Devemos olhar para o sucedido, não como uma guerra entre os "bons e os maus", mas fazê-lo, politicamente, focalizando a questão:
Como se transforma um conflito localizado em centro de tensão mundial, simplesmente porque estão em jogo acirramentos de crises económicas e sociais, em vários Estados e regiões do globo, que ferem, de suma maneira, o poder político dominante estabelecido em decadência.
E que aquele, deste modo, acossado por novos centros de poder capitalista em concorrência, numa altura que se verificam indícios fortes de novas erupções de crises económicas mais acentuadas no modelo económico capitalista, age fazendo eclodir conflitos violentos em várias regiões, através de "forças encobertas", tidas como essenciais para a sua política de arrogância de manutenção de um *status quo* que já não existe.
Os Estados Unidos estão afectados desde o ano 2001 pela fraqueza permanente, lenta, é certo, mas sem retorno, (daí a sua dispersão militar e estratégica actual) do superpoder económico e militar desse capitalismo, localizado nos Estados Unidos da América.
Desde o chamado Congresso de Viena de 1815, passando pelas I e II Grandes Guerras (1914-18) e (1939-45), e, nestes últimos 70 anos de progressão imperial contínua dos Estados Unidos, e, descontínua, até certa época, da então União Soviética, que a política de terra queimada, de levantamentos e conflitos sangrentos, encapotados, ou a *céu aberto*, para impor políticas imperiais, acabaram por redundar, nos seus términos, em fracassos clamorosos.
Quer na repartição dos despojos da derrota de Napoleão Bonaparte, quer na I e II Grandes Guerras, foi a Europa o palco principal - mas não único - de esquartejamento de populações, o desprezo pelos sentimentos dos povos e das suas nacionalidades ou do seu desejo de formação de unidade territorial, baseado em culturas e sistemas sociais ancestrais (mais de 70 milhões de mortos!).
E foi nessa mesma Europa que os seus pensadores burgueses mais avançados, mesmo aqueles que provocaram a saguenta destruição da Europa central e oriental, verificaram que o caminho da violência desgarrada e sem objectivo de progresso, nunca iria resultar.
Pelo contrário, trouxe fracasso, que se repetirá, com adventos de nacionalismos serôdios, se se optar pela violência castrense.
E isto porque os predadores e os vencedores das derrotas europeias foram as potências que do alto do seu convencimento e poderio momentâneo militar, se consideraram, com autoridade, para desprezar e pisar mesmo os interesses e sentimentos dos povos.
E, de maneira evidente, os interesses das classes trabalhadoras que se mortificaram, elas sim, na chafurdice das guerras que as classes dirigentes impuseram, sem lá estarem presentes, e, traficar no seu final, em manobras de duvidosa eficácia política a médio e longo prazo.
Foi, neste longo percurso, mais de dois séculos - de ascenso da burguesia, e, depois da sua implantação e domínio na cena política dessa Europa - que nasceu já no século XX, a ideia de unidade europeia e a necessidade de formação de grande e contínua estrutura territorial, que unificasse e harmonizasse as suas estruturas económicas, e, em função do sucesso daquelas se iniciasse a via para uma organização política.
Sem esse avanço do domínio político e social da burguesia europeia em grande extensão e com uma economia poderosa, dificilmente se poderá conseguir edificar, com pés e cabeça, um programa ideológico e político revolucionário que permita a ascensão ao poder das classes laboriosas.
(Desde os finais da Idade Média da Europa e começo da sua expansão extra-europeia, do ponto de vista da geo-estratégia e da própria História que, no território que vai de Portugal à própria Rússia, ou seja o grande espaço europeu, se foi - e se vai - caminhando, com altos e baixos, para formações estatais territoriais, com maior amplitude.
A Europa, após o desastre napoleónico
No Renascimento e na primeira fase industrial, até aos finais do século XIX, os principais e maiores Estados europeus tiveram, em diferentes fases temporais, direito a cidadania e estruturação política, ultrapassando as visões estreitas senhoriais e feudais.
Foi com este avanço que também se formalizou um maior incremento civilizacional para o mundo, porque esse expansionismo territorial sem entraves fiscais, alfandegários, de capitais e de trabalhadores, era um objectivo de crescimento da própria burguesia da Europa.
Foi também esse seu ascenso, paulatino, no espaço europeu que teve repercussões na própria liberdade de mercadejar da burguesia nascente - ainda que incipiente - nas suas possessões coloniais.
Na realidade, a expansão guerreira brutal de Napoleão Bonaparte contra toda a Europa feudal, do princípio do século XIX, apesar da sua derrota clamorosa e ruinosa para a França, trouxe o reverso da medalha, porque sendo uma guerra de conquista foi efectuada sob uma consigna revolucionária, vinda da Revolução francesa de 1789-99, (convém recordar que o transfuga Napoleão foi um membro dirigente dessa revolução, que dela se travestiu para se intitular seu Imperador), que tinha a seguinte consistência: liberdade, igualdade e fraternidade.
Muitos dos revolucionários do século XIX, que deram início às revoluções liberais, acompanharam Napoleão na sua saga, como o general português Freire de Andrade, fuzilado, mais tarde, pela contra-revolução monárquica absolutista.
Ora, esse desejo de liberdade, igualdade e fraternidade teve a sua expressão mais eloquente, fora do espaço europeu, nas independências americanas.
Na realidade, em todas as grandes guerras gerais europeias de conquista desde aquela data - Napoleão e Hitler - e contra-ataques em resposta àquelas - caso da ex-URSS, de Stáline -, o espaço de território abarcava ou interligava sempre com a Rússia.
E nunca com os Estados Unidos.
Estes, quando adquiriram pujança comercial e capacidade militar extra-territorial, entraram na Europa sempre como predadores e fomentadores da sua desunião.
