domingo, 31 de janeiro de 2016

IRÃO/VATICANO: OS NEGÓCIOS NA AGENDA *ESPIRITUAL*

1 – O Papa católico romano, Francisco, recebeu, no passado dia 26, no Vaticano, em audiência, o Chefe de Estado do Irão, Hassan Rouhani.

O Presidente iraniano é, tal como o Chefe de Estado do Vaticano, um dirigente religioso no seu país, formação essa que iniciou no seminário islâmico de Semnan, tendo concluido os seus estudos no ramo no tradicional seminário de Qom.

Mas ainda no tempo do regime monárquico do Xá Pahlevi, seguiu os estudos laicos na Universidade de Teerão, tendo-se licenciado em Direito.

Mas tarde, prosseguiu esses estudos no Reino Unidos, tendo obtido o mestrado e o doutoramento em Direito Constitucional na Universidade Caledónia, em Glasgow, Escócia.

Depois da ascensão do actual regime teocrático no país, Rouhani adquiriu preponderância na estrutura do poder, sempre na sombra do *líder supremo* religioso: membro da Assembleia dos Peritos (desde 1999), do Conselho de Discernimento (desde 1991), do Conselho Supremo de Segurança Nacional (CSSN) (desde 1989) e presidente do Centro de Pesquisa Estratégica do Irão (desde 1992).

Rouhani foi eleito presidente em 15 de Junho de 2013.

Foi ainda deputado durante as cinco primeiras legislaturas do Parlamento iraniano (Majlis), tendo sido presidente da Comissão de Defesa e da Comissão de Relações Exteriores e presidente do Majlis.

No governo do ex-presidente Mohammad Khatami (que o apoiou nas eleições), Hassan Rouhani foi o negociador-chefe do programa nuclear do Irão nas negociações com a União Europeia.

Antes de ser eleito Presidente, dirigia o importante Centro de Pesquisa Estratégica nacional, directamente ligado ao *líder supremo*, Ali Khamenei.


Os interesse geoeconómicos nos colóquios cordiais

2 – Qual foi a razão central da vista do clérigo Presidente Rouhani ao Papa?

A Santa Sé procurou *atirar para debaixo do tapete* os interesses materiais profanos que estiveram, realmente, na agenda dos dois Chefes de Estado.

A Sala de Imprensa da Santa Sé, em comunicado, cinicamente, referiu que "durante os cordiais colóquios foram evidenciados os valores espirituais em comum e o bom estado das relações entre a Santa Sé e a República Islâmica do Irão".

As delegações diplomáticas também abordaram a recente conclusão e aplicação do Acordo Nuclear e foi destacado que o "Irão é chamado a desempenhar um importante papel, junto com os outros países da região, para promover soluções políticas adequadas às problemáticas que afligem o Oriente Médio, contrastando a difusão do terrorismo e o tráfico de armas".

Neste sentido, foi recordada ainda "a importância do diálogo inter-religioso e a responsabilidade das comunidades religiosas na promoção da reconciliação, da tolerância e da paz".

Tudo muito pacífico e religioso...

Todavia, por *debaixo do tapete* está a realidade da vida. O mundo profano, material.

Esse é o que conta para as duas entidades.

Para o Irão, o Vaticano é avaliado como «grande empresa» capitalista, fortemente enraizada na União Europeia e nas Américas, que serve os objectivos da sua reconstrução económica e da sua necessidade de recuperar o terreno da actividade comercial prioritária.

Para o Vaticano, o Irão, como provável grande potência regional, é um terreno para a aumentar a força económica do potentado da Santa Sé.

Na realidade, a Santa Sé é «um dos maiores titulares de acções do mundo» -*O empório do Vaticano* -, um valor que se desconhece na sua tenebrosa extensão.

Polvo este escondido dos seus crentes, já que «o Vaticano tem investimentos nas Bolsas de todo o Mundo», número que o jornal +Economist+, nos anos anos 60 do século passado referenciava, por baixo, só para Itália, em «cerca de 1/15 do número total das acções nas dez Bolsas italianas».

Realmente, o alcance do poder económico da Santa Sé é avassalador e está encoberto em numerosas «companhias de fachada» desde bancos, seguros, empresas industriais e comerciais, estabelecimentos de ensino e saúde, complexos armamentistas.

No caso específico de Itália, os interesses vaticanistas estendem-se desde os grandes bancos (Intesa Sanpaolo, Nazionale del  Lavoro, Unicredit, Popolare, Ambrosiano, entre outros) ao petróleo (ENI) e ao armamento (Finmecanica).




A Itália é, precisamente,  o país que tem a maior capacidade de refinação de petróleo da Europa.

Mas, o Vaticano, também pode ser intermediário, neste fase de «costas voltadas» entre Washington e Teerão, para os negócios com os Estados Unidos da América, pois o papado romano está perfeitamente integrado no +tecido financeiro e económico+ norte-americano, desde a banca ao complexo industrial militar.

Ora, o Irão necessita de relançar e expandir o comércio do petróleo, bem como da logística para a recuperação da sua indústria petrolífera.

Bem como para se impor como potência regional de modernizar, rapidamente, o seu arsenal militar.

Naturalmente, para se poder impulsionar o comércio, sem entraves, no Médio-Oriente, terá de haver *soluções políticas* na região.

