1 – As investigações em torno da
falência do Banco Espírito Santos (BES), e, particularmente, a exposição
pública, via denúncias deles próprios na Assembleia da República, do papel
desempenhado pelos banqueiros da família, cujo expoente se revelou ser Ricardo
Espírito Santo Salgado, e a sua ligação descarada ao poder político dominante e
os seus partidos, PSD, PS e CDS, fizeram vir ao de cima, numa imagem *tão clara
como a água*, o entulho escondido, ao longo de dezenas de anos, do que foi, na
realidade, a razão de ser do golpe de Estado do 25 de Novembro de 1975.
Na
realidade, ao destruírem o caminho da Revolução, da mudança que as classes
trabalhadoras pretendiam, ao tentar forjar os alicerces de uma nova sociedade,
os mentores civis e os operacionais militares do 25 de Novembro não tiveram,
como lema, o moralista e repisado slogan de colocar o «25 de Abril no trilho da
democracia», mas sim o de reconstruirem o Estado sob os auspícios do
capitalismo.
Fizeram-no,
naturalmente, por fases, mas quando o I Governo Constitucional tomou posse a 23
de Julho de 1976, um dos seus primeiros
apelos políticos sobre o *convite* para o regresso dos banqueiros.
Todavia,
foi na época de Sá Carneiro, como primeiro-ministro, e, de maneira especial nos
governos de Cavaco Silva que o capitalismo financeiro (português e
internacional) adquiriu um peso dominante e avassalador sobre toda a actividade
económica e sobre a administração estatal.
Primeiro,
Mário Soares, depois Sá Carneiro, e, mais tarde, Cavaco Silva tornaram-se os
“ai jesus” da burguesia capitalista burguesa, e, acima de tudo, da capitalista
financeira.
Foi
sobre a sua ascensão acolitada e, ao mesmo tempo, encavalitada pelo poder
político que essa burguesia conseguiu a sua solidificação em todas os sectores
da economia portuguesa.
Com
a contínua modificação da Constituição, aprovada em 1976, com o enquadramento
político, económico e ideológico de forjar um novo tipo de sociedade, os representantes
político-partidários, que se lhe submetiam, estraçalharam-na a seu
bel-prazer, cinicamente, sem transformar,
contudo, a sua introdução, que defendia uma sociedade socialista. Para inglês
ver.
Assim,
findaram os princípios da posse estatal dos meios de produção e distribuição,
legislando o seu contrário: aberturas totais ao capitalismo financeiro.
Este
tomou conta, sem repartir com outros sectores da mesma burguesia, e,
hostilizando, abertamente, todo o que era favorável às classes laboriosas, dos
bancos, da bolsa, das empresas estratégicas, mesmo de uma parte mais rentável
da própria propriedade agrícola.
2 –
A crise geral económica-financeira, despoletada em 2008 nos Estados Unidos, com
os alastramentos pelos vários cantos do Mundo, com diferentes espaços temporais
e prazos diferenciados noutros pontos do globo, fez vir ao de cima as fraquezas
evidentes dos sistemas bancários capitalistas dos países mais expostos.
E,
a crise bancária, cujo expoente máximo, foi, agora, o BES, estava já anunciada,
na prática, quando se deu uma sua ruptura, em 2008, num processo de fusão com o
BPI (Banco Português de Investimento).
Mas,
de certa maneira, cresceu e atingiu, gravemente, os principais bancos ditos
portugueses, BCP (Banco Comercial Português), BPI, CGD (Caixa Geral de
Depósitos) e outros menores, (onde se verificaram, à luz do dia, os verdadeiros
processos criminosos especulativos e fraudulentos): BPN (Banco Português de
Negócios), BPP (Banco Popular Português), e, em escala menos conhecida, mais
significativa, o Banco Internacional do Funchal - BANIF (mas que levou na
prática a uma nacionalização de cerca de 90% do seu capital).
O
comum em todo a evolução deste descalabro está a especulação financeira, e, a
subordinação inesgotável da governação do Estado português ao “roubo” descarado
dos dinheiros públicos injectados, sucessivamente, nessas sanguessugas.
3 –
Essa crise de 2008 não teve uma período de intervalo até ao dia de hoje: não só
em Portugal, mas no chamado mundo ocidental, e, de maneira menos acentuada nos
restantes chamados países emergentes, em particular, Rússia, China, Índia,
África do Sul e Brasil.
O que realmente está a suceder, sem haver alternativa para
o sistema instituído?
A meu ver, a produção capitalista, confinada ao domínio absoluto do capital financeiro mais
desclassificado, está a ser *lançada no mercado* numa quantidade de tal maneira
elevada dos seus meios de existência, e, a evolução dessa produção atinge um
tal grau que não pode ser gasta.
E
isto porque esse excesso – que continua a crescer – não é atingível pela
maioria das classes laboriosas, no fundo as suas verdadeiras produtoras.
Ora,
quer queiramos, quer não, este prolongado, contínuo, crescente, desfasamento entre
a produção que aumenta exponencialmente e não é *escoada* para servir, na
prática, os que a realizam, vai levar a um dilema, que, no fundo, a razão da sobrevivência
humana:
As
classes produtoras estão a movimentar-se para tentar mudar este estado de
coisas.
Claro
que não existe ainda um programa, saído do seio dessas classes, que indique uma
linha de rumo para se apropriar desse produção – e naturalmente da sua
distribuição.
Mas,
há fortes movimentações populares e até indicações partidárias-legislativas que
indiciam algo, ainda em parte nebuloso.
Os tempos podem ser de guerra, mas também de revoluções.
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