sábado, 15 de novembro de 2014

QUANDO OS HERÓIS OCIDENTAIS INCENSADOS TIRAM A CARAPAÇA

1 - Nos últimos 20 anos, assistimos à institucionalização de "Santos" políticos pelos representantes da política capitalista ocidental, através de uma máquina publicitária, claramente, orientada pelos grandes meios de comunicação social, para fazer obscurecer as lutas de classes, os conflitos revolucionários, as relações cortantes entre exploradores e explorados.



Pelo contrário, têm sido *diabolizados* os que ousaram colocar em causa o sistema capitalista existente, recorrendo às armas e às movimentações populares anti-capitalistas, sendo, friamente, assassinados por ordens directas do serventuários locais e dos agentes destacados da principal potência capitalista, os Estados Unidos. Falamos do argentino-cubano Ernesto *Che* Guevara, dos brasileiro Maurício Grabois, Carlos Marighela e Carlos Lamarca, do colombiano, padre católico, Camilo Torres, entre muitos outros.



Che Guevara e os seus carrascos





Maurício Grabois, que liderou a guerrilha do Araguaia


Marighella metralhado à queima roupa pelos esbirros da DOP´s



Camilo Torres na guerrilha colombiana





2 - Não é de estranhar que um homem 

apelidado de delinquente, terrorista, fora da 

lei, pelos torturadores assassinos do apartheid 

sul-africano, e, pelos lacaios jornalistas, 

políticos e capitalistas norte-americanos e 

pelos os capangas submissos europeus, no 


caso em apreço, Nelson Mandela, fosse


transformado, num espaço de poucos meses, 


pelos mesmos protagonistas, em *um dos 


líderes morais e políticos do nosso tempo*???.


Nelson Mandela passou 27 anos nas prisões sul-

africanas, inicialmente em Robben Island, e 

depois, em Pollmoor e Victor Verster. 


(A prisão de Mandela, no seu regresso, em 


1962, à África do Sul, depois de ter efectuado 


um curso de guerrilha na Argélia, partiu de 


informações da CIA, e foram essas informações 


que permitiram a detenção do chefe do ANC, 


segundo o New York Times, de Dezembro de 


2013, que confirmou junto da agência dos 


serviços secretos do seu país).



Nessa altura, era um revolucionário que queria 

destruir a sociedade racista capitalista sul-


africana. 


Tornou-se, então, a personalidade política 

detestada por todo o sistema capitalista 


internacional ocidental, que sempre recusou a 


sua libertação, e, mesmo, a suavização das 


suas condições prisionais.


(Já em 1987, quando decorriam 


negociações secretas entre Mandela e as 


autoridades sul-africanas do apartheid, a 


assembleia-geral da ONU aprovou uma 


resolução, onde constava a exigência  de 


libertação incondicional de Nelson Mandela, 


apenas com três votos contra: EUA (Ronald 


Reagan), Inglaterra (Margaret Tchatcher) e 


Portugal (Cavaco Silva, Primeiro-Ministro; 


Mário Soares, Presidente da República).



Qual a razão para um *volte-face*, 

quando a sociedade que Mandela afirmava 

modificar, radicalmente, permaneceu nas mãos 

do mesmo sistema. 

Acrescento mais: transformou-se mesmo, sob a 

sua liderança, na mais descarada instituição 

estatal do lumpen-capitalismo internacional?


O que levou à saída da prisão de Mandela? 


Naturalmente, a evolução que a sociedade sul-

africana, mas especialmente a africana, estava 

sofrer, em particular, desde a década de 70, 

e, especialmente, nos territórios limítrofes da 

República Sul-africana, governada por nazis 

brancos africandêres.


A África do Sul estava rodeada, naquela altura, 

por novos países independentes, saídos dos 

regimes coloniais, inglês (Tanzânia, Zâmbia, 

Zimbabué), e, português (Angola e 

Moçambique), todos eles anti-colonialistas e 

afirmando-se anti-capitalistas. 


Corria, portanto, riscos de ser asfixiada.


No interior do movimento interno anti-

apartheid sul-africano, começava a irromper 

uma contestação fora das orientações, ainda 

que dominantes, dos velhos líderes do ANC.


Era o caso do Movimento da Consciência Negra 


(Black Consciousness Movement), dirigido pelo 

activista Steve Biko, que vai morrer, sob 

tortura, da polícia sul-africana em 1977.


Sabe-se, agora, que a transferência de  

Mandela de Robben Island para Pollmoor, foi 

uma acção planeada para que o falecido 

primeiro Presidente negro da África do Sul 

pudesse estabelecer ligações e contactos com 

membros ditos *moderados* da direcção da 

ANC, onde se colocava a questão de uma 

possível *transição pacífica* do Estado fascista 

para um Estado formalmente democrático.