Mas, tal desiderato só se consegue essencialmente com acordos em torno de força económica e não com os «cordiais colóquios» acerca dos «valores espirituais em comum e o bom estado das relações entre a Santa Sé e a República Islâmica do Irão».

3 - Sob o manto diáfano da religião, a Igreja Católica está a penetrar, totalmente, na esfera do capitalismo mundial.

E, a sua aceitação planetária está ligada, justamente, ao papel que desempenha, actualmente, nos negócios mundiais. Caso contrário, os dignitários governamentais nem sequer lhe davam um olhar. 

A crise do capitalismo contribuirá também para a crise do catolicismo romano, que abandonará o manto pio, para se tornar no seu cão de guarda mais acirrado. O tempo o dirá.





quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

O CAPITALISMO EM CRISE, AS CLASSES TRABALHADORAS AMORFAS

1 –  O capitalismo mundial juntou-se, há dias, em Davos, Suíça, para discutir, precisamente, a crise que o está a atravessar e, acima de tudo, a enredar sem solução para esse sistema dentro da evolução societária actual.

Ao contrário de outros grandes conclaves capitalistas encenados naquela cidade, este está ensombrado pela realidade da vida: o reinado dos banqueiros parece estar em plano inclinado.
World Economic Forum - Davos

A crise geral financeira de 2007/08, iniciada nos Estados Unidos da América, está aí para durar. Parece aprofundar-se, na realidade, já em 2016.

Está situação apresenta dois aspectos que se entrelaçam: a crise financeira em si, que se prolonga até hoje, e, na sua subsequência, uma crise geral do comércio e da indústria.

A grande burguesia capitalista mundial reunida em Davos fez constar que tem como seu principal objectivo lançar uma «quarta revolução industrial», mas frisou que esta irá fazer aumentar o desemprego, de imediato, em mais cinco milhões de pessoas.

Em suma, está a dar-se uma contradição evidente, que se alarga, entre as forças produtivas existentes e as relações de produção capitalista que estão a começar a entrar em derrapagem, para não dizer colapso.

2 – Dois dias antes de começar o Forum Económico Mundial, em Davos – o super conclave capitalista -, uma piedosa «organização não-governamental» chamada Oxfam revelava que *62 pessoas possuem tanto capital como a metade mais pobre da população mundial*.

E acrescentava: há cinco anos, a riqueza de 388 pessoas estava equiparada a essa metade. De acordo com a mesma entidade, a riqueza acumulada por 1% da população mundial, entre os mais ricos, superou a dos 99% restantes, em 2015, um ano mais cedo do que se previa.

Com a míngua financeira dos Estados capitalistas, estes estão na mão dos chamados grandes *empréstimos* da grande burguesia financeira, cada vez mais concentrada e reduzida, que, deste modo, amordaça, crescentemente, através da usura dos juros, os mesmos Estados.



E isto quando esses mesmos Estados os capitalizavam com pseudo empréstimos a custo zero, ou seja os enchem de dinheiro público...para benefício privado!!!

Ora, será impossível fazer inverter esta desigualdade e acabar com o *reinado*, desenfreado, do capital financeiro sem atingir profundamente os interesses económicos e políticos dos regime e sistema dominantes.

Ou seja, em termos práticos, o controlo estatal dos bancos, sob um novo poder político, a desarticulação completa da especulação bolsista, o desmembramento da ligação entre o capital financeiro e o poder de Estado, nomeadamente o seu campo legislativo, judicial, militar e o da propaganda, através dos seus principais meios de comunicação social.

No que diz respeito a nível estatal nacional, o desequilíbrio aprofundado nas últimas décadas a favor dos interesses do capital financeiro provocou uma recessão continuada que contribuiu para um empobrecimento generalizado das classes trabalhadoras.

Deste ponto de vista, para acabar com esta vergonhosa barganha do Capital, não poderá haver um equilíbrio interno societário, ou seja, um equilíbrio entre as despesas e despesas públicas de cada Estado da Europa à China, passando pelos Estados Unidos da América à Rússia, se não houver um claro golpe nos interesses da grande burguesia financeira, desde os lucros, à especulação, aos impostos.

3 –  Uma interrogação se coloca: Porque será que um descalabro tal da grande burguesia e um ataque de uma envergadura descomunal aos direitos dos explorados não levou o mau-estar e o descontentamento existente para uma revolta generalizada?

Depois da vaga revolucionária que percorreu uma grande parte da Europa, com especial destaque na França, nos finais dos anos 60 do século passado e depois de toda uma série de revoluções nacionais, iniciadas com movimentos de libertação nacional, em África e Ásia, nos anos 60 e terminadas com a tomada do poder em meados dos anos 70, o período que se seguiu, até ao final desse século, transformou-se numa fase de contra-revolução, ligada ao grande desenvolvimento da produção capitalista, com um magistral salto na inovação técnica e científica.

Todavia, o incremento da produção capitalista tornou-se num moinho de usura nas mãos do grande capital financeiro.

