1 – Façamos uma reflexão.
Qual a razão (ou razões), porque aparecem candidatos presidenciais
nos Estados Unidos da América com larga aceitação popular, aparentemente, fora do
controlo dos dois grandes partidos do regime, os democratas e os republicanos?
No seguimento da questão anterior, porque será que entre os
republicanos a *elite do partido* aceita Donald Trump, um multimilionário
vigarista, racista, *nacionalista*, e entre os democratas permitem que o debate
de ideias se faça em torno do programa de um senador *marginal*, Bernie
Sanders, que se filiou naquele partido para puder concorrer, e que preconiza,
nomeadamente, o *socialismo* e a *revolução*.
E que o próprio Presidente em exercício, Barack Obama, um homem
elevado ao poder por Wall Street, o receba e afirme que as suas propostas são
válidas?
2 – Tem de se olhar para o estado da economia norte-americana e
para a verdadeira situação social das classes trabalhadoras daquele país.
A pobreza (privação de dinheiro ou alimentos) cresceu de maneira
evidente nos EUA desde a crise financeira de 2007/2008.
São as estatísticas oficiais que o confirmam: actualmente, atingem
as 50 milhões de pessoas.

Em 2011, a pobreza cresceu para 46 milhões de pessoas. Um ano
antes foram contabilizadas 43,6 milhões.
Em 2008, o nível de pobreza situava-se nos 39,8 milhões (13,2 %).
Em 2000, essa percentagem situava-se nos 12,2 %.
Segundo o PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento)
com referência a 2000, os EUA tinha naquela data, uma população entre os 16 e
65 anos que supera os 20% considerada anafabeta funcional (superior aos
principais países ditos ocidentais), valor este que cresceu grandemente nos 15
anos seguintes.
Desde os anos de 1995-2000, o incremento dos salários – em
particular entre os mais desfavorecidos, hispânicos, negros, brancos operários,
decresceu, constantemente, estagnando, mesmo em períodos, como 2004, em que,
oficialmente, se afirmava que a economia estava a crescer.
Esta já era a realidade norte-americana, quando o grande capital
financeiro, instalado em Wall Street, lançou o país na pior crise económica que
se mantém, apesar de todas as promessas e estatísticas enquadradas que
pretendem mistificar.
3 – Em 2009, os senhores de Washington e Nova York, gritaram a
plenos pulmões: grande recessão acabou oficialmente.
(Diziam isto à descarada, quando se contabilizava que, em 2008,
nos EUA 463 bancos foram à falência!!!).
Com maior ou menor sonoridade, os grandes órgãos de comunicação
social, bem como a Administração e o banco central (Reserva Federal) anunciavam
ao aparente mínimo vislumbre de recuperação: o navio está a entrar nos eixos.
Depois a realidade.
Em 2016, logo, portanto, agora, o Produto Interno Bruto (PIB) dos
Estados Unidos cresceu 0,5%, em dados anuais, segundo divulgou a
Secretaria do Comércio do país, na sua primeira estimativa.

A este respeito, estamos a falar com dados oficiais, nos três
últimos meses do ano passado, o incremento era bem maior, 1,4%.
Ou seja, a estimativa oficial para 2016 era de 0,7%. Lógico, a recessão continua.
A economia em declínio persistente é a principal «base»
explicativa da luta política que decorre nos Estados Unidos.
E esta discorrência pressupõe uma clivagem ideológica, muito
obscura é certo, mas existente.
Certamente, não será a finalização da campanha eleitoral e a
posterior eleição que vai levar a uma pacificação da sociedade.
Vão continuar os sintomas de crise social, possivelmente, irão
crescer até face ao alastramento da crise económica mundial.
Os tempos são de mudança.
4 – Os candidatos que se apresentaram como representantes defensores
visíveis do sistema, o chamado *centro*, quer do lado republicano (Cruz, Rubio,
Jed Bush) quer democrata, incluindo Clinton (embora ela seja a escolhida, mas
sem ideias), saíram derrotados ou enfraquecidos.
As ideias dos *democratas* - Obama dixit – estavam na candidatura
de Sanders.
Trump, um homem da elite financeira norte-americana, demarcou-se,
cinicamente, da mesma, alegando que esta – frisou «de que fiz parte» - era a
responsável pela crise duradoura que atravessa a sociedade norte-americana.
Nada mais produziu ao nível de ideias e de propostas políticas,
mas sob a sua liderança formou-se uma grande facção da classe média – branca,
mas também negra e hispânica -atingida
fortemente pela especulação – imobiliária, de consumo.
Sanders foi mais contundente. Apresentou um programa político mais
elaborado: mudança de poder político, ataque ao poder financeiro (encostou,
totalmente, Hilary Clinton a Wall Street, ao militarismo imperial),
reivindicações sociais (saúde, educação, trabalho)
É, pois, a persistência de uma crise profunda que está a despertar
a sociedade norte-americana. E essa crise que permite que ideias até agora
ostracizadas como de revolução e socialismo sejam +sufragadas+ no próprio
debate das candidaturas presidenciais.
Em certo sentido, e de certa maneira, Trump e Sanders –
naturalmente, cada um sob pontos de vista ideológicos diferentes – estão a
fazer a crítica ao actual capitalismo norte-americano.
Trump alardeia que deseja uma +mudança+ no regime, tornando-o mais
+forte+, ou seja governar esse mesmo capitalismo sob métodos nazi-fascistas.
Sanders quer incluir o seu (ou parte) programa na candidatura de
Clinton (claro que é uma infantilidade), pensando que é possível fazer a
revolução dentro das instituições capitalistas.
Claro que as classes trabalhadoras irão participar de pé atrás
nestas eleições, e até nelas não participar.
Há um despertar de consciências,
os próximos tempos vão indicar se a experiência da busca da «revolução»
e do «socialismo» irá ter continuidade na luta social.
Poderá haver uma espécie de adormecimento, logo após o acto eleitoral,
mas as indicações dadas pelas primárias, a nível de mobilização, em especial em
torno de Sanders, parecem mostrar que um grupo renovado de militantes procura
uma via de ruptura dentro da sociedade norte-americana.
Foi uma tristeza ver Sanders a partir e a ter de apoia a Hllary, numa posição de "dos dois males o menor". No entanto, esperava que, com o movimento que ele criou, se candidatasse como independente, mas da forma como está desenhada a "democracia(?)" americana, ninguém tem chances como independente, e de qualquer forma, a máfia do dinheiro não o permitiria ganhar e mesmo que ganhasse, teria uma grande oposição o senado e na câmara tanto dentro do seu próprio partido como dos republicanos.
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