1
– Quando o candidato presidencial norte-americano Donald Trump afirma que os
Estados Unidos da América estão em recessão, tal divulgação, alicerçada nas
propostas do capitalista, enquadra já uma promessa de futuro:
A
sua eventual ascensão ao poder político será feita, com mão de ferro, em defesa
do capitalismo puro e duro, alicerçado na supremacia da finança
norte-americana.

E
a mensagem política traz uma *armadura militar*: vai haver guerra contra todos
os explorados do Capital, desde os naturais integrados até aos migrantes
documentados e indocumentados.
Pode
parecer estranho, mas a alternativa política dentro do actual regime
norte-americano, construído, desde as primeiras décadas do século XX sobre a
luta ideológica contínua contra o «comunismo soviético», abominando tudo o que
cheirasse a revolução, está num senador desse próprio regime, Bernie Sanders,
que defende uma *revolução política* e que essa deva nascer da implantação do
*socialismo democrático*.
2 –
O combate ideológico e político de Sanders centra-se sobre o domínio avassalador
de Wall Street, ou seja o grande capital financeiro especulador sobre a própria
sociedade norte-americana, em que o senador de Vermont engloba a própria antiga
secretária de Estado Hillary Clinton, sua comparte partidária na liça.
Nesta
perspectiva, Sanders apresenta-se como o representante da *oposição* burguesa –
industrial, camponesa e, em grande medida, a pequena burguesia (intelectuais,
artistas, certas profissões liberais) – afastada, na realidade, de qualquer
representação no aparelho governativo e legislativo do Estado norte-americano.

Apesar
da manobra da grande burguesia financeira, de há 10 anos, de alçarem uma
personalidade como Barack Obama, proveniente, por nascimento, de um pai negro,
a Presidente, o certo é que ele era – é – um membro destacado de um grupo
escritório de advogados, que servia e serve a facção financeira dominante da
grande burguesia.
Não
resultou essa manobra face à crise existente aprofundada desde 2007/08.
O
fosso entre governantes e governados aumentou nos EUA.
O
ascenso revolucionário que impregnou a Europa na segunda metade do século XIX e
primeiras décadas do século XX, que trouxe vitórias às classes trabalhadoras em
todo o Mundo, desde a redução do horário de trabalho, os contratos colectivos,
as seguranças sociais, o próprio direito de voto alargado impulsionou, todavia,
uma enorme onda contra-revolucionária, cujo expoente desde a II Grande Guerra,
se situou, precisamente, nos Estados Unidos.
Apesar
do descalabro dessa onda, a partir dos finais do século passado, tal facto não viu
crescer uma nova estrutura
político-partidária, coesa e internacional,
com uma nova capacidade programática revolucionária.
3
– Os Estados Unidos da América, a alma
mater do poder
contra-revolucionário mundial durante décadas, estão, agora, acantonados sob a
ameaça de uma possível implosão da sua sociedade.
Então,
ainda que com reservas, admitem toda a argamassa ideológica e política de uma
*sociedade socialista*.
Mas
– sublinhamos – sob o manto diáfano da social-democracia.
Os
Estados Unidos da América, como Nação independente, têm, historicamente, um
passado recente.
Embora
apresentem uma unidade política, na realidade, não tem o cimento de uma
centralização definida desde os seus primórdios.
Os
acontecimentos históricos marcantes na sua vivência estão assinalados por
conflitos de envergadura, e, ainda hoje, problemáticos, porque fazem vir ao de
cima clivagens na sua sociedade, como é o caso da guerra civil norte-americana
(1861-85).
Uma
guerra sangrenta que levou à morte de mais de 750 mil norte-americanos envolvidos
nos combates e número não determinado de civis.

Ainda
hoje em muitos locais públicos do sul dos Estados Unidos se usam bandeiras da
Confederação secessionista.

Esta
guerra civil provocou o incremento da grande burguesia industrial e
impulsionou em poucas décadas o ascenso do capitalismo norte-americano à
cidadania mundial, e, acima de tudo, internamente, à coesão como Estado
territorial.
Na
realidade, foram abertas estradas rodoviárias de norte a sul e de leste a
oeste, e ferroviárias, que colocavam homens e produtos de costa a costa.
Desenvolveram-se as comunicações, com os telégrafos; inundaram-se as grandes
cidades com fábricas, estaleiros e navios, a agricultura elevou-se a
agro-indústria.
A indústria de guerra contribuiu para todo este ascenso. Rapidamente,
abriram caminho ao extraordinário desenvolvimento do capital financeiro.
A
actual fase recessiva desse capitalismo, ameaçado pela falência e pela ruptura
entre forças produtivas e relações de produção, está a fazer vir ao de cima as
clivagens sociais que estiveram na origem do nascimento do *milagre*
norte-americano.
Claro
que a sociedade norte-americana evoluiu muito desde a luta contra a
escravatura, mas os resquícios permanecem – norte com sul, brancos contra
negros e hispânicos, regiões de alta tecnologia industrial contra cidades
decadentes da *velha indústria*, cidades contra campos.
Este
fantasma está latente nas candidaturas principais dos republicanos, desde Trump
a Marco Rubio ou Ted Cruz. Acirradas por muito ódio.
Do
outro lado, é Sanders, que sustenta que é preciso uma *revolução*.
No
ar, fica a ideia de guerra civil…se o regime claudicar.
Os
resultados das escolhas da candidaturas presidenciais ir-nos-ão apontar o
futuro que está reservado aos Estados Unidos.
Esse
futuro parece bem sombrio.
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