1 –
Os que me lêem lembram-se, ainda, da queda, há cinco meses, de um avião malaio
– um Boieng 777 da empresa Malausia Airlines – com cerca de 300 pessoas a bordo
no leste da Ucrânia?
Se
se lembrarem, talvez possam recordar o alarido que os Estados Unidos fizeram, então,
apontando, de imediato, “como confirmação”, sem qualquer contestação, que o
avião fora abatido por um míssil terra-ar, e, inicialmente, culpabilizaram,
taxativamente, a Rússia de ser a responsável pelo abate premeditado.
O
coro estendeu-se desde o regime pró-fascista, que se tinha institucionalizado
na Ucrânia, depois do afastamento, por métodos golpistas, do anterior
Presidente do país o oligarca Viktor Yanukovich, que se refugiou na Rússia, até à
democrática Inglaterra e à republicana França, com o berreiro serviçal
rastejante do Canadá e Austrália.
Curiosamente,
quer a Ucrânia, quer os Estados Unidos, silenciaram-se, repentinamente, a
partir do momento que a propaganda organizada em torno do abate do avião por
parte de mísseis terra-ar russos, começou a ser posta em causa, particularmente,
por especialistas exteriores àqueles dois países, e mesmo no interior dos
serviços secretos norte-americanos.
Principalmente,
os Estados Unidos nunca puseram à disposição das autoridades de investigação
independentes as fotografias de satélite que efectuaram no local, no momento do
abate.
Até
hoje não se conhece um relatório factual, pormenorizado, do sucedido rubricado
pelas instâncias que deveriam fazê-lo, nomeadamente, as autoridades holandesas
e malaias e o Instituto Internacional da Aviação Civil, quiçá, mesmo a ONU,
cujo secretário-geral, na altura, muito se pronunciou sobre o assunto.
Recorde-se
que o avião foi autorizado pelos serviços aeroportuários da Ucrânia a seguir
uma rota perigosa, a cerca de 10 mil metros de altitude, pois atravessava um
espaço aéreo na região oriental de Donetsk, perto da cidade de Shaktarsk,
região esta onde se confrontavam, abertamente, tropas ucranianas e milicianos
que defendem a federalização do país, e são de língua e origens russas.
A
parte ucraniana utilizava aviões de combate e o seu Exército estava na posse de
BUK 1, que operavam na zona, programado,
aliás, para interceptar mísseis de cruzeiro, bombas inteligentes e aeronaves,
que voam a grande altitude, mas que exigem, em operacionalidade, um equipamento
complexo, facilmente referenciável por satélites.
Necessitam de uma logística
humana de mais de 50 homens, além de vários veículos.
A
Rússia, igualmente, tem ao seu serviço tais tipos de sistema de mísseis, mas a
sua utilização, descarada, seria facilmente detectada pelos sistemas de
espionagem aéreo, dos dois lados, que estão em serviço na região.
(Ver
foto mais à frente).
O
vulgar míssil terra-ar, do tipo Strella, este a ser operado pelos
separatistas-independentistas do leste ucraniano,é disparado ao ombro, com um
alcance, em altitude, da ordem dos quatro mil metros, guiado por sistema de
infravermelhos.
As
autoridades russas declararam, dias depois, que um avião militar armado
ucraniano estava a voar muito perto do avião malaio.
2
- Sigamos, agora, a vertigem da crise
ucraniana – e orientemo-nos, não pela simples pista do dinheiro, mas a actuação
real societária:
O
que estava a suceder, na Europa, mais concretamente, na União Europeia, antes
da crise económica-financeira fomentada e implodida nos Estados Unidos da
América, em 2008?
A
UE tinha a sua moeda única em ascensão, e, em 2008 a paridade euro/dólar
ultrapassava os 1,5.
O
euro estava a tornar-se a moeda de referência mundial, ameaçando a supremacia
norte-americana, com cada vez mais países, especialmente os chamados emergentes
e os Estados com grande produção petrolífera a admitirem que tencionavam optar pela
moeda europeia como entidade primacial de troca comercial.
(O
dólar era - e é -, na altura, a principal moeda de reserva mundial, mas, em
relação aos 14 meses anteriores àquela data, verificava-se que a sua evolução
regredia face aos seus principais *parceiros comerciais*, com uma
desvalorização da ordem dos 7%).
Baseando-nos
em dados do Fundo Monetário Internacional (FMI), em 2008, a UE era a maior
potência económica do mundo, com um Produto Interno Bruto da ordem dos 18,5
biliões de dólares (o PIB dos EUA era de 15,2 biliões de dólares), sendo
considerada a primeira potência comercial internacional, enquadrando 20 por
cento do volume total das importações e exportações.
Esta
evolução, conseguida através da unidade económica, primeiro, e, depois política
tinha sido conquistada, paulatinamente, não só contra os entraves nacionalistas
internos, mas, de maneira, chamemos-lhe, diplomática, contra o seu principal
rival externo, os EUA.
