domingo, 26 de agosto de 2012

UNIDADE NA EUROPA, DESAGREGAÇÃO NOS EUA?




1 - A crise financeira de 2008 veio demonstrar, pouco a pouco, ano após ano, que a sua profundidade está a atingir as raízes do próprio capitalismo, tal como o conhecemos até aqui.

Analisando todo o processo de "austeridade" nos principais centros do capitalismo internacional, como a União Europeia e e os Estados Unidos, os processos de evolução rápida da produção industrial e tecnológica super-capitalista na China, sem trazer riqueza para o povo, a recomposição da mesma estrutura, dita de Estado para liberal, na Rússia, as revoltas surgidas em muitos países árabes, a recomposição colectiva do mercado capitalista *independente* no Mercosul (América Latina), os ferozes conflitos regionais, as fomes que atravessam países e regiões ricas em matérias-primas, traz para a superfície da vida social a destruição produtiva, por um lado, e, por outro, um impasse na ultrapassagem da mesma crise, dos fundamentos históricos da própria evolução capitalista.

E o que é grave é que esta crise está a ser gerida e programada, desde há dezenas de anos, pelo capital financeiro especulativo, que lançou agora a sua fase mais obsessiva e violenta, que é a destrutiva, e sem uma veleidade orientadora de criar ou construir algo que lhe seja sucedâneo ou, pelo menos, assente em termos considerados paliativos.

Tudo o que retiramos da crise é que nestes cinco anos, nos principais centros capitalistas, UE e EUA, nunca existiu um ano de crescimento (quer na produção, quer no emprego, quer no Produto Interno Bruto, quer na evolução do bem-estar relativo), e os aparentes sucessos de gestão capitalista acelerada, como a China, a Rússia,a Índia e o Brasil, entraram em processos de estagnação e mesmo de retrocesso económico.

Quer a Rússia, que a China, o reconhecem na recente cimeira da APEC (Cimeira Ásia/Pacífico).

A omnipotência do capital financeiro especulativo - o único a tirar dividendos - reproduziu por todos Estados do Globo os mesmos programas: destruição acelerada dos regimes sociais ditos sociais democratas (os chamados Estados Providências) , sem apresentar, até agora, qualquer estimulo ou pressuposto de criar o que quer se seja, que relance o desenvolvimento.

Esta perda real do poder aquisitivo das classes laboriosas, e por tabela, das classe médias inferiores, está a fazer crescer o empobrecimento real dos povos, fazendo vir ao de cima o estrangulamento do sistema anterior, com um carácter de desespero quase mundial, criando uma barreira efervescente entre os trabalhadores, que vão caindo cada vez mais no desemprego, e uma mínima classe ociosa capitalista especulativa, sem que se vislumbre qualquer espécie de incremento ou reviravolta capitalista produtiva.

2 - A chamada crise do petróleo cujo ano marcante foi 1973 colocou no centro da economia capitalista o capital financeiro especulativo.

Entre aquela data e os inícios dos anos 2000, o segredo de polichinelo da propaganda da ideologia burguesia liberal, de que a política comandava a economia, foi desmascarado pela realidade: os grandes banqueiros começaram a deixar a discrição, que até aí os mantivera, e fizeram soar trombetas, sem cinismos, através de mensagens directas dos seus pares como, Alan Greenspan (Presidente da Reserva Federal dos EUA, entre 1987 e 2006), Georges Soros e Buffet, entre outros, sublinhando que eles, os banqueiros, são os donos reais de todo o poder, incluindo o político.

Em 1980, a antiga União Soviética parecia estar a empreender uma nova política económica dentro do sistema de capitalismo de Estado, recuperando de uma estagnação que se seguiu a um salto produtivo enorme no pós guerra. Naquele ano, os dirigentes da ex-URSS procuraram descentralizar, politicamente, o poder, principalmente com a grandes Repúblicas associadas, lançando ao mesmo tempo um novo processo de industrialização e na agro-indústria.

Todavia, o recomeço imperialista expansionista da ex-URSS em direcção a Sul, em particular ao Afeganistão, abriu um período intenso e improdutivo de fomento, em grande escala, com os encargos militares, o que inverteu, total e fatalmente, a evolução incipiente que estava em marcha.

Em grande medida, esse afã expansionista militarista contribuiu para o colapso, que já vinha, todavia, de dezenas de anos atrás da antiga URSS, e a sua desagregação final em 1991.

(Não estamos aqui a analisar a  Revolução Soviética de 1917, que forjou, posteriormente, a formação estatal URSS, sob a dominação e consolidação, ao longos dos anos, do chamado capitalismo de Estado, que partiu de uma revolução verdadeira, mas foi progressivamente, em poucos anos, trucidada e instituída de forma contra-revolucionária, mas este assunto merece outra ponderação e análise que procuraremos fazer numa apreciação mais aprofundada e interligadas com os acontecimentos políticos e as condições económicas deficientes da época na Rússia czarista e no seu seguimento revolucionário).

