terça-feira, 13 de março de 2012

GOVERNO: HENRIQUE GOMES, O ELO MAIS FRACO DA ESPECULAÇÃO



1 - Escrevíamos, no texto anterior, que a actual gestão do aparelho de Estado português (governo, Presidência da República, governador do Banco de Portugal) se convertera e institucionalizara como instituição política de um regime transformado em estrutura societária da especulação bancária e bolsista para explorar os valores patrimoniais nacionais portugueses produtores de riqueza.


A demissão anunciada à socapa do Secretário de Estado da Energia, Henrique Gomes, vem colocar na "ORDEM DO DIA", precisamente,  o que afirmávamos. 


Denunciou o demissionário, ainda que centrado apenas num conglomerado produtivo, a EDP, a empresa que até há pouco tempo era pública, mas foi transaccionada para satisfazer os interessados da alta finança portuguesa e estrangeira, à custa da exploração do Estado, e, essencialmente, dos contribuintes, a quem são roubados salários e pensões, e retirados direitos sociais.


Henrique Gomes não fez isto, porque seja um arauto da defesa dos interesses das classes trabalhadoras, longe disso, ele pensava que podia representar os interesses da produção industrial, ou seja da burguesia industrial, preconizando apoios noutros sectores produtores energéticos. 


Claro, que, secundariamente, punha em causa a rapinagem, a vampiragem que as alta burguesia ligada à especulação e à finança suga do trabalhador português.


Tal como afirmávamos, o Ministro da Economia percebeu, a tempo, o puxão de orelhas do seu Primeiro-Ministro: Quem está em primeiro lugar é  a banca e a especulação financeira. Álvaro Santos Pereira atirou pela borda fora o seu adjunto.


Trocou-o por uma pseudo-regulador do sistema eléctrico, Artur Trindade.


Ele irá cumprir, fielmente, os ditames dos especuladores:  
nós somos os dominadores da coisa pública.


Claro que Henrique Gomes não explicou porque saiu. Fica-se pela velha frase "motivos pessoais e familiares".


Mas, a imprensa foi buscar um discurso, que ele proferiu, há pouco dias, no Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG), que criticava, precisamente, os dominantes económicos do regime.


Cito o comentário a TVI, que divulgou o documento, que o Primeiro-Ministro não queria que se conhecesse.

"Henrique Gomes saiu, mas deixou um discurso que acabou por não ser proferido, a que TVI teve acesso em exclusivo.


O discurso não foi lido em voz alta, mas a mensagem é bem audível. Sobretudo para os produtores de energia.

Henrique Gomes garante que é preciso «eliminar as rendas excessivas do sector e os lucros excessivos». Em suma, é um «sector protegido». No documento, Henrique Gomes sai em defesa dos consumidores, sobrecarregados, com custos excessivos.

E dá números. Em 2010, afirma, a factura da electricidade já era superior às despesas das famílias com educação e aproximava-se dos gastos com a saúde.

Escreve o ex-secretário de Estado que «as rendas excessivas desviam da economia e das famílias recursos que ascendem a cerca de 3500 milhões de euros até 2020, o que representa uma renda anual de 370 milhões de euros».

Mas as piores notícias estão já perto do final do discurso. 


Se o Estado continuar a pagar mais do que deve e se o consumo de energia continuar a cair os preços da electricidade, em 2013, poderão subir cerca de 26 por cento.

Mas se a opção for colocar parte deste aumento no défice tarifário o agravamento, ainda assim, nunca seria inferior a 11 por cento.

O discurso torna ainda mais evidente o braço de ferro que Henrique Gomes travava com os produtores de energia: EDP à cabeça.

Henrique Gomes pediu um estudo a peritos da Universidade de Cambridge que concluía que, entre outras empresas do sector, a EDP recebia rendas excessivas do Estado.

Mas um dia depois de a TVI ter divulgado, em exclusivo, o estudo já António Mexia, (o homem forte da especulação financeira na EDP; explicação minha), o criticava fortemente e até já sabia que seria ignorado pelo Governo. «O estudo tem erros grosseiros», disse Mexia.

O documento que respondia a uma das exigências da troica, avaliou os custos das rendas que o Estado paga aos produtores de electricidade. E o objectivo seria o corte dessas rendas em 2 mil 500 milhões de euros.

Mas não foi o primeiro embate com a eléctrica. Em Outubro, o secretário de Estado da Energia propôs aplicar uma taxa adicional à EDP que aliviava os bolsos dos consumidores.

Mas a taxa não avançou. E já nessa altura o secretário de Estado terá ameaçado bater com a porta.

Em jeito de acto final, recentemente, em entrevista ao Jornal de Negócios acusava a EDP de ter excessivo poder de mercado e de influência".





 




Presidente executivos mais bem pagos 

Empresa

Valor mensal (euros)

Média da empresa (euros)
EDP
221 675 
2608
Portugal Telecom
107 559
1022
Galp Energia
102 929
2062
Semapa
91 960
1551
Cimpor
84 725
1388




2 - Esta demissão traz para primeiro plano a chamada política de privatizações, que envolve transportes (terrestres, marítimos e aéreos), bem como o sector de controlo aero-portuário e a televisão pública, além de outras empresas, incluindo a maior financeira, ainda em poder do Estado, a Caixa Geral de Depósitos e às Águas.

Os abutres da alta burguesia financeira estão à espera de abocanhar, por preços irrisórios, os sectores mais importantes da capacidade produtiva do país.



Este vampirismo avassalador está, todavia, a tornou insuportável a vida das classes laboriosas e mesmo da pequena burguesia. 


É natural que este açambarcamento sem qualquer pejo de moralidade pública seja um abrir de olhos para movimentações e actos de rebeldia que os detentores do poder não possam vir a controlar.





.

Sem comentários:

Enviar um comentário