quinta-feira, 10 de abril de 2014

A FRANÇA DE VALLS É UMA ANTE-CÂMARA DO REGIME FASCISTA ACTUAL DA UCRÂNIA

1 - A evolução política da República de Weimar, na Alemanha, desde que foi constituída logo após a I Guerra Mundial tem, pondo de lado as circunstâncias e o tempo, similitudes com o desenvolvimento, nos últimos 20 anos, na França, com François Mitterrand, Jacques Chirac, Nicolas Sarkozy e François Hollande.

A França colocada, desde o Maio de 1968, sob a perspectiva de  ver desmoronar, pela contínua agitação classista, a V República, criada e formatada pela política de Charles de Gaulle para impulsionar a evolução, sem freio do capital financeiro e de um militarismo nacionalista, que sugava, em grande, o Orçamento de Estado, levou os seus grandes banqueiros a fazerem cair o poder político.

No rescaldo do afastamento da figura tutelar "cesarista" de de Gaulle, foi preparada a *ribalta*, pela primeira vez, para os socialistas -neste caso, Mitterrand - tendo este, com toda a matreirice e «naturalmente» com conselhos experimentados, formar um executivo, primeiro, em aliança com o PCP, de George Marchais, para amaciarem as reivindicações.


O movimento contínuo para a direita em França, desde de Gaulle.



Mitterrand e Marchais: atrás daquele Pierre Maurois e do outro, Charles Hernu.

Deste modo, conseguiram a estabilização - mas não só, mais, a desorientação no seio da classes trabalhadoras - do grande capital e puseram em marcha uma "era" de grande "progresso capitalista" para os banqueiros e associados, sem grandes sobressaltos para a obtenção de lucros máximos e consolidação do domínio do grande capital financeiro.

Depois, do +servicinho+ prestado pelo PCF, deram-lhe de imediato com os "pés" nas eleições legislativas seguintes, onde aquele se começou a desmoronar.

É, precisamente, nessa altura, meados dos anos 80 do século passado que a Frente Nacional (Front Nationale, FN) se torna, por tolerância e por cumplicidades das políticas governamentais - primeiro do PSF, depois dos partidos da chamada "grande coligação" (PSF, RPR, de Chirac, actual, UMP, de Sarkozy), principal força do nazi-fascismo, com o argumento da "regeneração" da sociedade, tal como Hitler preconizou nos anos 20 e 30 do século XX.

E tal sucedeu, justamente, com a desarticulação dos sectores das classes laboriosas mais conscientes, os representantes "democráticos" da burguesia, iniciaram uma clara "viragem" para métodos repressivos na acção interna e uma desenfreada concentração do grande Capital financeiro, com despedimentos, cortes de salários, progressivos e por vezes quase invisíveis cortes nas protecções sociais, e uma corrupção desgarrada e criminosa.

Chega-se deste modo ao descrédito quase total da democracia parlamentar!!!

(Convém recordar: em 1984, a FN é o terceiro maior partido do país. Na eleição presidencial francesa de 2002, Le Pen, o candidato nazi, obteve mais votos que o PSF e vai à segunda volta em competição com a direita de Chirac). 

Nas eleições municipais recentes francesas, cuja segunda volta terminou no passado dia 30, o papel desempenhado pelos seguidores de Mitterrand, encabeçados por Hollande, assemelhou-se ao dos sociais democratas de Ebert, na República de Weimar: destruições da capacidade produtiva, incremento brutal do desemprego, descida continua dos salários dos cidadãos nacionais, submissão total ao capital internacional norte-americano, através da intermediária alemã Merkell, desmoronamento e menosprezo pela democracia (uma verdadeira chicana sobre o modelo parlamentar vigente), imposição do autoritarismo sobre os mais pobres e imigrantes, que o grande capital foi buscar e agora, com a crise, quer mandar pela borda fora.


A sopa dos pobres na República de Weimar






O debate actual


2 - Tal como os sociais-democratas de Ebert (e em menor escala o PCA, de Thallmann), existiu uma política de tolerância, e de não demarcação ideológica e política, com a direita - nessa altura, fizeram parte, numa primeira fase, de um governo com o centro católico e o partido popular, cujos programas muito se aproximavam dos nacionais-socialistas, numa segunda fase deixaram essa direita sozinha no poder e, numa terceira, não impediram mesmo uma aliança formal e de poder - Von Papen, ex-chanceler aceitou ser número dois de Adolf Hitler - entre aquela e o nacional-socialismo - que encimava a República de Weimar.