Assim aconteceu, em 1990, Mandela foi 

libertado, - meses antes já saíra da prisão 

Walter Sisulu, que, com Olivier Tambo, foram 


os principais renovadores de um velho ANC nos 

anos 50depois de formalizar um compromisso, 

primeiramente, com Pieter Willem Botha,

depois, finalmente, assumido com Frederik 

Willem de Klerk (os últimos Presidentes 


africandêres do país).






Esse compromisso passava, justamente, pela 

manutenção de todo o *status quo* do sistema 

económico capitalista, engendrado pelo 

apartheid", com a cumplicidade directa de Wall 

Street.  


Quando Mandela sai da prisão, com o braço 

levantado e o punho esquerdo fechado, 

mostrava já apenas a fachada do seu passado, 

porque o seu conteúdo tinha sido traficado.


Do ponto de vista da História, pouco interessa 

moralismo de ocasião ou as atitudes de 

homem de Estado íntegro que a propaganda 

intensa e dirigida pelo jornalismo do Capital, 

implantou em torno de Nelson Mandela.

O seu legado histórico é a sua participação 

concreta na evolução social. 


E, nesse aspecto, comparação terá de ser 


feita com os seus antecessores, quanto à 


melhoria de vida dos explorados.



Os bairros negros de hoje, tal como no tempo do apartheid

Já passaram mais de 20 anos, que se 

estabeleceu no África do Sul, um governo sob 


os auspícios do ANC, e, concretamente, sobre 


os ditames políticos preconizados por Nelson 


Mandela.


Essa transição, que Mandela apelidou de 

"táctica" e passageira, instituiu-se 

permanentemente. 


Do apartheid branco, racial, mas que era 


apenas na realidade de governação de um 


sector ultra-minoritário do capital, entronizou-


se, com mais uns quantos ricaços negros, um 


real apartheid classista.




Os dirigentes próximos de Mandela tornaram-

se oligarcas multimilionários, como Mbéki, 

Trevor Emanuel, e agora o próprio Jacob Zuma, 

o actual Chefe de Estado.

A realidade é o que dá o taticismo: todos esses 

antigos dirigentes da luta armada são ricaços 

instalados, desde o partido ao principal 

sindicato Cosatu, pertencem a *Country clubs", 

que eram exclusivos para brancos, são donos 

de magníficas vivendas (duas, três quatro), e 

sócios minoritários das principais empresa 

multinacionais de exploração mineira, a 

riqueza do país. 

Ou seja, a estrutura económica do país 

permaneceu a mesma: mais de 25 % da 

população, segundo estatísticas oficiais, vive 

com valores diários inferiores a dois dólares, o 

que significa que sobrevive no limite da 

pobreza.



Com papas e bolos, enganam-se os tolos.


Este foi o real papel desempenhado por 


Mandela, como Presidente, incensado pelo 

podedominante: deram-lhe em 1993 o prémio 

Nobel, juntamente, com o seu algoz, de Klerk. 


pró-americana ONU formalizou um dia, 18 de 

Julho, para ser "Dia Internacional Nelson 


Mandela.


Os Estados Unidos cumularam-no de honrarias, 


das quais a mais destacada é a *Presidential 


Medal of Freedom*, outorgada por George 


W.Bush, a sinistra Isabel de Inglaterra 


galardoou-o com a Ordem of St. John  e, o 


rasteiro político português Cavaco Silva 


colocou-lhe o Grande Colar da Ordem do 


Infante d.Henrique.



3 - O caso mais gritante, porque nos é próximo 


e actual, é o de Alexandre Gusmão, que é 

conhecido por Xanana Gusmão, actual primeiro-

ministro de Timor-Leste, de onde já foi Chefe 

de Estado.


Foi transformado em herói, no momento da sua 

prisão, finais de 1992, quando já actuava como 


um poltrão, ao serviço da política de 


compromisso para a manutenção da estrutura 


ditatorial na Indonésia, e, em troca da 


liberdade de Xanana Gusmão, posteriormente, 

quando estivesse na ordem do dia a 


possibilidade da independência do território 

timorense, sem pôr em causa os interesses 


energéticos (petrolíferos e de gás) da 


superpotência norte-americana e dos lacaios 


australianos.


(Colocou-se, nos grandes meios de 


comunicação social desde a segunda metade 


dos anos 90 do século passado, uma tarjeta de 


censura sobre as declarações que Xanana 


Gusmão fez no momento da sua detenção em 


que renegou todo o seu passado de 


guerrilheiro. 


