quinta-feira, 25 de novembro de 2010

EANES: O 25 DE NOVEMBRO FOI FEITO PARA INSTITUCIONALIZAR A DEMOCRACIA







Eanes confessa que contribuiu para o 25 de Novembro por acreditar, "utopicamente", nas virtudes da democracia















O antigo Presidente da República Portuguesa Ramalho Eanes lamentou a falta de austeridade do Estado democrático e admitiu que, a 25 de Novembro de 1975, acreditou «utopicamente» que a democracia por si só tornaria o país mais moderno e solidário.

Esta frase do hoje general Ramalho Eanes, proferida há dois dias, é a confissão do acto que foi praticado, há 35 anos, pelos militares, de que ele foi um dos comandantes, que efectuaram um golpe de Estado castrense, para consolidar o poder político.

Na realidade, esse poder político já era exercido pelo VI governo provisório, mas sem capacidade de travar as movimentações e reivindicações operárias e populares que estavam a dar um novo conteúdo de cariz revolucionário à sociedade em convulsão, praticamente, desde o golpe de Estado de 25 de Abril de 1974, empreendido pela jovem oficialagem formada pelo Antigo Regime, mas farta de uma guerra prolongada de 13 anos nas antigas colónias da Guiné, Angola e Moçambique e em vias de provocar o próprio colapso castrense.


Em 25 de Novembro de 1975, sublinhou Eanes, então tenente-coronel e ligado à chamada corrente spinolista militar, «acreditava-se, talvez um pouco utopicamente, que a democracia (...) iria permitir que o país avançasse, evoluísse, se modernizasse, se tornasse mais justo e mais solidário. Pensava-se que tudo isso decorreria normalmente da democracia. Infelizmente não aconteceu».




Isto é, na interpretação de Eanes, o regime que a burguesia republicana e liberal, em maioria, no interior do VI governo provisório, liderado pelo almirante Pinheiro de Azevedo, queria implantar, a democracia”, para vingar teria de ser imposta pelo chapéu de chuva militar.




(Pinheiro de Azevedo, tido como liberal, que, na data de 25 de Abril, era capitão de mar-e-guerra e exercia o cargo de comandante da Base de Fuzileiros, e, foi, pour cause, aliciado pelo sector mais esquerda para a Junta de Salvação Nacional, provinha do “marcelismo militar” – fora antes adido de Defesa em Londres, um cargo de confiança política do Antigo Regime).




A história do actual regime, desde o golpe militar de 25 de Novembro, é a história, numa primeira fase, do domínio dessa burguesia republicana e liberal, (PS e PPD, hoje PSD), que vai até aos princípios dos anos 80 e, depois, nas fases seguintes, da transformação daqueles em representantes directos e servis da grande burguesia financeira.




A situação actual é, justamente, eloquente.




As palavras do general Eanes podem ser uma autocrítica, mas não passam do mais rigoroso cinismo.




Representam a farsa completa de quem foi o mentor que mais contribuiu, como Chefe de Estado, para a reconstituição dos capitalistas financeiros como entidades dominantes de toda a economia portuguesa.


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