Foi este que veio a transformar-se na fracção dominante dos diferentes regimes burgueses: controlaram, paulatinamente, o poderes político (chefias de Estado, governos e parlamentos), judicial (grandes firmas de advogados, juízes e procuradores) e militar (escolhas dos chefes e controlo da oficialagem, mercenarização dos Exércitos), desde as bolsas, aos bancos, seguros, grandes negócios castrenses, empresas de ponta das telecomunicações, distribuição alimentar, turismo, grandes propriedades agrícolas, saúde (privatização, indústria farmacêutica, tecnologia hospitalar).

Colocada, nos finais dos anos 60, então sob a perspectiva de poder haver uma ruptura, a burguesia, empoleirada no ascenso industrial e comercial, abriu os olhos e através dos partidos sociais-democratas realizou uma aliança declarada com os partidos conservadores, populares e democratas cristãos, para promover a chamada *revolução pelo emagrecimento do Estado*, ou seja a privatização a favor do capital financeiro.

(Convém recordar que contou, em períodos delicados com o apoio dos maiores Partidos Comunistas europeus de então, que, directa ou indirectamente, participaram nos governos. Casos do francês (PCF), italiano (PCI) e espanhol (PCE)

O exemplo do PCF é paradigmático, (pode-se juntar o PCI de Togliatti, que serviu a ascensão da +falecida+ Democracia Cristã ao avassalamento do Estado italiano), pois foi ele que, logo após a II Grande Guerra, com Thorez, que permitiu a consolidação do +gaulismo+, que hoje se reproduz em Sarkosy.




Na realidade, o PCF esteve no governo com Mitterand em 1981. Foi um ministro daquele partido Jean-Claude Gayssot (Transportes) que controlou a privatização da Air France.

Em 1997, voltou ao governo de maioria PS, sob a chefia de Lionel Jospin, executivo este que deu o seu assentimento ao bombardeamento da ex-Jugoslávia).

Depois da II Grande Guerra, as classes trabalhadoras, em particular os seus sectores mais avançados e conscientes, abandonaram, progressivamente, a sua perspectiva de efectuar uma transformação revolucionária da sociedade.

Obscurecido – e depois mesmo estigmatizado - o programa radical socialista, após a derrota da Revolução Soviética, e a sua contínua caminhada para a contra-revolução, essas classes caíram, lenta, mas seguramente, para colocarem, na sua intervenção política prática, como objectivo de poder, a sua adaptação a um «programa de esquerda dentro da democracia».

Visão esta ainda mais estreita, porque se encerra nas fronteiras nacionais, enquanto a grande burguesia se expande e actua, cada vez mais, ao mesmo tempo e em todo o globo

Situação aquela que perdura nos dias de hoje.
   

domingo, 17 de janeiro de 2016

UMA TRAGÉDIA PODE ABALAR A EUROPA, ATRAVÉS DA ALEMANHA E FRANÇA

1 –  Curioso, parece que o *filme* da lenta fascização da França e da Alemanha volta a ressurgir naqueles países.

Tal como nos anos 20 e 30 do século passado, no meio de uma crise económica, política e social de uma envergadura descomunal, cujo poder dominante é exercido pelo capital financeiro, este utiliza as armas mais díspares para, através dos seus partidos e forças *nacionalistas*, e, com a cumplicidade de forças policiais e militares, tentar manter o seu domínio por meios ditatoriais.












O atentado ao *Charlie Hebdo*: a segurança em França não existiu

2 – No dia 13 de Novembro do ano passado, ocorreram ataques de membros do Exército Islâmico (EI), estabelecidos e perfeitamente enquadrados em França (mas também na Bélgica, Alemanha, e noutros países da União Europeia e da NATO).

Os ataques deram-se no centro de Paris e nos arredores (Saint-Denis), com a utilização de suicidas, que fizeram detonar artefactos, dispararam, quase militarmente, com espingardas-metralhadoras, e tinham organizado planos de fugas para os sobreviventes, o que sucedeu, estranhamente, atravessando vários Estados.

Morreram mais de 120 pessoas e cerca de 350 ficaram feridas.

Um clamor apareceu e, nele se entronizou em bicos de pés o débil Chefe de Estado francês, impondo, de imediato, o estado de emergência, limitando as liberdades e ameaçando com legislação *purista* de corte da nacionalidade gaulesa sobre os chamados binacionais, mesmo que nascidos no país, que sejam considerados como implicados +em actos de terrorismo+.

O estado de emergência – que se pretende legalizá-lo, permanentemente, na Constituição, admite detenções e investigações arbitrárias sem decisão judicial, restringe – e impede mesmo – o direito de manifestação e protesto, bem como o de circulação, se necessário, se colocarem em causa +a ordem pública+.

Quais foram os primeiros resultados práticos visíveis deste estado de emergência?

Mais de 200 manifestantes detidos por participarem numa acção a favor de medidas práticas para a cimeira do clima que decorreu em Paris.

E os resultados das detenções de *suspeitos* de casos de *terrorismo* islâmico, quantos casos tiveram seguimento?



Emergência, apenas para muscular Paris

Muito pouco. Tenho a impressão que não ultrapassam um dedo de uma mão. 

Não se sabe nada, porque não existem, sequer até agora, processos judiciais.

O que é estranho, até porque já deveria ter havido um *roteiro* organizado, com pés e cabeça, para +combater o Estado Islâmico+, nos bancos, nos negócios de armas, no contrabando de petróleo, nos financiamentos a partir de Estados.