Com esta desagregação do Império soviético, o imperialismo norte-americano tornou-se a principal potência dominante no mundo e julgou poder "reformular" toda a História Mundial desde a Revolução de Outubro de 1917.

Eles pensaram que poderiam fazer obscurecer que toda a evolução humana dois últimos 200 anos esteve centrada nas erupções revolucionárias, que nasceram na Europa, e se foram alastrando à América Latina, mudando radicalmente o sistema económico medieval e imponto o sistema capitalista, certo, sob o domínio da burguesia, mas marchando na realidade sob a batuta das reivindicações proletárias e operárias, que, por vezes, sem grandes orientações programáticas, iam impondo formas de governação, que geravam programas políticos que continham as reivindicações que obrigavam o modelo económico capitalista a aceitar as propostas proletárias, como as oito horas de trabalho, os apoios à saúde pública para todos, entre outros itens.

Tentou o imperialismo norte-americano alastrar a sua supremacia, impulsionando, a níveis nunca vistos, os encargos militares, sustentando-os no argumento que era desse modo que se imporia em todo o mundo o domínio da democracia e das chamadas liberdades individuais, da organização livre dos mercados.

Claro que esta orientação ideológica foi posta em prática, em larga escala, durante cerca de 20 anos, por uma estrutura político-militar estribada na violência.

O descalabro da ex-URSS deu alento aos financeiros e militaristas norte-americanos para intervirem, descaradamente, nos assuntos internos da Europa e da sua unidade, com a cumplicidade dos dirigentes vendidos dos Estados europeus, como a Inglaterra, a Itália, a Suécia, a Noruega, a Alemanha, Holanda, Bélgica, Espanha e Portugal, fosse o governo do país das forças direitistas conservadoras ou sociais democratas pró-capitalistas.



De certo modo e em certo sentido, foi um ataque concentrado quer à tentativa de unificação europeia, por um lado, quer ao próprio sentimento nacional dos povos.

Assim desde 1991 foi retalhada, a ferro e fogo, a Jugoslávia, submetida a vexames a Polónia, Roménia, Bulgária, Lituânia, Letónia e Estónia e Hungria, tornadas colónias norte-americanas no seio da UE, através de injecção de dinheiro "encoberto" - numa política de divisão da União em velha Europa e nova Europa, que conduziu, na prática, em linha directa ao presente ataque e desnorte, sem freio, à unidade monetária da UE.

Mas, também se deu nesse período, as acções mais selvagens no Continente africano, como na tentativa de divisão da República Popular do Congo e nas guerra fratricidas que ainda ocorrem no Ruanda, Uganda e Quénia, e em escala mais localizada na Nigéria. Que começaram com a Presidência de Bill Clinton.

Não se pode esquecer a intromissão brutal e espezinhadora dos direitos dos povos que ocorreu nos últimos dois a três anos em todo o Magrebe e Médio-Oriente, onde a cabeça de víbora foi uma pró-nazi, antiga democrata, chamada Hillary Clinton.

Naturalmente, esta situação não pode, todavia, prosseguir em larga escala. Embora hoje, os EUA sejam o imperialista moderno que substituiu o antigo imperialismo teutónico nazi-fascista. Naturalmente, noutras condições e situações diferenciadas no tempo e no modelo político formal.

A meu ver por duas ordens de razões:

A) Com este frenesim imperialista norte-americano fez despoletar um "monstro" a nível global.

Os Estados Unidos, no topo, lançaram-se numa corrida aos armamentos e à criação e constituição de stoques de armas, cada vez mais caras e sofisticadas.

Ora, isto, catadupejou o sistema de indústria castrense para um nivelamento em progresso contínuo. 

Mas, essta corrida trouxe uma evolução armamentista, não só nos Estados Unidos, mas em todos os outros Estados, em particular aqueles que se estão a desenvolver economicamente a ritmos elevados e concorrenciais.

Quer isto dizer que o armamento traz encargos, que são cada vez mais insuportáveis ao bolso dos contribuintes. 

Na prática, em primeiro lugar os EUA, mas também a China, a Rússia, a América Latina e a própria UE, estão a endividar-se em progressão geométrica, levando que a maior fatia do Orçamento de Estado se destinem a fins militares, em detrimento do próprio progresso produtivo interno.

E, na realidade, os Estados Unidos estão a ser trucidados pelo domínio do sector do complexo industrial militar, o que contribui para a sua própria decadência produtiva interna.

Mas a nível político, os EUA são um centro mundial de prática de tortura, de violações internas e externas dos direitos humanos, com uma discriminação racial acentuada sobretudo tudo o que "não é branco", actuam, em todas as partes do globo, sem olhar a meios, incitam a intromissão descarada e eles próprios se organizam clandestinamente ou através de "mercenários" que lhe pagam principescamente, ocupam, fora de toda e qualquer estrutura internacional decisória, em países e zonas limitadas. 

Prendem os seus próprios cidadãos sem julgamento ou a cesso a advogados, muitas das vezes baseados em simples suspeitas. Expandiram, unilateralmente, a todo o Mundo as escutas telefónicas e as manipulações via internet. 

