quinta-feira, 4 de maio de 2017

500 ANOS DE LUTERO: A IGREJA CATÓLICA ESTÁ HOJE NA MESMA OPULÊNCIA



1 - Este ano passam 500 anos da publicação das chamadas 95 teses de um monge católico agostiniano do então Sacro Império Alemão Martinho Lutero, que veio a ser excomungado e expulso da Igreja Católica e deu origem a uma cisão teológica no cristanismo moderno que se constituiu como organização religiosa com o nome de luteranismo.

O luteranismo tem a sua importância histórica, política e ideológica, porque representou, no seu conjunto, uma das maiores movimentações sociais que ocorreu na Europa, não só na sua região central, dita de língua alemã, mas também pelo efeitos que teve na própria própria superestrutura política da Igreja Católica.Resultado de imagem para martinho lutero


Veio a tornar-se, ideologicamente, dominante na exploração extra-europeia na América do Sul, Índia e mesmo em África por parte de Portugal e Espanha.

Não se circunscreveu ao mero corte ideológico «moderado» com o catolicismo reinante, «moderação» esta que prevaleceu no conjunto das guerras camponesas alemãs que se alçaram então, como reacção à opressão gritante do Império, da hierarquia católica, da nobreza feudal sobre os «deserdados» rurais. 

Em 1517, o monge Martinho Lutero, que era professor na universidade de Wittenberg, publicou um conjunto de teses - 95,segundo foi divulgado então - pondo em causa a opulência do papado romano, a sua infabilidade espiritual e mesmo a sua doutrina prática de o Sumo Pontífce Católico Roma ser o representante físico de Jesus Cristo.

A atitude, e, principalmente, o movimento social que desencadeou levou a uma ruptura espiritual com o monopólio ideológico e político da Igreja de Roma, mas tal facto, que não residiu num homem, foi produto de uma época histórica.

Não se enquadrou num território limitado, mas abarcou, praticamente, toda a Europa central, desde a Inglaterra até à antiga Checoslováquia, incluindo o que hoje é a Áustria, a Alsácia e parte da França.

2 - O que se registou na Alemanha nas primeiras décadas do século XVI, devemos analisá-lo e inseri-lo dentro de um período longo, que se enquadra, praticamente, com a exploração extra-europeia começada por Portugal nos princípios do século XV em que os monarcas de então, apoiando-se nos burgueses citadinos, vão romper, por vezes sangrentamente, o poder avassalador da nobreza feudal e edificam os grandes Estados absolutos, estribados no conceito de nacionalidade.
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O alargamento de horizontes económicos - transicão da primitiva forja artesanal para a indústria, pimeiro, manufactureira, depois, já nos finais do século XVII, a industrial, ainda que incipiente, princípios do comercial mundial, políticos - Estados centralizados, culturais - literaturas em línguas nacionais (Portugal separa-se definitivamente da língua castelhana, e, surgem obras de Camões, Gil Vicente, Garcia de Resende, Damião de Góis, Garcia de Orta, entre outros), Espanha (Antonio de Nebrija, Fernando de Rojas, Mateo Alemán, Estebanillo de González), e MiguelCervantes, entre outros), Inglaterra (Thomas Sackville, Thomas Kyd e William Shakespeare)

Inicia-se, assim, a história moderna da Europa, e, por arrasto do Mundo.

Nós, portugueses, apelidámos essa nova época de Renascimento, os alemães de Reforma e os italianos de Cinquecento. (Na arte - pintura, escultura, arquitectura; Ciência - Física, Química, História, Astronomia).

Mas, tem de se destacar, em especial, o incremento da investigação em vários campos do saber, o que produziu uma grande evolução científica, cujo avanço contribuiu, em grande medida, juntamente com a contestação política e ideológica do luteranismo, para romper com o papel dominante e aterrador do despostimo religioso da Igreja Católica Romana.

Com desenvolvimentos políticos não tão profundos - e por vezes contraditórios - em Itália, Espanha e Portugal.

Na realidade, neste últimos países, que entre os séculos XV e XVI, foram os percussores na ruptura do isolamento dos feudos e do espaço territorial das Nações europeias, lançando os embriões do mercado mundial, tiveram, todavia, o lado negativo ao fomentarem o retrocesso ideológico e político - e se constituíram como centro contra-revolucionário religioso católico - ao açaimarem os seus povos sob a forma mais tenebrosa de fanatismo sectário religioso, sob o domínio da Igreja Católica e do Papado, erigindo os tristemente famosos Tribunais de Inquisição, que estenderam à suas colónias.

Situação esta que contribuiu para o entorpecimento, não só o próprio modelo produtivo, mas, mais profundamente, para as suas produções intelectuais.

