1
- A crise financeira e económica, fomentada pelo lúmpen capitalismo financeiro
de Wall Street, em conivência com a City londrina, em 2008, espalhou-se, acima
de tudo, pela União Europeia, provocando uma guerra feroz contra os direitos e
bem-estar das classes trabalhadoras e, em escala mais reduzida, em sectores da
pequena e médias burguesias.
Foi,
justamente, dessa imensa contra-revolução económica-financeira que o
lúmpen-capital de Wall Street e da City londrina, em perfeita conjugação de
esforços, com a cumplicidade militante de toda a social-democracia/pseudo
socialista europeia, (contra-revolução esta que não teve uma resposta classista
adequada), que fez subir a parada do poder burguês financeiro, bramando
abertamente que, agora, o poder estava nas mãos da finança.
Esta
soberba e arrogância conduziu a que esse sector marginal do capitalismo
efectuasse a maior exploração social das classes trabalhadoras desde os tempos
esclavagistas da implantação do capital industrial no século XIX.
E
provocou a maior míngua financeira, que levou a que todos os Estados
capitalistas – desde os EUA à Rússia, com especial incidência na UE – ficassem
reféns desse lúmpen capitalismo de Wall Street, Vaticano e City londrina, que
sacava em crescendo o dinheiro dos contribuintes, com um endividamento a seu
favor, em progressão contínua, dos tesouro públicos nacionais.
Os
seus efeitos devastadores fizeram-se sentir, de um modo eloquente, e, com uma
clareza de bradar os céus, com uma petulância sem limites justificativa de que
era necessário um empobrecimento geral
das populações, como condição de sobrevivência da sociedade em geral.
Quando
se verificou que essa política de domínio sem freio do lúmpen-capital
financeiro – verdadeiramente uma guerra económica *militarizada* (com os
poderes de Estado a fazerem impor a intervenção directa dos Exército na chamada
segurança interna, sempre com a desculpa esfarrapada da luta anti-terrorista) –
era um acto de puro banditismo, mas que teve um sucesso momentâneo, começou a
gerar-se a partir de 2010, uma reacção com reivindicações que apontavam para o
desmantelamento do poder desse Capital financeiro.
Houve
alarmismo fomentado pelos agiotas e os serventuários desse poder, com estruturação maciça de uma propaganda
manipuladora de que era necessário reforçar a segurança e lutar (hoje já com
enraizamento na EU, caso gritantes da França, Inglaterra, Espanha), contra o
que apelidam de anarquia e terrorismo, como forma e modelo de “defender”
as instituições, a democracia parlamentar e a *ordem mundial* ocidental.
Mas com os banqueiros e os seus *títeres* de
Estado a demonstrarem, progressivamente, serem incapazes de mascarar a situação,
com pseudo-reformas, começou a ressurgir, principalmente, na Europa um sistema
de contrapoder – claro, na actual situação, muito disperso, sem grandes
orientações políticas, mas ganhando, progressivamente forças, para, embora
sobre a palavra de ordem de luta contra a *humilhação geral* está uma
insatisfação popular crescente, que, na fase presente, se está a reflectir nas
urnas apenas sob o signo de mudança, mas ainda não de revolução.
Ora,
a vitória eleitoral do partido grego Syriza com um programa de combate a esse
domínio terrífico do capitalismo financeiro, embora contemporizador na
supremacia imperial da NATO, trouxe uma frente de avanços políticos para
satisfazer, no seu país, mas principalmente na Europa – e paralelamente nos
próprios Estados Unidos – a reivindicação, aparentemente, burguesa – é certo –
de reformular toda a estrutura de exploração capitalista.
Mas,
este programa ainda com características muito social-democratas, tem no seu
bojo, algo mais grave e imprevisível para o capitalismo financeiro: na realidade, ainda sem programa revolucionário
alargado a toda a Europa, estão os fantasmas de erupção das classes laboriosas,
que essas sim fazem levantar o +monstro destruidor+ de uma ruptura total com o
capitalismo.
Essa
a razão de que este despertar se possa implantar em países mais influentes,
como Itália e Espanha e, por arrasto, estilhace, inclusive, a coligação conservadora-social-democrata
arcaica da CDU/SPD e o chamado bipartidatismo conservador e snob do Reino Unido.
2 –
Claro com esta vitória do Syriza, deu-se uma pequena reviravolta esperançosa de
poder haver novas formas de poder, primeiro, na UE, depois, na América Latina,
e, possivelmente, dentro de meia dúzia de anos nos próprios Estados Unidos.
Mas
o que, na realidade, se está a formar, a propósito da Grécia e da sua renovação
eleitoral é, acima de tudo, um novo impulso, ainda conduzido, por uma
burguesia, dita desenvolvimentista, que estava completamente arredada do poder,
praticamente, desde os finais do século passado, para um novo avanço
económico-industrial-tecnológico.
Ora,
para a UE, esse avanço tem necessidade de consolidar os movimentos territoriais
transfronteiriços, mas também intensificá-los para leste com fomentos de
parcerias geo-económicas com a Rússia, a Turquia, e, mesmo com os países do
Médio-Oriente.