E
isso, estava a tornar-se demasiado preocupante para Washington, porque,
justamente, desde a saída de Ieltsin da Chefia de Estado na Rússia, estava em
marcha um processo de *parceria* em estado avançado entre Bruxelas e Moscovo,
em detrimento norte-americano.
Em
2011, concretamente, em Julho, efectuara-se, em Nijni-Novgorod, cidade russa, a
27ª Cimeira UE-Rússia, onde entre outros assuntos em discussão, quase todos de
carácter económico-geoestratégico, se colocou o caminho de avançar para um novo
acordo entre as duas partes, *que – cito, conforme foi anunciado
oficialmente no final da mesma – deverá conduzir ao estreitamento das
relações bilaterais no século XXI, e substituirá o Acordo de Parceria e
Cooperação que entrou em vigor em 1997*.
E
rematava: *a UE é, de longe, o maior mercado para as exportações da Rússia e
esta é, por seu turno, o terceiro maior parceiro comercial da EU. As relações
comerciais e no sector da energia são a pedra angular deste relacionamento
estratégico. O petróleo e o gás representam grande parte das exportações da
Rússia para a Europa*.
Uma
aproximação que, em termos objectivos, elevava a parceria para novos patamares,
pois um dos aspectos discutidos foi, justamente, a concessão de vistos
recíproco pessoais.
Ou seja, os primórdios, ainda que incipientes, de uma
próxima livre circulação de pessoas e, naturalmente, ainda que condicionados,
bens.
3 –
Ora, a unidade europeia, sendo um processo endógeno da Europa, não pode ser,
pura e simplesmente, uma questão apenas da Europa dita ocidental.
Com
a desintegração do COMECON (Conselho para a Assistência Económica Mútua), que,
pretendia, sob a supervisão da antiga União Soviética, uma integração de
unidade económica.
COMECOM
esse enquadrava, também, política e militar, via Pacto de Varsóvia, com várias
Nações do continente europeu, nomeadamente, a Alemanha de Leste (RDA),
Checoslováquia (hoje República Checa e Eslováquia), Polónia, Bulgária, Hungria
e Roménia.
Tal
mudança exigia uma *reorganização* económica e política que tivesse em conta a
situação anterior e se fizesse uma harmonização, procurando levar, também, a
nova Federação Russa, que abandonara o capitalismo de Estado, como modelo económico,
para um posicionamento que, a prazo – médio-longo, pudesse cimentar uma unidade
maior, que, a meu ver, se estendia, colada a cuspo, não do ponto de vista
económico harmónico, como a CEE inicial, mas a “trouxe-mouxe”, ditado pelo
mero interesse político e geo-político, forçado, financiado e forjado pelos
Estados Unidos.
Washington,
em todo o processo de destruição do COMECON/PACTO DE VARSÓVIA, era o principal
inimigo externo da UE que adquiria poder comercial e político.
E
a UE, para competir com a Rússia, que ainda era uma superpotência militar, e,
que nas suas estranhas burguesas de monopólio capitalista de Estado,
naturalmente, mostrava *garras* de que era um império, embora carcomido por
feridas profundas, quer na economia, quer nas próprias questões de
nacionalidades, teria de forjar as suas próprias Forças Armadas unificadas e
uma diplomacia comum. (Assunto este que continua na ordem do dia, o que
implica, sem margens para dúvidas, para evitar uma guerra mundial a ruptura com
a NATO).
Avanço
este que os seus dirigentes, submetidos aos ditames da NATO e, acima de tudo,
do capital financeiro de Wall Street nunca quiseram trilhar.
Se
tal sucedesse, a UE teria feito *acalmar* os ímpetos super-imperialistas dos
Estados Unidos, e, as relações geo-políticas teriam entrado noutra orientação.
4 –
A tensão em torno da Ucrânia, para os
Estados Unidos da América, não é uma
preocupação geo-estratégica de Washington
para destruir a Rússia, embora a
propaganda
dos manipuladores de Wall Street (os grupos
Time Warner, Walt Disney, Viacon, Rupert
Murdoch, CBS e NBC e os domínios quase
absolutos da net
pela Google, Yahoo, Microsoft
e Facebook, entre um grupo inferior ligado às
rádios regionais e locais), faça disso bandeira,
mas sim para desagregar a União Europeia.
Apesar
da crise de 2008, e, de todos os processos tortuosos da grande burguesia
capitalista ligada e dependente dos EUA, instalada no poder político, em
particular na Inglaterra, e, principalmente, nos países bálticos, Polónia,
Bulgária e Roménia – e sob outro ponto de vista na Alemanha, com tiques
imperiais renascidos em certos sectores (políticos, económicos e militares)
ligados à CDU, e à ala fascista bávara CSU, o euro manteve-se, como moeda forte
no interior da UE.
