1 - O jornal italiano "la Repubblica" publicou,
sexta-feira, uma entrevista com um indivíduo não identificado, que intitula de
o "Corvo", e que, segundo o periódico português I - é «a
enigmática figura que sempre reivindicou a autoria da operação de entrega de
documentos confidenciais da Santa Sé à imprensa», o qual garante que a renúncia
do Papa Católico Apostólico Romano Bento XVI está relacionada com um assunto
material e bem prosaico - o controlo da imensa fortuna do Vaticano.

"Na mesma entrevista, a fonte sustenta que Bento XVI
não renunciou por causa do Vatileaks. O Papa emérito, conta o Corvo, propôs-se
fazer uma limpeza em várias áreas dentro Vaticano, de maneira a promover a
transparência e a verdade. Só que encontrou resistências, o que acabou por
conduzir à sua demissão", escreve o
I, citando o seu congénere italiano.
"Bento XVI sentiu que não conseguia realizar aquilo
que desejava", acrescenta o La Reppublica.
De acordo com a fonte do "La Repubblica",
segundo o jornal português, a origem de
toda a destabilização na Cúria - e a origem do próprio Vatileaks - tem um nome
IOR (Banco do Vaticano).
Ou seja, a renúncia deveu-se, justamente, porque o Papa
Católico perdeu o controlo “autocrático” que mantinha sobre o Império material
do Vaticano, e, pelo menos, algumas das suas facções internas já estavam (ou
estão) a ganhar um poder real superior ou, pelo menos, semelhante ao próprio
Sumo Pontífice da Igreja Católica Romana.
Intrigante, neste momento, é a certeza desta fonte do que
se passou com o cardeal Ratzinger.
Ou o Papa Católico é a própria fonte, ou permite que “alguém”
ou um “grupo” incrustado na Cúria fale em seu nome.
E mais intrigante, porque o Corvo dá a entender que
conhece “o relatório” encomendado por Ratzinger a um grupo de três cardeais
eméritos, Julián Herranz,
Jozef Tomko e Salvatore De Giorgi, o primeiro deles a eminência parda do Opus Dei na cúria.
E o Papa que se retira manda dizer pelo seu porta-voz que
o relatório apenas será entregue ao seu sucessor.
"O Santo Padre decidiu que os resultados deste relatório, cujo conteúdo apenas Sua Santidade conhece, permaneçam exclusivamente à disposição do novo Pontífice", informa uma nota oficial do Vaticano. Citado da agência France Presse.
Se o Papa toma esta atitude é porque, no jogo de forças
interno, já sabe quem lhe sucede.
Ou então, irá intervir, da sua pretensa “clausura” – e com
o apoio de Corvos ou Corvos - na reestruturação dos capitais financeiros que o
Vaticano controla e estão no centro dos apetites em competição com o que lhe suceder.
Na realidade, há duas nomeações que fez, tendo já
renunciado, que são significativas: a colocação de um alto dignitário da Ordem
dos Templários, Presidente do Conselho de Administração dos estaleiros alemães,
ligados à indústria naval militar, Blohm & Voss, o aristocrata Ernst von Freyberg, que acumulará os dois
cargos.

Bento XVI afastou de Presidente do IOR, o membro do OPUS
DEI Ettore Gott Tedeschi, um dos administradores do Santander. (Significa isto
que o Vaticano tem fortes interesses, através de duas suas facções naquelas
duas empresas).

A outra nomeação é a do seu secretário particular de Bento XVI, o alemão Georg Gänswein, para
governador da Casa Pontifícia, subindo também na hierarquia católica para o
posto de arcebispo.
2 – Conforme assinalei em artigo anterior, a questão
central, hoje, do Vaticano é que ele é o Estado, sem território, mas inserido num continente, que controla a maioria do
capital financeiro mundial.
Expandiram o seu negócio pela Europa, pelos Estados
Unidos, pela América Latina.
Depois seguiram para África. Hoje apostam, em grande, na
Ásia, incluindo a China.
Ligaram-se à Máfia, principalmente norte-americana.
Fundaram empresas de fachada, multiplicaram e
entrecruzaram centenas de “off-shores”. “um império secreto”, como lhe chamou
recentemente (Janeiro de 2013) o jornal inglês The Guardian.
A revista The Economist, igualmente, tem acompanhado com
frequência a evolução do poder político, económico e financeiro da Santa Sé.
Deles respigamos – e, essencialmente, de dezenas de
publicações de vários países, incluindo italianos – que a Igreja Católica é
sócia maioritária – ou com intervenção decisiva – em quase todos os principais
bancos de grande projecção internacional: desde o Bank of América, Stanley
Bank, Chase Manhattan, City Bank, JP Morgan Chase, Bankers Trust., dos Estados
Unidos, aos Rothschilds, Hambros, Barclays e Royal Bank of Scotland
(Inglaterra), Crédit Suisse, UBS (Suíça) NBP Paribas (França),
Santander, Bilbao y Viscaya (Espanha).
Ora, o Vaticano, um Estado minúsculo está a mexer nos
negócios internos de grandes potências, como os Estados Unidos e a Inglaterra,
exteriores – como ideologia religiosa dominante – à Igreja Católica.
De certo modo e em certo sentido, obscurecida por
questões religiosas – as facções religiosas internas – estará a verdadeira
razão de uma guerra económica que opõe, desde 2008, a União Europeia e os
Estados Unidos.
O Papado parece estar – como potência financeira internacional –
a servir o enquadramento e até o “financiamento” do euro e, em grande medida, a
entrar nos jogos de defesa do capital imperialista europeu face ao decadente
sistema financeiro norte-americano – e por tabela – o capital da City em íntima
ligação com Wall Street.
Os próximos tempos irão dar-nos pistas mais concretas.
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