sexta-feira, 9 de novembro de 2012

A SUPREMACIA IMPERIAL NORTE-AMERICANA ESTÁ EM AGONIA





1 - Fiz, recentemente, uma viagem turística por Timor-Leste. País pequeno, com uma independência controlada, há já dez anos. 

Quando à chegada a um hotel situado na baía que bordeja Dili, a capital, via-a enxameada de grandes navios de guerra. 


Distinguia-se, perfeitamente, um grande navio de envergadura, possivelmente, multi-usos, com dezenas de aviões de combate e dezenas de helicópteros no convés. Outros estavam mais afastados. Em todos, flutuava a bandeira dos Estados Unidos da América.


Dele levantavam, de vez em quando, grandes helicópteros, transportadores de tropas, que se movimentavam quer para o interior do território, quer em direcção a um ilha, que ainda não sabia nome, que via à distância, e que vim a saber pouco depois ser Ataúro.

(Na mesma baía, mas fundeadas a alguma distância daqueles, estavam outros navios de guerra estrangeiros, estes com as bandeiras australianas).

Quando pretendi, na primeira sortida pela cidade, qualquer coisa, com espanto, reparei que a moeda de troca era o dólar norte-americano.


De nacional, apenas os vegetais e animais (porcos, galinhas, cabritos) vivos que se mercadejavam, entre os naturais, num sistema medieval de troca directa, e, para estrangeiros, tudo a dólar e a altos valores.


Os oficias e soldados estrangeiros, principalmente, australianos, pavoneavam-se, pelas entradas do principal hotel citadino em camuflados de combate de deserto, e mesmo na avenida marginal, como se fossem os "senhores da guerra" em grandes missões de "soberania" num país que não o seu.


Claro que esta maneira de actuar de potências mundiais, ou regionais, em pequenos países, não estão enquadradas em missões protocolares de visita. 


Elas são, facilmente, travestidas em acções de "manutenção de paz" ou "humanitárias" por cumplicidade directa dos dirigentes nacionais, como, neste caso, Timor. 


Disseram-me, " à boca pequena", algumas personalidades locais que, tanto "Ramos Horta, como Xanana Gusmão, são agentes estrangeiros, figuras criadas e moldadas fora de portas, anos atrás, como heróis, para serem colocadas na direcção do Estado e servirem os interesses dessas potências".


(O certo é que o dinheiro transferido para Timor-Leste, no âmbito dos negócios do petróleo e do gás, propriedade do Estado "já desapareceu" - as fontes eram as mesmas - e a ostentação de riqueza desses e doutros dirigentes e ex-dirigentes é uma evidência na imensa pobreza da população maubere).


Mas, a razão central da presença dos navios das potências, neste caso EUA, e da sua cúmplice de segundo plano, Austrália, não tem a ver com "a paz internacional", mas, simplesmente, com meros e mesquinhos interesses de rapinagem de riquezas-primas daquele nobel Estado: o petróleo e o gás natural, que lhe está a ser sonegado, pura e simplesmente, pela voragem das grandes multinacionais do sector, através de um argumento de força. 


Que eles, imperialistas propagandeiam, com toda a desfaçatez, como fazendo parte da "defesa dos seus interesses nacionais".  Ou seja, em linguagem nazi pura: a procura do "espaço vital".


2 - Desde o final da segunda Grande Guerra, as grandes potências vencedoras - EUA, ex-URSS e Inglaterra -, principalmente a duas primeiras, dividiram, a seu bel-prazer, a Europa, e, por tabela, delimitaram as suas zonas de influência coloniais e semi-coloniais no controlo do comércio, mercados de armamento e distribuição de territórios ricos em matérias-primas.


Trucidaram sentimentos nacionais, cilindraram ou obstruíram os desejos de povos em conseguirem a sua independência política e económica.


Uns com argumentos inflamados de "luta contra o comunismo", outros com frases ocas, mas sonoras", de "luta pelo socialismo".


E, nesse período, finais dos anos 40, não se pode negar que muitos dos povos saudaram, quer de um lado, quer de outro, aparentemente, em barricadas diferentes, essa submisssão e humilhação, mas, no meio da arrogância violenta dessas potências, que se consideravam "superiores" e "invencíveis", irrompia uma verdadeira revolução de cariz anti-colonial, que levou, ainda que com dezenas e dezenas de anos,  a um fracasso total de domínio de uma das super-potências, e a uma lenta, mas que está agora a mostrar o seu estilhaçamento, da outra superpotência, que, colocando a cabeça na areia, como uma avestruz, ainda não reparou que uma grande mudança geo-estratégia se deu no mundo nos últimos dez anos.


