sábado, 2 de julho de 2016

EUA: OS CANDIDATOS FORA DO SISTEMA MOSTRAM QUE A RECESSÃO CONTINUA

1 – Façamos uma reflexão.

Qual a razão (ou razões), porque aparecem candidatos presidenciais nos Estados Unidos da América com larga aceitação popular, aparentemente, fora do controlo dos dois grandes partidos do regime, os democratas e os republicanos?

No seguimento da questão anterior, porque será que entre os republicanos a *elite do partido* aceita Donald Trump, um multimilionário vigarista, racista, *nacionalista*, e entre os democratas permitem que o debate de ideias se faça em torno do programa de um senador *marginal*, Bernie Sanders, que se filiou naquele partido para puder concorrer, e que preconiza, nomeadamente, o *socialismo* e a *revolução*.

E que o próprio Presidente em exercício, Barack Obama, um homem elevado ao poder por Wall Street, o receba e afirme que as suas propostas são válidas?

2 – Tem de se olhar para o estado da economia norte-americana e para a verdadeira situação social das classes trabalhadoras daquele país.

A pobreza (privação de dinheiro ou alimentos) cresceu de maneira evidente nos EUA desde a crise financeira de 2007/2008.

São as estatísticas oficiais que o confirmam: actualmente, atingem as 50 milhões de pessoas.



Em 2011, a pobreza cresceu para 46 milhões de pessoas. Um ano antes foram contabilizadas 43,6 milhões.

Em 2008, o nível de pobreza situava-se nos 39,8 milhões (13,2 %). Em 2000, essa percentagem situava-se nos 12,2 %.

Segundo o PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) com referência a 2000, os EUA tinha naquela data, uma população entre os 16 e 65 anos que supera os 20% considerada anafabeta funcional (superior aos principais países ditos ocidentais), valor este que cresceu grandemente nos 15 anos seguintes.

Desde os anos de 1995-2000, o incremento dos salários – em particular entre os mais desfavorecidos, hispânicos, negros, brancos operários, decresceu, constantemente, estagnando, mesmo em períodos, como 2004, em que, oficialmente, se afirmava que a economia estava a crescer.

Esta já era a realidade norte-americana, quando o grande capital financeiro, instalado em Wall Street, lançou o país na pior crise económica que se mantém, apesar de todas as promessas e estatísticas enquadradas que pretendem mistificar.

3 – Em 2009, os senhores de Washington e Nova York, gritaram a plenos pulmões: grande recessão acabou oficialmente.

(Diziam isto à descarada, quando se contabilizava que, em 2008, nos EUA 463 bancos foram à falência!!!).

Com maior ou menor sonoridade, os grandes órgãos de comunicação social, bem como a Administração e o banco central (Reserva Federal) anunciavam ao aparente mínimo vislumbre de recuperação: o navio está a entrar nos eixos.

Depois a realidade.

Em 2016, logo, portanto, agora, o Produto Interno Bruto (PIB) dos Estados Unidos cresceu 0,5%, em dados anuais, segundo divulgou a Secretaria do Comércio do país, na sua primeira estimativa.



A este respeito, estamos a falar com dados oficiais, nos três últimos meses do ano passado, o incremento era bem maior, 1,4%.

Ou seja, a estimativa oficial para 2016 era de 0,7%.  Lógico, a recessão continua.

A economia em declínio persistente é a principal «base» explicativa da luta política que decorre nos Estados Unidos.
E esta discorrência pressupõe uma clivagem ideológica, muito obscura é certo, mas existente.

Certamente, não será a finalização da campanha eleitoral e a posterior eleição que vai levar a uma pacificação da sociedade.

Vão continuar os sintomas de crise social, possivelmente, irão crescer até face ao alastramento da crise económica mundial.

Os tempos são de mudança.

4 – Os candidatos que se apresentaram como representantes defensores visíveis do sistema, o chamado *centro*, quer do lado republicano (Cruz, Rubio, Jed Bush) quer democrata, incluindo Clinton (embora ela seja a escolhida, mas sem ideias), saíram derrotados ou enfraquecidos.

As ideias dos *democratas* - Obama dixit – estavam na candidatura de Sanders.

Trump, um homem da elite financeira norte-americana, demarcou-se, cinicamente, da mesma, alegando que esta – frisou «de que fiz parte» - era a responsável pela crise duradoura que atravessa a sociedade norte-americana.

Nada mais produziu ao nível de ideias e de propostas políticas, mas sob a sua liderança formou-se uma grande facção da classe média – branca, mas também negra e hispânica  -atingida fortemente pela especulação – imobiliária, de consumo.

Sanders foi mais contundente. Apresentou um programa político mais elaborado: mudança de poder político, ataque ao poder financeiro (encostou, totalmente, Hilary Clinton a Wall Street, ao militarismo imperial), reivindicações sociais (saúde, educação, trabalho)

É, pois, a persistência de uma crise profunda que está a despertar a sociedade norte-americana. E essa crise que permite que ideias até agora ostracizadas como de revolução e socialismo sejam +sufragadas+ no próprio debate das candidaturas presidenciais.

Em certo sentido, e de certa maneira, Trump e Sanders – naturalmente, cada um sob pontos de vista ideológicos diferentes – estão a fazer a crítica ao actual capitalismo norte-americano.

Trump alardeia que deseja uma +mudança+ no regime, tornando-o mais +forte+, ou seja governar esse mesmo capitalismo sob métodos nazi-fascistas.

Sanders quer incluir o seu (ou parte) programa na candidatura de Clinton (claro que é uma infantilidade), pensando que é possível fazer a revolução dentro das instituições capitalistas.

Claro que as classes trabalhadoras irão participar de pé atrás nestas eleições, e até nelas não participar.

Há um despertar de consciências,  os próximos tempos vão indicar se a experiência da busca da «revolução» e do «socialismo» irá ter continuidade na luta social.

Poderá haver uma espécie de adormecimento, logo após o acto eleitoral, mas as indicações dadas pelas primárias, a nível de mobilização, em especial em torno de Sanders, parecem mostrar que um grupo renovado de militantes procura uma via de ruptura dentro da sociedade norte-americana.


1 comentário:

  1. Foi uma tristeza ver Sanders a partir e a ter de apoia a Hllary, numa posição de "dos dois males o menor". No entanto, esperava que, com o movimento que ele criou, se candidatasse como independente, mas da forma como está desenhada a "democracia(?)" americana, ninguém tem chances como independente, e de qualquer forma, a máfia do dinheiro não o permitiria ganhar e mesmo que ganhasse, teria uma grande oposição o senado e na câmara tanto dentro do seu próprio partido como dos republicanos.

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