No século XX, com a constituição da união económica europeia, o objectivo político de formação estatal pelos homens políticos burgueses que a forjaram, como o general de Gaulle, estendia-se, justamente, desde Portugal aos Urais).
2 - A concepção de criação da UE esteve, portanto, centrada na perspectiva, mesmo do ponto de vista da grande burguesia desenvolvimentista, de que, em primeiro lugar, apenas uma grande unidade económica se tornaria em condicão sine qua nom para lançar a verdadeira cooperação interestatal na Europa, avançando depois para a unidade política.
Mas para conseguir tal objectivo ter-se-ia de travar e diluir as questínculas nacionais e regionais, mesmo de vizinhança fora dessa União.
Todavia, essa burguesia fomentadora da UE, sabia que não se poderia forjar tal coesão e avanço político sem ter em conta a identidade de cada Nação, nem a sua cultura, nem o incremento nas suas estruturas sócio-económicas.
Foi, assim, que a União avançou, em certa harmonia, até ao final do século passado, mas entrou em turbulência depois, quando vieram ao de cima - com as crises contínuas desde 2001 - os preconceitos retrógrados nacionais e imperiais latentes em sectores das grandes burguesias conservadoras da Alemanha, França e Inglaterra.
Uma nova Europa sem tutelas da NATO e com a inclusão da Rússia
E, principalmente, porque o avanço independente dessa União que se veio a tornar, rapidamente, em potência unificada, comercial e monetária, ainda que sob a orientação da burguesia, começou, por um lado, a ser um escolho para as pretensões de se intitular como a única grande superpotência por parte dos Estados Unidos da América;
por outro lado, despertou noutras regiões do globo um impulso para lançar organização similar de outros grandes Estados ou grupos de Estado, desafiando a soberba e a supremacia imperial unilaterais de Washington.
Aquele estava convencido, após a queda, nos princípios dos anos 90, da ex-União Soviética e da desagregação da estrutura imperial do seu capitalismo de Estado, forjado em torno do COMECOM e do Pacto de Varsóvia, que ocuparia, sem contestação, o lugar de "polícia" mundial.
Menosprezaram, durante cerca de 30 anos, o que significou, na realidade, na Europa, o avanço dos diferentes Estados, primeiro para a criação da Comunidade Económica do Carvão e do Aço (CECA), depois, sobranceira e paternalmente, deram o seu assentimento à constituição da CEE.
Ficaram, no entanto, preocupados, já na fase final dos anos 80 e toda a década de 90 do século passado com a formação da União Europeia.
Forjaram, então, uma política estratégica de destruição da UE, quando a sua unidade monetária, o euro, se começou a erigir em moeda padrão das trocas comerciais internacionais em competição com o dólar.
Mas, essa clivagem na sua geo-estratégia e na sua geo-política somente ocorreu, verdadeiramente, na mudança do século XX e, particularmente, após a decadência acentuada da economia norte-americana a partir da crise internacional de 2001.
E a cobardia europeia actual advém também do facto de que nunca se estabeleceu uma política decisória na UE de impor uma política diplomática única e Forças Armadas unificadas.
A meu ver, a questão ucraniana (e a desunião europeia face à Rússia e à intromissão militar norte-americana) tem de ser enquadrada nesta perspectiva.
E este facto está a minar a coesão europeia e, se não houver, uma mudança total e rápida, da sua estratégia política, o desmembramento e o retrocesso civilizacionais serão uma realidade.
E com eles virão a guerra.
O rastilho da destruição da Europa poder surgir com o caminho que certos sectores do grande capital - em sintonia com a política de Wall Street - pretende instituir no incremento do militarismo e na transformação da diplomacia, dando rédea solta aos ideólogos e fomentadores da teoria do papel central das Forças Armadas, como arma única de imposição política.
3 - Se analisarmos a História mundial, desde que o capitalismo adquiriu, finalmente, cidadania, com a ascensão da burguesia a grande parte do poder, primeiramente, na Europa no século XIX, tal sucedeu porque se deram revoluções, que tiveram no seu bojo as reivindicações mais avançadas de cada época, mas, acima de tudo, porque por detrás do avanço burguês esteve sempre um espectro aterrorizador para aquele na manifestação constante das classes trabalhadoras proletárias.
No século XIX, na Europa, tal movimento revolucionário deu-se, essencialmente, em duas ocasiões, e o epicentro foi a França.
As primeiras ocorreram, em 1848, e atingiram grande parte da Europa central e oriental, França, territórios do antigo Império Austro-Húngaro, Dinamarca, Polónia, entre outros.
Foram, essencialmente, revoluções nacionalistas, enquadradas, na sua maioria, por reivindicações de exigência de liberdades democráticas burguesas.
Excepto, em França, onde atingiu outro patamar, com os sectores socialistas, ainda que minoritários, a forçarem a queda da monarquia e imporem uma série de reivindicações que iam ao encontros dos interesses do proletariado nascente.
Todavia, esta nova realidade, a intervenção política das classes laboriosas na política de Estado, amedrontou, seriamente, essa burguesia em crescimento, levando-a aliar-se, rapidamente, aos monárquicos derrotados e, principalmente, à intervenção brutal dos grandes Estados absolutistas, como a Rússia czarista, a Grã-Bretanha e mesmo a Espanha, a refazerem os avanços conseguidos.
Todavia, o fermento do incremento societário estava lançado e mexeu com interesses de progresso de burguesias então divididas e sem expressão real no poder político, como foi o caso da Alemanha (principados/Bismarck) e de Itália (Papado e Bourbons), que estilhaçaram os particularismos feudais e senhoriais que as abafavam no prosseguimento dos seus negócios.
