1
– O antigo Presidente do Estado cubano Fidel Castro fez, sábado, 90 anos.
O
ainda líder político de Cuba, já que dirige o partido que governa o país,
formalmente retirado dos negócios correntes do Estado, apresenta-se, ainda
agora, como revolucionário e comunista, alicerçado no facto de ter encabeçado
os partidários que derrubaram o regime ditatorial capitalista pró-americano
cubano do sargento Fulgêncio Batista, na noite da passagem do ano de 1958.
O
regime castrista efectuou-lhe homenagens laudatórias, procurando fazer crer que
Castro representa o mesmo ideário dos primórdios da Revolução anti-imperialista
cubana.
Mas,
continua Castro a ser o revolucionário que liderou a revolução nacional
anti-imperialista de 1958?

2 –
O papel desempenhado por Fidel Castro, nestas quase seis décadas, não se
analisa pelas suas declarações a favor de uma ideologia ou de um estado de
espírito, mas sim pelo protagonismo que desempenhou e desempenha no interior da
sociedade cubana.
Em
1958, o grupo guerrilheiro de Fidel Castro – Movimento 26 de Julho - tomou
Havana, após cerca de dois anos de combates contra o regime de Fulgêncio
Batista, um protectorado dos Estados Unidos da América.
Ganhou
a governação contra o poder de Estado existente, mas também contra a orientação
política do então maior partido oposicionista, o pró-soviético Partido
Comunista de Cuba.
A
mudança de regime em Havana deu-se com uma revolução nacional
anti-imperialista, numa conjugação de forças que incluíam a burguesia liberal,
cujo representante era Manuel Urrutia Lleó, que foi o primeiro Chefe de Estado em
1959.
O
novo poder político mereceu, de imediato, a hostilidade da administração
norte-americana, o que levou Fidel Castro a procurar uma aliança com a então União
Soviética.
Em
poucos meses, o novo regime assume-se como socialista. Desfaz o velho PCC e
funda um novo, a imagem e semelhança do novo poder, liderado por Fidel Castro.
Preconiza
medidas de aparente socialização da sociedade, como a apropriação dos meios de
produção.
Decreta
e vai formalizando medidas económicas e sociais, que são do agrado de uma
maioria do povo: tais como a diminuição do fosso salarial, ensino e saúde para
todos.
A
sociedade cubana era na altura do derrube do regime de Fulgência Batista uma
sociedade de latifúndio, com um fraco desenvolvimento industrial. O
proletariado era muito minoritário e sem real expressão no desenvolvimento
societário.
Em
termos económicos, o poder nascente adquiriu o modelo de capitalismo de Estado,
com uma minoria a organizar a instituição estatal em torno dos interesses
específicos que se vão tornar dominantes.

À
medida que a sociedade cubana se tornava dependente das exportações para a
ex-União Soviética e seus países +satélites+, dentro do regime cubano começam a
verificar-se clivagens, que não surgem, aparentemente, à luz do dia, mas tem a
sua expressão com a saída de Che Guevara do governo e de todas as funções políticas
em Cuba e a saída para procurar «focos» guerrilheiros no exterior.
Guevara
tinha criticado publicamente a antiga URSS no decorrer de um périplo ao
estrangeiro, a chamada «declaração de Argel».
Ernesto
Che Guevara foi-se tornando, progressivamente, crítico do «modelo socialista»
implantado na ex-URSS.
Hoje,
conhecem-se os seus escritos políticos sobre a situação nos chamados países
socialistas.
Num
carta de 1965, dirigida ao então ministro da Cultura cubano Armando Hardt, ele
manifesta-se contra «o continuísmo ideológico» do regime face à política
soviética.
Mais
tarde, numas «notas críticas» sobre o Manual de Economia Política da Academia
de Ciências da URSS, elaboradas entre 1965 e 1966, Guevara já assinala mesmo
que os chamados países socialistas tinham entrado abertamente na via
capitalista.
3 –
Embora o regime castrista não tivesse
apoiado a via de desagregação do sistema soviético de capitalismo de Estado, e,
continuasse com proclamações sonoras no apoio ao socialismo, o certo é que o
Estado cubano era (e é) dominado pelo Capital.
(Guevara
pode considerar-se como uma ténue via radical que não teve consistência
económica e ideológica para subverter a situação).
A
sua apropriação «colectiva» dos meios de produção ficou nas mãos dessa minoria
que se auto-intitula revolucionária e que instituiu o novo Estado aos seus
interesses.
A diferença
formal entre o poder político castrista e o poder do capitalismo liberal de
Wall Street assenta «numa maneira frugal» como beneficia da apropriação do
produto dos meios produtivos.
O
impulso da revolução cubana de 1958 para a via socialista exigiu um
desenvolvimento económico que não estava ao alcance da sociedade, nem teve o
apoio de revoluções socialistas noutras partes do mundo, que não existiram ou
não conseguiram vingar.

Fidel
Castro é um protagonista contraditório produto dos acontecimentos que sucederam
no Mundo, ao longo de décadas, mas que não se sedimentaram.
O
revolucionário Castro desapareceu com o ascenso contra-revolucionário que alastrou
pelo planeta desde segunda década do século XX.
Embora a sua auréola se
mantenha em certos sectores sociais mundiais.
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