sábado, 31 de julho de 2010

FREEPORT E CASA PIA: APENAS SE FICAM PELA 2ª DIVISÂO



Os intermediários e segundas figuras atirados aos cães







O processo Freeport foi dado por concluido pelo Ministério Público, fazendo tábua rasa de que havia suspeitas fundadas ou não, que envolviam pelo menos, o Ministro do Ambiente da altura José Sócrates e os seus secretários de Estado.

Um deles, Pedro da Silva Pereira, ascendeu a Ministro da Presidência no executivo seguinte e o outro Rui Gonçalves, despachado, para um tacho apagado, mas é sempre tacho,(presidente da Resistrela, criada para gerir resíduos sólidos urbanos em parte da Beira Interior), afastando-o da ribalta.

Os investigadores, sejam eles políciais ou magistrados judiciais, sabiam que havia dinheiro envolvido para "pagar luvas", conheciam o movimento do dinheiro, sabiam, por intermédio da família do Ministro Sócrates, que este se empenhou num assunto que estava destinado a ser resolvido por directores locais ou regionais; que membros da família de Sócrates sairam, propositadamente, do país para se furtarem a inquirições e, quiçá, a detenções para aprofundamento da investigação. Sabiam que entre os sócios da Freeport estava a casa real inglesa; sabiam de tudo e mais alguma coisa.
As torres estavam, pois, a grande distância...

Assim o processo começou, por ficar "esquecido" no Montijo, depois arranjaram-se mil e umas desculpas e argumentos para entravar o avanço da investigação: todos participaram, juizes, magistrados do Ministério Público, PJ, neste embuste.

A Procuradora Cândida de Almeida, a quem foi dada a responsabilidade na direcção da investigação, anunciou, agora, que o processo foi concluido pelo MP, mas a existência de "diligências encetadas ainda sem resposta, por dependerem da cooperação internacional em matéria penal" pode determinar uma reabertura do processo.

Será para rir....

A procuradora-geral adjunta admite ainda que houve interesse na inquirição de José Sócrates e Pedro Silva Pereira, mas contra-argumenta que as respostas obtidas não teriam consequências na decisão já tomada de arquivar o processo aos vários arguidos.

A procuradora já sabia de tudo antes de ouvir os homens. Esta é uma maravilha.

Será para rir...

A risota ainda é maior quando os procuradores titulares do processo, Vítor Magalhães e Paes Faria, alegaram não ter tido tempo para inquirir os dois governantes.

Não terem tempo? Estou a ler ou ouvir bem?

Ou seriam instruidos para tal?...

Por outro lado, o procurador-geral da República (PGR), Pinto Monteiro, defende que houve muito tempo para a realização das inquirições, se os procuradores desejassem tê-lo feito, recusando por isso a ideia da reabertura do processo.

Mas uma risota, o PGR nunca quis o processo andasse.

"Os investigadores dispuseram quase de seis anos para ouvir o Primeiro-Ministro, e os procuradores titulares um ano e nove meses. Se não o ouviram é porque entenderam não ser necessário".

Ou alguém lhe disse para não o fazer, não é?

Mas a contradição é grande e a controvérsia maior de tal modo o nosso Pinto Monteiro, como velha raposa da justiça, quer precaver-se, pois tudo isto vai dar para o torto.

Então, como o velho mítico bíblico Pilatos lava as mãos...

Para esclarecer todas as questões à volta do processo, o PGR anunciou a realização de um inquérito "para o integral esclarecimento de todas as questões de índole processual ou deontológica" e apurar "eventuais anomalias registadas na concretização de actos processuais".

Um Freeport, que é inaugurado, sob pressão tremeda, incluindo a proveniente de Inglaterra, já que quem faria as honras da casa era o principe Eduardo.
Na véspera, mesmo na véspera, a Câmara de Alcochete considerava que a abertura seria ilegal.

Pois para desbloquear o assunto, o antigo autarca Inocência passou uma "licença provisória", com ressalvas.

E isto só aconteceu, depois de uma reunião na Câmara, onde estiveram administradores ingleses de topo do outlet...

Meia dúzia de dias antes, apesar das reticências do Presidente da Câmara de Alcochete, o projecto do Freeport foi aprovado pelo Ministro do Ambiente, estava o governo em gestão e já se sabia que o novo governo teria outra cor política.

Num imbróglio destes, em que houve dinheiro a circular, apenas são acusados os empresários Charles Smith e Manuel Pedro, meros intermediários, por tentativa de extorsão e ilibando os restantes cinco arguidos do processo Freeport, tendo igualmente determinado o arquivamento dos crimes de corrupção (ativa e passiva), tráfico de influência, branqueamento de capitais e financiamento ilegal de partidos políticos.

Para a continuação da investigação quanto à prática de crime de fraude fiscal, foi ainda determinada a extração de certidões para a continuação da investigação quanto à prática de crime de fraude fiscal.

Digam lá não parece que surgiu uma parede para obscurecer e fazer desaparecer tudo o que estava para cima, em Portugal e no Reino Unido? Não é?

Estive a ler a imprensa de hoje, e temos novamente risota.

Estou a referir-me ao processo Casa Pia.

Agora é mais grave, e o que pode estar para vir a atingir não as raias do anedotário, mas as raias descontentamento.

Durante todo o processo procurou-se limitá-lo, na investigação, a meia dúzia de arguidos - personalidades de meia tigela do submundo das revistas cor de rosa.

Agora, começam a surgir adiamentos para "corrigir" questões técnicas.

Transcrevo o que ontem escreveu o Diário de Notícias, a propósito:

"A juíza que preside ao julgamento do processo Casa Pia pediu mais tempo para redigir o acórdão final, adiando uma segunda vez a sua leitura para 3 de Setembro. Mas, apurou o DN, um dos juízes que integra o colectivo em exclusividade já se encontra em período de gozo de férias, estando a sentença para cada um dos arguidos definida há mais de um mês. A iniciativa do novo adiamento, conhecida na quarta-feira, partiu de Ana Peres, que invocou a complexidade do caso e os milhares de documentos junto aos autos. Segundo as fontes do DN, a magistrada quer realizar, sozinha, "aperfeiçoamentos técnicos" no documento".

Estará na forja a restrição processual a colocar apenas um arguido, o motorista Bibi?

Pode ser que sim, mas isto pode levar a fazer cair o Carmo e Trindade?

sexta-feira, 30 de julho de 2010

OS DOCUMENTOS DO PENTÁGINO: OS CRIMES DE GUERRA DA ACTUALIDADE






Estes arrojados combatentes de retaguarda deveriam comandar, no terreno, durante meses, as suas tropas nos teatros operacionais...












A denúncia feita por uma organização bloguista chamada Wilileaks.org, ampliada, mais tarde, por alguns dos principais meios de informação dos Estados Unidos e do Reino Unido, mostra a actuação, perfeitamente, delineada e fomentada pelas autoridades da Nato, com predominância para a Administração de Washingtom, para realizar crimes de guerra, nos tempos actuais, em nome da defesa dos "interesses vitais" das potências ocidentais.

A preocupação central de Washington, ou de Londres ou, mesmo de Lisboa, não foi repudiar os actos infames que as suas tropas realizam em países ocupados, mas sim em determinar quem foram os divulgadores das atrocidades.

Uma actuação exactamente conforme os actos persecutórios efectuados, há 60 anos, contra os seus inimigos pelos potentados nazis e fascistas na II Grande Guerra. Tal como os nazis, os norte-americanos sustentam hoje que actuam, com toda a violência e derrame de sangue, para defender os seus "interesses vitais" que se encontram onde se considerem donos das matérias-primas, do território ou apenas da sua situação geo-estratégica.

Podem os chamados especialistas argumentar, para minizar, o que é determinado, secreta e criminosamente, pela Administração norte-americana na sua actividade imperial, como uma actuação necessária e que a formidável riqueza de de detalhes, suportados em mais de 90 mil documentos classificados de secretos, são lugares comuns, do conhecimento geral.

O que é pura mentira. É demagogia, fuga às rersponsabilidades.
Com estes documentos ficamos a saber que os comandos políticos e militares de Washington planeavam ( e planeiam) a guerra para a efectutar actos criminosos, clandestinos, ao arrepio das convenções de guerra internacionais, sancionadas pelos próprios Estados Unidos.

Ficamos a saber que os EUA criaram uma unidade especial, secreta, orientada directamente por Washington, sem interferência dos próprios aliados no terreno, para localizar, interrogar e assassinar pessoas que sob a a mínima suspeita de puderem ser patriotas, eram, pura e simplesmente, liquidados. Crime de guerra.

As ordens de operações são orientadas para eliminar tudo o que se oponha à presença estrangeira e não aos propagandeados projectos de pacificação do país. Ou seja, política guerreira de terra queimada. Crime de guerra.

Ficamos a saber que eram (e são) planeadas acções para atacar civis desarmados, conduzindo essas acções como se actos do inimigo se tratatassem. Premeditação deliberada para cometer assassínios. Logo, crime de guerra.

Mas, o que estes documentos mais incomodam os promotores da guerra e os senhores accionistas e executivos do complexo industrial-militar dos EUA são as denúnicas das exorbitâncias em dinheiro que ali estão a ser gastas, sem qualquer efeito prático na inversão do rumo da guerra.

Estão expostos com toda a transparência, nesses documentos secretos, enviados por quem está no terreno e sente a sua real evolução, a realidade: a guerra não enfraqueceu, mas fortaleceu os comabtentes insurgentes, onde se encontram os próprios talibãs.

Os documentos dão a conhecer que os norte-americanos financiam o Paquistão para incrementar a própria guerra no Afeganistão. Assim, os EUA pagam, anualmente, às autoridades de Islamabad mais de mil milhões de dólares, que Washigton sabe que são para financiar e treinar os insurrectos.

Ora, esta orientação é consentida e estimulada em Washington por republicanos e democratas.

As autoridades de Washington destituiram toda a rede de comando no Afeganistão e consequentemente no Iraque e até Comando Central em Tampa? Claro que não. Nem uma simples repreensã. Apenas estão preocupados com o (s) divulgador (es) desta atrocidades.

Dizem os sápratas de Washingtom: somos criminosos, mas castigamos que nos denunciam.

A pérola que é o Ministro da Defesa Nacional, Augusto Santos Silva, como antigo MES, mostrou, logo a sua veia de anti-miliarista, de humanista que se recusava a combater na guerra colonial, quando, cobardemente, se manifestava contra ela, porque tinha medo de nela participar, manifestou-se preocupado com o facto de os talibãs serem apoiados pelo Paquistão, porque, segundo ele, em causa esta o combate "pela liberdade" que se desenrola no Afeganistão.
(Eu gostaria de ver José Sócrates, Augusto Santos Silva, Carmem Charcón, Hervé Morin, Berlusconi, Jose Luís Zapatero, David Cameron, Barack Obama, no terreno, à frente das unidades de elite, sem protecção de guarda-costas e helicópteros e aviões a combaterem, com um cantil de água apenas, à toreira do sol, a enfrentaram no Teatro Operacional, durante uns largos, os talibãs. Quando tal acontecesse, eu tirar-lhe-ia o chapéu e, talvez, mostrasse alguma admiração por tais homens. Mas, até hoje ainda não vi um único morto em combate dessa catrefa de cobardes que mandam outros para a guerra.

A realidade é, no entanto, outra. Aparecem no Afeganistão, clandestinamente, e fogem nos minutos seguintes, depois de tirarem uma fotografia de circunstância).
Mas pelo que está a ser noticiado o pior ainda está para vir.

Em Londres, o fundador da WikiLeaks assegurou, dias atrás, que tem mais alguns milhares de arquivos sobre a ocupação do Afeganistão e que poderá difundi-los em sua página na internet.

Segundo a imprensa, Washington teme ter perdido ainda maior quantidade de material muito sensível, inclusive um arquivo de milhares de telegramas enviados pelas embaixadas dos EUA em todo o mundo, nos quais se trata de comércio de armas, encontros secretos e opiniões não censuradas de outros governos.

O fundador de Wikileaks, Julian Assange, diz que, nos últimos dois meses recebeu outra enorme quantidade de material “de primeira qualidade” de fontes militares, e que investigadores do departamento de investigações criminais do Pentágono pediram para encontrá-lo em território neutro, para que os ajude a determinar a sequência dos vazamentos. Assange não concordou

Daniel Ellsberg, que divulgou os “Pentagon Papers” da guerra do Vietname, afirmou que temia que Assange estivesse correndo risco físico; Ellsberg e duas outras fontes de casos anteriores de divulgação de material secreto dos EUA alertaram para a possibilidade de as agências norte-americanas tentarem usar o fundador do website Wikileaks “como exemplo”. Assange cancelou viagem prevista para Las Vegas e desapareceu.

