terça-feira, 6 de setembro de 2016

G 20: O +NOVO+ CAMINHO CAPITALISTA VAI ESTAR ENQUADRADO POR *ZONAS DE INFLUÊNCIA*?

1 –  A guerra de conquista e divisão na Síria entrou numa nova fase de violência, precisamente, quando, aparentemente, o inimigo «jurado» de todas as partes envolvidas – chamado Estado Islâmico - parecia estar a claudicar, rapidamente, nos últimos meses.

Porquê esta repentina escalada da violência quando o Exército legal sírio cerca a cidade mais populosa do país, Alepo, e se apresta para atacar Raqa, a chamada capital do EI?

A Síria – e também o Iraque – é o «cadinho» onde se está a definir uma nova geopolítica mundial, que pode determinar a queda rápida da antiga única superpotência (económica e militar), que se confronta com uma nova realidade social: a actual fase do modelo de produção capitalista está a chegar ao fim.

A Síria tem sido o palco guerreiro de experiências castrenses da mais alta tecnologia dos últimos tempos.

Talvez, comparativamente, mais do que sucedeu no Vietname e no Camboja nos anos 60/70 do século passado. 

O que transforma o território num espaço de testes militares em nível mais elevado (quem experimentava na Indochina, então, essencialmente, a alta tecnologia eram os Estados Unidos da América) é o facto das principais potências militares mundiais e as potências regionais, bem como grupos paramilitares que podem vir a ter maior intervenção futura no Médio-Oriente, como o Hezbolá libanês, actuarem, frenética e num espaço de tempo curto, em alianças e contra-alianças – e compromissos tácticos no terreno – aparentemente para buscar benefícios nacionais em eventuais divisão de despojos.

(Repare-se que neste conflito, as potências envolvidas, particularmente, as ocidentais, - EUA, França, Alemanha, e também a Turquia, estão a agir na Síria ao arrepio das chamadas normas internacionais, violando, ilegalmente, o território sírio. Em parte, com a conivência táctica da Rússia, mais interessada em ver os seus concorrentes a «chafurdar», enterrando-se, na lama do conflito).

Resultado de imagem para potências estrangeiras na síria
alianças e contra-alianças: jogo de sombras

Mas, o que surge, na realidade, é o crescendo sem freio do militarismo.

E o militarismo exacerbado é sempre prenúncio de guerra. Mas também custa muito dinheiro. 

Ainda, por cima, agravado, sem não tiver retorno +compensador+.

2 – O conflito militar na Síria esteve na agenda dos G-20. E não é por acaso.

Está ligado a nova geopolítica que se desenha no Mundo e que os líderes políticos, representantes das facções concorrenciais do grande capital financeiro pretendem analisar e apontar «caminhos» para tentar salvar a fase actual em decadência total desse capital.

A Síria, e por tabela o Iraque, são territórios nacionais, retalhados e ensaguentados pelas disputas, sem olhar a meios, das potências ocidentais, em primeiro lugar, mas também da nova potência militar mundial, a Rússia, em paridade com os EUA, e, em alianças flutuantes, por vezes desconcertantes, como a Turquia e o Irão.

(Se se analisar o campo de batalha sírio, pelo menos, desde 2015, verificamos que a entrada da Rússia no terreno do conflito, aparentemente, chamada pelo o regime de Bashar Assad, tem uma estratégia definida - o apoio castrense do Irão e, discreto, mas actuante, da China desde o início: defender a unidade territorial do país, derrotar as organizações ditas terroristas.

As restantes potências –EUA, França, Alemanha, Reino Unido, e, agora, a Turquia, - agem erraticamente, conforme as conveniências, num apoio claro ao EI, notando-se uma clara percepção de que pretendem retalhar a Síria. Se a Rússia conseguir manter Assad no poder e a unidade síria, haverá, naturalmente, uma mudança na geoestratégia mundial).

Uma chamada de atenção: tudo isto se está a passar a leste da chamada *comunidade das nações*, ou seja da ONU.

Resultado de imagem para estreito de ormuz importância
Estreito de Ormuz: a importância do controlo

A diplomacia está a dar lugar ao confronto.
Directo: Médio-Oriente-norte e corno de África; indirecto, Mar da China, Ucrânia-Mar Negro, golfo de Omã/estreito de Ormuz.

Na realidade, já Clauzewitz o definia: a guerra é a continuação da política por outros meios.

3 – Tal como os europeus, em particular os portugueses, no início do comércio mundial no século XV, e, principalmente, no XVI, a preocupação primeira, após a chegada ao Oriente foi o controlo de rotas e estreitos de passagem de mercadorias.

A força militar está, pois, a ser utilizada para conseguir vantagens territoriais e geoestratégicas para o controlo do comércio e zonas privilegiadas de matérias-primas.

O que está, portanto, a suceder do meu ponto de vista?

A China está procurar impor, via pressão directa militar – navios, construção de aeródromos e cais de embarque/desembarque em ilhas disputadas no Mar da China -, uma posição dominante de, por um lado, controlo de rotas vitais marítimas comerciais, por outro, o acesso a matérias-primas que existem na área marítima profunda ao largo das mesmas.

A Rússia procura disputar influência no mar Mediterrâneo oriental e solidificar a posição geo-económica de campos de gás e petróleo do Médio-Oriente, em conveniência com as rotas navais e terrestres que o confinam.

Se o conseguir, em grande medida, com o controlo do Mar Negro, terá estabilizado «uma área de paz» sul para o seu projecto conjunto euro-asiático com a China.


Frota russa na Crimeia

Significa isto, que perante o *jogo de forças+ que se desenha no horizonte, Rússia e China pretendem impor, no mínimo, +zonas de influência+ no mapa planetário.

E isto, se houver, um compromisso diplomático. Porque, se houver guerra, ainda que regional, os interesses dessas potências podem ser mais ambiciosos.

Toda esta movimentação tem, no seu bojo, o essencial: a actual fase do modelo capitalista está a chegar ao fim.  

O futuro pode ser tumultuoso, até porque por detrás do regime capitalista estão as classes laboriosas, que o sustentam – ainda que dispersas e sem um programa revolucionário internacional - mas que desejam uma nova vida societária.

Os próximos tempos vão definir melhor o jogo de sombras que está na agenda dos G-20.


Sem comentários:

Enviar um comentário