quarta-feira, 10 de outubro de 2012

A GREVE GERAL DE SARAIVA: A CONFISSÃO DE QUE O PODER ESTÁ NA FINANÇA


                                               





1- A declaração do senhor António Saraiva, Presidente da Confederação da Indústria Portuguesa (CIP), em entrevista ao jornal lisboeta Diário de Notícias, de domingo passado,  admitindo a vontade de fazer "uma greve geral de empresários", é, em primeiro lugar, uma graçola de gente bem instalada, mas, em segundo lugar, tem uma perspectiva política, que não se pode menosprezar: a burguesia industrial, que deu o seu aval e empenho na ascensão ao poder do actual governo, e lhe deu a garantia de existência, quando ele lançava as medidas mais gravosas sobre as classes trabalhadoras, está ficar excluída da mesa do poder.

A apresentação do pacote de impostos pelos Ministro das Finanças, Vitor Gaspar, "o enorme aumento de impostos", que recaiu, mas uma vez, sobre os trabalhadores dependentes e pensionistas, colocando a burguesia industrial e a pequena burguesia, praticamente na oposição, veio mostrar que, sob a batuta do actual executivo, cada vez mais, está a reinar apenas a fracção mais tratante da burguesia, o Capital financeiro mais desclassificado. 

Ela - essa facção - é a beneficiária das rédeas do poder: Ministérios das Finanças, Economia, Saúde, Segurança Social, Defesa, Agricultura e similares, Educação, Administração Interna. Todos os seus representantes provêem directamente do sector financeiro ou são representantes das principais sociedades de advogados que servem justamente de "intermediários" directos desse Capital.

Ela dita a política, faz as leis, distribui os principais cargos políticos, desde o papel interventor nas privatizações (Carlos Moedas e António Borges), até aos aconselhamento da mesma política económica (Braga de Macedo, Vitor Bento, Ferraz da Costa).

Voltando ao senhor Saraiva. Ele foi um dos apoiantes do tipo de governação, que desde o 25 de Novembro de 1975, que serviu para começar o tipo de crise que veio a avolumar-se e atingir as proporções actuais.

O estiçalhar da economia portuguesa tem, por detrás, a mão criminosa da CIP, particularmente, desde os tempos onde dominava um senhor chamado Ferraz da Costa e cuja linha política governamental apoiou e estimulou. Só que, a CIP então era um aliado precioso, como representante da burguesia industrial, para cimentar o poder do capital financeiro. 

Só que o poder único e exclusiva da burguesia capitalista financeira tornou irreparável a destruição do comércio e da indústria, e, deste modo, assistimos agora ao caricato do homem da CIP clamar por uma greve geral.

Convém recordar ao senhor Saraiva que a enormidade da crise vai ainda dar cabo ainda mais da indústria e comércio nacionais, pois o facto de uma parte dos grandes industriais e os grandes magnates do comércio, principalmente, distribuidor vão virar-se agora ainda mais para a concorrência interna e destroçar tudo o que resta da média e pequena produção.

Resta-lhe juntar-se à imensa mole humana que deseja mudar radicalmente a situação presente e apostar na reindustrialização ligada por um lado à produção nacional, por outro, aos projectos de alta tecnologia e relançamento da economia baseada no aproveitamento dos bens para satisfação de uma população empobrecida.

2 - Reuniu-se a 5 de Outubro um Congresso que se intitulou Democrático das Alternativas. Juntou PS, Bloquistas, uma parte muito pequena do PCP e um conjunto de personalidades que se dizem independentes.

Que alternativa política de poder apresentaram? Nenhuma. Está tudo dito.

Mas existe alternativa de poder? Claro que existe. Ruptura com o actual sistema político. Colocar no centro da questão: o controlo do sistema financeiro e da distribuição da riqueza. Reformulação total da governação e da eleição dos representantes populares.








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