domingo, 21 de novembro de 2010

EUA/UE: O BLUFF DE UMA FALSA UNIDADE

















A NATO está no estertor da derrota


















































































1- A NATO formulou, no passado dia 19, em Lisboa, um novo conceito estratégico, cujo objectivo central é a luta contra as ameaças insurgentes internas no interior dos seus países membros, e, no plano externo, organizar-se para tentar combater todos os actos considerados de sublevações e revoltas “emergentes” contra o sistema político capitalista dominante no ocidente.
As confissões estão nas declarações do Primeiro-Ministro de Portugal, citado no Portal do Governo, quando sustenta que, da cimeira, saiu “a afirmação da defesa colectiva dos 28 Aliados, face às novas ameaças que caracterizam os tempos presentes, e designadamente face ao terrorismo, aos ciberataques, ao recrudescimento da pirataria ou à grande criminalidade organizada em torno do narcotráfico ou do tráfico de pessoas».
Ou seja, esmiuçando a linguagem: “o terrorismo”, para aqueles senhores que o praticam todos os dias nos seus actos belicosos e criminosos em todas as partes do Mundo, é, justamente, a reacção local dos povos e das classes trabalhadoras contra a repressão e a ocupação.
Precisemos o citado, no documento, sobre o que são ameaças para a aliança imperial atlântica que continua sob a supervisão e controlo de Washington.
Entre as ameaças, algumas emergentes (sublinhando nosso) , estão a proliferação de mísseis balísticos, de armas, nucleares e outras, de destruição massiva e do terrorismo, perigo este que pode ser potenciado se os terroristas acederem a capacidades nuclear, química, biológica ou radiológica.
É também identificada, no documento, a instabilidade e o conflito fora das fronteiras da NATO, que podem alimentar manifestações extremistas e terroristas, e actividades transnacionais, como tráfico de pessoas, drogas e armas.
A NATO identifica ainda os ciberataques, «cada vez mais frequentes, mais organizados e que provocam prejuízos cada vez maiores», que podem ter por origem «serviços secretos ou militares, crime organizado, terroristas e/ou grupos extremistas».
Apontada igualmente é a necessidade de proteger infraestruturas de comunicações, transporte e de trânsito, pela dependência cada vez maior que delas têm «o comércio internacional, a segurança energética e a prosperidade».
O novo conceito estratégico aponta mais duas ameaças: as tendências tecnológicas, incluindo armas a laser, guerra electrónica e tecnologia que impede o acesso ao espaço; e os constrangimentos ambientais e no acesso a recursos, traduzida em riscos de saúde, mudanças climáticas, escassez de água e necessidades crescentes de energia.
Esmiuçando esta linguagem: significa que todos os países emergentes, que se queiram ver livres da tutela capitalista ocidental, serão considerados inimigos a abater.
Quem é o alvo em potência?
Precisamente, o Irão, não, apenas, porque pode ter acesso a armas nucleares, mas, essencialmente, porque se está a tornar uma potência regional, cuja capacidade militar – toda a sua fileira armamentista – se está a desenvolver, por meios próprios, independentes das potências ocidentais e agora da Rússia.
Desde a arma mais simples, como o revólver e a espingarda, mas os mísseis balísticos intercontinentais, sistema anti-mísseis, armas atómicas e evolução tecnológica espacial. Como potência “emergente”, com a sua própria personalidade, será, no futuro – 10/15 anos – a principal concorrente no imenso espaço geo-estratégico e rico em matérias-primas essenciais, como o petróleo gás, lítio, etc, falando árabe e com a arrogância de ter vencido um inimigo superior.
Mas, em futuro próximo, (20/30 anos), uma nova potência “emergente”, em aliança, pode afectar a supremacia norte-americana a sul: o MERCOSUL, na economia, e o UNASUL, no militar. (Certamente, a investigação e a indústria nuclear irão acelerar na Venezuela e no Brasil nos próximos anos).
Significa tudo isto que a NATO, embora, pareça estar ao ataque, na realidade, está a confrontar-se, com os sintomas evidentes de desagregação.
Os indícios de contestações ao seu papel, que nunca apareceram em profundidade, nos últimos 20 anos, estão agora em crescendo.
As movimentações e os actos de rebeldia e mesmo de subversão, que percorrem, não só toda a Europa “atlântica”, mas, de maneira evidente, na América Latina e na Ásia, cujo centro discreto, mas imparável, nos surge na China, na Coreia do Norte, na Índia, no próprio Paquistão, evoluem em crescendo.
2- O escudo anti-míssil juntou os EUA (por tabela a NATO) e a Rússia.
O sintoma evidente do que atrás se assinala: o receio da “emergência” leva os senhores do Capital a proteger-se cada vez mais.
Isso significa mais militarismo, mais despesas militares crescentes, que estão a sufocar e a afundar as economias, já debilitadas, desses países. Vão obrigar a mais concorrência, a gastos crescentes supérfluos de mais dinheiro nas Forças Armadas, contribuindo para a bancarrota financeira.
3 – Existe uma unidade EUA/EU face ao papel da NATO?

Eles, os líderes batem no peito e sustentam que sim. A realidade é outra. Está escrita e referenciada por aqueles que estão por dentro e sabem o que lá se passa.

Em 2007, um oficial superior do Exército, tenente-coronel Nuno Pereira da Silva, então destacado em reforço da MILREP PO em Bruxelas para a Presidência Portuguesa da EU, escrevia na “Revista Militar” um extenso artigo que intitulava: *A “Impossibilidade” das Relações EU/NATO*. O artigo em questão pode ser consultado na NET.