Afirmou-se então arrependido do mal que 


sustentou ter feito ao povo maubere e lançou 


um apelo aos seus seguidores da guerrilha e 


da resistência para optarem pela deserção.


Quando prestou estas declarações não pareceu 


constrangido, nem mostrou sinais de torturas, 


nem de fraquezas provocadas por eventuais 


problemas de saúde mental.


Poderia ter desmantelado, com esta sua 


postura, a guerrilha e a resistência timorenses, 


mas outros agarraram e impediram, sem 

qualquer intervenção do Xanana capitulador).




Temos, todavia, de analisar a História política 

pelos factos.


O período em que Xanana Gusmão, então um 


inexperiente chefe político, conseguiu refazer 


um exército guerrilheiro, e pôr em sentido 


um poderoso exército ocupante javanês, entre 


os primeiros anos da década de 80 do século 


passado até à sua rocambolesca prisão em 


1992, quando, infantilmente, se passeava de 


motorizada em Dili, esse, contudo, é 


obscurecido nas resenhas da grande imprensa 


internacional e nas cobardes chancelarias 


ocidentais, incluindo a portuguesa.




(Na realidade, nessa altura, os primeiros-

ministros portugueses e os respectivos Chefes 


de Estado da altura menosprezaram, pura e 


simplesmente, o papel desempenhado pelos 


representantes da única delegação exterior, 


onde a determinada altura pontificava um 


triunvirato de unidade, representado pelo 


falecido bispo resignatário de Dili Martinho 


Lopes da Costa (que morreu na miséria, 


abandonado pela própria hierarquia da Igreja 


Católica), Abílio Araújo (FRETILIN) e Moisés da 


Costa Amaral, que lutava pelo reconhecimento 


diplomático do direito à independência 


timorense).



Mas mais sinistra, pindérica e omissa na 

verdadeira História de Timor-Leste, no 


ocidente, e, em particular nos grandes meios 


de comunicação social, alguns dos quais foram 


dirigidos por jornalistas que apoiaram a 


FRETILIN revolucionária, é o "apagamento" 


dos "pais" fundadores da actual República de 


Timor-Leste, apagamento este que os dois 


principais dirigentes que estiveram ao leme da 


Chefia do Estado e do governo (Xanana 


Gusmão e Ramos Horta) são cúmplices 


premeditados.






Foto de arquivo da proclamação de independência de Timor-Leste em 1975. Da esquerda para a direita Mari Alkatiri, Nicolau Lobato, Xavier de Amaral, Rogério Lobato (era alferes do Exército português), Guido Soares e Afonso Redentor, irmão de Abílio Araújo. O vice-primeiro-ministro e ministro da Economia era Abílio Araújo e o ministro dos Negócios Estrangeiros era Ramos Horta. De registar que uma portuguesa, Guilhermina Araújo, era a vice-ministra dos Negócios Estrangeiros.

Na realidade, a República foi, formalmente, constituída a 28 de Novembro de 1975. 



E a razão de ser da luta de resistência contra a invasão indonésia foi produto, justamente, do facto de haver em Dili, em Dezembro de 1975, um governo legítimo, com forças armadas que o defendiam. 


Havia reconhecimento internacional, principalmente entre os países saídos do colonialismo ocidental, desde meados dos anos 50 do século XX. Nomeadamente, os cinco africanos de língua portuguesa, a China, Cuba, República do Congo, a Tanzânia, a Argélia, entre outros. 

E Jacarta foi agiu, porque teve a concordância desta invasão dada pela autorização directa do então Presidente dos EUA Gerald Ford, em visita a Jacarta, com a anuência australiana, que, em 1978, à revelia da decisão do Conselho de Segurança da ONU, que não considerava legal face ao direito internacional a integração de Timor-Leste no território indonésio.

E os obreiros directos deste feito - a resistência em condições adversas - eram liderados por Nicolau Lobato, o segundo Presidente da República, seu primeiro chefe de governo e comandante e organizador das FALINTIL, as forças, primeiro, estatais, depois guerrilheiras, de quem esteve à frente até à sua morte pelas tropas indonésias em 1978.



E que Xanana Gusmão veio a ser o seguidor, por exclusão de partes, porque nos inícios dos anos 80 era o último membro do CC vivo no interior e permanecendo na guerrilha, mas que não era, na altura, o seu mais importante comandante operacional.




O papel desempenhado por Xanana Gusmão na *reestruturação* das chefias da guerrilha e da liderança da FRETILIN, a principal, e, praticamente única estrutura política interna na defesa radical da independência, foi controverso e levou a divergências e casos nebulosos, ainda não esclarecidos no afastamento político dos seus oponentes.




Que, não tendo a profundidade e gravidade no presente momento, ainda hoje mina a sociedade timorense. 