Tal como em França, mas agora, os sociais-democratas e socialistas europeus neste últimos anos permitiram que os partidos nazis-fascistas se tornassem *respeitáveis* e ascendessem, candidamente, aos poderes, primeiro na Áustria, em 2000, com a coligação entre o partido nazi (Partido da Liberdade da Áustria - FDO), de Jord Haider, já falecido, e o conservador Partido Popular Austríaco, de Wolfgang Schussel, a que se estenderam hoje, sem qualquer espécie de vergonha, dos partidos dominantes do "arco do poder", à própria governação dos países, casos da Noruega (o Partido Conservador, da primeira-ministra, Erna Solberg, está coligada com o partido nazi (Partido do Progresso - tem sete ministérios, em 18, incluindo a sua líder Siv Jensen, que controla o ministério-chave das Finanças), ou da Hungria, onde os fascistas, do FIDESZ, de Viktor Orban, e nazis, do JOBBIK, ganharam as eleições legislativas, com o apoio do grande capital. 

(Poder-se-ia aumentar a resenha, com o Partido da Liberdade Holandês (PVV), terceiro partido parlamentar, que sustenta a actual coligação no poder, em troca da repressão e o corte de direitos às minorias, não judias, - é apoiado pelo governo de Israel -, ou do grego Aurora Dourada, partido nazi, com milícias autorizadas, que massacram imigrantes e matam activistas anti-nazis, pelo actual governo de Samaras, conservador populista).

É nesta viragem para as práticas ditatoriais dentro da Europa, e no caso em apreço, em França, que surge o governo do primeiro-ministro Manuel Valls, um emigrante catalão que viveu nos subúrbios parisienses (muitos portugueses dos antigos bairros da lata conheceram-no então), que "subindo" no interior do PS, como "desclassificado" que renega as suas origens de "marginalizado" pelo poder dominante, se considera "diferente" dos compatriotas enfaixados em "bairros tipo bidonvilles de cimento", optando pela "ordem" do sistema policial francês. 

Ele - emigrante que singrou, oh, lá, lá- considera os seus pares emigrantes, mas, no presente, como "párias" de uma sociedade multicultural... 

Um renegado que se aproxima das teorias nazis, desprezando as origens humildes, como Salazar, Hitler ou Mussolini.

Segue os passos do seu padrinho colaboracionista, François Mitterrand.

Disfarça-se, agora, com o rótulo de socialista - que aliás despreza, dizendo-se, tempos atrás, social liberal (Valls), e isto com uma perspectiva, que pós em prática, como ministrio do Interior para reforçar o velho espectro do passado repressivo, sustentando que vai impulsionar um sistema novo, de rigor orçamental - ou seja cortes de salários, de direitos sociais - para, daqui a uns tempos, mostrar a repugnante face dos velhos aventureiros, como Piere Laval, socialista e pacifista na sua fase de inserção no sistema, que vai ocupando cargos, tornando-se, depois, conservador e, no auge da carreira, primeiro-ministro nazi do governo de Vichy.

Valls, certamente, reve-se no húngaro Orban.

2 - Falemos agora do conflito ucraniano. 

Parece nada ter a ver com o ascenso nazi na Europa ocidental. Mas vamos embrenharmo-nos por esse trilho. 

Ao analisarmos os acontecimentos na Ucrânia, temos de nos questionar, se no processo evolutivo das reivindicações e contestações que percorreram e percorrem aquele antigo país, se deu uma mudança no poder pela via da revolução. 

Ou se retrocedeu para a "máscara" do passado.

Depois centremo-nos nas movimentações ideológicas, políticas, sociais e económicas dos países exteriores que neles intervieram, claro que com motivações diferentes, e, e sublinhar o que de certo ou errado trouxe, de imediato, para o presente, e, essencialmente, para o futuro.

As lutas de rua sucederam-se, essencialmente, em Kiew, na Ucrânia, embora contivessem um espectro popular que buscava reverter uma melhoria do nível de vida, não estava orientada pelos seus principais protagonistas e organizadores para reter despeitos imperiais praticados pela Rússia de Putin.

Os protestos contra a governação de Viktor Yanakovich, ténues e centrados em Kiew, tinham apenas, no seu início, um cariz económico e provocado por uma política anti-popular.

De repente, adquiriram uma proporção inusitada quando o Presidente ucraniano protelou, a 21 de Novembro de 2013, um acordo de livre comércio e associação política com a União Europeia.

De um dia para outro, surgem homens armados e enquadrados por estruturas para-militares no centro da capital ucraniana, mas que não tem conseguido um alastramento nacional por todo o país, especialmente para Leste.

Por detrás de um movimento popular o centro das reivindicações virou-se, na prática, para uma divisão étnica ucraniana. 

Os para-militares (e os generais da região Oeste), que controlaram, na realidade, a queda de Yanakovich  fizeram ressurgir os "heróis" da Ucrânia nazi.