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3 - Na realidade, na polémica nascente teológica dos primeiros passos de Lutero em Wittenberg vai interligar-se, mais tarde, uma acessa luta de classes, cujo aspecto mais radical se aglutinou em torno das guerras camponeses, cuja cabeça teórica foi Thomas Munzer, um monge que, inicialmente, foi «compagnon de route» do seu confrade agostiniano.

Neste, como em outros conflitos e guerras chamadas «religiosas», o que estava em jogo eram, essencialmente, interessses materiais e classistas, que perduraram e levaram a reivindicações posteriores mais elaboradas, como a separação entre a religião e os Estados, que entretanto se formaram e desenvolveram.

Naturalmente, devido à situação concreta da época na Europa, embrenhada pelo obscurantismo e a perseguição católicos, esses confrontos nasciam, portanto, envoltos em reivindicações filosóficas e místicas de regressar «à pureza» da religião dominante.

Se se analiserem as guerras religiosas, desde o século XII, registámos que existe, desde então, uma constante luta contra a hierarquia da Igreja Católica.

Não se trata, no fundo, nada mais, nada menos, do que formas, por vezes embrionárias, e sem grandes orientações, de oposição revolucionária contra as estruturas feudais, estruturas estas que estão tão interligadas com o poder conjunto entre a grande nobreza e o alto clero.

Oposição esta que se manifesta sob a forma de heresia, personalidades místicas ou mesmo conflitos armados extremamente sangrentos.

Os exemplos são múltiplos, desde Arnaldo de Brescia, em Roma, nos principios do século XII, John Ball com a revolta camponesa de 1381, os albigenses (sul de França), John Wycliffe (Inglaterra), John Huss (na actual República Checa), entre outros.

A importância histórica do luteranismo advem, precisamente, das clivagens que se produziram no seu interior, onde, naquele território, aparece, pela primeira vez, de maneira evidente, uma oposição plebeia revolucionária, que, indo além do combate contra o feudalismo e contra a nova burguesia nascente comercial, instalada através de hansas, procurou fundar um novo tipo de sociedade, baseada em partilha de bens, sem propriedade privada.

Claro que essa oposição, que teve Munzer como líder, foi tão radical para a época, necessariamente confusa, porque nasce dentro das contradições dos começos do afrontamento religioso, logo metafísico, à própria religião dominante, como foi +utópica+ no sentido de ser posta em prática na situação económica e política da altura.

Mas lançou - e este facto é historicamente relevante - os fundamentos para explicar a possibilidade de construcção de uma nova sociedade, baseada nos princípios socialistas.

/A hansa foi uma estrutura associativa de cidades mercantis - alemãs ou de influência alemã - que estabeleceu e manteve um monopólio comercial sobre quase todo norte da Europa e Báltico, em fins da Idade Média e começo da Idade Moderna (entre os séculos XII e XVII). Abrangeu umas 100 cidades/.

A jugulação dessa revolta deu-se numa conjugação entre o conservadorismo católico e o luteranismo «moderado» de Lutero, ou seja, em termos materais, por um lado, o imperador, a hieraquia católica, a grande nobreza que rodeava a corte e governava as cidades e, por outro, os grandes mercadores, uma fatia da pequena nobreza e grande parte dos príncipes, que pretenderam ficar com a riqueza da Igreja e conseguir arrepanhar parte do poder imperial.

Como, na realidade foram, eles, os príncipes,os seus principais beneficiários.

4 - O catolicismo e o luteranismo evoluiram nestes 500 anos.

Hoje, expandiram-se além da Europa.

Foram levados com a exploração extra-europeia para os países onde se fixaram os colonos saídos do continente europeu.

A opulência da Igreja Católica, em particular, ultrapassa, na actualidade a daqueles tempos.

Refinou-se, entrou nas instituições económicas, em especial no sistema financeiro. Interligou-se, através de *homens de mão* ditos laicos nas superestruras políticas.

O Vaticano tornou-se num imenso +off-shore mundial+, onde se fazem, com total impunidade, as maiores traficâncias financeiras.

Sobre a riqueza recente foram divulgados em vários livros publicados nos últimos anos.
(Eric Fratinni - Os Abutres do Vaticano; Gianluigi Nuzzi - Vaticano S.A.; Emiliano Fittipaldi - Avareza; Jason Berry - Render Unto Roma - The secret life of money in Catholi Church).
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Mas, a investigação sobre as finanças e os negócios vaticanistas nos tempos modernos tiveram destaque, anteriormente, devendo apontar-se os nomes de Nino Lobello, que foi durante mais de um década correspondente de um jornal norte-americano dentro da Santa Sé, (já falecido), e editou em 1967 um livro ainda hoje actual «O Empório do Vaticano».