Depois de vários dias tentando para conseguir um contacto, o jornal inglês The Guardian finalmente encontrou Assange num café em Bruxelas, onde ele aparecera para falar no Parlamento Europeu.

Assange contou que Wikileaks recebera vários milhões de arquivos, praticamente uma história não-contada da actividade do governo dos EUA em todo o mundo, com dados sobre inúmeras e importantes atividades, todas controversas. Estavam dando os últimos retoques numa versão compreensível daqueles dados e os divulgariam pela internet imediatamente, para impedir qualquer tentativa de censura.

Mas Assange também teme a importância das informações e algumas das histórias que lá havia acabassem enterradas em algum canto de internet. E isto se o conteúdo dos arquivos fosse publicado só na internet, e como matéria bruta, sem qualquer edição.

Por isso concordou com que uma pequena equipa de repórteres especialistas do Guardian trabalhasse o material durante algumas semanas, antes da publicação no website Wikileaks; seria uma espécie de edição, sobretudo para fixar o que os dados realmente mostravam sobre o andamento da guerra.

Para reduzir o risco de o material ser confiscado pelas autoridades, uma banco de dados foi aberto para o New York Times e para a revista semanal alemã Der Spiegel que, com o Guardian, publicariam simultaneamente em três diferentes jurisdições.
Deste modo, Assange não influiria nas matérias que seriam escritas por jornalistas, mas seria consultado para definir o momento da divulgação.

Assange abriu o acesso a um primeiro grupo de dados ainda codificados, num website secreto, ao qual o Guardian teria acesso, com códigos.

Claro que o cerco a toda a imprensa vai aumentar, principalmente, à grande imprensa dos EUA, Alemanha e mesmo do Reino Unido. Os crânios militares e dos serviços secretos devem estar a perder muitas noitas para conseguir silenciar os crimes de guerra. Pois, eles serão os primeiros a serem arrastados.

quinta-feira, 29 de julho de 2010

A UE TEM DE SEPARAR A SUA DIPLOMACIA DOS EUA




A União Europeia cobre uma superfície correspondente a menos de metade da dos Estados Unidos, mas tem uma população superior em mais de 50%.

Com efeito, a população da UE é a terceira maior do mundo, a seguir à da China e à da Índia.

Desde o Renascimento, que, historicamente, a Europa tem dados passos para uma unificação. Após, a Idade Média, ou seja na sua transformação em Renascimento, este facto correspondeu a uma forma organizacional estatal que deu forma a grndes Estados, impulsionados, formalmente, pela burguesia ascendente, que necessitava de evitar, cada vez mais, entraves a uma prática transfronteiriça de pequenos "feudos" para o seu desenvolvimento.

O século XIX foi todo ele marcado pela reivindicações burguesas, mas também das classes assalariadas, para dar consistência ao fomento de Estados (acabar com os principados alemães, nascimento da Dinamarca, Itália, aspirações nacionalistas na Áustria e Hungria, cessão nos Estados bálticos, mas também a reivindicações mais políticas e ideológicas, que começaram a destruir o Absolutismo e a dar estruturas legais a partidos e organizações, que reivindicavam o direito às liberdades (imprensa, organização, crença, voto individual, etc etc).

Ora, em muitas destas revindicações apresentavam-se, como textos programáticos, novas formas de exercer o poder. Todo este período foi traçado por um grande desenvolvimento económico, onde a burguesia iniciava a sua ascensão directa ao poder político. Mas no encalço de todos estes progressos, viam-se as bandeiras de um novo poder, que as classes assalariadas começavam a reivindicar para seu porta-voz.

Tudo isto não foi caminho linear, nem ascendente. Houve fases revolucionárias, que foram arrasadas e substituidas por ferozes contra-revoluções, sinistras, aterradoras, massacradoras.

A Europa sentiu na pele ao longo dos três últimos séculos: XVIII, XIX e XX, os efeitos desvastadores e desagregadores dos projectos unificadores efectuados em torno de uma estratégia política de ferro e fogo.

E o que essa política trouxe para o sentimento de unidade que, tais projectos produziam: o desmembramento total da solidariedade cooperante para levar a união aduaneira a todo o território e a ocupação por estrangeiros, em nome dos apoios que vieram dar para acabar com a guerra (EUA e ex-URSS).

Foi sob os escombros da II Grande Guerra, que se verificaram os efeitos desastrosos sobre as organizações livres pela liberdade, dos entraves desastrosos ao incremento dos poderosos comércio e indústria europeias, das próprias restrições que as potências ocupantes (EUA e ex-URSS) colocavam às próprias organizações políticas renascidas dos novos Estados. Foi levantado todo o tipo de restrições à ascensão dos partidos próprios das classes assalariadas no implantação dos novos poderes estatais.

E isto sucedia, por um lado, por objecção política e ideológica das classes dirigentes dessas potências, mas também, e essencialmente, porque por detrás dos partidos ditos democráticos liberais pró-ocidentais, estava, em força, como figura que considerava ser uma ameaça, a unidade crescente política das classes assalariadas.

Mas, com a chamada reconstrução europeia, dos anos 50, a burguesia que se instalava nos países mais evoluidos retomava a velha aspiração da Idade anterior de criar uma unidade mais eficaz e dominante na Europa. E isso aconteceu.

E este avanço trouxe também uma maior consciencialização de busca de uma unidade das próprias classes trabalhadoras (que forjaram sindicatos europeus, reivindicaram contratos europeus, luta por sistema de saúde unificados, etc etc).

Devido a essa condição de unidade transnacional, a União Europeia transformou-se, radicalmente, nos últimos 25 anos, num grande centro de industrialização, de cooperação nos domínio da tecnologia de ponta, de centro atractivo de comércio internacional. Transformou-se, na realidade, na principal potência económica do Mundo.

Claro que tal facto, trouxe de imediato um problema de concorrência, com a potência que era dominante na economia (e já não é), mas comporta a força de ser uma superpotência militar. E actua, com todas as forças para dividir a actual União Europeia, contando, precisamente, com os seus "títeres" internos, situados, normalmente, nas estruturas de poder.

Para dar maior impulso à sua industrialização e pós-industrialização, a União Europeia necessita de importar minerais metálicos essenciais (ferro, manganês, bauxite, lítio, cobre e estanho), fundamentais às atividades metalúrgicas e siderúrgicas e, conseqüentemente, a uma série de mercadorias de bens de consumo duráveis, máquinas e equipamentos industriais. Bom como petróleo e gás. Daí os conflitos forjados, onde ela os pode ir buscar, e onde os seus "títeres" se enlameiam em nome da solidariedade com o aliado, que a quer destruir, os EUA.

A UE tem de separar, a todo o vapor, a sua diplomacia dos Estados Unidos da América.

A Europa é o continente que possui a melhor rede de transportes do mundo.


O transporte marítimo é altamente utilizado, pondo em acção uma enorme quantidade de material todos os anos. Tem costas superabundantes e águas exclusivas riquíssimas.

Os portos de águas interior europeus estão entre os mais importantes de toda a terra.

Relativamente aos portos marítimos, o movimento é tão intenso desdeo Roterdão a Lisboa, com passagem por Londres, Antuérpia, e Hamburgo. E dentro de anos, falara-se-á de Sines.

As estradas ( em particular as au-estradas) são das mais modernas do Mundo.

Esta integração pressupunha a organização de uma unidade monetária comum. Claro que, com desenvolvimento desiguais, a sua implantação tem sido espinhosa. Mas, depressa se tornou unidade de referência mundial, em competição ganhadora com o dólar.

Et pour cause, os ataques especulativos que surgiram e vão continuar.

Pois, é nesta União Europeia que também se forjam as reivindicações das classes assalariadas mais significativas e mais marcantes.

Por um lado, com as suas reivindicações nacionais, que embora surjam sob o invólucro mediático de separatismo e do conflito étnico, fazem drapejar acima de tudo o seu desejo de liberdade e de criar um poder mais democrático...dentro da própria União Europeia.

E o caso da Irlanda, da Nacões hispânicas, do Reino Unido, possivelmente da Bélgica, das antigas Reúblicas Jugoslavas.

Por outro, as suas reivindicações de classe. A Grécia vive em estado de sítio permanente há dois meses. A Itália tem um historial de manifestações de ruas quase mensais desde 2008.

A França tem latente levantamentos populares violentos nos suburbios, onde residem, precsiamente, os trabalhadores mais explorados.

Por detrás de uma Unidade Europeia também pode estar uma nova Europa.





























quarta-feira, 28 de julho de 2010

COM ESTAS FORTUNAS, REDUZIA-SE A DÍVUDA PÚBLICA A ZERO


As fortunas individuais, conseguidas à custa do trabalho da comunidade, continuam a crescer, sem serem afectadas e colocadas ao serviço do bem-estar comum

























A edição de Agosto da Revista Exame, que chega, quinta-feira, às bancas, traz a lista das 25 maiores fortunas do país. Américo Amorim (cortiças, especulação finanaceira) é o português com mais dinheiro e Soares dos Santos (alimentação) o que cresceu mais em 2010. Veja a lista dos 10 mais ricos do país.

Américo Amorim tem um património estimado em 2,2 mil milhões de euros

Américo Amorim continua a ser o homem mais rico de Portugal. Este é o terceiro ano seguido em que o milionário de 76 anos lidera o 'ranking' das 25 maiores fortunas do país, uma lista anual realizada pela Revista Exame.


O empresário aumentou a fortuna em 9,1% durante 2010 e tem agora património estimado em 2,2 mil milhões de euros.

No segundo lugar da lista vem Belmiro de Azevedo. O 'patrão' da Sonae perdeu dinheiro (coitado), mas tem uma fortuna avaliada em 1,3 mil milhões de euros.

O terceiro lugar vai para a família Guimarães de Melo, com um património avaliado em 1017 milhões de euros, apesar de registar uma queda de 18,3% face ao ano anterior.

Ao todo as 25 maiores fortunas de Portugal somaram 14,7 mil milhões de euros em 2010, o que equivale a uma queda de 6% em comparação com o ano anterior.


Os 25 maiores patrimónios, que representam 9% do PIB, perderam dinheiro pelo terceiro ano consecutivo.

No último ano, só seis multimilionários conseguiram aumentar capital. Alexandre Soares dos Santos, Américo Amorim (mais 9,1%) e Rui Nabeiro (mais 5,7%) são alguns dos exemplos.

Alexandre Soares dos Santos registou o maior crescimento. O patrão da Jerónimo Martins viu o seu património aumentar 52%, de 665 milhões de euros em 2009 para 1015 milhões em 2010, ocupando o quarto lugar da lista da Exame.

As maiores quedas vão para a família Rocha dos Santos (menos 28,6%), para a família Mota (menos 25,8%) e para João Pereira Coutinho (menos 19,7%).

Na lista dos mais ricos apenas uma nova entrada e uma saída. Manuel Fino deixa a lista dos 25 mais ricos de Portugal e Ilídio Pinho é a nova entrada.

Maria do Carmo Moniz Galvão Espírito Santo Silva é a mulher mais rica, com uma fortuna de 670 milhões de euros, menos 8,4% do que no ano passado.


Os 10 mais ricos:


1.Américo Amorim: 2188,4 milhões de euros

2.Belmiro de Azevedo: 1283 milhões

3.Família Guimarães de Mello: 1017 milhões

4.Alexandre Soares dos Santos: 1015 milhões

5.Maria do Carmo Moniz Galvão Espírito Santo Silva: 670 milhões

6.Luís Silva e Perpétua Bordallo Silva: 646,4 milhões de euros

7.Manuel Soares Violas e Rita Celeste Soares Violas e Sá: 611,5 milhões

8.Família Cunha José de Mello: 605 milhões

9.Joe Berardo: 589 milhões

10.Teresa Roque Dal Fabbro e Paula Roque: 532,7 milhões de euros .


Claro que os verdadeiros senhores do dinheiro não estão aqui incluidos.


MAS, SE VERIFICARMOS OS VALORES PUBLICADOS, E SE SE FIZESSES A SUA CONFISCAÇÃO, PAGAR-SE-IAM TODAS AS DÍVIDAS PÚBLICAS DO PAÍS, QUE ELES SUGARAM À NOSSA CUSTA.







terça-feira, 27 de julho de 2010

FREEPORT: O RIDÌCULO DE CONSTITUR APENAS ARGUIDOS OS INTERMEDIÁRIOS












sete anos para investigar que o Freeport estava legal?