Na realidade, a 15 e 16 de Janeiro de 2015, houve duas acções armadas sangrentas e, mais tarde, reivindicadas por aquele em Paris e arredores (Charlie Hebdo e um supermercado judeu), onde o ilustre Hollande já vociferou – só em palavras – que havia um +ataque organizado+ contra a França.

Então porque não foram fichados e presos todos aqueles que os serviços secretos sabiam que estavam prontos a agir?

A questão é que parte do EI (via Frente Al Nusra) é – ou era, até há pouco tempo – pessoal amigo do governo francês, que a promovia (talvez continue a fazê-lo) como +resistência moderada+ a Bashar al Assad, chefe de Estado da Síria.

Afinal quem é o verdadeiro inimigo do actual regime francês?

Uma eventual explosão das classes laboriosas do país face ao aprofundamento da crise económica do capitalismo.

Nesse sentido, aí está a reserva *política* de ataque que pode ser conduzida pela Frente Nacional.

Ora, nada melhor que aplainar o caminho dando-lhe as bandeiras ideológicas práticas: a emergência, a *pureza* nacional, a segurança *nas fronteiras da pátria*. Ou seja, o PS francês deu como alternativas as bandeiras fascistas da FN...

3 – Actualmente, tal como nos anos 60/70 do século passado, o patronato alemão está interessado em receber mão-de-obra barata, através de migrantes.

A situação de hoje é um pouco diferente da vaga migratória do século passado. Neste período, a Alemanha recebera milhões e milhões dólares norte-americanos para refazer a economia capitalista.

Recorreu a um processo de recrutamento, entre o legal e ilegal, do chamado +trabalhador-convidado+ em que a mão-de-obra mercadejada era trazida de forma *orientada* e lenta, embora sem grande instrução. Assim, foram arrebanhados turcos (cerca de três milhões), jugoslavos, portugueses, espanhóis e italianos, principalmente.

Actualmente, o patronato alemão está interessado em receber mão-de-obra barata, através de migrantes do Médio-Oriente, tal como sucedeu nos anos 60/70 do século passado com os migrantes turcos, e, em menor escala, portugueses, italianos e espanhóis.

Estes refugiados só existem com apoio turco

Não é por puras balofas razões humanitárias que o governo de Merkell abriu, numa primeira fase, as portas à migração.

O objectivo era, justamente, a entrada de migrantes, essencialmente, letrados, para acolher mão-de-obra barata que fizesse concorrência ao nível dos trabalhadores locais e organizados sindicalmente na sociedade alemã.

Só que a Turquia, acossada por um fluxo enorme de refugiados provindo dos conflitos – Síria e Iraque - em que fomentou, e fomenta, juntamente com os seus parceiros da NATO, aproveitou a oportunidade, para organizar através de redes, para canalizar uma mole indiferenciada de pessoas, que incluía, jovens, mulheres, crianças e até idosos, para os remeter maciçamente com a indicação, perfeitamente orientada, repito, perfeitamente orientada, para que seguissem para a Alemanha e países nórdicos.

E, com esse fluxo desordenado, que, curiosamente, partiu (e continua a partir) sempre da Turquia, servia (e serve) os objectivos de Erdogan de pressionar a UE, aflita, para *conter* essa movimentação a troco de choruda compensação financeira.

Ao mesmo tempo, pressionar a Alemanha para *facilitar* a aproximação à UE sem condições.

Ora, a Alemanha poderia receber esses migrantes, em condições normais de evolução capitalista da sua economia, o caso é que, nos últimos dois anos, deu-se uma regressão no tecido produtivo do país, que entrou em estagnação.

Aqui o patronato alemão entrou em parafuso, perante a avalanche, que não consegue fazer entrar na cadeia produtiva, até porque os migrantes são, em grande parte mulheres, crianças e homens, sem instrução e dificuldade de adaptação.

Pressiona, então agora, a sua chanceler para conter, e até fazer retroceder parte dos migrantes, e, ao mesmo tempo esse mesmo patronato fomenta, com o apoio de forças de serviços secretos e de segurança, e, através dos grupos fascistas, o confronto e a xenofobia, esperando o endurecimento político do regime.

Reflictamos sobre os acontecimentos de fim de ano em Colónia.
Esta foto colocada na net como sendo de Colónia é uma manipualção: Trata-se de uma agressão ocorrida em Londres à modelo Danielle Lloyd, 

Na realidade, começaram, noticiosamente, a 4 de Janeiro (quem deu a notícia aos jornais?), empolados três dias depois, com dimensão nacional, e, curiosamente, apesar da sua aparente dimensão e gravidade.

Desapareceu, nos últimos dias, quase por encanto, dos noticiários dos grandes meios de comunicação social.

Um relato sucinto: a 4 de Janeiro, em certa imprensa alemã, surgem notícias de que junto à estação ferroviária de Colónia, Alemanha, se produziram desacatos, onde teriam havido roubos, alguns casos de assédio a mulheres, com apalpões, e, um ou dois casos de violações (ou tentativas).

Noticiou-se então que teriam sido um centenas os eventuais criminosos, uma parte, minoritária, de indivíduos com a «aparência» de norte-africanos e árabes.

Do primeiro relatório policial, referia-se que os agentes, destacados para o local, conseguiram dissolver a concentração, levá-los para o interior da estação, onde os teria abandonado à sua sorte. Sem qualquer detenção ou contenção.