Na realidade, a revolução anti-colonial, que começou, justamente, no grande continente indiano, em 1947, com a separação, ainda que, artificialmente, armadilhada pela potência decadente inglesa, que levou à Constituição de dois Estados- União Indiana e Paquistão, numa lógica de confrontação fomentada pelo maniqueísmo britânico, foi movimentada e conduzida, em passadas lentas ou mais apressadas, até aos anos 90 do século passado, com um desejo geral de conseguir alicerçar as reivindicações nacionais ou regionais, bem como a implantação de uma liberdade política fora da alçada das potências, e particularmente da superpotência, Estados Unidos da América.


E, se nesses Estados nascentes, essa revolução foi conduzida e solidificada, mais tarde, pela burguesia nacional, a realidade é a bandeira que era levantada pelos povos que aspiravam à libertação tinha a estampa de uma ruptura com o poder capitalista dominante, sob o espectro de uma revolução socialista.


Com esta mudança, ainda que conduzida pela burguesia,  deu-se, a nível mundial, uma evolução industrial que impulsionou grandes países colonizados, agora independentes, como a China, a Índía, a Indonésia, a África do Sul, e, em grande medida, os semi-colonizados países da América do Sul.


Deu-se, justamente, desde os finais dos anos 80 do século passado até ao princípio deste milénio, um impulso de uma grandeza nunca antes imaginada no alargamento do mercado mundial.


Com esta evolução, os centros de negócios, de desenvolvimento capitalista, - porque de impulso capitalista se deu realmente -, diversificaram-se, criando fortes blocos e países concorrenciais. 


Cercado por seu nova realidade, os Estados Unidos da América, que eram o mito idolatrado da grande burguesia, e dos seus sequazes representantes nos diferentes países, optaram, desde esse salto qualitativo e quantitativo dos grandes países ditos emergentes na liça da concorrência de mercados, de matérias-primas e de negócios,  por uma política de ferro e fogo, que percorreu praticamente toda a África (Angola, Moçambique, Nigéria, Argélia,  Ruanda, Uganda, República Democrática do Congo/Zaire), mas antes já na Indochina, passando depois para o Médio-Oriente, directamente ou através dos seus lacaios israelitas, e nos últimos dez anos, Iraque, Afeganistão, Paquistão, entre outros.


Os fracassos chegaram e ainda vão chegar muitos outros.


Porque a violência não é somente um acto de guerra ou conflito, mas, essencialmente, uma questão económica.


A violência pressupõe o uso da força. 


Ora, esta assenta, essencialmente, nas Forças Armadas e nas estruturas para-militares que lhe estão adstritas, ainda que privadas ou semi-privadas. Quer isto dizer, em termos reais, que custam dinheiro. 




O Orçamento de Defesa dos Estados Unidos de 2011 ultrapassou os 739 mil milhões de dólares, que foram retirados de um Orçamento de Estado de cerca de 3,7 biliões de dólares. Quer dizer, cerca de 1/5 do OE é devorado pela máquina militarista.


Isto, em si, não seria grave se esse orçamento militar proviesse de dinheiro que se fosse buscar a um acréscimo de produção económica nacional, mas não é o caso dos Estados Unidos. 


A produção industrial, particularmente, a pós-industrialização, não está a dar riqueza ao país. 


Os sintomas de estagnação da economia são evidentes, a inflacção real está a atingir (ou mesmo a ultrapassar) os 10%, o desemprego atingiu em Outubro passado os 8 %. A dívida estatal (pública, mas essencialmente privada) está na ordem dos 15 biliões de dólares (mais ou menos 100 % do PIB), e , na última reunião do G-20, a administração norte-americana teve de reconhecer que está à beira do "precipício orçamental".


Com a feroz concorrência mundial e o aparecimento de pólos de potências capazes de fazer evoluir a sua produção industrial em pé de igualdade com os Estados Unidos, e, concomitantemente, de obrigá-los também eles a criar os seus próprios sistemas e sofisticados armamentos, para o sistema político e económico de Washington, o papel castrense tornou-se, na prática, o fio estratégico dominante para o próprio Estado.


E assim entraram numa voracidade de engordar e empolar os gastos militares não só internamente, como no exterior.


Ou seja, os Estados Unidos têm mais de 500 mil homens espalhados em todo o Mundo, ao mesmo tempo que expandiram um sem número de bases militares, estações de rastreio castrense, pistas de aviação ou de passagem, mas acima de tudo, tropas de ocupação e em guerra, desde a Europa, Próximo e Médio-Oriente, Coreia do Sul, Japão, Corno de África, América do Sul, Austrália, Indonésia.