O primeiro-ministro, José Sócrates, chamou a televisão e fez um discurso espalhafatoso, sustentando que não houve acusação formal contra ele.

Cita-se da imprensa:

«Finalmente, seis anos depois de iniciado o processo a que chamaram caso Freeport, o Ministério Público deu por terminada a investigação», começou por dizer o primeiro-ministro, numa declaração transmitida em directo pelas televisões, a partir de São Bento. Admitindo a sua «satisfação por ver o processo finalmente concluído», José Sócrates sublinhou que os investigadores não encontraram «razão para acusar quem quer que fosse de financiamento ilegal a partidos, corrupção ou tráfico de influência».

«Como sempre disse, a verdade acaba sempre por vir ao de cima», declarou, acrescentando depois que as conclusões do Ministério Público «mostram a enormidade das calúnias e falsidades» que diz terem sido lançadas sobre o seu nome «nos últimos seis anos».

«Não houve quaisquer irregularidades no licenciamento ambiental do empreendimento Freeport», concluiu.


(Se se ler a imprensa, na véspera da inauguração, onde estiveram presentes, em nome da família real inglesa, o principe André e a mulher - convem esclarecer que a casa real inglesa tinha acções na Freeport -, pode constatar-se que a mesma inauguração foi efectuada com uma "autorização provisória", pois o autarca de Alcochete esteve relutante, até à última hora, em dar o seu assentimento à legalidade do empreendimento).

Claro: o que o PM não disse é que, sendo suspeito, as suas contas não foram investigadas...precisamente por ser o chefe do governo.

Na edição de ontem, o Diário de Notícias, titulava: "Contas de Sócrates não foram investigadas".

A evolução da reportagem.

"A investigação a eventuais subornos apenas subiu até um director-geral, Carlos Guerra. Alegadamente, (repare-se o alegadamente), por falta de indícios". (Quem tem a força verdadeira para evitar que tal investigação não se faça. Siga-se a hierarquia. E quem nomeia a hierarquia?).

"Das 165 contas bancárias investigadas no processo Freeport, nenhuma pertence a José Sócrates, que, à altura dos factos, era o ministro do Ambiente que aprovou o outlet de Alcochete". (Pois, esteve sempre entravado e os intermediários para o desentravação eram os agora arguidos. Faziam extorsão sobre quem? Mas eles tinham reuniões com José Sócrates).




Continua o jornal: "Os investigadores circunscreveram na administração pública o alegado esquema de corrupção até ao ex-presidente do Instituto de Conservação da Natureza, Carlos Guerra".

"Dado que as contas bancárias de titulares de cargos políticos nunca foram investigadas - além de José Sócrates, Pedro Silva Pereira e Rui Nobre Gonçalves compunham o elenco governativo do Ministério do Ambiente entre 2001 e 2002 -, tal quererá dizer que a investigação nunca deu credibilidade aos testemunhos e às referências (mas porquê? pergunto eu) a eventuais pagamentos corruptos ao nível do Ministério do Ambiente.

Por outro lado, o facto de - tal como o DN já revelou - as contas bancárias do tio de José Sócrates terem sido alvo de uma perícia financeira, quer dizer que os investigadores suspeitaram de que Júlio Monteiro pudesse ter recebido uma contrapartida monetária por ter feito "a ponte" entre os promotores do Freeport e o seu sobrinho. Entre 2000 e 2004, o tio de José Sócrates depositou, em notas, 366 mil euros nas suas contas bancárias.

A análise das perícias financeiras realizadas pela Polícia Judiciária utilizou como método o dinheiro movimentado nos bancos, comparando-o com as respectivas declarações de IRS feitas às Finanças pelos arguidos. Em matéria de corrupção e pagamentos por tráfico de influências, a PJ não retirou nenhuma conclusão directa. (Mas porquê?).




"Em parte alguma do relatório se faz a ligação entre levantamentos feitos pelos promotores e depósitos posteriores realizados por quem tinha poder de decisão. Os números mostram, porém, uma outra conclusão: uma eventual fuga ao fisco pela generalidade dos arguidos. Mas subsistem dúvidas se os supostos crimes fiscais cometidos estão ou não prescritos".




Não percebo, pois, a alegria de Sócrates. Melhor dizendo, percebo, perfeitamente, como tudo se passou.


segunda-feira, 26 de julho de 2010

CARTA ABERTA A SALAZAR: UMA DESMONTAGEM ARRASADORA DO CULTO

















Foi reeditado em Fevereiro deste ano, com a chancela da editora "Esfera do caos", um panfleto saído em 1959, da autoria do então capitão Henrique Galvão, que foi um dos indefectíveis do antigo Chefe do Governo Oliveira Salazar e um dos oficiais do Exército promotores do golpe de Estado de 28 de Maio de 1926, que se intitula "Carta Aberta a Salazar".

Galvão, que foi intímo de Salazar, que o tratava por tu, seu apoiante incondicional, de tal modo que o levava a intitular-se "criado de quarto" do antigo homem forte do Estado Novo, entrou em ruptura com o regime a partir de 1947, depois de apresentar na Assembleia Nacional um relatório altamente comprometedor para a política colonial do regime.
A ruptura com Salazar levou-o à prisão "por delito de opinião", tendo-se evadido do Hospital de Santa Maria, onde estava em tratamento hospitalar. Além de oficial do Exército pró-Estado Novo, Galvão dirigiu a Emissora Nacional, foi inspector superior colonial e deputado, convidado pelo próprio Salazar.

A edição de 1959 foi rapidamente apreendida pela PIDE, tendo acontecido o mesmo a duas tentativas de circulação na altura.

Por isso, a reedição actual é oportuna, pois desmonta, ainda que de maneira sucinta, o papel desempenhado pelo salazarismo, sugerido, actualmente, em revisão histórica, como forma de poder conservador, mas altamente evolutivo, baseado num despreendimento de honestidade pessoal.

Iremos, numa próxima ocasião, analisar o texto de um historiador chamado Rui Ramos, que escreve no jornal Expresso na passada semana, na sua revista Atual, com um título "Salazar na História".

Para terminar, inserimos o primeiro parágrafo:
"Pois é verdade, meu caro Manholas Júnior: evadi-me das tuas garras, dos teus ódios incansáveis, da tua Gestapo toda poderosa e dos seus algozes, das tuas mordaças, dos teus juizes e tribunais especiais, dos teus tiranetes enriquecidos e condecorados, dos teus gordos tubarões, dos teus idólatras mercenários, das tuas *notas do dia* e das tuas notas oficiosas, do teu exército de ocupação e respectivos generalecos, das tuas prisões e campos de concentração, do teu mercado de favores, dos teus discursos sem resposta, das tuas mentiras magistrais, da tua corte de vapiros e cretinos, dos teus venais e pederastas. dos teus negreiros, dos teus eufemismos tratufescos, da tua Idade Média - enfim. da tua Oligarquia, da tua Fazenda e do teu Rebanho".

domingo, 25 de julho de 2010

VENEZUELA: OS GRITOS DA IGREJA CATÓLICA QUANDO PERDE PRIVILÉGIOS




Uma guerra prolongada com a Igreja Católica: Quem vencer será modelo nos próximos anos




A Igreja Católica da Venezuela, sucursal do Vaticano, está em conflito e polémica, praticamente, desde a ascensão ao poder do coronel Hugo Chavez, quando o novo Chefe de Estado venezuelano decidiu "mexer" nos privilégios que a hierarquia católica local adquiriu à custa dos regime ditatoriais e conservadores (de cariz fascista ou democrático parlamentar) que se mantiveram no poder naquele país.

Quando Chavez, logo no início do seu mandato, cumprindo o estipulado prometido durante a sua primeira campanha eleitoral de que iria mudar a orientação política do país, e, em particular, reorganizar a estrutura educacional venezuelana, os cardeais e bispos católicos começaram a imiscuir-se, abertamente, na acção política, abandonando a chamada "neutralidade" apoiante que declararavam aos regimes, corruptos até ao tutano, que vinham desde Rómulo Bettencourt.

E o que fez Rómulo Betancourt [ex- Presidente venezuelano, 1945-1948/1959-1964] ? Assinou , em 1964, um acordo estilo Concordata (que os Papas já tinham rubricado anteriormente com Franco, Salazar, Mussolini e Hitler), que lhe dava privilégios especiais como religião dominante, no domínio de benefícios fiscais e, praticamente, ficava com o contrlo do sistema educativo no páis.

Qunado o coronel Chavez começou a anunciar que iria mudar a lei da educação, de imediato, os cardeais e bispos saltaram a terreiro, sustentando que eles eram o "suporte material e espiritual" do ensino venezuelano e que o novo Chefe de Estado estava a levar o país a caminho do socialismo.

Uma das figuras que mais exacerbou as críticas políticas ao novo Presidente da República foi o cardeal Castillo Lara, que faleceu em 2007, e que, ao longo da sua acção religiosa, foi um dos homens-fortes do Vaticano, de que falaremos adiante, e que praticamente moldou, desde os anos 80 até à sua morte em 2007, a estrutura hierárquica da Igreja Católica na Venezuela.

Quer o cardeal Castillo Lara, quer os actuais principais bispos, incluindo o cardeal arcebispo de Caracas, Jorge Urosa Savino, que chegou a reunir-se, em Roma, como o actual Papa Ratzinger, sustentando que Chavez deveria ser apeado do poder.

O incremento do conflito veio a dar-se quando, em 2009, foram promulgadas novas leis sobre educação, que removem as do acordo do tempo de Rómulo Bettancourt, que, no seu artigo 50, oficializava a possibilidade de as crianças receberem educação religiosa nas escolas públicas.

A lei sustentava mesmo: “A educação religiosa pode ser proporcionada a alunos até ao sexto ano do ensino básico, desde que os seus pais ou encarregados de educação assim o requeiram. Neste caso, serão concedidas duas horas por semana durante o horário escolar”.

A nova lei faz desaparecer totalmente qualquer expressão relativa à educação religiosa e enfatiza mesmo que o papel de educar os alunos pertence principalmente ao Estado e que o seu objectivo é providenciar uma educação secular. Deste modo a educação religiosa será apenas um assunto privado.

A lei proibe também o ensino de qualquer conteúdo que possa ser considerado contrário à soberania nacional. Ou seja, para a Igreja Católica, que se considera com entidade supranacional, logo, com direitos de extra-territoralidade, tal proibição leva também a evitar transferências de dinheiro para Roma, que provenham do ensino.

Ainda de acordo com esta nova legislação, aqueles que, em conjunto, são responsáveis pela educação das crianças são definidos como as famílias, as organizações comunitárias do Poder Popular, o Estado e a comunidade educativa.

A lei define também define sanções específicas no caso do incumprimento. Assim, numa das suas passagens, autoriza o ministro da Educação a encerrar ou reorganizar estabelecimentos privados que não obedeçam aos princípios definidos pela própria lei. Aos indivíduos assim sancionados não será permitido ensinar ou exercer funções enquanto gestores em estabelecimentos educativos por um período que pode ir até dez anos.

Chavez cortou, deste modo, uma imensa fonte de rendimento extremamente lucrativo para a Igreja Católica, já que é, também, o Estado que paga ainda os salários dos hierarcas católicos do país.

A resposta da Igreja Católica tem sido activa, incluindo o apoio a manifestações populares e `as forças da oposição. Chavez acusou mesmo, logo a seguir a uma tentativa de golpe de o depôs, durante dois dias, que a Igreja Católica participou na conspiração contra o Governo em conjunto com os EUA, e ainda de planear o golpe contra si próprio e até mesmo de fazer parte de um plano para o assassinar.

Mas voltemos agora a Castillo Lara.
Viveu uma parte da sua vida religiosa (realmente profana) nos corredores do Vaticano. Esteve metido, tal como foi denunciado no livro "Vaticano S.A:" nos sórdidos negócios e complôs, que a Santa Sé praticou durante todo o consulado do Papa João Paulo II. Um protegido deste, mesmo quando o "fogo" lhe rondava a casa.

Ganhou, portanto, notoriedade, como teórico da formulação conservadora das leis papais, e, como banqueiro sem escrúpulos, nos negócios criminosos mundiais e isto, porque o falecido papa polaco lhe conferiu responsabilidades como o Secretariado da PontifÍcia Comissão para a Reforma do Código de Direito Canónico, a Governação do Estado do Vaticano, como presidente da Comissão Disciplinária da Curia Romana (1981) e de presidente da Administração do Património da Sede Apostólica (1989). E este cargo foi o que lhe aumentou, enormemente, o poder.

