crescimento e à constituição social de novas cidades, nos arredores dos centros populacionais dos brancos, formadas por milhões de trabalhadores pretos arrancados às suas terras.

O poder do “apartheid” estava cercado. O ANC começava a modificar, no entanto, a sua linha e programas políticos.
O “eixo” da negociação entre o poder do apartheid e os dirigentes, com largos anos de prisão, como Mandela, foi a manutenção da estrutura económica e política do seu sistema produtivo, com o alargamento político parlamentares ao ANC:

Naturalmente, o ANC ganhou o poder parlamentar, deixando permanecer toda a situação das relações sociais. 

Ele, ANC, com a cobertura de um conjunto de personalidades, lutadores pela emancipação, que aos olhos de largas camadas das populações se tornaram heróis, pois sofreram, na realidade, torturas e repressões, pacificou e obscureceu uma realidade: as formas económicas do apartheid permaneceram nas mãos da mesma classe política.

Por isso, são incensados pela classe política dirigente mundial. Incluindo, o assassínio norte-americano, de origem africana, chamado Barack Obama, que pertence, na vida profissional, a um grande escritório de advogados ponde predominam os judeus que servem os interesses da Wall Street.

3 – A realidade: A África do Sul é um dos maiores produtores de ouro e diamantes.

Hoje, como em 1963. Os verdadeiros senhores dessas riquezas são simplesmente os mesmos: os Rothschild, os verdadeiros proprietários da De Beers e da Anglo-American.



A mudança governamental, com a ascensão do ANC, amorteceu uma grande tensão evitou o aprofundamento de um fosso revolucionário, mas não abateu grandes diferenças entre as classes sociais. 

A de ascendência europeia, enraizada principalmente, na média e grande burguesia, tornou-se cada vez mais rica, até porque dominou o capital financeiro e as classes laboriosas, de origem autóctone, empobreceram.
Além do ouro e diamantes, o país é rico em platina, carvão antinómio, ferro, manganês, urânio, bem como em metais menores como crómio, vanádio e titânio.

Pode ainda referir-se que industrialmente, a África do Sul é dos países mais fortes de Àfrica, contando com hidro-energia, nuclear, e mesmo hidrocarbonetos. E a agricultura e o turismo.

Mas tudo isto está enormemente distribuído em desigualdade.
E as tensões persistem e vão aumentar, quando o “mito” Mandela desaparecer. As separações vão recrudescer e períodos de intensa luta de classes vão ter lugar.

Esse é o medo das classe dominantes mundiais, que “vegetam” em elogios, como lágrimas de crocodilo, a Nelson Mandela.