segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

SÍRIA: HÁ JORNALISMO INDEPENDENTE NOS GRANDES MEIOS DE COMUNICAÇÃO?




1 - Vou falar do chamado "jornalismo de guerra", a propósito da morte de jornalistas que trabalhavam para grandes jornais ocidentais na Síria, e, para tal farei uma "espécie" de declarações de interesses, atendendo a dois pontos:


a) Fui jornalista profissional e estive em países que estavam em guerra; visitei outros, como turista há menos de dois anos, a maior parte dos quais no Magreb e Médio-Oriente, sendo nesta última região, a Síria, (passei, nomeadamente, pela cidade de Homs e visitei um antigo forte medieval das cruzadas, chamado Krak de Chevaliers, tudo isto situado muito perto do Líbano, de onde se avista todo o vale de Homs), durante cerca de três semanas.


b) Fui combatente colonial na Guiné durante dois anos, Janeiro de 1970 a Dezembro de 1971, como membro de uma unidade de força especial da Marinha, percorrendo, praticamente, todo aquele território operacional. 


Nesta altura, estiveram, naquela antiga colónia, jornalistas, incluindo estrangeiros, mas nunca, mesmo nunca, estiveram nos locais de combate efectivo. 


Por duas razões, nós não os deixávamos, e eles não faziam questão de "caminhar no mato". Falavam com as tropas nos quartéis. Quando muito davam uma "voltinha" em redor do arame farpado.


Eu sei que isto mudou um pouco, mas nas frentes de batalha mais "quentes" nenhum comandante gosta de ser visto a realizar o que lhe mandam fazer. A não ser que o "jornalista" esteja em perfeita sintonia com o que se vai efectuar. Concorda, portanto.


2 -  Na Síria, os jornalistas ocidentais entraram no país, com as tropas que fizeram incursões, a partir do Líbano e da Turquia. Entraram, pois, com um dos sectores que estão em confronto. Estão a relatar o que se passa nesse sector, do ponto de vista dos chamados "insurgentes". 


Quem está na guerra, dá e leva, e os jornalistas que estão em acção na região de Homs fazem-no com o apoio dos seus "patrões" dos grandes meios de comunicação social, como foram os casos da jornalista norte-americana Marie Colvin, que trabalhava para o "Sunday Times", do vigarista Murdoch, e Remi Ochlik, fotógrafo do "Paris Match", que recebeu um prémio por imagens captadas na Líbia.


Aldel Hakim Belhaj é o líder histórico da Al Qaeda na Líbia e governador militar de Trípoli - agora é o chefe do Exército Livre Sírio


Onde morreram estes jornalistas?  Segundo a agência britânica Reuters, "numa casa utilizada como centro de imprensa e por militantes anti-regime".


Estavam, justamente, à mão de semear.


Relataram, até agora, os jornalistas da grande imprensa ocidental, nomeadamente norte-americana, britânica e francesa, o que se está a passar na Síria? 


Não. Escreveram a partir das suas fontes, que, aparentemente, os deveriam, proteger. Eles tinham um "campo de informação" escolhido à partida, pelos seus chefes em Londres, Washington ou Paris. 


Quem lê o que o jornalista (ou, muitas vezes, pseudo-jornalistas) deve questionar-se sobre as fontes de informação. 


Eu questiono-me: Se o número de mortos, diários, em Homs, que as agências ocidentais transmitem, a partir de um Observatório sedeado em ...Londres, for de cerca de 40 pessoas, então a cidade já deveria ter perdido mais de 10 por cento da população, em meses de combates, e estaria, praticamente, inactiva face ao elevado número de feridos.


O que é estranho é que não descortino informações das grandes agências internacionais, provenientes de Damasco, ou de Aleppo.


Não estou a por em causa a existência de censura do regime de Damasco, pois ela existe. 


Nem estou a dar apoio directo ao regime de Assad. É um regime idêntico ao da Arábia Saudita. Preciso, aliás, esta afirmação. Não é idêntico. 


É laico formalmente, e não teocrático e fanático com o dos oligarcas esbanjadores Sauds sauditas. Não está é, completamente, alinhado com Washington e capangas de Londres e Paris, embora tivesse servido de "cadeia de retaguarda" dos prisioneiros de Guantánamo dos torturadores norte-americanos.


Pertence a outra aliança geo-estratégica no Médio-Oriente. Apenas isso.


Afirmo que há descontentamento interno. Certo. 


Mas interrogo-me sobre a capacidade militar dos "insurgentes" civis - fardados a rigor com camuflados do deserto made in USA, aliás como na Líbia.


No fundo, quero sublinhar: não acredito nos jornalistas dos grandes meios ocidentais, que estão a acompanhar os "insurgentes" em Homs, com notícias repassadas por Londres (o tal Observatório) e Washington. Os seus patrões não gastam dinheiro nestas guerras, se eles não estiverem a ser veículos de propaganda dos seus interesses.





