quarta-feira, 8 de abril de 2015

O MUNDO MULTIPOLAR ESTÁ AÍ. O QUE VIRÁ DEPOIS?

1 – O que se movimenta por detrás da persistente crise económica-financeira da lumpem grande burguesia capitalista mundial, as divergências acentuadas de potências burguesas, conclaves forjados para impor sanções económicas, visando obter vantagens políticas, o fomento por interpostos Estados menores em guerras sangrentas locais?

Podemos analisar, este ou aquele caso concreto, este ou aquele caso de intervenção política desastrada, principalmente da potência política e económica dominante, mas a questão que se tem de observar, com rigor e perspicácia, é a evolução real da burguesia capitalista neste último século.

E a partir daqui discernir que o que é determinante  no estado da situação económica mundial e o que pode estar a mudar.

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2 – Ao analisarmos o que se está a passar nos diferentes Estados europeus, que enquadram a UE, os conflitos sangrentos em todo o Próximo e Médio Oriente, as divergências políticas dentro do sistema oligárquico norte-americano, os movimentos militaristas e pró-nazis quer em certos países do leste europeu e no Japão, a pescadinha de rabo na boca de um pretenso relançamento financeiro e cambial nos Estados Unidos, sem haver uma correspondência real no aumento da competitividade e incremento da economia real do país, temos de escalpelizar como se efectuou o processo histórico da evolução do capitalismo mundial desde a primeira crise do petróleo, situada, grosso modo, em 1973.

A crise petrolífera não nasceu, nem se diversificou, porque estiveram por detrás somente acções políticas como determinantes em toda a movimentação, muito dela já hoje histórica.

A crise petrolífera, aliada à desregulamentação total, propositada, do sistema monetário internacional capitalista, sob os auspícios de Wall Street, com mais duas crises sucessivas na área dos petróleos (179 e 1980), veio fazer alastrar uma crise económica mundial de grandes proporções, cujo beneficiário principal foi um sector específico dessa burguesia, a grande burguesia financeira especulativa.

Ela veio a dominar tudo, estando, todavia, ainda, em permanência, virtualmente, os acordos de Bretton-Woods, mas ganhou especial incidência após a desagregação da ex-URSS.

A moeda norte-americana tornou-se, na sequência da crise petrolífera, a principal unidade de troca internacional, e com este facto a lumpem grande burguesia norte-americana ditou, imperialmente, os seus ditames económicos de supremacia.

Ela dominou a bolsa, a especulação financeira, a produção e distribuição petrolíferas, os mercados (legais e ilegais) das matérias-primas, os complexos monumentais agro-pecuários, o enquadramento internacional dos instrumentos castrenses, através da sua dispersão por ocupações e lançamento de bases militares em mais de 180 países.

Claro com a protecção castrense da NATO, um instrumento de monstruosidade de força, mas que somente subsistiu, até agora, porque ela custou um balúrdio de dinheiro, não só, mas principalmente, ao povo norte-americano, mas também aos seus serviçais europeus e canadianos.

(O militarismo norte-americano, embora pareça que serve de alimento permanente  a uma parte da sua indústria, na realidade está a devorar os EUA – O Orçamento castrense visível do Pentágono para 2015 - existe um invisível para operações encobertas - é de cerca de 500 mil milhões de dólares, para manter uma estrutura militar e um corpo de soldados permanentes que ultrapassa os 520 mil.

Os EUA gastam mais com as suas Forças Armadas do que os outros 10 países considerados no escalão superior de despesas).

Wall Street – que se foi aliando progressiva e sistematicamente com o capitalismo internacional do Vaticano – enquadrou nos anos 70 todo o sistema político europeu (em cumplicidade directa e criminosa com os partidos sociais democratas e, alguns que se apelidavam como comunistas – Itália, França, Espanha, Portugal, Suécia, entre outros), mas produziu e forçou, ao mesmo tempo, o fomento de uma evolução mundial da burguesia capitalista de raiz liberal a, praticamente, todo o planeta, desde a China (com início na parceria entre Mao Tse Tung e Richard Nixon) até à Rússia, com a ascensão da clique pró-soviética da troica liberal formada, nos primórdios entre Gorbatchov, Yeltsin e Romanov, passando, mais tarde pelos países que se libertaram do colonialismo em África e no Extremo-Oriente, com Angola, Moçambique, Vietname, Laos, Cambodja, etc.



3 – A crise económica larvar do grande capital financeiro foi-se agravando, pois ao mesmo tempo que se expandia a industrialização (a chamada deslocalização) a baixo preço e em quantidades *industriais* nos chamados países emergentes e de «terceiro mundo» comprimiu-se, melhor dizendo, travou-se, gradualmente, o crescimento nos grandes países industriais ocidentais, com destaque para os EUA.

Todavia, esta ascensão da grande burguesia capitalista e do seu aparente sucesso de conseguir *fazer medrar* um certo bem-estar ocidental, principalmente, entre os finais dos anos 60, todo a década seguinte e grande parte da de oitenta do século XX deu-se, porque na sua peugada estavam as classes laboriosas em fermentação.