Ascendeu a arcebispo de Caracas a 26 de Maio de 1982 e foi designado cardeal diácono a 25 de Maio de 1985.

Foi, pois,0 ele, que forjou toda a argamassa com que vive a hierarquia vaticana na Venezuela.

É uma frente de batalha enorme do Presidente Chavez, que se a vencer, servirá de modelo para toda a América Latina.

CRISE: PORQUE NÃO TAXAR OS NEGÓCIOS DA IGREJA?






O bispo católico auxiliar da diocese eclesiática de Lisboa, Carlos Azevedo, fez um apelo, que pretendeu ser muito caritativo, para que os políticos doem 20 por cento do seu salário para constituir um "fundo social destinado aos pobres", cuja gestão ficaria assegurada pela hierarquia da Igreja Católica, através da sua dependência chamada Caritas.

O apelo do hierarca pode parecer muito "justo" e até "apreciado" neste momento de crise, mas tornar-se-ia mais eficaz e menos cínico e hipocrita se o bispo propusesse que os lucros da Igreja Católica, incluindo os bancários, fossem taxados a 45 por cento a favor do Orçamento de Estado português.


Ou então, fizesse uma declaração pública a propor que o regime especial de favorecimento patrimonial e fiscal que lhe é outorgado pela Concordata assinada com o Estado português, em 2003, acabasse e a Igreja Católica ficasse ao mesmo nível das restantes empresas.

Já agora seria de uma honestidade a toda a prova que Carlos Azeredo divulgasse os valores societários que a Igreja Católica mantem nas empresas portuguesas, nomeadamente no sistema bancário português.

Por exemplo, a Igreja Católica portuguesa recebe, através do IPSS (Instituto Particulares de Solidariedade Social) a maior fatia - mais de 85 por cento - da dotação orçamental do Estado para aquele sector, que, em 2009, ultrapassou os 1,2 mil milhões de euros (repito 1,2 mil milhões de euros).

Tal como na sede central da Igreja Católica, o chamado Estado da Santa Sé, os negócios da fé, são mantidos no segredo. E só se houve falar das "preocupações sociais" da Igreja quando estão em jogo a repartição das benesses do Estado pelos organismos ditos de solidariedade social, que, tão ciosamente, procura controlar e usufruir.

Hoje, é do conhecimento público que o Vaticano (que controla toda a hierarquia católica no mundo, e, naturalmente, a portuguesa) é hoje o maior centro financeiro mundial, onde é a maior holding internacional off-shore, onde se fazem lavagens de dinheiros, transferências ilícitas de capitais, engendram processos altamente sofisticados de corrupção e de compra de beníficios políticos.

E tudo gira à volta do Instituto para as Obras Religiosas (IOR) - um nome discreto não é verdade?

Pois, este instituo nos últimos 30 anos esteve a ser abalado por sucessivos escânalos. Sempre que descobertos, os Papas fizeram "meas culpas", mas viraram de imediato o disco e tocaram o mesmo.

Nos últimos meses, o Instituto para as Obras Religiosas, conhecido popularmente como o Banco do Vaticano, está sendo investigado pela justiça italiana por uma suposta lavagem de dinheiro ilegal, informo há um mês a imprensa italiana.

IOR, que administra as contas de diversas ordens religiosas, assim como de associações católicas, é uma instituição da Igreja Católica que se beneficia da extraterritorialidade, já que se encontra na Cidade do Vaticano e não se rege pelas normas financeiras vigentes na Itália.

O Instituto esteve envolvido em um escândalo político-financeiro nos anos 80, pela quebra, em 1982, do Banco Ambrosiano (do qual o Vaticano era um acionista importante) devido ao peso de uma dívida, nos valores de então, de 3,5 mil milhões de dólares e um rombo fiscal de 1,4 mil milhões de dólares.

Segundo a imprenas, 10 bancos italianos, entre eles os poderosos Intesa San Paolo e Unicredit, todos com ligações ao Papado, estão envolvidos no caso.

Que responde a isto o frei Tomás actual, chamado Manuel Clemente?

Os lucros dos negócios do Vaticano repartidos, com igualdade, acabariam com a fome no Mundo.

sábado, 24 de julho de 2010

OS PEQUENOS PAISES JÁ PODEM USAR A BOMBA ATÓMICA






As guerras regionais podem ser feitas com armas atómicas dos dois lados, mesmo sendo pequeno um dos países.





















Nos últimos meses, assistimos a uma aumento de tensão militar em vários pontos do Mundo. Começam a exibir-se e a falar-se, abertamente, na utilização de armas atómicas. Em todos esses focos de tensão estão sempre os representantes políticos e militares dos Estados Unidos da América. O que não é por acaso, eles estão a promover no mundo, como estrátégia de política externa, a política de sangue e armas, pensando que, com tal orientação, irão reconquistar o poderio financeiro-económico que alcançaram no Mundo, nos últimos 50 anos.

Eles pensam, em particular desde 2001, altura em que, de maneira desabrida, abriram a frente de combate no Afeganistão, que conseguiam um sucesso, a curto prazo. Como se pode ver dez anos depois, a sua imperial política económico e financeira está a desmoronar-se, e, a sua arma de referência internacional, o dólar, está pela ruas da amargura.

Algo mudou no Mundo nos últimos 30 anos, e um dos aspectos salientes dessa mudança deu-se, precisamente, nas transformações económicas, sociais e mentais, que ocorreram nos países, povos e comunidades que eles espezinharam, quando pensaram que "tudo estaria a seus pés" após o desmembramento do Império Soviético.

O que é certo é que, desde os meados dos anos 80, menosprezaram os seus aliados europeus e intervieram nas políticas internas da Jugoslávia, da Polónia, da Hungria, da Checoslováquia, Roménia, Albânia, e, até da própria Alemanha.

Desde os anos 60/70, desprezaram todos os sentimentos nacionais e independentistas da América Latina, colocamdo nos poderes generais e coronéis, títeres da sua política. Já antes embrenharam-se no Vietname, fomentaram um golpe militar sangrento na Indonésia, com mais de um milhão de mortos nos oposicionistas políticos, intervireram e tentam intervir na pensínsula coreana, na Birmânia, na Tailândia, conforme as conveniências.

Enxameiam de divergências e guerra todo o Grande Médio-Oriente.

Claro, como se pode ver, isto não pode durar.

Em primeiro lugar, a Europa retalhada pela guerra e amesquinhada pelos Estados Unidos, que ainda hoje procura amordacá-la aos seus interesses estratégicos, está numa fase - diga-se incipiente, titubeante, ainda indefinida - de procurar a unificação, constituindo uma unidade económica que Washington sabe que, a atingir a plenitude, irá ser-lhe mortal nas pretensões de hegemonia (produção concorrencial, exportação, e mesmo referencial monetária). É, neste momento, ainda que com uma crise de proporções, a maior potência económica e o centro populacional, em conjunto, com o maior poder de compra. Logo centro atractivo, até para as migrações de povos.

Em segundo lugar, estão a surgir outros pólos económicos autónomos e concorrencias para os EUA na Ásia (em torno da China), na América do Sul (com o embrionário Mercosul, cuja alavanca é o Brasil);

Em terceiro lugar, estão em fase de consolidação potências militares (mundiais ou regionais), capazes de restringir a voracidade imperial de Washington. Desde o Médio-Oriente até à`Ásia.

Em quarto lugar, as disputas de regiões de riquezas naturais e de zonas geo-estratégicas já não são monopólio absoluta do capitalismo norte-americano, e naturalmente, dos seus representantes políticos e militares. São disputas muito caras, cujos desfechos de sucesso castrense local são incertos e, principalmente, desgastantes para o Tesouro norte-americano.

Ora, o que torna toda esta situação explosiva é que o Estado imperial - e neste Estado, o que conta são essencialmente os interesses capitalistas financeiros especulativos - tem de ( melhor dizendo, tenta) provar que que as "suas garras" estão afiadas para conseguir que o mercado mundial seja da sua exclusiva dependência. Para que isto seja real, pelo menos, em parte, do ponto de vista, dos representantes políticos e militares do sistema norte-americano, têm de impôr aos "elos mais fracos" os ditames da violência manus militare para servir a expansão económico-comercial.

Os Estados Unidos estão numa encruzilhada e estão a colocar o Mundo à beira de uma guerra, pelo menos, regional, numa primeira fase, de grandes proporções, cuja arma nuclear já não está só na sua bagagem. Ela pode atingir tanbém "os interesses vitais" de Washignton.

As movimentações a que estamos a assistir não estão a primar pelo bom senso.

E as mais graves e imediatas estão a surgir na região da Península da Coreia.

Um navio de guerra sul-coreano foi afundado, em circunstâncias obscuras e não esclarecidas, que a Coreia do Norte nega ser da sua autoria. Dos restantes países da zona asiática, apenas a própria Coreia do Sul e o submisso governo japonês se colocaram ao lado dos EUA, sustentando que foi o regime do norte o promotor.

Como não conseguiram o apoio diplomático, muscularam-se e programaram para domingo e até ao dia 28 (e isto de programar leva muitos meses, pelo menos um ano, o que significa que já estava em cima da mesa dos estrategas de Washington, antes do torpedeamento do navio de guerra!!!) exercícios aero-navais, no Mar do Japão, com a participação de 20 navios de guerra, incluindo um porta-aviões nuclear, 200 caças de combate e 8 mil soldados.

Para esta aventura, empurraram, com a conivência dos títeres de Seul e Tóquio,
soldados das Forças de Autodefesa (Exército) do Japão para participar como observadores das manobras navais e aéreas.

É a primeira vez que o Japão, cuja Constituição proíbe participação em conflitos armados a menos que seja em defesa própria, actua como observador em exercícios militares organizados por outros países. O militarismo japonês está a ser reabilitado, há mais de uma década, por instigação norte-americana.

Claro que estas manobras colocaram a China em alerta, e, qualquer incidente junto às suas fronteiras vai alargar, certamente, se tal acontecer, o fantasma de uma guerra regional.

Mas, enquanto isto sucede naquela região, na América Latina crescem os sintomas de tensão militar, instigados por um aliado de Washington, o actual Presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, que tudo fez para colocar um conflito interno colombiano de guerra civil, num confronto com um país, que se afasta cada vez mais de Washington, a Venezuela.

Os representantes de Uribe apresentaram um dossier na sede da OEA (Organização dos Estados Americanos), em que participam os EUA, afirmando que guerrilheiros das FARC estão estacionados em território venezuelano. E para tal, apresentam fotografias de satélite, como se a Colômbia tivesse satélites a sua disposição. É evidente que lhe foram fornecidos por Washington. O que proporcionou tal dislate: a tensão, cortes de relaçõe diplomáticas, ameaças de guerra.

Num confronto de tal envergadura, a Colômbia não terá capacidade de vencer, até porque o grosso do seu Exército nem sequer consegue derrotar uma dezena de guerrilheiros há 30 anos. A Venezuela também poderá vir a ser prejudicada.

O que está pois na forja?
Entre as mais recentes iniciativas de Washington para procurar restringir os sentimentos nacionais das nações sul-americanas, está a reactivação da 4ª Esquadra de Intervenção. E esta ainda não actuou.

Mas a crise actual colombiana/venezuelana não é o único indício de que a Administração norte-americana quer regressar, com a força de tropas, àquela região. A pretexto de um sismo, ocupou militarmente o Haiti (os soldados ainda lá estão um ano após a catástroge sob o disfarce de “ajuda humanitária”), a Costa Rica é na realidade um protectorado norte-americano com o argumento de que estão a combater o narcotráfico, fomentaram um golpe militar nas Honduras, a partir de uma sua grande ali instalada, destituindo o presidente eleito Manuel Zelaya.

Para evitar, uma possível viragem política na Colômbia com o novo Presidente, que quer normalizar as relações com a Venezuela, pois as perdas económicas são grandes, acertou, já há muitos meses, com Uribe um acordo para instalar sete novas bases na Colômbia.

Mas, apesar de imediato, puder haver um confronto na Coreia, os Estados Unidos estão a fazer subir a tensão da guerra no Grande Médio-Oriente, pois, no presente, é a região onde se concentram as principais reservas e riquezas minerais, desde o petróleo ao gás, mas também minérios, como o lítio. Mas, acima de tudo, é uma das zonas mais importantes geo-estratégicas, onde se entrecruzam alguns dos maiores oleodutos e gasodutos do Mundo.