Isto acontecia, justamente, quando, na ressaca de retrocesso da revolução de 1848, a França, seu motor político e ideológico no mundo, fazia guindar-se a campeão do reaccionarismo político um imperador aventureiro, completamente desclassificado, chamado Luís Bonaparte, que se torna o ídolo da burguesia amedrontada, com o apoio directo dos camponeses e do aparelho estatal castrense.
O sonho imperial dos saudosistas reaccionários acólitos de Napoleão desvaneceu-se com os gastos tremendos do erário público em guerras extra-territoriais contra os direitos de povos que se queriam emancipar, no fundo revolucionar, segundo os interesses de uma nova burguesia desenvolvimentista, como foi o caso da Alemanha.
A derrota humilhante e inglória de toda a burguesia aglutinada em torno do tiranete corrupto Napoleão, dito o III, foi, única e valorosamente, limitada, apenas, pela resistência proletária de Paris, em 1871, que, com a unidade armada que detinham da Guarda Nacional não capitularam sobre a arrogância alemã.
E isto, porque a derrotada burguesia francesa coligada com os monárquicos aceitava a formação de um governo chefiado por um escroque chamado Louis Adolf Thiers, que ficaria sob o protectorado de Bismarck.
O proletariado parisiense armado, conjuntamente com a Guarda Nacional, derrotou Thiers, que fugiu para Versalhes.
Esse proletariado organizou-se como cidade-Estado, em Paris, intitulando-a de Comuna. Esta foi a segunda ocasião e mais marcante.
Apesar do isolamento e derrota, tornou-se exemplo.
Foi o primeiro governo de maioria operária da História e aquele que realizou as mais profundas reformas, na época, de que há memória, num tempo de alguns meses.
Na realidade, foi, na sua prática e constituição o primeiro governo pan-europeu.
O primeiro poder pan-europeu
(Registamos certas propostas de progresso que foram levadas a cabo e mais tarde estranguladas, em massacres horrendos, por toda a reacção europeia:
a - A Comuna foi constituída por dirigentes de várias nacionalidades. Era irrelevante o facto de ser estrangeiro. Além de franceses, dela fizeram parte italianos, polacos, húngaros e belgas.
b - Foi abolida a pena de morte.
c - foi instituída a igualdade social e económica de sexos.
d - Foi reduzido o horário de trabalho, tendo sido proposta, pela primeira vez, uma jornada diária de trabalho máxima de 8 horas.
d - Foi proibido o desconto em salários acordados.
e - Separação total entre o Estado e as Igrejas religiosas.
f - Educação gratuita, universal, secular e obrigatória. Todos os estabelecimentos de ensino teriam de ser mistos.
g - Todos os cargos dirigentes estatais teriam de ser electivos, incluindo a magistratura.
4 - A jugulação da Comuna da parte da burguesia europeia foi de tal maneira brutal, que essa data histórica, ficou marcada como o exemplo do papel torturador, massacrador e anti-democrático do capitalismo mundial.
O período histórico que se seguiu levou as diferentes classes burguesas a uma convergência de acção para evitar, a todo o custo, que tais levantamentos surgissem no futuro.
Claro que era uma acção inglória que pretendia, no fundo, conter a marcha da História.
Na realidade, durante décadas, de 1871 até ao final da I Grande Guerra, do ponto de vista político, foi uma época de reacção, que levou à formação de alianças burguesas-monárquicas conservadoras, lançado que estava sob o espectro do surgimento de uma nova sociedade que as ameaçava.
E foi justamente sob essa ameaça, e, principalmente pelo alastramento das reivindicações dos trabalhadores em Estados cada vez mais diferenciados, que não só no centro europeu, que a grande burguesia constatou que somente o impulso em grande na organização e incremento industrial seria possível conter, para já, o aparecimento de novos levantamentos revolucionários.
O término da altura dos confrontos, com a introdução de novos armamentos e concepções de arte da guerra, entre a França e a Alemanha - e consequentemente o desmantelamento brutal da Comuna - conduziu, também, à constatação de que seria necessário melhores exércitos e melhores e mais sofisticadas armas.
Começou nesta altura, precisamente, a implantação ordenada e em ascenso da indústria castrense.
O que, do ponto de vista de evolução civilizacional, trouxe progressos acrescidos no próprio crescimento das classes trabalhadoras.
Mas, este progresso industrial trouxe, por um lado, um incremento da burguesia e uma certa melhoria social, por outro, fez entrar em competições os projectos imperialistas estabelecidos então na Europa (as potências alemãs, austro-húngaras, otomanas, russas, britânicas, francesas e italianas), que se estendiam às necessidades de adquirir matérias-primas primordiais, que estavam alojadas, essencialmente, nas colónias europeias.
Ora, esta sede de poder imperial e de necessidades de mais recursos levou as potências europeias a fazerem um aumento exponencial das suas despesas militares.
Além de uma mobilização enorme em recursos humanos, mas essencialmente em encargos monetários, foi aumentando, também, uma consciência ideológica e política contra o militarismo e a ganância capitalista.
Ora, esta nova perspectiva de avanço burguês, envolto em divergências de tal monta, teve como consequência a implosão de uma guerra mundial de proporções inauditas até então:
mais de 70 milhões de soldados nos terrenos operacionais (Europa, principalmente, mas, também, colónias), cerca de 60 milhões dos quais europeus, com perto de 10 milhões de combatentes mortos.
O aperfeiçoamento do sistema de guerra, quer no armamento, na logística e no alargamento de espaços de movimentos de tropas (novas vias rodoviárias e marítimas, e início da estruturarão aérea) modificou, na realidade, em toda a aplicação da violência.
A I Grande Guerra mostrou o que significa a militarização da sociedade. As Forças Armadas tornaram-se, na realidade, a finalidade única da existência dos então grandes Estados.
Com esta orientação para introduzir, cada vez, mais despesas castrenses, esses Estados destruíram, na prática, toda a sua capacidade de prosseguir uma política geral de bem-estar social.