O sucedido ter-se-ia dado depois do abandono da polícia.

Após 4 de Janeiro, os casos de eventual assédio sexual crescem exponencialmente, e, fica-se a saber que acontecimentos idênticos tiveram lugar em outros cidades alemãs em diferentes Estados regionais.

Cito as interrogações sobre estes acontecimentos feitos, no passado dia 10 pela rádio pública alemã Deustche Welle.

*O que se sabe sobre os crimes na passagem de ano em Colónia?

Mais de uma semana depois dos assédios sexuais contra mulheres na noite de passada passagem de ano, em Colônia, muitas questões continuam sem resposta.

Confira o que se sabe até o momento e quais perguntas seguem em aberto.

O que se sabe

– Segundo a polícia, os criminosos saíram de um grupo de cerca de mil homens que se concentrava em frente à estação central de Colónia, ao lado da Catedral.

– Segundo o presidente regional do sindicato da polícia, Arnold Plickert, já na noite de passagem de ano, os agentes abordaram e pediram os documentos a mais de 70 pessoas. Destas, quatro foram detidas, 11 foram mantidas sob custódia e houve o registo de 34 ocorrências. 

Segundo ele, várias pessoas abordadas apresentaram comprovantes de registo do Departamento de Migração, que são concedidos a pessoas que pedem asilo. "Isso mostra que havia refugiados entre elas", disse. Ele não soube responder por que as pessoas foram abordadas pela polícia.

– A polícia de Colónia registou 516 ocorrências até este domingo (10/01), sendo que cerca de 40% são de assédio sexual. Há também muitos casos de furto de telemóveis, bolsas e carteiras. Duas pessoas testemunharam que teriam sido violadas.

– A polícia de Colónia afirmou que 20 suspeitos estão sob investigação. Muitos deles foram identificados, mas não foram detidos. Um marroquino de 19 anos foi detido neste sábado. Está referenciado pela polícia desde 2013. As identidades dos demais suspeitos não foram reveladas. Entre os investigados estão sobretudo homens de países do norte da África.

– A Polícia Federal, que é responsável pela segurança dentro da estação central e numa distância de até 30 metros do prédio, registou 32 ocorrências na noite de passagem de ano, incluindo ferimentos, roubos e crimes sexuais. 

A Polícia Federal afirmou ter identificado 32 suspeitos. São eles nove argelinos, oito marroquinos, cinco iranianos, quatro sírios, um iraquiano, um sérvio, um norte-americano e três alemães. Desses 32 suspeitos, 22 são requerentes de asilo.

Nenhum deles foi até o momento acusado de crimes sexuais e as acusações contra eles assinalam casos de ferimentos e furtos.

– Na sexta-feira, a polícia de Colónia prendeu dois suspeitos, de 16 e 23 anos, um deles do Marrocos e o outro da Tunísia. Os dois são requerentes de asilo e foram libertados pouco depois por falta de provas.

Três pessoas estão em prisão preventiva por suspeita de roubo durante naquela noite.

O que não se sabe

– Não se sabe quem são os criminosos e quantos são.

Até o momento há apenas suspeitos.

– Também não se sabe se há requerentes de asilo ou refugiados entre os criminosos.

Eles formam, porém, o principal grupo de suspeitos. Requerentes de asilo e pessoas que vivem ilegalmente na Alemanha estão no foco das investigações da polícia de Colónia, mas a própria polícia ressalvou que nada foi provado contra eles.

A Polícia Federal afirmou que há refugiados entre os suspeitos. Testemunhas, vítimas e polícias, falam de homens de aparência árabe ou norte-africana.

A polícia local abordou e pediu documentos a pessoas que estavam na área da estação central, e entre elas havia refugiados, mas não se sabe se as pessoas abordadas têm alguma relação com os crimes cometidos.

– Não se sabe também se os criminosos planearam ou organizaram o que aconteceu diante da estação central de Colónia. Também não se sabe se há relação entre o que aconteceu em Colónia e crimes semelhantes ocorridos em outras cidades alemãs na mesma altura.

A procuradoria de justiça de Colónia, porém, parte do princípio de que se trata de crime organizado.

O ministro da Justiça, Heiko Maas, também afirmou acreditar que haja uma relação entre os acontecimentos em várias cidades e que as agressões foram planeadas com antecedência.

O jornal Bild am Sonntag publicou que grupos de norte-africanos usaram redes sociais para chamar conterrâneos para Colónia.

Segundo informações da emissora WDR, a polícia investiga já há alguns meses grupos de criminosos formados maioritariamente por argelinos, marroquinos e tunisinos.

Esses grupos estaria a seguir para a Alemanha como refugiados. Viajariam para Istambul e, de lá, entram na Europa misturados com grupos de refugiados que vêm da Síria, do Iraque e de outros países, segundo as informações da WDR.
Fonte.AS/dpa/epd/kna*

Esta ambiguidade do poder político alemão, acompanhada de toda a trama obscura da estrutura policial, lançando suspeitas sobre a existência de um *grupo organizado*, sem identificar, que enquadrou, a nível de várias cidades do país, uma acção, onde pontificaram *árabes e norte-africanos* deu imediato alento à irrupção de manifestações fascistas.

