terça-feira, 8 de março de 2016

O *SOCIALISMO* DE SANDERS É PRENÚNCIO DO COLAPSO DO CAPITALISMO DE WALL STREET?


1 - As nuvens de uma crise económica, política e social de envergadura pairam sobre o actual sistema capitalista mundial, dos Estados Unidos à China, passando pela União Europeia (UE).

A ameaça da actual crise não está isolada da crise financeira-económica de 2007/08, provocada pelo capital financeiro a partir dos Estados Unidos da América, que procurou fazê-la  recair, essencialmente, sobre a UE.

No passado mês de Março, os sinais premonitórios vieram, novamente, do sistema financeiro ocidental.

No principio do mês, o alerta veio de dois grandes bancos, um do Reino Unido, o Royal Bank of Scotland (RBS), o outro dos Estados Unidos da América, JP Morgan.

Ambos admitem uma perspectiva sombria para a economia mundial, com um cenário "semelhante a 2008".

Os dois grandes bancos recomendaram aos investidores capitalistas que façam rapidamente a venda das suas acções.

O Royal Bank of Scotland (RBS), inclusive, encorajou os investidores a desfazer-se de tudo, excepto títulos de dívida (bonds) de alta qualidade.

Já o JP Morgan coloca de lado mesmo o mercado de acções e, pela primeira vez em sete anos, recomenda aos seus clientes vender acções «a qualquer sinal de turbulência».

O RBS, por seu turno, sustenta mesmo que se vai estar perante em «ano bastante devastador».

Alguns dias depois, a presidente do FED (o banco central norte-americano), Janet Yellen, afirmou-se preocupada com o cenário da economia mundial, em particular, a norte-americana, que está, praticamente, estagnada.

Ao depor perante o Congresso dos Estados Unidos, Yellen alertou que a queda nas bolsas mundiais deve tornar mais lento o processo de alta dos juros americanos. A declaração acentua as suspeitas de crise nos mercados globais.

Esses mercados mundiais, na perspectiva do capitalismo norte-americano, perderam cerca 12 biliões de dólares em valor comercial desde o início do ano. Os grandes bancos admitem mesmo o risco de uma recessão económica nos Estados Unidos. (A actual +viragem+ dos políticos republicanos candidatos presidenciais para um processo de fascização do regime norte-americano está em sintonia com esta realidade: o capital financeiro procura a salvação no poder político).


2 – A crise capitalista económica-financeira de 2007/08 teve particularidades que, na actualidade, atingem maiores proporções, pois o seu processo produtivo está em fase de ruptura com as relações de produção que indiciam uma inversão no incremento das forças produtivas que já não se enquadram nos limites de um sistema social capitalista.

Nestes quase 10 anos de crise contínua, que se agrava, ocorreram, no entanto, situações novas que se devem assinalar.

Mas, permanece uma *obsessão* que os Estados Unidos da América sobre o aprisionamento e controlo da União Europeia.

Em 2008, foi um ataque directo ao sistema financeiro, e, particularmente ao enfraquecimento do euro como moeda de troca mundial alternativa ao dólar.

Na actualidade, assiste-se a uma conjugação económico-social de procura, novamente, de enfraquecimento da unidade da UE: um fluxo migratório descontrolado fomentado (e em sintonia) pelo aliado ocidental dos EUA/NATO, a Turquia, a ameaça da saída da União do Reino Unido, aliado preferencial norte-americano (a razão principal é manutenção - sem interferência do Eurogrupo - da City londrina, parceira de peito da Wall Street), e ataques concertados do lado norte-americano à indústria automóvel e ao grande banco  Deustche Bank, ambos alemães, a pretexto de ilegalidades.


Tal como em 2007/2008, a razão principal está no euro como moeda alternativa ao dólar (euro este que resistiu e, apesar das incertitudes presentes parece resistir e restabelecer-se, ainda que lentamente) e no imenso mercado europeu – a UE continua a ser a principal potência comercial, que atrai novos países ao seu território -Bósnia-Herzegovina, Turquia, Macedónia, Montenegro e Sérvia).

/A UE só avançará na sua caminhada para um grande espaço político se restabelecer a cooperação harmónica interna e se separar, militarmente, dos EUA/.

3 – Reflictamos sobre as situações novas surgidas desde o início da crise de 2007/8.

Fortaleceram-se potências e grupos de potências face à hegemonia norte-americana: a China evoluiu no seu processo produtivo, adquiriu o estatuto de potência comercial e incrementou grandemente o seu arsenal castrense; a Rússia, apesar da crise petrolífera, transformou-se em potência militar capaz de influenciar, no Mundo, a geo-estratégia em confronto, sem peias, com os Estados Unidos; através da parceria estratégica económica e financeira russo-chinesa, impulsionou-se a formação dos chamados BRICS (Building Better Global Economic´s), que junta ainda a Índia, Brasil e África do Sul, economias que procuram forjar uma moeda de troca fora da influência do dólar.

Na actual fase da crise do sistema capitalista, o que é novo e mostra o seu aprofundamento, ele está a atingir não só as economias ditas +ocidentais+, mas igualmente as emergentes dos BRICS.

E todos essas potências estão dominadas por um militarismo concorrencial exacerbado, que as leva a desviar dinheiro, crescentemente, para os seus complexos industriais castrenses, contribuindo, deste modo, para a bancarrota geral.

4 – É nos Estados Unidos da América, ameaçados pela possível recessão imediata, pela estagnação continuada do seu processo produtivo industrial, pelo desemprego profundo e pela falência de grandes cidades da indústria, como Detroit, que surge, pela primeira vez, na sua História, um programa de um candidato presidencial do regime, de uma ala do Partido Democrático, que admite a possibilidade de haver uma *revolução política* e instituir no país um modelo +socialista+ (claro que numa versão social-democrata) de governação.


O colapso económico-financeiro norte-americano também surge, por outro, indiciário na candidatura presidencial republicana, especialmente, em torno de Donald Trump e Ted Cruz, que preconizam uma fascização do sistema político em defesa declarada de Wall Street.

É, precisamente, na questão de alternativa face ao agudizar da crise económica e social que se coloca a questão que se poderá colocar: que novo sistema político irá surgir?

Existe no Mundo, mas de maneira evidente na Europa, berço das grandes revoluções socialistas, uma corrente política e social que preconiza uma *mudança* face aos regimes representantes do capital financeiro.

Mas, esta corrente, que se agrupa em partidos, tipo Bloco de Esquerda, PCP (Portugal), Podemos (Espanha), Syriza (Grécia), Partido de Esquerda (França), a Esquerda (Alemanha), Sinn Féin (Reino Unido e Irlanda) e Partido da Esquerda (Suécia) circunscrevem os seus programas políticos na arena da Democracia, ou seja são uma *ala esquerda* dos regimes instítuidos.

Se houver um colapso do actual sistema capitalista, e, irromperem processos revolucionários – e eles irão aparecer de uma maneira ou de outra – o seu sucesso será inserto, se não forem apresentados, com clareza, programas revolucionários, que rompam com o marasmo político actual.




1 comentário:

  1. Não vejo Sanders a ganhar estas eleições, embora queira muito vê-lo na Casa Branca, porque, talvez, um talvezinho, com ele as coisas possam começar a mudar nos States, o que significa que começaria a mudar no resto do mundo ocidental. No entanto, a hidra capitalista é mais forte que o Sanders e toda a ideologia socialista. Os donos da Wall Street, os bancos e as multinacionais que controlam o mundo não se deixarão abalar pelo Sanders.

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