O único grande Estado - EUA - que saiu incólume, e, grandemente vencedor, entrando na Guerra, já no seu estertor final (Abril de 1917), fá-lo por meros objectivos de interesses próprios:
somente quando começou a ter a perspectiva de poder estar em jogo o reembolso dos seus financiamentos e vendas de armas e alimentos e a repartição dos despojos coloniais.
E particularmente, com o início, em Fevereiro de 1917, de uma revolução democrática na Rússia, afastando-a do centro do conflito, poderia fazer pender a sorte da guerra para a Alemanha.
Deste modo, na ressaca dessa Guerra, surgiu, não propriamente uma Comuna localizada, mas formações estatais, que se intitularam revolucionárias e socialistas, com mudança radical de poder, em torno de programas avançados: Rússia, Alemanha (Baviera) e Hungria.
Revolução soviética de 1917
Revolução startaquista de 1918
Revolução húngara de 1918
E, de maneira menos evidente, e com política programáticas difusas, nas décadas seguintes, sob a forma de "frentes populares" em Espanha e França, na década de 30, com exigências idênticas noutros Estados sem terem, todavia, expressão ou efeito prático.
Dessas revoluções, em especial da Revolução Soviética de 1917, retiraram-se ilações que não correspondiam à maturação da consciência política, nem a um alastramento demolidor de uma crise económica mundial.
E isto, particularmente, a partir da constituição da III Internacional (IC), enquadrada sob os auspícios do Partido Comunista da União Soviética, para procurar romper o cerco imperialista que estava a asfixiar a Rússia soviética.
Na realidade, a burguesia mundial, e, de maneira evidente, a capitalista financeira norte-americanam ficou abalada e atarantada com a eclosão de uma Revolução de princípios socialistas num país com a dimensões da Rússia, mas tal facto, até porque o seu poder económico estava incólume e em crescimento, levou-a a colocar em acção um plano estratégico (ideológico, económico e político, e, se suma maneira, militar) para fazer crescer uma unidade reaccionária e contra-revolucionária, mascarada com slogans "anti-capitalistas".
Os partidos nazis e fascistas europeus (mas não só - dentro dos próprios Estados Unidos, o poder político organizou-se reaccionariamente) surgidos nos finais dos anos 20 do século XX foram financiados, formatados e impulsionados pelos principais capitalistas financeiros norte-americanos e europeus, como os Warburg, os Kuhn Loeb, Henry Ford, a holding Shell, o grupo Morgan (Hajalmar Schatt, banqueiro e ministro da Economia de Hitler foi a ligação a este banco), o presidente do Banco Central inglês, o avô de George W. Bush, Prescott Bush, banqueiro de Wall Street e senador.
(Aquele Bush era um dos sete administradores da União Banking Corporation, juntamente com Averill Harriman.
Este UBC era um banco de investimento que funcionava como *câmara de disfarce* para as negociatas do rei do aço alemão Fritz Thyssen.
Aquele banco norte-americano, ainda em 1942, estava, abertamente, ao serviço da Alemanha.
Para comprovar, pode-se ser o artigo do jornal inglês The Guardian, de 25 de Setembro de 2004, intitulado, em tradução, "Como o avô de Bush ajudou a ascensão de Hitler ao poder").
Os EUA contaram para este ascenso reaccionário, com o facto de as transformações revolucionárias ocorridas na Rússia nos primeiros meses de 1917 e 1918, que se tornou União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, não estarem a produzir uma ruptura real e continuada contra a velha ordem capitalista, nem as medidas decretadas de construção do"socialismo num só país" terem como consistência uma verdadeira estrutura económica socialista.
Na realidade, deste o tempo da governação de Vladimir Lénine, governação essa que ele próprio rotulou de capitalismo de Estado, o novo poder económico nascente no país, não evoluiu para um poder socialista, que contribuísse, de maneira evidente, para revivificar uma elevação da consciência política, que produziu a Revolução de 1917, por um lado, na minoria proletária, por outro, na grande maioria camponesa.
Claro que, apesar de uma certa confusão na prática revolucionária, não significou um baixar de braços das classes trabalhadoras, não só na Europa, mas também, particularmente na América do Sul e, mas de maneira subterrânea na China desde a segunda década do século passado.
A prosperidade industrial que recomeçava nos anos 30, primeiro, essencialmente, nos EUA, e depois, mais tenuemente, em outros países da Europa, como Inglaterra, França e Alemanha, tornou-se a força orientadora e reanimadora, que reforçou o desenvolvimento reaccionário daqueles todos os países, já em concorrência dentro da Europa, mas também fora, concorrência esta alimentada, sempre de fora, pela estratégia de Washington.
Claro que todos eles estavam, por outro lado, unidos na destruição da forma de capitalismo de Estado vigente na ex-URSS, que eles apelidavam de *comunista*.
Mas um facto novo surgia e teve a sua importância: o incremento do capitalismo no Extremo-Oriente, em particular as ambições imperialistas do Japão.
5 - A II Grande Guerra nasce, com antecedentes, de conflitos imperialistas pela busca de matérias-primas e de expansão territorial para controlo de zonas de mercado e de influência geo-estratégica.
(Itália ocupa a Etiópia- 1935; invasão da China, desde 1931 pelo Japão; anexação alemã do Sarre em 1935, entre outros).
Mas, também, porque as burguesias europeia e norte-americana estavam sintonizadas nos anos 30 na obsessão de desarticular tudo o que tivesse um "leve cheiro" a comunismo.
Ora, apesar do alastramento reaccionário na Europa e no Extremo-Oriente e nas duas Américas, tem sempre à perna o fantasma da revolução.
É sob este "estigma" que a chamadas burguesias ocidentais, nos seus diferentes matizes, e especialmente a alemã, e do outro lado extremo, a japonesa, tinham de mostrar que se poderiam engrandecer, e, para isso necessitavam de conquistar grandes espaços e grandes mercados.