Facto este aumentado pela grande imprensa conservadora.

Empolado, organizadamente, na net com fotografias, claramente manipuladas, de pseudo agressões, sexuais ou não, de mulheres que teriam ocorrido em Colónia na noite da passagem de ano. Le Monde 11.01.2016

4 – A velha tragédia do capitalismo financeiro alemão e francês pode avolumar-se naqueles países através da sua fascização. Por agora, apenas pela via eleitoral.

Se não se encontrar uma alternativa política revolucionária nacional e ao mesmo tempo europeia para fazer frente a essa realidade.

Não se pode esperar que a alternativa surja no *mal menor* de uma Merkell ou Holande.

A aparente luta entre, por um lado, a coligação CDU/SDP e os partidos fascistas alemães, por outro o PS/Holande e a Frente Nacional, é uma comédia entre os dois lados dos apologistas da *ordem nacional* capitalista.

Esperemos que um alento de viragem que se verifica em outros países europeus brote, no meio da crise capitalista, e estilhace a argamassa que ainda consegue manter o poder do Capital.

 










sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

PORTUGAL PRESIDENCIAIS: SERÁ POSSÍVEL MUDAR COM UMA CONSTITUIÇÃO CONTRA-REVOLUCIONÁRIA?

1 – Portugal está em período de campanha eleitoral para a Presidência da República.

Pela troca de opinião entre os candidatos, quer se digam  de esquerda ou de direita, parece que se entendem todos nas águas mornas do regime existente, ou seja, na chamada democracia.

Ou seja, pergunto eu, quem poderá mudar a política prática, e beneficiar as classes trabalhadoras, dentro do regime que, desde 25 de Novembro de 1975, amordaçou e desfez tudo o que foi conseguido por essas mesmas classes trabalhadoras no período de 25 de Abril a 25 de Novembro de 1975?



Os candidatos – sem excepção –, desde Marcelo Rebelo de Sousa, que tem o apoio do PSD/CDS até Marisa Matias, do BE, passando por Maria de Belém (apoiada por uma fracção PS), Sampaio da Nóvoa (apoio de outra ala PS) e Edgar Silva (PCP), dizem que apoiam a actual Constituição e a farão cumprir.

Os restantes representam sectores minoritários sem verdadeira componente classista.

Explicação da evolução da Constituição desde 1976 até 2005, ou seja a actual, contada pela própria Assembleia da República:

A Constituição da República Portuguesa, aprovada a 2 de abril de 1976, dotou a Assembleia da República de poderes de revisão constitucional, exercidos, pela primeira vez, num longo (entre Abril de 1981 e 30 de Setembro de 1982) processo de revisão do seu articulado inicial, o qual reflectia opções políticas e ideológicas decorrentes do período revolucionário que se seguiu à ruptura contra o anterior regime autoritário, consagrando a transição para o socialismo, assente na nacionalização dos principais meios de produção e mantendo a participação do Movimento das Forças Armadas no exercício do poder político, através do Conselho da Revolução.
A revisão constitucional de 1982 procurou diminuir a carga ideológica da Constituição, flexibilizar o sistema económico e redefinir as estruturas do exercício do poder político, sendo extinto o Conselho da Revolução e criado o Tribunal Constitucional.
Em 1989, teve lugar a 2.ª revisão constitucional que deu maior abertura ao sistema económico, nomeadamente pondo termo ao princípio da irreversibilidade das nacionalizações directamente efectuadas após o 25 de Abril de 1974.
As revisões que se seguiram, em 1992 e 1997, vieram adaptar o texto constitucional aos princípios dos Tratados da União Europeia, Maastricht e Amesterdão, consagrando ainda outras alterações referentes, designadamente, à capacidade eleitoral de cidadãos estrangeiros, à possibilidade de criação de círculos uninominais, ao direito de iniciativa legislativa aos cidadãos, reforçando também os poderes legislativos exclusivos da Assembleia da República.
Em 2001 a Constituição foi, de novo, revista, a fim de permitir a ratificação, por Portugal, da Convenção que cria o Tribunal Penal Internacional, alterando as regras de extradição.
A 6.ª revisão constitucional, aprovada em 2004, aprofundou a autonomia político-administrativa das regiões autónomas dos Açores e da Madeira, designadamente aumentando os poderes das respetivas Assembleias Legislativas e eliminando o cargo de “Ministro da República”, criando o de “Representante da República”.

Foram também alteradas e clarificadas normas referentes às relações internacionais e ao direito internacional, como, por exemplo, a relativa à vigência na ordem jurídica interna dos tratados e normas da União Europeia.
Foi ainda aprofundado o princípio da limitação dos mandatos, designadamente dos titulares de cargos políticos executivos, bem como reforçado o princípio da não discriminação, nomeadamente em função da orientação sexual.
Em 2005 foi aprovada a 7.ª revisão constitucional que através do aditamento de um novo artigo, permitiu a realização de referendo sobre a aprovação de tratado que vise a construção e o aprofundamento da União Europeia.

Esta explicação retrata, em traços largos, o caminho contra-revolucionário seguido pelo poder político até agora.

Logo, como se pode colocar como *princípio programático* de mudança de *ciclo político* com uma defesa da Constituição que sedimentou, jurídica e legalmente, uma contra-revolução?

