O Papa da Igreja Católica Romana, que se
auto-intitulou, como seu Sumo Pontífice, há cerca de oito anos, com o nome de
Bento XVI, anunciou, num consistório (na linguagem ritual e cifrada da Santa
Sé, é uma reunião de cardeais),
efectuado no Vaticano, no passado dia 11, logo após o domingo de
Carnaval ocidental, que iria abdicar do seu cargo, porque, segundo ele, as suas
faculdades “já não são idóneas para exercer adequadamente o ministério
petrino”.

Esperando pela noite de cristal
É uma explicação esfarrapada, pois o seu
antecessor, em condições físicas mais extremadas, ocupou o cargo até ao fim.
É
um pormenor, certamente.
Mas não a verdadeira razão.
Os hierarcas da Igreja
Católica são os mentores mores da mentira e da manipulação. Tem uma experiência
contínua de mais de dois mil anos…
Este acto de renúncia não mereceria uma
simples notícia se o Vaticano não fosse a maior instituição financeira mundial
no presente momento.
Os problemas dessa enorme seita são, pois, humanos, e,
essencialmente, do âmbito da economia.
É um poder dominante e explorador,
portanto. Mas merece, também, um
enquadramento.
1 - Há dois mil anos, começava a formar-se
numa parte do Império Romano uma formação religiosa próxima do judaísmo,
praticamente desconhecida.
De acordo com os próprios dignitários do poder
de então de Roma, como Plínio, o Jovem, governador da Bitínia, uma extensa
região na actual Turquia asiática – ele escreve ao imperador Trajano, sendo,
portanto, o primeiro documento oficial e documental a admitir a existência de
cristãos nos princípios do século II DC – essa formação, em que os seus membros
se intitulavam cristãos, eram, para o Império, “uma sociedade secreta”.
Tornaram-se subversivos – os cristãos
primitivos - face a Roma, porque, - retiro da carta de Plínio -, em primeiro
lugar, não reconheciam a autoridade imperial, nem lhe devotavam religiosidade
como deus, e, nos seus rituais diferenciados do comum romano, em determinados
dias, costumavam comer antes da alvorada e rezar responsivamente hinos a
Cristo, como a um deus; obrigavam-se por juramento a não praticar algum crime,
mas à abstenção de roubos, rapinas, adultérios, perjúrios e sonegação de
depósitos reclamados pelos donos. Concluído este rito, costumavam distribuir e
comer seu alimento. Este, aliás, era um alimento comum e inofensivo”.
E Plínio acrescentava: “Esta superstição contagiou não apenas as cidades, mas as aldeias e até as estâncias rurais”.
Da descrição daquele alto funcionário
imperial romano, infere-se que, na hierarquia dessa nova formação religiosa
nascente, perigosa, nesses primórdios, para Roma imperial, se encontravam
também mulheres, “chamadas diaconisas”.
O chefe romano não explicita a existência
de outros hierarcas, incluindo bispos ou o seu equivalente feminino, como
entidade superior. O que pressupõe que não haveria nessa região, pelo menos.
(Uma curiosidade: pouca referência de
“missionação” existe nos textos cristãos canónicos nos inícios do cristianismo
naquela região do Império).
Historicamente, com confirmação fidedigna
coeva, igualmente, é desconhecida a existência dos chamados primeiros Papas.
Era, na altura, realmente, uma verdadeira
formação revolucionária, que recusava o poder ditatorial de Roma, a usura, os
lucros excessivos obtidos pela extorsão de impostos e de empréstimos por
prestamistas ligados ao reinado imperial.
Esses revolucionários imiscuíram-se na
administração do Império, controlaram as próprias Forças Armadas,
desobedeceram, ainda que com repressão sem freio, dos Pontifex Maximus e
Imperatores colocados em Roma.
Os autocratas de Roma, vendo o crescimento
subversivo da nova religião, começaram a fazer alianças com os chefes cristãos,
que se começaram a hierarquizar em bispos, presbíteros e patriarcas, e já
detinham algum poder temporal regional.
No século IV, em 380 DC, com a anuência dos bispos, o cristianismo foi declarado como religião de Estado exclusiva do Império
Romano.
A partir daqui, o Império passou a ser um
Estado confessional e os seus maiores defensores foram os Papas, que entretanto
foram transformados, com o apoio directo imperial, em chefes teocráticos
unificados e ferozmente centralizados pelo novo poder.
Desde então, embora com altos e baixos, o
Papado romano adquiriu um poder temporal de invejar, um poder de interferência
directa nos reinos e nos Estados, principalmente do Mundo Ocidental.
