1
– A União Europeia (UE) está a viver um período de turbulência, de desnorte e
evidente mostra de incapacidade dos seus dirigentes em responderem ao anseio
dos povos por uma nova orientação democrática e de inverter o domínio do
capital financeiro sobre todas as esferas da produção.
A
turbulência na UE está directamente ligada à crise financeira de 2007/08,
iniciada nos Estados Unidos daAmérica, que, de imediato, foi empurrada para a
UE, ficando encarcerada e enlameada, chupada até ao tutano, pelo grande capital
financeiro, sediado em Wall Street.
Floresceu,
desde então, em roda livre, o «reino dos mercados».
Ora,
esse reino é, nada mais, nada menos, o reino do capitalismo financeiro centrado
no eixo Wall Street/City londrino.

Este
capital que domina todas as alavancas do poder sofreu um choque terrível quando
se confrontou com uma crise de tal envergadura que está a colocar em causa a
sua própria sobrevivência.
No
mundo actual, os centros de poder económico diversificaram-se e caminham,
também, para se tornarem, - através da força desse seu poder, reforçadas com
parcerias estratégicas territoriais, logo em zonas de comércio multinacional, -
em «postos avançados» de emissão de moeda, com capacidade de rivalizar,
principalmente, com o dólar.
Logo, na busca de «espaços económicos» para
conquistar e manter, numa divisão de zonas de influência que pensam enquadrar.
Como
se reflecte essa crise, a dispersão multipolar de centros de geoeconómicos e
geopolíticos e o ascenso de nacionalismos fascistas, na unidade europeia e,
acima de tudo, na turbulência que atravessa?
2
- A unidade europeia foi um processo que decorreu relativamente bem, em
cooperação entre Estados, com a formação de um território contínuo desde
Portugal até às fronteiras russas, com mais de 500 milhões de pessoas.
E
isto até se tornar um potentado económico.
E
o processo avançou, porquê?
Porque
a experiência histórica europeia mostrou que as guerras entre potências e
povos, retalhamento de Estados, desprezos solenes dos «suzeranos» pelos
sentimentos nacionais teriam de ser invertidos.
Acima
de tudo, porque a burguesia europeia adquiriu a plena cidadania, sabendo que
para vingar teria de ultrapassar os condicionalismos das restrições económicas
e políticas que as fronteiras nacionais impunham.
O
ensinamento histórico central desde o século XII, curiosamente a partir do
condado portucalense até ao reino de Portugal e dos Algarves, com mais ou menos
sequências na maior parte do espaço europeu nos sete séculos seguintes,
ditam-nos que a organização estatal que se coaduna com o avanço económico e
social da Europa está ligado à formação de Estados extensos em território,
alicerçados já na nacionalidade, e, não em pequenos condados, ducados e
pequenos reinos, entraves à circulação mercantil.