2 – Com o estrangulamento da semi-revolução a 25 de Novembro de 1975, impulsionada após a tentativa de golpe de Estado contra-revolucionário, empreendida, meses antes, a em 11 de Março, desapareceu, também, a influência política daqueles que se intitularam revolucionários, representados no governo provisório e ainda na Assembleia Constituinte (PCP) ou apenas naquela (UDP), mas serviram, de uma maneira ou doutra, como apaziguadores instituicionais, nos meses a seguir ao golpe de Novembro.



Depois de afastados e ostracizados pelo poder estabelecido, abandonaram, progressivamente, os seus resquícios revolucionários e integraram-se no regaço da chamada democracia.

Chegaram à situação actual, em abraço com o PS, campeão do 25 de Novembro.
A UDP reformada no Bloco de Esquerda, tal como num período intermédio o fez com a aliança eleitoral com a LCI, de Francisco Louçã.

Representam a pequena burguesia dita progressista que levanta os punhos revolucionariamente quando as classes trabalhadoras estão na mó de cima, e, agitam a defesa *intransigente* da Constituição liberal quando a *mudança* pode ser obtida  legalmente...

A questão que se coloca, portanto, numa campanha eleitoral que se pretende de *mudança* é a do poder.

Que poder?

Para haver uma mudança real que produza uma transformação na sociedade, e não um mero arranjo na forma de Estado +mais ou menos democrático+ que favoreça as reivindicações profundas, classistas, das classes trabalhadoras, não só de Portugal, mas principalmente da União Europeia, tem de existir um programa de ruptura revolucionária com a situação actual.

Ou seja, os avanços das reivindicações revolucionárias em Portugal, para serem consistentes e terem, realmente, uma orientação de mudança social terão em estar em sintonia programática com idênticas reivindicações classistas dos restantes Estados da UE.


Para serem conhecidas essas reivindicações, nada melhor do que uma campanha eleitoral mediática para fazer a sua divulgação.

Ora, elas não existem.

domingo, 3 de janeiro de 2016

FRANÇA: QUANDO OS SOCIALISTAS SE TORNAM ARAUTOS DA ORDEM NACIONAL E DO PURO SANGUE

1 – O Primeiro-Ministro francês, Manuel Valls, anunciou, no passado dia 23, numa conferência de Imprensa, dada no Palácio do Eliseu, que o Presidente da República, François Hollande, tenciona propor legislação que revisa a Constituição, segundo a qual será retirada a nacionalidade francesa aos binacionais, de origem estrangeira, mesmo aos que tenham nascido em França, condenados por «crimes contra a vida da nação».











Um binacional contra a binacionalidade

No mesmo pacote legislativo, está a proposta de inscrever o «estado de emergência» na mesma Constituição.

Estes propósitos foram reafirmados por Hollande na sua mensagem de fim do ano em 31 de Dezembro.

O estado de emergência permite aos representantes policiais e judiciais estatais efectuarem buscas, prisões domiciliárias e dissoluções de associações sem permissão da autoridade judicial, apenas com o pretexto de simples suspeita de ameaça para a segurança pública.

O que tem de grave tal legislação, quando a França está envolvida, este ano, em graves casos de atentados mortíferos no seu território?, questionarão os adeptos da ordem estabelecida e da segurança.

A questão é que a França não está a ser atacada, essencialmente, do exterior, mas sim envolvida numa profunda crise interna, económica, política e social, cujos tentáculos se estendem à sua ambição imperialista.

Porque não se interrogam as pessoas sobre o que, realmente, se passa em França, quando dezenas e dezenas de seus cidadãos, nascidos, criados e com vivência da forma de vida do país, agem, sangrentamente, contra o mesmo e contra o modelo burguês político existente?

A taxa de desemprego oficial em França subiu para os 10,6% em Julho de 2015, e, a taxa de desemprego entre jovens está nos 25%, enquadramento etário este onde se situa uma parte significativa dos cidadãos franceses «binacionais».

A economia de França está em estagnação.

A dívida pública atingiu os 100%, sendo que, na realidade, a grande maioria corresponde a dívida privada, que foi incorporada naquela, por  pressão do capital financeiro.

Esta é a realidade: o actual regime político francês, representado, no presente, pela fracção da grande burguesia que se acolita no PS gaulês, depende, sem qualquer contestação de relevo, do grande capital financeiro especulador.

O que está a conduzir, de maneira evidente, desde a anterior governação dos chamados republicanos gaulistas, de Nicolas Sarkozy, a outra fracção política da grande burguesia que alterna no poder, a um continuo empobrecimento do Estado a favor dos bancos.

Sarkozy injectou nos grandes bancos franceses, directa ou indirectamente, uma verba fabulosa de 360 mil milhões de euros para «salvar» o sistema financeiro.

Apesar desta injecção, os bancos continuam em crise, atravessados por fraudes, desvios de dinheiro, colocação de investimentos em processos especulativos.

Esta «ajuda» estatal reflectiu-se num enorme esbulho fiscal sobre os trabalhadores, cujos sectores mais desprotegidos, os habitantes dos subúrbios, são os mais afectados. Empurrados, em suma, para a marginalidade, por inexistência de uma alternativa revolucionária de poder.