Ora, esta orientação somente poderia ser conseguida pela intervenção armada e por uma concentração política autoritária que levasse a efeito, sem pestanejar, os seus propósitos.
E, naturalmente, não beliscasse os "interesses nacionais" da potência emergente e umbilicalmente imperial, desde os seus primórdios, os Estados Unidos da América.
A Alemanha que apostara no desenvolvimento rápido do sistema industrial, sofria, todavia, de um constrangimento na sua actividade pela dificuldade de crescimento do seu comércio externo.
Para a grande burguesia capitalista do país, como de outros europeus, era preciso romper com o que consideravam, no caso germânico, o mais acirrado, ser "o desprezo" pelas aspirações nacionais alemãs, daí a manipulação de um nacionalismo exacerbado, para se lançar em aventuras imperialistas.
Assim sucedeu na Alemanha, com a escolha deliberada do partido nazi por parte dos grandes capitalistas e, com diferentes nuances nos principais países europeus ocidentais, bem como no Japão, aqui, com ela, já assente na estrutura monárquica absoluta existente há séculos.
Claro que a ex-URSS nesta época já se transformara num regime capitalista, autoritário, dirigido por uma minoria que se auto-intitulava de *revolucionária* e *socialista*, que, ao mesmo tempo, apostava, numa fase de grande desenvolvimento industrial, mas este era lento, apesar de "marchas forçadas", e não harmónicas, na sociedade.
Procurava manter, contudo, uma auréola mítica de que representava os interesses classistas da maioria dos povos da antiga União Soviética.
Mas, não só: essa *mística* era transmitida, através de uma propaganda bem elaborada, ao seio de uma parte substancial do proletariado mundial e de sectores intelectuais que a abraçavam, sem questionarem o retrocesso ideológico e político que se vivia naquele Estado.
Mas, a ex-URSS, já então, como estrutura estatal capitalista, estava envolta nas lutas inter-imperialistas europeias, e mesmo mundiais - Finlândia, Extremo Oriente, confrontos com o Japão.
Das convulsões anteriores das classes trabalhadoras, inclusive das formas de "governo de unidade popular" (França e Espanha) não sai qualquer erupção revolucionária, mas sim decepções, derrotas, atrasos de luta revolucionária.
O que emerge é a perspectiva de guerra contra-revolucionária, e, nesse objectivo surgia a ideia de conquistar o "espaço vital" para a potência mais agressiva, na altura, a Alemanha, que era, essencialmente, a conquista da ex-URSS.
Na realidade, esse *espaço* alongava-se para leste, mas antes os seus promotores teriam de conter - e se possível enquadrar as potências Inglaterra e França, já que os EUA estavam a fomentar o militarismo germânico.
Este, portanto, teve de *proteger* as suas costas, envolvendo e provocando as potências europeias que lhe podiam, pela sua força militar, atrasar, e, se actuassem ofensivamente, logo no início, destroçar os sonhos imperiais teutónicos, o que estranhamente não aconteceu.
Do outro lado do Atlântico, os EUA financiavam o desenvolvimento produtivo da Alemanha e do Japão, ao mesmo tempo que aceitavam, sem pestanejar, o seu proibido rearmamento.
Sustentavam essa cínica campanha de manipulação para a guerra fora de portas, agarrando-se a um estouvada argumentação de que eram *neutrais*.
Por seu turno, a ex-União Soviética, que estava em fase de reorganização interna da sua classe superior castrense, e da sua indústria de guerra, e transferindo a sua indústria pesada para lá dos Urais, utilizou esse conflito inter-imperialista na parte ocidental europeia para entrar nos jogos dos ganhos territoriais, anexando os países bálticos e partes da Finlândia e a Polónia, sem comprometimentos e embora com alguns desgastes militares.
mortandade nazi na ex-URSS
De certo modo e em certo sentido, a sua fase imperialista operacional veio ao de cima nesta altura.
Com a recomposição e o incremento industrial na Alemanha, o silenciamento e mesmo a destruição das formações políticas proletárias e populares, a sua vitoriosa expansão, quase avassaladora, de organizar o sistema capitalista em grande parte da Europa, decapitando, aparentemente, as organizações políticas legais do operariado e dos restantes sectores das classes trabalhadores, fizeram de Adolf Hitler e do Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães (sigla alemã NSDAP), respectivamente, no ídolo do grande capital e o partido dirigente da Europa.
Essa euforia do mundo capitalista - o rei de Inglaterra Eduardo VIII e outros altos dignitários do decadente império, como o poderoso duque de Wellington, que enquadrava o clube da alta aristocracia e alta burguesia "The Right Club", assim como o então governador do Banco de Inglaterra Montagu Norman, obscurece-se, propositadamente, tais factos!!! - recrudesceu quando o regime hitleriano entrou, ocupou e desenvolveu as maiores barbaridades em grande parte da ex-URSS europeia.
Hitler e Eduardo VIII, da Inglaterra
Mas a guerra centrada, em 1941, na antiga União Soviética, pela extensão e dispersão do território, pela importância primordial da logística à distância, pela incapacidade que a prazo ia fazendo na rotatividade do recrutamento e pela tecnologia em incremento, depois de 1939 e o enquadramento ideológico *quase militar* dos seus cidadãos que aquele país, ao fim de cerca de um ano, desfez o *sonho* da cruzada capitalista nazi da Alemanha, até aí sustentada pelos financiamentos permitidos, encobertamente, pela administração norte-americana.
A contra-ofensiva da parte soviética, iniciada nos princípios de 1942, prenunciando uma derrota do poderio alemão, forçou os Estados Unidos da América a declararem a guerra, primeiro ao Japão, e, apressadamente, em 1943, fazer um desembarque no sul de Itália, já com as tropas soviéticas avançando para ocidente, depois de derrotarem, definitivamente, os hitlerianos na batalha de Kursk.