Ou seja, esse lumpem de *ricaços* estava acossado – anos 60/70 - com uma ascensão de movimentos de libertação nacional e colonial, bem como de luta económicas e políticas das classes trabalhadoras, em particular na Europa (Maio de 1969 em França, com ramificações mais moderadas na Itália e Inglaterra, quedas dos regimes fascistas em Portugal, Espanha e Grécia, movimentações sociais nos EUA, luta anti-ditatoriais na América Latina, desde o Chile, ao Brasil, passando pelo Uruguai e Argentina).



Contudo, estes movimentos, embora por vezes radicais ou radicalizados, não pressupunham um programa revolucionário de ruptura económica e política, e foram sendo amarfanhados ou derrotados, não porque a Revolução tivesse desaparecido, mas porque, essencialmente, o que estava a ser contestado, nos seus programas, eram os resquícios pré-revolucionários que a Revolução Soviética (formada por uma movimentação popular maioritariamente camponesa e imbuída de ilusões quanto a uma destruição rápida do capitalismo a partir de *um só país*) erigiu, tal programa e +praxis+, como modelo único, sem contestação do que seria uma Revolução Socialista).

A expansão do capitalismo industrial a uma grande parte do planeta nestes 30 a 40 anos trouxe, naturalmente, consigo o incremento das classes laboriosas urbanas.

E tal facto, desenvolveu, ainda que lenta, mas progressivamente, o seu enraizamento social e reivindicativo nas sociedades que se tornaram, abertamente, capitalistas.

Não existiu, é certo, uma noção entre esses assalariados de que seria necessária uma revolução para transformar as relações de produção, mas fez aparecer e crescer a necessidade material de se empreender uma acção diferente, mais corajosa, em torno da defesa e conquista de bem-estar, e, acima de tudo, de começar a obter consciência da sua própria capacidade de lutar por si próprios.

No meio de um largo período, em que a grande burguesia financeira capitalista se impôs e efectivou, até à exaustão, a sua prática contra-revolucionária, deram-se dois acontecimentos que puseram em marcha um descontentamento generalizado que hoje se traduz num impasse na própria existência dessa lúmpen burguesia: 

a crise económica e financeira de 2001 e, principalmente a grande crise mundial financeira, primeiro, depois económica, de 2007/08.

4 – Com estas crises, os países em industrialização crescente em contra-ponto com a arrogância, atingida e desarticulada do grande capital financeiro norte-americano, criaram *focos de resistência* anti-imperialista norte-americana fazendo frente ao potentado capitalista de Wall Street.

Deu-se, portanto, uma revolta – primeiro, estribada nas vantagens económicas que esses grandes países adquiriram no mercado mundial, e, em segundo, a sua capacidade de acumulação de Capital, que um período florescente anterior, primordialmente devido aos valores das matérias-primas e aos preços que conseguiram tornar competitivos no mercado comercial, a apostarem nos encargos e modernizações das estruturas castrenses.

E a nova relação de forças, que emergiu na sociedade planetária, está interligada a uma nova pujança multipolar militar, que, apesar de colocar as potências em compassos de espera no desenvolvimento industrial e comercial (por fraquezas várias), de buscas de novas alianças, de perspectivas de relançamento de novos sistemas de trocas cambiais e até de sistema financeiro, conduziu, isso sim, a uma entrada colossal de dinheiro nos complexos industriais-militares.

Mas, também, está a produzir o seu contrário: o sistema da grande burguesia capitalista está a ficar *estrangulado* com as dívidas monumentais.

Ora, a *desmatação* que a crise económica e financeira de 2007/08 causou nos sistemas de desenvolvimento industrial, agro-industrial e comercial em todo o mundo está a fazer vir ao de cima a impotência do domínio absoluto do lúmpem grande capital financeiro.

Na realidade, a fraqueza da burguesia, como classe, está a despertar uma nova consciência quer nas reivindicações das classes laboriosas internacionais, quer, inclusive, no insatisfação com as ultrapassagens anti-democráticas das culturas e sentimentos nacionais dos explorados.

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O que se deu, real e principalmente, desde a crise de 2007/08 foi –e é – a incapacidade da burguesia (e o seu sector mais rapace) de reformar um poder político que aprofunde uma nova base democrática.

Nota-se que vai haver um tempo ainda em que a burguesia poderá governar tendo nos calcanhares as reivindicações crescentes das classes trabalhadoras.

Mas, este tempo terá, todavia, um término, abrupto ou não, com a entrada de um furacão revolucionário.

O período actual de adormecimento subversivo poderá acordar. em breve, mas somente terá consequências se um progresso programático revolucionário começar a germinar internacionalmente.

E esta nova realidade não nascerá por geração espontânea, terá de ser conquistada, não só contra o capitalismo financeiro dominante, mas também contra as ilusões ultrapassadas de que a democracia revolucionária poderá nascer dentro do próprio regime actual.

Tem de ser construído um amadurecimento teórico para dar corpo a uma ruptura coerente, ruptura esta – com ou sem coerência – virá, no entanto, em tempos que não serão muito distantes.

1 comentário:

  1. Descobri o seu blog há pouco tempo e estou fascinado com a clareza como expõe as matérias. Estou a aprender muito aqui.

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