E, com esta “ascensão”, toda a história do cristianismo primitivo foi reescrita e destruídos os documentos que a ele se referiam e contrariavam a
nova orientação dos responsáveis da religião agora já consolidada.
E aconteceu sem contemplações, trucidando
tudo o que pusesse em causa a supremacia e os dogmas criados para o
estabelecimento da teocracia ditatorial do Papa Católico Apostólico Romano.
2 – Desde então, o Papa Romano desempenha o
cargo monárquico teocrático ditatorial mais antigo do Mundo.
O cargo, como atrás referimos, não existiu
nos princípios do cristianismo.
Tornou-se, no entanto, uma realidade à
medida que a Igreja Católica foi centro de poder, quer pela posse territorial
(muitos dos bispos na decadência do Império Romano, no século VI, tornaram-se
condes e duques, com amplos poderes político-militares), quer pelo poder da
autoridade religiosa, interligada com os poderes patrimonial e militar (cujo
início se pode situar com o rei dos francos Carlos Magno, de que daremos uma
breve explicação mais à frente), como sucedeu em toda a Idade Média e no
Renascimento, quer, como sucede, nos últimos 80 anos, com o acesso ao controlo,
de parte substancial, do sistema societário financeiro, industrial, comercial,
educacional e político transnacional.
Foi, realmente, com Carlos Magno, que
começou por ser rei dos francos, em 768 DC, e se tornou Imperador do Ocidente
(Imperatur Romanorum), de 800 a 814, que abrangeu a Europa Ocidental e Central
e o reino de Itália, tudo em íntima associação com as ordens religiosas e o
Papado.
O Sumo Pontífice Católico Leão III coroou-o como Imperator
Augustus.

Com ele. e, a partir dele, a Igreja Católica
controlou toda a estrutura económica e cultural do que foi o reino de França
e senhor do Sacro Império Romano
Germânico.
Os hierarcas religiosos foram,
frequentemente, arcebispos-bispos-condes e, mais tarde, duques.
Das suas
famílias, da dos réis católicos, ou dos seus protegidos, foram escolhidos, os
cardeais e entre estes os Papas, ao longo dos séculos.
(Um dos filhos do infante português Pedro,
duque de Coimbra, filho do rei João I e da duquesa de Urgel Isabel, de nome
Jaime foi arcebispo de Lisboa (com 20 anos, 1453), de Arras e cardeal-infante
(1456) . Morreu com 25 anos (1459) e está enterrado em Florença (Convento de
S.Miniato).
3 – A Igreja Católica somente ganhou poder
e supremacia no Mundo, quando teve na sua posse bens terrenos patrimoniais e
financeiros, que lhe garantiram (e garantem) uma capacidade de influenciar os
diferentes poderes.
(O banco mais antigo do mundo ocidental, o Monte
dei Paschi di Siena, nascido em 1472, aparentemente pertencente à comuna
de Siena, na prática, em maioria, na mão da Igreja, quer directamente pela
arquidiocese de Siena, quer instituições de voluntariado. O seu presidente executivo actual é o anterior presidente do banco do Vaticano o Unicredit)
Sem estes
“atributos”, a Santa Sé, apesar dos prosélitos religiosos, pouco ou nada contou
na política europeia, como aconteceu no final do século XIX, com a extinções
dos chamados Estados Papais e o corte da circulação monetário, quando os
revolucionários italianos unificaram o país.
O Papa e a religião católica ficaram
reduzidos a um “estado de espírito”, cujo poder de influência se baseava na
manutenção do seu fanatismo e obscurantismo confessionais.
A inversão deste estado de coisas deu-se,
em primeiro lugar, com o apoio directo e militante ao fascismo italiano e ao
apoio cúmplice à ascensão do poder nazi na Alemanha.
O camareiro papal alemão Von Pappen foi
indigitado, através do partido católico e a benção da Santa Sé, vice-chanceler
alemão, tendo como líder Adolf Hitler.
Mas, situemo-nos na Itália, em 1929, onde o Papa Pio XII se comprometeu a dar o seu
aval sem qualquer subterfúgio ao regime fascista de Benito Mussolini, em troca
de um vultosa quantidade de liras e da garantia da religião católica se
tornar a religião oficial do Estado ditatorial, ao mesmo tempo que permitiu a
existência de um pequeno Estado papal no Vaticano, com todas as garantias de imunidade
para os negócios da Santa Sé. Chamou-se o Tratado de Latrão, a esse acordo, que vigora ainda
hoje, com certas modificações.
O dinheiro do Estado italiano doado por
Benito Mussolini foi assim distribuído 750 milhões de liras a pronto pagamento
e mil milhão de liras em Títulos do Tesouro a bom juro.