O mais profundo conhecedor dos meandros da política e economia papal foi, na minha opinião, o italo-americano Avro Manhattan, falecido em 1990, licenciado pelo London School of Economics, cavaleiro da Ordem de Malta, que escreveu o seu primeiro livro sobre o tema «The dollar and The Vatican» em 1957 e, mais tarde uma obra mais profunda, em 1967, com o título «The Vatican Billions», em 1983.

Retiramos este extracto do português do Brasil:

“a Igreja Católica é o maior poder financeiro, maior acumuladora de riquezas e a maior proprietária de terras atualmente. Possui mais riquezas materiais do que qualquer outra instituição, corporação, banco, truste gigantesco, governo ou estado do mundo inteiro. O papa, como governante desse imenso acúmulo de riquezas, é, consequentemente, o indivíduo mais rico do século XX. Ninguém tem condições de dizer precisamente quanto ele vale em termos de bilhões de dólares”.

Ainda de acordo com o autor, a Santa Sé tinha grandes investimentos em parceria com os Rothschild na Inglaterra, França e Estados Unidos, e no Hambros Bank e Credit Suisse em Londres e Zurique.

Nos Estados Unidos da América, tem empresas, conjuntamente, com o Morgan Bank, Chase-Manhattan Bank, First National Bank of New York, Bankers Trust Company e outros.

Segundo Manhattan, entre os seus investimentos estão biliões de ações mais mais poderosas multinacionais, como Gulf Oil, Shell, General Motors, General Electric, IBM, entre outros.

No fundo, o Vaticano é, actualmente, um sustentáculo económico, político e ideológico do capitalismo.

Não é, por acaso, que os principais dirigentes políticos - quer sejam de países de *maioria* católica, quer protestante, quer islâmica, quer budista, ou mesmo se diga *sem religião* como Cuba - se reverenciam perante a figura do Papa Católico Apostólico Romano.

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Curiosamente, a ascensão do Vaticano a grande potência financeira e comercial foi fomentada pelos regimes nazi-fascistas europeus, antes, durante e logo após a II Grande Guerra...em troca do apoio da Santa Sé.

Na realidade, com as revoluções liberais europeias do século XIX, o papado e a igreja Católica viram reduzidas as suas capacidades económicas, com as nacionalizações dos grandes patrimónios imobiliários.

Isso foi, aliás, evidente em Itália, quando em 20 de setembro de 1870, as tropas unificadoras do país, entraram em Roma, logo declarada capital do Reino de Itália, com o estabelecimento da corte do rei Victor Emanuel II no Palácio do Quirinal.

O Papa Pio IX considerou-se prisioneiro no minúsculo Vaticano, e, ali permaneceu sem dinheiro, sem armas, sem acção política até à ascensão do partido fascista de Benito Mussolini ao poder.

Em troca do reconhecimento da soberania, inviolável, do Vaticano e o recebimento de avultadas quantias em dinheiro, o Papa Pio XI aceitou apoiar o regime fascista.

Deste modo, a Igreja Católica tornou-se a religião oficial do Estado italiano e recebeu mais de 90 milhões de dólares, avaliados hoje em mais de dois mil milhões de dólares, com que investiu nos negócios terrenos italianos e de outros países.

Chegou à opulência e à riqueza incomensurável dos dias de hoje.

Mas, não foi somente com Mussolini, que o papado assinou concordatas. Sucedeu com a Polónia conservadora em 1925, seguiu-se a ReichKonkordat com Hitler, em 1933, a portuguesa com Salazar em 1940 e com Franco, em Espanha, em 1953.

Este tem sido, álias, o traço comum da evolução do cristianismo desde que deixou, no século III, de ser o movimento de libertação dos povos oprimidos pelo Império romano e se tornou em religião oficial do Estado: sempre em sintonia com o poder dominante, o mais reaccionário possível.

Quando os hierarcas da Igreja de Roma de então se consideraram consolidados nas suas posições dentro da instituição religiosa nascente, e, começaram a ter poder económico dentro do mesmo império, aliaram-se ao Imperador e iniciaram um processo de afastamento de todos os «profetas» que preconizavam uma Igreja «pobre», dedicada aos escravos, aos despojados e aos povos oprimidos que +vejetavam+ no interior do «Imperium»: o gnosticismo, o arianismo, o montanismo, o ebionismo, o donatismo, entre outros.

Ou seja, para se consolidar como instituição do Estado, o catolicismo adquiriu os contornos de uma estrutura fortemente dogmática universal que não admitia desvios, nem interpretações que não fossem as que serviam a classe dirigente e o poder imperial.



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