terça-feira, 18 de dezembro de 2012

NARRATIVAS DA INFÂNCIA DE CRISTO SÃO HISTÓRIA INTERPRETADA- BENTO XVI



1 - O Papa Católico Apostólico Romano, o alemão Joseph Ratzinger, que se veste de Bento XVI, no seu ritual de Chefe de Estado da Santa Sé e de bispo de Roma, na sua profissão de fé, decidiu, na sua corporização humana, discorrer, em escrita vulgar, naturalmente não etérea, sob o dogmas da Igreja de que é Sumo Pontífice (Pontifex Maximus, copiado do expoente religioso dos antigos imperadores romanos) para expor, em livro, logo em meros estratagemas terrenos, a sua versão da vivência de Cristo, como o título " Jesus de Nazaré - A infância de Jesus".

(Deixemos de lado, este repetitivo de títulos - Jesus, coisas de somenos importância na literacia actual!).


O que assinala, então, de relevante o Sumo Pontífice da Igreja Católica Romana: que "as narrativas da infância (de Jesus Cristo) são história interpretada, a partir da interpretação, escrita e condensada".


Sem qualquer metáfora, o Papa Ratzinger reconhece que os escritos sobre o cristianismo (e a história da criação da figura de Jesus Cristo é o início, preciso, da modelação dessa confissão religiosa) foram obras de seres terrenos, que interpretaram, à sua maneira, um evento que pretendiam divulgar.


Pode Ratzinger, "remexer depois na caldeirada", sustentando que "entre a palavra de Deus e a história interpretadora há uma relação recíproca: a palavra de Deus ensina que os eventos contêm *história da salvação*, que diz respeito a todos", mas o que ele admite, para a racionalidade histórica, que é essa que interessa, pois é a única que é objecto da Ciência, é que a narrativa dos começos dessa doutrina não tem, justamente, uma... base histórica.


Cito: "Eu não vejo como se possa aduzir, em apoio de tal teoria (nascimento de Jesus em Nazaré,ndr) fontes verdadeiras. De facto, a propósito do nascimento de Jesus, não temos outras fontes além das narrativas da infância de Mateus e Lucas. Vê-se que os dois dependem de representantes de tradições muito diferentes; são influenciados (sublinhado meu) por perspectivas teológicas diferentes, e, inclusive as suas informações históricas divergem parcialmente". (Bento XVI, "Jeus de Nazaré - A Infância de Jesus" - Principia Editora, 2012)




As figuras de Cristo mudaram conforme as épocas e as tradições. Tudo obra de homens....

2 -  Quando Bento XVI refere que as narrativas de Mateus e Lucas, dois dos chamados Evangelistas - e são os Evangelhos os únicos textos, juntamente com os Actos dos Apóstolos e o Apocalipse que falam e descrevem algo da vida do eventual fundador da doutrina - representam "tradições muito diferentes", está a dizer que as transcrições que fazem são produtos de relatos de outros, logo já os receberam em segunda ou terceira mão. 


Ou seja, não reproduzem na sua escrita, documental e presencialmente, a vivência de Jesus Cristo.


Do Evangelho de Lucas, logo no início aquele sublinha: 


"Escreveram-se já várias narrativas sobre Cristo, em que se usaram, como informação principal, relatos que circulam entre nós e que nos foram feitos pelos primeiros discípulos e por outras testemunhas, que viram o que aconteceu. Pareceu-me, contudo, que seria bom verificar todos esses relatos, dos mais antigos aos mais recentes (sublinhado meu), e, após um exame completo, dar-te este resumo desses factos que aconteceram no nosso meio, para fortalecer a tua confiança de tudo o que foi ensinado". 


E, entrando na sua versão, Lucas apresenta dois casos de nascimento por intervenção do anjo Gabriel, um filho "endeusado" que nascerá, por obra e graça, e será pertença de um casal já velho, o homem de nome Zacarias e a mulher de nome Isabel, ele "sacerdote judaico, e os dois observavam - segundo o autor, embora de outra confissão religiosa - "todas as leis de Deus". Não tinham filhos. 