Na
realidade, ela é, diariamente, usada por mais de 330 milhões de europeus e, por
mais 170 milhões de pessoas exteriores a esse espaço.
O
que está, realmente, a revolver e a fazer turbulência dentro da UE é,
justamente, o desmascaramento total do papel desempenhado pelo capitalismo
financeiro e pelo lacaios políticos – desde os conservadores/populares aos
ditos socialistas/sociais democratas capitalistas.
(A política de austeridade é
um ditame acintoso fomentada pelo FMI/Banco Mundial).
E
é desse confronto entre os sectores conservadores/socialistas/fascistas,
encriptados no poder dito democrático, nos EUA e na UE, e as novas forças que
buscam uma alternativa de revolução e progresso que se vai decidir toda a nova
geo-política do mundo.
E,
concretamente, o chamado mundo ocidental irá sofrer uma mudança total nos
próximos cinco a 10 anos.
Naturalmente,
existem pretensões hegemónicas dentro da UE, submissões repugnantes face ao
capital de Wall Street, mas a realidade é esta: o poder económico da Europa
comunitária sobrepõem-se, na realidade, aos objectivos da burguesia imperialista
germânica.
E os
fomentadores de Washington têm a consciência deste facto, e, da sua fraqueza
económica, política e militar.
5
– O actual ascenso da crise mundial em torno do petróleo e do gás, cujo
sintomas são atirados apenas, pela propaganda, para os países produtores
dominantes (Rússia, Irão, Arábia Saudita, Venezuela, e, em menor escala,
Angola, Nigéria) irá, a prazo, talvez não muito longo, seis meses, colocar em
cima da mesa: os valores verdadeiros da produção.
E
esta guerra económica, porque, toda ela engendrada em torno de uma luta
prolongada em *ver quem aguenta* irá estilhaçar alianças, pois, se a Rússia é,
sumamente atingida, ela vai incrementar as trocas comerciais com a China e a
Índia, e, a circulação monetária que envolverá tais negócios serão feitos fora
da “zona dólar”.
Mas,
em termos mais próximos, a Europa será ela própria atingida fortemente – e já
agora de maneira destacada a Inglaterra, o fiel *jardineiro* de Washington, cujo
*valor comercial* está, justamente, no facto de ser uma praça de off-shores e
de produção de petróleo, a Noruega, que vai sofrer com o crude baixo e não está
inserida no euro.
Naturalmente,
com esta descida abrupta do preço do petróleo e gás, abre-se um período que vai
prolongar-se por vários meses, cujo expoente deste complô se situa, justamente,
nos EUA, com o chamado petróleo de xisto.
Aparentemente, serve os objectivos
norte-americanos, mas a sua depuração e enriquecimento são caros.
E abaixo de
determinado valor deixa de ser rentável.
E
a questão central para os EUA vai ser a moeda.
E
essencialmente, nesta fase, as reservas de ouro.
Os
países produtores, aparentemente, mais atingidos começaram a vender nas suas
moedas em sistema de trocas bilaterais, cujo expoente está centrado no núcleo
Rússia-China-Venezuela-Irão.
O
centro da questão vai estar no braço de ferro que os Estados Unidos estão a
fazer com a Rússia, em torno da Ucrânia, não porque Washington queira enfrentar
directa e militarmente Moscovo, mas sim porque pretende meter na fogueira a
parte “fraca militar” de um intermediário que é a potência comercial chamada União
Europeia.
Na
realidade, nesta *comédia* encenada pelos galifões do poder financeiro
internacional, que dominam o mundo ocidental, o que estão frente a frente não
são propriamente *soldadinhos de chumbo*, mas duas forças tremendas de poder
nuclear.
A
realidade geo-política é outra: os chamados países emergentes, ainda não têm
poderosos exércitos, mas já falam grosso aos ditames de Washington, já não
comercializam em torno da moeda *imperial* dólar*, que está encharcada em
processos de retrocesso, bem como a própria economia norte-americana, que
enfrenta, internamente, uma hipótese real de uma nova *bolha* financeira, que
se chama “commodities”.
A
crise de 2008, sem inverter a tendência recessiva, veio modificar toda a
política real prática de todo o mundo.
E
o que é grave, porque pode fazer explodir de repente uma guerra de enormes
dimensões; é que esta tensão fomentada por um império, ainda forte, mas em
decadência, está a levar todos os grandes Estados emergentes, para parcerias,
que fazem os orçamentos militares.
Está
a entrar-se numa era de militarização, e, a sociedade pode ser empurrada para servir
os interesses económicos e financeiros da grande burguesia através do recurso
ao poder do exército.
Ora,
o militarismo elevado a fim supremo do Estado devora o avanço civilizacional
dos povos, e, a UE está no centro do furação, tornando-se apenas um lacaio dos
verdadeiros senhores da guerra, que querem ficar de fora para virem buscar os
despojos.
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