Todo o esforço de guerra para destroçar Hitler estava, no entanto, essencialmente, efectuado.
Aqui é que entram os EUA, como representante máximo, em primeiro lugar dos seus interesses capitalistas próprios - o financiamento feito não só à Alemanha, mas também à Inglaterra, a eventual perda de mercados, a redução das hipóteses de controlo do comércio mundial, entre outras razões -, em segundo, dos seus aliados, que, embora estando no esforço de guerra, perderam a sua capacidade de influenciar uma eventual repartição de poder pós-guerra, face ao incremento ofensivo e dinâmico da ex-União Soviética em avanço.
A aliança apelidada de anti-fascista real, operacional, organizada em 1943, é, na realidade, uma reunião de Estados imperialistas, em confronto com uma Alemanha super-imperialista, que, nesse ano, já tinha *mais olhos que barriga* para implementar o seu *espaço vital*, o império dos "mil anos".
As conferências de Teerão (20 Novembro 1943), Ialta ( Fevereiro de 1945) e, finalmente, Postdam (Julho/Agosto de 1945), foram organizadas para definir as "zonas de ocupação" da Europa de acordo, apenas e essencialmente, com os interesses das duas verdadeiras potências vencedoras: a ex-URSS e os EUA.
Conferência de Ialta
A Inglaterra foi apenas *um adorno* para fortalecer e justificar a razão da *presença tardia* norte-americana no território operacional da guerra na Europa.
(Nos países vandalizados pela sofreguidão imperial dos países, que constituíram o chamado +Eixo+ foi crescendo uma revolta, primeiro absolutamente clandestina, e, depois de 1943, mais aberta e organizada entre os sectores mais conscientes do proletariado e de largos extractos da intelectualidade, da pequena burguesia e campesinato, este principalmente na Ásia, que foi, na realidade, na sua essência e na movimentação a verdadeira acção revolucionária anti-fascista, cujos expoentes foram, na Europa, a França, a Itália, a Grécia e nos Balcãs, o conjunto de países que se reuniram na Jugoslávia e Albânia, e no Oriente, a China, a Indochina e a Índia.
Esta acção contribuiu, fortemente, no pós guerra, para o desencadear dos movimentos anti-coloniais, que se realizaram, na sua maioria, sob as *bandeiras* propagadas pela Revolução Soviética de 1917 e, pelo I Congresso da Internacional Comunista).
Aliás, foi pela violência do avanço da tecnologia no armamento (a introdução da bomba atómica) que os Estados Unidos impuseram a sua presença na *recolha do espólio* das zonas de influência no Extremo-Oriente, e, consequentemente, da ocupação efectiva do Japão, de que foram, na realidade, os seus financiadores e propulsores armamentistas desde 1937 até finais de 1941.
6 - O verdadeiro vencedor do bárbaro conflito sangrento da II Grande Guerra foi, por um lado, o capital financeiro internacional, sediado em Wall Street, por outro, a expansão do desenvolvimento capitalista, na sua expressão liberal ou de Estado, aos diferentes continentes.
Quando a guerra terminou na Europa, o panorama político ficou, na sua parte ocidental, com uma multiplicidade de Estados, uns completa ou parcialmente destroçados nas suas estruturas, simplesmente desarticulados, ou manietados nas suas indústrias e comércio e actividades profissionais, mesmo tendo ficado ao lado dos vencedores, como a Inglaterra, ou então aparentemente *neutrais* com sistemas fascistas em actividade, como a Espanha e Portugal.
Embora estes Estados tivessem ficado, na divisão interimperialista de influências, sob a alçada dos EUA, havia, em quase todos, principalmente naqueles continentais que mais sofreram com a guerra - França, Itália, Grécia, e, em menor escala na Alemanha - uma capacidade castrense dos partidos guerrilheiros, que se afirmavam comunistas, que poderiam, se não sofressem a influência política e ideológica castrante da direcção da ex-URSS, ascender ao poder estatal, sem repartição.
A acontecer, o capitalismo financeiro norte-americano `perderia´ o conjunto de Estados mais avançados industrialmente do mundo, e ficaria enfraquecido face à supremacia imperial que a antiga União Soviética estava a engendrar na parte leste europeia.
Esta foi a razão porque os Estados Unidos apostaram financeiramente na recuperação europeia, mas fizeram, principalmente, porque uma eventual angústia de perda tinha um objectivo muito material: sacar lucros fabulosos do investimento depositado, abraçar, militarmente, toda a Europa, tirando-lhe toda a capacidade - ou melhor dizendo, manietando lentamente essa capacidade - de adquirir pujança própria de formação de poderosos Exércitos.
E, deste modo, quando começou a estabilização e mesmo o crescimento económico da Europa sob a sua alçada, através da NATO, o que a tornava potencialmente mais desenvolvida económica e industrialmente que os países de leste, integrados no COMECON, isso significou, em determinada altura, que a unidade económica europeia em formação seria um eventual tampão a uma expansão futura para o ocidente europeu da parte da defunta União Soviética.
Este mercado já conquistado e, aparentemente, amestrado, levou os Estados Unidos, no começo dos anos 60, a dar uma importância desmesurada ao seu complexo industrial militar, ao incremento e refinamento da sua tecnologia castrense, e também a uma política de multiplicação de bases militares pelo mundo, de fomento de conflitos em países que se desembaraçavam do colonialismo.
Paralelamente, contemporizou e até apoiou a ascensão económica e militar de países, como a China, que se afastavam da órbita ideológica e política da antiga URSS e de seus aliados;
ou que pensava manter indefinidamente como quintais das traseiras, caso do Brasil e da Argentina, com um pensamento obscurecido de que permaneceriam "imóveis" na sua evolução societária.
