1
– O Papa católico romano, Francisco, recebeu, no passado dia 26, no Vaticano,
em audiência, o Chefe de Estado do Irão, Hassan Rouhani.
O
Presidente iraniano é, tal como o Chefe de Estado do Vaticano, um dirigente
religioso no seu país, formação essa que iniciou no seminário islâmico de
Semnan, tendo concluido os seus estudos no ramo no tradicional seminário de
Qom.
Mas
ainda no tempo do regime monárquico do Xá Pahlevi, seguiu os estudos laicos na
Universidade de Teerão, tendo-se licenciado em Direito.
Mas
tarde, prosseguiu esses estudos no Reino Unidos, tendo obtido o mestrado e o
doutoramento em Direito Constitucional na Universidade Caledónia, em Glasgow,
Escócia.
Depois
da ascensão do actual regime teocrático no país, Rouhani adquiriu preponderância na estrutura do poder, sempre na sombra do
*líder supremo* religioso: membro da Assembleia dos Peritos (desde 1999), do
Conselho de Discernimento (desde 1991), do Conselho Supremo de Segurança
Nacional (CSSN) (desde 1989) e presidente do Centro de Pesquisa Estratégica do
Irão (desde 1992).
Rouhani
foi eleito presidente em 15 de Junho de 2013.
Foi
ainda deputado durante as cinco primeiras legislaturas do Parlamento iraniano
(Majlis), tendo sido presidente da Comissão de Defesa e da Comissão de Relações
Exteriores e presidente do Majlis.
No
governo do ex-presidente Mohammad Khatami (que o apoiou nas eleições), Hassan
Rouhani foi o negociador-chefe do programa nuclear do Irão nas negociações com
a União Europeia.
Antes
de ser eleito Presidente, dirigia o importante Centro de Pesquisa Estratégica
nacional, directamente ligado ao *líder supremo*, Ali Khamenei.

Os interesse geoeconómicos nos colóquios cordiais
2
– Qual foi a razão central da vista do clérigo Presidente Rouhani ao Papa?
A
Santa Sé procurou *atirar para debaixo do tapete* os interesses materiais
profanos que estiveram, realmente, na agenda dos dois Chefes de Estado.
A
Sala de Imprensa da Santa Sé, em comunicado, cinicamente, referiu que
"durante os cordiais colóquios foram evidenciados os valores espirituais
em comum e o bom estado das relações entre a Santa Sé e a República Islâmica do
Irão".
As
delegações diplomáticas também abordaram a recente conclusão e aplicação do
Acordo Nuclear e foi destacado que o "Irão é chamado a desempenhar um
importante papel, junto com os outros países da região, para promover soluções
políticas adequadas às problemáticas que afligem o Oriente Médio, contrastando
a difusão do terrorismo e o tráfico de armas".
Neste
sentido, foi recordada ainda "a importância do diálogo inter-religioso e a
responsabilidade das comunidades religiosas na promoção da reconciliação, da
tolerância e da paz".
Tudo
muito pacífico e religioso...
Todavia,
por *debaixo do tapete* está a realidade da vida. O mundo profano, material.
Esse
é o que conta para as duas entidades.
Para
o Irão, o Vaticano é avaliado como «grande empresa» capitalista, fortemente
enraizada na União Europeia e nas Américas, que serve os objectivos da sua
reconstrução económica e da sua necessidade de recuperar o terreno da
actividade comercial prioritária.
Para
o Vaticano, o Irão, como provável grande potência regional, é um terreno para a
aumentar a força económica do potentado da Santa Sé.
Na
realidade, a Santa Sé é «um dos maiores titulares de acções do mundo» -*O
empório do Vaticano* -, um valor que se desconhece na sua tenebrosa extensão.
Polvo
este escondido dos seus crentes, já que «o Vaticano tem investimentos nas
Bolsas de todo o Mundo», número que o jornal +Economist+, nos anos anos 60 do
século passado referenciava, por baixo, só para Itália, em «cerca de 1/15 do
número total das acções nas dez Bolsas italianas».
Realmente,
o alcance do poder económico da Santa Sé é avassalador e está encoberto em
numerosas «companhias de fachada» desde bancos, seguros, empresas industriais e
comerciais, estabelecimentos de ensino e saúde, complexos armamentistas.
No
caso específico de Itália, os interesses vaticanistas estendem-se desde os
grandes bancos (Intesa Sanpaolo, Nazionale del
Lavoro, Unicredit, Popolare, Ambrosiano, entre outros) ao petróleo (ENI)
e ao armamento (Finmecanica).

A
Itália é, precisamente, o país que tem a maior capacidade de refinação
de petróleo da Europa.
Mas,
o Vaticano, também pode ser intermediário, neste fase de «costas voltadas» entre Washington e Teerão, para os negócios com os Estados
Unidos da América, pois o papado romano está perfeitamente integrado no +tecido
financeiro e económico+ norte-americano, desde a banca ao complexo industrial
militar.
Ora,
o Irão necessita de relançar e expandir o comércio do petróleo, bem como da
logística para a recuperação da sua indústria petrolífera.
Bem
como para se impor como potência regional de modernizar, rapidamente, o seu
arsenal militar.
Naturalmente,
para se poder impulsionar o comércio, sem entraves, no Médio-Oriente, terá de haver
*soluções políticas* na região.
Mas,
tal desiderato só se consegue essencialmente com acordos em torno de força
económica e não com os «cordiais colóquios» acerca dos «valores espirituais em
comum e o bom estado das relações entre a Santa Sé e a República Islâmica do
Irão».
3 - Sob o manto diáfano da religião, a Igreja Católica está a penetrar, totalmente, na esfera do capitalismo mundial.
E, a sua aceitação planetária está ligada, justamente, ao papel que desempenha, actualmente, nos negócios mundiais. Caso contrário, os dignitários governamentais nem sequer lhe davam um olhar.
A crise do capitalismo contribuirá também para a crise do catolicismo romano, que abandonará o manto pio, para se tornar no seu cão de guarda mais acirrado. O tempo o dirá.
3 - Sob o manto diáfano da religião, a Igreja Católica está a penetrar, totalmente, na esfera do capitalismo mundial.
E, a sua aceitação planetária está ligada, justamente, ao papel que desempenha, actualmente, nos negócios mundiais. Caso contrário, os dignitários governamentais nem sequer lhe davam um olhar.
A crise do capitalismo contribuirá também para a crise do catolicismo romano, que abandonará o manto pio, para se tornar no seu cão de guarda mais acirrado. O tempo o dirá.
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