No Estado do Vaticano,meses depois, foi
instituída como Lei Fundamental, a concentração de poderes, sem qualquer
espécie de discussão, (legislativo, executivo e judiciário) nas mãos do Papa.
Isto no bairro do Vaticano propriamento
dito e em mais 12 edifícios espalhados por Roma, bem como no Palácio de
Castelgandolfo. No fundo, a administração financeira, patrimonial, meios de
comunicação social vaticanistas, tudo ficaria (a ainda está) ao arbítrio do Chefe
de Estado da Santa Sé, ao mesmo tempo Sumo Pontífice universal da Igreja
Católica e bispo de Roma.
4 – Os dignitários do Vaticano aplicaram
este dinheiro – com o assentimento directo do regime fascista – primeiro, dentro
da própria Itália.
Entraram nas finanças (os principais bancos), nas
seguradoras, na indústria (química, armamento, ferrovia, aviação, marítima), no
comércio (empresas distribuidoras alimentares), na educação (escolas e
universidades), comunicação social (a RAI) e na própria actividade partidária
(fundaram um partido católico- A Democracia Cristã).
O Banco de Itália é,
maioritariamente, administrado por sicários da Santa Sé.
Ler, para o efeito, o livro “Empório do
Vaticano”, do jornalista norte-americano, correspondente na Santa Sé do "New
York Herald Tribune" durante oito anos, Nino LoBello, falecido em 1997, onde,
além de referenciar os principais patrimónios controlados pela Igreja, assinala
que a ligação entre o Vaticano e a Máfia era tão forte que “muita gente”
considerava que a Sicília não era mais do que um edifício do Papado.
Escreveu ainda o livro “The Vatican Papers",
em 1978.
Lo Bello sublinhava, com dados, que o Vaticano,
já naquela altura, segunda metade dos anos 60 do século passado, “era um dos
maiores accionistas do Mundo”.
Descrevia ainda que o número de companhias
de que a Santa Sé era proprietário, ou continha uma participação societária relevante, era de tal modo elevado, que nem dava para acreditar, desde os
principais bancos, as seguradoras, a Italgás, que era a única empresa fornecedora
de gás a 36 cidades italianas.
Por seu turno, esta ultima empresa controlava 11
outras formas desde os anidridos, minérios de ferro, fósforo, carvão,
destilados, água potável (a EPAL de Roma), fogões de gás e industriais,
grandes construtoras civis. Controlava a Montecatini-Edison, então uma das
maiores instituições industriais de Itália.
Expandiram o seu negócio pela Europa, pelos
Estados Unidos, pela América Latina.
Depois seguiram para África. Hoje apostam,
em grande, na Ásia, incluindo a China.
Fundaram empresas de fachada, multiplicaram
e entrecruzaram centenas de “off-shores”. “um império secreto”, como lhe chamou
recentemente (Janeiro de 2013) o jornal inglês The Guardian.
A revista The Economist, igualmente, tem
acompanhado com frequência a evolução do poder político, económico e financeiro
da Santa Sé.
Dois livros de um jornalista italiano
chamado Gianluigi Nuzzi, um intitulado “Vaticano S.A – a verdade sobre os
escândalos financeiros e políticos da Igreja”” (2009), e “Sua Santidade – As carta
secretas de Bento XVI – Como o Vaticano vendeu a alma”, são fontes que ajudam a conhecer toda a trama
em que se transformou a Santa Sé.
Uma outra personalidade investigou
profundamente os negócios do Papado. Trata-se do aristocrata e filósofo
britânico Avro Manhattan, morto em 1990, que escreveu, em 1983, a obra, entre outras, “Os Biliões do
Vaticano”.
Antes de sair da Igreja Católica foi
cavaleiro da Casa de Sabóia e Templário.
Indicamos estes jornais, investigadores e
jornalistas, porque os seus relatos nunca foram postos em causa.
Deles respigamos – e, essencialmente, de
dezenas de publicações de vários países, incluindo italianos – que a Igreja
Católica é sócia maioritária – ou com intervenção decisiva – em quase todos os
principais bancos de grande projecção internacional: desde o Bank of América,
Stanley Bank, Chase Manhattan, City Bank, JP Morgan Chase, Bankers Trust., dos
Estados Unidos, aos Rothschilds, Hambros, Barclays e Royal Bank of Scotland
(Inglaterra), Crédit Suisse, UBS (Suíça)
NBP Paribas (França), Santander,
Bilbao y Vyscaya (Espanha).
Mas, igualmente, mantém uma forte
componente accionista em empresas de grande gabarito industrial, como a General Motors , a General Electric e
a Bethlem Steel no sector da do aço, automóvel e electricidade, Boeing,
Lockeeh, Douglas e Curtis Wright, da aviação,
ou a Gulf e a Shell, do petróleo.
