1
– Estamos a perder tempo em polémicas estéreis em torno de suprimir véus,
burquinis islâmicos nos locais públicos ocidentais.
Pode
dizer-se que esta utilização de véus e burquinis e burcas tem uma forçada
conotação ideológica-religiosa.
Certo,
como tem a mesma conotação quando o Presidente da República portuguesa realiza
a sua primeira visita oficial de Estado para beijar a mão ao Papa, numa
submissão propositada e forçada de um cargo público a uma religião, neste caso,
a Católica Romana.
A
questão que tem de ser equacionada é esta, a meu ver: porque o regresso da
religião ao domínio do Estado?
A
ideologia dominante no Ocidente faz crer que os Estados teocráticos são um
exclusivo das ditaduras islâmicas actuais. Não é verdade.
Embora
formalmente, sejam democracias, países como o Reino Unidos, Suécia, Noruega,
Dinamarca, os seus chefes de Estados são ao mesmo tempo chefes das Igrejas
cristãs dos mesmos.

Outros,
como Portugal, Espanha ou Itália, têm a primazia da religião católica
contratualizada em leis extra-territoriais (concordatas), cujo mentor
(ideológico e material pelas benesses recebidas) está no Vaticano. É quem
determina a política prática face ao contrato estabelecido (que é
essencialmente económico).
E
as chamadas religiões civilizacionais ocidentais (catolicismo, protestantismo,
evangélicos, manás, mormons, judaísmo) estão, cada vez mais, implantadas no
aparelho de Estado, através de partidos políticos e eleições legislativas.
Na
recentes primárias norte-americanas para a escolha do candidato presidencial
republicano, os dirigentes do partido optaram, para a candidatura à
vice-presidência, pelo governador do Estado do Estado de Indiana, Mike Pence,
pela sua ligação à ultra-conversadora igreja evangélica norte-americana.
Igualmente,
a tertúlia do poder democrata escolheu o senador pela Virgínia, Tim Kaine, para
idêntico papel naquele partido, justamente, por ser um fervoroso católico e
falar castelhano.
Por
exemplo, o Brasil actual. Dados da Câmara dos Deputados: a Frente Parlamentar
Evangélica – que inclui católicos, protestantes e pentecostais - conta hoje com
a participação de 199 membros (39% do total) e quatro senadores. Determinantes
para a orientação governamental.

2 –
As ditas religiões ocidentais (catolicismo, protestantismo nas suas diferentes
matizes, judaísmo) estão perfeitamente integradas na sociedade capitalista.
Caminharam
em toda a sua conveniência, adaptando-se, com toda a naturalidade, em harmonia
prática aos ditames da grande burguesia.
Para
aquela, o seu deus tornou-se o dinheiro.
Assim, o dinheiro erigiu-se na
preocupação central dessas religiões.
O
Vaticano é, na actualidade, um dos principais centros capitalistas financeiros
do Mundo, a par de Wall Street, feudo do judaísmo, mas ambos, juntamente com a
Igreja de Inglaterra, são a «bússola ideológica», via civilização ocidental, do
expansionismo imperialista capitalista liberal.
O
catolicismo, bem como o protestantismo, alçou-se, com eficácia, aos
princípios judeus. O seu deus é agora comum e universal.
Os
Estados ocidentais são, desde a segunda metade do século XX, a face violenta do
imperialismo, dominante, e fazem-no dizendo defender a «civilização ocidental».
Que significa, nada mais, nada menos, a civilização «cristã» burguesa.

E,
deste modo, a ideologia judaico-cristã pode «obscurecer-se, ficar na sombra» sob o manto
diáfano da não-violência.
O
expansionismo religioso islamista surge, como concorrencial mais violento,
porque é o ponta de lança político-ideológico militante de um sistema económico
poderoso, em matérias-primas, mas com um desenvolvimento social
pré-capitalista.
Esse
expansionismo ganhou espaço e mesmo força militar, devido ao facto de ter sido
um aliado operacional do imperialismo ocidental, nos últimos 20 anos, na
concorrência geo-política e geo-estratégica com as potências emergentes, em
especial Rússia e China.
3
– A separação da religião da esfera do
Estado, levando-a para o domínio do privado, exige, na situação actual, uma
revolução política.
E
isto, porque a religião cristã está, intimamente, conectada e formatada com o
regime capitalista dominante.
Sem
a separação económica e política da sociedade em geral do emaranhado religioso,
ou seja sem pôr em causa a especulação financeira, e o sistema de usura
inerente àquele, continuarem, permanentemente, com a questão religiosa na ordem do dia. A religião no domínio do Estado é um entrave ao avanço ideológico societário.
Se
retirarmos à religião o seu poder económico, naturalmente, estará aberto o
caminho para conduzir o seu domínio público actual para a esfera privada, onde
dever ficar restrita.
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