E, mesmo noutras condições, metendo "parafusos na engrenagem", através de destruição da sua evolução produtiva independente, com guerras realizadas com intermediários, no caso do Irão.
Ora, lentamente, nos últimos 30 anos, esses Estados foram-se emancipando, desenvolveram a sua economia, realizaram e impulsionaram a sua própria máquina militar.
Os Estados Unidos sentem essa percepção, precisamente, de maneira evidente e aterradora para eles, claro do ponto de vista das suas pretensões imperiais, na entrada da década de 80 do século passado.
Eles agravaram e introduziram um sistema sem freio de militarização da sua política económica.
Desprezaram todas as leis de compromisso internacionais nas relações entre Estados e de resolução de conflitos nos aeropagos criados depois da II Grande, como a ONU.
Em 1980, aprofundou-se o ritmo de intervenções norte-americanas extra-territorialmente, quase sempre ferindo, ilegal e encobertamente, a integridade nacional dos países e Estados.
A mais flagrante sucedeu, no Irão, com a utilização de um grupo de forças especiais, com seus aviões de transporte e oito helicópteros para, em plena campanha eleitoral, resgatar funcionários da embaixada norte-americana em Teerão, apanhados em acções de sabotagem interna do regime dos aiotolás.
Um desastre total, que custou o poder ao então Presidente Jimmy Carter, pois o candidato republicano Ronald Reagan já tinha negociado com os iranianos a troca dos reféns, através da entrega de armas proibidas pelo Congresso dos Estados Unidos (O chamado caso Irão-Contras).
Desde antes do início da década de 80, o assassinado Presidente líbio Muhamar Khadafi procurava diversificar o asfixiante controlo norte-americano das suas riquezas naturais (petróleo, essencialmente).
Khadafi respondeu com acções classificadas de terroristas pelos norte-americanos, pensando, deste modo, afastar a ameaça de Washington
A Administração Reagan utiliza a ameaça militar constante, com acções de ataque a território líbio, a primeira das quais começa em 1981, com caças norte-americanos a abaterem dois aviões líbios na águas do golfo de Sirte, pertença da Líbia.
As provocações norte-americanas vão ser constantes, ainda nesse ano, mais agressivas.
Sobem de tom e violência em 1986, Março precisamente, quando Ronald Reagan, afirmando que forças militares do seu país, que sobrevooam as águas líbias, eram atacadas, tendo o governo de Khadafi mandado ripostar à incursão com mísseis, Washington manda bombardear, com mísseis mais poderosos, território líbio.
Um mês depois, põe em prática, uma operação já planeada - El Dorado Canyon - bombardeando, indiscriminadamente, instalações militares em Tripoli, com argumento, não confirmado, de que Khadafi mandara fazer um atentado numa discoteca alemã, frequentada pelos soldados do Exército de ocupação estadunidense, desde a II Grande Guerra, mantando dois.
Em 1989, novo ataque de aviões norte-americanos junto à costa líbia, golfo de Sirte, abatendo aeronaves daquele país.
Registam-se as sucessivas intervenções no Líbano, Agosto 1982, depois 1982-83, com a entrada de uma chamada Força norte-americana Multinacional.
O rol é imenso. Vou só indicar as principais - país e datas.
1983, invasão de Granada; 1983-89, intervenção nas Honduras; 1983, Tchade; golfo Pérsico (1984, apoio aéreo à Arábia Saudita para esta abater, como intermediária, caças iranianos- 1987, ataque naval a plataformas petrolíferas do Irão), guerra dos petroleiros, 1987/88, apoio directo ao Iraque e Kuwait contra o Irão, capturando, inclusive, um navio de guerra de Teerão; em 1988, o Exército de Washington abate um avião civil iraniano com 290 pessoas a bordo; depois Panamá, desde 1988, quando o general Noriega, agente da CIA, se quer emancipar para negociar directamente a droga e os branqueamentos, fora do sistema de Wall Street; primeiro com o envio sucessivos de tropas, para juntaram aos 10 mil ocupantes já lá estacionados - mais mil naquele ano, cerca de dois mil em 1989, com a captura, em 1989, do fiel serventuário Noriega, um Chefe de Estado de outro país, recrutado por Bush pai, director da CIA, nesta altura Presidente, com a morte de mais de 200 civis.
Tropas norte-americanas massacram civis no Panamá
Na década seguinte, começam as intervenções nos territórios africanos, onde existem matérias-primas essenciais para manter o poder do dinheiro dos Estados Unidos: Libéria (1990 e 1996) e Serra Leoa (1992) e os diamantes de sangue, a que se segue (1991), o Zaire/República do Congo, República Centro Africana (1992), Ruanda e Uganda, em que está em jogo, essencialmente, o controlo do lítio e o domínio estratégico do chamado Grandes Lagos, riquíssimo em matérias primas e minerais.
Em 1990, inicia-se a campanha organizada e manipulada de ataque ao Iraque (Operação Escudo do Deserto), em 1991, (a Tempestade no Deserto), que tem o objectivo central do controlo e rapina do petróleo e do gás, desde o curdistão iraquiano, até às provocações constantes ao Irão, que se prolonga com a Operação Provide Confort, até 1996, limitação do espaço aéreo iraquiano e finalmente a invasão (com as famosas armas de destruição maciça), já no início da década seguinte.
Nessa década, está toda ela marcada, na Europa, pela sangrenta cumplicidade EUA/UE na mortandade - verdadeiros crimes de guerra, que não serão esquecidos - na ex-Jugoslávia, forjados a partir da parceria norte-americana, alemã e vaticana, que se iniciou na Croácia e se imiscuiu na Bósnia e Herzegovina (1992-96), Macedónia (1993), Albânia (1997), RepúblicaFederal Jugoslava/Sérvia (1999) e Kosovo.
