1
– A guerra de conquista e divisão na
Síria entrou numa nova fase de violência, precisamente, quando, aparentemente,
o inimigo «jurado» de todas as partes envolvidas – chamado Estado Islâmico -
parecia estar a claudicar, rapidamente, nos últimos meses.
Porquê
esta repentina escalada da violência quando o Exército legal sírio cerca a
cidade mais populosa do país, Alepo, e se apresta para atacar Raqa, a chamada
capital do EI?
A
Síria – e também o Iraque – é o «cadinho» onde se está a definir uma nova geopolítica
mundial, que pode determinar a queda rápida da antiga única superpotência
(económica e militar), que se confronta com uma nova realidade social: a actual
fase do modelo de produção capitalista está a chegar ao fim.
A
Síria tem sido o palco guerreiro de experiências castrenses da mais alta
tecnologia dos últimos tempos.
Talvez,
comparativamente, mais do que sucedeu no Vietname e no Camboja nos anos 60/70
do século passado.
O que transforma o território num espaço de testes militares
em nível mais elevado (quem experimentava na Indochina, então, essencialmente,
a alta tecnologia eram os Estados Unidos da América) é o facto das principais
potências militares mundiais e as potências regionais, bem como grupos
paramilitares que podem vir a ter maior intervenção futura no Médio-Oriente,
como o Hezbolá libanês, actuarem, frenética e num espaço de tempo curto, em
alianças e contra-alianças – e compromissos tácticos no terreno – aparentemente
para buscar benefícios nacionais em eventuais divisão de despojos.
(Repare-se
que neste conflito, as potências envolvidas, particularmente, as ocidentais, -
EUA, França, Alemanha, e também a Turquia, estão a agir na Síria ao arrepio das
chamadas normas internacionais, violando, ilegalmente, o território sírio. Em
parte, com a conivência táctica da Rússia, mais interessada em ver os seus
concorrentes a «chafurdar», enterrando-se, na lama do conflito).

alianças e contra-alianças: jogo de sombras
Mas,
o que surge, na realidade, é o crescendo sem freio do militarismo.
E
o militarismo exacerbado é sempre prenúncio de guerra. Mas também custa muito
dinheiro.
Ainda, por cima, agravado, sem não tiver retorno +compensador+.
2
– O conflito militar na Síria esteve na agenda dos G-20. E não é por acaso.
Está
ligado a nova geopolítica que se desenha no Mundo e que os líderes políticos,
representantes das facções concorrenciais do grande capital financeiro
pretendem analisar e apontar «caminhos» para tentar salvar a fase actual em
decadência total desse capital.
A
Síria, e por tabela o Iraque, são territórios nacionais, retalhados e
ensaguentados pelas disputas, sem olhar a meios, das potências ocidentais, em
primeiro lugar, mas também da nova potência militar mundial, a Rússia, em
paridade com os EUA, e, em alianças flutuantes, por vezes desconcertantes, como
a Turquia e o Irão.
(Se
se analisar o campo de batalha sírio, pelo menos, desde 2015, verificamos que a
entrada da Rússia no terreno do conflito, aparentemente, chamada pelo o regime
de Bashar Assad, tem uma estratégia definida - o apoio castrense do Irão e,
discreto, mas actuante, da China desde o início: defender
a unidade territorial do país, derrotar as organizações ditas terroristas.
As
restantes potências –EUA, França, Alemanha, Reino Unido, e, agora, a Turquia, -
agem erraticamente, conforme as conveniências, num apoio claro ao EI, notando-se
uma clara percepção de que pretendem retalhar a Síria. Se a Rússia conseguir
manter Assad no poder e a unidade síria, haverá, naturalmente, uma mudança na
geoestratégia mundial).
Uma
chamada de atenção: tudo isto se está a passar a leste da chamada *comunidade
das nações*, ou seja da ONU.

Estreito de Ormuz: a importância do controlo
A
diplomacia está a dar lugar ao confronto.
Directo:
Médio-Oriente-norte e corno de África; indirecto, Mar da China, Ucrânia-Mar
Negro, golfo de Omã/estreito de Ormuz.
Na
realidade, já Clauzewitz o definia: a guerra é a continuação da política por
outros meios.
3 –
Tal como os europeus, em particular os portugueses, no início do comércio
mundial no século XV, e, principalmente, no XVI, a preocupação primeira, após a
chegada ao Oriente foi o controlo de rotas e estreitos de passagem de
mercadorias.
A
força militar está, pois, a ser utilizada para conseguir vantagens territoriais
e geoestratégicas para o controlo do comércio e zonas privilegiadas de
matérias-primas.
O
que está, portanto, a suceder do meu ponto de vista?
A
China está procurar impor, via pressão directa militar – navios, construção de
aeródromos e cais de embarque/desembarque em ilhas disputadas no Mar da China -,
uma posição dominante de, por um lado, controlo de rotas vitais marítimas comerciais,
por outro, o acesso a matérias-primas que existem na área marítima profunda ao
largo das mesmas.
A
Rússia procura disputar influência no mar Mediterrâneo oriental e solidificar a
posição geo-económica de campos de gás e petróleo do Médio-Oriente, em
conveniência com as rotas navais e terrestres que o confinam.
Se
o conseguir, em grande medida, com o controlo do Mar Negro, terá estabilizado
«uma área de paz» sul para o seu projecto conjunto euro-asiático com a China.

Frota russa na Crimeia
Significa
isto, que perante o *jogo de forças+ que se desenha no horizonte, Rússia e
China pretendem impor, no mínimo, +zonas de influência+ no mapa planetário.
E
isto, se houver, um compromisso diplomático. Porque, se houver guerra, ainda
que regional, os interesses dessas potências podem ser mais ambiciosos.
Toda
esta movimentação tem, no seu bojo, o essencial: a actual fase do modelo capitalista
está a chegar ao fim.
O
futuro pode ser tumultuoso, até porque por detrás do regime capitalista estão
as classes laboriosas, que o sustentam – ainda que dispersas e sem um programa revolucionário
internacional - mas que desejam uma nova vida societária.
Os
próximos tempos vão definir melhor o jogo de sombras que está na agenda dos
G-20.
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