Aqui, estão em jogo interesses de potências já instaladas na cena política internacional (EUA, Rússia e China), mas está em crescimento uma potência regional, que conhece o terreno, a cultura, e a língua da região, o Irão. É um novo actor, que pode vir a dar cartas nos próximos anos.

Por isso, é que houve o recente desentendimento no topo do complexo militar-económico dos Estados Unidos, com as declarações do general Mac Chrystal, antigo comandante chefe das forças norte-americanas e dos aliados (ou pseudo-aliados) da NATO no Afeganistão, que considerava que a guerra no país estava em fase de ser perdida. E criticava a orientação da Administração política norte-americana.

O homem que o susbtituiu, o general David Petraus, afirmou, com toda a entoação de um novo comandante, que está "decidido a vencer no Afeganistão, a qualquer custo".
Mas como? se os aliados se querem ir embora e os EUA estão com dificuldade de logística de de rotação de homens a tempo e horas. Com um crescente número de mortos em combate.

Este ano fazem já nove anos que os EUA anunciaram que iria invadir o Afeganistão alegando para "salvar a população local e a comunidade internacional do terrorismo islâmico".
Mas, eles agora já querem retirar aos terrorista islâmicos o rótulo de terrorismo? Até como é?

Mas qual foi a razão principal da saida de Chrystal? Ele era adepto do empenhamento de mais homens no terreno, de mais material. Ou seja aumentou enormente o custo da guerra. E, atirou-se a Obama, acusando-o, implictamente, de ser fraco na condução da mesma. Ou seja, estava a dizer, praticamente, ao Presidente (e aos civis), demita-se, porque você não sabe dirigir tal operação. Isto só os militares o podem fazer.

Obama enredou-se na trama. Optou por mais guerra. Está a incendiar o Paquistão, a pretexto de combater "o terrorismo". Mas quem alimenta esse terrorismo são os organismos de poder económico-militar do Paquistão.

Como conter isto? Os EUA estão a ponderar atirar a Índia contra o Paquistão, se necessário. Asinaram, ha dias, um tratado de luta comum contra o terorismo. Para a Índia, de onde vem esse terrorismo? Precisamente do seu vizinho.

Os EUA estão enredados numa teia que não conseguem fugir. Os seus aliados estão em fuga. Para sobreviver no Afeganistão já financiam os talibãs para lhe dar protecção nos seus movimentos logísticos e não só.
O atoleiro só vai poder acabar com uma retirada.

Mas, os Impérios antes de se destruirem - ou serem destruidos - vão fazendo sempre sangue.


Serafim Lobato










sexta-feira, 23 de julho de 2010

RESPOSTA A GUILHERME

Caro Guilherme:

a) Não o conheço, mas, como inseriu o seu comentário, eu gosto de elucidar.

b) Realmente, como você afirma, eu ainda sou "verde" nestas coisas de blog. É a minha primeira experiência e sou eu apenas que estou a organizar, tacteando, quer o conteúdo, quer as imagens. Como você pode reparar ainda apresenta muitas incorrecções. Pretende apenas ser um lugar de debate. Claro, eu exponho os meus pontos de vista, outros terão outros.

1 - Sobre o nome Tabanca de Ganturé. Ela existe. Localiza-se no norte da Guiné-Bissau. De 1969 a 1974, serviu como base naval fluvial da Marinha de Guerra. Antes era um entreposto comercial de uma subsidiária da CUF, chamada Casa Gouveia, para armazenamento de "mancarra" (amendoim) e castanha de cajú e, ao mesmo tempo, funcionava como centro de controlo de toda a cultura naquela área, bem como a arregimentação de trabalho forçado, que pertencia, então, monopolisticamente àquele grande grupo económico.

Em 2003, voltei lá e verifiquei que se transformara, pura e simplesmente, num aglomerado populacional que se chamava "tabanca de Ganturé". Coisas da guerra, portanto... Daí o nome.

2 - Sobre a actividade das polícias "anti-terrorismo" nos EUA, desconheço a sua eficácia e a sua actividade prática. O que vou conhecendo, até porque leio a imprensa "não oficial" do regime - e ainda porque contacto com pessoas que visitam o país - é que existe uma desconfiança organizada sobre tudo o que é de "cor", incluindo o Presidente.
Sei, porque li, que parte da família de Obama, que é de origem muçulmana, incluindo o pai, já falecido, que abandonou os EUA, porque não se sentia lá muito bem, tem sido "investigada" e as suas movimentações (dos familiares escuros) rigorosamente controladas.

O que lhe posso referir é que, há cerca de um ano, num aeroporto norte-americano, um grupo numeroso de portugueses, do qual eu fazia parte, fomos, humilhantemente, tratados, e apenas estávamos em trânsito, somente porque às autoridades lhes "cheirou" que éramos "latinos desclassificados". Ou seja, na minha interpretação, terroristas potenciais. Como resmungamos, vieram logo as ameaças de repressão...

Serafim Lobato

terça-feira, 20 de julho de 2010

EUA: GUERRA AO TERRORISMO PARIU UM MONSTRO







Um estudo, sob a forma de relatório, do Congresso dos Estados Unidos da América, divulgado há dias, reconhece que a chamada "guerra ao terrorismo" decretada pelas Administrações do país, desde 2001, produziu um monstro e um polvo.

O monstro está, segundo o relatório, na criação de um emaranhado de sistema de informações e espionagem em todo o país que já comporta 850 mil pessoas, fazendo lembrar os sistemas policiais de Hitler da Alemanha.

O jornal "Washington Post", que investigou o tema, pelos valores monetários nele envolvidos, durante dois anos, assinala que este sistema se transformou num polvo, envolve quase mil empresas privadas e 1.270 agências governamentais que actual descordenadamente em cerca de 10 mil locais, empregando cerca de 850 mil pessoas.

O jornal sustenta diz que esse crescimento da informação e da "bufaria", com milhões de milhões de dólares que vão para empresas em empresas privadas e agências governamentais, resultou em um sistema que tudo controla e não é controlado. Poderá servir para todo o tipo de artimanhas e actividades ilícitas, por vezes, controladoras da mera vida particular das pessoas.

Ora esse monstro já custou ao contribuinte mais um bilião dólares.

O estudo "Custo das Principais Guerras dos EUA", feito pelo Congresso, tenta comparar os custos das guerras ao longo de mais de 230 anos, desde a Revolução Americana até à actualidade.

Comparando valores ajustados pela inflação, as despesas com a ocupação do Iraque e do Afeganistão e de outros lugares faz da "guerra ao terrorismo" a mais cara desde a Segunda Guerra Mundial.

Mas essas despesas podem ser maiores.

Uma estimativa da Secretaria de Orçamento do Congresso, de 2007, refere que o custo das guerras de Afeganistão e Iraque até aquela data devem estar a rondar os 2,4 biliões de dólares.

O que os especialistas ouvidos pela imprensa norte-americana assinalam é que a informação está a produzir contra-informação, e, como ninguém a controla, pode levar a ser perigosa de ser utilizada, pois, muitas vezes, existem contradições gritantes. O que, em termos práticos, significa paralisia do sistema de recolha e troca de informações.

ESQUERDA E REVISÂO DA CONSTUIÇÃO: QUE PODER?







A Constituição de 1976 ainda reflecte sonhos e projectos


O PSD atirou, nos últimos dias, para a imprensa, indicíos de projectos ou ante-projectos do que afirma ser a sua proposta de revisão constitucional, cujo centro nevrálgico se situa nas questões económicas e sociais, que enquadram, precisamente, na abertura total ao domínio de classe do grande capital, quer nas relações sociais de trabalho, quer na penetração total do capital financeiro no controlo empresarial da saúde, da educação e segurança social.

Esta ofensiva claramente contra-revolucionária é um corolário sequencial de uma derrota progressiva de uma quase revolução (1974/75), quase revolução esta que conseguiu erguer uma Constituição de cariz burguês avançado, que impôs algumas leis e regulamentos de carácter revolucionário, nomeadamente para satisfazer reivindicações progressistas para as classes assalariadas.

Claro que este período conturbado, fortemente pré-revolucionário, não conseguiu atingir a fase socialista, como ficou inscrita na Constituição de 1976, porque o poder não foi alcançado por um partido revolucionário, mas os seus legisladores, que representavam a burguesia liberal, não tinham força, como força social de facto, para ultrapassar uma ameaça latente - ainda que dividida - das classes trabalhadoras.

Aquelas, embora sem terem capacidade para conquistar e destroçar o poder de Estado, deixado pelo regime derrubado em 25 de Abril de 1974, tiveram um papel importante e determinante para "empurrarem" os representantes políticos maioritários da Assembleia Constituinte para emitirem uma mescla de leis que serviam os interesses reivindicativos dos assalariados.

A recomposição do poder do Estado Novo através de um marcelismo liberal, que o falecido Chefe de Governo Marcelo Caetano não conseguiu impôr, está, agora, a atingir esse patamar, pois os partidos liberais de 1976 (que até marxistas se apelidaram) estão agora a forjar uma frente contra-revolucionária, que adquire uma certa projecção, pois nunca se confrontou com um verdadeiro partido de um novo poder revolucionário, de um socialismo revolucionário.

Claro que que nota descontentamento, que existe uma memória inserida em certas camadas populares de que os dois/três anos do pós 25 de Abril foram marcados por um certo progresso revolucionário, nas formas embrionários de poder de base, nas lutas reivindicativas que obrigaram os capitalistas a fugir do país e alguns às prisões por reais desvios e fugas de capitais. (Claro que houve exageros, mas esses também existiram na ruptura da Monarquia em 1910, e, além do mais uma mudança radical de poder não se faz com panos quentes).

Quem fomenta as revisões drásticas dessa Constituição tem noção de que não foi propriamente uma revolução que foi destroçada, mas sim os projectos obscuramente pré-revolucionários, que conviviam, em governos provisórios, com representantes directos do Capital, encabeçados por Sá Carneiro e Mário Soares, e um corte drástico com essa Lei Fundamental pode fazer saltar fantasmas mais actuantes das relações sociais que, embora ameaçassem ruptura e até guerra civil, nunca atingiram frontais conflitos classistas. Algo pode amadurecer, pois, nos próximos meses. Há uma crise económica, financeira, social e política.

É desse modo que João Calvão da Silva, um dos antigos governantes queridos do actual Chefe de Estado, um dos "pais" desse projecto de revisão constitucional, argumentou que o PSD não propõe alterar o preâmbulo da Constituição.

"Não é alterado porque é datado. O que lá está, como a sociedade a caminho do socialismo, toda a gente percebe que é para ser lido historicamente. É um texto que traduz uma história, portanto, a história mantém-se", argumentou, cinicamente, o presidente do Conselho de Jurisdição Nacional do PSD.

O que é preciso colocar neste debate em torno da revisão constitucional é, pois, a questão do poder.

E a chamada esquerda, os que se auto-intitulam de tal na sua propaganda (PS, PCP e Bloco de Esquerda) - que eu não consigo discernir o que as diferencia nos programas políticos de poder - para dar corpo a uma alternativa de progresso revolucionário face às propostas em jogo, tem de se definir.

É natural que se verifique uma certa "timidez" na crítica ao processo contra-revolucionário que se seguiu à Revolução de Outubro de 1917 na Rússia - e as suas sucedâneas programáticas idênticas, desde a China a Cuba, passando pela Albânia -, mas será dessa crítica, da assunção contra-revolucionária do seu percurso, das investigações em torno das suas fraquezas, sem procurar eudeusar algo que produziu retrocessos históricos na assimilação (e até rejeição) entre sectores importantes das classes trabalhadoras da alternativa futura do socialismo, que se irá forjar um novo programa partidário socialista.

A esquerda tem de apresentar e definir o objectivo final da sua acção política. Ora, isso é que irá clarificar uma mensagem de Esquerda que hoje é amorfa, obscura, situacionista.

Claro que esta definição não pressupõe restrições à luta por reivindicações reformistas e pela liberdade, compromissos, buscas de alianças, um trabalho abnegado e permanente parlamentar. Nem o poder actual indicia uma ruptura iminente de regime. Nada disso.
Mas o que é progresso significativo, clarificador e marcante é a definição do objectivo final.