Ainda nessa década, intromissão constante na Somália e no Sudão, que culmina já nos anos mais próximos da divisão entre Sudão do Norte do Sul, em jogo, o petróleo.
Ultrapassemos, todo um conjunto de acções em África e Extremo-Oriente, e concentremos nos morticínios planeados e organizados no interior do regime de Washington, que começa no ataque às Torres Gêmeas e Pentágono para se projectar nas descaradas invasões e destruições no Iraque, Afeganistão, e, em menor escla no Paquistão, e finalmente, na Síria: petróleo, gás e geo-política e geo-estratégia.
6 - No fundo, a aplicação, pura e dura, da força, grande parte das vezes, através de mercenários e intermediários internos.
Mas esta força não existe fora da aplicação da *manus militar*.
E esta aplicação, não é só de homens, mas de grandes quantidades de dinheiro.
Em plena crise económica-financeira norte-americana de 2008, rapidamente, transferida pelo capital financeiro para a União Europeia, os Estados Unidos tinham, no activo, - o serviço militar é voluntário e pago razoavelmente como mão-de-obra inútil - 1,4 milhões de soldados nas suas Forças Armadas, com as tropas de reserva a fazê-las subir para 2,3 milhões.
Tudo a custar dinheiro em catadulpa.
Só a Secretaria de Defesa enquadrava mais de 700 mil civis, fora o pessoal da logística não castrense.
Esta base humana e de unidades navais, aéreas, apeadas (artilharia, cavalaria, engenharia) está dispersa pelos EUA e por 865 bases, situadas em 165 países.
Nesse ano de crise, o total orçamentado de gastos militares ultrapassava os 600 mil milhões de dólares - ou seja mais de 40 % da despesa castrense mundial.
No conjunto, o orçamento de defesa norte-americano é semelhante aos dos restantes 14 grandes países, todos somados.
As intervenções no Iraque e no Afeganistão fizeram subir, e muito, esse Orçamento.
Para 2014, os EUA vão desbaratar, só com os serviços secretos - comunidade civil e militar - mais de 70 mil milhões de dólares.
(Os dados são do Responsável dos Serviços Centrais de Espionagem e Serviços Secretos e do próprio Pentágono).
//Um aparte: a polícia norte-americana está a militarizar-se rapidamente e o Exército a ser treinado para intervenção em tumultos internos//.
Ora, esta *liberalidade* em dinheiro, para produzir tal espectro de violência e uso de força, somente teria uma continuidade se o dinheiro, criado artificialmente, pelos EUA estivesse estribado num suporte real: incremento da actividade produtiva do país.
Situação que deixou de ser real, ainda sem grande expressão, na crise de 2001, mas que se começou a tornar visível em 2008.
Mais evidente com a consolidação de novos centros de poder económico e de menosprezo internacional, crescente, pelo dólar norte-americano.
Com a resistência do Banco Central Europeu, a uma maior influência do dólar norte-americano, e, tomando consciência de que a UE estava a virar-se para a Rússia, América Latina e mesmo a China, afastando-se, ainda que, subtilmente da *pata* de Washington, este faz soar as campainhas de alarme.
Vira, então, de repente, a sua estratégia para o desgaste da UE, através da sua divisão em Nova Europa e Velha Europa.
O período em apreço que cito mais acima é, na realidade, o busílis de toda a realidade que acaba na crise ucraniana.
A dispersão belicista norte-americana obrigou o sistema económico capitalista a multiplicar de tal maneira os encargos militares e de segurança paramilitar que levaram a arruinar o país.
Na realidade, tal como atrás assinalo, a evolução de novos centros de poder económico e político, forçou-os, a todos, para o caminho do militarismo desenfreado, mas a questão de *vida e de morte* para o imperialismo castrense mais poderoso, o norte-americano, é a formação de uma parceria económica entre a União Europeia - os aliados preciosos, sem Exército, e onde o seu investimento financeiro é mais poderoso, até no retorno usurário - com a Rússia, com um poderoso sistema militar dissuasor, mas, do ponto de vista económico, com graves insuficiências e atrasos.
A suceder, será o fim da sua mais poderosa e cara aliança militar mundial e a limitação do espaço comercial mais poderoso actual (UE) e de futuro, Rússia, Médio-Oriente e China.
Para obstar a isso, é necessário forçar um conflito, aparentemente, numa zona tampão, a Ucrânia, que atinja e destrua a UE e enfraqueça, fortemente, a Rússia, e permita controlar outras zonas essenciais em matérias-primas, como o Médio-Oriente e a zona ribeirinha do Mar Cáspio.
Esta é, a meu ver, a razão de ser da tensão e acirramento de contradições e divergências em torno da questão ucraniana...Naturalmente, com os Estados Unidos de fora.
Esta é a percepção real que, a meu ver, os responsáveis e partidos europeus devem analisar e ponderar.
Continuando a entregar o comando da acção política e militar europeia à NATO, sob a supremacia dos Estados Unidos, ver-nos-emos em breve numa guerra de dimensões incalculáveis e de total desarticulação de toda a economia da UE.
E, se tal acontecer, a responsabilidade será da classe capitalista europeia, e, se não houver uma alternativa revolucionária tornar-nos-emos cúmplices desse desastre.
PARA CONSULTA:
Leia mais: http://portuguese.ruvr.ru/news/2014_10_31/Despesas-dos-EUA-com-o-servi-o-de-intelig-ncia-durante-ltimo-ano-somam-quase-70-bilh-es-de-d-lares-8088/A CIA e o Culto de Espionagem - Victor Marchetti e John D.Marks - 1974- Portugália Editora.
GUERRA DAS SOMBRAS - O Exército Secreto da Cia - Mark Mazzetti -2013- Vogais
Inside the Company :CIA Diary - Philip Agee, 1975, Nova Iorque.
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