1 –
Através dos grandes meios de comunicação social, o actual Presidente da
República de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, foi elevado ao estatuto de
*Messias*, o salvador da Pátria, fazendo acreditar que a sua ascenção ao cargo,
que vai desempenhar, é obra de um indivíduo especial com um carisma fora do
normal que o impulsiona para desempenhar uma missão sem paralelo na História de Portugal.
Rebelo
de Sousa representa interesses, representa classes sociais, e, no caso
presente, ele surge como o *candidato do regime* que não teve qualquer oponente
de ruptura com esse regime.

Ele
pretende, pois, exercer o cargo para sustentar um regime que está em perigo.
Que o seu antecessor contribuiu para fazer com que o descrédito desabasse sobre
ele.
Rebelo de Sousa vestiu, portanto, novas vestes.
Procurou, e procura, transvestir-se em Messias, o amigo de todos, o homem dos consensos, o reformador
do regime.
A
sintonia do regime com Marcelo está, pois, em sintonia dos seus órgãos de
comunicação social.
Todos
os candidatos – mas todos, desde Mariza Matias (BE) a Edgar Silva (PCP/CDU) –
se enquadraram na defesa da Democracia e da Constituição.
Ora,
Rebelo de Sousa é um dos artífices da actual Constituição e do seu conteúdo
classista burguês.
As
revisões constitucionais desde 1976, todas elas, foram feitas para legalizar as
estruturas económicas do capital financeiro, que domina hoje todas as esferas
do Estado português.
Nelas pontificou, precisamente, o professor de Direito
Constitucional Marcelo Rebelo de Sousa.
2
– O *messianismo* marcelista é exactamente o mesmo que elevou Cavaco Silva à
liderança do PSD em 1985, com o apoio directo e entusiástico de Marcelo Rebelo
de Sousa, que fazia parte da chamada tendência *Nova Esperança*, com José
Miguel Júdice, Durão Barroso e Pedro Santana Lopes.

Era
na altura esta *Nova Esperança*, o centro ideológico de combate à então
Constituição e, principalmente, ao governo de coligação PS/PPD/PSD, que estava na fase de adesão à CEE, que,
conjuntamente, com Cavaco Silva e os seus seguidores (Eurico de Melo)
criticavam essa adesão.
Foram,
pois, eles – Nova Esperança - os construtores do papel de *Salvador da Pátria*
que institucionalizou Cavaco Silva no governo, sendo, portanto, os apologistas
cimeiros da *transformação* do Estado português numa marioneta do capital
financeiro (privatizações bancárias e seguros, grandes empresas, predomínio
bolsista especulador, reconstituição do latifúndio, destruição da produção
piscícola).
3
– A derrota do processo revolucionário em 25 de Novembro de 1975 abriu as
portas à implantação da chamada Democracia, ou seja a República que a grande
burguesia desejava para implantar o seu modelo económico capitalista.
Ora,
a questão da implantação de um novo sistema político que a Constituição de 1976
preconizava, com a apropriação dos meios de produção e distribuição, com o
golpe de Estado novembrista, deixou de estar, desde aquela data, na ordem do
dia.
Os
partidos que o defendiam foram, paulatinamente, adaptando-se a essa realidade,
e, tacitamente, aceitando-a.
A
questão da revolução abrilista como processo socialista deixou de o ser, desse
modo, com os anos de distanciamento, uma questão portuguesa, como o deixou de
ser europeia.


O
regime democrático tornou-se assim uma república do Capital e este estabeleceu-se,
até agora, com todo o seu autoritarismo no espaço europeu, desprezando direitos
nacionais, os interesses das classes trabalhadoras. O capital financeiro
alastrou como uma sanguessuga sobre a União Europeia.
Ora,
a capitulação dos antigos partidos ditos de esquerda ao *arco* do regime, à
depreciação de um programa revolucionário socialista, tendo-se inserido numa
*ala esquerda* dentro do regime de democracia, levou ao alheamento das classes
trabalhadoras.
Com
os partidos ditos radicais dentro da ordem estabelecida, - e o apoio
envergonhado ao actual governo o demonstra - a consciência política dilui-se.
As
classes trabalhadoras sentiram essa realidade, quando no rescaldo do 25 de
Novembro viram os partidos que se reclamavam do poder socialista representados
então no Parlamento – PS, PCP e UDP – aceitarem *o status quo*, com mais ou
menos esbracejamento, estabelecido pelos organizadores do golpe de Estado
novembrista.
As
suas lutas, os seus protestos, as suas proclamações, pautaram-se sempre, desde
então, nos limites da Constituição. Ou seja, dentro da ordem novembrista.
Toda
a movimentação que se seguiu, inclusive, as lutas dos últimos quatro anos, que
fizeram crescer um partido como o Bloco de Esquerda, como esperança, se balizou
nesse estreito caminho dessa democracia. Da ordem.
Embrulharam-se
numa falsa *política prática progressista* de respeitabilidade. Olharam
essencialmente para a reforma, desprezaram a revolução.
4
– Com a crise mundial em crescendo, o
conflito de interesses sociais ir-se-á aprofundar e irá estilhaçar em múltiplas
facções os partidos desse regime democrático.
O que
irá resultar desse processo? A evolução será ditada pelas condições materiais e
pelas circunstâncias políticas.
Para
os interesses das classes trabalhadoras, o essencial é ter um programa de
ruptura, de caminho de um novo regime.
Naturalmente,
se houver um pendor político a seu favor, elas irão intervir. Actuarão conforme
os acontecimentos. É certo.
Todavia,
com um rumo definido, com programa político inserido num movimento crescente
com consciência ideológica, o avanço da defesa dos seus interesses cimentar-se-á
rapidamente e terá capacidades imediatas de vencer e subsistir. O tempo o vai
dizer.
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