2 – Do alto da pose, pretensamente, majestática de François Hollande, após os atentados em Paris de 13 de Novembro, sustentando que iria combater o «terrorismo», o que, para tal, iria propor a inclusão do «estado de emergência» no texto constitucional e recorrer à repressão dos «binacionais» ligados ao mesmo, está a mera hipocrisia.

Além de bombardear a Síria, unilateralmente, sem autorização das autoridades legítimas do país, o chamado Estado Islâmico.

(Ironia das ironias, uma entidade em que a França republicana actual foi uma das *potências* ocidentais fomentadoras e financiadoras!).

Os mesmos homens «de Estado» que, em 2012, sustentavam, através das palavras do Ministro dos Negócios Estrangeiros francês, Laurent Fabius, que a Frente Al Nusra, o ramo sírio da Al Qaeda, em parceria com o EI naquele país, estava a fazer «um bom trabalho» oposicionista na Síria face ao regime de Assad, batem, agora, no peito, com todo o descaramento, a sua militância guerreira contra os então *moderados* jihadistas.

French President Francois Hollande (R) and Foreign Minister Laurent Fabius (2nd-R) meet with Saudi Defence Minister Prince Mohammed bin Salman bin Abdul Aziz al-Saud (2nd-L) at the Elysee Palace in Paris on June 24, 2015. AFP PHOTO / POOL / REMY DE LA MAUVINIERE

French President Francois Hollande (R) and Foreign Minister Laurent Fabius (2nd-R) meet with Saudi Defence Minister Prince Mohammed bin Salman bin Abdul Aziz al-Saud (2nd-L) at the Elysee Palace in Paris on June 24, 

Quando em Janeiro de 2015 um comando do EI atacou o jornal satírico «Charlie Hebdo» o regime de Hollande olhou, olimpicamente, para o lado, com umas pequenas barafustes, e continuou a apoiar os «moderados» oposicionistas a Bashar Assad, moderados estes que treinava, aliás, como seus +guerrilheiros+.

Não conheciam a Presidência da República francesa, os seus serviços secretos, a sua polícia, os principais integrantes desses *moderados* em França, que eles, aliás, alimentavam e financiavam?.

Seria possível a tais *terroristas* organizarem-se, em extensão e quase à luz do dia, em território francês, sem que os serviços de segurança não os tenham referenciado?.

Ora, o «estado de emergência», legalizado na Constituição, com o beneplácito dos *partidos da ordem* - PS, Republicanos gaullistas e Frente Nacional – será uma arma utilizada por aqueles para reprimir os protestos reivindicativos dos trabalhadores e explorados.
Serão eles –os explorados - que irão por em causa o actual regime francês, que é o suporte legal do grande capital financeiro especulador.

3 – Quando o PS de François Hollande subiu ao poder prometeu que iria integrar os imigrantes e fazer com que conseguissem o direito de voto pleno na sociedade francesa.

Em Dezembro de 2014, o empertigado Hollande afirmava, ainda com a máscara dos palhaços ricos, na inauguração do Museu da História da Imigração em França, que «o suceso da integração determinará o nosso destino nacional».

(Este museu que deveria ter sido inaugurado, há oito anos, no consulado do outro parceiro dos «partidos da ordem»Nicolas Sarkozy, foi protelado, precisamente, quando o filhos de judeus imigrantes húngaros que ascendeu à chefia de Estado gaulês, virou a casaca e se juntou à Frente Nacional na condenação da invasão de *estrangeiros*).

Hollande adiantou, na sua cara de pose imperial, vociferante:  “Sempre há demagogos. Os estrangeiros têm sido sistematicamente acusados dos mesmos males. A novidade é a penetração dessas teses num contexto de crise interminável e de globalização”.

Este propósito solene deixou de estar, agora, na cena política dos chamados socialistas franceses.

Antes de partirem para a aventura imperialista na Síria, procurando esconder os problemas reais da vida societária francesa, os dirigentes socialistas franceses, cúmplices integrantes da «ordem nacional» da fascista Frente Nacional, atiram-se contra os *binacionais*, tal como o fazem há muito os antigos republicanos gaullistas de Sarkozy e desde o seu início o partido dos le Pen.

Precisamente, quando são divulgados e desclassificados os documentos políticos e judiciais do governo fascista de Vichy, curiosamente autorizados pelo primeiro-ministro Manuel Valls, regime esse que instituiu a separação entre francês de sangue e imigrante.

E em que  o ministro da Justiça do governo de Vichy, Raphaël Alibert, fazia gala de declarar que “os estrangeiros não devem esquecer que a qualidade de ser francês é um mérito”.

Até agora apenas a Frente Nacional ousava atacar, aberta e ferozmente, a existência da binacionalidade. Ou a política do *puro sangue*.

Os arautos do +socialismo democrático+ transformam a ideia fascista em realidade.

Com a conivência da Ministra da Justiça, Christiane Taubira, uma negra nascida na Guiana francesa, que foi militante independentista daquele país, e até dias atrás, contrária a institucionalização do estado de emergência e da separação de nacionalidades no interior do país.

Os apologistas da Revolução francesa das palavras de ordem de Liberdade, Igualdade e Fraternidade e da Declaração Universal dos Direitos do Homem bandearam-se, perante a perspectiva de uma possível revolta popular, para os lados da contra-revolução.


Mas sempre com o ar solene imperial.