O grave de toda esta panóplia para manter estruturas e homens das Forças Armadas é que está a devorar a própria economia real dos norte-americanos. 


Está a empobrecê-los. Está, no fundo, a ditar o vírus da sua própria decadência.


E isto porque grande parte dessas bases, com aparelhos ultra-sofisticados e dispendiosos, hoje podem ser todos destruídos pelas potências concorrentes, ainda que de menor dimensão, embora não estejam ainda no patamar económico e social dos norte-americanos.


É esta realidade que os países, mesmo os mais pequenos, começam a ter uma percepção da sua fraqueza. 


Está a acontecer no Afeganistão, como sucedeu no Iraque e anteriormente ocorrera no Laos, Cambodja ou Vietname.


3 - Mas o relevante facto progressivo que, conjuntamente, com a revolução anti-colonial pós II Grande Guerra, foi o surgimento de  um sentimento de "mea culpa" europeia, segundo a qual eram os próprios  Estado da Europa que, exacerbando as guerras no seu território, favoreciam a ganância de potências exteriores e faziam regredir o avanço civilizacional que o seu espaço deu ao Mundo.


No fundo, reflectiu-se sobre o facto de que a Europa, que impulsionou a Revolução Industrial (século XVIII) e a Revolução política (século XVIII/XIX), estava a espezinhar ela própria a evolução societária de que fora pioneira e "exportara" para o resto do planeta.


E foi este "clique", este "toque mágico" que despertou um sector mais avançado da burguesia europeia, que tomou as rédeas de uma parte do poder económico e, em grande medida, do poder político nos principais Estados do centro europeu, para uma "nova experiência económica" extra-fronteiriça, que desabrochou um novo tipo de produção industrial e de reforma do próprio sistema capitalista europeu. 


Nasceu, primeiro, a Comunidade do Carvão e do Aço, depois a Comunidade Europeia, mais tarde, alargou-se novos países, destruíram-se restos do velho fascismo económico e político em Portugal, Espanha e Grécia. 


Agigantou-se com uma harmonização monetária, que ultrapassou particularismos nacionais.


De registar que esta evolução foi levada avante, principalmente porque o espectro de uma ruptura revolucionária "mordia os pés" da burguesia europeia. 

Foi, nessa Europa das grandes convulsões reivindicativas e mesmo revolucionárias, como o Maio de 1968, as explosões populares na Grécia dos coronéis, as lutas operárias em Itália contra os governos entrelaçados entre democratas-cristãos, sociais democratas de Craxi e o PCI de Berlingueres e Napolitanos, as greves constantes dos mineiros ingleses contra Tatcheres e Majores, que uma grande melhoria significativa no nível de vida foi ganha pelas classes trabalhadoras.

É esta experiência que coloca, justamente, na actualidade, a Europa na sua busca de unidade, também, no centro de uma nova retomada da movimentação radical popular, e, ainda que às apalpadelas, procura romper um bloqueio de luta unitária revolucionária, que as próximas greves gerais em vários países são indícios de que provavelmente uma nova era de grande convulsão poderá estar a ser forjada.

(Convém recordar que a questão nacional ainda não foi removida totalmente da Europa, e, na minha opinião só será resolvida que um avanço político e militar comum no espaço que hoje é da União Europeia. E a questão nacional, na presente situação, pode contribuir para a real mudança que se deseja e espera).


Na realidade, a União Europeia catapultou-se, em cerca de 50 anos, de um conjunto de países desmembrados  e espezinhados a uma potência económica de gabarito e riqueza produtiva, que rivalizava e se tornara um "espécie de farol" na evolução capitalista pós-moderna. 


Era o rival concorrencial de capitalismo avançado que estava a ameaçar, real e profundamente, a supremacia norte-americana. 

Quando surgiu em 2007 a crise especulativa financeira nos Estados Unidos, que ameaçava o sistema bancário naquele país, os capitalistas de Wall Street viraram-se para a Europa e exploraram as suas fraquezas, através das incapacidades e as relações privilegiadas e submissas dos dirigentes europeus com o Capital norte-americano.

Quatro anos foram passados, o euro, apesar das vicissitudes, manteve-se.

É na Europa que se está a evolucionar um novo tipo de organização política, um novo tipo de estruturação monetária e económica, e, acima de tudo, o território que mantém a base mais avançada de movimentação popular.

O centro da actividade política mais participada e radical concentra-se na União Europeia. É pois daqui que pode haver um impulso de uma nova ordem mundial.

Esperemos para ver.
















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