Desfiles nazi em Kiew





Partidários de Stepan Bandera, o lider do partido nazi ucraniano, durante a ocupação hitleriana, estão hoje no governo 

Os políticos europeus pró-imperialistas com a cobertura da NATO, em especial ingleses ( a baronesa Catherine Ashton, que intitula comissária da política externa UE) e norte-americanos, como o senador John McCain e a secretária de Estado adjunta Victoria Nuland, expoente dos nazis neo-conservadores na Administração Obama,... curioso não é - , aparecem a incentivar o derrube do governo eleito e a "entrada" sem qualquer pejo na UE e na NATO.

Facto que eles sabiam ser impossível, estando cerca de 25 mil soldados russos na Crimeira, a guardarem a principal base naval de toda a Grande Rússia.

Quer os Estados Unidos, quer os sectores pró-americanos da União Europeia, armaram, enquadraram e forjaram um "verdadeiro exército", recorrendo aos partidos nazis-fascistas ucranianos de leste e a "mercenários" encapotados, provavelmente, de eslavos das Repúblicas vizinhas da Rússia.


Senador John McCainn em comícío do partido nazi e em conversações com o seu líder Oleh Tyahnybok


Victoria Nuland e o senador McCain - um dos principais sustentáculos do lobby judaico no Congresso - estiveram em negociações com dirigentes de partidos nazis.

Certamente, os milhares de membros dos principais partidos nazis e para-nazis que estiveram na Praça Maiden, permanentemente, durante três meses acampados e a serem alimentados e munidos de armamento sofisticado, como misséis portáteis, não o faziam com o simples dinheiro de quotas.

O senador McCain discursou para dezenas de milhares de pessoas, enquadradas pelas estruturas militares daqueles partidos, a prometer o apoio directo e financeiro de Washington e, tinha a lata, de falar na própria União Europeia.

A neo-conservadora Victoria Nuland, que é a responsável pelos Assuntos Europeus na Secretaria de Estado, estabelecia, em Kiew, em conversa com o embaixador dos EUA naquele país, a formação de um novo governo, cujo lider dos partidos pró-nazis ou nazis teria de ser o mais próximo dos interesses capitalistas de Washington, e só de Washington.

A União Europeia, que irá ficar com a batata quente, nas mãos, porque a Administração Obama já se pôs ao largo, "que se foda" a UE, afirmou, muito diplomaticamente, a Nuland para o seu embaixador.

O escolhido de Nuland - logo de Washington - é o primeiro-ministro desse governo fantoche. Chama-se Arseniy Yatseniuk.

E que deu assentimento a toda a estrutura política, militar e de segurança.

O vice-primeiro-ministro chama-se e é um dos principais dirigentes do partido nazi Svoboda (Liberdade).

O ministro da Defesa, Igor Tenyuk, é um oficial-general da Armada da Ucrânia. 

Formalmente não surge filiado no partido Svoboda, mas participou nas reuniões da sua cúpula.

Em 2008, durante a guerra na Geórgia, colocou-se ao lado dos Estados Unidos e participou, como comandante militar-naval no bloqueio à base russa de Sebastopol, sendo elevado a vice-CEMA da Ucrânia.

No diferendo actual, quando surgiu como Ministro, a maior parte das forças navais da Crimeia recusaram obedecer-lhe.

Ministro da Educação, Serguei Kvit (Partido Svoboda).

Ministro dos Recursos Naturais e Ecologia, Andrei Mojnyk (Partido Svoboda).

Ministro da Agricultura e Alimentação, Igor
Chvaika (Partido Svoboda).

Ministro da Juventude e Desporto, Dimitry 

Bulatov (dirigente do partido nazi Auto-Defesa 

Ucraniana - UNA-UNSO).

Secretário do Conselho Nacional de Segurança, Andrey Parubiy, que ficou com o controlo supremo do Ministério da Defesa e das Forças Armadas. 

É co-fundador do Partido Nacional-Socialista da Ucrânia.

Secretário-adjunto do Conselho Nacional de Segurança e Defesa, Dimitry Yarosh, lider da formação nazi Stepan Bandera e do partido Sector da Direita.

Participou, nas fileiras dos islamistas, na guerra da Tchétchénia. Ligado ao chamado emir do Cáucaso do Norte, Doku Umarov.

Procurador-Geral da Ucrânia, Oleg Maknitsky, dirigente do Partido Svoboda.

Presidente da Comissão Nacional Anti-corrupção, Tatiana Chornovol, dirigente do UNA-UNSO.

Como se pode verificar todo o poder de Estado, na Ucrânia revoltada, está assente no regresso ao passado. Foi espicaçado por reividnicações populares para subverter um regime, que corrupto ou não, assentava nas estruturas, que teoricamente, os bravos democratas norte-americanos propagandeiam e destroem quando a sua política interna "de conquista de espaço vital" é posta em causa. 