Mas, segundo as investigações que estamos a
referenciar, nos Estados Unidos, a sua penetração económica é muito superior:
na educação, desde jardins de infância até universidades, passando por colégios
e instituições de ensino primário e secundário. E isto, pago a taxa zero pelos
contribuintes norte.americanos, através de organismos ditos de “assistência” ou
“caridade”.
E a seguir na saúde: hospitais, centros de reabilitação, clínicas
de apoio a doenças crónicas. Registos ainda que podem passar pelas empresas de
construção civil, empreendimentos turísticos.
5 – A penetração dos investimentos do
Vaticano no Mundo não se fazem somente de maneira subtil e sub-reptícia, mas
também pelo papel desempenhado pelos seus representantes no aparelho de Estado.
Assim como o lobby judaico domina os
principais corpos legislativos norte-americanos (Senado e Câmara dos Representantes)
e muitos dos governadores de Estado, e através particularmente de Wall Street,
a Igreja Católica segue-lhe o mesmo caminho.
No Senado, existem 25 representantes que se
confessam abertamente católicos (16 democratas e nove republicanos) e na Câmara
dos Representantes, num total de 436, 134 afirmam professar e seguir a Igreja
Católica Romana.
No Supremo Tribunal dos Estados Unidos,
actualmente, a maioria pertence a praticantes católicos.
Na política, dois nomes a reter: o
vice-Presidente Joe Biden e o Secretário de Estado, recentemente nomeado John
Kerry.


6 – A renúncia do Papa Católico Bento XVI,
que ele fez, oficialmente, em 11 de Fevereiro em consistório, não nos pode
emocionar pelo argumento da velhice.
Dizia ele: “Todavia, no mundo de hoje,
sujeito a rápidas mudanças e agitado por questões de grande relevância para a
vida da fé, para governar a barca de São Pedro e anunciar o Evangelho, é
necessário também o vigor quer do corpo quer do espírito; vigor este, que, nos
últimos meses, foi diminuindo de tal modo em mim que tenho de reconhecer a
minha incapacidade para administrar bem o ministério que me foi confiado”.
Parece uma linguagem simples,
propositadamente púdica, hipocritamente admitida, elevada pelos outros
hipócritas hierarcas e confrades da Igreja Católica a uma virtude de
frontalidade.
Na quarta-feira de cinzas católica, um dia
depois, Bento XVI fustigava com os
verdadeiros argumentos: fracassara a sua tentativa de ser mediador e o verdadeiro
controleiro das lutas intestinas do Vaticano, minadas pelas confrarias do poder
financeiro que se foram constituindo e ocupando posições que já ombreiam com o
próprio poder do autocrata.
Cito da imprensa:
Foi a última missa pública do Papa Bento
XVI e a ocasião não poderia ser mais simbólica. Na Quarta-feira de Cinzas, que
lembra o carácter transitório e efémero da vida humana, Bento XVI apelou à
superação dos "individualismos e rivalidades" no período da Quaresma,
num sinal "humilde e precioso para aqueles que estão distantes da fé ou
indiferentes".
Bento XVI comentou a sua
renúncia: "É uma ocasião propícia para agradecer a todos, agora que me
preparo para concluir o ministério de Pedro."
Bento XVI deixou também vários alertas e
avisos, contra "a hipocrisia religiosa", contra "o comportamento
de quem quer aparecer" e contra "as atitudes que procuram aplausos e
aprovação".
"A qualidade e a verdade da nossa
relação com Deus é o que certifica a autenticidade de qualquer gesto
religioso", frisou o Papa, num tom grave, segundo o relato da agência AFP.
Numa missa interrompida pelos aplausos
dos presentes, Bento XVI alertou contra o que considera ser "os golpes
contra a unidade da Igreja" e a "divisão do corpo eclesiástico",
lamentando que "o rosto da Igreja seja, por vezes, desfigurado".
O Papa criticou ainda aqueles que se
dizem prontos "a rasgar as próprias roupas face aos escândalos e às
injustiças, naturalmente perpetrados por outros", mas que não se mostram
"prontos a agir de acordo com o seu próprio coração, a sua consciência e
as suas intenções", cita a AFP.
Ou seja, o Sumo Pontífice da Igreja
Católica confessou, com a sua renúncia, que não sabia ou não conseguia governar ou gerir o saco de lacraus e altos interesses económico-financeiros que estão a surgir com a própria crise
mundial, nem estava a conseguir apoiar-se numa das facções para contar as outras, nem
destruir ou trucidar as mais afoitas.
Nem queria romper com elas.
Deixou, saindo de cena, que o curso dos
acontecimentos possa resolver a questão.
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