Ora, eles provocaram a crise e sabem que, mais cedo ou mais tarde, irão receber uma resposta, justamente, porque não desejam, nem querem restabelecer um equilíbrio sem atingir os interesses do sector dominante que representam e que por eles foram escolhidos para governar o país, se possível pelo medo e pelo obscuratismo.
2 - Ora, eles sabem que o direito de manifestação, de protesto, a liberdade de informação foram formas práticas de actuação das massas laboriosas conquistadas em nome de uma Revolução, a francesa, que já tem mais de 200 anos.
Eles sabem que essas mesmas massas, ao longo dos anos, souberam abrir caminho para utilizar o que a própria burguesia colocou, naquela altura, como reivindicação universal, para os reverter a seu favor. As massas populares utilizam os pleitos eleitorais, as conquistas das liberdades individuais para forjar formas de organização e de acção popular que podem levar em frente a sua luta de transformação da sociedade.
Hoje, chegou-se a uma encruzilhada.
Há uma imenso campo de batalha, - na só em Portugal, mas em todo o Mundo, onde estão frente a frente forças enormes de massas trabalhadoras, que ainda não têm a noção exacta da sua força.
E, infelizmente, ao longo destes dois séculos, sofreram numerosas derrotas nas revoluções que empreenderam. Querem crescer, sentem que o seu "exército" ainda não está preparado. Até porque o programa que lhe serviu no passado para avançar no seu desejo está ultrapassado, nem está refeito, nem existe capacidade, neste momento, de aglutinar um projecto de ruptura revolucionária.
É a tarefa principal que essas massas trabalhadoras precisa de engendrar, de enquadrar, de debater, de definir.
O capital vai tentar provocar a desorganização do mínimo que se avançou nos últimos 10 anos. Inconsequentes, sem perspectivas claras de projecto, existem, todavia, na sociedade portuguesa vozes e pessoas que pretendem uma viragem social, mas hesitam, ficam a meio nas propostas de impôr um programa de ruptura revolucionária.
Pelo menos cerca de 20 por cento dos votantes no sistema parlamentar português apostam nessa concepção, mas não vêem a materialização teórica e prática de um programa que os oriente no marasmo das forças burguesas sociais democratas.
O aprofundamento da crise vai, todavia, trazer para a rua a via do protesto, do conflito, possivelmente, até, do enfrentamento duro violento classista.
Poderá pôr-se mesmo fases de duros combates revolucionários, que sofrerão o choque da repressão.
Se tal acontecer, os movimentos mais avançados não podem colocar de lado o afastamento do direito à Revolução.
É um direito, ela é uma realidade histórica que assenta na própria formação do regime republicano português, e, nos tempos, nas recentes, com o 25 de Abril, no próprio assentamento inicial do actual regime, que degenerou, posteriormente. Todos os direitos históricos subversivos sociais e políticos de Portugal - e da própria Europa - estão na própria génese da sociedade.
Não se pode ficar nas encolhas da ameaças do autoritarismo. Naturalmente, tem de se ser cauteloso, medir o estado das forças em presença.
Não foram, todavia,as classes trabalhadoras que provocaram a crise actual, e o empobrecimento que a mesma está a gerar.
A legitimidade do protesto, da reconquista dos direitos, faz parte de um legado que longas batalhas, em que participaram, há 30 anos, os próprios arautos de agora da ordem e da anti-subversão.
A História caminha a favor das mudanças, da subversão. Esta é a realidade. Os tempos próximos irão dizê-lo, com maior ou menor rapidez.
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