Mas
para que isto tenha sucesso, será necessário uma política independente, progressista
e de coesão política e militar territoriais, primeiro, dentro da própria
Europa, depois, numa fase de confiança mútua com a Rússia e a Turquia.
As
mudanças geo-económicas e geo-políticas que se aprestam para os próximos tempos
indicam que a política externa europeia tem de se desligar da subserviência
doentia dos Estados Unidos e pensar, como entidade real de potência comercial,
na extensão das suas ligações a um mercado negocial mundial com outras
potências que surgem, sem procurar impor vontade e conquista imperiais, mas sim
capacidade evolutiva da sociedade para um novo patamar.
A retirada inglória do Afeganistão
A
maior potência industrial-militar ainda existente, os EUA, com a sua política
marcadamente imperialista, que sente fugir-lhe uma supremacia que parecia
intocável, e, por isso investe em duas frentes.
Tal
como na UE, a oligarquia burguesa dos Estados Unidos tem a perfeita noção que a
sua sobrevivência só pode ser conseguida com uma intensificação das relações
mercantis e negociais.
E,
numa viragem geo-política e geo-estratégica de tal envergadura, com potências
crescentes em várias partes do mundo, mais do que nunca – principalmente para
os EUA – esforçam-se – digo com mais propriedade, esfolam-se para segurar e
quiçá aumentar um maior fatia das novas relações que estão em movimento.
3
– Então, praticamente, em segredo, os oligarcas financeiros dos EUA e da UE
negoceiam, pelo menos, desde 2013, o que se pode apelidar do maior acordo
comercial de sempre entre potências.
Enquadra
40% do comércio mundial e cerca de metade do PIB do planeta.
A
questão em si, nada teria de problemático, se houvesse benefícios mútuos para
os povos e Estados, mesmo norte-americano.
Ora,
o central de tudo é quem controla os movimentos de capitais – ou seja o
investimento.
Pouco
se sabe de concreto sobre o teor do que está em jogo, a não ser que os
negociadores representam, acima de tudo, as multinacionais financeiras de Wall
Street.
E,
estas poderão ser as verdadeiras aves de rapina dessa relação comercial, como o
foram do despoletar e recolher dividendos da crise de 2008.
Foram
elas que, desde aquela data, destabilizaram a UE, e minaram as relações de
cooperação inter-estatal europeia, que até determinada época funcionou, com
alguma coesão e solidariedade.
A
UE, em 2012, quando se iniciaram as conversações, parecia estar ciente de que,
para evitar a supremacia norte-americana, teria de fazer uma parceria para
leste, principalmente, com a Rússia.
Aí
começou o papel de *toupeira* do capital financeiro norte-americano: minagem
das relações inter-europeiais, financiando os fracos países de leste, saídos da
ex-URSS, (a nova Europa), tornando-os capachos para fazer implodir a velha
Europa.
(Hoje
continua essa política).
E
aqui entra a segunda frente – a militar – os neoconservadores políticos dos
EUA, em perfeita aliança com o lobby judeu de Wall Street, utiliza a fraqueza estatal
e económica da Ucrânia, e, as suas dissidências internas, para derrubar o
governo eleito e afastar a UE, através dos seus homens de mão, como David
Cameron, Ângela Merkell, e os governantes conservador pró-fascistas da
Dinamarca, Suécia e Noruega, da Rússia.
O desastre militar do Exército ucraniano
Situação
que já tinha enquadrado e engendrado em toda a zona ribeirinha do sul do
Mediterrâneo, desde Marrocos até à Síria, com a chamadas *Primaveras árabes*.
4 –
Voltamos, então, ao caso Syriza, e referenciemos já que a vitória eleitoral
daquele partido, com algumas reivindicações semi-revolucionárias, e uma mescla
de preceitos sociais-democratas, como o de fazer regredir o avanço capitalista
dentro do sistema por ele engendrado, está ligada ao total desmembramento que o
colapso financeiro mundial de 2007/2008 causou na desarticulação da indústria e
do comércio europeu, estagnando epidemicamente as relações económicas.
Ora,
esta situação, que decorre de uma reacção dos povos à chamada política de
austeridade, é, na realidade, a repulsa generalizada das classes trabalhadoras
e sectores crescentes da pequena burguesia ao domínio exclusivo do
lumpem-capital financeiro, representado na UE, principalmente pelos oligarcas
da Alemanha, Inglaterra e França.
Ora,
esta repulsa, se avançar, eleitoral ou por movimentações populares ofensivas,
em vários países da Europa (repito em vários países, com um
sistema programático idêntico e em sintonia – e isto é condição sina
quo non para se conseguir destroçar a falsa unanimidade dos representantes desse
capital nos países comunitários, teremos, certamente, uma viragem radical na
situação política chamada ocidental, que terá repercussões evidentes na própria
constituição da NATO.
Nesta
situação, podem os leitores crer que serão dissipadas, de repente, todas as
falsas *falas grossas* dos serviçais capitalistas alemães, ingleses e espanhóis e
dos asseclas burocráticos ligados ao capital de Wall Street, como Mário Draghi,
colocados no Banco Central Europeu, e, deixarão de haver escrúpulos de os fazer
abandonar o poder e os levar à justiça pelos crimes que cometeram.
Sem comentários:
Enviar um comentário