Seriam necessárias novas eleições.

Mas nada que tenha ou tivesse um espírito de revolução, de salto para um sociedade diferente, de ruptura social, sucedeu.

Este evento está na trajectória de todos os outros que estão a "preencher" as repúblicas do Leste europeu, numa "parceria" organizada com o grande capital financeiro centrado em Wall Street.

Este atiçou o fogo do "nacionalismo" ucraniano, tal como o fez na Hungria, na Letónia, Estónia e Lituânia, na Eslováquia, e deixou a "criança" a chorar nas mãos dos proxenetas europeus desse capitalismo.

Querem a desagragação e o enfraquecimento do sentimento de unidade europeia, pelo empobrecimento, pela manipulação, e, em último caso, pela guerra.

Mas quem vai financiar a mudança de poder na Ucrânia, sem a participação das suas regiões mais ricas de Leste?

Eles, os norte-americanos, já zarparam para o outro lado do Atlântico. 

Agora estão à espera que recrudesça a crise na região ucraniana.

Só que o mundo concorrencial, encontrou, neste momento, uma multiplicidade de pólos de resistência que não aceitam os ditames de Washington, de mão beijada.

A Rússia está a afirmar aos norte-americanos que não é uma mera "potência regional", mas que influi, directa ou indirectamente, em todos os pontos do planeta, incluindo na própria UE. 

E acima de tudo, em Wall Street.

Petróleo, gás, e mesmo investimentos bancários dixit. 

Basta por em prática o que ameaça fazer: mudar a moeda de troca, o dólar pelo euro.

Os sul-americanos não estão a deixar mexer os Estados Unidos na crises nos países da região, com destaque para a Venezuela.

A China está a impor-se, cada vez mais, como presença permanente - militar e economicamente - em todo o Extremo-Oriente, incluindo o Japão.

Os acontecimentos da Ucrânia não podem ser considerados pela "máfia" política, dita democrática, que governa a UE, que foi um evento espontâneo da população, que se deixou depois manipular.

Nem se tratou - na sua argumentação - de uma acção política organizada para colocar, no poder, um regime retrógrado, que alargou a penetração do novo nazi-fascismo na Europa, sob a batuta do lumpem grande capital que está, sob a forma de uma ditadura de dois partidos da oligarquia dominante e nazi, a ser gerido a partir dos Estados Unidos.

Em política, o que é, é mesmo.

Nem sequer pode argumentar que o regime russo "anexou" a Crimeia, porque na prática ele já estava lá, em permanência. 

Grande parte do seu poder naval está ali instalado, há centenas de anos, e uma parte da Ucrânia é um território-tampão, para as ambições "de espaço vital" dos oligarcas norte-americanos.

O que é certo é a a Rússia não foi apanhada de surpresa, nem se intimidou, passou de imediato ao ataque, facto que está a levar a efeito em todos os "espaços" de geo-estratégia que lhe interessam.

E isso aconteceu, justamente, a partir da intervenção e ocupação dos EUA/NATO do território jugoslavo do Kosovo.

Hesitaram ainda na Líbia, mas não o fizeram na Síria, nem na Geórgia, nem agora na Ucrânia.

O que está a suceder nesta parte do Mundo, mas também no Médio-Oriente com o Irão, na América Latina, com a criação do Mercosur e da UNASUR, bem como o papel intimidatório da China na política do Pacífico e do Índico, são indícios mais que suficientes de uma nova época.

É, pois um evento que vai ser marcante na História Mundial.

A Ucrânia poder vir a ser um rastilho de uma guerra regional, mas as intervenções armadas dos norte-americanos trar-lhe-ão mais dissabores.

Um facto deste acontecimento temos também de destacar: além da economia, da política e da geo-estratégia, houve, neste assunto, uma pressão enorme dos grandes complexos industriais militares, que do lado dos Estados Unidos, quer a Rússia.

A crise capitalista que foi despoletada muito também pelo crescimento desmesurado do militarismo, em especial norte-americano, estava a obrigar a desviar dinheiros orçamentais do sector armamentista para acudir aos problemas internos de desigualdade e pobreza crescente.

Esses complexos industriais-militares estão a forçar os governos de Washington e de Moscovo, mas também de outros pólos concorrenciais a entrar, com mais força, na corrida militarista.


O sufoco de novos encargos castrenses aprofundarão a ruína dos grandes Estados. 


E talvez mais rapidamente do que se pensa.


Germina, quer se queira, quer não, mais lenta ou mais depressa, a destruição do sistema estatal tal como o conhecemos no século XX.









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