Eu penso que, nos tempos actuais, essa definição clarificadora, não deve ser apenas de Portugal, mas de toda a União Europeia, onde se esboçam e emergem situação de conflitos, reivindicações e mesmo actividades políticas que podem ser unificadas e canalizadas para ultrapassar muito chauvinismo nacional que permanece entranhado nos sectores laborais.

sábado, 17 de julho de 2010

Nos últimos dias, rebentou uma polémica, despoletada pelo presidente da auto-intitulada Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade, que é um padre católico, chamado Lino Maia, denunciando cortes nos financiamentos às refeições servidas aos mais necessitados nos Ateliês dos Tempos Livres (ATL).

Em concreto, segundo o Jornal de Notícias, o hierarca da Igreja Católica, Lino Maia, denunciou o envio de ofícios às instituições particulares de solidariedade social (IPSS), pelos centros distritais de Segurança Social, a anunciar o fim das comparticipações dos almoços.

A denúnicia até pode ser justa e verdadeira, face à política governamental de cortar os préstinmos de apoio social aos mais necessitados. Do actual governo pode esperar-se tudo.

Mas, então, porque aparece o citado padre, apenas, a denunciar esta situação e não todos os cortes nos servições sociais aos necessitados?

Não se tem notado as críticas da Igreja Católica às políticas governamentais de redução dos salários, nem de aumento de impostos, nem de aumento do desemprego, nem se ouve qualquer voz alterada dos bispos portugueses contra os prémios chorudos dos administradores do Estado e privados, nem contra as reformas acumuladas dos altos funcionários e ex-governantes deste país.

O padre católico está precocupado, sim, com as "restrições" ao envio de dinheiros públicos para os ATL, que são, na sua maioria, entidades e instituições controladas, directa ou indirectamente, pela Igreja Católica, que as gerem como sociedades anónimas.

O que parece estar a ser seguido é que o Estado e as Câmaras irão, através das escolas, fornecer as refeições - e, a confissão é de uma outro hierarca da Igreja Católica; Manuel de Lemos, presidente da União das Misericórdias, que tutela muitos ATL, "no acordo de cooperação de 2008 feito entre os parceiros (o sector público, sublinhado nosso) ficou combinado que à medida que as escolas passavam a dar as refeições, nós deixaríamos de o fazer".

(Ou seja, o controlo do dinheiro estatal para as refeições deixa de passar pela "gestão" dos apaniguados da Igreja, esta é a questão).

Neste momento, segundo a imprensa, a Segurança Social financia os almoços de 34 705 crianças, entre as 76.800 que frequentam os ATL.

Cada criança custa por mês 77,14 euros em refeições, uma valor que pode ser pago na totalidade pela Segurança Social ou outras entidades. Os pais também pagam uma parte da despesa, de acordo com os rendimentos do agregado familiar. (Ou seja, é dinheiro total em caixa dos senhores dos ATL)

Se se multiplicar, poder reparar-se nos números e na preocupações "caritativas" da Igreja Católica.

Mas, este é apenas um aspecto da actuação da Igreja Católica no altamente rentável sector da chamada "solidariedade social".

É certo que o Estado, como instituição que deve zelar pelo bem-estar mínimo da população, se demite de ser ele a entidade que deveria gerir e controlar esses ATL, mas, a realidade, é que a Igreja Católica exerce toda a sua influência, incluindo a política, através dos seus representantes no poder governamental, para os dominar e exigir que seja, aliás, o governo a sustentá-los.

E o caso não se restringe aos ATL, enquadra todo o sector apelidade de "Solidariedade Social".

Recorremos à Imprensa nacional para divulgar essa realidade.

O Orçamento do Estado para 2009 contempla uma subida de cerca de 10 % no apoio às Instituições Particulares de Solidariedade Social. Uma transferência social que ronda os 1100 milhões de euros, segundo informou, há um ano, o Diário de Noticias. (o sublinhando é meu).

Já repararam: mil e 100 milhões de euros.

E para onde vai este dinheiro?

As palavras ao destinatário: "Sem confirmar verbas, o Pe. Lino Maia, Presidente da CNIS, confirma afirma à Agência ECCLESIA ( a agência oficial da Igreja Católica em Portugal) a transferência e o aumento do apoio, que, na sua visão, significa o reconhecimento das IPSS (na sua esmagadora maioria sob a gestão da Igreja Católica.

“Elas são importantes, sem elas não há um significativo combate à crise e esta opção dá esse sinal”, acrescentou.

Continuamos com a ECCLESIA:

"O Presidente da CNIS aponta que o governo reconheceu que as instituições são um sector importante na economia social, que representa 4,3 % do Produto Interno Bruto (PIB)".

"No diálogo mantido entre a CNIS e o governo, foi pedido o apoio das IPSS para o alargamento das respostas de creches, sendo esta uma aposta na educação. 400 novas creches serão um investimento em “novos equipamentos, alguns já criados outros ainda a criar”, aponta o Pe. Lino Maia.

"O alargamento prometido pelo executivo ditava que 400 novas creches seriam criadas, em especial, nas áreas metropolitanas de Lisboa e Porto. O Presidente da CNIS garante que não serão apenas estas as áreas contempladas e assume que as IPSS estão disponíveis para colaborar com esta medida. A colaboração será ao nível dos equipamentos. “Não será tanto novas instituições que serão criadas, mas vamos alargar os equipamentos a mais crianças”.

"O Pe. Lino Maia reconhece que novas instituições poderão surgir, mas “na maioria dos casos serão novos equipamentos”.

ATL, creches, lares de idosos, etc etc.

Claro que todo o sistema está hoje a servir a comunidade. São perto de 500 mil pessoas, que estão inseridas nessas instituições, que empregam cerca de 50 mil pessoas.

Surgirão interrogações e até críticas sobre a razão deste apontamento. Mas, a realidade é que o apoio aos mais desfavorecidos tem de ser praticado e controlado pelo Estado, e não ser objecto de negócio. Não se pode desfazer uma coisa que existe e está no terreno. Certo. Mas, uma outra política de Estado Social terá de obrigar o poder governamental a ser ele o gestor e o fomentador de toda essa actividade.


Foi com a Constituição de 1976 (artigo nº 63) que surgiu pela primeira vez o termo IPSS – Instituições Particular de Solidariedade Social e por imposição da maioria política que já então governava o país.

Mais tarde foi regulamentado.


De acordo com o artigo nº1 do Decreto-Lei nº 119/83 de 25 de Fevereiro, as IPSS, são entidades jurídicas constituídas sem finalidade lucrativa, por iniciativa privada, com o propósito de dar expressão organizada ao dever moral de solidariedade e de justiça entre os indivíduos e desde que não sejam administradas pelo Estado ou por um corpo autárquico, para prosseguir, entre outros, os seguintes objectivos, mediante a concessão de bens e prestação de serviços:
a) Apoio a crianças e jovens;
b) Apoio à família;
c) Apoio à integração social e comunitária;
d) Protecção dos cidadãos na velhice e invalidez e em todas as situações de falta ou diminuição de meios de subsistência ou de incapacidade de auto sustento;
e) Promoção e protecção, nomeadamente através de prestação de cuidados de medicina preventiva, curativa e de reabilitação;
f) Educação e formação profissional dos cidadãos;
g) Resolução dos problemas habitacionais das populações.

Juridicamente as IPSS podem assumir as seguintes formas:
a) Associações de Solidariedade Social;
b) Associações de Voluntários de Acção Social;
c) Associações de Socorros Mútuos ou Associações Mutualistas (Mutualidades);
d) Fundações de Solidariedade Social;
e) Irmandades da Misericórdia ou Santas Casas da Misericórdia (SCM).

As organizações religiosas (e são elas as dominantes em todo este esquema) que desenvolvam actividades de solidariedade social, tais como os Centros Paroquiais ou Congregações, ficam sujeitas ao regime das Fundações de Solidariedade Social (artigo 41º).

Caso estas organizações religiosas estejam relacionadas com a Igreja Católica ficam igualmente sujeitas ao regime da Concordata assinada entre a Santa Sé e a República Portuguesa em 7 de Maio de 1940.

As IPSS podem agrupar-se:
a) Em uniões;
b) Em federações;
c) Em confederações

Presentemente existem a Confederação Nacional de Instituições Sociais (CNIS , a União das Misericórdias Portuguesas (UMP) e a União das Mutualidades (UM).

As IPSS assim que registadas adquirem o estatuto de entidade de utilidade pública (artigo 8º do Decreto-Lei nº 119/83 de 25 de Fevereiro) que acarreta para estas simultaneamente benefícios (isenções fiscais, tarifas reduzidas de água e electricidade, apoio financeiro) e encargos (prestação de contas, obrigação de cooperação com a Administração Pública, sujeição de tutela).

Em 2009, primeiro ano marcado profundamente pela crise económica e financeira mundial, foram criadas 30 novas Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS) em Portugal.

Segundo o padre Lino Maia, presidente da Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade (CNIS), "existem em Portugal mais de quatro mil instituições em grande actividade e não houve uma única que durante este ano fechasse portas".

Com um Orçamento que provem do Estado de 1.100 milhões de euros, a dividir por 500.000 pessoas, dá um valor anual de 2.200 euros por pessoa, sendo que uma parte substancial ( e não é pouco) das mensalidades das creches, das consultas, das refeições, dos lares, e outros, são pagas pelas famílias ou pelo próprios, pode imaginar-se os apetites que tais sectores despertam.

"

sexta-feira, 16 de julho de 2010

OS RAPTOS EM NOME DE INTERESSES VITAIS









os raptos criminosos em nome dos interesses vitais do Estado
Um cientista iraniano, Shahram Amiri, desapareceu, há cerca de um ano, na Arábia Saudita, e reapareceu, agora, em território norte-americano. Refugiou-se, ou foi mandado, para o consulado do Paquistão em Washington, e afirmou publicamente, que foi raptado por agentes secretos dos Estados Unidos e Arábia Saudita, e, pressionado para dar informações sobre o programa nuclear de Teerão.

Fez um acusação suplementar, além de eventuais torturas praticadas, primeiro, na Arábia Saudita, depois nos EUA, estiveram a interrogá-lo agentes isrealitas.

A petulante secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, aparentemente perturbada, com o desfecho, sustentou que o cientista iraniano veio para os EUA de livre vontade.
Mas, quando o Irão iniciou, há uns meses, uma campanha a denunciar que o cientista fora raptado, num país estranjeiro, por agentes norte-americanos, o que era um "precioso" cientista nuclear para os norte-americanos, deixou de o ser e foi mandado, de imediato, para o seu país de origem.

Em todo este imbróglio, algo está mal contado.

É difícil de acreditar que o Irão deixasse sair do país, sem controlo apertado, um cientista nuclear de alto gabarito, com acesso a informações de grande secretismo, mesmo que fosse para ir a Meca.

Também é difícil de acreditar que se, para os EUA, o cientista tivesse "valor informativo" permitissem que ele sequer "tivesse existência". Certamente, desaparecia e seria colocado em "congelamento" absoluto.

Já é mais fácil de acreditar que tivesse havido um erro de apreciação sobre a personagem que interpelaram na Arábia Saudita. E que o Irão estivesse na posse de provas reais de que teria havido um rapto de um cientista menor, que se "desaparecesse", poderia tornar-se numa denúncia mundial de uma assassinato de um intelectual iraniamo.

Daí o incómodo da senhora Clinton, ao afirmar, timidamente que o iraniano fora para os Estados Unidos de livre vontade. E então, a pergunta: "Porque nunca o deixaram contactar com a família?".

Apenas surgiu, na imprensa, há meses, um vídeo, onde o cientista - não sabemos se o é - declara que desertou. Situação que ela nega, quando o libertaram. Porque, na realidade, as fontes são concordantes: foi libertado.

Depois das declarações tibuteantes de Clinton, e antes dos porta-vozes da Secretaria de Estado, surge, agora, num dos jornais do "lobby judaico" dos EUA, o "Washington Post" uma reportagem, baseada em fontes anónimas, de que o físico nuclear iraniano terá recebido mais de cinco milhões de euros para fornecer pormenores sobre o programa nuclear do Irão.

Um responsável americano confirmou que ele forneceu dados importantes a Washington, segundo as fontes do jornal, que lhe teriam pago cinco milhões de dólares, mas, que não lhe foram entregues, porque teriam sido retidos, ao abrigo das sanções contra o Irão. Uma estória, verdadeiramente, alucinante.

Mas, o cientista reitera nas suas declarações em vários órgãos de informação: “Durante os dois primeiros meses fui submetido a uma violenta tortura física e psicológica, por parte dos investigadores da CIA. Fico admirado que uma pessoa como a secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, que diz ser uma advogada dos direitos humanos, diga que eu era livre e fui para os Estados Unidos por vontade própria. Tenho provas que mostram que nunca fui livre e que não podia fazer uma chamada telefónica ou falar com alguém, e que estava a ser controlado por guardas armados da CIA”, diz Shahram Amiri.

