sexta-feira, 14 de maio de 2010

IRAQUE: QUEM ESTÁ POR DETRÁS DOS RECENTES ATENTADOS SANGRENTOS

A situação política no Iraque está a cair num impasse, com os partidos fomentados pelas tropas de ocupação da coligação militar ocidental, liderada pelos Estados Unidos, enredados em intrigas e conspirações, incapazes de chegar a um a compromisso para gerir os milhar de milhões de dólares debitados por Washington para manter a exploração do petróleo.

De repente, aparecem atentados por todo o lado, cujas vítimas principais são civis, o que leva a colocar reticências à razão de ser desta mortandade.

Na realidade, os atentados surgem como sendo atribuidos, logo de imediato e ampliados pelos meios de comunicação social ocidentais sedeados no terreno, normalmente em contactos com as autoridades de inteligência militar norte-americana em acção no Iraque, como sendo obra deste ou daquele grupo oposicionista, normalmente da facção religiosa sunita, que não pactua com os ocupantes.

Mas, o que me leva a reflectir, como profissional de informação e antigo combatente em África, é que muitos destes atentados levam o selo dos próprios serviços secretos.

Tal como a Al Qaeda foi uma criação da CIA, muitos dos grupos armados que pupulam no Iraque tem algo da forma de actuar de profissionais ocidentais, e isto porque as acções de sabotagem que levam a cabo, em meios fortemente armados e vigiados por meios ultra-sofisticados, para atingirem a eficácia que conseguem obter, tem de ter pelo menos um cumplicidade benevolente do ocupante. Não se anda com farda de polícias ou soldados durante horas numa zona de combate, sem se se rapidamente identificado e atacado. Ora, os homens que fazem os atentados, muitas vezes, actuam, com a maior impunidade, quase nas barbas dos quartéis, altamente guardados, das forças multinacionais ocidentais. Dá, pois, para pensar.

Sejamos, portanto, claros: no Médio-Oriente, são cada vez mais os atentados que tem um cariz marcador de terrorismo de Estado, e isto, apesar, de todo o esforço dos seus promotores de os manterem secretos e de os procurarem atribuir a outrem.

Israel, com a cumplicidade e a orientação dos Estados Unidos, atacou, há cerca de dois anos, instalações militares ou para-militares da Síria, a pretexto de que albergaria um incipiente arsenal nuclear. Durante meses e meses, as autoridades israelitas negaram. Como não podiam cobrir o sol com a peneira, admitiram-no e iludiram o facto de terem praticado um acto declarado de terrorismo de Estado.

As autoridades israelitas, que somente têm capacidade de actuar fora das suas fronteiras, porque tem um "guarda-chuva" dos Estados Unidos, pois caso contrário desapareciam do mapa em três tempos, construiram, à revelia, de todas as decisões das instâncias internacionais, incluindo a ONU, um amplo arsenal atómico, com que ameaçam os seus vizinhos.

O curioso é que os hipócritas paises ocidentais permitem esta proliferação nuclear descarada, somente porque as autoridades de Telavive são um "braço no terreno" de disputa no Médio-Oriente do controlo de matérias-primas e de posições geo-estratégicas do lobby judeu, que domina a economia dos Estados Unidos.

Mas, a referência que desejava destacar relativamente ao terrorismo de Estado, e que, propositadamente, está a ser obscurecido pelos grandes meios de comunicação social dos Estados Unidos foi o atentado bombista ocorrido, em Mumbai, Índia, em Novembro de 2008, onde faleceram, barbaramente assassinados, 166 pessoas .

Da investigação realizada, veio a saber-se que participou, activamente, em toda a operação de planeamento e de execução um cidadão norte-americano de nome David Colemam Headley, que trabalhava para a agência norte-americana de espoinagem CIA, agente este que manteve estreito relacionamente com os serviços secretos paquistaneses e, com o grupo islamista, que oficialmente, praticou o atentado o Lahkar-e-Taiba (Let).

Quando as autoridades indianas tentaram fazer extraditar aquele agente da CIA, reconhecidamente participante e alegadamente poder ser até o mentor do atentado, o FBI (o gabinete federal de investigação norte-americano) chegou a um "acordo" com Headley que está detidos nos EUA. Nesse acordo, forjado pelas autoridades de Washington, o governo de Obama abstem-se formalmente de dar quaisquer provas contra o seu agente em julgamento, em nome de um segredo de Estado.

Naturalmente, os EUA vão encenar um julgamento em Chicago, mas as famílias das vitimas não poderão ser representadas por causídicos que interroguem o agente Headley. A acção e a ligação deste agente à CIA serão mantidas confidenciais. E logicamente, não haverá a sua extradição para a Índia para ali ser julgado. O "acordo" inclui ainda a cláusula de o agente vir a ser punido com uma pequena mais leve por se declarar culpado e, naturalmente, a sua clasura será rigorosamente vigiada pela CIA, que, em último caso, o poderá fazer desaparecer.

Deste imbróglio, algo foi, no entanto, já comprovado: existe uma ligação estreita entre o grupo islamista e os serviços secretos paquistaneses, por um lado, e uma "cooperação estreita" entre aqueles e a CIA, por outro.

Politicamente, desta investigação se tira também um enquadramento: os EUA tem uma lógica terrorista na sua política estratégica na actividade mundial, que não tem pejo em utilizar os grupos fanáticos, que, hipocritamente, apelida de terrorista, conforme as conveniências.

Nesta fase da sua política de expansão parece dar ênfase à cooperação com o Paquistão naquilo que considera ser "o interesse vital nacional" norte-americano, em detrimento de uma aproximação maior à Índia, que, curiosamente, enquadra um governo muito pró-americano.

Sem comentários:

Enviar um comentário