quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

BES E CRISES FINANCEIRAS CONTÍNUAS: AS MUDANÇAS ESTÃO AÍ

1 – As investigações em torno da falência do Banco Espírito Santos (BES), e, particularmente, a exposição pública, via denúncias deles próprios na Assembleia da República, do papel desempenhado pelos banqueiros da família, cujo expoente se revelou ser Ricardo Espírito Santo Salgado, e a sua ligação descarada ao poder político dominante e os seus partidos, PSD, PS e CDS, fizeram vir ao de cima, numa imagem *tão clara como a água*, o entulho escondido, ao longo de dezenas de anos, do que foi, na realidade, a razão de ser do golpe de Estado do 25 de Novembro de 1975.

Na realidade, ao destruírem o caminho da Revolução, da mudança que as classes trabalhadoras pretendiam, ao tentar forjar os alicerces de uma nova sociedade, os mentores civis e os operacionais militares do 25 de Novembro não tiveram, como lema, o moralista e repisado slogan de colocar o «25 de Abril no trilho da democracia», mas sim o de reconstruirem o Estado sob os auspícios do capitalismo.

Fizeram-no, naturalmente, por fases, mas quando o I Governo Constitucional tomou posse a 23 de Julho de 1976,  um dos seus primeiros apelos políticos sobre o *convite* para o regresso dos banqueiros.

Todavia, foi na época de Sá Carneiro, como primeiro-ministro, e, de maneira especial nos governos de Cavaco Silva que o capitalismo financeiro (português e internacional) adquiriu um peso dominante e avassalador sobre toda a actividade económica e sobre a administração estatal.











Primeiro, Mário Soares, depois Sá Carneiro, e, mais tarde, Cavaco Silva tornaram-se os “ai jesus” da burguesia capitalista burguesa, e, acima de tudo, da capitalista financeira.
Foi sobre a sua ascensão acolitada e, ao mesmo tempo, encavalitada pelo poder político que essa burguesia conseguiu a sua solidificação em todas os sectores da economia portuguesa.

Com a contínua modificação da Constituição, aprovada em 1976, com o enquadramento político, económico e ideológico de forjar um novo tipo de sociedade, os representantes político-partidários, que se lhe submetiam, estraçalharam-na a seu bel-prazer,  cinicamente, sem transformar, contudo, a sua introdução, que defendia uma sociedade socialista. Para inglês ver.

Assim, findaram os princípios da posse estatal dos meios de produção e distribuição, legislando o seu contrário: aberturas totais ao capitalismo financeiro.

Este tomou conta, sem repartir com outros sectores da mesma burguesia, e, hostilizando, abertamente, todo o que era favorável às classes laboriosas, dos bancos, da bolsa, das empresas estratégicas, mesmo de uma parte mais rentável da própria propriedade agrícola.

2 – A crise geral económica-financeira, despoletada em 2008 nos Estados Unidos, com os alastramentos pelos vários cantos do Mundo, com diferentes espaços temporais e prazos diferenciados noutros pontos do globo, fez vir ao de cima as fraquezas evidentes dos sistemas bancários capitalistas dos países mais expostos.

E, a crise bancária, cujo expoente máximo, foi, agora, o BES, estava já anunciada, na prática, quando se deu uma sua ruptura, em 2008, num processo de fusão com o BPI (Banco Português de Investimento).

Mas, de certa maneira, cresceu e atingiu, gravemente, os principais bancos ditos portugueses, BCP (Banco Comercial Português), BPI, CGD (Caixa Geral de Depósitos) e outros menores, (onde se verificaram, à luz do dia, os verdadeiros processos criminosos especulativos e fraudulentos): BPN (Banco Português de Negócios), BPP (Banco Popular Português), e, em escala menos conhecida, mais significativa, o Banco Internacional do Funchal - BANIF (mas que levou na prática a uma nacionalização de cerca de 90% do seu capital).

O comum em todo a evolução deste descalabro está a especulação financeira, e, a subordinação inesgotável da governação do Estado português ao “roubo” descarado dos dinheiros públicos injectados, sucessivamente, nessas sanguessugas.



3 – Essa crise de 2008 não teve uma período de intervalo até ao dia de hoje: não só em Portugal, mas no chamado mundo ocidental, e, de maneira menos acentuada nos restantes chamados países emergentes, em particular, Rússia, China, Índia, África do Sul e Brasil.

O que realmente está a suceder, sem haver alternativa para o sistema instituído?

A meu ver, a produção capitalista, confinada ao domínio absoluto do capital financeiro mais desclassificado, está a ser *lançada no mercado* numa quantidade de tal maneira elevada dos seus meios de existência, e, a evolução dessa produção atinge um tal grau que não pode ser gasta.

E isto porque esse excesso – que continua a crescer – não é atingível pela maioria das classes laboriosas, no fundo as suas verdadeiras produtoras.

Ora, quer queiramos, quer não, este prolongado, contínuo, crescente, desfasamento entre a produção que aumenta exponencialmente e não é *escoada* para servir, na prática, os que a realizam, vai levar a um dilema, que, no fundo, a razão da sobrevivência humana:

As classes produtoras estão a movimentar-se para tentar mudar este estado de coisas.

Claro que não existe ainda um programa, saído do seio dessas classes, que indique uma linha de rumo para se apropriar desse produção – e naturalmente da sua distribuição.

Mas, há fortes movimentações populares e até indicações partidárias-legislativas que indiciam algo, ainda em parte nebuloso.

Os tempos podem ser de guerra, mas também de revoluções. 

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