O Post justifica o seu servilismo de notícia encomendada: "As autoridades norte-americanas pensam que Amiri resolveu abandonar o país à pressa, com receio que o regime de Teerão pudesse prejudicar a família".

Pode ser que Amiri esteja a contar algo que não seja verdade, mas mesmo que seja muito amigo da família não regressaria ao Irão, se tivesse confessado altos segredos de Estado do regime dos aiotolás, que não perdoam as traições. Porque em causa está a sua própria cabeça.

O meu ponto de vista é que os EUA puseram "a pata na poça". Fizeram um rapto sem conseguirem o objectivo e estão às arrecuas.

E aqui é que está o busílis da questão: O regime de Washington comete crimes monstruosos, como raptos, para prosseguir os seus objectivos de "defesa dos interesses nacionais" no estrangeiro. É um acto tão vil e repugnante, como ocupar um país e matar naturais, tendo como pressuposto os mesmos objectivos. Seja esse país, a ex-URSS, como agora os EUA.

Ora, este não é um caso pontual. É produto de uma orientação política deliberada, de uma estratégia de expansão extra-territorial. E não é de agora, vem de há muitas décadas, só que, nos últimos anos, estas operações deixaram de ser "espaçadas" e estão a ser constantes.

Pelo menos desde 2001, está a ser sistémico: Com o 11 de Setembro os serviços secretos norte-americanos, com especial relevo para a CIA, raptaram, ou simpelsmente prenderam, de forma ilegal, e "clandestinamente", mais de uma centena de pessoas que mantém prisioneiras em diferentes partes do mundo.

Alguns dos detidos foram transportados para países árabes ditatoriais, ditos moderados, porque estão em sintonia com os EUA, e para paises europeus intitulados democratas, onde foram torturados e até mortos.

Uns acabaram em Guantanamo, outros simplesmente desapareceram.

Isto está descrito num livro "A verdadeira história dos voos da CIA - os táxis da tortura, escrito por dois especialistas norte-americanos, o jornalista Trevor Pagler e e o geógrafo militar A.C Thompson, que tem o prefácio de uma eurodeputada apoiante do actual governo Ana Gomes.

Neste livro, segundo é referido, que investiga de forma sistemática esta "rendição extraordinária", assim se chama aos detidos, o jornalista/investigador e o "geógrafo militar" dissecam o programa da CIA numa série de viagens que os levou a várias partes do mundo.

Descobriram que 5 anos após o 11 de Setembro, as detenções ilegais ainda não tinham acabado.

Pelo contrário, o programa de rendição foi formalizado, sendo mesmo conivente com o programa militar sempre que necessário, e mudando constantemente a sua forma de actuação para que se mantenha longe dos olhares alheios.

E o que eles assinalam e denunciam já tem trâmite em Tribunais europeus.

Recorremos à imprensa: Assim, há cerca de um ano, um tribunal italiano condenou 23 ex-agentes da CIA e dois italianos pelo rapto, em 2003 em Milão, de um imã egípcio, no primeiro julgamento envolvendo as transferências ilegais de suspeitos de terrorismo ou voos da CIA.

O juiz Oscar Magi informou o tribunal que, devido a imunidade diplomática, absolveu outros três norte-americanos acusados.

Vinte e dois dos norte-americanos condenados foram sentenciados a penas de prisão de cinco anos e o outro, o chefe da CIA em Milão, Robert Seldon Lady, a uma pena de oito anos de prisão.

Dois italianos foram também condenados, mas os processos contra os antigos chefes da CIA em Roma, Jeff Castelli, e dos serviços secretos italianos, Nicolo Pollari, foram arquivados.

Os 26 norte-americanos acusados neste processo, todos menos um identificados pela acusação como ex-agentes da Agência Central de Informações (CIA) dos Estados Unidos, foram julgados à revelia. Através dos seus advogados, declararam-se inocentes de todas as acusações.

Sete italianos foram igualmente acusados de participação no rapto, que a acusação sustenta ter sido uma operação conjunta da CIA e dos serviços secretos italianos, Sismi.

Em causa está o rapto de Usama Mustafa Hassan Nasr, também conhecido por Abu Omar (na foto), a 17 de Fevereiro de 2003 numa rua de Milão e a sua transferência para bases norte-americanas em Itália e na Alemanha. Nasr foi depois levado para o Egipto, onde diz ter sido torturado, acabando por ser libertado depois de quatro anos na prisão sem qualquer acusação.

Este julgamento foi o primeiro envolvendo o chamado programa de "rendições extraordinárias", através do qual a CIA transferiu suspeitos de terrorismo para países terceiros para serem interrogados. Segundo as organizações internacionais de defesa dos direitos humanos, este programa teve por objectivo levar os suspeitos para países onde podiam ser torturados.

Estes casos são de agora? A interligação dos serviços secretos ocidentais com os regimes ditatoriais árabes começaram apenas, nos últimos anos, por causa do chamdo e indefinido terrorismo? Não.

Convém recordar um caso que vai fazer 45 anos em 2010.

Refiro-me ao rapto e assassinato do principal dirigente oposicionista marroquino Ben Barka, em 1965.

Aquele foi raptado em França, onde estava exilado, e depois foi assassinado. Ele era o mais importante dirigente da oposição à ditadura do rei Hassan II, já falecido.

O jornal Le Monde, há décadas, fez uma prolongada investigação que mostrou toda a trama que levou ao assasinato de Ben Barka.
A revista "L`Express" trazia as confissões de um participante no assassínio.

É dessa investigação que se veio a saber que existia um tal “Coronel Martin”, era agente da CIA, que o colocara na “assessoria” aos serviços de segurança marroquinos, com contacto permanente com o rei Hassan, e esteve por dentro de toda a operação.

(De destacar que a CIA continua a recusar a divulgação dos milhares de documentos sobre o caso Ben Barka).

Mas, para terminar, vejamos a duplicidade de Washington na sua políticca externa.
As autoridades norte-americanas sabem desde o início que Israel, à revelia de todas convenções internacionais, fabricou bombas atómicas. E ainda hoje não condenaram Israel por ter cometido este crime internacional. Não sequer o denunciam.

Sempre alegou desconhecimento, até que a 5 de Outubro de 1986, o semanário britânico "The Sunday Times" revelou o que foi considerado "o segredo de Dimona", o centro nuclear secreto, acarinhado pelos EUA, no deserto de Negev.

O jornal colocava em manchete: "Revelação: os segredos do arsenal nuclear israelita".

Foi divulgado então que Israel era uma potência nuclear. Em Dimona tinham sido fabricadas mais ogivas, "o suficiente para destruir todo o Médio Oriente".
Ora, toda este fabrico não podia ser efectuado sem o consentimento de Washington.

Retiramos da imprensa, neste caso, o jornal o Público, em reportagem de alguns anos atrás.

"O "Sunday Times" demorou semanas, enquanto cientistas britânicos analisavam informações e fotografias. O israelita que passara a documentação ao jornal chamava-se Mordechai Vanunu e trabalhara nove anos como técnico no Centro de Pesquisa Nuclear de Dimona, nome oficial do complexo que Israel conseguiu manter a salvo de inspecção internacional.

Quando o "Sunday Times" revelou a história, Vanunu já não estava em Londres - desaparecera.
Enquanto aguardava as confirmações dos peritos, fora seduzido em Leicester Square por uma espia da Mossad (serviços secretos externos israelitas).

Ela convenceu-o a voarem juntos para Roma, onde Vanunu foi raptado por outros agentes e metido num cargueiro para Israel. O rapto deu-se a 30 de Setembro, seis dias antes da manchete no "Sunday Times".

Desde então, Vanunu tem estado preso. Os primeiros 11 anos, em isolamento. Para o Estado que o julgou (à porta fechada), é um "espião", "um traidor" que "pôs em perigo a segurança do seu próprio país".

Para dezenas de milhares de pessoas que se multiplicaram em iniciativas, é um "herói pacifista", um "prisioneiro de consciência", "o primeiro refém nuclear".

Do Parlamento Europeu à Amnistia Internacional, sucederam-se, sem efeito, resoluções e campanhas apelando à libertação de Vanunu.

Em 1988, um grupo de 27 cientistas, incluindo 18 Prémios Nobel da Física, Química e Medicina, publicou um abaixo-assinado apoiando Vanunu na "New York Review of Books".

Dez anos depois, 600 académicos israelitas fizeram o mesmo no diário "Haaretz" e o ex-presidente americano Jimmy Carter juntou-se à causa. Vanunu foi nomeado mais de uma vez para o Prémio Nobel da Paz. O dramaturgo Harold Pinter participou em acções em Londres, a que o presidente da câmara, Ken Livingstone, se associou. A actriz Susannah York corresponde-se com o israelita e faz parte da delegação internacional que quer ir recebê-lo à saída da prisão de Ashkelon na próxima semana. Concluída a pena de 18 anos, a libertação está anunciada para quarta-feira.

O plano anunciado de Vanunu é partir para a América. "Quero levar uma vida normal fora de Israel como uma pessoa livre", disse recentemente ao seu irmão Meir. A escolha do destino estará relacionada com os pais adoptivos, Mary e Nick Eoloff - em 1997, este velho casal de pacifistas do Minnesota (EUA) conseguiu adoptar Vanunu depois de muitas diligências (esperavam dar-lhe direito de cidadania, souberam depois que isso só é possível para jovens até aos 16 anos).

Mas o mais provável é que Vanunu seja impedido de sair de Israel, para já. De acordo com o "Haaretz", não lhe vão dar um passaporte, não poderá deixar o país, e o seu telefone e comunicações de Internet serão vigiados. Referências a Dimona ou às circunstâncias do rapto podem levar a novo processo. Jornais israelitas da linha mais conservadora insinuaram que Vanunu poderia revelar ainda informação.

"Dizerem que tenho mais segredos é uma mentira e uma desculpa, e eles sabem-no bem", respondeu o prisioneiro, através do irmão Meir. "Tudo o que eu sabia já foi publicado."

Em Janeiro, o primeiro-ministro Ariel Sharon reuniu com a Defesa e as secretas para decidir o que fazer a Vanunu, no fim da pena. Segundo a imprensa israelita, o "duro" Yehiel Harev, chefe da segurança, defendeu prisão domiciliária. Concluiu-se que isso o vitimizaria mais ainda, internacionalmente. Assim, foi tomada a decisão de o libertar com "medidas adequadas de supervisão".

"Ganhei", disse Vanunu ao irmão quando soube. "Não conseguiram quebrar-me ao longo de todos estes anos. Não conseguiram levar-me à loucura."

O prisioneiro mais célebre de Israel tem agora 49 anos. Segundo a mãe adoptiva, faz 50 flexões por dia e está com o mesmo peso de quando andava na universidade, o que será um bom sinal - os colegas de Belas Artes usavam Mordechai Vanunu como modelo para nus.

A praça na infância de Vanunu era a grande Djemma al Fna, em Marraquexe, que à hora do penúltimo chamamento do "muezzin", quando o sol se põe, é uma babel entre bancas de "couscous", "kebab" e chá de menta, vendedores de água, tocadores de "oud", jogadores, fumadores e velhas serpentes, algumas educadas em cestos.

No tempo de Vanunu, árabes e judeus ainda se misturavam nesta praça. O Estado de Israel tinha apenas uma década no fim dos anos 50, e muitos judeus de Marrocos não haviam partido ainda. Vanunu era um dos 11 filhos de uma família de judeus ortodoxos, que só emigrou para o novo Estado em 1963, tinha ele nove anos.

De acordo com a investigação publicada por Yossi Melman (especialista em secretas e segurança, do "Haaretz"), ao chegar a Israel Vanunu ingressou numa escola religiosa dirigida por um ultra-ortodoxo e depois num liceu "yeshiva" (onde se estuda o Talmude). Aos 17 anos entrou para o exército, e no Corpo de Engenharia chegou a primeiro sargento. Em 1973 tentou seguir matemática e física na Universidade de Telavive, mas meteu-se a guerra do Yom Kippur, e chamaram-no.

