1
– O capitalismo mundial juntou-se, há
dias, em Davos, Suíça, para discutir, precisamente, a crise que o está a
atravessar e, acima de tudo, a enredar sem solução para esse sistema dentro da
evolução societária actual.
Ao
contrário de outros grandes conclaves capitalistas encenados naquela cidade,
este está ensombrado pela realidade da vida: o reinado dos banqueiros parece estar em plano inclinado.


A
crise geral financeira de 2007/08, iniciada nos Estados Unidos da América, está
aí para durar. Parece aprofundar-se, na realidade, já em 2016.
Está
situação apresenta dois aspectos que se entrelaçam: a crise financeira em si,
que se prolonga até hoje, e, na sua subsequência, uma crise geral do comércio e
da indústria.
A
grande burguesia capitalista mundial reunida em Davos fez constar que tem como
seu principal objectivo lançar uma «quarta revolução industrial», mas frisou
que esta irá fazer aumentar o desemprego, de imediato, em mais cinco milhões de
pessoas.
Em
suma, está a dar-se uma contradição evidente, que se alarga, entre as forças
produtivas existentes e as relações de produção capitalista que estão a começar
a entrar em derrapagem, para não dizer colapso.
2
– Dois dias antes de começar o Forum Económico Mundial, em Davos – o super
conclave capitalista -, uma piedosa «organização não-governamental» chamada
Oxfam revelava que *62 pessoas possuem tanto capital como a metade mais pobre
da população mundial*.
E
acrescentava: há cinco anos, a riqueza de 388 pessoas estava equiparada a essa
metade. De acordo com a mesma entidade, a riqueza acumulada por 1% da população
mundial, entre os mais ricos, superou a dos 99% restantes, em 2015, um ano mais
cedo do que se previa.
Com
a míngua financeira dos Estados capitalistas, estes estão na mão dos chamados
grandes *empréstimos* da grande burguesia financeira, cada vez mais concentrada
e reduzida, que, deste modo, amordaça, crescentemente, através da usura dos
juros, os mesmos Estados.


E
isto quando esses mesmos Estados os capitalizavam com pseudo empréstimos a custo
zero, ou seja os enchem de dinheiro público...para benefício privado!!!
Ora,
será impossível fazer inverter esta desigualdade e acabar com o *reinado*,
desenfreado, do capital financeiro sem atingir profundamente os interesses
económicos e políticos dos regime e sistema dominantes.
Ou
seja, em termos práticos, o controlo estatal dos bancos, sob um novo poder
político, a desarticulação completa da especulação bolsista, o desmembramento
da ligação entre o capital financeiro e o poder de Estado, nomeadamente o seu
campo legislativo, judicial, militar e o da propaganda, através dos seus
principais meios de comunicação social.
No
que diz respeito a nível estatal nacional, o desequilíbrio aprofundado nas
últimas décadas a favor dos interesses do capital financeiro provocou uma
recessão continuada que contribuiu para um empobrecimento generalizado das
classes trabalhadoras.
Deste
ponto de vista, para acabar com esta vergonhosa barganha do Capital, não poderá
haver um equilíbrio interno societário, ou seja, um equilíbrio entre as
despesas e despesas públicas de cada Estado da Europa à China, passando pelos
Estados Unidos da América à Rússia, se não houver um claro golpe
nos interesses da grande burguesia financeira, desde os lucros, à especulação,
aos impostos.
3
– Uma interrogação se coloca: Porque será
que um descalabro tal da grande burguesia e um ataque de uma envergadura
descomunal aos direitos dos explorados não levou o mau-estar e o
descontentamento existente para uma revolta generalizada?
Depois
da vaga revolucionária que percorreu uma grande parte da Europa, com especial
destaque na França, nos finais dos anos 60 do século passado e depois de toda
uma série de revoluções nacionais, iniciadas com movimentos de libertação
nacional, em África e Ásia, nos anos 60 e terminadas com a tomada do poder em
meados dos anos 70, o período que se seguiu, até ao final desse século, transformou-se
numa fase de contra-revolução, ligada ao grande desenvolvimento da produção
capitalista, com um magistral salto na inovação técnica e científica.
Todavia,
o incremento da produção capitalista tornou-se num moinho de usura nas mãos do
grande capital financeiro.
Foi
este que veio a transformar-se na fracção dominante dos diferentes regimes
burgueses: controlaram, paulatinamente, o poderes político (chefias de Estado,
governos e parlamentos), judicial (grandes firmas de advogados, juízes e procuradores) e militar (escolhas dos chefes e controlo da oficialagem,
mercenarização dos Exércitos), desde as bolsas, aos bancos, seguros, grandes
negócios castrenses, empresas de ponta das telecomunicações, distribuição
alimentar, turismo, grandes propriedades agrícolas, saúde (privatização,
indústria farmacêutica, tecnologia hospitalar).
Colocada,
nos finais dos anos 60, então sob a perspectiva de poder haver uma ruptura, a
burguesia, empoleirada no ascenso industrial e comercial, abriu os olhos e
através dos partidos sociais-democratas realizou uma aliança declarada com os
partidos conservadores, populares e democratas cristãos, para promover a
chamada *revolução pelo emagrecimento do Estado*, ou seja a privatização a
favor do capital financeiro.
(Convém
recordar que contou, em períodos delicados com o apoio dos maiores Partidos
Comunistas europeus de então, que, directa ou indirectamente, participaram nos
governos. Casos do francês (PCF), italiano (PCI) e espanhol (PCE)
O
exemplo do PCF é paradigmático, (pode-se juntar o PCI de Togliatti, que serviu
a ascensão da +falecida+ Democracia Cristã ao avassalamento do Estado italiano), pois
foi ele que, logo após a II Grande Guerra, com Thorez, que permitiu a
consolidação do +gaulismo+, que hoje se reproduz em Sarkosy.


Na
realidade, o PCF esteve no governo com Mitterand em 1981. Foi um ministro
daquele partido Jean-Claude Gayssot (Transportes) que controlou a privatização
da Air France.
Em
1997, voltou ao governo de maioria PS, sob a chefia de Lionel Jospin, executivo
este que deu o seu assentimento ao bombardeamento da ex-Jugoslávia).
Depois
da II Grande Guerra, as classes trabalhadoras, em particular os seus sectores
mais avançados e conscientes, abandonaram, progressivamente, a sua perspectiva de efectuar uma transformação revolucionária da sociedade.
Obscurecido
– e depois mesmo estigmatizado - o programa radical socialista, após a derrota
da Revolução Soviética, e a sua contínua caminhada para a contra-revolução,
essas classes caíram, lenta, mas seguramente, para colocarem, na sua intervenção
política prática, como objectivo de poder, a sua adaptação a um «programa de
esquerda dentro da democracia».
Visão
esta ainda mais estreita, porque se encerra nas fronteiras nacionais, enquanto
a grande burguesia se expande e actua, cada vez mais, ao mesmo tempo e em todo
o globo
Situação
aquela que perdura nos dias de hoje.
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