Esta criança nascida "por via divina", é transformado num João "pregador do Deus glorioso", porque - interpreta - irá preparar "o caminho para o Messias, o seu Enviado".


Ficamos a saber, logo depois que o anjo Gabriel, um mês depois, transmitia a Maria, que era prima de Isabel (cito o evangelista), que iria engravidar virgem, e a criança se chamaria Jesus e seria "o Filho de Deus eterno. O Senhor lhe dará o trono do seu antepassado, o rei David. Reinará sobre Israel para sempre; o seu reino jamais terá fim".


Como se pode verificar do que Lucas escreve, existem muitas relatos biográficos de uma figura que chamam Jesus Cristo, umas muito antigas, outros mais recentes, que são divergentes e que criam confusão nos apaniguados. Preconiza então uma formatação para dar confiança ao que estava a ser "ensinado".


Em termos práticos, era necessário unificar doutrina, pois as pessoas do tempo do Evangelho de Lucas não assistiram a nada que tivesse convivido com Cristo, nem estavam a aceitar, de bom grado,    as narrativas que lhe estavam a transmitir.



3 -  Os Evangelhos - Lucas reconhece e Ratzinger, dois mil anos depois, dá a mão à palmatória - não são provas testemunhais directas da existência dessa personalidade que ficou, mais tarde, conhecida como Jesus Cristo. 


A única razão dessa aceitação dessa existência é a crença, a fé. Ponto final.


Quando se tenta investigar em documentos coevos a figura histórica daquele, que os Evangelhos assinalam que teve uma importância enorme, em vida, no espaço geográfico, pelo menos da antiga Palestina, a situação complica-se de tal modo, pois não existe um único texto que permita referenciar sem hesitações a sua existência real. 


Quer da parte de apologistas ou discípulos de Cristo que com ele, eventualmente, tivessem convivido, quer da parte das diferentes entidades, desde Romanos ocupantes até às diferentes autoridades civis e religiosas das várias confissões que habitaram, ao mesmo tempo, o território, desde a Judeia, Samaria e Galileia, por onde Cristo se movimentara, nada ficou registado, nem na escrita, nem na arqueologia. Até agora. 


Estranho, pois os evangelistas e apologistas dos primeiros séculos do cristianismo ressaltam que Jesus Cristo era acompanhado de multidões nas suas movimentações e pregações e que, logo, nos primeiros anos da sua passagem pela terra, já eram às centenas de milhares os seus seguidores. E, tais factos, nunca foram registados na época por ninguém!!!. 


Ratzinger, como Papa, procura com este texto minimizar os documentos, entretanto, descobertos recentemente, também eles Evangelhos, pertencentes, no geral a épocas idênticas de concepção dos Evangelhos, considerados canónicos, a partir do Concílio de Niceia (325), justamente num altura que o Imperador romano, tornava o cristianismo em ascensão como religião oficial de Estado.


Com estes textos, o Papa Romano procura fazer obscurecer, do ponto de vista religioso, o manancial de documentação real, que uma outra versão do cristianismo. Desde as relações carnais de Jesus Cristo até ao papel ignaro que desempenhavam os próprios apóstolos, que, aliás, se apresentam diferenciados nos próprios Evangelhos canónicos.


4 - Ora, a descoberta destes documentos, que apenas sabíamos que existiam pela critica demolidora que os hierarcas burocratas dos princípios da nova religião oficial, lhe faziam, vem colocar, em primeiro plano, precisamente, a razão real do seu desaparecimento.


O bispo Eusébio, um fanático da religião cristã de Estado, no século IV, na sua História Eleciástica, admite que o facto de Jesus Cristo ter sido elevado a "divindade" trouxe "em cada país" discussões e polémicas que enquadraram "um grande número de pessoas estrangeiras de terras distantes da Judeia".




Todavia, toda esta discussão não foi transferida para escritos e documentos. Sabemos agora que existiram. 

O que pressupõe que o seu desaparecimento, logo nos primeiros séculos da oficialização da nova doutrina, se devolveu a uma perseguição organizada e profunda. 


A Igreja Católica actuou com sinistra actividade censória, que ia até à própria morte de todos aqueles que se opunham à versão oficial. 





Sem comentários:

Enviar um comentário