Os pais viviam em Beersheva, a "capital" do Negev, e foi para aí que ele voltou, vendo-se sem dinheiro. Procurou emprego no Shin Bet (serviços secretos internos), mas recusaram-no. Em 1976, um amigo disse-lhe que havia um anúncio para candidatos ao Centro Nuclear de Dimona. Passou todos os testes, fez um juramento de silêncio, como todos, e ficou. Até Junho de 1977 deram-lhe formação em física nuclear, urânio e radioactividade e depois começou a trabalhar - no "mais sagrado entre os sagrados da religião de segurança de Israel", segundo a fórmula de Melman.

Numa extensa análise (disponível em www.au.af.mil/au/awc/awcgate/cpc-pubs/farr.htm), o coronel americano Warner D. Farr usa um título semelhante para contar a história do nuclear em Israel: "O terceiro templo sagrado entre os sagrados: as armas nucleares de Israel".

Remetendo para mais de 170 fontes militares, políticas, jornalísticas, históricas, e usando outras não classificadas, Farr conta a origem de Dimona. A pesquisa para um programa nuclear em Israel começou praticamente com a fundação do Estado. O seu "pai" foi Shimon Peres. E teve um impulso notável depois da crise do Canal do Suez, em 1956. Como "agradecimento" pela intervenção israelita no Suez, a França construiu um reactor nuclear em Dimona capaz de produzir plutónio em larga escala. Os Estados Unidos descobriram em 1958.

Num documentário que em 2003 fez para a BBC sobre o "caso" Vanunu, a jornalista Olenka Frenkiel conta que em 1961 John Kennedy quis saber o que se passava em Dimona e uma equipa de inspecção americana foi enviada. Tornou-se uma lenda na Central a perícia com que Israel lhes passou a perna. O acesso aos seis andares subterrâneos onde o plutónio era separado foi tapado com tijolos.

Quando Frenkiel, no documentário, questionou Peres sobre o ludíbrio de 61, o ex-primeiro ministro israelita irritou-se: "Não tenho de responder às suas perguntas."

Depois de Kennedy, a atitude da Casa Branca em relação às armas de destruição maciça em Israel foi de camaradagem no silêncio - oficialmente, Israel não confirma nem desmente, e encontrou uma expressão para isto, "ambiguidade nuclear".

Em Dimona, boa parte das funções do técnico de supervisão Vanunu, de turno das 23h30 às 8h00, aconteciam no Instituto 2, onde as armas nucleares eram de facto feitas, conta Melman. O recém-contratado ficou assim a par do que acontecia no suposto Centro de Pesquisa.

Passava muitas horas sozinho. Decidiu aproveitá-las a ler. Em 1980, comprou um apartamento perto da Universidade Ben Gurion do Negev, decidiu inscrever-se em filosofia e geografia e começou a escrever um diário.

Leituras: Aristóteles, Espinoza, Kant, Descartes, Kierkegaard, Nietzsche, Sartre - recorda o seu irmão Meir, segundo o qual a visão política de Vanunu começou a ser moldada na universidade. Se anos antes estivera próximo da extrema-direita, ia caminhando cada vez mais para a esquerda.

Na associação de estudantes, juntou-se ao Campus, um movimento que defendia os direitos dos árabes, mais tarde propôs-se para a organização de estudantes comunistas, fez declarações anti-armas nucleares e participou em manifestações contra a guerra do Líbano. Em 1982, chamaram-no para o combate. Não quis servir no Corpo de Engenharia - serviu na cozinha. No regresso à universidade, diz Melman, ganhou fama de "radical e excêntrico". Além de posar nu para os colegas de Belas Artes, foi fotografado a dançar nu em festas.

Estas revelações chegaram ao responsável pela segurança de Dimona e depois ao Shin Bet e à Defesa. Vanunu começou a ser vigiado. Terão posto a hipótese de o contratar como informador - uma forma de controlo. Interrogaram-no sobre amigos, movimentos e que contava ele do trabalho em Dimona. Nada, terá garantido Vanunu.

Não é claro se recusou ser informador; se concordou, dando informações consideradas infiáveis; ou se a proposta nem chegou a ser feita.

No Verão de 1985, os responsáveis pela segurança de Dimona anunciaram-lhe que ia ser transferido do Instituto 2. Ele não quis e terá dito que estava disposto a ser despedido. O contrato acabou em Outubro.

Em Dezembro, Vanunu vendeu a casa, o carro e comprou um bilhete de ida para Banguecoque.

Levou consigo dois rolos de fotografias que tirara em Dimona.

Ei-lo no Oriente. Tailândia, Birmânia, Nepal, Austrália. Em Sidney, converte-se ao cristianismo - é baptizado numa pequena igreja anglicana - e conhece um jornalista colombiano, Oscar Guerrero, a quem fala de Dimona e das fotografias. Guerrero convence-o a ir aos jornais. De acordo com Melman, tentaram primeiro a imprensa australiana e a "Newsweek", que aparentemente duvidaram de Vanunu.

O "Sunday Times" soube do rumor e enviou o jornalista Peter Hounam a Sidney entrevistar o israelita. Entre a recolha de informação e o exame dos cientistas a que o jornal recorreu, a história também chegou ao "Sunday Mirror", de Robert Maxwell - magnata com ligações à Mossad.

Segundo o jornalista Robert Fisk, do "Independent", Maxwell passou os dados sobre Vanunu aos israelitas.

A 28 de Setembro de 1986, uma semana antes da manchete do "Sunday Times", o "Sunday Mirror" dá notícia da história de Vanunu como se ela fosse um embuste. Nessa altura já a Mossad estava a postos para o rapto.

Vanunu esperava em Londres a publicação no "Sunday Times". Ao vaguear na Leicester Square, conheceu uma loura de caracóis rebeldes, "esteticista" americana em turismo. Ela pareceu gostar dele e ele estava angustiado (é assim que a mãe adoptiva de Vanunu resume as coisas). Ela convenceu-o a voarem para Roma, onde a irmã tinha um apartamento, e ele aceitou. Ela era uma espia com nome de boneca, "Cindy", mas ele só percebeu isso em Roma, quando em vez da tal irmã apareceram agentes da Mossad.

Drogado e metido num cargueiro a caminho de Israel, Vanunu ficou desaparecido para o mundo. Só depois, quando estava ser levado num carro prisional para o julgamento, conseguiu escrever na palma da mão - e comprimi-la contra o vidro, deixando a inscrição feita - que fora raptado em Roma pela Mossad, e quando: 30.09.86.

"Cindy" chamava-se Cheryl Hanin Bentov. Em 1997, o "Sunday Times" foi investigar o que era feito dela. Tinha 37 anos, vivia ao pé da Disneylândia (Orlando, Florida), como cidadã americana, vendedora de time-sharings, com duas filhas, um descapotável vermelho e um marido ex-major dos serviços secretos israelitas. É difícil imaginar a espia que seduzira o mais cobiçado "traidor" de Israel a vender aldeamentos turísticos a casais reformados. "Conhecidos em Israel" referidos pelo jornal indicavam que Cindy-Cheryl poderia estar na Florida o serviço da Mossad - dada a proximidade do Centro Espacial John Kennedy? Yossi Melman exclui esta hipótese. Ainda espia ou ex-espia, nas vésperas da entrevista combinada com o "Sunday Times", Cheryl desapareceu.

Mas voltemos a 86, à "cacha" do "Sunday Times" com as informações de Vanunu. O que revelara afinal o israelita?

"Um programa nuclear sofisticado, de até 200 bombas, com armas enriquecidas, bombas de neutrões, ogivas para F16 e ogivas Jericó", sintetiza o coronel Farr, na sua análise. "As armas enriquecidas exibidas nas fotografias de Vanunu mostram uma sofisticação que implica a exigência de testes. Ele revelou pela primeira vez a instalação subterrânea para a separação de plutónio, onde Israel produzia 40 quilos anualmente, várias vezes mais do que nas estimativas feitas anteriormente. As fotografias mostram planos sofisticados que os peritos científicos dizem que permitem aos isrealitas construir bombas com apenas quatro quilos de plutónio. Estes factos aumentam as estimativas quanto ao total de armas nucleares de Israel."

Peter Hounam, o autor do trabalho no "Sunday Times" - que depois veio a escrever dois livros sobre o caso -, recordou em 1998 o que motivara Vanunu a denunciar Dimona: "Era um dissidente clássico, motivado em parte pela forma como fora despedido, mas sobretudo pela convicção de que o seu país tomara um caminho insano."

"Para que querem todas estas bombas? Planeiam combater com elas e destruir o Médio Oriente?" Eram estas as questões que inquietavam Vanunu, segundo Hounam. "Ele estava muitas vezes sozinho. Sabia que o plutónio era transformado em partes de bombas, o que significava que o último passo fora dado. Estavam a fazer armas termo-nucleares capazes de destruir uma cidade."

No documentário de Frenkiel na BBC, em 2003, Hounam sublinhou que Vanunu revelara ao mundo o desenvolvimento de entre 100 e 200 bombas nucleares em Israel, o "suficiente para destruir todo o Médio Oriente, e ninguém fez nada desde então".

Quando em 1999 o jornal "Yediot Ahronot" publicou excertos do julgamento, o testemunho do próprio Vanunu ficou disponível: "Queria confirmar o que toda a gente sabia. Queria que o assunto passasse a estar devidamente vigiado. Agora [o então primeiro-ministro isrealita] Peres já não pode mentir [ao então Presidente americano] Reagan e dizer que nós não temos armas nucleares."

Naturalmente, para Peres, Vanunu é um traidor: "As revelações causaram sérios danos a Israel e a sua publicação levou alguns países árabes a endurecerem a sua posição, para nossa desvantagem."

Como escreveu recentemente o "Haaretz", é em parte por causa de Vanunu que se considera hoje Israel a sexta maior potência nuclear do mundo.

Nos primeiros 11 anos de prisão, isolado numa cela de dois metros por três, Vanunu nunca sabia quando era dia ou noite. Não via os outros prisioneiros, não tinha acesso a jornais ou TV e quando era autorizada a visita de familiares, do advogado ou do padre (os únicos com acesso), havia sempre uma porta de ferro entre ele e eles. Uma prisão "cruel, inumana, degradante", disse a Amnistia Internacional.

Em 1998, saiu do isolamento. Ficou com mais espaço para fazer ginástica, escrever poemas e ler filosofia (um jornalista de visita à cadeia avistou-o a ler Nietzsche). Os pais adoptivos visitaram-no a cada ano (os pais biológicos renegaram-no, como não-judeu).

Ao contrário de Marcus Klinberg - um dos responsáveis pela fábrica de armas biológicas Nes Tzione, que passou segredos à URSS em 1983 -, Vanunu nunca aceitou negociar menos tempo de prisão em troca de silêncio.

A comparação entre ambos, de resto, é duvidosa. Klinberg não fez revelações em público. Passou secretamente informações a um país estrangeiro, que certamente teria a sua agenda.

Mas em Israel, Vanunu foi apresentado à população como um "traidor", não-arrependido e não-cooperante.

Recentemente, o irmão de Vanunu e jornais como o "Independent" e o "Al-Ahram" aludiram a uma campanha nos media conservadores israelitas contra Vanunu. O "Yediot Ahronot" citou um antigo prisioneiro de Ashkelon dizendo que Vanunu festejava cada bombista suicida e ainda tinha material para revelar. Sem fonte explícita, Vanunu foi citado como tendo dito: "Não me importo que Israel desapareça amanhã."

Segundo o "Al-Ahram, o comentador israelita Dan Margalit sugeriu mesmo que Vanunu fosse assassinado. Fontes do Shin Bet aparecem a insinuar que o ex-técnico de Dimona pode ser raptado pelo Hezzbollah, por exemplo, e revelar, ou inventar informação. Outras fontes alertam para o risco de Vanunu denunciar nomes de ex-colegas ou o esquema de segurança da central, dados que Vanunu recusou ao "Sunday Times", para não pôr em risco ninguém. Peter Hanoum diz que o verdadeiro receio de Israel é que Vanunu conte pormenores do rapto ou reacenda atenções sobre o arsenal nuclear, o que também seria embaraçoso para os EUA.

A propósito deste embaraço e da política de "ambiguidade nuclear", Yehuda Melzer escreveu no "Haaretz" que os americanos não queriam mais inspecções no Iraque com medo das armas que não havia, e não querem inspecções em Israel com medo das armas que há.

O jornalista Raanan Shaked ironizou no canal 10 israelita: "Quem é a grande ameaça a Israel? Claro, Mordechai Vanunu. Ele é o grande perigo, a democracia israelita simplesmente não suporta o impacto deste homem a dizer o que qualquer criança sabe: nós temos armas nucleares."

Mas, para os EUA, elas não existem. É tudo. Que responda quem quiser.