Na
realidade, foi, precisamente, com a criação de grandes Estados, mais ou menos
centralizados, que o capitalismo se enraizou rapidamente na Europa, e, de certo
modo e em certo sentido, permitiu a expansão extra-europeia, com a criação do
mercado mundial.
Com
avanços e recuos naturalmente, a constatação da experiência histórica era
evidente que foram a criação e solidificação desses Estados que permitiu o
estabelecimento dominante político da burguesia na Europa.
O
avanço para a cooperação harmónica transfronteiriça europeia advem – melhor dizendo
– está intimamente ligado à necessidade de estabelecer a paz nesse enorme
espaço dilacerado por guerras, mas também por nacionalismos tacanhos.
Tal
não pode significar desprezo pelos sentimentos nacionais, mas limitar, e, se
necessário expurgar os atritos e conflitos provocados pelos nacionalismos
irracionais para forjar uma nova entidade supranacional que sirva,
principalmente, os interesses das classes trabalhadoras.
Temos
de entranhar nas nossas mentes:
a
organização estatal europeia, agora ainda nas mãos da burguesia, serve como
rolo compressor para se vir a estabelecer o poder das classes trabalhadoras.
Se
não ultrapssarem o estigma cego do nacionalismo, as classes laboriosas, necessariamente,
serão enredadas nessa retrógrada orientação.
Uma
coisa é exigir democracia, marcar autonomia própria na gestão nacional, outra
coisa é fechar o Estado nas barreiras das fronteiras e das moedas nacionais.
3
– Quando, no final do século XX, a Europa iniciou o seu caminho para a unidade
política confluíram diferentes divergências numa amálgama de contradições.
Estas
pressagiavam que, além dos escolhos internos, se estavam a forjar,
principalmente, inimigos externos.
E,
assim, sucedeu.
O
que levou à situação actual.
Quando
a UE avançou para a criação de uma moeda única, e, em simultâneo, para a
elaboração da sua estrutura política, adquiriu o estatuto de principal potência
comercial do Mundo.
/Dados
da UE. Actualmente, dos 28 Estados-membros da União Europeia, 19 adoptam o euro
como a moeda oficial. A população total da Zona Euro supera os 323 milhões de
habitantes.
Apesar
da turbulência e da desaceleração económica, o euro é ainda usado por mais 210
milhões de pessoas em todo o mundo, das quais 182 milhões em África que
utilizam moedas de câmbio fixo em relação à moeda europeia.
O
euro é a segunda maior moeda de reserva e a segunda moeda mais transacionada no
mundo depois do dólar norte-americano.
A
UE é a maior economia do mundo, representando mais de 20 % do produto interno
bruto mundial (PIB). Graças à dimensão do seu PIB (14 biliões de euros) e à
abertura do seu mercado interno, cujas exportações representam 2.415 mil
milhões de euros e importações representam 2.188 mil milhões de euros.
A
Europa é a maior exportadora de bens e serviços do mundo e ela mesma é o maior
mercado de exportação para cerca de 80 países. As trocas comerciais entre a UE
e o resto do mundo atingiram 3 421,6 mil milhões de euros em 2013/.
Adquiriu
a auréola de nova unidade económica em ascensão e o euro, como moeda forte,
transformou-se em *chamariz* atractivo para os países, principalmente,
produtores de matérias-primas, que queriam fugir ao controlo imperial do dólar,
e, consequentemente, dos Estados Unidos da América.
Agigantava-se,
economicamente, mas, na geopolítica mundial, tinha (e tem) um calcanhar de
Aquiles que a tolhe: a inexistência de uma força militar única (e a consequente
diplomacia unificada) para impor uma política própria.
Mesmo
assim, a UE tornou-se paradigma para a constituição de novas formações estatais
transnacionais, como o MERCOSUL, que, ao iniciar o seu processo, tentava
justamente afastar-se da vassalagem ao dólar e a Washington. E efectuar uma
parceria estratégica com a Europa…
O
euro atraiu países produtores de petróleo, como o Iraque, o Irão, a Líbia, e
mesmo africanos, como, curiosamente, o Zimbabué (diamantes) como possível moeda
forte para contornar a asfixia do dólar.
A
ascensão da UE como grande economia mundial e com uma moeda de referência que
começava a atrair os países do petróleo lançou Washington para uma campanha
desenfreada para reaglutinar o seu espaço de influência directa: a Europa e a
América Latina.
Os
resultados estão à vista.
Não
só nesses dois continentes, mas no imenso território da produção petrolífera do
Médio-Oriente.
Claro
que a Rússia, como potência militar vizinha, e em fase de relançamento
económico, também, procura influenciar – e até imiscuir-se -na unidade europeia.
Mas não é, neste momento, o principal escolho externo. Tem interesses
económicos imediatos no espaço europeu.
4 –
Quando a UE deveria estar a impor-se pela exportação e pelo incremento da sua
moeda face ao dólar, os EUA lançaram-lhe a crise financeira para cima e
impuseram-lhe os alargamentos sucessivos da NATO.
E
isto porque não tinha a seu favor uma diplomacia e um exército unificados como
arma da sua política externa.
Claudicou.
Com
a crise surgiram os velhos «demónios» europeus.
A
grande burguesia financeira da Europa, com a corda ao pescoço sob o espectro de
ser varrida da História, procura, pelos seus particularismos, agarrar-se a
tábuas de salvação, fomentando, através de suas facções, os radicalismos
nacionais.
O
exemplo mais flagrante é o do Reino Unido e a defesa da sua moeda, da sua
«identidade», como se a monarquia dos Windsor fosse uma nacionalidade única.
Claro
que eles estão a alimentar uma realidade que entra pelos olhos dentro: desde a
primeira crise de 2002, que precedeu e preanunciava a de 2007/08, os homens do
capital financeiro que geriu os interesses de cada Estado deitaram às urtigas a
cooperação harmónica europeia e governaram, e governam, em função do «mais
forte», menosprezando inteiramente os sentimentos nacionais dos outros Estados.
Enredaram
nesta teia as classes trabalhadoras.
Quanto
desperdício de dinheiro, quanto desperdício de energia se tem consumido nesta
década nestas mesquinhas intrigas e na vassalagem ao capital financeiro de Wall
Street!!!

5 –
Claro que para se vencer esta fase do avanço europeu, o caminho não pode ser trilhado pelo domínio
do capital financeiro, nem da submissão, é necessário um novo poder político.
Uma Revolução europeia.
E
nesse sentido somente pode ser conseguido pela entrada em força na vida
política de uma unidade das classes trabalhadoras da UE.
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