Às vezes, contam-se as verdades, nos jornais de segundo plano, como o caso do espanhol ABC, que é monárquico. 


Eis uma pequena resenha de uma reportagem do jornalista, que também se afirma fotógrafo Daniel Iriarteque acompanhou os "milicianos" do chamado Exército Livre Sírio 


O jornalista refere na sua reportagem, que aliás é favorável ao derrube de Assad:


O miliciano Brahim está preocupado. "Há um controlo do Exército na entrada da estrada", disse a camponesa, o que significa que as passagens de saída estão cortadas. Nós temíamos algo assim, por isso os raros repórteres estrangeiros decidiram sair da Síria, perante o risco de acabarem presos. 


Mas parece que chegamos tarde. Finalmente, quando anoitece, Brahim encontra uma solução. Arranja três automóveis que, conduzidos, sem luzes, procuram uma estrada alternativa. Após horas de espera, conseguem fazer-nos cruzar as linhas inimigas por outro local. Brahim ri-se, satisfeito: "O Exército Sírio Livre encontrou uma saída!", disse. O "comboio" conduz-nos a uma casa de campo onde nos espera outro grupo que será evacuado connosco. E então temos uma surpresa: tratam-se de três líbios que, nas suas próprias palavras, vieram não para combater, mas sim para "avaliar as necessidades dos irmãos revolucionários sírios". 


Os líbios não ocultam as suas identidades. Tratam-se de homens próximos de Abdelhakim Belhadj, actual governador militar de Trípoli e antigo jadista, ligado à  Al Qaeda .

Um deles é um velho conhecido dos repórteres que cobriram a guerra da Líbia: Mehdi al-Hatari, o antigo comandante da Brigada de Trípoli, que desempenhou um papel fundamental na tomada da capital e na queda de Khadaffi. 



O segundo, Adem Kikli, disse que trabalha para Belhadj, e está há quase duas décadas exilado em Londres.



O terceiro, Fuad, parece ser um guarda-costas. "Estamos aqui por iniciativa própria e pessoal, não por ordem de ninguém", sustenta Adem. E sublinha que Harati renunciou publicamente ao seu posto em Trípoli em 11 de outubro passado. 


Adem, além disso, afirma que esteve com outros líbios, "algumas dezenas", que se deslocaram para a Síria por sua conta para ajudar os insurgentes.

Harati, não há dúvida, é um homem de acção. O homem mudou de campo, após participação na Frota de Gaza na Primavera de 2010. "Fui ferido no assalto ao Mavi Marmara, e estive nove dias num cárcere de Tel Aviv", conta-nos. 


Em Fevereiro, Harati, que vive em Dublin e tem passaporte irlandês, despediu-se da sua mulher e filho e, junto com outros líbios exilados na Irlanda, dirigiu-se à Líbia. Ali criou a Brigada de Trípoli, um grupo de guerreiros de elite, treinados por assessores do Qatar, que combateu ferozmente na batalha final pela capital.

ABC, constatou, além disso, a sua presença em locais, como Bahrein, Sudão e Ancara, com propósitos não-esclarecidos. 



Há pouco, Harati  viu-se implicado num estranho episódio, quando, segundo seu relato, uma quadrilha de ladrões lhe assaltou a casa, roubando muitas jóias e 200.000 libras esterlinas (uns 238.000 euros). 


Harati disse à Polícia que uma grande quantidade de dinheiro lhe havia sido entregue por um agente da CIA para financiar a luta de seu grupo contra Khadaffi. 


O combatente deixou essas 200.000 libras à sua mulher, caso lhe sucedesse algo, e o resto levou-o com ele para a Líbia.

Enquanto fugíamos em direcção à fronteira, os líbios foram dando algumas dicas sobre a sua presença na Síria. 



"Se dependesse de nós, enviaríamos as armas para os sírios, já amanhã. Nós já não necessitamos mais", explica Harati. 


"Mas teriam de entrar pela Turquia, e os turcos não podem autorizar porque não há consenso dentro da NATO", sublinha. 


Já na fronteira, os três líbios dizem que regressam à  sua pátria. Pelo menos, disseram que sim.


3 - Não esqueçamos o 25 de Abril em Portugal. Quando nas sedes dos governos ocidentais, em particular de Washington, Paris, Bona e Londres, tocaram as campainhas de que poderia haver um "governo de esquerda" no país, apareceram por cá uma "chusma" de "repórteres". 


Como também entraram no país, quantidades enormes de "correspondentes" de Leste, desde a antiga URSS até Cuba, por vezes, por interpostos "exilados".


Conheci muitos, soube do que alguns estavam a fazer realmente no terreno, como Martha de la Cal, recentemente falecida



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