Com erros, ou até com incompreensões políticas, o certo é que Xanana Gusmão desempenhou um papel de liderança política e militar até à sua prisão.




Pode dizer-se que estava isolado em Cipinang. 


É verdade. Mas a postura política não se verga, por vontade de outrem.



Xanana Gusmão cedeu, tornou-se colaboracionista, e, este aspecto é que  tem de ser analisado para se compreender como foi "santificado" pelo poder ocidental.




Quando os movimentos internos em Timor-Leste se radicalizaram e o sistema político da Indonésia começou a ameaçar implodir, com a saída do general Suharto do poder, começou a germinar nos Estados Unidos e na Austrália uma linha orientadora para uma saída política, com um Xanana domesticado.




Permitiram que o líder timorense preso tivesse contactos e até deixaram que uma australiana desconhecida Kirsty Sword, sua actual esposa, entrasse e permanecesse, com Xanana Gusmão, na prisão de Cipinang e andasse, livremente, em serviço de *espionagem* a favor da causa maubere. 




É uma estória da carochinha.




Convém um esclarecimento: os responsáveis sucessores de Xanana, retiraram-lhe o comando político e militar quando prestou declarações pró-indonésias.





O Vice-Presidente da FRETILIN e chefe do governo revolucionário Nicolau Lobato discursa e o fotógrafo de serviço de imprensa da FRETILIN Alexandre Gusmão cobre o acontecimento.


Xanana Gusmão é preso em 1992, aparentemente, por quebras de sistemas de segurança, principalmente após a juventude estudantil se rebelar sob a direcção da FRETILIN, que aquele renegara.




Essa juventude enfrentou os esbirros indonésios e, os jovens, apesar de praticamente desarmados, lutaram nas ruas de Dili, em enfrentamentos, cujo conflito mais saliente foi o massacre do cemitério de Santa Cruz (12 de Novembro de 1991).




Gusmão fica detido, em Dili, numa prisão de triste memória, sendo julgado em 1993 e colocado numa prisão de presos comuns denominada de Semarang. 


Mais tarde, quando começam a haver contactos com *interlocutores internacionais* é transferido para Cipinang, onde eram encarcerados os presos políticos. 

Aquele massacre, que foi filmado por um jornalista estrangeiro Max Sthal, e divulgado internacionalmente, fazendo com que a acção monstruosa do Exército indonésio merecesse o repúdio geral, arrastando, desta maneira, a própria Administração norte-americana a juntar-se ao coro da denúncia mundial.



O engrandecimento dado a Xanana Gusmão, após o seu aprisionamento em Cipinang, e, particularmente, após o referendo em a 30 de Agosto de 1999, em que a população opta pela independência, é feito em paralelo, com a penetração da Igreja Católica em todas as estruturas da nova sociedade timorense, incluindo a educação e a própria política.




E, principalmente, com a tentativa premeditada entre os sectores afectos a Gusmão e à UDT, agora já dominada pelos irmãos Carrascalão, e os poderes políticos ocidentais (EUA e Austrália), para criar uma nova formação política, o Conselho Nacional da Resistência Timorense, que desarticulasse a FRETILIN, que estava associada à independência, através da luta armada. 




Não foi, por acaso, que na prisão de Cipinang, ali estiveram, em conciliábulo com Xanana, a então secretária de Estado norte-americana Madeleine Albright, o ex-presidente daquele país Jimmy Carter e Alexander Downer, na altura ministro dos Negócios Estrangeiros da Austrália, país que rubricou, com a Indonésia um pacto de assentimento da integração timorense, em troca da repartição dos benefícios do petróleo e do gás do mar de Timor.




Após a saída da prisão e das primeiras eleições presidenciais, Xanana Gusmão é eleito Chefe de Estado, mas é a FRETILIN, que vence as eleições legislativas por maioria absoluta e forma governo.




Que vai ser sabotado pela dupla Xanana-Ramos Horta e afastado pela intervenção estrangeira, australiana.


(Para que conste, na apreciação futura- e já agora actual: Xanana Gusmão e Ramos Horta são filiados na maçonaria de obediência norte-americana). 



3 - Chegamos à situação actual.




Por muito dura que a crítica seja feita a esses ex-revolucionários que amoleceram as suas convicções, em nome das manobras tácticas, para "atingir o objectivo pretendido" temos de as reafirmar, tal como o fizemos no passado, por muito que custe.

Não se pode se condescendente com quem renega o seu passado revolucionário, para atingir o poder a todo o custo, ou com justificações de o fazer para "salvar a Nação".

E só fica admirado com as transformações quem trafica com convicções, e procura sempre estar de bem com deus e o diabo.


















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