A oposição interna é reprimida violentamente, à mínima suspeita de que possa estar em causa "a segurança nacional". O assassinato, colectivo e selectivo, adquiriu a legalidade de acção em qualquer zona do planeta.

E esta situação é grave, porque pode trazer no bojo uma guerra geral contra povos e diferentes nações, que se sentem ameaçadas e feridas nos seus sentimentos nacionais ou interesses estratégicos.

B) Todavia, esta voragem imperialista imperialista norte-americana, com o apoio directo da Inglaterra, da Holanda, da Suécia, Dinamarca e Noruega, parece estar a entrar num descalabro e a obrigar os EUA a fazer marcha atrás, por um lado, com o espectro de um movimento reivindicativo internacional -e em certos aspectos de carácter insurrecional - que se estão a forjar no horizonte; por outro pela reacção de parcerias de grupos de países e de incremento armamentista de resposta de outros Estados ou grupos de Estados coligados (como O grupo de Xangai, o Mercosul, a aliança temporária Rússia, China Síria e Irão).

Mas acima de tudo, porque a economia capitalista dentro dos Estados Unidos está a colapsar.

A dívida pública norte-americana atinge, actualmente, os 16 biliões de dólares, que ultrapassa deste modo os cerca de 14 biliões do ano passado. 

Apesar da injecção forçada de capital circulante - ou seja a emissão de notas "sem cobertura real" do Banco Central - A Reserva Federal -, a economia está estagnada e o desemprego não baixou.

(As realidades são realidades, na América, como noutras partes do Mundo: as grandes cidades norte-americanas estão endividadas:  mais de dois triliões de dólares e uma centena de entre elas estão mesmo na insolvência. 

O número de norte-americanos a viver da sopa dos pobres cresceu assustadoramente, como se multiplicaram as chamadas "cidades-tendas" nas ruas de grandes cidades como Nova Iorque, São Francisco ou Los Angeles).



         

Um facto novo, ainda sem efeitos visíveis evidentes, é o afastamento crescente dos naturais do interior e das periferias do centro de poder, em Washington, o que pode implicar, com um maior agravamento de crise nos Estados federais - Alabama, Califórnia, Colorado, entre outros - estejam a surgir tendências centrífugas para escapar ao poder de Washington, considerado um sorvedouro de dinheiro por muitos norte-americanos, principalmente da classe média. 

O problema nacional federal pode tornar-se um assunto sério nos Estados Unidos da América, com o aprofundamento da crise.

3 - Desde 2008, foi planeado, a partir de Wall Street, e em particular do lobby judaico, que domina o poder económico financeiro norte-americano ( e em grande medida mundial, 40 por cento dos deputados russos são judeus, 35 a 40 por cento dos Congressos e Deputado das Câmara dos Representantes dão o seu apoio directo ao sistema judeu financeiro e a Israel), um ataque feroz e concentrado contra o euro e a unidade política da Europa.

(Os seus representantes em Portugal estão concentrados directamente no governo e no sistema bancário: Carlos Moedas, Pedro Passos Coelho, Vitor Gaspar, António Borges, Fernando Ulrich, Ricardo Espírito Santo, entre outros).

Esta "guerra" económica concentrada dos Estados Unidos contra a Europa, que se deixou corromper e vender aos financeiros norte-americanos, e por associação estreita aos interesses do Vaticano, apesar de tudo, está em vias de terminar em retrocesso para Washington.

Eles não perceberam que, por um lado historicamente, desde a decadência medieval, o avanço histórico - que tem séculos, é certo - é um avanço para a unidade europeia

(E esta tendência não foi uma acto de mágica criada pela dupla Schuman/ Monet). 

O avanço para os grandes Estados nacionais na Europa, desde o século XV, estão ligados ao aparecimento da burguesia como força política dominante na Europa, e na necessidade económica, para ela, de esbater barreiras de fronteiras e fazer circular as mercadorias com maior barateza e celeridade.

A burguesia teve a percepção - e agudeza, então, como classe social - que a cooperação supracional só poderia trazer vantagens se as fronteiras fosse minimizadas.

Ora, este avanço no século XX foi sentido, com maior agudeza, porque foram as particularidades nacionais que contribuíram para a desarticulação e catástrofes em toda a Europa, desde Portugal aos Urais, fomentadas pelas guerras de conquistas.

Quando nasceu a Comunidade Europeia, as classes trabalhadoras sentiram a evolução do seu bem-estar com o desenvolvimento da indústria e do comércio sem limites de tributações alfandegárias.

Apesar da crise económica, financeira e social, actualmente existente, essas classes têm a percepção que a União da Europa criará condições para a criação de uma maior consciência de que é possível, com essa unidade, fazer das reivindicações nacionais reivindicações gerais europeias.

Essa é a lição que a crise grega deu à UE. 

E essa foi a reivindicação central dos sectores mais avançados dos partidos gregos nas suas mais recentes lutas e eleições.

A questão que deve ser analisada é a de buscar a razão porque os partidários de uma nova ordem social de progresso ainda não a fizeram propagandear na União Europeia.

Ora, esta questão está em cima da mesa.











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