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- As nuvens de uma crise económica, política e social de envergadura pairam
sobre o actual sistema capitalista mundial, dos Estados Unidos à China,
passando pela União Europeia (UE).
A
ameaça da actual crise não está isolada da crise financeira-económica de
2007/08, provocada pelo capital financeiro a partir dos Estados Unidos da
América, que procurou fazê-la recair,
essencialmente, sobre a UE.
No
passado mês de Março, os sinais premonitórios vieram, novamente, do sistema
financeiro ocidental.
No
principio do mês, o alerta veio de dois grandes bancos, um do Reino Unido,
o Royal Bank of Scotland
(RBS), o outro dos Estados Unidos da América, JP Morgan.
Ambos
admitem uma perspectiva sombria para a economia mundial, com um cenário
"semelhante a 2008".
Os
dois grandes bancos recomendaram aos investidores capitalistas que façam rapidamente
a venda das suas acções.
O
Royal Bank of Scotland (RBS), inclusive, encorajou os investidores a
desfazer-se de tudo, excepto títulos de dívida (bonds) de alta qualidade.
Já
o JP Morgan coloca de lado mesmo o mercado de acções e, pela primeira vez em
sete anos, recomenda aos seus clientes vender acções «a qualquer sinal de
turbulência».
O
RBS, por seu turno, sustenta mesmo que se vai estar perante em «ano bastante
devastador».
Alguns
dias depois, a presidente do FED (o banco central norte-americano), Janet
Yellen, afirmou-se preocupada com o cenário da economia mundial, em particular,
a norte-americana, que está, praticamente, estagnada.
Ao
depor perante o Congresso dos Estados Unidos, Yellen alertou que a queda nas
bolsas mundiais deve tornar mais lento o processo de alta dos juros americanos.
A declaração acentua as suspeitas de crise nos mercados globais.
Esses
mercados mundiais, na perspectiva do capitalismo norte-americano, perderam
cerca 12 biliões de dólares em valor comercial desde o início do ano. Os
grandes bancos admitem mesmo o risco de uma recessão económica nos Estados
Unidos. (A actual +viragem+ dos políticos republicanos candidatos presidenciais
para um processo de fascização do regime norte-americano está em sintonia com
esta realidade: o capital financeiro procura a salvação no poder político).

2 –
A crise capitalista económica-financeira de 2007/08 teve particularidades que,
na actualidade, atingem maiores proporções, pois o seu processo produtivo está
em fase de ruptura com as relações de produção que indiciam uma inversão no
incremento das forças produtivas que já não se enquadram nos limites de um
sistema social capitalista.
Nestes
quase 10 anos de crise contínua, que se agrava, ocorreram, no entanto,
situações novas que se devem assinalar.
Mas,
permanece uma *obsessão* que os Estados Unidos da América sobre o
aprisionamento e controlo da União Europeia.
Em
2008, foi um ataque directo ao sistema financeiro, e, particularmente ao
enfraquecimento do euro como moeda de troca mundial alternativa ao dólar.
Na
actualidade, assiste-se a uma conjugação económico-social de procura, novamente, de
enfraquecimento da unidade da UE: um fluxo migratório descontrolado fomentado (e
em sintonia) pelo aliado ocidental dos EUA/NATO, a Turquia, a ameaça da saída
da União do Reino Unido, aliado preferencial norte-americano (a razão principal
é manutenção - sem interferência do Eurogrupo - da City londrina, parceira de
peito da Wall Street), e ataques concertados do lado norte-americano à
indústria automóvel e ao grande banco Deustche Bank, ambos alemães, a pretexto de
ilegalidades.

Tal
como em 2007/2008, a razão principal está no euro como moeda alternativa ao
dólar (euro este que resistiu e, apesar das incertitudes presentes parece
resistir e restabelecer-se, ainda que lentamente) e no imenso mercado europeu –
a UE continua a ser a principal potência comercial, que atrai novos países ao seu
território -Bósnia-Herzegovina, Turquia, Macedónia, Montenegro e Sérvia).
/A
UE só avançará na sua caminhada para um grande espaço político se restabelecer
a cooperação harmónica interna e se separar, militarmente, dos EUA/.
3 –
Reflictamos sobre as situações novas surgidas desde o início da crise de
2007/8.
Fortaleceram-se
potências e grupos de potências face à hegemonia norte-americana: a China
evoluiu no seu processo produtivo, adquiriu o estatuto de potência comercial e
incrementou grandemente o seu arsenal castrense; a Rússia, apesar da crise
petrolífera, transformou-se em potência militar capaz de influenciar, no Mundo,
a geo-estratégia em confronto, sem peias, com os Estados Unidos; através da
parceria estratégica económica e financeira russo-chinesa, impulsionou-se a
formação dos chamados BRICS (Building Better Global Economic´s), que junta
ainda a Índia, Brasil e África do Sul, economias que procuram forjar uma moeda
de troca fora da influência do dólar.
Na
actual fase da crise do sistema capitalista, o que é novo e mostra o seu
aprofundamento, ele está a atingir não só as economias ditas +ocidentais+, mas
igualmente as emergentes dos BRICS.
E
todos essas potências estão dominadas por um militarismo concorrencial
exacerbado, que as leva a desviar dinheiro, crescentemente, para os seus
complexos industriais castrenses, contribuindo, deste modo, para a bancarrota
geral.
4 –
É nos Estados Unidos da América, ameaçados pela possível recessão imediata,
pela estagnação continuada do seu processo produtivo industrial, pelo
desemprego profundo e pela falência de grandes cidades da indústria, como
Detroit, que surge, pela primeira vez, na sua História, um programa de um
candidato presidencial do regime, de uma ala do Partido Democrático, que admite
a possibilidade de haver uma *revolução política* e instituir no país um modelo
+socialista+ (claro que numa versão social-democrata) de governação.

O
colapso económico-financeiro norte-americano também surge, por outro, indiciário na candidatura presidencial republicana, especialmente, em torno de
Donald Trump e Ted Cruz, que preconizam uma fascização do sistema político em
defesa declarada de Wall Street.
É,
precisamente, na questão de alternativa face ao agudizar da crise económica e
social que se coloca a questão que se poderá colocar: que novo sistema político
irá surgir?
Existe
no Mundo, mas de maneira evidente na Europa, berço das grandes revoluções
socialistas, uma corrente política e social que preconiza uma *mudança* face
aos regimes representantes do capital financeiro.
Mas,
esta corrente, que se agrupa em partidos, tipo Bloco de Esquerda, PCP
(Portugal), Podemos (Espanha), Syriza (Grécia), Partido de Esquerda (França), a
Esquerda (Alemanha), Sinn Féin (Reino Unido e Irlanda) e Partido da Esquerda
(Suécia) circunscrevem os seus programas políticos na arena da Democracia, ou
seja são uma *ala esquerda* dos regimes instítuidos.
Se
houver um colapso do actual sistema capitalista, e, irromperem processos
revolucionários – e eles irão aparecer de uma maneira ou de outra – o seu sucesso
será inserto, se não forem apresentados, com clareza, programas
revolucionários, que rompam com o marasmo político actual.
Não vejo Sanders a ganhar estas eleições, embora queira muito vê-lo na Casa Branca, porque, talvez, um talvezinho, com ele as coisas possam começar a mudar nos States, o que significa que começaria a mudar no resto do mundo ocidental. No entanto, a hidra capitalista é mais forte que o Sanders e toda a ideologia socialista. Os donos da Wall Street, os bancos e as multinacionais que controlam o mundo não se deixarão abalar pelo Sanders.
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