O coronel Pereira da Silva inicia, precisamente, o seu texto da seguinte maneira:

Este trabalho resultou dum grito de alma lançado pelo autor no final da última reunião do NATO/UE Capabilities Group realizado em Bruxelas, depois de verificar mais uma vez que as relações ao nível Político Militar entre as duas Organizações vão de mal a pior, estando a desenvolver Políticas de Segurança e Defesa de “costas completamente voltadas uma para a outra”, facto que à primeira vista parece um paradoxo, uma vez que os países que integram ambas as Organizações são na sua maioria os mesmos”.

E especifica:

*Sempre que nos Grupos de Trabalho da UE, encarregados de desenvolver a Política Europeia de segurança e Defesa (PESD) se pretende referir à NATO, esta é sempre designada pela “Outra Organização”, evitando sempre referir o acrónimo NATO, como se o pronunciar do mesmo fosse uma “heresia”*.

O coronel tem a noção do presságio que vai seguido na Europa, a continuar a sua evolução económica e a sua busca da unidade política.

*Esta “impossível” relação institucional actualmente existente entre as duas Organizações, constitui se como “o paradigma” das relações transatlânticas, recordando nos a parábola Bíblica do Antigo Testamento relativa aos dois irmãos desavindos “Caim e Abel”, que como sabemos no final não teve um final feliz, muito embora os dois intervenientes fossem descendentes dos mesmos progenitores e tivessem sido educados tendo por base os mesmos princípios*.

E o receio de quem pressente que o caminho não pode ser outro:

*devendo por isso evitar se a todo o custo a criação de dois blocos antagonistas entre os dois lados do Atlântico, facto que poderia levar a um conflito “fratricida”*.


O coronel, piedosamente, no seu texto, apela à unidade, mas, no sei íntimo sabe que isso são “palavras caridosas”, porque o que está em jogo, neste momento, já não é apenas a reconstrução da Europa, mas sim o facto da Europa se afirmar, internacionalmente, como unidade política independente, e entanto não tiver se facto consumado, estará sempre á mercê dos ataques “estratégicos” dos EUA na sua evolução económica e social, tentando minar o facto mais importante para os povos e assalariados europeus, que da sua unidade será capaz de haver possibilidade mais elevada de se construir um novo sistema político no território europeu.

Ele, de certa maneira, na sua linguagem tecnicista militar, tem essa percepção:

Ambas as organizações, NATO e UE, nos seus “conceitos estratégicos” se pretendem afirmar como actores globais no mesmo Contexto Internacional, facto que em nossa opinião poderá estar na génese da dificuldade do estabelecimento e da normalização das relações institucionais de Cooperação e de Complementaridade que são desejáveis que se estabeleçam e normalizem. Nalgumas partes do Globo, poderão existir “Interesses” divergentes, por parte de ambas as Organizações facto que, como sabemos, do estudo da Estratégia, poderá levar à geração de situações de conflito indesejáveis”.

4- A questão do Afeganistão.

Os líderes da Cimeira “ajustaram” uma unidade em torno de uma data de saída do país. Afirmam eles que a retirada começa em 2011 e acaba em 2014.

Claro fazem uma ressalva: mesmo depois desse prazo ainda haverá forças internacionais em território afegão, limitando-se a trabalhos de apoio e treinamento das tropas locais.

A questão é que as tropas estão a dar o berro. É a realidade. Estão mortinhos por fazer um compromisso com os talibãs para dar de frosques.

Vocês já repararam que os valentes políticos da NATO, desde Obama até Zapatero, passando por Sócrates, nunca andaram com uma “canhota” na mão, nem chafurdaram na poeira do deserto, nem na lama dos rios dos territórios para onde mandam os soldados?

A) ao elaborarem um calendário de retirada estão a confessar uma derrota, pois, os chefe da NATO sabem, têem plena consciência disso, que o Exército e as polícias afegãs são “bluffs” e quem manda no território fora dos quarteis da tropas atlânticas são os talibãs.

Que, curiosamente, passaram para os cínicos políticos e militares da Aliança, que ali se chama ISAF, de inimigos com quem nunca se falaria e agora são interlocutores.

B) Os ratos estão a abandonar o barco. Os ingleses, tão peito feito em 2003, apoiando, de cócoras, Bush, estão, agora de calças, na mão a sublinhar que a sua presença não ultrapassará o ano 2015, seja qual for a situação. A Austrália coloca idêntica condição. O Japão já de saiu saiu. Os valentes soldados do “duce” Berlusconi estão em vias de chegar a correr a Roma dentro de meses.

c) Os Exércitos aliados estão exaustos; cada vez é mais difícil repôr, em tempo útil os novos contigentes para substituir os antigos; os soldados praticamente não saem dos quartéis e, quando o fazem é a custa de tropas de elite, e com maciços meios militares, que voam a maior parte das vezes a grandes altitudes, por causa dos misséis terra-ar.
Além do mais, quer o Exército dos EUA, propriamente dito, quer as empresas de segurança são formados por forças mercenárias, (os militares norte-americanos estão a recorrer a jovens da América Latina e Ásia para fazer parte das suas fileiras a troco da possibilidade de lhe ser concedida a cidadania norte-americana) que, somente, lutam enquanto o salário lhe chegar a tempo e horas e dentro de valores mais elevados do que se fossem trabalhadores braçais no país.

Em 2011, iremos ouvir que Obama vai aceitar de novo o regresso de Mullá Omar?

Sem comentários:

Enviar um comentário